Ano II nº 2 - março 2012
PragMATIZES
Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Editora:
Flávia Lages
LABAC-UFF - Laboratório de Ações Culturais / Universidade Federal Fluminense
Criador da Logomarca:
Laert Andrade
Comitê executivo:
Luiz Augusto F. Rodrigues
João Domingues
Ítalo Bruno Alves
Comissão editorial:
Adair Rocha (UERJ e PUC-Rio/Comunicação Social)
Adriana Facina (UFF/História)
Alexandre Barbalho (UECE/Comunicação)
Ana Enne (UFF/Estudos de Mídia)
Gizlene Neder (UFF/História)
Lia Calabre (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Lilian Fessler Vaz (UFRJ/Arquitetura e Urbanismo)
Luiz Guilherme Vergara (UFF/Produção Cultural)
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez (Universidad de Antioquia/Colombia)
Mónica Bernabé (Universidad Nacional de Rosario/Argentina)
Wallace de Deus Barbosa (UFF/Produção Cultural)
LABAC - Uff
Laboratório de Ações Culturais
PARCEIROS:
REALIZAÇÃO:
APOIO:
Diagramação:
Ubirajara Leal
PragMATIZES – Revista Latino Americana de Estudos em Cultura.
Ano II nº 2, (MARÇO 2012). – Niterói, RJ: [s. N.], 2012.
(Universidade Federal Fluminense / Laboratório de Ações Culturais -
LABAC)
Semestral
ISSN 2237-1508 (versão on line)
1. Estudos culturais. 2. Planejamento e gestão cultural.
3. Teorias da Arte e da Cultura. 4. Linguagens e expressões
artísticas. I. Título.
CDD 306
Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto de Artes e Comunicação Social - IACS | Laboratório de Ações Culturais - LABAC
Rua Lara Vilela, 126 - São Domingos - Niterói / RJ - Brasil - CEP: 24210-590
+55 21 2629-9755 / 2629-9756 | pragmatizes@gmail.com
Formação em organização da cultura:
A situação latino-americana
¿Cómo hablar de cultura en la universidad?
La gestión de un campo para los Estudios Culturales
Consolidación de la Institucionalidad Cultural
en Colombia 1968-2011: Un camino hacia el
diálogo y participación de la sociedad civil
Economia Criativa: Análise setorial
El recurso de las ferias: Contrapunteo en torno al
surgimiento y devenir de las ferias culturales en la
ciudad de Rosario, Argentina pos 2001
MARÍA VIRGINIA MASSAU
FÁBIO FONSECA
ALESSANDRA MELEIRO
MARTA ELENA BRAVO
MÓNICA BERNABÉ
LEONARDO COSTA
ALEXANDRE BARBALHO
ANTONIO ALBINO CANELAS RUBIM
Funk: Experiências de pesquisa em cadeias
produtivas da cultura
ELIZETE IGNÁCIO DOS SANTOS
Sumário
12
6
10
37
74
93
111
125
DIALOGANDO / TRIANGULANDO A QUESTÃO CULTURAL
CARTA -
Rede 8 Pontos em Cultura
5
EDITORIAL
ARTIGOS
5
Editorial
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
A construção dos variados
fazeres e saberes culturais – que
perpassam pela reflexão, sempre
primordial, das teorias que engen-
dram as questões de cultura- são
objetivos desejados para e pela
revista PragMatizes. Neste sentido,
a troca de informações, opiniões e
experiências, buscadas amiúde,
foram coroadas pelo seminário
internacional Panorama da Organi-
zação da Cultura na América do
Sul, realizado entre 16 e 18 de
novembro de 2011, em Niterói, RJ.
Os artigos presentes nesta
edição demonstram, antes de tudo,
um desejo há muito latente de inte-
gração dos variados saberes / faze-
res do sul do continente americano.
Apresentam, outrossim, a força das
culturas locais e da cultura regional
que nos qualifica e integra.
Desta forma, apresentamos
esta edição da revista PragMatizes,
especial por essência e riqueza e
desejamos que seja início de uma
profícua produção.
Flávia Lages
Editora
6
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Luiz Augusto F. Rodrigues
1
João Domingues
2
A cultura vem alçando, gra-
dativamente, centralidade nas dis-
cussões internacionais. Mais e
mais a preocupação com a integra-
ção de um discurso “do cultural”
vem atravessando a agenda de
diferentes atores no cenário políti-
co, reorientando sua centralidade
na definição das políticas públicas
relacionadas ao desenvolvimento
econômico, à diminuição das taxas
de violência, ou mesmo à renova-
ção das práticas jurídico-políticas.
A Constituição brasileira de 1988
aponta claramente os direitos cul-
turais no rol dos direitos sociais a
serem garantidos ao conjunto da
população.
Por ter se tornado um uni-
verso bastante especializado,
pode-se afirmar que as políticas
culturais já conquistaram uma
certa história, seja em um cenário
avaliativo, seja no espaço mais
restrito de suas ações propria-
mente ditas nos modos de produ-
ção e organização da cultura.
Desta feita, são muitas as possibi-
lidades de interlocução entre as
dimensões culturais da política e a
dimensões políticas da cultura.
As políticas públicas de cul-
tura, por sua vez, sobretudo na
última década da gestão federal
no Brasil, apontam diferentes
dimensões a serem fomentadas e
entendidas quando se atua no e a
partir do campo cultural: a dimen-
são estética e simbólica, a dimen-
são ética e cidadã e a dimensão
econômica.
Dentro desta lógica, e preo-
cupados com a reflexão crítica
sobre a produção cultural brasilei-
ra, em 1995 professores do Depar-
tamento de Arte da Universidade
Federal Fluminense criaram o pro-
jeto do bacharelado em Produção
Cultural. Ao longo de seus quinze
anos, o projeto pedagógico deste
curso de graduação buscou apro-
fundar as reflexões sejam sobre o
campo da gestão e planejamento
cultural, sejam sobre as teorias e
expressões da arte e da cultura.
Neste contexto surgiram
algumas recentes iniciativas, das
quais destacamos o seminário
internacional Panorama da Orga-
nização da Cultura na América do
Sul, organizado pela coordena-
ção do curso de Produção Cultu-
ral e pelo Laboratório de Ações
Culturais (LABAC-UFF). Inserido
no evento Niterói Encontro com a
América do Sul – desenvolvido
pela Prefeitura de Niterói – este
seminário se focou na parte sul
do continente americano, mas
com os olhos voltados para a
América Latina como um todo.
Do seminário destacamos
dois resultados especiais: a publi-
cação deste número especial de
PragMatizes – Revista Latino
Americana de Estudos em Cultu-
ra reunindo parte das palestras e
reflexões preparadas para o semi-
nário; e a Rede 8 pontos / Infinitos
pontos em cultura, responsável
pela proposição inicial da carta
construída por parte dos pesquisa-
dores reunidos no seminário e
cujas propostas se encontram des-
tacadas nesta edição.
CONSTRUINDO O SEMINÁRIO:
Nesta proposta de se refletir
sobre a organização da cultura
em nosso continente, convidamos
vários pesquisadores ligados a
universidades e realidades sul
americanas; alguns outros inte-
lectuais convidados não puderam
comparecer, mas as discussões
lançadas já alcançam eco...
O seminário Panorama da
Organização da Cultura da América
do Sul foi estruturado em três eixos.
. “Consumo cultural e cadeias
produtivas da cultura”, onde se
buscou discutir o papel das indús-
trias culturais, o crescimento da
economia da cultura / economia
criativa, e métodos de investiga-
ção sobre o consumo da cultura.
. “Panorama institucional da
gestão pública de cultura”, deba-
tendo instrumentos de gestão
compartilhada na cultura – conse-
lhos, planos etc -, a questão da
formação em produção e gestão
cultural, e experiências no campo
da gestão pública de cultura na
América do Sul.
. “Movimentos sociais: territó-
rios interculturais e direitos”, com
reflexões sobre a gestão territorial
com base na cultura, novas articu-
lações entre gestão urbana / gestão
cultural, e interlocuções entre direi-
tos culturais e movimentos sociais.
Os artigos que compõem
esta edição são representações de
algumas das falas do seminário,
somadas ao ensaio assinado por
Alexandre Barbalho, Antonio
Albino Rubim e Leonardo Costa
que dialoga com o segundo eixo
temático, apresentando-nos dados
sobre o campo da formação na
área cultural.
A experiência de Rosário
com as feiras de artesanato apon-
tam questões importantes para
pensarmos o consumo e as
cadeias produtivas na área cultu-
ral. Onze feiras estruturam o
espaço urbano rosarino, com forte
viés de atratividade turística ao
estruturar uma espécie de “corre-
dor” formado por estas feiras. A
gestão partilhada pelos exposito-
res destas feiras ajuda a tecer uma
rede que busque compartilhar res-
ponsabilidades entre esferas admi-
nistrativas municipais e os produ-
tores artísticos. Virginia Masau nos
incita e refletir sobre “un proceso
de democratización del Estado en
virtud de la incorporación inminen-
te de los actores directamente
involucrados al diseño de las políti-
cas dirigidas al sector”.
Já o quadro geral apresenta-
do por Alessandra Meleiro nos
apresenta as perspectivas interna-
cionais e o grande potencial eco-
nômico das cadeias de produção
na área cultural. “A economia cria-
tiva tem sido compreendida como
uma potencial alavanca para o de-
senvolvimento de muitas nações,
sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáti-
cos de mapeamento do seu setor
criativo”, resume a autora.
Outra face da economia da
cultura e da produção social de
bens culturais é apresentada por
Elizete Ignácio. Descrevendo as
experiências de produção, circula-
ção e consumo do funk no Rio de
Janeiro, a autora analisa os impac-
tos deste gênero musical na cidade,
e suas imersões em outras frontei-
ras nacionais e internacionais.
Marta Elena Bravo nos
mostra que a política nacional de
cultura da Colômbia guarda vários
paralelos com o que estamos bus-
cando construir aqui no Brasil.
Tanto lá como aqui se constata
alguns instrumentos da gestão pú-
blica de cultura apoiados em con-
ferências participativas, formula-
ção de planos, criação de fundos
de recursos financeiros, preocupa-
ção com a formação e com a salva-
guarda do patrimônio. A experiên-
cia colombiana, sobretudo em Me-
dellin, nos interessa diretamente
também por conta da implantação
de equipamentos culturais em
zonas de incidência de violência
urbana, alcançando assim um novo
quadro de requalificação do tecido
social local. “Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo [...],
crear y dejar memorias que nos en-
lazan con el pasado, le dan signifi-
cado al presente, y nos permiten
vislumbrar un futuro con el cual
tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos suce-
dan”, pondera a pesquisadora.
O mestrado em Estudos Cul-
turais da Universidade Nacional de
Rosário, na Argentina, é um dos
nossos recentes parceiros. Esta
parceria nos foi possível construir
a partir da coordenadora daquele
programa, a professora Mónica
Bernabé. As preocupações apre-
sentadas pela palestrante são refe-
rentes ao entendimento ampliado
da noção de cultura e suas práticas
contemporâneas e o desafio ao
dialogar este campo no interior de
instituições mais cristalizadas,
como por exemplo a academia.
Este dilema tem bastante proce-
dência com nossa realidade. A
autora nos alerta que as “moderni-
dades desbordadas, como la de los
demás países periféricos, están
dramáticamente atravesada por la
desigualdad. Lo acuciante de
nuestras sociedades se traduce en
millones de personas que están
fuera del sistema a causa del
diseño de políticas de exclusión
internas y externas. De ahí que el
lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva
particularmente relevante”.
A reflexão sobre o universo
das práticas e da produção cultu-
ral, assim como a formação de
quadros técnicos para operar o
campo da organização da cultura é
cada vez mais latente na atualida-
de. Que lugar as universidades
estão ocupando nesta perspecti-
va? Que “falas” as universidades
vêm produzindo, e que críticas
e/ou reflexões são, ou devem ser
delas emanadas? O quadro da for-
mação na área cultural nos é apre-
sentado em detalhes, e debatido
no artigo de Barbalho, Rubim e
Costa. Como apontam os autores,
“após analisar a literatura que dis-
cute esse tema no contexto latino--
americano e as especificidades
brasileiras, apresentaremos os
principais dados referentes ao ma-
peamento que abrange de forma
sistemática as mais diversas insti-
tuições que trabalham na formação
e qualificação em organização da
cultura nos mais diferenciados
níveis de aprimoramento (atividades
presenciais e on-line de extensão,
graduação, especialização, mestra-
do, doutorado etc.) existentes na
atualidade brasileira”. As contribui-
ções de Alexandre Barbalho durante
o seminário avançaram, sobretudo,
na dimensão cultural de grupos tidos
como “periféricos”.
Toda esta discussão, espera-
mos, pode fazer brotar novas cons-
ciências e novos padrões de urba-
nidade e convivência que reafir-
mem atitudes éticas e aprofundem
a pesquisa de nossas realidades a
partir do viés cultural. São inúme-
ras as possibilidades de reencan-
tamento e reapropriação a partir da
dimensão cultural. Apontamos,
ainda, as falas de Alexandre Bar-
balho, Carlos Vainer e de Patricio
Rivas durante o encontro sul ame-
ricano em perspectiva, falas estas
que também podem ser ouvidas na
plataforma web.
Esperamos que as vozes
“aqui” presentes sejam capazes
de reverberar os diálogos sobre as
questões culturais, sempre aten-
tos à necessidade de triangular
estas questões com questões de
outras naturezas: sociais, territo-
riais, urbanas, educacionais e
assim por diante.
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Dialogando / triangulando a
questão cultural
1
Doutor em História Social pela UFF; professor do curso
de graduação em Produção Cultural da UFF.
2
Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pelo
IPPUR-UFRJ; professor do curso de graduação em
Produção Cultural da UFF.
Luiz Augusto F. Rodrigues
1
João Domingues
2
A cultura vem alçando, gra-
dativamente, centralidade nas dis-
cussões internacionais. Mais e
mais a preocupação com a integra-
ção de um discurso “do cultural”
vem atravessando a agenda de
diferentes atores no cenário políti-
co, reorientando sua centralidade
na definição das políticas públicas
relacionadas ao desenvolvimento
econômico, à diminuição das taxas
de violência, ou mesmo à renova-
ção das práticas jurídico-políticas.
A Constituição brasileira de 1988
aponta claramente os direitos cul-
turais no rol dos direitos sociais a
serem garantidos ao conjunto da
população.
Por ter se tornado um uni-
verso bastante especializado,
pode-se afirmar que as políticas
culturais já conquistaram uma
certa história, seja em um cenário
avaliativo, seja no espaço mais
restrito de suas ações propria-
mente ditas nos modos de produ-
ção e organização da cultura.
Desta feita, são muitas as possibi-
lidades de interlocução entre as
dimensões culturais da política e a
dimensões políticas da cultura.
As políticas públicas de cul-
tura, por sua vez, sobretudo na
última década da gestão federal
no Brasil, apontam diferentes
dimensões a serem fomentadas e
entendidas quando se atua no e a
partir do campo cultural: a dimen-
são estética e simbólica, a dimen-
são ética e cidadã e a dimensão
econômica.
Dentro desta lógica, e preo-
cupados com a reflexão crítica
sobre a produção cultural brasilei-
ra, em 1995 professores do Depar-
tamento de Arte da Universidade
Federal Fluminense criaram o pro-
jeto do bacharelado em Produção
Cultural. Ao longo de seus quinze
anos, o projeto pedagógico deste
curso de graduação buscou apro-
fundar as reflexões sejam sobre o
campo da gestão e planejamento
cultural, sejam sobre as teorias e
expressões da arte e da cultura.
Neste contexto surgiram
algumas recentes iniciativas, das
quais destacamos o seminário
internacional Panorama da Orga-
nização da Cultura na América do
Sul, organizado pela coordena-
ção do curso de Produção Cultu-
ral e pelo Laboratório de Ações
Culturais (LABAC-UFF). Inserido
no evento Niterói Encontro com a
América do Sul – desenvolvido
pela Prefeitura de Niterói – este
seminário se focou na parte sul
do continente americano, mas
com os olhos voltados para a
América Latina como um todo.
Do seminário destacamos
dois resultados especiais: a publi-
cação deste número especial de
PragMatizes – Revista Latino
Americana de Estudos em Cultu-
ra reunindo parte das palestras e
reflexões preparadas para o semi-
nário; e a Rede 8 pontos / Infinitos
pontos em cultura, responsável
pela proposição inicial da carta
construída por parte dos pesquisa-
dores reunidos no seminário e
cujas propostas se encontram des-
tacadas nesta edição.
CONSTRUINDO O SEMINÁRIO:
Nesta proposta de se refletir
sobre a organização da cultura
em nosso continente, convidamos
vários pesquisadores ligados a
universidades e realidades sul
americanas; alguns outros inte-
lectuais convidados não puderam
comparecer, mas as discussões
lançadas já alcançam eco...
O seminário Panorama da
Organização da Cultura da América
do Sul foi estruturado em três eixos.
. “Consumo cultural e cadeias
produtivas da cultura”, onde se
buscou discutir o papel das indús-
trias culturais, o crescimento da
economia da cultura / economia
criativa, e métodos de investiga-
ção sobre o consumo da cultura.
. “Panorama institucional da
gestão pública de cultura”, deba-
tendo instrumentos de gestão
compartilhada na cultura – conse-
lhos, planos etc -, a questão da
formação em produção e gestão
cultural, e experiências no campo
da gestão pública de cultura na
América do Sul.
. “Movimentos sociais: territó-
rios interculturais e direitos”, com
reflexões sobre a gestão territorial
com base na cultura, novas articu-
lações entre gestão urbana / gestão
cultural, e interlocuções entre direi-
tos culturais e movimentos sociais.
Os artigos que compõem
esta edição são representações de
algumas das falas do seminário,
somadas ao ensaio assinado por
Alexandre Barbalho, Antonio
Albino Rubim e Leonardo Costa
que dialoga com o segundo eixo
temático, apresentando-nos dados
sobre o campo da formação na
área cultural.
A experiência de Rosário
com as feiras de artesanato apon-
tam questões importantes para
pensarmos o consumo e as
cadeias produtivas na área cultu-
ral. Onze feiras estruturam o
espaço urbano rosarino, com forte
viés de atratividade turística ao
estruturar uma espécie de “corre-
dor” formado por estas feiras. A
gestão partilhada pelos exposito-
res destas feiras ajuda a tecer uma
rede que busque compartilhar res-
ponsabilidades entre esferas admi-
nistrativas municipais e os produ-
tores artísticos. Virginia Masau nos
incita e refletir sobre “un proceso
de democratización del Estado en
virtud de la incorporación inminen-
te de los actores directamente
involucrados al diseño de las políti-
cas dirigidas al sector”.
Já o quadro geral apresenta-
do por Alessandra Meleiro nos
apresenta as perspectivas interna-
cionais e o grande potencial eco-
nômico das cadeias de produção
na área cultural. “A economia cria-
tiva tem sido compreendida como
uma potencial alavanca para o de-
senvolvimento de muitas nações,
sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáti-
cos de mapeamento do seu setor
criativo”, resume a autora.
Outra face da economia da
cultura e da produção social de
bens culturais é apresentada por
Elizete Ignácio. Descrevendo as
experiências de produção, circula-
ção e consumo do funk no Rio de
Janeiro, a autora analisa os impac-
tos deste gênero musical na cidade,
e suas imersões em outras frontei-
ras nacionais e internacionais.
Marta Elena Bravo nos
mostra que a política nacional de
cultura da Colômbia guarda vários
paralelos com o que estamos bus-
cando construir aqui no Brasil.
Tanto lá como aqui se constata
alguns instrumentos da gestão pú-
blica de cultura apoiados em con-
ferências participativas, formula-
ção de planos, criação de fundos
de recursos financeiros, preocupa-
ção com a formação e com a salva-
guarda do patrimônio. A experiên-
cia colombiana, sobretudo em Me-
dellin, nos interessa diretamente
também por conta da implantação
de equipamentos culturais em
zonas de incidência de violência
urbana, alcançando assim um novo
quadro de requalificação do tecido
social local. “Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo [...],
crear y dejar memorias que nos en-
lazan con el pasado, le dan signifi-
cado al presente, y nos permiten
vislumbrar un futuro con el cual
tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos suce-
dan”, pondera a pesquisadora.
O mestrado em Estudos Cul-
turais da Universidade Nacional de
Rosário, na Argentina, é um dos
nossos recentes parceiros. Esta
parceria nos foi possível construir
a partir da coordenadora daquele
programa, a professora Mónica
Bernabé. As preocupações apre-
sentadas pela palestrante são refe-
rentes ao entendimento ampliado
da noção de cultura e suas práticas
contemporâneas e o desafio ao
dialogar este campo no interior de
instituições mais cristalizadas,
como por exemplo a academia.
Este dilema tem bastante proce-
dência com nossa realidade. A
autora nos alerta que as “moderni-
dades desbordadas, como la de los
demás países periféricos, están
dramáticamente atravesada por la
desigualdad. Lo acuciante de
nuestras sociedades se traduce en
millones de personas que están
fuera del sistema a causa del
diseño de políticas de exclusión
internas y externas. De ahí que el
lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva
particularmente relevante”.
A reflexão sobre o universo
das práticas e da produção cultu-
ral, assim como a formação de
quadros técnicos para operar o
campo da organização da cultura é
cada vez mais latente na atualida-
de. Que lugar as universidades
estão ocupando nesta perspecti-
va? Que “falas” as universidades
vêm produzindo, e que críticas
e/ou reflexões são, ou devem ser
delas emanadas? O quadro da for-
mação na área cultural nos é apre-
sentado em detalhes, e debatido
no artigo de Barbalho, Rubim e
Costa. Como apontam os autores,
“após analisar a literatura que dis-
cute esse tema no contexto latino--
americano e as especificidades
brasileiras, apresentaremos os
principais dados referentes ao ma-
peamento que abrange de forma
sistemática as mais diversas insti-
tuições que trabalham na formação
e qualificação em organização da
cultura nos mais diferenciados
níveis de aprimoramento (atividades
presenciais e on-line de extensão,
graduação, especialização, mestra-
do, doutorado etc.) existentes na
atualidade brasileira”. As contribui-
ções de Alexandre Barbalho durante
o seminário avançaram, sobretudo,
na dimensão cultural de grupos tidos
como “periféricos”.
Toda esta discussão, espera-
mos, pode fazer brotar novas cons-
ciências e novos padrões de urba-
nidade e convivência que reafir-
mem atitudes éticas e aprofundem
a pesquisa de nossas realidades a
partir do viés cultural. São inúme-
ras as possibilidades de reencan-
tamento e reapropriação a partir da
dimensão cultural. Apontamos,
ainda, as falas de Alexandre Bar-
balho, Carlos Vainer e de Patricio
Rivas durante o encontro sul ame-
ricano em perspectiva, falas estas
que também podem ser ouvidas na
plataforma web.
Esperamos que as vozes
“aqui” presentes sejam capazes
de reverberar os diálogos sobre as
questões culturais, sempre aten-
tos à necessidade de triangular
estas questões com questões de
outras naturezas: sociais, territo-
riais, urbanas, educacionais e
assim por diante.
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Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Luiz Augusto F. Rodrigues
1
João Domingues
2
A cultura vem alçando, gra-
dativamente, centralidade nas dis-
cussões internacionais. Mais e
mais a preocupação com a integra-
ção de um discurso “do cultural”
vem atravessando a agenda de
diferentes atores no cenário políti-
co, reorientando sua centralidade
na definição das políticas públicas
relacionadas ao desenvolvimento
econômico, à diminuição das taxas
de violência, ou mesmo à renova-
ção das práticas jurídico-políticas.
A Constituição brasileira de 1988
aponta claramente os direitos cul-
turais no rol dos direitos sociais a
serem garantidos ao conjunto da
população.
Por ter se tornado um uni-
verso bastante especializado,
pode-se afirmar que as políticas
culturais já conquistaram uma
certa história, seja em um cenário
avaliativo, seja no espaço mais
restrito de suas ações propria-
mente ditas nos modos de produ-
ção e organização da cultura.
Desta feita, são muitas as possibi-
lidades de interlocução entre as
dimensões culturais da política e a
dimensões políticas da cultura.
As políticas públicas de cul-
tura, por sua vez, sobretudo na
última década da gestão federal
no Brasil, apontam diferentes
dimensões a serem fomentadas e
entendidas quando se atua no e a
partir do campo cultural: a dimen-
são estética e simbólica, a dimen-
são ética e cidadã e a dimensão
econômica.
Dentro desta lógica, e preo-
cupados com a reflexão crítica
sobre a produção cultural brasilei-
ra, em 1995 professores do Depar-
tamento de Arte da Universidade
Federal Fluminense criaram o pro-
jeto do bacharelado em Produção
Cultural. Ao longo de seus quinze
anos, o projeto pedagógico deste
curso de graduação buscou apro-
fundar as reflexões sejam sobre o
campo da gestão e planejamento
cultural, sejam sobre as teorias e
expressões da arte e da cultura.
Neste contexto surgiram
algumas recentes iniciativas, das
quais destacamos o seminário
internacional Panorama da Orga-
nização da Cultura na América do
Sul, organizado pela coordena-
ção do curso de Produção Cultu-
ral e pelo Laboratório de Ações
Culturais (LABAC-UFF). Inserido
no evento Niterói Encontro com a
América do Sul – desenvolvido
pela Prefeitura de Niterói – este
seminário se focou na parte sul
do continente americano, mas
com os olhos voltados para a
América Latina como um todo.
Do seminário destacamos
dois resultados especiais: a publi-
cação deste número especial de
PragMatizes – Revista Latino
Americana de Estudos em Cultu-
ra reunindo parte das palestras e
reflexões preparadas para o semi-
nário; e a Rede 8 pontos / Infinitos
pontos em cultura, responsável
pela proposição inicial da carta
construída por parte dos pesquisa-
dores reunidos no seminário e
cujas propostas se encontram des-
tacadas nesta edição.
CONSTRUINDO O SEMINÁRIO:
Nesta proposta de se refletir
sobre a organização da cultura
em nosso continente, convidamos
vários pesquisadores ligados a
universidades e realidades sul
americanas; alguns outros inte-
lectuais convidados não puderam
comparecer, mas as discussões
lançadas já alcançam eco...
O seminário Panorama da
Organização da Cultura da América
do Sul foi estruturado em três eixos.
. “Consumo cultural e cadeias
produtivas da cultura”, onde se
buscou discutir o papel das indús-
trias culturais, o crescimento da
economia da cultura / economia
criativa, e métodos de investiga-
ção sobre o consumo da cultura.
. “Panorama institucional da
gestão pública de cultura”, deba-
tendo instrumentos de gestão
compartilhada na cultura – conse-
lhos, planos etc -, a questão da
formação em produção e gestão
cultural, e experiências no campo
da gestão pública de cultura na
América do Sul.
. “Movimentos sociais: territó-
rios interculturais e direitos”, com
reflexões sobre a gestão territorial
com base na cultura, novas articu-
lações entre gestão urbana / gestão
cultural, e interlocuções entre direi-
tos culturais e movimentos sociais.
Os artigos que compõem
esta edição são representações de
algumas das falas do seminário,
somadas ao ensaio assinado por
Alexandre Barbalho, Antonio
Albino Rubim e Leonardo Costa
que dialoga com o segundo eixo
temático, apresentando-nos dados
sobre o campo da formação na
área cultural.
A experiência de Rosário
com as feiras de artesanato apon-
tam questões importantes para
pensarmos o consumo e as
cadeias produtivas na área cultu-
ral. Onze feiras estruturam o
espaço urbano rosarino, com forte
viés de atratividade turística ao
estruturar uma espécie de “corre-
dor” formado por estas feiras. A
gestão partilhada pelos exposito-
res destas feiras ajuda a tecer uma
rede que busque compartilhar res-
ponsabilidades entre esferas admi-
nistrativas municipais e os produ-
tores artísticos. Virginia Masau nos
incita e refletir sobre “un proceso
de democratización del Estado en
virtud de la incorporación inminen-
te de los actores directamente
involucrados al diseño de las políti-
cas dirigidas al sector”.
Já o quadro geral apresenta-
do por Alessandra Meleiro nos
apresenta as perspectivas interna-
cionais e o grande potencial eco-
nômico das cadeias de produção
na área cultural. “A economia cria-
tiva tem sido compreendida como
uma potencial alavanca para o de-
senvolvimento de muitas nações,
sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáti-
cos de mapeamento do seu setor
criativo”, resume a autora.
Outra face da economia da
cultura e da produção social de
bens culturais é apresentada por
Elizete Ignácio. Descrevendo as
experiências de produção, circula-
ção e consumo do funk no Rio de
Janeiro, a autora analisa os impac-
tos deste gênero musical na cidade,
e suas imersões em outras frontei-
ras nacionais e internacionais.
Marta Elena Bravo nos
mostra que a política nacional de
cultura da Colômbia guarda vários
paralelos com o que estamos bus-
cando construir aqui no Brasil.
Tanto lá como aqui se constata
alguns instrumentos da gestão pú-
blica de cultura apoiados em con-
ferências participativas, formula-
ção de planos, criação de fundos
de recursos financeiros, preocupa-
ção com a formação e com a salva-
guarda do patrimônio. A experiên-
cia colombiana, sobretudo em Me-
dellin, nos interessa diretamente
também por conta da implantação
de equipamentos culturais em
zonas de incidência de violência
urbana, alcançando assim um novo
quadro de requalificação do tecido
social local. “Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo [...],
crear y dejar memorias que nos en-
lazan con el pasado, le dan signifi-
cado al presente, y nos permiten
vislumbrar un futuro con el cual
tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos suce-
dan”, pondera a pesquisadora.
O mestrado em Estudos Cul-
turais da Universidade Nacional de
Rosário, na Argentina, é um dos
nossos recentes parceiros. Esta
parceria nos foi possível construir
a partir da coordenadora daquele
programa, a professora Mónica
Bernabé. As preocupações apre-
sentadas pela palestrante são refe-
rentes ao entendimento ampliado
da noção de cultura e suas práticas
contemporâneas e o desafio ao
dialogar este campo no interior de
instituições mais cristalizadas,
como por exemplo a academia.
Este dilema tem bastante proce-
dência com nossa realidade. A
autora nos alerta que as “moderni-
dades desbordadas, como la de los
demás países periféricos, están
dramáticamente atravesada por la
desigualdad. Lo acuciante de
nuestras sociedades se traduce en
millones de personas que están
fuera del sistema a causa del
diseño de políticas de exclusión
internas y externas. De ahí que el
lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva
particularmente relevante”.
A reflexão sobre o universo
das práticas e da produção cultu-
ral, assim como a formação de
quadros técnicos para operar o
campo da organização da cultura é
cada vez mais latente na atualida-
de. Que lugar as universidades
estão ocupando nesta perspecti-
va? Que “falas” as universidades
vêm produzindo, e que críticas
e/ou reflexões são, ou devem ser
delas emanadas? O quadro da for-
mação na área cultural nos é apre-
sentado em detalhes, e debatido
no artigo de Barbalho, Rubim e
Costa. Como apontam os autores,
“após analisar a literatura que dis-
cute esse tema no contexto latino--
americano e as especificidades
brasileiras, apresentaremos os
principais dados referentes ao ma-
peamento que abrange de forma
sistemática as mais diversas insti-
tuições que trabalham na formação
e qualificação em organização da
cultura nos mais diferenciados
níveis de aprimoramento (atividades
presenciais e on-line de extensão,
graduação, especialização, mestra-
do, doutorado etc.) existentes na
atualidade brasileira”. As contribui-
ções de Alexandre Barbalho durante
o seminário avançaram, sobretudo,
na dimensão cultural de grupos tidos
como “periféricos”.
Toda esta discussão, espera-
mos, pode fazer brotar novas cons-
ciências e novos padrões de urba-
nidade e convivência que reafir-
mem atitudes éticas e aprofundem
a pesquisa de nossas realidades a
partir do viés cultural. São inúme-
ras as possibilidades de reencan-
tamento e reapropriação a partir da
dimensão cultural. Apontamos,
ainda, as falas de Alexandre Bar-
balho, Carlos Vainer e de Patricio
Rivas durante o encontro sul ame-
ricano em perspectiva, falas estas
que também podem ser ouvidas na
plataforma web.
Esperamos que as vozes
“aqui” presentes sejam capazes
de reverberar os diálogos sobre as
questões culturais, sempre aten-
tos à necessidade de triangular
estas questões com questões de
outras naturezas: sociais, territo-
riais, urbanas, educacionais e
assim por diante.
8
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Luiz Augusto F. Rodrigues
1
João Domingues
2
A cultura vem alçando, gra-
dativamente, centralidade nas dis-
cussões internacionais. Mais e
mais a preocupação com a integra-
ção de um discurso “do cultural”
vem atravessando a agenda de
diferentes atores no cenário políti-
co, reorientando sua centralidade
na definição das políticas públicas
relacionadas ao desenvolvimento
econômico, à diminuição das taxas
de violência, ou mesmo à renova-
ção das práticas jurídico-políticas.
A Constituição brasileira de 1988
aponta claramente os direitos cul-
turais no rol dos direitos sociais a
serem garantidos ao conjunto da
população.
Por ter se tornado um uni-
verso bastante especializado,
pode-se afirmar que as políticas
culturais já conquistaram uma
certa história, seja em um cenário
avaliativo, seja no espaço mais
restrito de suas ações propria-
mente ditas nos modos de produ-
ção e organização da cultura.
Desta feita, são muitas as possibi-
lidades de interlocução entre as
dimensões culturais da política e a
dimensões políticas da cultura.
As políticas públicas de cul-
tura, por sua vez, sobretudo na
última década da gestão federal
no Brasil, apontam diferentes
dimensões a serem fomentadas e
entendidas quando se atua no e a
partir do campo cultural: a dimen-
são estética e simbólica, a dimen-
são ética e cidadã e a dimensão
econômica.
Dentro desta lógica, e preo-
cupados com a reflexão crítica
sobre a produção cultural brasilei-
ra, em 1995 professores do Depar-
tamento de Arte da Universidade
Federal Fluminense criaram o pro-
jeto do bacharelado em Produção
Cultural. Ao longo de seus quinze
anos, o projeto pedagógico deste
curso de graduação buscou apro-
fundar as reflexões sejam sobre o
campo da gestão e planejamento
cultural, sejam sobre as teorias e
expressões da arte e da cultura.
Neste contexto surgiram
algumas recentes iniciativas, das
quais destacamos o seminário
internacional Panorama da Orga-
nização da Cultura na América do
Sul, organizado pela coordena-
ção do curso de Produção Cultu-
ral e pelo Laboratório de Ações
Culturais (LABAC-UFF). Inserido
no evento Niterói Encontro com a
América do Sul – desenvolvido
pela Prefeitura de Niterói – este
seminário se focou na parte sul
do continente americano, mas
com os olhos voltados para a
América Latina como um todo.
Do seminário destacamos
dois resultados especiais: a publi-
cação deste número especial de
PragMatizes – Revista Latino
Americana de Estudos em Cultu-
ra reunindo parte das palestras e
reflexões preparadas para o semi-
nário; e a Rede 8 pontos / Infinitos
pontos em cultura, responsável
pela proposição inicial da carta
construída por parte dos pesquisa-
dores reunidos no seminário e
cujas propostas se encontram des-
tacadas nesta edição.
CONSTRUINDO O SEMINÁRIO:
Nesta proposta de se refletir
sobre a organização da cultura
em nosso continente, convidamos
vários pesquisadores ligados a
universidades e realidades sul
americanas; alguns outros inte-
lectuais convidados não puderam
comparecer, mas as discussões
lançadas já alcançam eco...
O seminário Panorama da
Organização da Cultura da América
do Sul foi estruturado em três eixos.
. “Consumo cultural e cadeias
produtivas da cultura”, onde se
buscou discutir o papel das indús-
trias culturais, o crescimento da
economia da cultura / economia
criativa, e métodos de investiga-
ção sobre o consumo da cultura.
. “Panorama institucional da
gestão pública de cultura”, deba-
tendo instrumentos de gestão
compartilhada na cultura – conse-
lhos, planos etc -, a questão da
formação em produção e gestão
cultural, e experiências no campo
da gestão pública de cultura na
América do Sul.
. “Movimentos sociais: territó-
rios interculturais e direitos”, com
reflexões sobre a gestão territorial
com base na cultura, novas articu-
lações entre gestão urbana / gestão
cultural, e interlocuções entre direi-
tos culturais e movimentos sociais.
Os artigos que compõem
esta edição são representações de
algumas das falas do seminário,
somadas ao ensaio assinado por
Alexandre Barbalho, Antonio
Albino Rubim e Leonardo Costa
que dialoga com o segundo eixo
temático, apresentando-nos dados
sobre o campo da formação na
área cultural.
A experiência de Rosário
com as feiras de artesanato apon-
tam questões importantes para
pensarmos o consumo e as
cadeias produtivas na área cultu-
ral. Onze feiras estruturam o
espaço urbano rosarino, com forte
viés de atratividade turística ao
estruturar uma espécie de “corre-
dor” formado por estas feiras. A
gestão partilhada pelos exposito-
res destas feiras ajuda a tecer uma
rede que busque compartilhar res-
ponsabilidades entre esferas admi-
nistrativas municipais e os produ-
tores artísticos. Virginia Masau nos
incita e refletir sobre “un proceso
de democratización del Estado en
virtud de la incorporación inminen-
te de los actores directamente
involucrados al diseño de las políti-
cas dirigidas al sector”.
Já o quadro geral apresenta-
do por Alessandra Meleiro nos
apresenta as perspectivas interna-
cionais e o grande potencial eco-
nômico das cadeias de produção
na área cultural. “A economia cria-
tiva tem sido compreendida como
uma potencial alavanca para o de-
senvolvimento de muitas nações,
sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáti-
cos de mapeamento do seu setor
criativo”, resume a autora.
Outra face da economia da
cultura e da produção social de
bens culturais é apresentada por
Elizete Ignácio. Descrevendo as
experiências de produção, circula-
ção e consumo do funk no Rio de
Janeiro, a autora analisa os impac-
tos deste gênero musical na cidade,
e suas imersões em outras frontei-
ras nacionais e internacionais.
Marta Elena Bravo nos
mostra que a política nacional de
cultura da Colômbia guarda vários
paralelos com o que estamos bus-
cando construir aqui no Brasil.
Tanto lá como aqui se constata
alguns instrumentos da gestão pú-
blica de cultura apoiados em con-
ferências participativas, formula-
ção de planos, criação de fundos
de recursos financeiros, preocupa-
ção com a formação e com a salva-
guarda do patrimônio. A experiên-
cia colombiana, sobretudo em Me-
dellin, nos interessa diretamente
também por conta da implantação
de equipamentos culturais em
zonas de incidência de violência
urbana, alcançando assim um novo
quadro de requalificação do tecido
social local. “Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo [...],
crear y dejar memorias que nos en-
lazan con el pasado, le dan signifi-
cado al presente, y nos permiten
vislumbrar un futuro con el cual
tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos suce-
dan”, pondera a pesquisadora.
O mestrado em Estudos Cul-
turais da Universidade Nacional de
Rosário, na Argentina, é um dos
nossos recentes parceiros. Esta
parceria nos foi possível construir
a partir da coordenadora daquele
programa, a professora Mónica
Bernabé. As preocupações apre-
sentadas pela palestrante são refe-
rentes ao entendimento ampliado
da noção de cultura e suas práticas
contemporâneas e o desafio ao
dialogar este campo no interior de
instituições mais cristalizadas,
como por exemplo a academia.
Este dilema tem bastante proce-
dência com nossa realidade. A
autora nos alerta que as “moderni-
dades desbordadas, como la de los
demás países periféricos, están
dramáticamente atravesada por la
desigualdad. Lo acuciante de
nuestras sociedades se traduce en
millones de personas que están
fuera del sistema a causa del
diseño de políticas de exclusión
internas y externas. De ahí que el
lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva
particularmente relevante”.
A reflexão sobre o universo
das práticas e da produção cultu-
ral, assim como a formação de
quadros técnicos para operar o
campo da organização da cultura é
cada vez mais latente na atualida-
de. Que lugar as universidades
estão ocupando nesta perspecti-
va? Que “falas” as universidades
vêm produzindo, e que críticas
e/ou reflexões são, ou devem ser
delas emanadas? O quadro da for-
mação na área cultural nos é apre-
sentado em detalhes, e debatido
no artigo de Barbalho, Rubim e
Costa. Como apontam os autores,
“após analisar a literatura que dis-
cute esse tema no contexto latino--
americano e as especificidades
brasileiras, apresentaremos os
principais dados referentes ao ma-
peamento que abrange de forma
sistemática as mais diversas insti-
tuições que trabalham na formação
e qualificação em organização da
cultura nos mais diferenciados
níveis de aprimoramento (atividades
presenciais e on-line de extensão,
graduação, especialização, mestra-
do, doutorado etc.) existentes na
atualidade brasileira”. As contribui-
ções de Alexandre Barbalho durante
o seminário avançaram, sobretudo,
na dimensão cultural de grupos tidos
como “periféricos”.
Toda esta discussão, espera-
mos, pode fazer brotar novas cons-
ciências e novos padrões de urba-
nidade e convivência que reafir-
mem atitudes éticas e aprofundem
a pesquisa de nossas realidades a
partir do viés cultural. São inúme-
ras as possibilidades de reencan-
tamento e reapropriação a partir da
dimensão cultural. Apontamos,
ainda, as falas de Alexandre Bar-
balho, Carlos Vainer e de Patricio
Rivas durante o encontro sul ame-
ricano em perspectiva, falas estas
que também podem ser ouvidas na
plataforma web.
Esperamos que as vozes
“aqui” presentes sejam capazes
de reverberar os diálogos sobre as
questões culturais, sempre aten-
tos à necessidade de triangular
estas questões com questões de
outras naturezas: sociais, territo-
riais, urbanas, educacionais e
assim por diante.
9
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Um importante desdobramento do
seminário foi a articulação inicial entre
pesquisadores sul americanos que leva-
ram à constituição de uma rede de parce-
ria que se comprometeu com alguns
pontos estratégicos. Foram traçados oito
pontos iniciais, mas que pretendem infini-
tos pontos .
Seguem os signatários presentes
naquele momento e o documento esta-
belecido:
BARBALHO, Alexandre – Universidade
Estadual do Ceará (Brasil)
BERNABÉ, Mónica – Universidad Nacio-
nal de Rosario (Argentina)
BRAVO, Marta Elena – Universidad
Nacional da Colombia – sede Medellin.
CARRASCO, Bernabé – Universidad de
Bio-Bio (Chile)
DOMINGUES, João - Universidade Fede-
ral Fluminense (Brasil)
GERICKE, Valeria – Universidad Nacional
de Rosario (Argentina)
MASAU, Virginia - Municipalidad de Rosa-
rio / Universidad Nacional de Rosario
(Argentina)
RIVAS, Patricio – Universidad de Chile
RODRIGUES, Luiz Augusto – Universida-
de Federal Fluminense (Brasil)
Carta do seminário internacional Pano-
rama da Organização da Cultura da
América do Sul (Brasil, 2011)
Niterói, 17 de novembro de 2011
Nós, integrantes de universidades e
instituições culturais sul americanas, reuni-
das e reunidos em função do seminário inter-
nacional Panorama da Organização da
Cultura na América do Sul, realizado no Audi-
tório Macunaíma da Universidade Federal
Fluminense, reconhecemos o momento de
transformação das relações políticas em
nossos países, não apenas na América do
Sul, mas em toda a Latino América e Caribe.
Consideramos que os processos de
desenvolvimento cultural em nossa região
têm produzido condições potenciais à integra-
ção e cooperação. Estes processos são resul-
tado das ações de muitas iniciativas e comu-
nidades culturais da América Latina e Caribe.
Reconhecemos os avanços que vêm
sendo produzidos e discutidos nos diversos
contextos e nos propomos a contribuir com
esta carta para tal perspectiva, sempre sob
posicionamentos que dialoguem com os
diferentes agentes dos processos culturais.
Tendo isso em vista, propomos:
1 - estruturar uma rede de instituições,
universidades e agentes culturais que
dialoguem por meio de trabalhos de
ensino, pesquisa e extensão no campo
político-cultural da América Latina e Caribe;
2 - incentivar ações conjuntas de intercâm-
bio, cooperação e integração internacionais;
3 - desenvolver seminários permanentes
que promovam o intercâmbio de pesquisas
e reflexões com foco nas políticas e nas
práticas de gestão e produção em cultura;
4 - fomentar a formação nas áreas da orga-
nização e profissionalização da cultura,
promovendo inclusive o intercâmbio de
alunos e docentes;
5 - propiciar a troca de experiências através do
desenvolvimento de pesquisas comparadas;
6 - estimular a criação de laboratórios e
observatórios de pesquisa;
7 - criar uma plataforma digital que funcio-
ne como suporte de divulgação das ativi-
dades da rede;
8 - viabilizar publicações e buscar mecanis-
mos de financiamento para ações conjuntas.
Carta del seminario internacional Pano-
rama de la Organización de la Cultura
en Sudamérica (Brasil, 2011)*
Niterói, 17 de noviembre de 2011
Nosotros, integrantes de universida-
des e instituciones culturales sudamericanas,
reunidas y reunidos en función del seminario
internacional Panorama de la Organización
de la Cultura en Sudamérica, realizado en el
Auditorio Macunaíma de la Universidad Fede-
ral Fluminense, reconocemos el momento de
transformación de las relaciones políticas en
nuestros países, no sólo en Sudamérica, sino
en toda Latinoamérica y Caribe.
Consideramos que los procesos de
desarrollo cultural en nuestra región han
producido condiciones potenciales a la
integración y cooperación. Estos proce-
sos son resultado de acciones de muchas
iniciativas y comunidades culturales de
Latinoamérica y Caribe.
Reconocemos los avances que vienen
siendo producidos y discutidos en los diversos
contextos y nos proponemos a contribuir con
esta carta para tal perspectiva, siempre bajo
posicionamientos que dialoguen con los
diferentes agentes de los procesos culturales.
Teniendo eso en cuenta, propo-
nemos:
1 - estructurar una red de instituciones,
universidades y agentes culturales que dialo-
guen por medio de trabajos de enseñanza,
investigación y extensión en el campo
político-cultural de Latinoamérica y Caribe;
2 - incentivar acciones conjuntas de intercam-
bio, cooperación e integración internacionales;
3 - desarrollar seminarios permanentes que
promuevan el intercambio de investigaciones
y reflexiones con foco en las políticas y en las
prácticas de gestión y producción en cultura;
4 - fomentar la formación en las áreas de
la organización y profesionalización de la
cultura, promoviendo inclusive el inter-
cambio de alumnos y docentes;
5 - propiciar el cambio de experiencias a través
del desarrollo de investigaciones comparadas;
6 - estimular la creación de laborato-
rios y observatorios de investigación;
7 - crear una plataforma digital que funcio-
ne como soporte de divulgación de las
actividades de la red;
8 - hacer viables publicaciones y buscar
mecanismos de financiamiento para accio-
nes conjuntas.
RED 8 PUNTOS EN CULTURA
Tradução de Mariana Darsie, bacharelanda em Produção
Cultural pela Universidade Federal Fluminense.
Rede 8 Pontos em Cultura
10
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Um importante desdobramento do
seminário foi a articulação inicial entre
pesquisadores sul americanos que leva-
ram à constituição de uma rede de parce-
ria que se comprometeu com alguns
pontos estratégicos. Foram traçados oito
pontos iniciais, mas que pretendem infini-
tos pontos .
Seguem os signatários presentes
naquele momento e o documento esta-
belecido:
BARBALHO, Alexandre – Universidade
Estadual do Ceará (Brasil)
BERNABÉ, Mónica – Universidad Nacio-
nal de Rosario (Argentina)
BRAVO, Marta Elena – Universidad
Nacional da Colombia – sede Medellin.
CARRASCO, Bernabé – Universidad de
Bio-Bio (Chile)
DOMINGUES, João - Universidade Fede-
ral Fluminense (Brasil)
GERICKE, Valeria – Universidad Nacional
de Rosario (Argentina)
MASAU, Virginia - Municipalidad de Rosa-
rio / Universidad Nacional de Rosario
(Argentina)
RIVAS, Patricio – Universidad de Chile
RODRIGUES, Luiz Augusto – Universida-
de Federal Fluminense (Brasil)
Carta do seminário internacional Pano-
rama da Organização da Cultura da
América do Sul (Brasil, 2011)
Niterói, 17 de novembro de 2011
Nós, integrantes de universidades e
instituições culturais sul americanas, reuni-
das e reunidos em função do seminário inter-
nacional Panorama da Organização da
Cultura na América do Sul, realizado no Audi-
tório Macunaíma da Universidade Federal
Fluminense, reconhecemos o momento de
transformação das relações políticas em
nossos países, não apenas na América do
Sul, mas em toda a Latino América e Caribe.
Consideramos que os processos de
desenvolvimento cultural em nossa região
têm produzido condições potenciais à integra-
ção e cooperação. Estes processos são resul-
tado das ações de muitas iniciativas e comu-
nidades culturais da América Latina e Caribe.
Reconhecemos os avanços que vêm
sendo produzidos e discutidos nos diversos
contextos e nos propomos a contribuir com
esta carta para tal perspectiva, sempre sob
posicionamentos que dialoguem com os
diferentes agentes dos processos culturais.
Tendo isso em vista, propomos:
1 - estruturar uma rede de instituições,
universidades e agentes culturais que
dialoguem por meio de trabalhos de
ensino, pesquisa e extensão no campo
político-cultural da América Latina e Caribe;
2 - incentivar ações conjuntas de intercâm-
bio, cooperação e integração internacionais;
3 - desenvolver seminários permanentes
que promovam o intercâmbio de pesquisas
e reflexões com foco nas políticas e nas
práticas de gestão e produção em cultura;
4 - fomentar a formação nas áreas da orga-
nização e profissionalização da cultura,
promovendo inclusive o intercâmbio de
alunos e docentes;
5 - propiciar a troca de experiências através do
desenvolvimento de pesquisas comparadas;
6 - estimular a criação de laboratórios e
observatórios de pesquisa;
7 - criar uma plataforma digital que funcio-
ne como suporte de divulgação das ativi-
dades da rede;
8 - viabilizar publicações e buscar mecanis-
mos de financiamento para ações conjuntas.
Carta del seminario internacional Pano-
rama de la Organización de la Cultura
en Sudamérica (Brasil, 2011)*
Niterói, 17 de noviembre de 2011
Nosotros, integrantes de universida-
des e instituciones culturales sudamericanas,
reunidas y reunidos en función del seminario
internacional Panorama de la Organización
de la Cultura en Sudamérica, realizado en el
Auditorio Macunaíma de la Universidad Fede-
ral Fluminense, reconocemos el momento de
transformación de las relaciones políticas en
nuestros países, no sólo en Sudamérica, sino
en toda Latinoamérica y Caribe.
Consideramos que los procesos de
desarrollo cultural en nuestra región han
producido condiciones potenciales a la
integración y cooperación. Estos proce-
sos son resultado de acciones de muchas
iniciativas y comunidades culturales de
Latinoamérica y Caribe.
Reconocemos los avances que vienen
siendo producidos y discutidos en los diversos
contextos y nos proponemos a contribuir con
esta carta para tal perspectiva, siempre bajo
posicionamientos que dialoguen con los
diferentes agentes de los procesos culturales.
Teniendo eso en cuenta, propo-
nemos:
1 - estructurar una red de instituciones,
universidades y agentes culturales que dialo-
guen por medio de trabajos de enseñanza,
investigación y extensión en el campo
político-cultural de Latinoamérica y Caribe;
2 - incentivar acciones conjuntas de intercam-
bio, cooperación e integración internacionales;
3 - desarrollar seminarios permanentes que
promuevan el intercambio de investigaciones
y reflexiones con foco en las políticas y en las
prácticas de gestión y producción en cultura;
4 - fomentar la formación en las áreas de
la organización y profesionalización de la
cultura, promoviendo inclusive el inter-
cambio de alumnos y docentes;
5 - propiciar el cambio de experiencias a través
del desarrollo de investigaciones comparadas;
6 - estimular la creación de laborato-
rios y observatorios de investigación;
7 - crear una plataforma digital que funcio-
ne como soporte de divulgación de las
actividades de la red;
8 - hacer viables publicaciones y buscar
mecanismos de financiamiento para accio-
nes conjuntas.
RED 8 PUNTOS EN CULTURA
Tradução de Mariana Darsie, bacharelanda em Produção
Cultural pela Universidade Federal Fluminense.
11
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
12
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana
-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
El recurso de las ferias: Contrapunteo en torno al surgimiento y devenir
de las ferias culturales en la ciudad de Rosario, Argentina pos 2001
O recurso das feiras: Contraponto em torno do surgimento edesenvolvimento
das feiras culturais na cidade de Rosario, Argentina, no pós 2001
Street Markets As A Resource: A counterpoint about the emergence and
evolution of cultural street markets in the city of Rosario, Argentina, after 2001
María Virginia Massau
1
El presente trabajo tiene por objeto reflexionar sobre el surgimiento y
devenir de las ferias en la ciudad de Rosario en el marco de la intensifi-
cación y proliferación de acciones y estrategias propiamente culturales
registradas en la última década y ligadas a los procesos de reconstruc-
ción del horizonte de futuro del conjunto social argentino.
Uno de los propósitos es redimensionar la complejidad de dicho proce-
so a la luz de las experiencias concretas y particulares, las que se
presentan como plataformas de construcción de ciudadanía cultural;
para desde allí, explorar nuevas conexiones entre cultura, marginali-
dad, mercado, ciudadanía y política en la actualidad.
Resumen:
Palabras clave:
Cultura
Recurso
Ferias
Ciudadanía Cultural
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
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latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
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12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
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Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
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la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
O presente trabalho se propõe refletir sobre o surgimento e desenvolvi-
mento das ferias na cidade de Rosario. Isso, na última década, em que
se intensificaram e proliferaram ações e estratégias propriamente
culturais, ligadas aos processos de reconstrução de um horizonte de
futuro para o conjunto social argentino.
Um dos propósitos principais é redimensionar a complexidade desse
processo à luz das experiências concretas e particulares, como pata-
mares de construção de cidadania cultural para, a partir dali, explorar
novas conexões entre cultura, marginalidade, mercado, cidadania e
política nos tempos atuais.
The purpose of this work is to reflect upon the emergence and evolution
of street markets in the city of Rosario in the context of intensification
and multiplication of direct cultural actions and strategies over the last
decade, linked with the reconstruction processes of future perspectives
of Argentinean social tissue.
One of the purposes is to reassess the complexity of this process in the
light of actual individual experience, presented as platforms for the
development of cultural citizenship, and henceforth explore the
currently emerging links between culture, marginality, the market,
citizenship and politics.
Palavras chave:
Key words:
Resumo:
Abstract:
Cultura
Recurso
Feiras
Cidadania Cultural
Culture
Resources
Street Markets
Cultural Citzenship
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
13
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
14
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana
-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N°
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CORIAT, Benjamin. El taller y el cronómetro.
Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
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DE CERTAU, Michel. La invención de lo
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traducción Alejandro Pescador, Universidad
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GARCÍA CANCLINI, Néstor. Consumidores y
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Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
El recurso de las ferias: Contrapunteo
en torno al surgimiento y devenir de
las ferias culturales en la ciudad de
Rosario, Argentina pos 2001
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
15
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi
-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
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Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
16
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana
-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
17
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi
-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
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Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
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DE CERTAU, Michel. La invención de lo
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traducción Alejandro Pescador, Universidad
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Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
18
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana
-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
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Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
19
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
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el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
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Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
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Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
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Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
20
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana
-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N°
21, La Plata: 2005.
CORIAT, Benjamin. El taller y el cronómetro.
Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
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DE CERTAU, Michel. La invención de lo
cotidiano I. Artes de hacer, en Nueva edición,
establecida y presentada por Luce girad-
traducción Alejandro Pescador, Universidad
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Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores
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GARCÍA CANCLINI, Néstor. Consumidores y
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__________________, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
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GUATTARI, Félix y ROLNIK, Suely. Micropolítica,
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
22
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien
-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
25
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
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<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
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Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
26
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N°
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Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
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DE CERTAU, Michel. La invención de lo
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traducción Alejandro Pescador, Universidad
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GARCÍA CANCLINI, Néstor. Consumidores y
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Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial
. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
30
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
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Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
Katz Editores, 2010.
GUATTARI, Félix y ROLNIK, Suely. Micropolítica,
Cartografías del deseo, colección Nociones Comu-
nes, Ed. Tinta Limón, Bs. As, 2005.
LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
31
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
RANTE, Paulo, Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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CORIAT, Benjamin. El taller y el cronómetro.
Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
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GARCÍA CANCLINI, Néstor. Consumidores y
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__________________, La sociedad sin relato:
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
32
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
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saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
33
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
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Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
34
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe
-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
saúde mental e reforma psiquiátric. Org.: AMA-
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BLEICHMAR, Silvia. Dolor País, Buenos Aires:
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CARDINI, Laura. La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N°
21, La Plata: 2005.
CORIAT, Benjamin. El taller y el cronómetro.
Ensayo sobre El Taylorismo, El Fordismo y la
producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
CUCURTO, Washington. El tractor y otros poemas
urgentes, Eloisa Cartonera, Buenos Aires: 2010.
DE CERTAU, Michel. La invención de lo
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traducción Alejandro Pescador, Universidad
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GARCÍA CANCLINI, Néstor. Consumidores y
Ciudadanos. México: Editorial Grijalbo, 1995.
__________________, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid:
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GUATTARI, Félix y ROLNIK, Suely. Micropolítica,
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
35
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe
-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
Bibliografia
BASAGLIA, Franco. Escritos Selecionados em
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producción en masa. Ed. Siglo XXI, Madrid: 1993.
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traducción Alejandro Pescador, Universidad
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LISPECTOR, Clarice. Revelación de un mundo,
Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2005.
YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Barcelona: Editorial
Gedisa S.A., 2002.
Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
INTRODUÇÃO
que sea siempre así, en esta cartone-
ría donde un grupo de trabajadores
sueñan, pintan tapas y recortan el
cartón de las calles pero es difícil
explicarles con lujo de detalles que es
una cartonería. Nadie lo sabe, ni
siquiera nosotros.
(Cucurto: 2010)
Es desde esa zona de “lo difícil de
explicar lo que uno hace cuando esta
metido allí en la experiencia”, que
emprendemos este esfuerzo de poner
palabras a nuestro trabajo cotidiano con
las ferias culturales.
Una forma lícita que encontramos
para despuntar este escrito, aparece del
lado del humor, del chiste, de la brincadei-
ra, lo que por otra parte nos ayuda a
emplazarnos sobre una forma en la que
triunfa el principio de placer sobre la
rudeza de las contingencias de la reali-
dad. Vale decir que el humor no es resig-
nado. Es rebelde.
En ese sentido, traemos a colación
el apodo “dueña de las ferias” que utiliza
un colega, para nombrarme cuando nos
encontramos en algún pasillo de la Secre-
taría de Cultura y Educación, institución
en la que ambos trabajamos.
Efectivamente, la “dueña de las
Ferias”, (que vendría a ser yo), es además
de un modo amoroso y humorístico en que
otros nombran mi trabajo, una metáfora inte-
resante para intentar pensar aquí en torno a
la tarea de coordinar el Área de Ferias Arte-
sanales de la Secretaría de Cultura y Educa-
ción de la Municipalidad de Rosario.
Definitivamente, si hay un elemen-
to en esa metáfora que resulta interesan-
te al análisis es justamente la denomina-
ción de dueña, pero por la negativa, es
decir; por esa ilusión de propiedad sobre
un tipo de experiencia colectiva que
nuclea una diversidad de sujetos y que se
desarrolla fundamentalmente en el espa-
cio público y en ese sentido “rechaza”
toda pretensión de dominio.
No obstante esa enunciación risue-
ña, es la que nos permitirá recorrer una de
las dimensiones principales que caracteri-
zan a las ferias y que es la que tiene que
ver con su desarrollo en el espacio público
de una ciudad, cuestión que no solo iden-
tifica a este tipo de experiencias sino que
justamente interpela y dinamiza la propia
noción de espacio público.
Por otra parte y siguiendo el plan-
teo general de George Yúdice, en torno al
concepto de la cultura como recurso
2
intentaremos reflexionar en torno a la
proliferación de este tipo de experiencias
en la última década en el marco de los
procesos postindustriales en América
Latina; como así también y especialmente
en torno a la potencia política que revisten
(en algunos casos) en tanto viabilizan la
conquista de niveles de ciudadanía para
amplios sectores de la población y/ o
grupos poblacionales emplazados en los
márgenes de los procesos productivos
socialmente aceptados.
En ese sentido, una de las hipótesis
principales que recorre este trabajo y que
intentaremos desarrollar en una perspectiva
critica es la de la configuración de nuevos
modos de integración y participación social
a partir de este devenir particular propiciado
en el desarrollo de ferias culturales y que
llamaremos de ciudadanía cultural.
afirma: “lo que me interesa destacar desde
un principio es el uso creciente de la cultu-
ra como expediente para el mejoramiento
tanto sociopolítico cuanto económico”.
4
En otras palabras, lo que se propo-
ne es subrayar la presencia del factor o
componente cultural en el desarrollo de
los procesos sociales, económicos y polí-
ticos de la actualidad.
En esta dirección analítica y en
abierto diálogo con este texto, encontra-
mos a otros referentes teóricos importan-
tes, como por ejemplo García Canclini,
quien en su libro “La sociedad sin relato”,
va a formular algunos otros interrogantes
que citaremos aquí para reforzar esta idea:
“¿Que está pasando con el arte,
cuya muerte se anunció tantas veces,
para que en pocas décadas se haya con-
vertido en una alternativa para inversores
decepcionados, laboratorios de experi-
mentación intelectual en la sociología, la
antropología, la filosofía y el psicoanálisis,
surtidor de la moda, del diseño y de otras
prácticas de distinción?”
5
Así, esta perspectiva aquí presen-
tada incluye necesariamente la considera-
ción de ciertos tópicos de la fase actual del
capitalismo global/ neoliberal, caracteriza-
do por un sistema de producción postfor-
dista y/o postindustrial – que algunos eco-
nomistas siguiendo la tradición de la refe-
rencia automotriz llaman de “toyotista”
6
-
como claves fundamentales para com-
prender estos procesos de rearticulación y
reticulación del ámbito de la cultura a las
esferas sociales y económicas.
Si bien no es objeto de estas reflexio-
nes profundizar en torno a los procesos de
globalización en curso de un modo directo,
es decir, excede al ámbito de este trabajo la
posibilidad de sistematizar las principales
líneas de fuerza que caracterizan la era del
capitalismo global que nos atraviesa; nos es
insoslayable señalar que son dichas forma-
ciones especificas – caracterizadas por la
aceleración de los procesos migratorios y
de aproximación de culturas diferentes,
entre otros elementos-, las que se constitu-
yen en el contexto inmediato de este modo
de pensar el funcionamiento de la cultura y
de la sociedad en la actualidad.
Una de las sospechas presentes
en el texto de Yúdice, que explicarían en
parte este fenómeno y que intentaremos
seguir con mucha atención en el curso de
estas páginas, es aquella referida a la
“retirada” del Estado de sus funciones de
hacedor de lo social; es decir, a este pro-
ceso de reconversión del “Estado Social”
(conocido como Benefactor) prototípico
de la fase del capitalismo industrial, a
este “Estado menor o mínimo” que
advino junto a la fase del capitalismo
neoliberal.
“la expansión del papel desempe-
ñado por la cultura se debe, parcialmente,
a la reducción de la subvención directa de
todos los servicios sociales por parte del
Estado, incluida la cultura, lo cual requería
una nueva estrategia de legitimación en
Estados Unidos de la era postfordista y
posterior a los derechos civiles”
7
Y sigue:
“…la táctica de reducir los gastos
estatales, que podría parecer el toque de
difuntos de las actividades artísticas y
culturales, constituye realmente su condi-
ción de continua posibilidad: hoy se
encauza a los artistas hacia el manejo de
lo social.”
8
Y si bien el autor, precisa o ejempli-
fica este movimiento en los Estados
Unidos, más adelante explicará como el
mismo no es exclusivo de este país, sino
que se ha vuelto en cierta forma una prác-
Valga aquí entonces la aclara-
ción, que nuestro campo de reflexión
se circunscribe a las Ferias “Muy
Rosarinas” que son en la actualidad
las once (11) Ferias Culturales integra-
das al Área de Ferias de la Secretaria
de Cultura y Educación de la Municipa-
lidad de Rosario y que en principio
podemos distinguir en dos grandes
grupos; por un lado, un conjunto de
ocho (8) ferias de artesanías, manuali-
dades y arte popular y por el otro, otro
conjunto de tres (3) ferias culturales de
exposición y venta de objetos usados
y/o antigüedades.
Finalmente incluiremos en la
reflexión una experiencia muy singular
de taller de producción de objetos artesa-
nales y manuales que en cierta forma
constituye un antecedente a la actual
tarea de coordinación de Ferias Cultura-
les, al menos en dos sentidos.
En primer término es un antece-
dente en términos profesionales y por qué
no, personales de participación directa en
la fabricación colectiva de objetos para el
consumo cultural; y en segundo término
es posible mencionar ese espacio de la
producción de bienes culturales como
una de las condiciones claves para el
acceso y la permanencia en ferias, al
menos de artesanos.
Así pues, intentaremos con estas
reflexiones aportar nuevos y por qué
no, viejos elementos para un debate
necesario y urgente respecto estos
montajes urbanos llamados ferias, los
cuales con mayores o menores niveles
de participación en estrategias más
amplias de la planificación urbana, sin
duda proporcionan nuevas identidades
a las ciudades que habitamos en el
sentido en que se constituyen como
módulos participes y componentes del
paisaje urbano contemporáneo.
Por último, nos resta decir que
estas reflexiones son emprendidas con la
sospecha de que nuestra tarea de coordi-
nación de ferias desde el ámbito del
Estado Local, se desarrolla muchas veces
en ciertas zonas “grises”; es decir, en
zonas en la que conviven por un lado, inte-
reses públicos y privados de modo muy
especial y fluctuante, y por otro lado,
articulaciones muy precisas con otras
Secretarías y Ministerios existentes al inte-
rior del propio Estado, cada una con sus
propias lógicas institucionales y de poder
en juego. Es esta convivencia e intersecto-
rialidad lo que le imprime su particular
dinamismo y es en ese sentido que colo-
camos el concepto de “gris” en tanto es
una tonalidad producida por la mezcla del
blanco y el negro, que a su vez no son
ausencia de color sino presencia de todos
(al menos en la teoría del color pigmento).
DE LA CULTURA COMO RECURSO, A
LAS FERIAS COMO RECURSO
Parafraseando el título del libro de
George Yúdice “La cultura como
recurso”
3
; elegimos utilizar ciertas claves
provistas por dicho análisis para pensar
el tema de las ferias culturales, no solo
por una cuestión nominal, sino sobre
todo por la cuestión conceptual que pro-
pone el autor cuando formula la noción
de recurso, para pensar el concepto de
cultura en la actualidad el cual supone un
anudamiento muy particular y preciso a
la vez que se presenta como clave indis-
pensable para la lectura de ciertos proce-
sos del presente.
Efectivamente lo que este autor
señala enfáticamente, incluso en las prime-
ras páginas de su libro, es que asistimos a
una contemporaneidad global en la cual el
papel de la cultura se ha extendido nota-
blemente a otros ámbitos, principalmente
al económico y al ámbito de la política; y
tica reconocible en muchos otros países
de occidente, incluidos los del llamado
“tercero mundo”
Así pues, la inclusión de esta hipó-
tesis en nuestro análisis, responde a la
necesidad de vislumbrar, desde una pers-
pectiva crítica, este proceso de ascenso
y/ o expansión de la esfera cultural en el
marco de la reconversión del Estado en la
neoliberalización en curso como una de
las condiciones claves para el análisis
específico del caso de las ferias culturales
en la ciudad de Rosario.
Por otra parte queremos aclarar
aquí, que incluir esta visión no equivale a
adscribir ligeramente a la idea de que se
ha producido un achicamiento del Estado
por la sola constatación de la reducción
del gasto público en muchas de sus áreas
incluida la social. En última instancia, esta
constatación que igualmente debiera veri-
ficarse en cada caso, siempre va a tener
que ver con un proceso político más com-
plejo de reposicionamiento estratégico del
Estado en el marco del su nuevo rol en la
fase del capitalismo actual.
De todos modos y en lo que aquí
nos interesa, estas observaciones dirigi-
das, a pensar la “novedad” de la relación
entre cultura/ sociedad/ economía y polí-
tica en nuestros días en clave de “recur-
so” (sin negar que la centralidad de la
cultura no es nueva en la resolución de
problemas sociales, sino subrayando las
nuevas formas que cobra esta vieja rela-
ción en el presente), son para nosotros,
los ejes de análisis prioritarios para abor-
dar el tema de ferias culturales ya que
efectivamente el surgimiento de las
mismas y su devenir actual en política
cultural de la ciudad, se ha producido en
el marco de esta nueva forma de articula-
ción de las esferas sociales, políticas y
económicas, transversalizadas por la
expansión de lo propiamente cultural.
En ese marco y en el caso de
nuestra ciudad de Rosario, es posible
advertir que la mayor parte de las ferias
que hoy son reguladas desde la Secreta-
ría de Cultura y Educación de la Munici-
palidad de Rosario (once en total) tienen
un origen o momento fundacional muy
ligado a una cuestión social. A excepción
del Mercado de Pulgas del Bajo y de la
Feria de libros y textos usados de Plaza
Sarmiento
9
, que datan en nuestra ciudad
desde mediados de la década del 80, las
otras nueve ferias que hoy componen
nuestro campo de intervención, surgieron
a partir y luego del año 2001.
Y decir 2001 en Argentina, es cosa
seria.
En efecto hacia finales de ese
primer año del nuevo milenio, nuestro
país asistió a lo peor de una prof unda
crisis política, económica y financiera,
que venía incubándose desde la década
de los 90, conocida internacionalmente
sobre todo por la cuestión del “corralito
bancario”, los cacerolazos y los espan-
tosos hechos de violencia que se susci-
taron y que pusieron fin de un modo
trágico, a la era “menemista” del despil-
farro, al país de la convertibilidad y a
una etapa en la que se nos quiso con-
vencer, al decir de la bella Silvia
Bleichmar
10
, de que entrábamos al
primer mundo o que, incluso, ya formá-
bamos parte de él.
Este momento trágico de la vida
institucional en el país, que dejó saldos,
muertos y consecuencias dolorosas
desde muchos puntos de vista y que
marcó profundamente los primeros años
del 2000 con signos de inestabilidad
social, política y económica, fue asimis-
mo caracterizado por una gran participa-
ción social en formato inmediato de pro-
testa y más mediato de ensayos múlti-
ples de recuperación de la democracia.
Es en este proceso particular en el
que surgen, resurgen y fundamentalmen-
te, cobran plena visibilidad nuevas formas
de participación social y política que
ponen en crisis a las formas tradicionales
y que se convertirán en adelante -casi
diría- en prototípicas de la política “popu-
lar” argentina: piquetes, asambleas barria-
les, fabricas recuperadas, y nuevos movi-
mientos sociales generados sobre todo a
partir de la figura del desocupado y/o del
muerto o caído en combate.
En ese marco, la cultura y especial-
mente las artes y muchos artistas tuvieron
un especial protagonismo y participación
que amplió y multiplicó las bases de lo
que se conoce como arte político en el
país, e incluso las propias bases del arte.
En efecto, el arte en ese periodo, también
salió a la calle de múltiples formas:(para
citar sólo algunas) datan de ese periodo la
conformación del TPS (taller popular de
serigrafía liderado por un grupo de artistas
plásticos en el marco de la asamblea
barrial del barrio de San Telmo), de
VENUS ( billete que reemplazaría a la
moneda nacional, diseñado por el artista
plástico Roberto Jacoby para canjear en
un importante nº de clubes de trueque
generados en esa época) y de ELOISA
CARTONERA ( proyecto editorial llevado
adelante por un grupo de artistas y una
cooperativa de cartoneros en la ciudad de
Buenos Aires), entre otras.
Sería encantador profundizar en
este tema, ya que hay muchísimas expe-
riencias que revelan nuevas formas de
articulación entre arte, política y sociedad,
pero efectivamente, excede las posibilida-
des de este trabajo.
No obstante, entre esa variedad de
formas en que el arte salió a la calle en la
Argentina pos 2001, es que podemos
situar el caso específico de las Ferias Cul-
turales en la ciudad de Rosario.
LAS FERIAS COMO RECURSO
Hace una década, igual que el país,
Rosario tocaba fondo y reflejaba su des-
ánimo en una ciudad gris de espaldas al
río, con sectores costeros literalmente en
ruinas como los terrenos del ferrocarril y el
legendario barrio Pichincha sumido en la
decadencia. A nadie se le ocurría ir a
Rosario por mero placer, algo que ahora sí
pasa cada vez más. Fue precisamente en
aquel momento de desesperanza cuando
un grupo de gente, con el artista plástico
Dante Taparelli a la cabeza, comenzó a
impulsar alternativas urbanístico-culturales
para recuperar sectores decaídos dándo-
les vida artística, económica y social.
11
Casualmente, el pasado domingo
12
,
uno de los periódicos más importantes del
país “Página 12”, en su Suplemento de
Turismo, destacó a la ciudad de Rosario
entre uno de los primeros destinos turísti-
cos nacionales preferidos en función de
los datos arrojados por las estadísticas
elaboradas a tales fines. Curiosamente
entre los principales atractivos urbanos
que se contabilizan allí se encuentran las
ferias culturales que dan vida a uno de los
barrios más emblemáticos de la ciudad
durante los fines de semana: El Mercado
Retro “la Huella”, la feria “El Roperito” y la
feria de artesanos del “Bulevar”.
Y si bien esta nota periodística hace
especial hincapié en los aspectos turísticos
de la región, dimensión que definitivamente
hoy forma parte indisociable del tema Ferias
en la ciudad, en sus comienzos dicha pers-
pectiva no estuvo explícitamente presente,
al menos en el sentido en que aparece des-
tacado y argumentado en la actualidad ya
que en sus orígenes – hace justamente una
década-, la creación de estas tres ferias por
parte de la Secretaría de Cultura de la Muni-
cipalidad de Rosario, tuvo que ver principal-
mente con otros dos factores de insospe-
chada confluencia y articulación.
En primer lugar, podemos afirmar
que uno de los elementos más influyentes
para la emergencia de las ferias fue el
diseño de estrategias de planificación
urbana más generales, de reactivación
de ciertas zonas de la ciudad, principal-
mente las de la franja costera sobre el río
Paraná (límite norte y este de Rosario) las
cuales se encontraban desde hacía
varias decenas de años, coincidentemen-
te con los primeros síntomas del ocaso
industrial acaecidos durante los años 60,
en franca decadencia.
Dichas estrategias más amplias
fueron puestas en marcha en esta ciudad
a partir de la recuperación de la democra-
cia en el país, es decir del año 1983 (en el
marco de las negociaciones territoriales
entre el Estado local y el Estado Nacional
de ese entonces) y asimismo tuvieron y al
día de hoy tienen como objetivo principal,
la recuperación y reactivación de esas
zonas que durante los comienzos del
siglo XX fueron habitadas principalmente
por la actividad portuaria y ferroviaria, y
que luego, con el advenimiento de las
transformaciones a nivel productivo y
económico que produjeron el desplaza-
miento del propio puerto de Rosario hacia
el sur de la ciudad y la apertura de al
menos otros cinco puertos en la región,
dejaron a estas zonas sin la “vita activa”
que entonces tuvieron.
Desde este punto de vista, uno de
los elementos más destacables de este
proceso, es que el mismo fue impulsado
por el Estado Local a través de acciones
fundamentalmente culturales que inclu-
yeron, además del fomento de estrate-
gias de intervención urbana entre las que
se destaca la creación de Ferias, la recu-
peración de inmensos galpones de
depósito, dos estaciones de trenes y un
complejo de seis silos (graneros) que se
encontraban prácticamente abandona-
dos, a través de la invención de diferen-
tes instituciones y dispositivos culturales,
entre los que se destacan el CEC
(Centro de Expresiones Contemporá-
neas), la Isla de los Inventos, el MACRO
(Museo de Arte Contemporáneo de
Rosario), la Escuela de Artes Urbanas, la
Casa de la Poesía y los galpones de
usos múltiples, entre otros.
Así, en este proceso que hasta el
día de hoy continúa, (aunque de modo
diferente por la inclusión de nuevos acto-
res provenientes de la inversión privada e
inmobiliaria consecuencia directa del
boom de la soja en la región), fue inclui-
da la propia relocalización del edificio de
la Secretaria de Cultura, que pasó de
habitar algunas oficinas de uno de los
primeros galpones recuperados, a
emplazarse en el inmueble de una vieja y
amplia estación de trenes prácticamente
en desuso, sobre todo por el incremento
notable de actividades, programas y pro-
yectos que empezaban a implementarse
desde dicha institución.
“Rosario Norte” que es el nombre
que todavía conserva la estación de
trenes, (la cual paradójicamente se está
recuperando como tal), está ubicada en el
barrio conocido como Pichincha. Por su
parte este barrio, coincidentemente con
esta historia, durante las primeras déca-
das del siglo XX había tenido un desarro-
llo urbanístico, comercial y cultural muy
particular
13
el cual también en la década
del 60 se sumió en una estética de deca-
dencia, debido al crepúsculo de sus princi-
pales actividades. Su ubicación geográfi-
ca (en el actual corazón de la ciudad
sobre el río) y su pasado mítico y bohemio
fueron las dos razones más importantes
para que este distrito fuese incluido en los
planes de recuperación urbanística, que
como vimos, llegaron con la democracia.
En ese sentido, y a juzgar por la
palabra directa de algunos funcionarios de
la Secretaría de Cultura del Municipio de
la época en que se crearon las ferias, nos
encontramos con este tipo de relato:
“A partir del emplazamiento de la
Secretaria de Cultura en Rosario Norte,
empezamos a pensar en diferentes
acciones de intervención urbana para
recuperar la memoria de ese barrio em-
blemático de la ciudad, la historia del
barrio Pichincha… recuperar su apa-
riencia de barrio antiguo. Ahí surge la
idea de pensar en una intervención
urbana que rompiese los fines de
semana con la cotidianeidad de la
ciudad en el espacio público...Ahí apa-
rece Dante con esta idea de convocar a
la gente desocupada con la sola consig-
na de que tuviese objetos de más de 25
años de antigüedad”
14
Y sigue:
“Como empezamos a convocar a
fines del 2001, sucedió que por la crisis fue
un éxito tremendo porque hubo realmente
una afluencia de gente impresionante…y
arrancamos con el Mercado Retro en abril
del 2002 con 130 puesteros”
15
En esta última frase del ex
Secretario de Cultura que aquí citamos,
es en donde podemos situar el otro
factor que confluyó para la creación de
las ferias culturales.
El segundo elemento presente
entonces para la emergencia de las
mismas como proyecto cultural, no es
otro que el “ambiente” político- ideológico
de esos años, es decir, ese particular
proceso que destacábamos párrafos
atrás, que se dio en la Argentina pos
crisis del 2001, y que dio lugar al ascenso
de la cultura y al mundo de las artes en
general, como lenguajes y prácticas privi-
legiadas para la recomposición y recons-
trucción del país en ruinas.
Al respecto, en la misma nota
periodística publicada el pasado domin-
go, localizamos el propio relato de
quien estuvo allí presente durante la
creación de las ferias, propulsando este
movimiento:
“En pleno caos del 2001 yo
estaba mirando en Crónica TV a una
mujer que lloraba porque la habían
desalojado y no tenía dónde ir. Justo
detrás estaba su gran ropero, que era
una joya de la mueblería y yo me pre-
gunté cómo no lo vendía. Y me respon-
dí que la señora no tenía idea del valor
de ese ropero. Así se me ocurrió impul-
sar un mercado callejero donde la
gente trajera sus cosas viejas para
ponerlas a la venta.”
16
Estas palabras del artista plástico
Dante Taparelli, quien ciertamente fue el
creador del Mercado Retro “La Huella” y
de la Feria El Roperito, son muy gráfi-
cas y elocuentes para subrayar este
momento particular en que se echa
mano de y hacia la cultura para la reso-
lución de problemas de otra índole y/o
sociales; es decir, este relato ilustra el
modo específico en que empieza a con-
siderarse a la cultura como motor para
el desarrollo y la recomposición social y
a los artistas como inventores o gesto-
res de procesos de inclusión social, en
adelante “creativos”.
Por otra parte, estos dos elemen-
tos brevemente citados aquí para expli-
citar los orígenes de la creación de
ferias por parte del Estado Local, pre-
suponen como también dijimos, un
insospechado horizonte de confluencia
y articulación que colaboran tanto para
el entendimiento del “éxito” de las expe-
riencias en sí mismas, como para la
comprensión de su manifiesto devenir
en clave de recurso, concepto que ele-
gimos primariamente para este análisis.
Y decimos “confluencia insospe-
chada”, porque efectivamente ambos tópi-
cos, el de la estrategia de recuperación de
una zona urbana en decadencia por un
lado, y el de la organización de un merca-
do callejero de exposición y venta de obje-
tos del pasado por el otro; gravitan como
satélites en torno a un eje común: el de la
recuperación de la memoria colectiva
como operación principal para la reescri-
tura (menos mortificante) de una narrativa
del presente basada en la resignificación
o nueva puesta en valor de objetos, suje-
tos, historias y lugares.
“Acabado el país de la convertibili-
dad, ha comenzado el país del reciclaje”
17
Esta metáfora con la que Bleichmar
encara el capítulo “Somos todos cartone-
ros” de su texto Dolor País del 2002, es
aquí retomada para exponer esa coyuntu-
ra especifica que dio lugar a la construc-
ción de un nuevo presente a través de
cierta remoción del pasado bajo la figura
de “lo reciclado”. La cita resume de alguna
manera, ese anudamiento particular entre
lo social, lo ideológico y lo cultural que
posibilitó durante aquellos años (y por
sobre todas las cosas) la construcción de
un horizonte de futuro a partir de la idea
del reutilizamiento.
Es entonces en este proceso,
donde el prefijo “re” comienza a escuchar-
se y pronunciarse con mayor frecuencia e
intensidad en nuestra ciudad y también en
el país; incorporación y/o mutación
lingüística que para nosotros, da cuenta
de la potencia inclusiva, esperanzadora y
fundamentalmente política que reviste
como prefijo organizador del (re) estable-
cimiento de un horizonte de futuro.
A nuestro juicio, desde allí es posi-
ble comprender la aceptación y rápida
popularización de la estrategia de los mer-
cados callejeros de venta de objetos e
indumentaria usados bajo la forma del
Mercado Retro y El Roperito, por sobre
otras estrategias del Estado Local pensa-
das para la recuperación urbana y cultural
de ciertas zonas de la ciudad.
Esos dispositivos específicos
fueron capaces de contener y encauzar
el espíritu o ambiente cultural de la época
reponiendo el horizonte de futuro perdido
en torno a la estrategia de los “re”, es
decir, de la reutilización, recuperación,
reciclaje y reposición de objetos, sujetos
y lugares a la vez que funcionaron y
funcionan, como emprendimientos
comerciales - culturales, que restablecen
la posibilidad de ingreso o reingreso al
mundo o sistema productivo.
En ese sentido es necesario tam-
bién plantear aquí a las ferias como recur-
so en relación al modo en que operan infor-
mal pero legítimamente para la habilita-
ción, ampliación y expansión de mercados
a través de las operaciones de intercambio
y venta de objetos que posibilitan por exce-
lencia, las cuales son bien específicas y
difícilmente podamos localizarlas en otro
tipo de formato de comercialización.
Esta dimensión que colocaría a
este tipo de propuestas bajo el rótulo de
las llamadas economías creativas,
asimismo requiere de un examen crítico y
minucioso de sus partes constitutivas, ya
que las ferias de las que aquí nos ocupa-
mos son innovadoras o creativas en rela-
ción a los tipos de objetos que ofrecen
así como en referencia al modo en que
sus miembros participan, como veremos
en el apartado siguiente. Sin embargo,
desde el punto de vista del tipo de inter-
cambio comercial que en ellas se desa-
rrolla en forma hegemónica, no suponen
una práctica superadora del modelo de
oferta y demanda capitalista, es decir, no
desarrollan por lo general formas de
intercambio anticapitalistas, sino que
tienden a profundizar los niveles de infor-
malización de la economía que nos rige.
No obstante, y previo a la profundi-
zación sobre los tipos de intercambios
promovidos en su desarrollo, queremos
señalar la iniciativa de organizar una terce-
ra propuesta de feria que fue promovida en
forma simultánea a la creación de estos
mercados callejeros de antigüedades
(Mercado Retro) y de ropa usada, por parte
de la Secretaría de Cultura y Educación.
Nos referimos a la primera convo-
catoria para la selección de artesanos,
manualistas y artistas populares para
conformar la Feria de artesanos del Bule-
var lanzada también durante el año 2002.
A dicha convocatoria se presentaron algo
más de setecientas personas que cum-
plían en mayor o menor medida con las
condiciones requeridas, es decir, eran
artesanos, manualistas y/o artistas popu-
lares en su mayoría. Un jurado especia-
lista integrado por varios reconocidos
“Maestros Artesanos” de la región, cons-
truyó un orden de mérito en base a una
exhaustivo proceso fiscalizatorio median-
te el cual se seleccionaron las mejores
ciento veinte propuestas, que fueron las
que pasaron a conformar dicha feria,
ubicada hasta la actualidad, sobre el
Boulevard Oroño, que es el límite este
del barrio Pichincha.
En este caso particular, y para
concluir con este análisis en torno a los
proyectos vehiculizados a partir de la
cuestión del reciclaje, es evidente que en
las ferias artesanales, es decir en aque-
llas en las que se ofrecen producciones
artesanales o artesanías, la cuestión del
reciclado no aparece necesariamente del
lado de los objetos que son ofrecidos y/o
que viabilizan la pretensión de integrarse
en una feria, sino que esta perspectiva se
encuentra del lado de los sujetos que
producen objetos de modo artesanal,
manual y popular y en ese caso, reciclan
y recuperan viejas tradiciones de oficios y
prácticas artesanales otrora sojuzgadas
por la euforia de lo industrial.
Vale decir entonces que si la arte-
sanía define a la vez la pieza, lo produci-
do, lo creado y sobre todo nombra el
oficio, es decir, el tipo de trabajo específi-
co que posee esas características espe-
ciales y en todos los casos remite a un
saber hacer; la creación por parte del
Estado Local de ferias artesanales, indu-
dablemente ha tenido que ver con hacer
lugar al inminente surgimiento y resurgi-
miento de prácticas y emprendimientos
familiares sostenidas en oficios artesana-
les y manuales que se dieron en la
Argentina pos 2001 (en muchos casos
relacionadas directamente con la falta de
trabajo y/u oportunidades en el mercado
formal del empleo) y que sin duda fueron
las que colaboraron decisivamente - en
tanto ambiente o espíritu de época - para
la creación de la feria de artesanos más
numerosa de la ciudad.
Hasta aquí todo nos hace pensar
seriamente que recurso, bien podría remi-
tir además de a reserva, a volver a poner
en curso, en circulación.
BREVE CARACTERIZACIÓN DE LAS
FERIAS “MUY ROSARIANAS”
Las ferias integradas actualmente
a la Secretaría de Cultura y Educación de
la Municipalidad de Rosario bajo la deno-
minación “Ferias Muy Rosarinas” son
once en total y están distribuidas en dife-
rentes espacios públicos, principalmente
plazas y espacios verdes emplazados en
la franja costera del centro de la ciudad y
hacia el norte.
Las mismas, están agrupadas bajo
dos grandes denominaciones: por un lado
Pero existen otra serie de ferias que
hoy regulamos y entre las que se incluyen
la mayoría, que se generaron “espontá-
neamente” o por el motus propio de grupos
activos que paulatinamente fueron consi-
guiendo niveles de legalidad y reconoci-
miento público, cultural y político (como es
el caso del Mercado de Pulgas del Bajo, de
la feria de verano de la Florida, de la de la
Plaza Montenegro, de la de textos usados
y también de las ferias de La Fluvial).
Una primer observación que se
puede deducir sobre estas diferencias y
aunque puede parecer una obviedad pero
que a los fines analíticos resulta relevante,
es que aquellas ferias que se originaron de
manera más espontánea y/o autogestiona-
das , es decir que en sus orígenes no
formaron parte de la política cultural en
esta materia, del modo en que en la actua-
lidad sí lo hacen; atravesaron diferentes
procesos para su legitimación como tales,
que en muchos casos incluyeron hasta la
presencia de episodios de violencia, de
traslados (forzosos) de un lugar a otro de la
ciudad por parte de las fuerzas de control
público, y asimismo el escaso o nulo reco-
nocimiento público de su valor o potencial
estético, al menos en sentido positivo.
Este atravesamiento como vere-
mos, impartirá características muy particu-
lares al devenir de cada una de ellas que
podemos visualizar en los niveles de cohe-
sión internos y en los tipos de modalidades
organizativas autónomas que se han
dado, hasta el grado de poder constituirse,
aunque sea en un solo caso (feria de arte-
sanos “Mercado de Pulgas del Bajo”), bajo
la forma jurídica de Asociación Civil.
No obstante a este nivel de formali-
zación jurídica logrado por la feria de arte-
sanos más antigua y tradicional de la
ciudad, las otras ferias que surgieron “por
las suyas” en distintos espacios públicos
de la ciudad y que posteriormente fueron
incorporadas a la regulación estatal, man-
tienen niveles de cohesión de sus miem-
bros muy significativos (a la vez que
abigarrados) así como también concen-
tran capacidades organizativas y de ges-
tión muy importantes.
Desde el punto de vista histórico,
al poco tiempo de la creación de las
ferias en el barrio Pichincha, estas ferias
paralelas y/o autogestionadas comenza-
ron a reclamar reconocimiento por parte
del Estado Local solicitando explícita-
mente la regulación y/o encuadre de las
mismas en las políticas culturales hacia
el sector que empezaban a visualizarse
en ese entonces en él que como vimos,
era inminente e inédito en la ciudad, la
valoración y aceptación de las artesanías
y del esquema de comercialización en
ferias que comenzaba a organizarse. En
ese sentido, no sería desubicado plan-
tear aquí que fue dicho proceso de
estructuración de una política cultural
hacia el sector, el que propició directa-
mente que los reclamos de reconoci-
miento y legitimidad de ferias paralelas
se tramitaran vía la Cultura.
Así, este proceso derivó en la efec-
tiva y paulatina recepción de estos pedi-
dos por parte de la Secretaría de Cultura
con la consecuente incorporación de estos
emprendimientos a su mando de coordi-
nación iniciándose un complejo proceso
de adecuación mutua. Recordamos aquí
que previamente cada una de estas ferias
contaba con algún tipo de legalidad ema-
nada fundamentalmente desde el Concejo
Municipal que establecía tiempos y espa-
cios de funcionamiento, tipo de productos
permitidos para la exposición y comerciali-
zación como así también en algunos
casos prefijaban cantidades de puestos a
ocupar. Lo que no estaba establecido allí
de ningún modo, era el tipo de política
cultural que terminaría conteniendo a
todas y cada una de estas ferias.
Propiciado por todo este movi-
miento, en el año 2004 se creada al inte-
rior de la Secretaría de Cultura el Área
de ferias Artesanales que incluyó el nom-
bramiento de un pequeño equipo técni-
co, la dotación de un presupuesto anual
para su funcionamiento y por sobre
todas las cosas un nombre propio que
empezaría a responder de allí en adelan-
te por estos proyectos en cuestión así
como también a ejecutar y diseñar accio-
nes para el mejoramiento y la promoción
de estos proyectos.
Ésta incorporación a Cultura de
los emprendimientos culturales y comer-
ciales constituidos por fuera de la planifi-
cación estatal, imprimió e imprime carac-
terísticas particulares al tipo de relación
establecida con el Estado. Dicha relación
va a caracterizarse por la presencia de
una posición activa y propositiva de
ambos actores en un proceso que como
ya vimos, se inició atravesado por otros
embates políticos que determinaron y
determinan el modo de adecuación de
estatutos de funcionamiento y unificación
de criterios estéticos, y sobre todo impri-
men características muy singulares al
tipo de pasaje de una posición marginal a
una posición central en la política cultural
en materia de artesanías en la ciudad.
Por su parte y en este sentido,
las ferias que fueron creadas desde el
Estado, aparecen con muy poca capa-
cidad organizativa, de gestión de solu-
ciones a sus conflictos internos y de
proyección; más bien mantienen una
relación casi tutelar con el Estado Mu-
nicipal, dentro del esquema clásico de
las políticas públicas combinado con
una visión altamente “conflictiva” sobre
el mismo. Es decir, se posicionan
desde cierta pasividad en la que espe-
ran y piden que el Estado resuelva
todos sus problemas, a la vez que hay
un descrédito importante hacia la capa-
cidad del mismo en tanto agente regu-
lador de lo social.
Esta posición un tanto contradic-
toria pero que efectivamente funciona
de este modo, nos ha llevado a direccio-
nar nuestras acciones para con las
mismas, en sentido de intentar fortale-
cer capacidades organizativas y de ges-
tión así como a tratar de deconstruir
este modelo instalado de tipo “asisten-
cialista” que todavía opera en las rela-
ciones entre el Estado y “sus” ferias en
pos de insertarnos en un modelo de co-
gestión, ya que las ferias, en definitiva
son emprendimientos también “priva-
dos” que funcionan en el espacio públi-
co y sus actores son política y económi-
camente activos.
Finalmente, el trazado de estas
distinciones para caracterizar y presen-
tar a las ferias culturales con las que
trabajamos, responde además de a
nuestra propia lectura de esta realidad
particular; a la necesidad ética y políti-
ca de ejercitar una análisis crítico de
nuestro campo de intervención en el
seno del mismo y en el marco de nues-
tra responsabilidad pública como agen-
tes del Estado que pujamos por un
modelo de regulación inclusivo, demo-
crático y pluralista.
En ese sentido, re-apostamos
cotidianamente a nuestro trabajo con
las ferias, ya que las mismas, no sólo
integran nuestro paisaje cultural citadi-
no reconfigurando el funcionamiento de
los espacios públicos mediante su em-
plazamiento sino que también constitu-
yen espacios activos de participación
social, cultural y económica, y represen-
tan en muchos casos espacios de traba-
jo reales para muchas familias y sujetos
que o por opción o por imposibilidad, no
integran (en su mayoría) el mercado
formal de empleo.
LA PARTICIPACIÓN EN FERIAS COMO
PASSAPORTE DE CIUDADANÍA CULTURAL
Desde el punto de vista de las
personas que participan en alguna de
estas experiencias; mejor dicho, de la
interpretación que podemos inferir al
respecto sobre todo por nuestra labor
directa en la coordinación de estos
proyectos, hay varios indicios que nos
conducen a profundizar en esta perspecti-
va de la cultura como recurso.
El primero y quizá más obvio, pero
que no podemos dejar de incluir en este
recorrido es el que tiene que ver con el
hecho de que efectivamente la participa-
ción directa en alguna de las ferias del
sistema supone el ingreso económico a
través de la venta de los objetos habilita-
dos, que es a su vez el fin de toda feria y
todo feriante.
Pero quedarnos sólo con ese aspec-
to sería desleal con nosotros mismos, inclu-
so porque si de eso se tratase simplemen-
te, tampoco tendría sentido nuestro trabajo
específico desde el ámbito de la cultura.
En otras palabras, la regulación
actual de estos proyectos desde la Secre-
taría de Cultura y (hoy también) de Educa-
ción, en los términos en que lo venimos
planteando, nos hace suponer que existen
otra serie de razones en juego entre las
que incluimos la consideración del empo-
deramiento de los participantes y/o ferian-
tes propiciado a través de los procesos de
participación en las ferias en cuestión.
En efecto, la propia distinción que
realizamos en torno a los dos grandes
grupos reconocibles en el sistema de
ferias culturales, esto es: sujetos produc-
tores de objetos y sujetos no productores
de los objetos que exponen y comerciali-
zan distribuidos en ferias organizadas en
torno a una u otra razón, admite asimis-
mo la posibilidad de precisar los movi-
mientos de cada uno de ellos en el senti-
do de la conquista de niveles de ciudada-
nía cultural a partir de su inclusión en
cada tipo especifico de feria. Esta preci-
sión, nos permitirá ejemplificar los distin-
tos modos o usos de ese pasaporte cultu-
ral que conlleva a diferentes tipos de ejer-
cicio de ciudadanía cultural en el marco
de dicha inserción.
Vale aclarar aquí que elegimos el
concepto de ciudadanía cultural porque
nos pareció el más adecuado para levan-
tar y destacar la potencia política particu-
lar que reviste en cada caso la participa-
ción en uno u otro tipo de ferias. En otras
palabras, y sin desconocer que dicha
categoría ha sido utilizada por diferentes
tradiciones de pensamiento para proce-
sar cuestiones relacionadas a otras
temáticas o problemáticas, en nuestro
caso la elección de la misma ha tenido
que ver indudablemente con la intención
de subrayar las articulaciones especifi-
cas entre cultura - economía y política
posibilitadas por el desarrollo específico
de cada tipo de feria.
En el caso del segundo grupo, es
decir, de los sujetos no productores de los
objetos que exponen y comercializan, se
esboza una modalidad que podríamos
llamar de primer nivel o ejercicio tomando
en consideración que dicho sector es
reunido a partir de la posesión de un tipo
especifico de objetos.
En otras palabras, si atendemos al
propio procedimiento mediante el cual
dicho grupo fue consolidado como tal, en
los tres casos, nos encontramos con que
cada uno de los agrupamientos o ferias (
de textos escolares usados, de antigüeda-
des y de ropa usada o feria americana) se
ha producido en torno a los objetos ofreci-
dos. Es decir, el agrupamiento se define
en función del objeto o tipo de objeto.
Por otra parte, no son cualquier
objeto, sino objetos que a partir de ese
movimiento que citamos, de recuperación
de la memoria colectiva como motor para
el reestablecimiento de un horizonte de
futuro en la Argentina pos 2001, empiezan
a portar o poseer un valor histórico, estéti-
co, cultural y económico insospechado.
Si volvemos a leer la cita de Tapa-
relli, podemos encontrar allí algunas otras
pistas para seguir hilvanado esta idea:
“En pleno caos del 2001 yo estaba
mirando en Crónica TV a una mujer que
lloraba porque la habían desalojado y no
tenía dónde ir. Justo detrás estaba su gran
ropero, que era una joya de la mueblería y
yo me pregunté cómo no lo vendía. Y me
respondí que la señora no tenía idea del
valor de ese ropero”
18
En la imagen de la mujer desespe-
rada con un objeto de valor al que le ha
vuelto inesperadamente la espalda, como
quien no sabe que allí hay algo que es
valioso, hay una entrada para esta pista
que intentamos seguir y construir aquí.
Podemos incluso pensar, que esa imagen
nos revela al menos dos operaciones:
La primera, es la relación que se
establece entre un “entendido” en el tema
valor de los objetos devenidos “antigüe-
dades” que no es lo mismo que cosa
vieja, y el poseedor del esos objetos que
carece del entendimiento acerca de su
valor estético o histórico; pero la segunda
y es esta la que especialmente nos inte-
resa, es la relación que la primer opera-
ción posibilita: y es la de la relación que
el poseedor de los objetos (re) establece
con los mismos una vez anoticiado de la
cuestión del valor.
Estas dos operaciones que profe-
samos de la relectura de la cita en cues-
tión, y que además no son otras que las
operaciones de la cultura en el marco de
sus acciones especificas por la memoria,
son las que constituyen la especificidad
de este primer nivel o ejerció de ciudada-
nía cultural, y que encontramos en el
grupo de los sujetos no productores de lo
que ofrecen.
Dicho de otro modo, el tipo especial
de ciudadanía cultural que se ejerce en
este caso está ligado a la actividad de
participación en la puesta en valor de
objetos a partir de su incorporación a
espacios reunidos colectiva y legítima-
mente en torno a esta idea, entendiendo
que el valor nunca es una propiedad inhe-
rente a los objetos, sino un juicio acerca de
ellos enunciado por los sujetos, cuyos
significados están conferidos por las tran-
sacciones, las atribuciones y las motiva-
ciones humanas.
19
Así, el tránsito o pasaje del no valor
o ausencia del mismo, a valor cultural (y
desde luego comercial) que se ha visto
posibilitado entre otras cosas a partir de la
creación y el sostenimiento de este tipo de
mercados callejeros ha posibilitado asimis-
mo un proceso de transformación de la
propia trayectoria de los sujetos participan-
tes, quienes definitivamente son los que
llevan adelante dicha tramitación.
Es en este sentido en el que obser-
vamos aquí de modo positivo a esta expan-
sión del ámbito de la cultura, ya que en
este caso particular ha permitido y permite
la participación activa o protagónica de
sectores clásicamente desvinculados del
hacer cultural y de la vida cultural urbana.
“yo cuando empecé, estaba muy
mal, me había quedado sin trabajo. Yo
limpiaba en casa de una señora muy rica
que me había despedido. Cuando me
enteré de la Feria, la fui a ver y le pedí si
no tenía ropa de ella, de esa buena, que
no usara: me dio dos valijas, y con eso
empecé. Eran cosas muy finas y ahí
aprendí a diferenciar y ahora me dedico
casi exclusivamente a la venta de ropa
de cuero…y ya tengo mis clientes, en
general motoqueros.”
20
“Cómo al año de haber empezado
en la feria, conseguí trabajo. Me ofrecie-
ron de encargada de limpieza de un sana-
torio. El sueldo estaba bien y todo, pero yo
ya había empezado acá, me había encari-
ñado con la feria así que me quedé,
aparte me iba bien. Hoy no me arrepiento
de haberme quedado, descubrí en mí una
vendedora de ropa que no sabía que yo
tenía eso. Me encanta lo que hago!”
21
Estas citas tomadas de algunas
entrevistas realizadas oportunamente a
distintos integrantes en este caso del
“Roperito”, dan cuenta de cierta forma de
este proceso de construcción de una
nueva identidad forjada en torno al sen-
tido de pertenencia a una feria y asimis-
mo estos relatos nos muestran como esa
nueva identidad adquirida colabora
directamente en el reposicionamiento
social, cultural, económico y subjetivo de
sus participantes.
Asimismo en el caso de esta feria
en particular, compuesta hoy por 52
puestos liderados en su mayoría por
mujeres de entre 30 y 70 años, ha suce-
dido que varias de sus referentes han
sido convocadas desde otros proyectos
por el estilo y en el marco de otro tipo de
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales, para capacitar a otras
personas en torno a la venta, a la selec-
ción y edición de las prendas, como así
también para contar su experiencia de
participación en la misma en clave de
capacitación a otras personas.
Por otra parte, vale colocar aquí
que en esta dirección de reposicionamien-
tos sociales y subjetivos a partir de la
participación en este tipo de ferias, encon-
tramos a varios de los integrantes del Mer-
cado Retro quienes luego de participar
durante algunos años en la experiencia
misma de la Feria, la abandonaron para
abrir negocios y tiendas de antigüedades
en la zona lindera al Mercado en cuestión;
muchos de ellos en forma asociada entre
varios participantes o ex participantes.
Con respecto al otro sector o grupo
de población de esta primera distinción,
es decir, el sector que comprende a los
productores de objetos o artesanos, allí
es posible visualizar otro tipo de proceso
de conquista de ciudadanía propiciado
por esta inclusión en el sistema de ferias
en tanto destaque de la política cultural
hacia el sector.
Este grupo presenta otra comple-
jidad que se desprende justamente del
hecho de ser una población que por su
tipo de oficio de producción de objetos
utilitarios o decorativos de modo artesa-
nal y manual, si pertenece o tiene una
vinculación previa y directa con el
mundo de la cultura. Los artesanos en
general representan un gran aspecto de
la cultura y de la vida cultural de una
ciudad, de una nación.
Claro que esta representación de
la cultura que constituyen, ha ido
variando, creciendo y modificándose al
calor de los debates y conceptualizacio-
nes en torno a la cuestión del “patrimo-
nio cultural” y de la identidad cultural
que reviste el tema artesanal. En ese
sentido es preciso advertir que dicho
debate ha cambiado desde una concep-
ción patrimonial / tradicionalista hacia
una visión que en la actualidad admite y
promueve la artesanía urbana y con-
temporánea pasando así de la visión
tradicionalista a una versión culturalista,
que es la que mayoritariamente encon-
tramos en el presente de la cuestión.
No obstante y en lo que aquí nos
interesa, a los fines de poder precisar
la peculiaridad de la ciudadanía cultu-
ral en juego en el caso de este sector,
nos referiremos a los artesanos que
participan de las ferias culturales regu-
ladas por la Secretaría de Cultura, ya
que existen efectivamente (como es
muy prototípico del sector) muchos
artesanos que no participan de ferias y
otros que pululan con sus produccio-
nes de modo nómade y variado en
distintos espacio públicos y concurri-
dos de la ciudad.
Como ya dijimos en apartados
anteriores, en la ciudad de Rosario, el
estallido de la actividad ferial, incluida la
artesanal, va producirse después del
2001, el cual deberemos brevemente
repasar para introducirnos con mayor
rigor en la cuestión a plantear aquí.
Desde el punto de vista normativo
hasta el año 2000, solo existían en la
ciudad dos ordenanzas municipales del
año 1985 y 1994, que legalizaban y
respaldaban las actividades del Mercado
de Pulgas del Bajo y de la Feria de Verano
de “La Florida”, respectivamente. A partir
del nuevo milenio y al compás del estallido
ferial, van a producirse entre el 2000 y el
2003 – de forma desordenada y super-
puesta - no menos de cinco nuevas
normativas (ordenanzas) para las diferen-
tes ferias que surgieron en ese periodo,
como primer medida “protectora” de
respaldo y legitimación de su actividad.
Por su parte, desde el Estado local
recién en el año 2004 se va a crear un
área específica de ferias que permanece-
rá a cargo de la Dirección de Descentrali-
zación Cultural de la Secretaría, hasta el
año 2008. Hacia fines de ese año y en el
marco del recambio de autoridades loca-
les (aunque del mismo signo político, que
gobierna la ciudad desde la década de los
90) el área de ferias va a pasar a formar
parte directamente de la Subsecretaria de
Cultura y Educación; proceso que aceleró
entre otras cosas, nuestra inclusión en la
coordinación del área, que data desde el
primer día del año 2009.
De los casi tres años que llevamos
de trabajo en el área y en referencia espe-
cífica a la cuestión del tipo ciudadanía
conquistada por el sector artesanal involu-
crado con las ferias culturales, vamos a
destacar aquí principalmente al proceso
mediante el cual fue sancionada en el año
2010, una nueva normativa de regulación
de ferias artesanales en la ciudad de
Rosario, a partir de la cual se reorganizará
y reordenará todo el funcionamiento del
sistema de ferias en cuestión.
Entre los antecedentes principales
o determinantes para el surgimiento de un
nuevo marco legal regulatorio de ferias
artesanales/culturales en la ciudad pode-
mos citar a:
1. La obsolescencia de las normati-
vas anteriores en relación a la superpo-
sición de ideas y conceptos contenidos
en las mismas como así también en rela-
ción a los cambios e innovaciones acae-
cidas en los procedimientos y técnicas
artesanales.
2. El incremento del mercado infor-
mal, venta ambulante y reventa de peque-
ños objetos industrializados e importados
(creciente y masiva importación de
productos Made in China) en los predios
feriales, lo que es vivido en el sector como
una gran amenaza a su labor.
3. El crecimiento de la participación
(política) del sector artesanal en el diseño
de las políticas dirigidas al mismo.
Estos tres puntos citados aquí
fueron los que efectivamente colaboraron
36
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
para el proceso de creación de la orde-
nanza municipal nº 8682 que se inició en
el año 2009 y consiguió su sanción en el
mes de noviembre de 2010.
Dicha normativa en adelante será
de aplicación a todas las ferias de arte-
sanías, manualidades y arte popular que
dependen de la Secretaría de Cultura y
Educación.
Con respecto al espíritu de la
misma y en virtud de los antecedentes
que citamos aquí podemos decir que su
aparición tuvo que ver con llenar un
vacío legal respecto a dos aspectos cen-
trales: en primer término con relación a
la propia definición de artesanías y arte-
sanos, y en segundo lugar estipulando
derechos y obligaciones de los actores
involucrados (Estado Local en sus dife-
rentes reparticiones y artesanos perte-
necientes al sistema de ferias artesana-
les). Asimismo otro de sus aportes fun-
damentales fue la ampliación de la
plataforma de participación política del
sector artesanal, mediante el estableci-
miento de una Mesa de Interferias.
Es para destacar, que dicho pro-
cedimiento fue impulsado en la misma
proporción por el HCM (Honorable Con-
cejo Municipal) y los actores directa-
mente involucrados, es decir, por los
artesanos feriantes y por el área de
ferias de la Secretaría de Cultura y
Educación en el marco de la elabora-
ción en conjunto de una nueva estrate-
gia de regulación de la actividad artesa-
nal de las ferias pertenecientes a la
Secretaría de Cultura y Educación del
municipio acorde a las necesidades y
problemas del presente.
Asimismo, ese activismo propul-
sado por todos los actores involucra-
dos en función de sus intereses en
juego, en el caso de los artesanos pro-
movió el surgimiento de un proceso de
participación técnica y política inédito
hasta ese momento.
Dicho proceso como ya adelanta-
mos en los párrafos precedentes, derivó
en la creación (mediante el Art.° 4 de la
8682/ 2010) de un nuevo órgano delibe-
rativo y con algunas facultades ejecuti-
vas que en adelante acompañará la coor-
dinación de ferias llamado Mesa de Inter-
ferias, la cual está integrada por un (1)
delegado de cada feria artesanal, dos (2)
representantes de la Secretaría de Cultu-
ra y Educación y dos (2) representantes
del Concejo Municipal de Rosario.
El funcionamiento de dicha Mesa
de Interferias comenzó días después de
la sanción de la ordenanza, con una
participación del cien por ciento de las
ferias involucradas que son un total de
ocho, las cuales debieron de escoger un
representante de cada una para integrar
dicho espacio. Entre las principales
acciones ejecutadas desde allí y hasta
el momento, contamos con la propia
elaboración y aprobación del Anexo I de
la nueva ordenanza y/o reglamento de
definiciones y fiscalización de arte-
sanías de la ciudad de Rosari
22
, más la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada una de las
ferias participantes.
Así, la institucionalización o
formalización de la participación de los
artesanos en los espacios de toma de
decisiones mediante su integración a
esta Mesa, sumado al tipo de debates
sostenidos allí que como vimos, han ido
desde la propia conceptualización de lo
que define al sector , es decir de “arte-
sanía” y todos sus derivados, hasta la
aprobación de los estatutos de funcio-
namiento internos de cada feria en aco-
gidos a partir de ahora a la nueva nor-
mativa, propició un tipo de ejercicio de
ciudadanía especial y como vimos inédi-
to para el sector en cuestión.
En efecto si pensamos a la Mesa
de Interferias en términos políticos, pode-
mos observar no sólo un proceso de
democratización del Estado en virtud de
la incorporación inminente de los actores
directamente involucrados al diseño de
las políticas dirigidas al sector, sino tam-
bién es posible visualizar allí, el creci-
miento precisamente político que ha
tenido el sector artesanal a partir de la
institucionalización de este espacio al
interior del Estado.
Decididamente, el tipo de ciuda-
danía cultural conquistada por el sector
artesanal incluido en las ferias “Muy
Rosarinas” tiene que ver con este proce-
so de ampliación en términos políticos
de su quehacer (artesanal), el cual fue
activado por esta incorporación a los
espacios consultivos y decisorios acerca
de la cuestión, que funcionan al interior
del Estado. En ese sentido es que
vemos a la Mesa de Interferias como
una plataforma de construcción política
y de ciudadanía cultural muy rica.
Por último, cabe no menos que
plantear aquí en relación a estas dos
formas de empoderamiento vía la participa-
ción en proyectos culturales y desde luego
comerciales que vimos, la pregunta en
relación a si las practicas político culturales
habilitadas a partir de estos procesos van
en sentido de la democratización social o si
en su defecto, tienden a reproducir esque-
mas de fragmentación y parcelación social.
En ese sentido y en el marco de
esta auspiciosa democratización del
Estado que transitamos, esta pregunta
es la que definitivamente colabora en la
organización de nuestra tarea en vistas
a la multiplicación y preservación de
dicha democratización en curso.
A MODO DE CONCLUSIÓN: LA PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS CULTURALES COMO
RECURSO POLÍTICO. LA EXPERIENCIA
DE UN TALLER SINGULAR DE PRODUC-
CIÓN DE OBJETOS ARTESANALES
En el apartado anterior, al tratar
específicamente el tema del tipo de ciuda-
danía cultural propiciada por los procesos
de inclusión en las ferias culturales del
sector artesanal en la ciudad de Rosario,
hicimos especial hincapié en el proceso
de participación de dicho sector en la
construcción de una nueva ley que proteja
y regule la actividad artesanal y ferial.
No obstante y para poder concluir
este trabajo, queremos incluir otro aspec-
to que mencionamos al pasar pero que sin
duda es decisorio para el goce de dere-
chos y ciudadanía cultural.
Nos referimos aquí a la propia
producción de objetos culturales como
momento fundamental para el acceso, la
permanencia y el ejercicio de ciudada-
nía cultural y en ese sentido, como
recurso político.
Para tratar este asunto, vamos a
desplazar el foco del sector artesanal del
que venimos hablando, en tanto sector
consolidado en torno a esta idea de
productores culturales, hacia otra expe-
riencia singular y acotada de producción
de objetos culturales y bellos llevada ade-
lante junto a un grupo de personas inter-
nadas en una Colonia Psiquiátrica; la cual
da cuenta del proceso de elección o inicia-
ción en la actividad artesanal en tanto
opción real para moverse o salirse de los
márgenes, es decir, para transformar la
condición de marginalidad.
El proyecto “POPI” (acrónimo de
producción de objetos para el intercambio)
fue un proyecto de taller grupal de produc-
ción artesanal de objetos bellos para
vender e intercambiar en el mercado y
funcionó dentro del Área Cultural de una
institución estatal de la Provincia de Santa
Fe, la Colonia Psiquiátrica de Oliveros,
entre el año 2003 y el 2008 con aproxima-
damente un grupo de diez (10) personas
allí internadas. Entre sus principales objeti-
vos se destacan en primer lugar el intento
de auspiciar una inserción social y cultural
productiva de los participantes (pacientes
del hospital) y en segundo lugar, la promo-
ción de una validación social diferente de
los mismos a través de la construcción de
una estética propia y singular capaz de
poner en juego las capacidades creativas,
afectivas, relacionales y competitivas en
detrimento de la discapacidades con que
son fuertemente nominados los pacientes
psiquiátricos llamados “locos”.
Durante su desarrollo, y sin dudas
en el marco de esta expansión de la cultu-
ra de la que venimos hablando a lo largo
de este trabajo, esta experiencia conquis-
tó un insospechado lugar dentro del
mundo de la moda y el diseño locales,
incluyéndose a través de la comercializa-
ción y exhibición de sus productos en
importantes tiendas, ferias y los principa-
les museos de arte contemporáneo de la
región así como también en revistas
específica
23
. En el 2005, obtuvo el primer
premio en el LVII Salón Nacional de
Diseño Contemporáneo La Capital, reali-
zado en la ciudad de Rosario.
Entre los principales objetos pro-
ducidos, existieron cuadernos de diferen-
tes tamaños, camisetas con dibujos e
inscripciones en alusión a la locura
24
,
zapatillas pintadas y bordadas, monede-
ros y carteras. El talante principal de esta
línea de productos, es la huella humana
constitutiva de los objetos en cuestión; la
seriación (en tanto condición primaria de
la industrialización) “imposible”: zapati-
llas bordadas con botones antiguos, cua-
dernos de tapas pintadas con brochas y
desalineados, fueron consumidos (y
elogiados o piropeados) activamente por
un público heterogéneo.
En este sentido, vale decir aquí que
este proyecto surgió inspirado, simpati-
zando y dialogando teórico-prácticamente
con diversas experiencias de transforma-
ción institucionales, principalmente “anti-
manicomiales” tales como - y para citar
solo algunas - las sucedidas en Italia a
fines de los años 70 (Empresa Social)
pero también con experiencias que tras-
cienden el ámbito de la Salud y la Salud
Mental y se desarrollan en el corazón
mismo del mundo de los “asistidos” tales
como “ COPA- ROCA” RJ, Brasil.)
25
y
“ELOISA CARTONERA” (Bs. As.,
Argentina)
26
. Esta dos últimas, ligadas a la
producción de marcas/ cooperativas, esté-
ticas diferentes, una de producción textil
en una Favela (conocida como Rocinha)
en la ciudad de Río de Janeiro y la otra,
una experiencia editorial y de producción
de libros con cartoneros en Villa Fiorito,
Capital Federal, liderada por un grupo de
artistas y escritores contemporáneos.
Definitivamente, el dialogo se ha
establecido sobre todo, con aquellas
experiencias que vigorosamente se
caracterizan por un acotamiento y recon-
versión de la identidad de “feos, sucios y
malos” y/o marginales de sus protagonis-
tas, a partir de la producción para el con-
sumo de bienes culturales.
Al respecto, ELOISA CARTONE-
RA, marca editorial con la cuál circulan
entre los más variados consumidores,
libros hechos en forma artesanal y
manual de fotocopias y cartones provis-
tos por cartoneros; es una experiencia
que nació a comienzos del 2003, al
calor de las “asambleas barriales”, mo-
vimientos sociales y otras formaciones
que se vieron y dieron en el país como
vimos, pos 2001.
Volviendo entonces a la experien-
cia POPI, es posible asegurar que la
misma tuvo por cometido intentar decons-
truir parte de los efectos patológicos,
segregatorios y de exclusión que produ-
cen las instituciones psiquiátricas “totales”
sobre la población que allí se “aloja” y/o es
asistida, a partir de su invitación a producir
artesanalmente objetos bellos y útiles para
luego comercializarlos en el mercado.
Al respecto los objetos allí producidos
circularon y todavía circulan bajo esta deno-
minación común POPI, la que se constituyó
en término indispensable para la inversión
de la condición de marginalidad originaria
(pacientes internos de un hospital psiquiátri-
co público) ya que permitió el surgimiento y
formación de un nuevo cuerpo social y
colectivo a través de esa firma o marca.
Formación entonces de un nuevo cuerpo y
firma que pareciera operar como palimpses-
to de los sujetos protagonistas de la expe
-
riencia, quienes quedarían levemente por
detrás, o sutilmente puestos entre paréntesis
por el nuevo cuerpo firmante.
Esta idea de poner entre paréntesis,
desarrollada por Franco Basaglia
27
a propó-
sito de las experiencias de desmanicomiali-
zación en Italia, es otra manera de pensar
sobre las tácticas políticas instrumentadas
en los procesos de transformación de ciertas
realidades sociales. En este sentido, poner
entre paréntesis, no significa cristalizar o
aislar, sino acotar, limitar, historizar. En defi-
nitiva, abrir y cerrar un espacio, para conti-
nuar reformulando otros posibles, incluso
trazando nuevos paréntesis. Por último,
también apuntará Basaglia
28
, la idea de
poner entre paréntesis no invalida el hecho
de que el cuerpo del sujeto protagonista, se
vea transformado por su participación en
este nuevo cuerpo político.
Por último y en relación a los “efec-
tos” de ésta experiencia es posible plan-
tear al menos dos instancias diferentes.
En primer lugar, en relación al
conjunto social, “feliz” e intencionada-
mente este proyecto consiguió inscribir-
se activamente en el mundo del arte y
de la cultura a través de la difusión y
circulación de los objetos producidos
allí. Dicha "inscripción" posibilitó, entre
muchas otras cosas, que el grupo de
pacientes participantes "consiga" un
lugar social de reconocimiento público
como autores / productores de objetos
de diseño contemporáneo, atenuando
su visibilidad y presencia en tanto “pa-
cientes psiquiátricos” o simplemente
poniéndola por momentos entre parén-
tesis, tal como referimos recientemente.
Esta conquista nos reenvía directa-
mente a seguir pensando en torno a al tipo
de actividad que permite ese pasaje de la
condición de excluidos a la condición de –
no diría incluidos- pero sí de productores o
productivos. Definitivamente la incursión
u elección de la práctica artística y artesa-
nal ha colaborado profundamente en el
tránsito de una condición a otra so pena
de que dicho pasaje sea provisorio, frágil,
móvil e intermitente.
Como sea que podamos nombrar
este proceso, vislumbramos que el goce
de dichos derechos recoloca a los pro-
tagonistas de estas experiencias en una
nueva posición desde la cual ofrecer
sus producciones y participar en el
intercambio social más general. Dicho
de otro modo, intuimos que es posible
ubicar o señalar la potencia política del
hacer cultural en este tipo de experien-
cias que sirviéndose de la practica
plenamente artística y artesanal logran
visibilizar sus realidades opacadas y
opacas a la vez que restituyen a sus
protagonistas el derecho a la participa-
ción social y económica activa mediati-
zada por un juicio estético positivo de
sus producciones, perturbando la
mirada despectiva, caritativa e infantili-
zante de la que son objeto los pacientes
psiquiátricos.
En segundo lugar, sin embargo,
puertas adentro de la institución de per-
tenencia, el mismo grupo de pacientes /
participantes no ha podido conquistar
muchas otras "nuevas" formas de reco-
nocimiento, en el sentido de (y en el
marco del) discurso de la psiquiatría,
predominante en la estructuración de las
prestaciones de dicha institución. Y si
bien no es este el tema principal de estas
reflexiones, siempre es bueno saber que
hay ciertos poderes que ni la más amplia
de las extensiones culturales consigue
derribar o al menos asediar.
No obstante este límite encontrado
hacia adentro de una institución toda
organizada en torno al saber médico-
psiquiátrico hegemónico, debiera servir-
nos para profundizar aún más, una mirada
crítica en torno a la idea de la cultura
como recurso. En otras palabras, cabe
aquí preguntarnos acerca de qué tipo de
poder ejerce la cultura en la reconstruc-
ción de la comunidad.
Para concluir, quiero citar un
extracto de un texto maravilloso del año
71 de Clarice Lispector
29
, titulado “Conver-
sación medio en serio con Tom Jobim (III)”
- Gauguin, que no es mi preferido,
dijo una cosa que no se debe olvidar, por
más dolor que nos provoque. Es lo siguien-
te: “Cuando su mano derecha sea hábil,
pinte con la izquierda, cuando la izquierda
se ponga hábil, pinte con los pies”. Res-
ponde esto a tu terror del savoir- faire?
- Para mí la habilidad es muy útil
pero en última instancia la habilidad es
inútil. Solo la creación satisface. Verdad
o mentira, prefiero una forma defectuo-
sa que exprese a una forma hábil que
no exprese.
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Documentos
Ordenanzas N°:
5.377/ 1992. Creación de Feria de textos usados
Plaza Sarmiento
3.845/1985. Creación del “Mercado de Pulgas del Bajo”
las ferias de artesanías, manualidades y
arte popular que se componen de ocho (8)
ferias en total, y por el otro, ferias cultura-
les de exposición y venta de objetos
usados y/o antigüedades, integradas por
tres (3) ferias de esta tipología.
Esta forma de agrupamiento
corresponde tanto para distinguir el tipo
de objetos que se ofrecen en cada una
de ellas, como así también para pensar
en relación al tipo de sujetos o población
que compone un grupo u otro de ferias;
es decir, una de las diferencias principa-
les entre estos dos grupos es que las
ferias de artesanías, manualidades y arte
popular se conforman por un tipo de
población “productora” más ligada a la
tradición de los oficios y las actividades
artesanales y manuales; y las segundas,
las ferias de objetos usados y/ antigüeda-
des, de una población más cercana a la
tradición comerciante, de nulo o escaso
nivel de participación en la confección de
los productos que ofrecen.
Dicha diferencia, imprime caracte-
rísticas particulares al funcionamiento de
cada una de ellas, las cuales veremos
con más detenimiento al analizar el tipo
de pasaporte o ciudadanía cultural produ-
cido en cada caso.
Por otra parte cabe decir aquí, que
una de las peculiaridades destacables de
estos proyectos y que en parte explica su
actual vinculación a esta institución, es
que los mismos contienen una dimensión
“estética” que como vimos, fue concebida
desde la Institución o Secretaría de Cultu-
ra en torno al concepto general de recicla-
do tanto sea en relación a los objetos, a
los espacios inutilizados como a los
oficios y tradiciones que practican sujetos
y dan derecho a la inclusión en este tipo
de ferias. Asimismo, dicha particularidad,
lejos de restringir la participación social, la
ha ampliado y/o diversificado, en el senti-
do de que ha permitido la incorporación
tanto sea de sectores enmarcados en la
tradición de oficios y/o artesanos, así
como también de otros sectores poblacio-
nales tradicionalmente no vinculados a
prácticas necesariamente culturales.
Si asumimos que los artesanos son
en cierta forma productores culturales y
las artesanías producciones culturales, es
decir que son actores y piezas claves y
partícipes de los procesos propiamente
culturales, veremos cómo la inclusión de
otros sectores no provenientes del campo
inmediato de la cultura, nos plantea otro
tipo de complejidad en relación a la tarea
de coordinación de los predios feriales
culturales por parte de esta institución.
Esta nueva complejidad va a estar
caracterizada por los vaivenes de esta
ampliación del propio “expediente” cultu-
ral en curso (como bien apunta Yúdice) y
a su vez, por el tipo de trabajo diferente o
específico que va a plantearse en relación
a la coordinación de cada uno de estos
tipos de espacios feriales.
Desde otro punto de vista y en el
marco entonces de esta complejidad que
reviste nuestra tarea, podemos trazar una
segunda gran diferencia al interior del
grupo de estas once ferias, la cual se perfi-
la en torno a los diversos orígenes o naci-
mientos de cada una de las ferias y al modo
en que los mismos, se actualizan y actúan
en su devenir. En este caso entonces, a
esta diferencia vamos a situarla por encima
del tipo de población que congregan, es
decir, más allá del tipo de tradición u oficio
común que reúne a sus participantes.
Nos estamos refiriendo aquí al
hecho de que contamos en nuestro haber
con dos tipos de historias o formas de
surgimiento de ferias, de las cuales hasta
ahora hemos visto fundamentalmente a
las fundadas o creadas desde el Estado.
7.102/2000. Creación de Feria Cultural
“Parque Alem”
7.427/ 2002. Creación de Feria del Bulevar
7.500/ 2003. Creación de la Feria Artesanal de la
Plaza Montenegro
8.682 / 2010. Regulación del funcionamiento de
las Ferias Artesanales
Decretos N°
864/ 2002 Creación del Mercado Retro La Huella
1.823/ 2002. Creación de Feria El Roperito
1.774/ 2002. Creación de la Feria Cultural
Parque Norte
22.735/ 2003. Creación de la Feria Cultural
“Paños al Piso”
Documentos electrónicos
ELOISA CARTONERA. Cooperativa editorial
latinoamericana. Disponible En:
<http://www.eloisacartonera.com.ar/historia.html>
PRIMAVERA ROSARINA por VARSAVSKY,
Julián. En Suplemento Turismo del diario Página
12, de fecha 10 de octubre de 2011. Disponible En:
<http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/t
urismo/9-2168-2011-10-09.html>
Experiencia COPA ROCA. Disponible En: blog
<http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/di
seos-que-subyugan-en-las-pasarelas.htm>
1
Licenciada en Trabajo Social por la Universidad
Nacional de Rosario, Argentina y Artista Plástica.
Maestranda de la Maestría en estudios Culturales del
Centro de Estudios Interdisciplinarios de la Universidad
Nacional de Rosario.
2
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de
la Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A.
Barcelona, 2002.
3
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Barcelona, Editorial Gedisa S.A. 2002.
4
Op.Cit. Pág. 23
5
GARCÍA CANCLINI, Néstor, La sociedad sin relato:
Antropología y estética de la inminencia; Madrid, Katz
Editores 2010.
6
CORIAT, Benjamin, El taller y el cronómetro. Ensayo
sobre El Taylorismo, El Fordismo y la producción en
masa. Madrid, Ed. Siglo XXI, 1993.
7
YÚDICE, George, El recurso de la cultura. Usos de la
Cultura en la era global; Editorial Gedisa S.A. Barcelona,
2002. Pág. 25.
8
Op. Cit. Pág. 27.
9
Mercado de Pulgas del Bajo y Ferias de Libros
usados Plaza Sarmiento, son los nombres propios y
también de fantasía de las ferias más antiguas de la
ciudad de Rosario.
10
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires 2002.
11
VARSAVSKY, Julián, Primavera rosarina en
Suplemento Turismo del diario Página 12, de fecha
10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo/
9-2168-2011-10-09.html
12
En referencia al día domingo 10 de octubre de 2011.
13
El barrio “Pichincha” fue básicamente una zona
prostibularia y de intenso transito y recepción de
inmigrantes, en contacto directo con la actividad portuaria y
ferroviaria principal en la época, por lo cual concentra un
conglomerado arquitectónico muy rico y diverso a la vez
que un sinfín de historias míticas que operan como grandes
narrativas identitarias de la bohemia de esta ciudad; en
efecto el desarrollo de Rosario en esa época y en esa zona,
hizo que esta ciudad fuese apodada “La Chicago argenti-
na” en honor a los “ mafiosos” italianos, españoles y criollos
que lideraban redes de trafico y trata de personas. Lo que
nos interesa destacar principalmente aquí no es la cuestión
historiográfica, sino la cuestión mítica fundante que opera
hasta la actualidad en la memoria colectiva de Rosario.
14
Fragmento de entrevista realizada a Marcelo Romeu,
ex Secretario de Cultura de la Municipalidad de Rosario
periodo 1998/ 2003, actual Secretario General del Minis-
terio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa
Fe, Rosario, septiembre de 2011.
15
Op. Cit.
16
Fragmento de entrevista realizada al artista plástico
Dante Taparelli en VARSAVSKY, JULIÁN Primavera
rosarina en Suplemento Turismo del diario Página 12,
de fecha 10 de octubre de 2011, disponible en
http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/turismo
/9-2168-2011-10-09.html
17
BLEICHMAR, Silvia, Dolor País, Libros del Zorzal,
Buenos Aires, 2002. P. 77.
18
Op. Cit. Pág. 10
19
APPADURAI, Arjun, La vida social de las cosas
citado por CARDINI, Laura, La puesta en valor de las
artesanías en Rosario: Pistas sobre su “aparición”
patrimonial. Cuadernos de antropología social N° 21,
La Plata, 2005. P. 17
20
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, agosto de 2011.
21
Fragmento de entrevista realizada a participante de la
feria El Roperito, Rosario, septiembre de 2011.
22
Cabe destacar que hasta la creación de dicho
reglamento en adelante propio, en la ciudad de Rosa-
rio nos manejábamos con reglamentos elaborados en
otras ciudades y/o países, en los que se definían con
precisión las artesanías así como los rubros que
estas organizan.
23
Entre ellas Tienda Puro Diseño en pleno corazón
de Recoleta y Palermo, y Museos de Arte Contempo-
ráneo Rosario y MALBA de Buenos Aires; revista Elle
y revista Barzón.
24
La frase privilegiada, atribuida al músico Caetano
Veloso es “de cerca nadie es normal”.
25
Para más información:
http://teresa-diversidad.blogspot.com/2007/08/diseos-
que-subyugan-en-las-pasarelas.html
26
Para más información visitar el sitio:
www.eloisacartonera.com
27
BASAGLIA Franco, Escritos Selecionados em saude
mental e reforma psiquiátrica. Org.: AMARANTE, Gara-
mond, Rio de Janeiro, 2005. P. 126
28
Op. Cit. P.128
29
LISPECTOR Clarice, Revelación de un mundo, Adria-
na Hidalgo Editora, Buenos Aires 2005
Contato:
María Virginia Massau
virginiamasau@gmail.com
37
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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6
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7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
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2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
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(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
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26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas
-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu
-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Economia criativa: análise setorial
Economía creativa: análisis sectorial
Creative economy: sectorial analysis
Fábio Fonseca
2
Drª Alessandra Meleiro
1
A economia criativa tem sido compreendida como uma potencial
alavanca para o desenvolvimento de muitas nações, sendo que mais
de 60 países já realizam procedimentos sistemáticos de mapeamento
do seu setor criativo. Em estágio mais amadurecido encontram-se os
países desenvolvidos, notadamente os Estados Unidos, as principais
economias européias – com destaque para o Reino Unido - e a Austrá-
lia. Porém, mesmo estes ainda vislumbram as perspectivas de expan-
são do setor, inserindo o tema estrategicamente com papel de desta-
que em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desenvolvimento conseguem ter participa-
ções expressivas em áreas específicas. Porém há um vasto território
inexplorado de possibilidades, que devem ser objeto de políticas públi-
cas, concebidas e implementadas num ambiente de cooperação inter-
nacional, especialmente a chamada Cooperação Sul-Sul.
Resumo:
Palavras chave:
Economia criativa
Cadeias produtivas
Cidades criativas
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
38
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas
-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu
-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
La economía creativa ha sido comprendida como una potencial herra-
mienta para el desarrollo de muchas naciones, por lo que más de 60
países ya han realizado procedimientos sistemáticos de investigación
de su sector creativo. En procesos más avanzados se encuentran los
países desarrollados, especialmente Estados Unidos, las principales
economías europeas – con destaque para Reino Unido – y Australia.
Sin embargo, estos países también siguen buscando nuevas perspec-
tivas de expansión del sector, incluyendo el tema estratégicamente
con detaque en sus agendas económicas.
Los países emergentes y en desarrollo tienen participaciones significa-
tivas en áreas específicas. Pero todavía hay un amplio territorio
inexplorado de posibilidades que deben ser objeto de políticas públi-
cas, formuladas e implementadas en un ambiente de cooperación
internacional, especialmente en la llamada Cooperación Sur-Sur.
Creative economy has been understood as a potential trigger for the
development of many nations as more than 60 countries have already
implemented systematic mapping of their creative sector. Some coun-
tries are already in a more developed stage. The USA, Australia and
the main economies in the European community are part of this group,
mainly the UK. However, even those countries can foresee some
possibilities of growth by including the topic strategically and as a
priority in their agendas.
Emerging and developing countries can have an expressive participa-
tion in specific areas, although there is a wide range of possibilities
remain unexploited. They should be the target of political action,
conceived and implemented with international cooperation; like the
so-called South-South Cooperation (Cooperação Sul-Sul).
Palabras clave:
Key words:
Resumen:
Abstract:
Economía creativa
Cadenas productivas
Ciudades creativas
Creative economy
Productive chains
Creative cities
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
39
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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UNCTAD Secretariat, com contribuição de Jagua-
ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra
-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Economia Criativa: análise setorial
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
40
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream
utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Participação dos Setores Culturais e Criativos nos PIBs de Países Europeus selecionados
Fonte: Eurostat e Amadeus - The Economy of Culture in Europe, Comissão Européia (2006)
41
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
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o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
42
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas
-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu
-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Edifícios Icônicos – Reino Unido
Woodend Creative Workspace - Scarborough Region / UK
The Yorkshire Artspace - Sheffield / UK
Showroom Cinema - Sheffield / UK
43
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta
-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces
-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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UNCTAD Secretariat, com contribuição de Jagua-
ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
OCDE – Estimativas de Emprego Cultural em Algumas Cidades
Centro Comercial Campanário - Popayan,
Colômbia: Integrante da rede Cidades Criati-
vas, a cidade se redescobre pela gastronomia
Fonte: OCDE – International Measurement of the Economic and Social Importance of Culture
Cidade
Ano de
referência
População
(milhões)
População da cidade
em relação à população
nacional (%)
Emprego na
cidade na área de
cultura (x1000)
Participação da cidade
no emprego na área
cultural nacional(%)
Londres 2002
2003
2002
2003
7371
2371
8107
11130
12,4
7,4
2,8
18,5
525
98
309
113
23,8
16,4
8,9
45,4
Montreal
Nova York
Paris
44
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra
-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Rede Cidades Criativas
Fonte: UNESCO
[http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php-URL_ID=36799&URL_DO=D
O_TOPIC&URL_SECTION=201.html]
Categoria Cidade País
Literatura
Cinema
Arte Mídia
Gastronomia
Música
Artesanato
e Folclore
Design
Edimburgo
Iowa City
Melbourne
Dublin
Bradford
Bolonha
Ghent
Glasgow
Sevilha
Aswan
Kanazawa
Santa Fé
Icheon
Berlin
Buenos Aires
Kobe
Montreal
Nagoya
Shenzhen
Seul
Shagai
Lyon
Popayan
Chengdu
Östersund
Reino Unido
Estados Unidos
Austrália
Irlanda
Reino Unido
Itália
Bélgica
Reino Unido
Espanha
Egito
Japão
Estados Unidos
Coréia
Alemanha
Argentina
Japão
Canadá
Japão
China
Coréia
China
França
Colômbia
China
Suécia
45
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
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o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
46
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi
-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus
-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
47
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech
-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che
-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
48
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
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2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
50
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
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[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
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16
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2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
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Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
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Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
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Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
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26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
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27
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28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
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29
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30
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31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi
-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
51
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL
-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
52
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
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– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
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ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
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Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Modelo dos Círculos Concêntricos
53
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Sistemas de classificação para as Indústrias Criativas derivadas de diferentes modelos
Fonte: UNCTAD (2088) The Creative Economy Report (página 13)
54
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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3
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[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
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ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
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28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
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[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
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29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
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30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
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[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
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33
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[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
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43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte
-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Indústrias Criativas - Modelo UNCTAD
55
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas
-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu
-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
57
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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1
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2
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3
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4
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
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5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
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o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
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27
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ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
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29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
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Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Fonte: Prestes Filho (2004) - Ilustração disponível em: [http://www.barrosmelo.edu.br/blogs/fonograma/wp-content/uploads/2008/03/cadeia-02.jpg]
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
58
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Fonte: Prestes Filho (2004) - Ilustração disponível em: [http://www.barrosmelo.edu.br/blogs/fonograma/wp-content/uploads/2008/03/cadeia-02.jpg]
59
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
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(Istanbul, 2007)
[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
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33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Fonte: Prestes Filho (2004) - Ilustração disponível em: [http://www.barrosmelo.edu.br/blogs/fonograma/wp-content/uploads/2008/03/cadeia-02.jpg]
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
60
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Música: Market Share dos Formatos de Mídia
Fonte: ABPD - Relatório 2009
Formato da Mídia Participação no Mercado
(%)
CD (Áudio)
DVD + Blu-Ray
Digital
60
28,1
11,9
Evolução do consumo de Música por Mídias
Audiovisuais
Fonte: ABPD - Relatório 2009
Formato
ANO
Vendas Totais
de DVDs (R$)
Vendas Totais
de DVDs
2008
2009
Variação 08/09
5,2 milhões
5,4 milhões
+3,98%
96.160 milhões
100.603 milhões
+4,62%
Evolução 2008/2009: Vendas Totais de CDs
Fonte: ABPD - Relatório 2009
ANO
Vendas Totais
(R$)
Unidades
Totais
2008
2009
Variação 08/09
22,4 milhões
20,3 milhões
-9,32%
216.106milhões
215.051 milhões
-0,49%
Evolução 2008/2009: MarketShare das Mídias
Digitais
Fonte: ABPD - Relatório 2009
Canal - ANO Internet Telefonia Móvel
2008
2009
Variação 08/09
78%
41,3%
-47%
22%
58,7%
+159%
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
Bibliografia e Referências estatísticas
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Criativas: Uma Primeira Aproximação Para o
Estado da Bahia. 2005. Disponível IN:
<http://www.mesteco.ufba.br/scripts/arquivos/
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1
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2
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3
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4
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- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
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5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
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27
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ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
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Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
61
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis
-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Música: Origem do Conteúdo - 2009
Fonte: ABPD - Relatório 2009
Conteúdo
CDs (%) DVDs (%)
Nacional
Internacional
Clássica
Total
64,9
29,6
5,5
100
66,4
30,8
2,8
100
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
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5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
62
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
MarketShare da Distribuição de Filmes no Brasil
Fonte: BNDES - A Economia da Cultura, O BNDES e o
Desenvolvimento Sustentável
Origem das Produções Majors Independentes
Todos os Filmes
Filmes Nacionais
21%
34%
79%
66%
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
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48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
63
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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7
General Agreement on Tariffs and Trade
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para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
64
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Livro: Distribuição Percentual do Preço de
Capa no Brasil
%
Direitos Autorais
Custos Editorias e Manufatureiros
Lucro da Editora
Distribuidor
Livreiro
10
25
15
10
40
100Total
Fonte: Entrevistas, visto em Sá Earp (2005)
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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Estado do Rio de Janeiro. A Cadeia da Indústria
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1
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2
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3
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4
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5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
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[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
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27
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ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
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29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
65
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Economias de Escala na Edição e Impressão
de Livros (em R$)
Nº de
Exemplares
Custo Médio Custo da
Impressão
600
1000
2000
5000
10000
18,00
10,00
7,00
4,00
2,50
2,70
2,10
1,40
Fonte: Entrevistas de Reichmann e Campana, visto em Sá Earp (2005)
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
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5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
66
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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1
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2
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3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
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[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
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33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
67
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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5
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6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
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Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
68
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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1
Universidade Federal Fluminense
2
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3
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[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
69
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
(Istanbul, 2007)
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/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
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Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
70
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
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opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
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Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
71
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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6
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7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
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3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
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26
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da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
72
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
1.4 AMÉRICA LATINA
A economia criativa na América
Latina vem conquistando espaço dentro das
suas políticas públicas, dada a crescente
compreensão de seu potencial para o
desenvolvimento econômico e social. Enti-
dades como o Convênio Andrés Bello, a
Organização dos Estados Americanos
(OEA), a Organização dos Estados Ibero--
americanos para a Educação, a Ciência e a
Cultura (OEI), o Centro Regional para a
Promoção de Livros na América Latina e no
Caribe (CERLALC), o PNUD, a UNESCO e
a UNCTAD desenvolvem uma série de estu-
dos visando subsidiar programas públicos
de desenvolvimento desta economia. Alguns
desses estudos mostram que gradualmente
vem crescendo a oferta de dados estatísti-
cos do segmento na região, como conse-
qüência de uma maior determinação política
dos governos em promover iniciativas no
setor. As economias mais desenvolvidas,
como Brasil, Argentina, México, Colômbia e
Chile, têm concentrado os maiores esforços
nos últimos anos, o que vem pouco a pouco
se espalhando para os países vizinhos.
A Argentina tem protagonizado um
grande incremento de sua indústria do
cinema e audiovisual, onde também se inclui
a produção publicitária, adotando uma estra-
tégia que tem se mostrado vitoriosa, que
contempla o fomento da produção nacional a
partir de uma taxa para exibição de produ-
ções estrangeiras, com intermediação técnica
do INCAAInstituto Nacional de Cine y Artes
Audiovisuales – instituição amplamente legiti-
mada pela comunidade cinematográfica
local. Não por acaso, a cinematografia e, de
modo geral, a indústria do cinema e audiovi-
sual da Argentina atualmente é respeitada em
todo o mundo, sendo reconhecida por muitos
como a mais importante da América Latina.
Solanas (2008) descreve assim o
cenário:
A partir de 2003, a cidade [Buenos
Aires] se transformou na meca das
produções publicitárias internacionais e
a quantidade de licenças de filmagem
na via pública que foram tramitadas
pelo escritório Buenos Aires Set de
Filmagem (Baset) não parou de crescer
desde então. De 350 licenças em 2003,
o órgão passou a tramitar quase 5.000
em 2006. Um dos fenômenos que
impulsionaram esse crescimento foi o
dos serviços de produção oferecidos
A capital inglesa, Londres, é o maior
exemplo desse processo: as indústrias cria-
tivas representam o segundo maior setor
na economia londrina, empregando direta-
mente mais de 500 mil pessoas
15
. Entre
1995 e 2001, o setor cresceu mais rapida-
mente do que qualquer outro, à exceção do
tradicional setor financeiro e de negócios,
contabilizando entre 20% e 25% do cresci-
mento do emprego neste período
16
.
1.3 CIDADES CRIATIVAS
Um aspecto importante a ser consi-
derado é que parece haver um entendi-
mento consolidado em todo o mundo de
que é o ambiente urbano o mais propício ao
desenvolvimento da economia criativa, seja
pelo perfil multi-étnico, pela convivência
ativa de diferentes grupos e comunidades,
pela convergência de culturas e saberes
oriundos de outras áreas nacionais, pela
maior disponibilidade de tecnologias, entre
outros fatores que não se fazem presentes
expressivamente em ambientes rurais.
Desde 2004, a UNESCO promove a
rede Cidades Criativas, que congrega cida-
des de diversas regiões que se integram
num processo de intercâmbio, troca de
experiências e difusão de melhores práti-
cas, com vistas ao desenvolvimento pela
conversão de seus potenciais criativos em
promoção econômica. Elas estão inseridas
em sete categorias pré-estabelecidas, as
quais servem para melhor estabelecer os
focos de atenção para seus esforços.
De maneira surpreendente, não
figura ainda na lista da UNESCO
17
a cidade
de Londres, cuja economia criativa empre-
ga um em cada cinco trabalhadores londri-
nos e responde por impressionantes £11,4
bilhões de contribuição para a balança
comercial do Reino Unido, razão pela qual o
governo pretende transformá-la no centro
criativo do mundo. Outra ausência notável é
a de Amsterdã. As indústrias criativas
empregam 7% dos trabalhadores e repre-
sentam 4,5% do PIB da capital holandesa.
18
1.2 REINO UNIDO - UM CASO ESPECIAL
O Reino Unido foi provavelmente
quem mais cedo se mobilizou em prol do
setor e, por iniciativa pioneira do Labour Party,
incluiu a economia criativa em sua plataforma
política visando às eleições de 1997. Não
apenas incluiu o tema no programa como
efetivamente levou-o a termo. Lá, onde existe
um ministério dedicado ao tema
12
, o cresci-
mento médio das indústrias criativas foi de
5% ao ano, superior aos 3% do restante da
economia. Segundo a UNCTAD
13
,
employment growth was also substantial.
In the United Kingdom, employment grew
approximately twice as fast in the creative
sector as elsewhere over the last decade,
while in the cultural sector of Europe as a
whole, the average number of employed
persons grew about 3 to 5 per cent annu-
ally in the period from 1995 to 2000, with
significantly higher rates of growth in some
countries, pointing again to generally stron-
ger employment growth in the creative
industries than elsewhere in the economy.
Trata-se de uma extraordinária
experiência de mobilização da sociedade
civil, capitaneada pelo poder público. Foi
formada uma rede sólida envolvendo o
estado, a universidade, agentes financeiros,
empresários, empreendedores e profissio-
nais criativos, em torno da qual se construiu
uma estrutura de incentivo ao fortalecimen-
to dessa economia. Como resultado, vemos
o “boom” do cinema britânico, o sucesso de
seus incontáveis festivais, potencializando
o turismo, a presença forte de seus músicos
na cena internacional, o fabuloso desenvol-
vimento no campo de design e da arquitetu-
ra, o vigor sem precedentes do seu merca-
do editorial
14
, entre diversas outras áreas.
É notável o processo de regeneração
urbana e de desenvolvimento de várias cida-
des que apostaram e investiram no setor,
principalmente aquelas que sofreram o esva-
ziamento econômico pela perda de competi-
tividade para a indústria chinesa. Cidades
como Manchester, Liverpool, Sheffield, Hali-
fax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são
exemplos impressionantes desse fenômeno.
Elas se reinventaram e, como conseqüência,
estão sendo redescobertas.
É comum a todas elas a existência
de um edifício dedicado ao abrigo de agên-
cias de desenvolvimento local de indústrias
criativas, comportando atividades de pes-
quisa, financiamento, fomento, treinamento
e formação de profissionais em diversas
áreas e incubação de negócios. Os espa-
ços contam ainda com uma estrutura aberta
ao público em geral para a fruição de obras
de arte, cinema, teatro e café, com uma
agradável atmosfera de cultura e entreteni-
mento. O edifício pode ser uma indústria
desativada, cujas instalações passaram por
uma profunda renovação e adaptação para
o novo programa arquitetônico; pode ser
uma arquitetura nova, moderna e conceitu-
almente arrojada; ou ainda uma fusão entre
as duas primeiras situações. O fato é que
tais edifícios – os Iconic Buildings, como são
chamados pelos britânicos – trazem concre-
tude ao conceito de economia criativa, pois
são acessíveis e freqüentados pela popula-
ção, aumentando o nível de adesão local a
esse processo de reinvenção econômica.
Nesses ambientes convivem artistas
plásticos, músicos, escritores, desenvolvedo-
res de games e softwares, videomakers,
designers, diretores de cinema e teatro,
promotores culturais e empreendedores criati-
vos em geral. E não apenas esses, mas
também outros atores importantes da cadeia
econômica, tais como empresários e agentes
de financiamento. É muito interessante consi-
derar que tais locais são, ao mesmo tempo,
pontos de convergência, uma vez que seu
forte valor de referência atrai os indivíduos
alinhados ao processo criativo, e de irradiação,
pois dali resultam produtos, projetos, ativida-
des etc., que se espalham por toda a cidade.
1.1 A UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia tem dedicado um
expressivo espaço ao tema, sendo que
congrega agências de desenvolvimento
do setor criativo de praticamente todos os
seus afiliados. Entre estes, são realizados
dezenas de eventos anuais, entre semi-
nários, congressos, workshops etc., rela-
cionados ao setor. Além destas, outras
tantas agências culturais e conselhos de
arte e patrimônio histórico e cultural se
voltam para a economia criativa. Em
2006, foi publicado o relatório The Eco-
nomy of Culture in Europe
8
, provavelmen-
te o estudo mais denso já realizado neste
campo. Segundo o documento, a econo-
mia da cultura era responsável por 2,6%
do PIB regional e 3,1% dos postos de
trabalho nos 25 países que compunham a
Comunidade Européia. Para se ter uma
idéia da dimensão dessa contribuição, a
produção de químicos, borracha e plásti-
co (componentes essenciais da indústria
de base) contribui com 2,3% e a produção
de alimentos, bebidas e fumo participa
com 1,9% do PIB macrorregional
9
. A pes-
quisa está sendo atualizada, com inclusão
dos novos membros da comunidade.
O Creative Economy Report, traba-
lho de pesquisa organizado pela UNCTAD
e pelo PNUD, foi lançado durante a XII
Conferência da UNCTAD, realizada em
Accra (Gana), em abril de 2008. O docu-
mento, que contém um mapeamento do
cenário global da economia criativa,
aponta alguns dados impressionantes
sobre o crescimento dessa economia no
velho continente:
The so-called ‘creative cities’ are prolifer-
ating in Europe and North America,
revitalizing the economy of urban
centres through cultural and social devel-
opments offering attractive Jobs, particu-
larly to young people. The turnover of the
European creative industries amounted
to 654 billion euros in 2003, growing 12.3
per cent faster than the overall economy
of the European Union and employing
over 5.6 million people.
10
Um exemplo muito expressivo vem
da Dinamarca. Sua economia criativa é
responsável por 5,3% do PIB nacional,
representando 16% das exportações e
contribuindo com a geração de empregos
para 12% dos trabalhadores.
11
1. UMA VISÃO GLOBAL
O mercado global de bens e serviços
oriundos da economia criativa tem experi-
mentado nos últimos anos um crescimento
sem precedentes
3
. O valor das exportações
anuais desse segmento alcançou US$ 592
bilhões em 2008, o que representa um cres-
cimento médio anual de 14% no período de
2002-2008. Segundo a UNCTAD, as indús-
trias criativas são um dos setores mais dinâ-
micos do comércio internacional e a deman-
da global para os produtos criativos conti-
nuou crescendo, apesar da crise financeira
e da recessão global de 2008.
De acordo com a UNESCO
4
, o
comércio de bens criativos aumentou de
US$ 205 para US$ 407 bilhões em 2008,
com crescimento médio de 11.5% no perí-
odo 2002-2008, praticamente dobrando
de valor em seis anos.
A economia criativa tem sido com-
preendida como uma potencial alavanca
para o desenvolvimento de muitas
nações, sendo que mais de 60 países já
realizam procedimentos sistemáticos de
mapeamento do seu setor criativo
5
. Em
estágio mais amadurecido encontram-se
os países desenvolvidos, notadamente os
Estados Unidos, as principais economias
européias – com destaque para o Reino
Unido – e a Austrália. Porém, mesmo
estes ainda vislumbram as perspectivas
de expansão do setor, inserindo o tema
estrategicamente com papel de destaque
em suas agendas econômicas.
Países emergentes e em desen-
volvimento conseguem ter participações
expressivas em áreas específicas.
Porém há um vasto território inexplorado
de possibilidades, que devem ser objeto
de políticas públicas, concebidas e imple-
mentadas num ambiente de cooperação
internacional, especialmente a chamada
Cooperação Sul-Sul.
Muitos fatores contribuíram para a
formação de um cenário favorável à cha-
mada sociedade do conhecimento, onde
a economia criativa encontra solo fértil: (a)
o fenômeno China, cuja capacidade de
produção industrial se impõe implacavel-
mente diante de todo o planeta, esvazian-
do ou mesmo inviabilizando a indústria de
base tradicional de muitos países, até
mesmo países desenvolvidos; (b) o
desenvolvimento tecnológico, notada-
mente o das tecnologias de comunicação,
com destaque para a internet, que promo-
ve distribuição democrática de informa-
ção, diminuindo as distâncias globais,
inclusive mitigando barreiras culturais; (c)
a inserção definitiva do meio ambiente na
agenda internacional, promovendo a
conscientização para o desenvolvimento
sustentável, a partir de mudanças de
paradigmas de desenvolvimento.
A esses fatores, adiciona-se o
respaldo proporcionado por marcos regula-
tórios internacionais. O principal deles é o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, mais conhecido como Acordo
TRIPS
6
. Ele dispõe sobre a aplicabilidade
dos princípios básicos do GATT
7
e dos acor-
dos internacionais sobre propriedade inte-
lectual; estabelece os parâmetros gerais
sobre os direitos de propriedade intelectual
considerados adequados; prevê medidas
para fazer cumprir aqueles direitos; e cria
mecanismos para a solução multilateral de
controvérsias. Ainda que não haja unanimi-
dade dos países em torno do documento, é
inegável que se constitui numa base regula-
tória que pavimenta a estrada para a circu-
lação de bens de natureza intelectual.
pelas empresas locais para a realiza-
ção de projetos estrangeiros, dadas as
características edilícias da cidade, que
permitem aparentar cenografias euro-
péias, às quais se somam os baixos
custos de produção e a abundância de
técnicos e realizadores qualificados (…)
Nos últimos anos, a produção cinemato-
gráfica argentina não somente teve uma
importante recuperação, como também
superou as marcas históricas de produ-
ção, chegando a 69 filmes em 2004, para
estabilizar-se na produção média anual
de mais de 60 longas-metragens. Funda-
mentalmente, isso é explicado pela plena
vigência da lei de cinema com os fundos
necessários para a produção, pela autar-
quia financeira do Instituto de Cinema
(Incaa), pela recuperação econômica,
porém também pelo grande potencial de
criatividade e recursos humanos que foi
sendo formado nos últimos anos.
19
Sob a condução do Ministério da
Cultura da Argentina está em marcha o
desenvolvimento do SICSUR – Sistema de
Informações Culturais do MERCOSUL – que
visa à construção de um framework estatísti-
co comum e a disponibilização de dados da
economia cultural de Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,
Peru e Venezuela
20
. Ainda, neste sentido,
cabe lembrar a participação de Buenos Aires
na rede Cidades Criativas, da UNESCO,
como cidade do design, cujos esforços se
voltam para a formação de profissionais em
universidades e intercâmbios internacionais.
A Colômbia também tem envidado
esforços no sentido de desenvolvimento
da economia criativa. O Convênio Andrés
Bello tem um papel decisivo, articulando
uma rede de treinamento e difusão do
setor, além do financiamento a projetos.
A cidade de Popayan foi à primeira
cidade gastronômica da rede Cidades Cria-
tivas, da UNESCO, oferecendo um modelo
bastante inovador para o seu desenvolvi-
mento, tendo apresentado grandes avan-
ços no sentido de formalizar a sua indústria
gastronômica informal. Seja pela facilitação
de espaços e outras instalações, pelo esta-
belecimento de parâmetros obrigatórios de
higiene e regulações cabíveis, e publicando
e divulgando amplamente sua rede de
restaurantes, incluindo os seus menores
quiosques de alimentação, Popayan tem
revigorado sua economia e aumentado a
oferta de emprego e elevação da renda
através do suporte a esse setor. A cidade
insere-se, assim, num contexto internacio-
nal, onde pode compartilhar suas receitas,
temperos e rituais. Trata-se de inegável
avanço econômico com valorização cultural
e elevação de auto-estima dos cidadãos.
O México possui estudos recentes
que apontam o crescimento da indústria
cultural, medida por sua participação no
PIB, atingindo 6,7%
21
, credenciando o setor
a uma condição de receber maior atenção
das autoridades governamentais. Um
programa governamental que vale mencio-
nar nesse sentido é o E-CULTURA
22
, que
promove uma rede de instituições e agen-
tes culturais diversos em todo o território
nacional, conectando-os digitalmente, de
modo a proporcionar a integração, inter-
câmbio e disponibilização online de um
impressionante conteúdo de livros e docu-
mentos. Além disso, o E-CULTURA focaliza
a conexão entre os atores da economia
cultural, cooperando diretamente para a
comercialização de produtos e estabeleci-
mentos de negócios no setor.
É ainda notável, no entanto, que
os avanços do setor na América Latina
foram desiguais. Alguns dos países
latino-americanos ainda não fazem medi-
ções formais desses impactos, principal-
mente no Caribe e América Central,
sendo exceções honrosas a Jamaica e a
Guatemala. Outros já contam com siste-
em curso um planejamento para coleta de
dados e plano de ações a serem implemen-
tados em vários países asiáticos.
Pesquisas recentes sugerem que as
atividades inovadoras desenvolvidas naque-
le continente, particularmente em produção
de serviços e indústrias criativas, estão mais
fortemente concentradas em clusters de alta
tecnologia, em cidades inseridas na econo-
mia global. O desenvolvimento de tais cida-
des é claramente influenciado pela atuação
de empresas e governos, que também têm
criado suas estruturas de ação. Neste senti-
do, podemos destacar a Índia, a Indonésia e
a Malásia, que possuem ministérios e outros
órgãos de interesse exclusivo em economia
criativa e áreas correlatas.
Em 2009, realizou-se, na capital da
Malásia, a Kuala Lumpur Design Week, con-
tando com a participação de mais de 500
delegados de todo o mundo. Na ocasião, o
presidente da KLDW’09, em seu discurso de
abertura, proferiu a seguinte frase: “vamos
nos unir e mostrar para o mundo o que
temos; agora é a hora de brilhar como uma
nova Malásia e seu novo poder de economia
criativa”. Essa citação expressa, em parte, o
entusiasmo e espaço que o setor vem con-
quistando em diferentes partes do globo.
A própria China, que detém espeta-
cularmente a hegemonia da produção
industrial de base tradicional, tem dedica-
do atenção ao setor. Em 2003, a China
lançou um programa piloto envolvendo 35
organizações culturais de nove províncias,
visando à compreensão das possibilidades
de fortalecimento dessa economia. Nesse
sentido, foram lançados, nos últimos anos,
quatro centros regionais de economia cria-
tiva, sendo dois deles sediados na região
de Pequim e dois em Hong Kong. São eles:
Daishanzi Art District (Factory 798) – Pequim;
Dahuan (Great Circle) – Pequim Jockey Club
Creative Arts Centre – Hong Kong e West
Kowloon Cultural District – Hong Kong.
O PNUD desempenhou um impor-
tante papel na viabilização desses centros,
trabalhando em cooperação com autorida-
des chinesas na construção de sua arqui-
tetura institucional. Fatos como esses
mostram que as autoridades daquele país
estão atentas ao potencial econômico do
setor criativo, e sinalizam certo esgota-
mento do modelo industrial tradicional.
É interessante notar que os referidos
centros situam-se, em números iguais, em
Pequim, e em Hong Kong. A primeira cidade,
juntamente com Xangai, é uma espécie de
catedral da indústria, representando um
modelo de desenvolvimento quase esgota-
do, de pouca ou nenhuma sustentabilidade
ambiental, sede governamental de um país
que, mesmo antes do regime comunista, já
se caracterizava pelo seu fechamento em
relação ao restante do mundo, excessiva-
mente apegado às tradições e desconfortá-
vel em relação à livre circulação de idéias e
de manifestações espontâneas de indivídu-
os. Hong Kong, ao contrário, há pouco mais
de uma década ainda era governada pela
Inglaterra, com imprensa livre, hábitos forte-
mente ocidentalizados, inclusive em relação
a consumo de produtos em geral e, entre
eles, produtos culturais e de entretenimento.
Hong Kong, ou a SAR – Special Administra-
tive Region, como é tratada pelo governo –
representa uma espécie de ilha ocidental
em território chinês e se contrapõe em
muitos aspectos à cultura tradicional domi-
nante. E o interessante é que em “ambas
as Chinas”, existe de maneira equânime a
percepção do valor estratégico da econo-
mia criativa, como nos provam os referidos
centros. Ainda em relação a Pequim,
Chengyu (2008) explica que esta:
resolveu desenvolver as indústrias cultu-
rais e criativas de maneira estratégica.
Durante o 11º. Plano Qüinqüenal, Pequim
investirá na construção das indústrias
culturais e criativas, cujo valor excederá
US$13,3 bilhões em 2010, levando em
conta o atual crescimento médio de
15,1%. Caso se realize, representará
mais de 10% do PIB de Pequim.
24
Xangai, por sua vez, realiza a Expo
Xangai. O evento, de proporções monu-
mentais, tem foco na sustentabilidade
urbana e inclusão social, onde a econo-
mia criativa cruza transversalmente todas
as áreas. Em 2006, a cidade realizou uma
pesquisa de avaliação do consumo de
produtos de natureza criativa; em seu 11º.
Plano Qüinqüenal, a prefeitura incluiu as
indústrias criativas como uma das
questões-chave para o desenvolvimento
da cidade; em 2007 a prefeitura lançou o
documento “Key Guide for the Develop-
ment of Creative Industries in Shanghai”,
estabelecendo suas áreas prioritárias de
atuação. De acordo com a UNCTAD, as
indústrias criativas são responsáveis por
7% do PIB daquela cidade.
25
1.7 BRASIL
No Brasil, a economia criativa vem
paulatinamente conquistando seu espaço
junto ao setor público e à academia, cada
vez mais interessados e conscientes do
potencial econômico e social que o setor
tem a oferecer. Também começam a se
articular entidades setoriais, ONGs, funda-
ções e empresas privadas, profissionais e
empreendedores criativos, de maneira
geral, se mobilizando em redes de debates
e intercâmbio, elaborando e desenvolven-
do projetos de pesquisa e de ação.
A insofismável constatação do
avanço e do potencial econômico desse
setor impõe a devida atenção da sociedade,
que tem se organizado, ainda que embrio-
nariamente, para as oportunidades que ele
representa. Desde 2009, o Ministério da
Cultura incorporou à sua estrutura uma
coordenação exclusivamente dedicada à
economia da cultura. Documento recente-
mente emitido pelo Ministério
26
aponta que:
o Brasil tem importantes diferenciais com-
petitivos nesse setor [economia da cultu-
ra]: 1. a facilidade de absorção de novas
tecnologias; 2. a criatividade e a vocação
para inovação; 3. a disponibilidade de
profissionais de alto nível em todos os
segmentos da produção cultural.
E prossegue:
Atuam no país 320 mil empresas voltadas
à produção cultural, que geram 1,6 milhão
de empregos formais. Ou seja, as empre-
sas da cultura representam 5,7% do total
de empresas do país e são responsáveis
por 4% dos postos de trabalho.
(...) O salário médio mensal pago pelo
setor da cultura é de 5,1 salários míni-
mos, equivalente à média da indústria,
e 47% superior à média nacional.
Numa ação conjunta entre o Ministério
da Cultura e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), foi realizada a pesquisa
que gerou o Sistema de Informações e Indica-
dores Culturais
27
num trabalho pioneiro, visan-
do ao estabelecimento de um quadro estatís-
tico setorial e avaliando o seu peso econômi-
co e social no desenvolvimento brasileiro.
Este trabalho é desbravador e deverá ter
desdobramentos em etapas futuras, possivel-
mente com ajustes para o enquadramento no
SICSUR – Sistema de Informações Culturais
do MERCOSUL. Como dados mais relevan-
tes, podemos destacar que as indústrias
culturais à época, empregavam 4% da força
de trabalho e representavam 5,2% das
empresas brasileiras.
O governo brasileiro tem despertado
para o setor em diversas áreas do estado, e
não apenas através do Ministério da Cultu-
ra. Podemos citar o Ministério do Turismo,
que realiza o programa TBC – Turismo de
Base Comunitária, em grande parte inspira-
do em indústrias criativas associadas ao
turismo. A ABC – Agência Brasileira de Coo-
peração, órgão ligado ao Ministério das
Relações Exteriores, que possui uma estru-
tura dedicada à cooperação na área de eco-
nomia criativa, especialmente com países
africanos e da CPLP. O Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio, através de
sua Secretaria de Inovação, enviou recente-
mente uma delegação à Europa, com o
objetivo de conhecer de perto as principais
experiências de clusters do setor criativo.
Diversas universidades têm aberto
áreas de pesquisa em seus programas de
graduação e pós-graduação. Como exem-
plos importantes, temos a USP, a UNI-
CAMP, a UFRJ, a Universidade Cândido
Mendes (RJ), a FGV (SP e RJ), a UFPE,
UFF e UFBA, entre outras, que têm abriga-
do pesquisadores e fomentado a publicação
de estudos e livros. Nesse particular, temos
uma série de publicações que já compõem
um pequeno arsenal teórico para embasar
as ações, principalmente no setor público.
Podemos citar o trabalho de pesquisadores
como Ana Carla Fonseca Reis, Fábio Sá
Earp, Lídia Goldenstein, Ana Jaguaribe,
Paulo Miguez, Luiz Carlos Prestes Filho etc.
Existem iniciativas em andamento
em âmbito local. No Rio de Janeiro, por
exemplo, está em fase de implantação o
Pólo de Economia Criativa do Rio de Janei-
ro, o chamado PEC RIO. Trata-se de uma
ação conjunta entre a Prefeitura, o Gover-
no do Estado, a Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO),
através do Instituto Gênesis, a Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Rio de Janeiro
(SEBRAE/RJ). O PEC RIO será abrigado
na zona portuária da cidade, uma área
degradada que passa por um processo de
regeneração urbana, sendo que o empre-
endimento é tido como uma peça impor-
tante nesse plano de revitalização. Iniciati-
va semelhante ao PEC RIO se inicia em
Recife, sob a coordenação da UFPE.
Os principais atores do PEC RIO
contam com áreas exclusivas dedicadas à
economia criativa. A FIRJAN, por exemplo,
foi a primeira entidade industrial brasileira a
criar uma diretoria para o tema. Em 2006, a
entidade publicou um trabalho intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”.
28
o Instituto Gênesis, da PUC/RIO, além de
uma coordenação exclusiva, promove incu-
bação de negócios de lastro criativo, com
ênfase em tecnologia. A Secretaria de Cultu-
ra do Estado conta com uma Coordenação
de Indústrias Criativas e assim por diante.
Em 2006, o BNDES criou o seu
Departamento de Economia da Cultura, que
resultou na habilitação do “Programa
BNDES para o Desenvolvimento da Econo-
mia da Cultura”
29
ampliando o financiamen-
to para cinco segmentos considerados
estratégicos, a saber: mercado editorial e de
livrarias, patrimônio cultural, mercado fono-
gráfico, espetáculos ao vivo e audiovisual.
Apesar de programas como esse,
ainda é tímida a participação do estado no
fomento ao setor, que apresenta uma grande
perspectiva de retorno de investimento. Em
meados dos anos de 1990, a Fundação
João Pinheiro realizou um estudo que apon-
tava que as indústrias culturais eram capa-
zes de gerar 160 postos de trabalho para
cada 1 milhão de reais investidos
30
, resultado
maior, por exemplo, que a indústria da cons-
trução civil e do turismo. Uma pesquisa reali-
zada pela Pricewaterhousecoopers projeta
um impressionante salto na economia cultu-
ral mundial, que, em 2005, era responsável
por U$1,3 trilhão e deverá atingir U$1,8
trilhão em 2010, representando uma média
de crescimento de 6,6% ao ano.
31
Algo que tem caracterizado o
ambiente para o setor no Brasil é o exces-
so de debate em contraposição à carência
de ações concretas. Como vimos, muito
tem sido discutido; instituições e estrutu-
ras têm sido criadas; são feitas pesquisas;
promovem-se fóruns, congressos e semi-
nários diversos etc. Porém, de maneira
prática, a maior parte das iniciativas, de
fato, econômicas, ou seja, os empreendi-
mentos criativos em si, continuam sendo
produzidas basicamente fora do que seria
um guarda-chuva estratégico provido pelo
estado, estimulando os atores sociais
através de programas regulares de capa-
citação, financiamento, criação de um
ambiente favorável, mitigando os riscos
de negócios, entre outras ações.
É fundamental a participação do
estado brasileiro para gerar o impulso
capaz de elevar a economia criativa a um
estágio em que essa possa realizar todo o
seu potencial sócio-econômico e trazer os
retornos que, consensualmente, se crê
que ela seja capaz de prover. Enquanto
isso não acontece, vemos uma intensa
concentração de bens e serviços culturais
importados pelo Brasil. Hoje, mais de 45%
de tudo o que se consome em termos de
bens e serviços culturais são importados
dos Estados Unidos e do Reino Unido,
contrastando com os 21% que se percebe
na América Latina e Caribe
32
.
2. ECONOMIA CRIATIVA: MAS AFINAL O
QUE É ISSO?
2.1 PRINCIPAIS CONCEITOS
ENVOLVIDOS
A economia criativa não é um
objeto de estudo recente da economia.
No entanto, a partir do final dos anos de
1990, ela vem sendo mais profundamen-
te estudada e se configurando numa
alternativa concreta de estratégia para
desenvolvimento. Podemos estabelecer
como um marco recente a emissão do
documento australiano
33
de 1994, onde
figura, pela primeira vez, o conceito de
Nação Criativa, que visava à construção
de uma plataforma para uma política
cultural inovadora alçando o tema à con-
dição de setor estratégico.
Cada vez mais, a economia criativa
conquista espaço nas agendas econômi-
cas, políticas e acadêmicas. Sob diversos
nomes, tais como economia da cultura,
indústrias criativas, economia do intangível,
economia imaterial ou nova economia, só
para citar alguns, ela se faz presente nas
estruturas de governança, desde o plano
local ao internacional. Esses diversos con-
ceitos expressam níveis de abrangência
diferentes – com distinções freqüentemente
sutis – entre as perspectivas de compreen-
são possíveis, o que pode ser considerado
natural, dado o seu estágio de maturação.
No entanto, todos gravitam em torno de uma
idéia central, qual seja, o desenvolvimento
de uma economia com lastro na cultura, na
criatividade, nos valores humanos, nos
saberes tradicionais, adepta da pluralidade
e mais respeitosa com o meio ambiente.
2.2 INDÚSTRIA CULTURAL
O termo indústria cultural surgiu no
pós-guerra, como crítica ferina ao fenô-
meno recente do entretenimento de
massa. Foi cunhado por seus críticos,
basicamente oriundos da Escola de
Frankfurt
34
, com o objetivo de gerar impac-
to pelo discurso que associava no concei-
to duas palavras cujos conteúdos aparen-
temente ocupavam campos de significa-
ção muito distintos, até mesmo opostos.
Mais recentemente, parece haver
uma aceitação mais tranqüila de que as
indústrias culturais são simplesmente
aquelas que produzem bens e serviços
culturais. Pela definição da UNESCO,
são as indústrias que “combinam a cria-
ção, produção e comercialização de con-
teúdos que são de natureza cultural e
intangível. Esses conteúdos são tipica-
mente protegidos por copyright e assumem
a forma de bens e serviços.”
2.3 ECONOMIA DA CULTURA
A economia da cultura é a defini-
ção atribuída à aplicação da economia
analítica, equipada com suas ferramentas
e metodologias, sobre as artes criativas e
performáticas, patrimônio e herança
cultural, bem como as chamadas indús-
trias culturais. Sua atenção está voltada
para a organização econômica do setor
cultural, compreendendo a participação
de todos os atores envolvidos, como artis-
tas, produtores, consumidores, governos
etc. É fruto do crescente interesse dos
economistas, que cada vez mais compre-
endem a importância da cultura como
potencial geradora de valor na sociedade
do conhecimento.
2.4 INDÚSTRIAS CRIATIVAS
A expressão indústrias criativas
também foi usada pela primeira vez na
publicação “Creative Nation”, supracitada.
Mais tarde, teve grande amplificação com
a sua adoção pelo Reino Unido, quando
da assunção ao poder do Partido Traba-
lhista, liderado por Tony Blair. Através do
Departamento de Cultura, Mídia e
Esporte
35
, órgão do Ministério das Indús-
trias Criativas e Turismo, foi constituída
uma força tarefa com vistas ao fomento
desse segmento econômico.
Na definição do Creative Clusters
36
,
as indústrias criativas “are based on individu-
als with creative and arts skills, in alliance
with managers and technologists, making
marketable products, whose economic value
lies in their cultural (or “intellectual”) proper-
ties.” Por esta perspectiva, as indústrias criati-
vas alargam o campo de visão para além do
grupo nuclear das atividades artísticas e cultu-
rais, bem como da indústria cultural, passando
a incluir atividades funcionais que se desenvol-
vem tendo a criatividade como matéria-prima,
tais como o design, a arquitetura, a criação de
softwares de entretenimento, entre outros.
Existem vários modelos esquemáticos
de indústrias criativas. A UNCTAD
37
considera
quatro deles os mais significantes. A saber:
Modelo DCMS (Reino Unido)
Segundo o modelo DCMS
38
, adotado
no Reino Unido pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte, indústrias criativas
são definidas como aquelas que requerem
criatividade, habilidade e talento, com poten-
cial para criação de emprego e bem-estar,
através da exploração de sua propriedade
intelectual. Ela contempla 13 atividades con-
sideradas estratégicas pelo governo.
Modelo dos Textos Simbólicos
É uma abordagem que considera que
as artes tradicionais (“elevadas” ou “sérias”)
normalmente já são objeto de cuidado do
establishment social e político, daí porque o
modelo foca a sua atenção na cultura popu-
lar, a qual freqüentemente se manifesta atra-
vés da produção industrial, disseminação e
consumo de textos e mensagens simbólicas,
como as do cinema, da TV e da imprensa.
Modelo dos Círculos Concêntricos
O Modelo dos Círculos Concêntricos
tem como pressuposto básico a assunção de
que é o valor cultural dos bens culturais que
provê a essa indústria sua característica mais
distintiva. Assim, quanto mais evidente esse
conteúdo cultural contido no produto ou servi-
ço, mais forte é o seu apelo à produção indus
-
trial. Por essa premissa, esquematicamente
se tem um núcleo de atividades essencial-
mente artísticas, manifestas em sons, textos e
imagens, rodeado por círculos que contém
atividades derivadas das atividades nucleares,
os círculos concêntricos, sendo que o conteú-
do cultural decresce à medida que o círculo se
afasta do núcleo. O núcleo das artes é imedia-
tamente circundado pelas atividades da indús-
tria de produção puramente cultural (cinema,
música, livros etc.), seguido pelo círculo da
indústria e atividade criativa (arquitetura,
propaganda etc.), fechando com o círculo da
indústria criativa relacionada, que é compos-
to por um conjunto mais amplo de atividades
industriais cujos produtos possuem muito
trabalho criativo agregado, como, por exem-
plo, a indústria de softwares e de celulares.
Este foi o modelo utilizado pela
Comissão Européia na elaboração do
estudo The Economy of Culture in
Europe, supracitado. (ver figura).
Modelo Copyright (OMPI
39
)
É o modelo baseado estritamente
nas indústrias relacionadas com a cria-
ção, manufatura, produção, transmissão e
distribuição de trabalhos protegidos por
copyright, sendo que faz uma distinção
entre as indústrias que de fato produzem
propriedade intelectual e aquelas que
atuam na entrega dos produtos e serviços
aos consumidores finais.
Confira o quadro que sumariza os
quatro modelos.
A UNCTAD tem também sua
própria visão. Segundo a Organização,
que discutiu à exaustão o seu conceito de
indústrias criativas, durante a sua 1
Conferência
40
, a criatividade em questão
se expande para além das atividades de
forte componente artístico, passando a
ser qualquer atividade econômica que
gere produtos simbólicos com forte sus-
tentação na propriedade intelectual, com
o mercado mais amplo possível.
“The creative industries:
are the cycles of creation, produc-
tion and distribution of goods and
services that use creativity and intel-
lectual capital as primary inputs;
constitute a set of knowledge-
based activities, focused on but not
limited to arts, potentially generating
revenues from trade and intellectual
property rights;
comprise tangible products and intan-
gible intellectual or artistic services
with creative content, economic value
and market objectives;
are at the cross-road among the artisan,
services and industrial sectors; and
constitute a new dynamic sector in
world trade.”
41
Para sustentar seu conceito, propõe
um modelo esquemático, segundo o qual
as indústrias criativas se apresentam
dispostas em quatro categorias formadas
por oito blocos, algumas de áreas correla-
tas, que são: (a) categoria 1 (patrimônio
cultural), contendo categoria de mesmo
nome; (b) categoria 2 (artes), contendo as
categorias “artes visuais” e “artes dramáti-
cas”; (c) categoria 3 (mídia), abrangendo
que é largamente reconhecido, é fato que
muitos países têm dificuldade na realiza-
ção de seu potencial.
A implementação de “políticas cria-
tivas” (em apoio às indústrias criativas e
cidades criativas) em diferentes cidades e
regiões de todo o mundo tem levado a
questionamentos com relação à aplicabili-
dade destas intervenções em diferentes
contextos locais, regionais e nacionais.
Mais especificamente falando, polí-
ticas criativas geradas em países desen-
volvidos podem ser transferidas ao con-
texto sul americano, e vice-versa?
Quais são os desafios e dificuldades
em definir e dimensionar as indústrias criativas
na América do Sul, em comparação com o
Reino Unido e outros países desenvolvidos?
Como estes desafios e oportunida-
des para o desenvolvimento das indús-
trias criativas do hemisfério Sul são trata-
dos por cidades e regiões específicas, e
como poderiam ser incorporados às políti-
cas públicas, levando-se em conta neces-
sidades e contextos específicos?
Assim, pactuo com a importância da
assinatura da Carta da Cultura por todos os
representantes sul-americanos deste Semi-
nário, de forma a estabelecer uma network
que efetivamente investigue se conhecimen-
tos e metodologia de obtenção de dados
gerados nos países desenvolvidos podem
ser aplicados em países da América do Sul.
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ribe, A. Setting The Institutional Parameters of the
International Centre on Creative Industries (ICCI).
2005. (documento não-oficial)
1
Universidade Federal Fluminense
2
Consultor British Council
3
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Devel-
opment (2008) The Creative Economy Report (pág. 106)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
4
UIS UNESCO Institute for Statistics - International
Flows of Selected Cultural Goods and Services, 1994
- 2003 - Defining and Capturing the Flows of Global
Cultural Trade (Montreal, 2005) (página 9)
[http://www.uis.unesco.org/template/pdf/cscl/IntlFlows
_EN.pdf]
5
Pol, H. van der – UIS - UNESCO Institute for Statistics
– Measurement Issues in Relation to Cultural Statistics
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[http://www2.dpt.gov.tr/oecd_ing/topkapi_a/29June2007
/9.00-10.30/Hendrik%20pol_-Istanbul-2007_2.ppt]
6
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights
7
General Agreement on Tariffs and Trade
8
http://www.keanet.eu/ecoculture/studynew.pdf
9
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. – A Economia da Cultura,
o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável (página 308)
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set
3007.pdf]
10
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 5)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
11
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
12
Ministry For Creative Industries and Tourism
13
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (página 29)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
14
De acordo com o estudo “International Measure-
ment of the Economic and Social Importance of Cultu-
re”, realizado por John C. Gordon e Helen Beilby-Orrin
para a Organização para a Cooperação e o Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), em 2003, o mercado
editorial do Reino Unido era estimado em 8,6 bilhões
de libras esterlinas, contribuindo com 1,2 % do PIB.
[http://www.oecd.org/dataoecd/26/51/37257281.pdf]
15
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – International Measurement of the
Economic and Social Importance of Culture (página 7)
[http://www.oecd.org/officialdocuments/displaydocument
pdf?cote=STD/NAFS(2007)1&doclanguage=en]
16
GLA Economics (2004) London’s Creative Sector:
2004 Update (Executive Summary)
[http://www.planotecnologico.pt/document/london_cre
ative_sector_2004.pdf]
17
Cabe ressaltar que a inserção de uma cidade na Rede
Cidades Criativas, da UNESCO, depende de iniciativa
da própria cidade, a qual deve obedecer alguns critérios
para a sua aceitação.
18
Santos-Duisenberg, E. dos, em Economia Criativa:
Uma Opção de Desenvolvimento Viável?, inserido em
Fonseca Reis, A. C. (organização) (2008) Economia
Criativa Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma
Visão dos Países em Desenvolvimento (São Paulo:
Editora Itaú Cultural) (página 64)
19
Facundo, S., A Economia Criativa e as Possibilidades
de Desenvolvimento na Argentina, inserido em Fonseca
Reis, A. C. (organização) (2008) Economia Criativa
Como Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos
Países em Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú
Cultural) (páginas 169 e 170)
20
www.sicsur.org
21
Piedras, E., em México: Tecnologia e Cultura para um
Desenvolvimento Integral, inserido em Fonseca Reis, A.
C. (organização) (2008) Economia Criativa Como Estra-
tégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 146)
22
http://www.ecultura.gob.mx
23
http://ocpa.irmo.hr/resources/docs/Dakar_Plan_of_Action-
en.pdf
24
Xiong Chengyu, em Tendências Atuais da Indústria
Cultural Chinesa, inserido em Fonseca Reis, A. C.
(organização) (2008) Economia Criativa Como Estraté-
gia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (São Paulo: Editora Itaú Cultural)
(página 228)
25
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág.
181) [http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
26
Porta, P. (Ministério da Cultura / PRODEC) Economia
da Cultura – Um Setor Estratégico para o País
[http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2008
/04/texto-sobre-o-prodec-paula-porta.pdf]
27
Ministério da Cultura / IBGE - Sistema de Informa-
ções e Indicadores Culturais (2003 - 2005),
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
indic_culturais/2003/indic_culturais2003.pdf]
28
FIRJAN (2008) Estudos para o Desenvolvimento do
Estado do Rio de Janeiro (No. 2) A Cadeia da Indústria
Criativa no Brasil
[http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0D
C40121685C72026F2E.htm]
29
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt
/Areas_de_Atuacao/Cultura/Procult/index.html
30
Fundação João Pinheiro (1998) Diagnóstico dos Investi-
mentos em Cultura No Brasil – volume 3 (páginas 13 e 43)
31
PriceWaterhouseCoopers - Global Entertainment and
Media Outlook 2006 – 2010
32
Fonseca Reis, A. C. (2008) Economia Criativa Como
Estratégia de Desenvolvimento: Uma Visão dos Países em
Desenvolvimento (Ed. Itaú Cultural, São Paulo) (página 129)
[http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/
ebook_br.pdf]
33
Creative Nation: Commonwealth Cultural Policy,
Outubro de 1994 (Camberra, Austrália)
[http://www.nla.gov.au/creative.nation/contents.html]
34
Escola de pensamento formada por revisionistas
neo-marxistas, inicialmente abrigados no Instituto de
Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt.
35
Department for Culture, Media and Sport
[http://www.culture.gov.uk]
36
http://www.creativeclusters.com
37
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 12)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
38
Department For Culture, Media and Sport (órgão do Ministé-
rio das Indústrias Criativas e do Turismo do Reino Unido)
39
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (ou
WIPO, na sigla em inglês).
40
UNCTAD XI, São Paulo, 2004 – High Level Panel on
Creative Industries and Development
41
UNCTAD (2008) The Creative Economy Report (pág. 13)
[http://www.unctad.org/en/docs/ditc20082cer_en.pdf]
42
Howkins, J. (2001) The Creative Economy: How
People Make Money from Ideas
43
Prestes Filho, L. C. (2004) Cadeia Produtiva da Econo-
mia da Música (Rio de Janeiro: Instituto Gênesis / PUC-RJ)
44
De acordo com o relatório produzido em 2005 pelo
IFPI – International Federation of Phonographic Indus-
try, O Brasil ocupava a quarta posição no ranking
mundial de pirataria de música, atrás apenas de China,
Rússia e México, movimentando 200 milhões de
dólares, sendo que cerca de 50% dos CDs que circula-
vam no país eram piratas.
45
ABPD (2009) Mercado Brasileiro de Música. Disponí-
vel em: [http://www.abpd.org.br/downloads.asp]
46
A Petrobras é a maior patrocinadora do cinema brasileiro.
47
Sá Earp, F. (Organização) (2002) Pão e Circo: Frontei-
ras e Perspectivas da Economia do Entretenimento.
(Rio de Janeiro: Palavra e Imagem) (página 29)
48
Gorgulho, L. F., Goldenstein, M., Machado Alexandre,
P. V., Taboas de Mello, G. A. (2007) A Economia da
Cultura, o BNDES e o Desenvolvimento Sustentável
[http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/defa
ult/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/se
t3007.pdf]
49
O mercado é, como sempre, composto por vários
atores. No caso dos jogos eletrônicos, apesar do
volume comercializado e do seu potencial, não encon-
tramos muitas organizações representativas do setor.
Atuam no mercado as grandes empresas, fabricantes
dos consoles e dos computadores, e pequenos
estúdios de desenvolvimento ou empreendedores
individuais, mas com pouca ação coletiva em torno de
sua atuação.
73
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
mas de mensuração dessa economia,
porém, as diferentes metodologias aplica-
das, com níveis distintos de aprofunda-
mento e refinamento, inviabilizam a cone-
xão e o cruzamento de dados na região.
Daí a grande contribuição que se espera
do SICSUR, na construção de um
framework comum, que permita a comu-
nicação de informações para uma avalia-
ção acurada de sua economia criativa.
O Grupo de Estados da África,
Caribe e Pacífico (ACP), entidade ligada
à UNESCO, que congrega mais de 80
países, também tem trabalhado nesta
direção. Em 2006, foi realizado o primeiro
ACP FESTIVAL, em Santo Domingo, na
República Dominicana, apresentando as
mais diversas formas de manifestação
culturais e de economia de lastro criativo
no país, que foi precedido por uma
reunião de ministros de cultura para a
discussão do tema. Ainda é pouco, mas
sem dúvida já é um apontamento signifi-
cativo de que a questão ganha força nas
agendas dos países da região.
Veremos o Brasil adiante.
1.5 ÁFRICA
Vários países africanos criaram seus
organismos nacionais dedicados à econo-
mia criativa, como a Nigéria, Gana e o
Quênia. Em 2008, por ocasião da 12ª. Con-
ferência das Nações Unidas para o Comér-
cio e Desenvolvimento – a UNCTAD XII –
realizada em Gana, foi apresentado o
Programa África Criativa, uma iniciativa con-
junta entre o Programa das Indústrias Criati-
vas da UNCTAD e a União Africana, visando
ao estudo, mapeamento e fomento da eco-
nomia criativa no continente; na mesma
conferência, lançou-se o “Creative Economy
Report”, mapeamento do cenário global da
economia criativa produzido conjuntamente
pela UNCTAD e pelo PNUD, densamente
enriquecido com dados estatísticos.
A África do Sul, país africano com
maior inserção no cenário econômico interna-
cional, tem desenvolvido uma política agres-
siva de redução das desigualdades entre
populações negras e brancas, bem como
entre suas regiões. Esse processo, que
alguns economistas classificam como política
de emparelhamento (ou o catching up),
incluiu fortemente a economia criativa em sua
estratégia de desenvolvimento. A Província
de Gauteng, uma das mais importantes e
densamente povoadas, tem uma secretaria
específica cuidando do segmento e dirigindo
projetos de qualificação profissional em áreas
como moda e estilo, design, gastronomia,
música, cinema e vídeo e turismo cultural.
Em 2003, uma reunião da ACP
Group of States, realizada no Senegal, foi
totalmente dedicada à economia criativa e
resultou na elaboração conjunta do Dakar
Plan of Action on the Promotion of ACP
Cultures and Cultural Industries
23
, documen-
to que alinhavou o compromisso dos países
membros no sentido de construir uma plata-
forma para o seu crescimento econômico a
partir do setor. O documento previa a coope-
ração na área de cultura, uma ação conjunta
de formulação de políticas culturais regio-
nais, políticas para a preservação do patri-
mônio cultural, a criação de mecanismos de
apoio financeiro para empreendimentos
criativos e a criação de uma força tarefa
para diminuir o gap entre os países mem-
bros da ACP e os países desenvolvidos.
1.6 ÁSIA / CHINA
São diversas as iniciativas encontra-
das na Ásia na área de economia criativa.
Em 2005, foi realizado um simpósio em
Nagaur, na Índia, organizado pela
UNESCO, que tinha como objetivo discutir o
papel das indústrias criativas e o desenvolvi-
mento, visando especialmente à importância
das atividades artísticas e culturais locais. As
recomendações extraídas do simpósio,
conhecidas como a Iniciativa Jodhpur, pôs
as categorias “edição e mídia impressa” e
“audiovisual”; e (d) categoria 4 (criações
funcionais), comportando “design”, “novas
mídias” e “serviços criativos”.
2.5 ECONOMIA CRIATIVA
Certamente, o mais amplo de todos os
conceitos em questão, o conceito de econo-
mia criativa foi cunhado por John Howkins,
que apresenta como novidade a forma como
criatividade e economia se combinam numa
nova relação, em natureza e extensão, a
partir da qual se prestam a um extraordinário
potencial de geração de valor e bem-estar.
Em seu Creative Economy Report,
2008, a UNCTAD apresenta de maneira
sumarizada sua definição de economia
criativa, conforme a seguir:
“The ‘creative economy’ is an evolv-
ing concept based on creative assets
potentially generating economic
growth and development.
It can foster income generation, job
creation and export earnings while
promoting social inclusion, cultural
diversity and human development.
It embraces economic, cultural and
social aspects interacting with tech-
nology, intellectual property and tour-
ism objectives.
A produção comporta as ativida-
des mais diretamente ligadas ao pro-
cesso criativo, encabeçada pela compo-
sição musical propriamente dita, pas-
sando por todas as diferentes etapas de
acabamento e design.
A fase seguinte do processo é a da
distribuição e comercialização. Nessa etapa,
o produto atravessa os canais de distribui-
ção estabelecidos, sendo que os produtos
do chamado mainstream utilizam-se de
meios mais robustos, com papel determi-
nante no mercado musical de alta densida-
de. Não desprezível, no entanto, são os
chamados canais alternativos de distribui-
ção, freqüentemente ocupados por artistas
independentes (mas não exclusivamente),
que se valem, sobretudo, da internet e das
redes sociais para criação de um público
consumidor para os seus produtos.
Finalmente, a etapa do consumo é
aquela em que se dá a aproximação do
produto com o seu público final, que pode
fruir a criação musical por várias manei-
ras, seja pela aquisição de CDs, pela
audiência em espetáculos, pela difusão
de rádio e televisão etc.
Cada etapa da cadeia produtiva da
música comporta um mercado diferente,
ou seja, põe frente-a-frente atores que
realizam trocas de produtos e serviços. No
entanto, é na etapa do consumo que
encontramos maior fartura de dados dispo-
níveis, especialmente aqueles relaciona-
dos com o comércio de produtos físicos
(CDs, DVDs) e de arquivos digitais, em
franca expansão, razão pela qual nos dete-
mos mais nesse campo. Nele, destacam--
se na atividade nuclear, que contém a
gravação e a distribuição, as empresas
EMI, Universal, Warner e a Sony BMG.
No Brasil, a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD) tem um
papel preponderante na avaliação dessa
cadeia produtiva, produzindo relatórios
anuais e advogando sistematicamente em
defesa dos direitos de autores, pesada-
mente penalizados com os efeitos devas-
tadores da pirataria
44
. As informações que
seguem foram disponibilizadas pela ABPD
45
.
O relatório divulgado em 2010, que
traz os dados do setor referentes ao ano
anterior, aponta que o mercado brasileiro
se manteve estável em seu nível de comer-
cialização de fonogramas, contrariando as
projeções pessimistas no plano internacio-
nal, segundo as quais haveria propensão a
uma queda de 8%. Ao contrário, o que se
verificou foi uma ligeira elevação, de 1,08%.
O mercado brasileiro movimentou
quase 360 milhões de reais em 2009 com
a venda de música nos formatos físicos,
ou seja, CD, DVD e Blu-ray, e nos forma-
tos digitais, a saber, os produtos distribuí-
dos virtualmente, através da internet e da
telefonia celular. Um dado importante é o
que diz respeito ao crescimento das
vendas efetuadas pela internet, com
aumento de quase 160%, apontando um
aumento substancial no nível de licenças
para o segmento e a consolidação desse
mercado, que atualmente tem uma fatia de
quase 12%, com perspectiva de aumento.
O CONSUMO DE MÚSICA PELO VÍDEO
É também considerável o aumento
crescente do consumo de música através
das mídias audiovisuais, contendo shows
musicais. Em 2008, as vendas totais de
DVDs – onde se incluem os de formato
Blu-ray – foram de R$ 96.160 milhões e
subiram para R$ 100.603 milhões em 2009,
representando um aumento de 4,62%. Em
relação às unidades vendidas, em 2008
elas foram 5,2 milhões, subindo para 5,4
milhões em 2009, representando um
aumento de 3,98% das vendas unitárias.
A MÚSICA DIGITAL
O volume total de vendas de música
digital em 2009 foi de R$ 42 milhões, segun-
do os dados informados pelas empresas
que atuam no setor. Esse número é pratica-
mente o mesmo – uma ligeira baixa – do ano
anterior (R$ 43,5 milhões), no entanto, uma
transformação radical se processou no seg-
mento. Ocorreu uma notável inversão na
posição das vendas digitais ocorridas via
telefonia móvel e das vendas promovidas
pela internet. Isso parece sinalizar que o
consumidor pode estar aumentando sua
adesão ao consumo de música digital atra-
vés dos meios de distribuição legais, que
são os sites autorizados.
CD - AINDA O CARRO-CHEFE
Verificou-se no Brasil uma ligeira
queda (0,49%) no volume de vendas de
CDs. Em 2009, o faturamento das principais
indústrias fonográficas brasileiras somou
R$ 215 milhões, contra R$ 216 milhões do
ano anterior. Mesmo assim, ainda é muito
maior a fatia de mercado de CDs perante os
DVDs (incluindo Blu-ray) e as vendas
digitais, como visto anteriormente (CD =
60%, DVD = 28,1% e Digital = 11,9%).
O fato mais importante a ser consi-
derado é a forte supremacia do consumo de
música nacional em relação à música inter-
nacional. Em aproximadamente 30 anos,
percebe-se uma radical transformação de
comportamento do consumidor brasileiro,
pois, em meados dos anos de 1970, as
posições eram virtualmente inversas.
Trata-se de um mercado em
profunda re-estruturação, resultado do
impacto das ferramentas de compartilha-
mento de arquivos digitais, as chamadas
P2P. Paulo Rosa, presidente da ABPD,
faz um alerta:
Uma questão, entretanto, tem que ser
imediatamente abordada para o bem
do futuro do mercado musical brasi-
leiro: o compartilhamento ilegal de
arquivos através das redes P2P, bem
como a disponibilização ilegal de
links para música protegida por direi-
tos autorais principalmente em redes
sociais como o Orkut. Não se trata
aqui de lutar contra uma ou várias
tecnologias ou de buscar-se punição
contra milhões de internautas brasi-
leiros, mas sim de encontrar-se equi-
líbrio entre o acesso à música e o
direito de autores, artistas e produto-
res de música de serem remunerados
de forma justa pelo uso de seu conte-
údo na internet.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DA MÚSICA
IFPI – International Federation of the Pho-
nographic Industry (internacional)
ABPD – Associação Brasileira dos Produ-
tores de Discos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
OMB – Ordem dos Músicos do Brasil
(incluindo as Ordens regionais)
ABRAC – Associação Brasileira de Auto-
res, Compositores e Intérpretes
ANACIM – Associação Nacional de Auto-
res, Compositores e Intérpretes de
Música
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
3.2 CINEMA
PRODUÇÃO
O mercado brasileiro de produção
cinematográfica é basicamente pulveriza-
do em muitas pequenas produtoras, cujas
figuras confundem-se essencialmente com
a de seu proprietário, invariavelmente, um
diretor independente. Contribui em grande
parte para esse cenário o apoio financeiro
estatal para a produção independente, o
qual é, para o bem ou para o mal, desvin-
culado dos objetivos comerciais da produ-
ção. Algumas poucas produtoras de
grande porte posicionam-se nesse merca-
do, atrelando suas atividades à necessida-
de de audiência para os seus produtos.
São elas: Conspiração, O2, Academia e
Mixer. No entanto, o faturamento dessas
grandes produtoras é advindo predomi-
nantemente da produção publicitária.
A produção, apesar de ser o início
de todo o processo, é a última parte da
cadeia produtiva a se remunerar, após
aferição dos lucros dos exibidores e distri-
buidores. Justamente por isso, é onde se
encontra o maior risco do negócio cine-
matográfico. Outro ponto importante a ser
levado em consideração é que, diferente-
mente do que ocorre nos países em que a
indústria do cinema é mais avançada, a
maior parte do faturamento das produto-
ras brasileiras, sejam elas de qualquer
porte, decorre basicamente da produção
em si, em detrimento do faturamento com
o resultado da audiência dos filmes, o que
é, ao mesmo tempo, apontamento de um
problema e de uma oportunidade.
DISTRIBUIÇÃO
Os agentes que promovem a distri-
buição nessa indústria adquirem os direi-
tos de comercialização adquiridos junto
aos produtores. Com isso, passam a
responsabilizar-se pela impressão de
cópias físicas, pelo serviço de divulgação
do filme, bem como a inserção no mercado:
salas de exibição, home video (que inclui
venda para locadoras e no varejo para o
consumidor final), TV por assinatura, TV
aberta, internet, celular e outras mídias.
Trata-se do principal (ou pelo
menos o mais forte) ator do mercado, pois
financia e avaliza a produção. De certa
maneira, é quem organiza o mercado,
pois um filme só se viabiliza mediante um
contrato de distribuição, mesmo quando
sua produção é totalmente financiada por
outras fontes. Não raro, o distribuidor tem
interferência no processo criativo do
produtor, principalmente considerando os
maiores distribuidores.
No Brasil, o segmento é dominado
por seis grandes empresas, as chamadas
majors, que são Sony, Columbia, Buena
Vista, UIP/Paramount, Warner e Fox, as
quais têm atuação em âmbito internacio-
nal nas áreas de produção, distribuição,
possuindo ainda participação em canais
de exibição.
Algumas distribuidoras indepen-
dentes também atuam no segmento, com
menor participação, mas ainda assim
expressiva. As maiores distribuidoras
independentes são Imagem, Vídeo Filmes
e Playart (no subsegmento home video) e
Imagem, Europa e Downtown (no subseg-
mento salas de exibição).
EXIBIÇÃO
Apesar de ser o elo final da cadeia, é
o primeiro a se beneficiar do resultado da
bilheteria. Tem um papel crucial na divulga-
ção do produto cinematográfico e a sua
sinalização é atentamente observada pelo
mercado, à medida que ela dimensiona o
potencial mercadológico dos filmes em rela-
ção às outras janelas de distribuição (home
video, TV etc.). Em média, os exibidores
retêm 50% do apurado nas bilheterias.
Observa-se, no entanto, uma drás-
tica redução no parque exibidor brasileiro,
fenômeno iniciado na década de 1980 e
que se perpetuou durante a década
seguinte. Pode-se atribuir esse processo,
em parte, ao aumento médio do preço do
ingresso, à difusão, inicialmente, do vídeo
cassete (recentemente do DVD e novas
mídias) e à TV por assinatura. Para se ter
uma idéia, nos anos de 1970, havia cerca
de 4.500 salas de exibição no País. Atual-
mente, considerando uma ligeira recupe-
ração em meados dos anos de 1990, con-
tamos com pouco mais de 2.000 salas.
Notadamente, há uma demanda
reprimida, o que pode ser atribuído à
enorme concentração do mercado nas
mãos de poucos exibidores. O principal
deles é o grupo Cinemark, que foi quem
primeiro instituiu o sistema de salas multi-
plex nos shopping centers brasileiros.
Trata-se de uma tendência irreversível. O
tradicional Grupo Severiano Ribeiro, que
sempre se caracterizou por ser proprietá-
rio dos imóveis utilizados, está revendo
sua estratégia e passou também a ocupar
espaços em shopping centers para poder
fazer frente ao novo modelo. Essa alta
concentração é assim expressa: os seis
maiores grupos exibidores atuando no
Brasil detêm 62% do market share.
É muito importante criar estratégias
que estimulem o crescimento e descen-
tralização do setor. Para isso, também é
muito importante enfrentar o problema
trazido com o novo modelo multiplex.
Com a crescente e irreversível tendência
de exibição de filmes em salas dispostas
nesse sistema, os imóveis não são
próprios dos exibidores, mas sim, aluga-
dos junto aos shopping centers. Isso
inviabiliza o provimento de garantias con-
cretas a serem oferecidas aos bancos na
cessão de empréstimos, restringindo
ainda mais as chances dos exibidores de
menor porte nesse mercado.
Fechando a área da distribuição,
encontram-se as locadoras, que têm um
papel muito importante na difusão do conte-
údo cinematográfico. Sua capilaridade
permite o acesso de brasileiros de todas as
regiões, pois estão presentes em 82% dos
municípios. São predominantemente
pequenos negócios, muitos deles informais.
Provavelmente, constituem-se na parte mais
frágil da cadeia, altamente ameaçada pela
tendência da convergência digital.
INFRAESTRUTURA
Aproximadamente 1/4 do segmento
econômico da cadeia do cinema é formado
por empresas provedoras de infraestrutura.
São basicamente dois tipos de empresas:
Prestação de serviços técnicos: equipa-
mentos de áudio e vídeo, iluminação e
geradores, grip, câmeras, estúdios, labo-
ratórios e empresas de pós-produção;
Aluguel de equipamentos: equipamen-
tos de filmagem, como iluminação, trans-
fer, câmeras digitais e ilhas de edição.
O surgimento de novas tecnologias
tem barateado os custos de produção e
aumentado o acesso de novos produtores.
As principais empresas atuando nessa área
são de pequeno e médio porte, concentradas
no Rio de Janeiro e em São Paulo. Quase
toda a produção cinematográfica nacional
passa por uma dessas firmas: Quanta, Labo-
cine, Mega, Casablanca e TeleImage.
É notória a carência de estúdios
cinematográficos disponíveis, não dando
cumprimento à demanda crescente. Um dos
principais problemas é a falta de financia-
mento, principalmente para a aquisição de
equipamentos importados, que são os maio-
res custos para a montagem de estúdios.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO CINEMA
ANCINE – Agência Nacional do Cinema
SNIC – Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica
ABC – Associação Brasileira de Cinema-
tografia
SINDICINE – Sindicato dos Trabalhado-
res na Indústria Cinematográfica
ABRAPLEX – Associação Brasileira das
Empresas Operadoras de Multiplex
ABD – Associação Brasileira de Docu-
mentaristas e Curtametragistas
ARTV – Associação dos Roteiristas de
Televisão e outros Veículos
ABERTAssociação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão
ABTAAssociação Brasileira de Televi-
são por Assinatura
PETROBRAS
46
3.3 LIVRO
O mercado editorial tem como prin-
cipais atores os autores, editores, gráfi-
cas, produtores de papel, produtores de
equipamentos gráficos, distribuidores,
atacadistas e os livreiros. Eles atuam
num mercado que possui três frentes,
conforme a seguir:
1. Direitos autorais: é o mercado produzi-
do pela relação que se estabelece entre
autores e editores, que adquirem os direitos
de comercialização do conteúdo criativo;
2. Mercado da manufatura gráfica: é mer-
cado que se dá no âmbito da produção
industrial, colocando frente a frente os
editores e a indústria gráfica.
3. Mercado da distribuição: é aquele que
contém a cadeia comercial que possibilita
a chegada do produto ao consumidor final.
Na seqüência correta, os editores vendem
o produto para os livreiros, que são vare-
jistas, e estes últimos promovem a venda
para o consumidor. Com freqüência, a
relação entre o editor e o livreiro é interme-
diada por outros agentes de distribuição.
Esses três mercados, embora
remunerados em momentos distintos do
processo produtivo, são balizados pelo
preço de capa do livro, sendo os percentu-
ais de remuneração de cada etapa mais ou
menos como nos mostra o quadro a seguir:
Sá Earp (2002) faz apontamentos
importantes sobre a distribuição:
Os dados de produção física apontam
para um crescimento substancial entre
os períodos de 1990/94 e 1995/98,
quando houve um aumento de 54% no
número de títulos e 49% no de exem-
plares. Ocorreu uma queda no período
1999/2003 – 11% em títulos e 13% em
exemplares -, mas pouco expressiva
diante dos resultados anteriores. O que
nos livra de um diagnóstico animador é
a queda da tiragem média – estamos
diante de editoras que produzem mais
livros, porém com menores tiragens.
47
E esse parece ser definitivamente,
um aspecto de suma importância na
formatação do mercado. O segmento
as empresas distribuidoras enfrentam
grandes desafios. Elas operam com
uma margem de lucro que flutua entre
10% e 15% sobre o preço de capa do
produto. Assim, é inviável, por exemplo,
entregar um único exemplar em Manaus
produzido em São Paulo, com preço de
capa de R$20,00. Nesse negócio da
distribuição, mais uma vez, é imprescin-
dível a economia de escala, o que tem
se configurado um problema à medida
que, como dissemos, decrescem as tira-
gens. É o mesmo custo a emissão de
uma nota fiscal para um exemplar ou
para 100 mil exemplares, além de ser o
mesmo custo unitário para atendimento
ao editor ou ao livreiro. Outros custos,
como embalagem, expedição, armaze-
nagem e controle de estoque também se
reduzem com o aumento de escala.
Mas o varejo tem o seu lado visível
e o seu lado invisível. O primeiro é
aquele que se dá nas livrarias, e o segun-
do é o verificado pela venda porta a
porta, atualmente, algo incomum nas
grandes cidades, mas muito importante
em municípios menores.
LIVRARIAS
Não se sabe ao certo o número de
livrarias no Brasil, mas especula-se que
o número seja de aproximadamente
1.500. Esses dados, contudo, não são
muito precisos ou confiáveis. Se, por
exemplo, uma loja de produtos exotéri-
cos vende o best seller “Minutos de
Sabedoria” num display posicionado no
caixa, ela possivelmente é registrada nas
respectivas juntas comerciais como
sendo uma livraria. O mesmo vale para
um pet shop que vende manuais para
criadores diversos. De toda forma, confi-
áveis ou não, os dados ainda apontam
que 2/3 delas se encontram na região
sudeste, o que representa também um
nível considerável de concentração.
Além da concentração regional,
outro aspecto alarmante é a carência de
livrarias no Brasil. Aproximadamente, 90%
dos municípios brasileiros não contam com
sequer uma livraria. O que pode ser com-
preendido como um grande problema (o
enorme vácuo educacional e cultural que o
dado representa), também, por outro, deve
ser visto como uma oportunidade de
fomento de um mercado a ser expandido.
É preciso pensar em estratégias específi-
cas para enfrentar essa situação.
VENDA PORTA A PORTA
Apesar de pouco visível, é uma
atuação nada desprezível. Para se ter
uma idéia, todo o setor editorial emprega
pouco mais de 20 mil pessoas, enquanto
os vendedores de livros no sistema porta
a porta são pelo menos 30 mil pessoas. E
não apenas isso. Considerando, a título
de comparação, o que se passa nesse
sistema de vendas na área de produtos
de cosmética, que gera emprego para
mais de 1,5 milhão de pessoas, fica explí-
cita a capacidade de expansão da ativida-
de. Parece-nos o caso de se pensar num
programa de incentivo à formalização dos
vendedores de livros, talvez como repre-
sentantes locais, aumentando sua prote
-
ção social e possibilidades de vencimen-
tos. Seria muito justo, dado o papel
importante que desempenham junto às
populações com maiores dificuldades de
acesso ao livro.
BIBLIOTECAS
Trata-se, indubitavelmente, do
segmento da cadeia produtiva do livro em
que o Brasil se encontra mais atrasado.
Embora não sejam poucas, em geral são
pobres de acervo e de estrutura física.
Muitas vezes são isoladas, mal adminis-
tradas e, em sua maioria, incapazes de
atender à demanda do público leitor. Os
acervos são freqüentemente pilhados.
As bibliotecas poderiam repre-
sentar um grande segmento para a eco-
nomia do livro, como ocorre em países
desenvolvidos. Elas têm a capacidade
de levar o produto a uma grande quanti-
dade de leitores, inclusive aqueles per-
tencentes aos segmentos mais pobres
da sociedade. Se ao menos a metade
dos cerca de cinco mil municípios brasi-
leiros contasse com bibliotecas que efe-
tivamente atendessem ao público,
somente esse segmento seria respon-
sável por aumentar significativamente a
tiragem média dos títulos. Para tal, é
importante repensar o papel da bibliote-
ca e estruturar uma política de atendi-
mento da audiência. É preciso definir os
perfis de bibliotecas com os quais se
pretende trabalhar (bibliotecas de
incentivo à leitura de jovens, de acesso
a comunidades isoladas, de acervo
histórico, de ênfase acadêmica etc.) e
alocá-las junto ao público adequado. A
partir dessa estratégia, com a orienta-
ção para a promoção do acesso do
público ao material de seu interesse,
atuar na renovação completa das biblio-
tecas, inclusive das instalações físicas
e da estrutura tecnológica.
NOVAS TECNOLOGIAS
A era digital trouxe componentes
novos ao mercado editorial, sendo este
um dos maiores impactados em toda a
economia criativa. Pode-se, em grande
medida, atribuir a redução dramática
das tiragens dos títulos publicados ao
fato de que uma parte gigantesca do
conteúdo escrito produzido estar dispo-
nível na internet, seja ele de natureza
técnica, acadêmica, literária ou de
entretenimento de maneira geral. A
cultura digital, a fartura de conteúdo ofe-
recido gratuitamente, moldam o compor-
tamento do consumidor, especialmente
do público jovem, que é o consumir de
hoje e do futuro.
A internet, no entanto, não é um
problema, mas sim uma nova via de
transmissão de conteúdo e, portanto,
comercial. Embora o mercado editorial
esteja fortemente presente na internet, o
seu potencial de crescimento ainda é
muito grande. Os novos consoles para
leitura de arquivos digitais parecem
disputar um mercado promissor, atraindo
empresas como Apple e Amazon, fabri-
cantes dos cobiçados I-pad e Kindle,
respectivamente, o que contribui para a
expansão da cadeia econômica editorial
para uma esfera industrial de alta tecnolo-
gia. Está, portanto, em marcha um pro-
fundo rearranjo no setor.
A esse respeito, podemos verificar
no quadro seguinte a evolução dos canais
de comercialização de livros no Brasil e,
especialmente, o rápido crescimento da
internet, cujos dados começaram a ser
disponibilizados a partir do ano 2000. Ela
ainda perde em volume de comercializa-
ção para parte significativa dos outros
canais, no entanto, é o único canal que
apresenta crescimento constante e muito
expressivo no período avaliado.
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DO LIVRO
CBL – Câmara Brasileira do Livro
SNEL – Sindicato Nacional dos Editores
de Livros
ABRELIVROS – Associação Brasileira
dos Editores de Livros
ANLAssociação Nacional de Livrarias
ABDLAssociação Brasileira de Difusão
do Livro
ANE – Associação Nacional de Escritores
AEILIJ – Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil e Juvenil
ABRALE – Associação Brasileira dos
Autores de Livros Educativos
ABIGRAF – Associação Brasileira da
Indústria Gráfica
ABLAcademia Brasileira de Letras
3.4 OUTRAS CADEIAS PRODUTIVAS
Apresentamos a seguir alguns
dados que chamam atenção nas cadeias
produtivas da economia dos jogos eletrô-
nicos e dos espetáculos ao vivo. Todas as
informações a seguir foram extraídas do
estudo produzido pelo BNDES
48
.
JOGOS ELETRÔNICOS
1. “O jogo eletrônico é um produto que
associa software e produção audiovisual,
inclusive música, demandando em larga
escala conteúdos, criatividade e inovação.
2. “Na produção de jogos, os custos com
roteiristas, diretores de arte, desenhistas,
animadores, músicos, dubladores etc.
podem ser três vezes maiores que com os
profissionais da computação.
3. “Os jogos eletrônicos têm enorme
potencial de utilização como ferramenta
de educação.
4. “O segmento dos jogos para consoles
representa quase 60% do mercado, che-
gando a 80% do latino-americano; o
restante do mercado é de jogos on-line e
para telefones celulares.
5. “Em 2006, o total de vendas de jogos
eletrônicos no mundo foi de US$ 31,6
bilhões, resultado de um incremento de
45% desde 2002, com previsão de cresci-
mento médio de 9% até 2011.
6. “A pirataria inibe investimentos no
setor. Estudo da IDG Consulting, realiza-
do em 2004, estimou a pirataria de jogos
no País em 94%, o que corresponderia a
um prejuízo calculado em US$ 210
milhões.”
PRINCIPAL STAKEHOLDER DA CADEIA
DOS JOGOS ELETRÔNICOS
49
ABRAGAMES – Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ANPI – Associação Nacional dos Prove-
dores de Internet
ESPETÁCULOS AO VIVO
1. “A cadeia produtiva de espetáculos ao
vivo compõe-se de dois segmentos princi-
pais: a produção de espetáculos (teatro,
dança, música, circo) e as casas de espe-
táculos (teatros, salas de espetáculo).
2. “As salas de espetáculo são vitais
nesse mercado, pois permitem o escoa-
mento da produção criativa, além de
novas explorações culturais.
3. “Apenas 22% dos 5.564 municípios no
Brasil possuíam salas de espetáculo em
2006, que, segundo a FUNARTE somam
1.224 unidades.
4. “Há forte concentração de estabeleci-
mentos na Região Sudeste (56%), princi-
palmente nos municípios do Rio de
Janeiro e de São Paulo; 20% se encon-
tram na Região Nordeste, 15% na
Região Sul, 5% na Região Centro-Oeste
e 4% na Região Norte.
5. “O desempenho de bilheteria de espe-
táculos de grande porte com preços mais
elevados em outras capitais, com Curiti-
ba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasí-
lia, demonstra a existência de demanda
fora do eixo RJ-SP.
6. “Cinqüenta por cento das casas de espe-
táculo pertencem ao governo, e a maioria
dessas ainda está sob administração públi-
ca e apresenta deficiências na gestão.
7. “O segmento da produção teatral é
extremamente dependente de recursos
de renúncia fiscal: as receitas de bilhe-
teria dificilmente cobrem o custo para
se produzir uma peça e manter o espe-
táculo em cartaz, situação agravada
pelo difundido uso indevido do direito à
meia-entrada, que acarreta elevação do
preço do ingresso e a conseqüente
retração da demanda.
8. “Desde a criação das leis de incentivo,
houve um aumento da produção teatral,
mas, em sentido inverso, houve uma
redução do número de sessões semanais
dos espetáculos (de seis a oito antes da
lei; duas ou três atualmente) e o encurta-
mento das temporadas.
9. “O direito de utilização da marca do
anunciante no “nome fantasia” da casa de
espetáculo – naming rights – também tem
sido utilizado como fonte de receita.”
ALGUNS DOS PRINCIPAIS STAKEHOL-
DERS DA CADEIA DOS ESPETÁCULOS
AO VIVO
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
APTR – Associação dos Produtores de
Teatro do Rio de Janeiro
ABEARTAssociação Brasileira de Em-
presários Artísticos
ABRAPE – Associação Brasileira de Pro-
dutores de Espetáculo
Casas Associadas – Associação Brasilei-
ra das Casas de Shows Independentes
Sindicatos Profissionais Diversos – atuan-
do em áreas concernentes ao universo
dos espetáculos ao vivo (músicos, atores,
cenógrafos, técnicos de iluminação, técni-
cos de som, artistas de circo etc.)
Secretarias Estaduais de Cultura –
responsáveis pela gestão de equipamen-
tos públicos para espetáculos ao vivo
Empresas Privadas – que operam com a
adoção de casas de espetáculos com
exploração de sua marca (naming rights),
tais como Vivo, TIM, Visa, Credicard etc.
4. O PAPEL DO ESTADO PARA O FORTA-
LECIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
Em todos os locais (países, regiões,
cidades) onde a economia criativa teve
avanços significativos, o estado teve um
papel decisivo na indução, fomento e orga-
nização do setor. E a recente crise interna-
cional, que abalou as estruturas econômi-
cas do mundo desenvolvido, alertou-nos
ainda mais sobre os limites do mercado em
relação à conciliação / mitigação de seus
conflitos, promovendo em grande medida
o ressurgimento do estado como protago-
nista no papel de regulação social e econô-
mica, notadamente aqueles países tradi-
cionalmente mais avessos a interferências
de tal natureza, justamente os mais ricos.
Como vimos nesta análise setorial,
todas as experiências bem sucedidas
foram conduzidas pelo estado. Assim
como as experiências, ainda em curso,
que sinalizam com perspectivas animado-
ras. Isso se deve, entre outras coisas:
1. Ao papel que tradicionalmente o
estado desempenha na preservação e
difusão da cultura;
2. À legitimidade conferida pela socieda-
de, possuindo a respectiva isenção e
poder de moderação, fundamentais ao
mediar ou conduzir processos que,
freqüentemente, confrontam atores
importantes de seus segmentos;
3. À visão que o estado possui da socieda-
de como um todo, compreendendo de
modo mais acurado suas debilidades,
potenciais e áreas de maiores necessida-
des de investimento, contando, inclusive,
com aparelhos de produção de estatísticas.
CONCLUSÕES
A economia criativa é inegavelmen-
te tema de grande interesse internacional,
sendo objeto de políticas públicas em
países de todas as regiões do globo, inde-
pendentemente dos estágios de desenvol-
vimento em que se encontram tais
nações. As quase duas décadas em que a
economia criativa tem inserção sistemáti-
ca nas agendas públicas mostram que
não se trata de uma ‘tendência’, mas de
realidades regionais que se encontram em
distintos estágios de maturação.
A despeito de todo o potencial da
economia criativa como alavanca para o
desenvolvimento econômico e social, o
editorial é, sem dúvida, aquele em que o
peso da economia de escala se apresenta
mais determinante, em relação aos outros
setores de indústrias criativas. Os custos
de produção de uma indústria, que, como
vimos, tem como padrão um nível de
tiragem baixo, relativamente a outras
indústrias, como a fonográfica, por exem-
plo, são decisivos para a criação de enor-
mes disparidades de preços entre os
produtos de grande circulação, promovidos
pelas grandes editoras, e os de baixa circu-
lação, a saber, a maioria dos títulos, edita-
dos pelas pequenas e médias editoras.
As principais formas de distribuição
do produto editorial se dão através de dois
sistemas. O primeiro é o das vendas dire-
tas para o governo, responsável pela
aquisição de 60% da produção editorial
didática do País; o segundo sistema é o
da venda direta para a livraria, utilizando
ou não canais intermediários. A utilização
de empresas distribuidoras para interme-
diar esse processo de compras depende,
fundamentalmente, do tipo de produto, do
tamanho da praça e do porte tanto da
editora quanto da livraria.
É fácil depreender que, em face
das dimensões continentais do Brasil,
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
It is a set of knowledge-based
economic activities with a develop-
ment dimension and cross-cutting
linkages at macro and micro levels to
overall economy.
It is a feasible development option
calling for innovative, multidisci-
plinary policy responses and inter-
ministerial action.
At the heart of the creative economy
are the creative industries.”
A abrangência do conceito de eco-
nomia criativa o torna mais facilmente
aceito em diversos segmentos da socie-
dade, aumentando a percepção do tema
como um objeto de estudo a ser conside-
rado ainda mais seriamente.
3. PRINCIPAIS CADEIAS ECONÔMICAS
RELACIONADAS
Muitas vezes, ao lidarmos com
questões relacionadas à cultura e à criativi-
dade, de modo geral, temos a tendência de
alocar tais conceitos em áreas reservadas
às categorias das coisas intangíveis, das
sensações, dos valores humanos, gerais ou
pessoais. E, de certa maneira, esse com-
portamento procede, visto que tratamos, no
mais das vezes, dos fazeres diretamente
relacionados com o espírito humano, onde
predominam o imponderável. Independen-
temente do tempo e do espaço, a cultura é
um fator constituinte imprescindível em
qualquer sociedade. E, da mesma forma, a
criatividade é intrínseca ao gênero humano,
desde aquela que se manifesta simples-
mente visando à satisfação pessoal (artes,
artesanato etc.) até a criatividade dirigida às
soluções de problemas funcionais, sejam
eles pessoais ou da coletividade.
Quando adentramos ao terreno da
economia criativa, enfrentamos o desafio de
confrontar dois universos que ocupam
diferentes campos de significação. Precisa-
mos ajustar as ferramentas da economia
para manusear informações que, em princí-
pio, são de natureza imaterial, impalpável. As
cadeias econômicas relacionadas às ativida-
des criativas são a face mais tangível deste
setor de atividades humanas; ou melhor,
uma tentativa de apresentar, no nível em que
isso for possível, o lado da concretude da
atividade criativa. Nesse sistema complexo,
a criação é o input inicial que deflagra uma
série de atividades inter-relacionadas, prota-
gonizadas por vários atores econômicos, os
quais proporcionam um fluxo de bens e servi-
ços, economicamente valorados. A esse
processo podemos chamar de cadeias
econômicas do setor criativo.
Os estudos das principais cadeias
econômicas do setor criativo são frutos de
esforços bastante recentes. Em geral, os
objetivos que os motivam são: (a) prover
uma base científica capaz de mensurar o
valor econômico da atividade; (b) identifi-
car os eventuais gargalos para o pleno
desenvolvimento setorial; (c) fazer aponta-
mentos para o planejamento estratégico;
(d) sinalizar tendências, oportunidades,
riscos e ameaças, de maneira a subsidiar
os tomadores de decisão; e finalmente, (e)
quando possível, estabelecer parâmetros
que possibilitem minimamente a valora-
ção dos benefícios imateriais da atividade,
bem como suas eventuais externalidades.
Não há isonomia dos dados. Apesar
de todas as atividades envolverem atores
que, via de regra, desempenham ações
ligadas à criação, produção, distribuição e
comercialização, os estudos realizados
geralmente se debruçam sobre aspectos
diferentes, dificultando o estabelecimento
de um quadro comparativo intersetorial.
Procuramos analisar aquelas que
consideramos as principais cadeias econô-
micas relacionadas ao setor criativo. O nível
de importância de cada uma delas, e,
portanto, a justificativa para a sua presença
neste trabalho é atribuída pelo volume do
mercado, pela demanda / aceitação do
público, e pelo seu potencial de crescimento.
Ainda são poucos os estudos disponíveis.
Procuramos fontes confiáveis, em sua maio-
ria, diretamente legitimadas pelas associa-
ções de classe mais representativas.
AS CADEIAS PRODUTIVAS
Inseridos nas cadeias econômi-
cas apresentamos alguns dos seus prin-
cipais atores.
3.1 MÚSICA
Seguindo como referencial o estudo
“Cadeia Produtiva da Economia da Música
no Brasil”
43
, conduzido pelo Professor Luiz
Carlos Prestes Filho, apresentamos, atra-
vés de seus esquemas, como o setor se
organiza a partir de quatro estágios, que
são: pré-produção, produção, distribuição e
comercialização e, finalmente, o consumo.
Na fase da pré-produção, encontram-se
todas as empresas e atividades relaciona-
das aos fundamentos da atividade musical,
que vão desde a indústria de instrumentos
musicais até o treinamento musical.
Contato:
Drª Alessandra Meleiro
ameleiro@puro.uff.br
74
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística
.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Funk: experiências de pesquisa em cadeias produtivas da cultura
Funk: experiencias de investigación
en las cadenas de producción de la cultura
Funk: research experiences in production chains of culture
Elizete Ignácio dos Santos
1
Nesta comunicação buscamos compartilhar uma experiência de
pesquisa social na área de economia da cultura, com o objetivo de
trazer novos elementos para o debate travado neste campo. Assim
apresentamos as contribuições que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk carioca nos trouxeram ao men-
surarmos os impactos econômicos da produção deste gênero musical
na cidade do Rio de Janeiro. Este gênero está intrinsecamente vincula-
do ao contexto socioeconômico e cultural dos seus artistas e produto-
res. Porém, e apesar de usarem uma linguagem escrita e musical total-
mente referenciada a estes contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecido no Brasil e no exterior.
Resumo:
Palavras chave:
Funk
Economia criativa
Economia da cultura
Música
75
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística
.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
En esta comunicación queremos compartir una experiencia de investi-
gación social en el campo de la economía de la cultura, con el fin de
aportar nuevos elementos al debate en este campo. Así se presentan
las aportaciones que las investigaciones de los agentes que trabajan
en el mercado de el funk carioca (RJ) nos han llevado en la medición
de los impactos económicos de la producción de esto género musical
en el Rio de Janeiro. Él está intrínsecamente ligado al contexto
socioeconómico y cultural de sus artistas y productores. Sin embargo,
mismo que utilice de un lenguaje escrito y las referencias musicales de
sus contextos, se ha expandido más allá de sus regiones de origen,
llegando a ser conocido en Brasil como en el extranjero.
In this paper we seek to share one experience of social research in the
field of cultural economy, in order to bring new elements to the debate
in this field. So we present the contributions that investigation with
agents working in the the funk carioca have brought us in measuring
the economic impacts of production of that musical genre in Rio de
Janeiro. That genre is intrinsically linked to the socioeconomic and
cultural context of its artists and producers. However, despite of using
a written and musical language what is totally referenced to its
contexts, have expanded beyond its original regions, becoming known
in Brazil and abroad.
Palabras clave:
Key words:
Resumen:
Abstract:
Funk
Economía creativa
Economía de la cultura
Música
Funk
Creative economy
Culture economy
Music
76
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As
equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Funk: experiências de pesquisa em
cadeias produtivas da cultura
2
77
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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e artistas. Elizete Ignácio dos Santos. Rio de
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SCOTT, Allen. J. “The cultural economy of cities”,
in International Journal of Urban and Regional
Research, 1997, vol. 21, n.º 22.
UNCTAD/DICT, Creative Economy Report 2008.
Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
78
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
79
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife
-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
80
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
81
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
82
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística
.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
83
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci
-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
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1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
84
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
Bibliografia
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
86
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
87
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon
-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
88
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
89
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi
-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
90
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
91
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
regulação é parte do modo como estabe-
lecem suas relações), mas que conta com
uma estrutura interna de regulação das
ações de seus agentes.
ESTRUTURA DO MERCADO DO FUNK
NO RIO DE JANEIRO
O BAILE FUNK – ASPECTOS ECONÔMI-
COS E SIMBÓLICOS
Na favela tem fuzil. Agora é capaz de
você encontrar o menor número de
fuzis per capta numa favela é na hora
do baile... “Tem hora segura para ir na
favela?” "Tem. É na hora do baile.”
Você já ouviu falar de algum massacre
em baile Funk? Não. Agora massacre
de manhã na padaria com o fuzil
encostado... Na hora que a tiazinha
vai comprar o pão de manhã no
morro... Estão lá três fuzis no balcão
da padaria. E é ali que sai o tiroteio;
sai a morte. No baile não. “Ué, por
quê?” Porque o baile é a coisa mais
preciosa da comunidade. Nenhuma
comunidade é louca o suficiente para
permitir que aquela jóia seja macula-
da. Tem sim... Vários lugares onde o
dono do morro exige que valha... Mas
aí é porque o DJ é fraco... (DJ)
De um modo geral o Funk pode ser
caracterizado como um evento – o baile – e
um gênero musical – a música Funk
(VIANNA: 1997) e todas as suas atividades
econômicas giram em torno das suas
produções
7
. É a produção destes bens
culturais que permite a intensificação das
relações sociais entre MCs, DJs e donos
de equipe e os demais agentes envolvidos
– como empresários e promotores culturais
– e o público “consumidor”. Em uma primei-
ra análise, se observado enquanto merca-
do de trocas econômicas e não somente
como uma manifestação cultural, o Funk no
Rio de Janeiro tem duas características
bem marcadas: a diversificação das
funções de seus agentes e a informalidade
das relações contratuais, marcadas pela
negociação e pelo compromisso “de boca”
e pelo uso que alguns agentes fazem de
algumas informações jurídicas que detém
8
.
O Funk é também um conjunto de
ações dos seus agentes que, se não
podem ser reconhecidas como definidoras
de um estilo de vida – na medida em que o
público que freqüenta o baile Funk não se
define apenas por ser funkeiro, mas por
uma identidade mais fluida e dialógica em
relação a outras manifestações culturais
como o pagode e o samba -, integram o
que se pode chamar de cosmologia da
comunidade
9
: ou seja, uma forma de com-
preender, e a partir desta compreensão,
gerar comportamentos dentro do mundo do
Funk. Assim, se a indumentária – o uso de
calças justas, tops que deixam a barriga à
mostra e saltos muito altos para as meni-
nas, ou de shorts largos e tênis de marcas
específicas pelos meninos – pode ser algo
usado no cotidiano, será no baile que que
se realiza enquanto estilo, em um diálogo
direto com o evento Funk (MIZRAHI: 2007).
Assim, apesar de o Funk integrar
um conjunto de agentes, ações e compor-
tamentos que assumem significados dife-
renciados, é em torno do baile que estes
elementos se integram e interagem entre
si: para os seus agentes, é o baile que
confere ao Funk o seu significado e razão
de existir. O ritmo do Funk poderia existir
por si só, careceria de uma referência
fundamental. O baile é, sobretudo, uma
categoria de pensamento e dada a sua
importância simbólica, é a partir dele
também que são analisadas as suas prin-
cipais características de mercado.
Os bailes podem ser realizados em
comunidades, clubes, boates, casas de
shows e eventos – como aniversários e
festas de bairro. Apesar de chamarem a
qual se põem à prova e se vão redefinin-
do as fronteiras das instituições econômi-
cas formais” (CUNHA: 2006, p. 221).
Neste sentido, as variáveis que darão
contorno a uma atividade informal não
poderiam ser pré-definidas de modo a
abarcar todos os fenômenos analitica-
mente tratados como informais. Dever--
se-ia considerar ainda que as associa-
ções entre o conceito de informalidade
com o de ilegalidade – seja para
distingui-los em absoluto, seja confundi--
los como uma mesma coisa – são menos
eficazes como ponto de partida para a
análise: em muitos dos fenômenos consi-
derados informais, e mesmo entre os
formais, observa-se a porosidade entre o
legal e o ilegal, tornando as relações um
tanto híbridas. Deste modo, se por um
lado não se deve tratar as atividades eco-
nômicas dos grupos ou setores observa-
dos como deflagradoras ou resultantes de
ações ilícitas, também não se pode deixar
de lado os limites da ilegalidade como
fatores que contribuem na estruturação
da economia informal (CUNHA: 2006).
Assim, o conceito de informalidade
seria positivado na medida em que permi-
te ultrapassar certas dicotonomias – como
a clivagem entre relações econômicas e
relações sociais ou mesmo entre legalida-
de e ilegalidade. Outro aspecto conside-
rado por Cunha visa observar a mudança
de perspectiva sobre a informalidade, na
qual as atividades consideradas informais
deixam de ser vistas como um objeto e
passam a ser trabalhadas como um proje-
to, ou seja, como um modelo alternativo a
contextos históricos e econômicos esta-
belecidos nas sociedades capitalistas
avançadas. Nesta perspectiva, a ativida-
de econômica informal no Funk é tomada
como ponto de partida para a investiga-
ção de outras relações estabelecidas
tanto em nível local, quanto regionais e
nacionais, assim como de relações estru-
turantes da vida social, em que pesem a
formação de identidades locais, de forta-
lecimento de laços sociais e de sustenta-
bilidade não somente econômica, mas
moral. Pode-se, então, ir além das análi-
ses que tomam a informalidade como
uma característica do atraso a ser, neces-
sariamente, ultrapassado nas sociedades
capitalistas desenvolvidas, mas como
uma associação que pode se originar de
diversas formas ou situações e para o
qual contribuem diversos fatores.
No caso do Funk carioca, há um
misto de formalidade e informalidade,
com prevalência do segundo. As equipes
de som são micro ou pequenas empre-
sas, em sua maioria, registradas no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas,
com funcionários registrados – ainda que
em número reduzido – e recolhimento de
impostos. Entre os DJs, muitos são
funcionários de rádios, equipes de som
ou casas de shows e mesmos os MCs
podem ser contratados de algumas equi-
pes ou empresários. A despeito dos agen-
tes se orientarem e se pensarem a partir
das categorias externas que lhes são
atribuídas – produtores de “som de preto
e favelado”, p.ex. – são parte de um
circuito que envolve não somente a troca
monetária, mas de dádivas e obrigações
que regulam de modo lógico a existência
de um mercado informal: as praças do
Funk são os bailes, os produtos em circu-
lação não são somente o gênero musical
Funk, mas também artistas – MCs e DJs
– e empresários e donos de equipe.
Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar
como os agentes do mundo Funk carioca
integram em seu fazer artístico e econô-
mico tanto um mercado de economia
monetária como de uma economia de
dádivas (DOUGLAS: 2007). Em resumo,
o mercado do Funk no Rio de Janeiro é
tomado neste artigo como um conjunto de
atividades econômicas informais que,
contudo, não se encontram a parte da
regulação estatal (na medida em que esta
ção”, “abnegação”, “dedicação”, “esforço”,
“vontade”, “paixão”, “dom” ou “talento”. Ou
ainda “sucesso”, e “reconhecimento”.
5
Quantas vezes ouvimos artistas
ou produtores culturais afirmarem que
continuam no próprio ofício por “paixão”,
“vocação” ou “dom”? Atuar no campo da
cultura remete a aptidões tidas como
inatas. Isto não significa que não possam
ser conquistadas: nem todas as crianças
que aprendem a tocar um instrumento
aos cinco anos serão mozarts! E nem
todos os grandes pintores apresentaram
aptidões fantásticas na infância! Em
parte porque a arte e a cultura tem a
capacidade de se reinventar e, quando
isto ocorre, a balança entre o estabeleci-
do e a novidade (ou outsider) pende para
a primeira situação. Motivações não estri-
tamente econômicas estimulam o surgi-
mento de vários modelos de negócios e
empreendimentos. No entanto estas
categorias são centrais para se compre-
ender a produção artística e cultural.
A economia da cultura não pode
ser compreendida sem levar em conside-
ração as dinâmicas sociais e os ethos de
grupos que passam longe da visão econô-
mica dos “negócios”. A perspectiva de que
em última instância todo empreendimento
– e seus produtos – devem “gerar lucro” é
bastante discutida
6
e neste campo mais
específico deve ser lida com certa descon-
fiança e uma dose de ironia. Caso contrá-
rio, a compreensão das dinâmicas econô-
micas no campo da cultura será mais
difícil e corre-se o risco de cair em pers-
pectivas etnocêntricas ou reducionistas.
Percebe-se nos discursos que a
vertente econômica tornou-se um dos
meios de assegurar políticas públicas,
financiamentos, apoio e fomento para o
setor cultural. Aqui, mais uma ressalva
deve ser feita: é preciso ter cuidado então
para que a arte e a cultura não sejam
sequestradas pela economia e que as
especificidades da produção neste
campo sejam consideradas tanto no
processo de investigação dos impactos
econômicos quanto nos discursos que
irão basear as ações voltadas para o
fortalecimento dos segmentos que o com-
põem. Assim, não se trata de abdicar de
estudos e pesquisas que orientem o
fomento a este campo, mas de observá-lo
em suas especificidades.
Logo, o discurso centrado na men-
suração econômica desconsidera que
parte da especificidade deste campo é ser
uma prática do fazer cotidiano de seus
agentes e o público que dele participa.
Um dos objetivos deste artigo é discutir
estes pressupostos, tendo em conta os
significados que o fazer cultural assumem
para os seus agentes, ou seja, observan-
do as dimensões não-econômicas que lhe
dão sustentação. Acredita-se que artistas,
empresários, produtores, financiadores e
público participem deste campo não
apenas por motivações econômicas, mas
também por interesses pessoais e subjeti-
vos, difíceis de serem mensurados e que,
por vezes, contrariam a lógica econômica
clássica. Isto parece mais notável em
manifestações culturais populares ou que
não são baseadas nas indústrias culturais
reguladas pelo Estado – como a indústria
fonográfica, a cinematográfica, ou mesmo
teatro e televisão – e podem, por isso,
serem caracterizadas como economias
informais da cultura.
Para Cunha (2006), a imprecisão
do conceito de informalidade, na medida
em que é tomada para explicar diferentes
fenômenos, é ao mesmo tempo fonte das
críticas que ele recebe como categoria
analítica e da força que tem enquanto tal,
pois justapõe estes mesmos fenômenos.
A sua utilidade estaria menos em obser-
var um fenômeno como emergência do
conceito do que “como um processo, no
At the heart of the creative economy
lie the creative industries. Loosely
defined, the creative industries are at
the crossroads of arts, culture, busi-
ness and technology and use intellec-
tual capital as their primary input.
Today´s creative industries range from
folk art, festivals, music, books, news-
papers, paintings, sculptures and
performing arts to more technology-
intensive subsectors such as the film
industry, TV and radio broadcasting,
digital animation and video games,
and more service-oriented fields such
as architectural and advertising
services. (UNCTAD, p. IV: 2008)
4
Tal visão se espraiou e conseguiu
adesão em outros países europeus, cuja
economia “clássica” apresentava fortes
vínculos com indústria cultural. Rapida-
mente países em desenvolvimento –
entre eles o Brasil (IBGE: 2006) – passa-
ram a dedicar mais atenção aos impactos
econômicos das indústrias culturais, bus-
cando mensurá-los. Iniciaram-se então
processos para identificar como os seto-
res criativos contribuem para o fortaleci-
mento das economias nacionais, levando
em consideração o peso destes na gera-
ção de emprego, renda e impostos em
diversas regiões. A favor das chamadas
indústrias criativas contaria ainda o perfil
socialmente inclusivo – visto que espe-
cialmente as artes permitem maior inser-
ção de grupos subalternos – e seu menor
potencial de dano ecológico ou, em outra
perspectiva, o maior potencial de susten-
tabilidade em longo prazo.
Observa-se um aspecto fundamen-
tal do modo como as economias criativas
são pensadas: entende-se que elas abar-
cam o trabalho criativo ou intelectual, a
promoção e a gestão das ideias e da
inovação. Estas categorias usuais para se
debater a economia criativa revelam que
ela é pensada a partir da velha antinomia
trabalho intelectual / trabalho manual.
Quando esta antinomia é internalizada
enquanto uma dialética, o pensar e o
fazer de manifestações artísticas ou cultu-
rais individuais ou coletivas, pode indicar
caminhos interessantes para sua compre-
ensão em diversos vieses, incluindo o
econômico. Porém se vista como uma
oposição inconciliável, no qual o pensar
ou o intelecto tem primazia, dificilmente se
poderá chegar a algum lugar, visto que as
cadeias produtivas das indústrias criativas
englobam tanto do trabalho chamado
“manual” – ou prático – quanto do trabalho
“intelectual” - ou criativo.
Como hipótese devemos conside-
rar que a criatividade é parte de todas as
indústrias e serviços, assim como a exe-
cução – ou a prática – são essenciais para
a materialização de qualquer que seja a
ideia ou criação. E que o “gênio criativo”
não se encerra em um indivíduo, mas é
fruto do trabalho cooperativo de diversos
sujeitos sociais – indivíduos ou grupos –
interligados em rede.
Outro ponto a ser destacado diz
respeito ao que se considera essencial
como resultado do produto artístico ou
cultural. Na visão economicista a produ-
ção se destina á comercialização e em
ambos os casos a lucratividade é parte
essencial do negócio. Deste modo,
torna-se difícil compreender como levar
adiante modelos de negócios financei-
ramente pouco rentáveis. Como enten-
der que empreendedores culturais
visem dedicar seu tempo sem a pers-
pectiva de retorno financeiro a curto,
médio ou longo prazo? Todas estas
questões são exaustivamente trabalha-
das nos cursos de gestão de negócios
(e, atualmente, no que se convencionou
chamar, gestão de carreiras). No entan-
to, quando pensamos no profissional ou
empreendedores da cultura, comumen-
te lembraremos expressões como “voca-
Nesta comunicação buscamos
compartilhar uma experiência de pesqui-
sa social na área de economia da cultura,
com o objetivo de trazer novos elementos
para o debate travado neste campo.
Assim apresentamos as contribuições
que as investigações realizadas com
agentes atuantes no mercado do funk
carioca nos trouxeram investigarmos os
impactos econômicos da produção deste
gênero na cidade do Rio de Janeiro. O
Funk, assim como outras manifestações
culturais, é intrinsecamente vinculado ao
contexto socioeconômico e cultural dos
seus artistas e produtores. Porém, e
apesar de usar uma linguagem escrita e
musical totalmente referenciada a estes
contextos, expandiu-se para além de suas
regiões originais, tornando-se conhecidos
no Brasil e no exterior.
Para Miguez (2007) a antropologia
e a sociologia da cultura perderam a
hegemonia sobre este campo com a pers-
pectiva lançada pelos estudos de econo-
mia da cultura. Esta nova compreensão
ressalta a sua importância para o desen-
volvimento humano e que sua substancial
magnitude econômica tem contribuído
para que governos e empresas lancem
sobre a economia da cultura um novo
olhar. Colabora para esta nova configura-
ção a atual importância dada à capacida-
de criativa como novo motor da economia
capitalista (MIGUEZ: 2007). Assim, este
campo vem recebendo maior atenção, se
tornando objeto de estudo e de políticas
públicas, orientados pela compreensão
da cultura como fator de desenvolvimento
econômico. É neste contexto que cresce o
estímulo à produção de dados que infor-
mem o tamanho e a importância deste
setor para as economias nacionais
(UNESCO: 2003, UNCTAD: 2008), assim
como uma tendência mundial na identifi-
cação de vocações culturais locais que
possam se concretizar também na forma
de produtos e serviços que contribuam
para o desenvolvimento socioeconômico
(SCOTT: 1997). Neste sentido o próprio
processo de produção de bens culturais
pode ser considerado como um vetor de
desenvolvimento do qual o público / con-
sumidor participa de forma mais efetiva e
interativa (HERSCHMANN E KISCHI-
NHEVSKY: 2005).
Em resumo, a produção e circula-
ção de bens culturais passam a ser
vistas como novas formas de pensar os
rumos do modelo de desenvolvimento
socioeconômico e que podem ser com-
preendidas a partir de seu potencial
transformador: como veículo de promo-
ção do desenvolvimento social fortemen-
te atrelado ao desenvolvimento humano.
Contudo, esta perspectiva vem se cen-
trando quase que exclusivamente na pro-
dução de dados quantitativos cujo objeti-
vo é demonstrar o potencial econômico
do fazer cultural (ver IBGE: 2006). Esta
produção vem se tornando, então, base
de um discurso de valorização econômi-
ca da esfera cultural frente às outras
esferas sociais, apoiada na expansão do
conceito de diversidade cultural, que tem
orientado políticas nacionais específicas
(MIGUEZ: 2007).
Este tema da economia da cultura
entrou em voga ao longo da primeira
década deste século, com o fortalecimen-
to da perspectiva britânica da economia
criativa – que embarcaria tanto os fazeres
e práticas artísticas e culturais quanto as
indústrias e serviços, no sentido mais
estritamente econômico, de jogos eletrô-
nicos, música, cinema, rádio, TV, livros,
etc. – como motor da economia em
tempos de revolução tecnológica
3
.
quase todos estes eventos de bailes,
existe uma distinção bastante clara entre
eles: de um lado temos os bailes de
comunidade e, de outro, todos os outros.
Os bailes de comunidade são realizados
em praças, quadras esportivas ou de
escolas de samba das comunidades e
favelas do Rio de Janeiro e de sua região
metropolitana. Contudo, a principal dife-
rença feita pelos agentes foi a dos bailes
de comunidade e a dos bailes de clubes –
bailes realizados em clubes esportivos,
quadras fora dos espaços das favelas,
casas de shows e eventos, etc.
10
Apesar do retorno financeiro mais
baixo, os agentes do Funk são categóri-
cos em afirmar que a sua “força” e “inspi-
ração” vem justamente da relação direta
com o público que frequenta os bailes de
comunidade
11
: as músicas compostas
visam atender este público e acredita-se
que uma música só pode fazer sucesso
se “estourar” no baile: afirmam que estes
bailes são importantes para aqueles que
estão entrando neste mercado e ainda
como marca identitária de seus morado-
res. A maioria dos MCs, DJs de Funk e
Donos de Equipes nasceram nas áreas
em que tocam e comumente são nos
bailes próximos de sua casa que primeiro
fazem sucesso. Por um lado existe entre
os seus agentes a percepção de que
serão estes os lugares nos quais o Funk
sempre será sucesso, mesmo que saia de
moda ou perca seu espaço na mídia. E
por isso os próprios agentes vêm procu-
rando novas formas de sustenta-los nas
comunidades sem que se tornem mais
caros ou menos acessíveis.
A despeito do seu valor simbólico,
no entanto, os bailes de comunidade vêm
perdendo prestígio – não pelo baixo retor-
no financeiro, mas pelo risco que se torna-
ram, pois os agentes sentem-se ao
mesmo tempo reféns do tráfico e da polí-
cia: primeiro, em muitas áreas a influência
do tráfico está presente mesmo que os
donos de equipe tentem evitar. Alegam
que a “ordem” que o tráfico estabelece
para a comunidade também vale para a
realização dos bailes. Por outro lado, o
aparato policial se valeria de recursos
legais – como a proibição do volume de
som – para pedir suborno, basicamente
para as equipes de som – proprietárias de
equipamentos. Na medida em que ficam
mais “famosos”, os agentes evitam bailes
que sabem serem organizados em áreas
nas quais traficantes são seus principais
“patrocinadores”, seja pela “origem” do
dinheiro, seja pela maior frequência de
batidas policiais nestas áreas.
Isto, contudo, não parece tender
para o fim dos bailes que são realizados a
baixo custo ou mesmo gratuitamente nas
comunidades, mas sim para a mudança
na forma como eles são realizados.
Assim, uma alternativa que alguns agen-
tes têm encontrado para realizar os bailes
nas comunidades é contar com financia-
mento dos barraqueiros e comerciantes
locais para a contratação de uma equipe
e de DJs. Esta alternativa envolve uma
delicada relação, pois “abrir” mão do
“financiamento” oferecido pelo tráfico não
é apenas uma questão de desejo pessoal
– ou seja, não adianta apenas querer que
o tráfico não financie o baile, é preciso
que ele permita que seja assim. Nestes
casos uma delicada negociação é realiza-
da com o argumento de que isto contribui
para a melhoria da imagem da comunida-
de, do baile realizado lá e do próprio
Funk. Segundo um informante isto é pos-
sível em alguns lugares. Porém a realiza-
ção de bailes é visto como mais uma
forma de obter prestígio e, por isso, seria
difícil conseguir esta “permissão” em
todas as localidades
12
.
Deste modo, os bailes promovidos
pelos donos das equipes de som, ou por
produtores que as convidam, em clubes
da, que então se responsabiliza pelo
pagamento de MCs, DJs e demais profis-
sionais envolvidos.
DONOS DE EQUIPES, DJs e MCs – A
RELAÇÃO ENTRE OS AGENTES
No Funk é o seguinte: tem que estar
preparado para balançar o Baile. Na
equipe é diferente, é o som que
manda... (...) no Baile agente não
sabe da parada... Se for uma equipe
pequenininha, se ela fala direitinho
com um DJ sinistro tocando, está
ligado? O que importa é a disposição
do DJ, está ligado? Antigamente
tinha mais isso (...) A cultura das
equipes de som... Elas foram... Elas
foram... É o seguinte, existiam várias
equipes de som. Aí o que acontece?
As equipes de som se achavam
donas do movimento. Então enquan-
to elas mandavam, elas eram donas
do movimento. Mas a partir do
momento que a gente viu que os MCs
trariam ao público, independente de
qual o nome e de qual é a equipe, o
mercado mudou. Então várias equi-
pes foram para o ralo, por quê?
Porque várias equipes nasceram na
época da proibição do Funk ou um
pouquinho antes. (MC)
O mercado do Funk no Rio de
Janeiro se estrutura a partir de três agen-
tes principais que se instituíram como
partes definidoras do gênero: as Equipes
de Som, os DJs e os MCs. Os dois primei-
ros surgiram com a chegada e o cresci-
mento dos bailes Funk ao longo da
década de 1980. Os últimos são mais
recentes e surgiram no mercado no final
da década de 1980, quando os funks pas-
saram a ser cantados em português, mas
cresceram em importância já no fim dos
anos 90. Eles possuem uma relativa inter-
dependência entre si, na medida em que
todos são imprescindíveis para o baile.
Os MCs vinculados às equipes
alegavam que, por permitirem que editas-
sem suas músicas, estavam em um círcu-
lo de subordinação com elas. O trabalho
de edição consiste em fazer o registro da
canção no ECAD e o recolhimento do
respectivo direito autoral do artista. Ela
existe em todo mercado musical e na
indústria fonográfica está ligado às grava-
doras. No caso do Funk, as editoras
pertencem às maiores equipes do merca-
do: uma vez que a música foi editada, só
a equipe que a editou poderia permitir a
sua execução. Apesar de parecer bastan-
te desvantajoso para o compositor, ter a
música editada surge como uma “quase”
garantia de que seria tocada em algum
baile realizado por uma das grandes equi-
pes – que têm também mais acesso aos
meios de comunicação como programas
de TV e rádio. Uma vez tocada,
configurar-se-ia uma “oportunidade” dada
pelo dono da equipe e, desta forma, os
MCs contraíam uma “dívida” com a sua
editora e só poderia tocar para equipes na
qual tivesse feito a edição
18
.
Assim, algumas das equipes pos-
suem um cast formado por MCs e DJs
próprios, que tocam apenas em seus
bailes. Neste caso, estes profissionais
dependem dos bailes que os donos das
equipes lhes convidam para fazer e elas
geralmente “gerenciam” as suas carrei-
ras, ou seja, não somente marcam os
bailes dos quais devem participar, mas
também indicam quais músicas devem
gravar e tocar. Neste caso, não é permiti-
do a estes profissionais tocar com outras
equipes, MCs ou DJs – mais os primei-
ros que os segundos.
Segundo os DJs e MCs não seria
fácil sair das equipes depois que elas
editam algumas de suas músicas: tanto
porque os proíbem de tocar em outras
equipes e mesmo em programas de
rádios de outros DJs, quanto porque
sequer têm essa possibilidade. Apenas
aqueles que conseguem ter uma sequên-
cia de músicas “estouradas”, (ou seja,
conhecida para além dos bailes locais e
muito pedida nos programas de rádio que
tocam Funk) conseguem então furar este
sistema. Para os MCs, quando isto acon-
tece, buscam novos empresários ou
passam eles próprios a gerenciarem
suas carreiras. Os DJs buscam progra-
mas de rádio ou montam equipes pró-
prias. Em todo caso, ambos tornam-se
independentes e passam a cantar ou
tocar em diversos tipos de bailes.
Muitos MCs da “velha guarda”
19
não “pertenciam” a equipes, mas conta-
vam com empresários. No campo do Funk
o empresariamento significa principal-
mente conseguir shows e espaços para
que o MC ou DJ se apresente. E, deste
modo, ter mais de um empresário signifi-
cava maiores possibilidades de shows.
Conseguir espaços – principalmente em
bailes, mas também em shows e outros
eventos – implica em ter uma rede de
relações e uma boa aceitação dentro
deste mercado. Neste sentido, o empre-
sário age mais como um agenciador.
Estas tarefas são compreendidas pelos
funkeiros como divulgação, na medida em
que o empresário tem que levar discos
com as músicas do MC para os produto-
res dos eventos escolherem. Assim, neste
processo há também uma estratégia de
convencimento do contratante.
São poucos os que atuam apenas
como empresários / produtores. A maioria
dos empresários também são DJs ou
donos de equipe e, alguns poucos casos,
MCs. Suas funções são organizar a
agenda dos MCs ou DJs que atuam inde-
pendentemente de equipe, divulgar suas
músicas nas rádios e nas equipes de som
e cuidar de seus contratos (geralmente
informais). Nos dias de shows, geralmen-
te são os responsáveis pelo recebimento
do cachê e pagamento da equipe que
acompanha o artista empresariado
(quando este tem uma equipe). Estes
empresários geralmente trabalham com
uma lista de MCs e chamam as equipes
para fazerem seus eventos. Mas também
é muito comum que a carreira do artista
vire um empreendimento familiar: alguns
empresários são também secretários,
motoristas, maridos ou esposas do MC.
Outros atuam ainda como produtores,
realizando festas e eventos para o qual
contrata exclusivamente o seu casting, ou
são donos de equipes.
Na estrutura principal do Funk, os
contatos informais prevalecem. Alguns
MCs, DJs ou Donos de Equipes pedem
parte do pagamento adiantado. Porém, é
mais comum que o trabalho seja feito “na
confiança”, ou seja, sem adiantamento ou
garantias contratuais. Algumas vezes um
MC pode aparecer em um baile sem ter
sido chamado, sendo pago do mesmo
modo. O contrário também pode ocorrer e
um MC contratado para a noite não
cantar. Então receberá seu cachê de
acordo com a relação que tiver com o
produtor ou equipe que produziu o baile.
Há mesmo aqueles que “apareceram”
para cantar, o fizeram e não receberam
cachê. Nestes casos, entende-se que ele
cantou em troca da divulgação da sua
música. Se há um padrão – tocar ou
cantar em troca de um cachê – ele é posto
a prova todo o tempo, imiscuído por rela-
ções pessoais, conflitos entre os agentes
e soluções que podem exigir a interferên-
cia de agentes externos.
O MERCADO PARA CADA AGENTE
[Por que vai tocar na comunidade sem
receber] A comunidade cara... A gente
vai em uma de divulgar, entendeu?
Para cantar para a galera. Porque não
adianta você ir para a comunidade e
esperar uma boa grana. A não ser que
o cara fale: “Eu vou te pagar. Qual o
número da sua conta que eu já vou
depositar 50%.” Aí tudo bem. Agora se
você vai para comunidade e o cara fala
que vai te pagar tanto... Chega lá você
canta e fica esperando o cara. A comu-
nidade é aberta. Não tem portaria.
Então, hoje em dia eu vou à comunida-
de cantar assim: “Oh cara paga o carro.
R$ 100,00 é o carro... o transporte por
exemplo...” Tem muita gente que não
acredita... mas eu faço isso. (MC)
Nesta última seção iremos nos
deter nas características mais específicas
do mercado, comparando alguns dados
entre os agentes para então apresentar
detalhes de cada um. Pensamos assim
cumprir um dos objetivos gerais deste
paper, que seja o de oferecer uma visão
que venha da estrutura geral do mercado
para a organização particular de cada
segmente que o compõe, configurado
através do modo como cada agente se
pensa e se situa.
O mundo Funk é predominante-
mente masculino e a presença feminina
vem se fortalecendo entre os MCs. Não há
mulheres entre DJs e apenas uma mulher
tem sua própria equipe. De um modo geral,
as mulheres atuam apenas como dançari-
nas de equipes ou MCs. Dado que entra-
ram no mercado a bem menos tempo, os
MCs têm carreira mais curta e idade menor
do que os DJ e donos de Equipe: respecti-
vamente, MCs, DJs e Donos de Equipes
têm, em média, nove, treze e quinze anos
de carreira (FGV: 2008).
AS EQUIPES E SEUS DONOS
As equipes de som são a base sim-
bólica do Funk, tanto porque foram
responsáveis pelo seu surgimento no
formato atual quanto por terem colabora-
do ativamente para a sua permanência.
Geralmente têm um “dono”, que pode ser
um empresário e/ou DJ. É ele quem leva a
cabo a negociação para apresentação em
bailes e para a gravação de CDs. De um
modo geral, são os donos das editoras e
promovem os bailes mais concorridos. Em
um rol de 67 equipes, cerca de dez – as
principais – são consideradas grandes ou
médias e seus proprietários são tidos não
somente donos de suas equipes, mas
vistos como “senhores” do destino do
Funk – tal é o poder que alguns dos
demais agentes lhes atribuem. Este poder
– econômico mas, sobretudo, simbólico –
leva a uma relação desestruturada entre
os agentes, na medida em que, assim que
“conquistam” independência de uma
equipe, MCs e DJs se afastam. E se todos
reconhecem nas equipes a base do baile,
são creditados também aos seus donos a
marginalização do ritmo.
Um caso ilustra estes conflitos: um
MC teve sua música editada por uma
grande equipe e foi recorde de downloads
em celulares. Ele esperava receber pelos
direitos autorais um valor maior do que o
recebido e alega que foi roubado pelo
dono da equipe nesta transação. O dono
da equipe, por sua vez, afirmou que o
pagou corretamente e que o cálculo do
MC foi feito sobre o valor final da venda –
através de um site na Internet -, desconsi-
derando os impostos e outros custos a
serem pagos. Esta breve descrição ilustra
os conflitos mais comuns entre os princi-
pais agentes do mercado, originados, em
parte, pela própria informalidade das rela-
ções: a ausência de contratos ou docu-
mentos formais geralmente é usado como
instrumento que demonstra uma relação
de confiança entre as partes, mas que,
facilmente, ser torna a base da acusação.
As grandes equipes podem ter
uma submarca, que representam o tama-
nho do equipamento que será levado
para um baile. Estes equipamentos são
formados por um conjunto de caixas de
som que são empilhadas uma sobre as
outras formando o que nos bailes se
chama de “paredão”
20
. Geralmente estes
“paredões” são decorados com cores ou
cenários que identificam as equipes e,
segundo seus donos, são o grande atrati-
vo do baile. As equipes podem ser equi-
pes de som que têm uma “marca” mais
conhecida – como a Furacão 2000
21
, a
Big Mix
22
, a PitBull
23
, a Glamourosa
24
e a
CurtiSomRio
25
– ou equipes que forne-
cem equipamentos – como caixas de
som, jogos de luzes, mesas de som –
para as equipes grandes, que são cha-
madas de equipes arrendadas.
A criação de sub-equipes dentro
de uma equipe maior se mostrou uma
diversificação importante para os seus
donos, pois assegurou que possam reali-
zar mais bailes no mesmo dia a preços
diferenciados. É neste momento que as
equipes recorrem aos aluguéis de equi-
pamentos de outras equipes, pois o custo
de manutenção dos mesmos seria alto e
nem sempre todos as “sub-equipes”
sairiam para eventos em um mesmo dia.
Alegam ainda que, desta forma, as equi-
pes que alugam seus equipamentos
também conseguem sobreviver, pois
trabalham com diferentes equipes gran-
des e alugariam seus equipamentos
quase todos os fins de semana. O aluguel
de equipamentos, contudo, é visto como
uma decadência por alguns daqueles que
o fazem, na medida em que se afirmam
terem se sentidos pressionados pelo
crescimento de algumas poucas equipes
que passaram a “dominar” este mercado.
Outra estratégia foi iniciar uma carreira
fora do estado do Rio de Janeiro: Minas
Gerais, São Paulo e Espírito Santo
tornaram-se então destinos preferenciais.
OS DJs E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Os DJs são aqueles que mais têm
diversificado suas funções dentro do Funk
e atuam não somente como Disk Jockeys,
mas também como empresários, produto-
res de eventos, apresentadores de
programas de rádio e produtores musi-
cais. Podem ser classificados também
pela posição que ocupam em relação aos
donos de equipes e MCs, sendo:
a) Aqueles que atuam ligados a
uma equipe – esta era a forma mais tradi-
cional de um DJ atuar no Funk carioca.
Eles tocam nos bailes, shows, festas e
eventos que uma equipe de som realiza.
Segundo os DJs entrevistados, não é
comum que os DJs troquem de equipe,
mas pode acontecer caso um deles se
torne muito famoso e seja convidado por
outra equipe de som. Nestes casos não
conta apenas o valor do cachê, mas o
tamanho da equipe que faz o convite e a
“proposta” de trabalho que ela oferece. No
geral, um DJ ligado a uma equipe é
aquele que ganha menos, pois seu cachê
é fixo para tocar por uma noite inteira em
um mesmo baile – ao contrário dos MCs,
que podem fazer mais de um evento por
noite. Outra razão para que um DJ deixe
uma equipe é a chance de montar uma
equipe própria ou ainda de atuar no rádio
com um programa somente seu. Neste
caso também podem ser incluídos os DJs
“residentes” de uma casa de shows ou
eventos mais associados ao Funk.
b) Aqueles que atuam por conta
própria, montando uma estrutura para si
esta é a forma mais recente e em cresci-
mento. São DJs que tocavam em alguma
equipe de som, porém que montaram
uma nova equipe ou uma estrutura para
si – com alguns equipamentos e um
empresário / produtor – e pode escolher
os bailes ou eventos em que irá tocar.
Alguns deles passam a tocar no rádio ou
a terem seus próprios programas. Neste
caso ele atua como DJ e, na medida em
que monta uma pequena empresa,
mesmo que informal.
c) Aqueles que são ligados a algum
MC - estes DJs acompanham os MCs
mais conhecidos em shows, bailes e
eventos. Não são todos os MCs que têm
DJs, mas isto está correlacionado à fama
do MC, pois se dificilmente um MC conhe-
cido na mídia e nas comunidades não tem
um DJ, muitos MCs iniciantes também os
têm. Importa mais as relações estabeleci-
das entre o MC e o seu DJ (o MC se refere
ao DJ que o acompanha como “seu”), que
são de amizade e parentesco. Quando
este DJ toca com um MC mais conhecido
ele tem um cachê fixo. Quando toca com
um MC menos conhecido, seu cachê varia
de acordo com o cachê do próprio MC.
Muitos deles, além de DJs, são também
motoristas, secretários e/ou empresários
dos MCs aos quais acompanham.
d) DJs de comunidade: são aque-
les que possuem pequenos estúdios e
produzem músicas dos MCs. Estão mais
próximos dos produtores musicais e
podem estar incluídos nas categorias
acima. Alguns são residentes de equipes
ou casas de shows, outros acompanham
um MC específico, apesar de trabalhar
para vários outros, e há ainda aqueles
que têm uma estrutura própria. Estes DJs
são muito procurados, pois são conside-
rados aqueles que tornam a música um
sucesso, não somente por suas capaci-
dades técnicas, mas pela rede de conta-
tos que mantêm. Não significa que um DJ
irá divulgar uma música, mas ele será
procurado por quem está em busca de
novidades e poderá também indicar uma
música que ache interessante para
alguma equipe de som ou para algum DJ
que toque no rádio.
Aparentemente também são DJs
aqueles que vêm trazendo as maiores
inovações sonoras no mercado do Funk,
seja pela introdução de novas batidas
eletrônicas, seja pela incorporação de
outros gêneros musicais ao ritmo. Em uma
hierarquia de prestígio, até o início dos
anos 2000 sustentavam-se na medida em
que eram considerados capazes de des-
cobrir sucessos, porém detinham pouco
prestígio: vale destacar que até a década
de 1990 tocavam de costas para o público.
Porém, o desligamento das equi-
pes, as oportunidades surgidas com a
música eletrônica, a popularização das
tecnologias de gravação e mixagem, o
surgimento de novas casas de shows e
boates que tocam o ritmo e a valorização
do DJ no cenário musical em geral deram
a eles oportunidade de negociarem
cachês melhores.
Do mesmo modo, sua importância
simbólica também aumentou, na medida
em a atuação destes profissionais em
programas de rádio passou a ser vista
pelos MCs como novas estratégias de
divulgação de sua música. Assim, MCs e
DJs passaram a estabelecer uma relação
mais direta e, aparentemente, ao largo das
equipes. Ao contrário das acusações
surgidas de MCs e DJs contra donos de
equipe (e vice-versa), entre estes dois
primeiros segmentos os discursos reme-
tiam à ideia de parceria, bem como ao estí-
mulo por parte de MCs para DJs amigos
seus que ainda estivessem vinculados a
alguma equipe se “aventurassem” fora
delas. Para estes MCs, as equipes tolhiam
a liberdade criativa de seu “amigo DJ”.
OS MCs COMANDAM OS BAILES
Os MCs são cantores / composito-
res que animam os bailes e festas. Surgi-
ram no final da década de 1980, quando
o Funk passou a ser cantado em portu-
guês. A proibição da realização dos bailes
Funks em clubes na década de 1990
parece ter alterado em muito as caracte-
rísticas do mercado do Funk, pois a perda
dos espaços “tradicionais” das equipes
de som exigiu que elas se reestruturas-
sem. Neste processo a figura do MC
começa a ganhar algum espaço, ainda
que subordinado às equipes. Ele logo se
torna um uma figura de destaque no
baile, que passa a ser marcado pela apre-
sentação de vários deles
26
.
Mais recentemente surgiram os
bondes
27
– grupos formados por um MC –,
e os rebolões – dançarinos que o
acompanham
28
. Apesar da figura do MC em
um bonde ser reconhecida, ele não parece
gozar de mais prestígio que os rebolões,
pois o bonde é sempre descrito e apresen-
tado em grupo. Aparentemente os grupos
de bondes são considerados menos autên-
ticos que os MCs – especialmente os MCs
da “velha guarda”. Esta inautenticidade viria
do fato de – na maioria dos casos – os
bondes não cantarem ou comporem. Cola-
bora também a ênfase que dão à estética (o
que parece chocar o mundo masculino do
Funk) e, deste modo, são considerados
mais dançarinos do que MCs.
O caminho mais comum para um
MC entrar no mundo Funk é participar de
uma equipe de som, o que leva diversos
jovens candidatos a frequentarem as
“sedes” (que pode ser um escritório ou a
própria casa do dono da equipe) munidos
de CDs demo com músicas produzidas por
algum DJ que mora na mesma comunida-
de ou bairro. Assim, mesmo com a reputa-
ção das equipes, elas ainda são vistas
como canais de entrada para o funk, pois
permitem que o MC toque para um público
que vai além daquele de sua própria
comunidade. Outro novo ponto de “pere-
grinação” destes jovens são os programas
de rádios dedicados somente ao gênero.
Neste caso, é preciso convencer ao DJ
titular do programa a ouvir sua música.
A partir dos anos 2000 – mais
especificamente, a partir de 2003 – o MC
começou a se desligar das equipes e a
conquistar um espaço próprio, não
somente porque sua imagem pública foi
recolocada no cenário musical – e ele
passou a ser visto como um artista – mas
principalmente porque conquistou novos
espaços para execução de suas músicas,
que não somente os bailes Funk anima-
dos pelas equipes de som. Além disso, tal
como ocorreu com o DJ, o crescimento
da música eletrônica e a popularização
do uso da Internet possibilitaram que ele
vislumbrasse uma carreira fora do Rio de
Janeiro – e mesmo fora do País. Contri-
buiu para isto ele contar com uma estrutu-
ra menos “pesada” que as equipes de
som, assim como a rede de relações
estabelecidas entre MCs nacionais e
produtores estrangeiros.
Os cachês de MCs (assim como de
DJs e Equipes de Som) ainda são maiores
nos bailes realizados em clubes, mas o Inte-
rior do estado do Rio já significa uma praça
significativa para este grupo (FGV: 2008).
Apesar disso, assim como para
DJs e Equipes, tocar em comunidades
ainda possui um lugar simbólico superior
na hierarquia de prestígio, é neste seg-
mento que isto fica mais evidente. Uma
das formas habituais de pagamento de
MCs (e às vezes de DJ) para tocarem em
comunidade é o “carro”, ou seja, um valor
simbólico que cubra despesas de deslo-
camento do artista ou, em algumas situa-
ções, o “carro” propriamente dito, enviado
pelo promotor do baile no qual o artista irá
tocar ou cantar. Se tocar na comunidade
surge como um sacrifício em nome do
Funk, ir “em troca do carro” é o sacrifício
supremo, pois pode implicar em péssimas
condições de deslocamento, mesmo para
MCs cujos cachês estejam em torno de
R$ 3.000,00 ou mais.
Cabe então perguntar: por que
tocar na comunidade, se é arriscado e
não traz retorno financeiro? Tocar no baile
é tocar para uma multidão e divulgar a sua
música para o maior número possível de
pessoas. Porém existem também os
vínculos afetivos da infância, o discurso
sobre “passar esperança” para a “comuni-
dade”, “sentir o calor do público que
nunca abandonou o Funk”, entre outros.
Contudo, evidencia-se nos discursos a
relação de troca não se dá apenas entre
os agentes principais – não somente DJs,
MCs e Donos de Equipes trocam moedas
e favores entre si – mas também com o
público da música Funk. Não se trata
então de pensar que é a comunidade
quem precisa do MC, da Equipes ou do
DJ, mas sim que são estes agentes que
precisam do público morador desta comu-
nidade, não como número, mas como
marca identitária do gênero.
CONCLUSÃO
Para Douglas (2007), ao tratar a
economia como um fato social total – ou
como diz a autora, uma “economia de
dádivas” – Mauss permite entender os
processos de produção e distribuição dos
bens produzidos em economias não
monetárias como um ciclo de trocas de
longo prazo. Retomamos esta reflexão
como ponto de partida para pensar a con-
figuração de mercados de indústrias
culturais informais, pensando que oferta e
demanda são considerados como parte
de um mesmo sistema unitário.
Neste sentido, apesar da ênfase
deste paper recair no que se poderia
chamar de “produtores”, buscou-se
demonstrar como eles estão intrinseca-
mente ligados aos “consumidores”, aqui
focados mais diretamente nas comunida-
des do Rio Janeiro. Pretendeu-se ainda
oferecer bases para a compreensão da
estrutura deste mercado tendo em conta
valores não quantificáveis, que, contudo,
lhe conformam e sustentam. Com isto,
não pensamos que afirmar a existência de
aspectos simbólicos em economias (seja
ela qual for) seja uma grande novidade.
Contudo, faz-se necessário estabelecer
tentativas que permitam que uma estima-
tiva econômica de mensuração de merca-
do seja acompanhada também pela tenta-
tiva de sua mensuração simbólica.
Em resumo, o mercado Funk se
caracteriza pela informalidade das rela-
ções e dos contratos. Apesar de parte das
equipes serem registradas formalmente
como empresas, a grande maioria dos
empreendimentos dos agentes principais
não é formalizada. Isto se reflete nas rela-
ções de trabalho estabelecidas. Os víncu-
los empregatícios são poucos, assim
como o estabelecimento de contratos
para apresentações e realização de
shows. Mesmo as grandes equipes têm
um número reduzido de funcionários. No
geral, o INSS é a maior preocupação em
termos de tributos
29
.
Ter o registro profissional é mais
comum entre os DJs que trabalham em
equipes ou rádios. Geralmente os DJs
das equipes são exclusivos e as outras
fontes de renda estão fora do mercado do
Funk. Para aqueles que trabalham em
rádios, apesar da “segurança” do vínculo
empregatício, sua maior fonte de renda
são os bailes e shows realizados. Contu-
do, se as relações informais são parte
deste mercado, os principais agentes vêm
tentando montar organizações com o
objetivo de criarem regras mais fixas e
claras para os contratos e cachês, como
as associações de DJs, de MCs e de
Donos de Equipes. Alguns empresários já
fazem contratos de empresariamento nos
quais os percentuais de cada parte
(empresário / empresariado) ficam esta-
belecidos e registrados.
A justificativa para este fenômeno
recente é sempre tautológica – a orga-
nização surge da necessidade de orga-
nização. Mas esta necessidade parece
surgir de demandas menos mercadoló-
gicas e mais simbólicas, dentro de
ciclos de oferta/demanda: observa-se
uma disputa de espaço que se dá princi-
palmente pelas inúmeras acusações
mútuas entre os agentes, que alegam
sempre ser a parte prejudicada. Contu-
do, ocorrem em momentos de expan-
são, como o surgimento de novos mer-
cados a serem explorados além dos
bailes em comunidade. Contudo, ao se
tornarem economicamente menos inte-
ressantes, não são excluídos deste
ciclo, mas ressignificados como base da
produção artística
.
Assim, apesar desta busca pela
formalização, as questões relevantes que
contribuem para a compreensão deste
mercado que não podem ser mensuradas
a partir de estatísticas econômica – como
o fato dos bailes em comunidades conti-
nuarem a existir apesar de serem social-
mente mal visto e mesmo considerados
bastante arriscados pelos próprios
agente, ou formas de pagamento não
monetárias, como a troca do cachê por
gasolina ou valores simbólicos. Desconsi-
derar estes aspectos nos dá uma visão
incompleta deste mercado, o que pode
torná-lo economicamente irracional.
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MIGUEZ, Paulo. Alguns aspectos do processo
de constituição do campo de estudos em econo-
mia da cultura. Apresentado no Seminário Inter-
nacional em Economia da Cultura (Recife, 16 a
20 de julho 2007).
MIZRAHI, Mylene. Indumentária Funk: a confron-
tação da alteridade colocando em diálogo o local e
o cosmopolita. Horiz. antropol. , Porto Alegre, v.
13, n. 28, 2007.
SANTOS, Elizete Ignácio. Música caipira e
música sertaneja: classificações e discursos
sobre autenticidades na perspectiva de críticos
e artistas. Elizete Ignácio dos Santos. Rio de
Janeiro: UFRJ, IFCS, PPGSA, 2005.
SCOTT, Allen. J. “The cultural economy of cities”,
in International Journal of Urban and Regional
Research, 1997, vol. 21, n.º 22.
UNCTAD/DICT, Creative Economy Report 2008.
Disponível IN:
<http://www.unctad.org/Templates/WebFlyer.a
sp?intItemID=5109&lang=1>
1
Doutoranda e mestre em Antropologia pelo programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
substituta do Dpto. De Ciências Sociais e Extensão
Rural da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Consultora no desenvolvimento de metodologias de
pesquisa da Plus Markting Pesquisas.
2
Este paper é um dos resultados da pesquisa desenvol-
vida pelo Núcleo de Pesquisa Social Aplicada do Centro
de Pesquisas e Documentação de História Contemporâ-
nea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC/FGV), no âmbito do Laboratório de Pesquisa
Aplicada realizado em conjunto com os alunos do curso
de Ciências Sociais da Escola Superior de Ciências
Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Agradeço espe-
cialmente a Jimmy Medeiros pela valiosa colaboração
na elaboração dos dados e condução do trabalho de
campo. Em parte sua realização veio dialogar com o
estudo sobre o Tecnobrega Paraense, realizado pelo
Centro de Tcnologia e Sociedade da FGV, cuja metodo-
logia foi replicada no estudo sobre o funk. A pesquisa foi
iniciada em maio de 2007 e resultou em um relatório
com dados quantitativos sobre o mercado do Funk.
Outra versão deste artigo foi apresentada no 32º Encon-
tro Anual da ANPOCS, no GT Cultura, Economia e
Política. Nele inserimos também dados sobre o dimen-
sionamento deste mercado. No entanto, neste paper
buscamos enfatizar as dinâmicas do mercado do Funk
na cidade do Rio de Janeiro.
3
Ver relatórios Creative Industries Mapping Document,
Department for Culture, Media and Sport, do Governo
Britânico.
4
No mesmo relatório temos uma definição mais ampla do
conceito de economia criativa, que abarca “[the] econo-
mic, cultural and social aspects interacting with technolo-
gy, intellectual property and tourism objectives” (p. 15).
5
Para uma leitura sobre o uso destas categorias no
campo da música, especialmente no campo da música
caipira e da música sertaneja, ver Santos, 2005.
6
Neste caso temos inúmeros de exemplos de empreen-
dimentos que buscam se afastar do modelo econômico
clássico, especialmente o empreendimentos e econo-
mia solidária.
7
Para uma definição do funk carioca, ver o verbete do
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:
http://www.dicionariompb.com.br/funk. Para ver ou ouvir
funks cariocas, ver lista de links indicados no fim do artigo.
8
Atualmente parece haver um desejo de formalização e
profissionalização dos diversos agentes, seja com o
estabelecimento de contratos mais formais, seja na
busca de formas melhores de negociação de cachês.
Este movimento indica uma mudança crescente nas
relações entre os agentes que, contudo, ainda não
são vistos como uma alternativa feliz, na
medida em que também visam resgatar
uma relação considerada histórica do
Funk com estes espaços
13
. Segundo os
entrevistados, estes são os lugares prefe-
renciais, pois permitem que os ingressos
sejam baratos e, ao mesmo tempo, que
saiam da área de domínio do tráfico. Além
disso, segundo eles, o Funk “foi para a
comunidade” a partir da década de 1990,
quando foi proibido de ser tocado nos
clubes populares.
A realização de bailes em clubes
gera uma grande insegurança quanto ao
comparecimento do público. E devem
contar com uma estrutura e organização
maiores do que os bailes de
comunidade
14
. Além do esforço de divul-
gação, quando os bailes são realizados
nos clubes é preciso obter uma série de
autorizações e documentos que são emiti-
dos por diversos órgãos públicos como o
corpo de bombeiros, a Secretaria do
Estado de Meio-Ambiente, a polícia e o
juizado de menores. A promoção de um
único baile implica em dispensar um
esforço muito grande, sendo mais vanta-
joso organizá-lo todas as semanas,
tornando a estrutura mais fixa. Logo a
realização dos bailes em clubes e boates
confere ao próprio Funk um caráter mais
“formal” e “legalizado”, apesar de ser pen-
sado como mais caro e trabalhoso. Ao se
circunscrever no espaço do clube ou da
boate – com todo o aparato burocrático
que a realização de um evento em seu
interior exige, ele se torna parte da forma-
lidade estatal, mesmo que a maioria das
relações continue informal.
As equipes de som costumam
fazer vários bailes por semana
15
, depen-
dendo de sua estrutura. Uma grande
equipe pode fazer até quarenta bailes por
semana, com todas as suas “marcas”
16
,
enquanto uma equipe pequena pode fazer
até quatro bailes por semana. Eles acon-
tecem principalmente de quinta a sábado,
mas muitas casas de shows têm dias da
semana dedicados ao Funk. Um DJ pode
fazer mais de um baile por noite, mas
geralmente já faz parte do circuito midiáti-
co e possui alguma estrutura que se asse-
melhe a uma empresa ou equipe de som.
O mais comum é fazer um baile por noite.
Um MC pode se apresentar em até oito
bailes por noite. No entanto, entre os MCs
este número vem se reduzindo principal-
mente pelo aumento do número de
acidentes de trânsito entre eles, provoca-
dos geralmente pela urgência do desloca-
mento em toda a cidade do Rio. Atualmen-
te fazem entre três e cinco bailes por noite
e apenas os mais conhecidos se apresen-
tam todos os dias do fim de semana.
Para realizar o baile (em comuni-
dades ou clubes), as equipes contam com
uma logística própria, pois são elas que
se responsabilizam pelos equipamentos
como caixas e mesas de som, jogos de
luzes, contratarem os DJs e MCs, cami-
nhões de transporte de equipamentos,
motoristas e carregadores. A coordena-
ção das tarefas fica a cargo de um geren-
te da equipe, que normalmente é também
o técnico responsável pela montagem do
equipamento. Assim, todas as contrata-
ções passam pelas equipes.
Financeiramente as equipes
sentem-se menos privilegiadas que os
MCs. No entanto, ao contrário de que
pensam, as equipes não estão destina-
das a falir e desaparecer, pois é a partir
delas que ocorre toda a estruturação dos
bailes Funk
17
. Não há uma forma pré--
definida de pagamento nas contratações
das equipes ou um contrato formalizado.
Alguns entrevistados mencionaram que
pedem – em alguns casos – algum docu-
mento ou adiantamento do pagamento.
Porém parece ser mais comum a divisão
da renda gerada com a bilheteria do baile
entre o contratante e a equipe contrata-
parece interferir na lógica básica de troca de dádivas no
qual os contratos entre os agentes se basearam desde
a década de 1970. Percebe-se também que este desejo
se orienta pelas recentes políticas de incentivo ao
gênero e ao seu reconhecimento como uma das maio-
res manifestações culturais da cidade do Rio, ao lado do
samba. Este reconhecimento culminou no registro do
funk como patrimônio da cidade do Rio de Janeiro.
9
Como a maioria dos funkeiros são moradores das
favelas das cidades do Rio de Janeiro e de sua Região
Metropolitana, a categoria “comunidade” é positivada e
veio substituir o termo “favela”, indicando o lugar de
nascimento, convívio e sociabilidade. Não é usada
apenas pelos agentes do mundo Funk, mas entre eles a
categoria ganha o sentido de força motriz, e é uma das
razões para que, apesar de não serem “tão lucrativos”
financeiramente, os “bailes de comunidade” sejam
essenciais para a existência e continuidade do Funk e,
conseqüentemente, do próprio artista, como veremos
abaixo.
10
Vale ressaltar que dentro destas duas categorias
principais os bailes são classificados e reclassificados
principalmente pela importância simbólica em termos de
visibilidade que pode proporcionar aos agentes. Porém,
para fins analíticos, foram consideradas apenas estas
duas classificações mais abrangentes.
11
Para uma análise da relação público-artista e seus
efeitos sobre a obra produzido pelo segundo, ver
Santos: 2005.
12
A introdução das Unidades de Polícias Pacificadoras
– forças policiais voltadas para a atuação específica –
em algumas comunidades da Cidade do Rio têm altera-
do este quadro. No entanto ainda não é possível saber
quais serão os resultados desta nova política de
atuação do Estado.
13
Segundo Vianna, os bailes Funk teriam surgido
primeiro em festas e depois teria sido levado para os
clubes. (1997)
14
Apesar das reclamações em relação a insegurança
quanto ao comparecimento do público ao baile, um
grande baile de clube pode reunir até 5.000 mil pessoas.
Um baile pequeno, de comunidade, pode reunir entre
500 e 2000 pessoas, dentro e fora do espaço em que a
equipe de som está tocando. Isto porque o baile de
comunidade é um evento em si e, apesar da música
chamar atenção, o que mais conta é a possibilidade dela
ser escutada em diversos pontos da comunidade permi-
te que o público participe mesmo sem estar fisicamente
presente no lugar em que ele é realizado.
15
É difícil estimar quantos bailes acontecem no Rio e
Grande Rio por fim de semana, isto porque todas as
comunidades têm seus bailes – e em algumas delas
acontece mais de um baile no mesmo dia. Além disso,
existem os bailes dos clubes – alguns ocorrendo todos
os fins de semana, outros apenas uma ou duas vezes
por mês – e os eventos e festas realizadas eventualmen-
te, como a festa “Eu amo baile Funk”, que acontece uma
vez por mês no Circo Voador (casa de show localizada
no bairro boêmio da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro).
16
As grandes equipes de som se subdividem em
sub-equipes, ou marcas, que determinam o tamanho do
baile que irão fazer principalmente no que se refere à
potência sonora.
17
Um dos sinais da importância de uma equipe para o
baile é algo que parece vir se tornando comum: diante da
redução do interesse das equipes dos bailes de comuni-
dade traficantes compram seus equipamentos e promo-
vem seus próprios bailes com os nomes de suas equipes.
18
Muitos DJs e mesmo MCs mais conhecidos do
grande público abriram suas próprias editoras, como
forma de “escapar do esquema” das equipes. Apesar
de parecer novo, na medida em que passam a editar
músicas de outros MCs e DJs, estas novas editoras
parecem apenas replicar o “esquema” das editoras das
equipes de som.
19
Os MCs da “velha guarda” são aqueles que iniciaram
suas carreiras entre 1989 e 1995, período em que
estes personagens surgiram e se consolidaram no
cenário Funk. São, em geral, bastante novos e têm, em
média, 45 anos.
20
Além do paredão que as caracteriza, as equipes têm
jogos de luzes e mesas de som e os equipamentos para
execução dos CDs ou MDs dos MCs. Os MDs são consi-
derados mais modernos que os aparelhos de CD, no
entanto, estes últimos são considerados mais práticos.
Assim não existe uma regra e os MCs levam suas
“batidas” – os ritmos editados em algum estúdio de DJ –
nos dois formatos.
21
http://www.youtube.com/watch?v=3TLexaslHP8 ou
http://www.furacao2000.com.br.
22
http://www.outube.com/watch?v=Ilzd40hy2LE ou
http://www2.uol.com.br/bigmix/agenda.html.
23
http://www.youtube.com/watch?v=RazNuNZO0eY
ou http://www.myspace.com/sanypitbull.
24
http://www.youtube.com/watch?v=M8EG93QAvDI&fe
ature=related ou
http://veronicacostablog.blogspot.com/2010/04/equip
e-glamourosa-o-batidao-forte-do.html.
25
http://www.youtube.com/watch?v=qRH0gOPCA4I ou
http://www.festacurtisom.com/tag/curtisomrio/.
26
Não é possível concluir se o surgimento dos MCs
passou a levar mais público para os bailes, mas eles se
tornaram uma figura tão obrigatória quanto o DJ ou a
equipe.
27
Um exemplo de bonde famoso na cidade do Rio é o
Bonde do Tigrão, ver em
http://www.youtube.com/watch?v=PF5GISiOnrs.
E ainda o bonde Os Ousados:
http://www.youtube.com/watch?v=U6l_TFaoLkU&fea
ture=related.
28
Atualmente o “passinho” tornou-se uma nova modalida-
de de dança executada ao som do funk carioca e que tem
colaborado para a renovação do gênero. Para conhecer:
http://www.youtube.com/watch?v=eekle2lJCdo&feat
ure=related.
29
Um dono de equipe afirmou que estimula seu
“pessoal” a pagar “autonomia”, ou seja, a contribuir
para o a aposentadoria pública como profissional
autônomo, como um modo de ter alguma garantia caso
“aconteça alguma coisa” e também para assegurar
sua aposentadoria. Muitos DJs que trabalham em
rádio ou têm pequenas produtoras também pagam o
INSS como autônomo.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
93
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Consolidación de la Institucionalidad Cultural en Colombia 1968-2011:
un camino hacia el diálogo y participación de la sociedad civil
1
Consolidação da Institucionalidade Cultural na Colômbia 1968-2011:
um caminho para o diálogo e a participação da sociedade civil
Cultural Institution Consolidation in Colombia 1968-2011:
a way towards the dialogue and participation of the civil society
Marta Elena Bravo
2
La arquitectura institucional cultural colombiana empieza a construirse
muy pocos años después del inicio de la República. Este texto hace un
corto recorrido por momentos claves de esa institucionalidad, con énfa-
sis en la creación de COLCULTURA en 1968, la formulación de la Ley
de Cultura y la creación del Ministerio de Cultura en 1997. A partir de
entonces éstos un camino recorrido en las políticas culturales, planes
de cultura e institucionalidad que se consolidan en un interesante
diálogo con participación de la sociedad civil. Asimismo se referencia
un caso reciente local: Medellín “una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura”.
Resumen:
Palabras clave:
Colombia
Institucionalidad cultural
Contexto histórico
Plan Cultural de Medellín
2011-2020
94
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
A arquitetura institucional cultural colombiana começa a se cons-
truir poucos anos depois do início da República. Nesse trabalho
apresenta-se um curto percurso por momentos chaves dessa insti-
tucionalização, colocando a ênfase na criação de COLCULTURA
no ano de 1968, a formulação da Lei de Cultura e a criação do
Ministério de Cultura em 1997. A partir destes, apresenta-se o
caminho percorrido nas políticas culturais, planos de cultura e nas
instituições que se consolidam a partir de um interessante diálogo
com participação da sociedade civil. Da mesma forma, faz se
referência a um caso recente local: Medellín “uma cidade que se
pensa e se constrói desde a cultura”.
Just a few years after the birth of the Republic of Colombia, the cultural
institutionality and architecture of the country begins to develop. This
text goes through the key moments of those institutions, and it empha-
sized with the creation of COLCULTURA (Colombian Institute of
Culture) in 1968, the formulation of the Culture Law and the creation of
the Ministry of Culture in 1997. From those moments, a path that
contains cultural policies, cultural plans and institutions is consolidated
in an interesting dialogue, which includes the participation of the civil
society. Moreover, a reference of a recent and local case appears:
Medellin. “A city thought and built from the culture”.
Palavras chave:
Key words:
Resumo:
Abstract:
Colombia
Arquitetura institucional
cultural
Contexto histórico
Momentos chave
Plano de Cultura de Medellín
Colombia
Cultural institutionality
Historical context
Key moments
Cultural Plan of Medellín
95
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa
-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
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que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
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PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural
.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Consolidación de la Institucionalidad
Cultural en Colombia 1968-2011: un
camino hacia el diálogo y participación
de la sociedad civil
96
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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Alfaguara, 2001.
MARTÍN BARBERO, Jesús. Políticas culturales de
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N° 48. Bogotá: Enero 2001 – diciembre 2002.
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MINISTERIO DE CULTURA. Compendio de políti
-
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
nal. Sistema Nacional de Cultura SNCu. Corte 16
de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
97
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
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Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
98
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir,
Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
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que se piensa y se construye desde la cultura
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
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Cátedra de Políticas Culturales. Ministerio de
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BRAVO, Marta Elena. Itinerarios culturales
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Biblioteca Pública Piloto, Comfenalco, Univer-
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ción de Antioquia, Dirección de Fomento a la
Cultura, Universidad de Antioquia, Extensión
Cultural. 2008.
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Colombia. En: Políticas Culturais na Ibero-
América. Antonio Albino Canelas Rubim y Rubens
Bayardo (Orgs). Salvador: EDUFBA, 2008.
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2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
397 de 1997 – Ley General de Cultura- y se
dictan otras disposiciones.
EL TIEMPO (periódico). Riqueza Cultural. Bogotá,
sábado 17 de septiembre del 2011, p. 26.
EL TIEMPO (periódico). La cultura no es un tema
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Colombia Mariana Garcés. Miércoles 2 de noviem-
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N° 48. Bogotá: Enero 2001 – diciembre 2002.
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
nal. Sistema Nacional de Cultura SNCu. Corte 16
de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere
-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
99
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu
-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
Bibliografia
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Sistema Municipal
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Ministerio de Asuntos Exteriores de Coopera-
ción, Aecid. Plan de desarrollo Cultural de
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que se piensa y se construye desde la cultura
Medellín: Alcaldía de Medellín- Universidad de
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
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Cátedra de Políticas Culturales. Ministerio de
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BRAVO, Marta Elena. Itinerarios culturales
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Biblioteca Pública Piloto, Comfenalco, Univer-
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Ciencias Humanas y Económicas, Goberna-
ción de Antioquia, Dirección de Fomento a la
Cultura, Universidad de Antioquia, Extensión
Cultural. 2008.
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Colombia. En: Políticas Culturais na Ibero-
América. Antonio Albino Canelas Rubim y Rubens
Bayardo (Orgs). Salvador: EDUFBA, 2008.
CONGRESO DE LA REPÚBLICA. Ley 1185 de
2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
397 de 1997 – Ley General de Cultura- y se
dictan otras disposiciones.
EL TIEMPO (periódico). Riqueza Cultural. Bogotá,
sábado 17 de septiembre del 2011, p. 26.
EL TIEMPO (periódico). La cultura no es un tema
de farándula. Entrevista a la Ministra de Cultura de
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ESCOBAR, Arturo y Álvarez, Sonia E. y Dagnino
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
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de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA.
Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
100
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
Bibliografia
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Sistema Municipal
de Cultura, Universidad de Antioquia Ayunta-
miento de Barcelona Agenda 21 de Cultura,
Ministerio de Asuntos Exteriores de Coopera-
ción, Aecid. Plan de desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020: Medellín un, una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultura
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
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Historia vivida 1980-1991. En Gaceta nº 48
Cátedra de Políticas Culturales. Ministerio de
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BRAVO, Marta Elena. Itinerarios culturales
1985 – 2007 – Voces y presencias. Medellín,
Biblioteca Pública Piloto, Comfenalco, Univer-
sidad Nacional de Colombia, Facultad de
Ciencias Humanas y Económicas, Goberna-
ción de Antioquia, Dirección de Fomento a la
Cultura, Universidad de Antioquia, Extensión
Cultural. 2008.
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Colombia. En: Políticas Culturais na Ibero-
América. Antonio Albino Canelas Rubim y Rubens
Bayardo (Orgs). Salvador: EDUFBA, 2008.
CONGRESO DE LA REPÚBLICA. Ley 1185 de
2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
397 de 1997 – Ley General de Cultura- y se
dictan otras disposiciones.
EL TIEMPO (periódico). Riqueza Cultural. Bogotá,
sábado 17 de septiembre del 2011, p. 26.
EL TIEMPO (periódico). La cultura no es un tema
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MINISTERIO DE CULTURA. Compendio de políti-
cas culturales. Compilador General Germán Rey.
Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
nal. Sistema Nacional de Cultura SNCu. Corte 16
de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
101
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social
que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
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que se piensa y se construye desde la cultu-
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2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
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dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
102
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
103
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons
-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
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co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
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REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
104
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
Bibliografia
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
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ción, Aecid. Plan de desarrollo Cultural de
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que se piensa y se construye desde la cultura
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
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Cátedra de Políticas Culturales. Ministerio de
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BRAVO, Marta Elena. Itinerarios culturales
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Biblioteca Pública Piloto, Comfenalco, Univer-
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
Colombia. En: Políticas Culturais na Ibero-
América. Antonio Albino Canelas Rubim y Rubens
Bayardo (Orgs). Salvador: EDUFBA, 2008.
CONGRESO DE LA REPÚBLICA. Ley 1185 de
2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
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dictan otras disposiciones.
EL TIEMPO (periódico). Riqueza Cultural. Bogotá,
sábado 17 de septiembre del 2011, p. 26.
EL TIEMPO (periódico). La cultura no es un tema
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Colombia Mariana Garcés. Miércoles 2 de noviem-
bre de 2011, p. 20.
ESCOBAR, Arturo y Álvarez, Sonia E. y Dagnino
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N° 48. Bogotá: Enero 2001 – diciembre 2002.
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
nal. Sistema Nacional de Cultura SNCu. Corte 16
de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
106
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
Bibliografia
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Sistema Municipal
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Ministerio de Asuntos Exteriores de Coopera-
ción, Aecid. Plan de desarrollo Cultural de
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que se piensa y se construye desde la cultura
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BRAVO, Marta Elena. Políticas culturales en
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BRAVO, Marta Elena. Itinerarios culturales
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Cultura, Universidad de Antioquia, Extensión
Cultural. 2008.
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Colombia. En: Políticas Culturais na Ibero-
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CONGRESO DE LA REPÚBLICA. Ley 1185 de
2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
397 de 1997 – Ley General de Cultura- y se
dictan otras disposiciones.
EL TIEMPO (periódico). Riqueza Cultural. Bogotá,
sábado 17 de septiembre del 2011, p. 26.
EL TIEMPO (periódico). La cultura no es un tema
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
MINISTERIO DE CULTURA. Subdirección Regio-
nal. Sistema Nacional de Cultura SNCu. Corte 16
de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
107
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social
que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
Bibliografia
ALCALDÍA DE MEDELLÍN. Secretaría de Educa-
ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
nistrativo de Planeación Metropolitana. Plan de
Desarrollo Cultural de Medellín. Medellín: Servi-
gráficas. 1990.
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de Cultura, Universidad de Antioquia Ayunta-
miento de Barcelona Agenda 21 de Cultura,
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ción, Aecid. Plan de desarrollo Cultural de
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que se piensa y se construye desde la cultura
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Cultura, Universidad de Antioquia, Extensión
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2008. Por la cual se modifica y adiciona la Ley
397 de 1997 – Ley General de Cultura- y se
dictan otras disposiciones.
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Bogotá: Ministerio de Cultura, 2010.
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de agosto del 2011. (Documento impreso).
MINISTERIO DE CULTURA. Una década de
ciudadanía democrática cultural. 2011. (Texto
impreso).
MONTOYA HERMMAN, Medellín una ciudad
que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
rrollo Local. Bello Horizonte: Octubre 25-28
del 2011.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Ministerio de
Cultura. Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010.
Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU
-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
108
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social
que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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que se piensa y se construye desde la cultu-
ra. Plan de Desarrollo Cultural de Medellín
2011-2020, 2011, p. 2. Texto Presentado en
el Seminario Internacional de Cultura y Desa-
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Hacia una ciudadanía democrática cultural. Presi-
dente Andrés Pastrana. Ministra de Cultura
Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
109
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social
que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
Páginas web
MEJÍA, Juan Luis. ¿Derechos sin Estado? Tres
momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
OEI. Fecha de consulta octubre 25. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric07a05.htm>
MEJÍA, Juan Luis. Apuntes sobre las políticas cultu-
rales de América Latina, 1987-2009. En: Pensa-
miento Iberoamericano. Revista n° 4, 2ª época,
2009. Fecha de consulta octubre 18. Disponible En:
<http://www.pensamientoiberoamericano.org/arti
culos/4/97/0/apuntes-sobre-las-politicas-culturale
s-en-america-latina-1987-2009.html>
REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
relaciones que se trasladan. En Pensar Iberoamé-
rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
110
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
estaba a la cabeza del Instituto su primer
director, el poeta Jorge Rojas uno de los
grandes de la literatura colombiana. Ya el
concepto de política cultural circulaba en el
escenario mundial y latinoamericano. Pero
fue en 1976 cuando se publicó lo que para
algunos fue el primer Plan Nacional de
Cultura, pero que en realidad en términos
más precisos corresponde a lo que dice su
título: La política cultural en Colombia, dentro
de una serie promovida por la UNESCO y
cuya coordinación estuvo a cargo de un
reconocido intelectual, Jorge Eliécer Ruiz.
Debe relevarse la reunión en
Bogotá en 1978 que tuvo gran significa-
ción en Latinoamérica y especialmente en
Colombia. La Conferencia Interguberna-
mental de Políticas Culturales de América
Latina y del Caribe, conocida como AME-
RICACULT, ya mencionada, que planteó y
puso en circulación temas cruciales del
discurso cultural y que influyó en repensar
la institucionalidad cultural y lo que empe-
zaba a proponerse como administración
cultural y más tarde, como gestión cultural.
Es muy frecuente hablar en algunos
países latinoamericanos de que 1980 fue
“una década perdida”. Sin embargo, por
trabajos realizados en el campo de la política
cultural y por muchos procesos en los que
participé en el orden local, regional y nacio-
nal, me atrevo a afirmar que fue una década
muy interesante para la cultura en Colombia
y tuvo unas características singulares.
El grado de conflicto se acentuaba y
a pesar de ello al mismo tiempo se genera-
ban procesos de participación y acerca-
miento Estado-Sociedad Civil que poste-
riormente se fueron acrecentando y dando
frutos, como fue un primer documento de
política cultural en 1989 que se formuló de
manera muy participativa y que llegó a la
máxima instancia gubernamental que
determina la política social y los recursos: el
Consejo Nacional de Política Económica y
Social del país, llamado CONPES. En la
elaboración de este documento de 1989,
Una política para la democracia y una
democracia para la cultura, nos acompaña-
ron intelectuales latinoamericanos que han
sido figuras ampliamente reconocidas
como Jesús Martín Barbero español-
colombiano, el chileno José Joaquín Brun-
ner, el argentino Oscar Landi, y el
argentino-mexicano Néstor García Canclini.
En algunas regiones y ciudades —y
ese fue el caso de Medellín y mi departa-
mento, Antioquia—en concertación de
entidades culturales públicas y privadas
se formularon políticas y planes de cultura
que incidieron en los planes de desarrollo
generales y obligaron a repensar la institu-
cionalidad cultural. Se le dio impulso a la
descentralización y a organizaciones del
sector cultural con las Primeras Juntas de
Cultura en algunos departamentos, con-
vertidas luego en Consejos Departamen-
tales de Cultura fundamento posterior
para el Sistema Nacional de Cultura.
4. LA CONSTITUICIÓN DE 1991: EL
GRAN MARCO FILOSÓFICO - POLÍTICO
- JURÍDICO PARA EL DESARROLLO DE
LOS DERECHOS CULTURALES, LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LOS PROCES-
SOS DE PARTICIPACIÓN
Se puede afirmar que la Constitu-
ción de 1991 es el hecho de cultura más
significativo de los últimos 20 años de
historia de la cultura en Colombia.
Las constituciones de por sí son
hechos de cultura, pero los avances de la
Constitución Colombiana del 91 en mate-
ria de derechos culturales fueron notorios:
éstos se plasmaron en el reconocimiento
de la pluralidad étnica y diversidad cultural
de la nación, el fomento a la libre creación,
el reconocimiento y la responsabilidad de
cabo reformas en la institucionalidad de la
cultura que fueron fundamentales.
Asimismo señala cómo esa nueva
racionalidad del Estado impulsaba a agru-
par bajo una organización, instituciones
culturales existentes desde el siglo XVII,
estructuradas especialmente alrededor de
3 áreas básicas: Conservación y patrimo-
nio; Fomento de las artes; y difusión cultu-
ral. En este contexto internacional y con
los antecedentes históricos en Colombia
expuestos en el aparte anterior, es posible
entender el porqué del nacimiento de
COLCULTURA Instituto Colombiano de
Cultura ─ en 1968 y de su estructura.
Debe recordarse que el concepto de
política cultural y su desarrollo está muy
ligado a la influencia de las reuniones de la
UNESCO y muy especialmente de la Reu-
nión Mundial de Venecia en 1970 y a la
Latinoamericana y del Caribe en Bogotá
1978, así como a MUNDIACULT en México
1982. En el último decenio del siglo XX a la
Reunión Mundial de Estocolmo 1998 y a la
Declaración Universal sobre la Diversidad
Cultural a principios del milenio, año 2001.
El decreto que creó a COLCULTU-
RA tenía el propósito de tener un ente
dotado de personería jurídica, autonomía
administrativa y patrimonio independiente
y que orientara las políticas culturales
nacionales. Contó en sus inicios con
tres subdirecciones: Patrimonio cultural,
Comunicaciones culturales, y Bellas Artes.
De acuerdo con el Decreto de creación
tenía a su cargo “la elaboración, el desa-
rrollo y la ejecución de los planes de estu-
dio y fomento de las artes y letras, el culti-
vo del folclor nacional, el establecimiento
de las bibliotecas, museos y centros cultu-
rales y otras actividades en el campo de la
cultura correspondiente a la política gene-
ral que formule el gobierno nacional, por
conducto del Ministerio de Educación y
según las decisiones de la junta directiva”.
A COLCULTURA le correspondió
definir e impulsar políticas culturales,
agrupar instituciones del Estado que esta-
ban dispersas en diversos organismos, la
mayoría dependencias del Ministerio de
Educación Nacional que durante tantos
años las había congregado en Bellas
Artes o Extensión Cultural, como fueron
los nombres que tradicionalmente se
usaron. A partir de entonces existió un
interés por “nombrar” las políticas cultura-
les en forma más directa.
El Instituto Colombiano de Cultura
duró desde 1968 hasta 1997 cuando se
creó el Ministerio de Cultura.
Vale la pena señalar unos hechos
significativos en este lapso de su existen-
cia. Su organización obedece un poco a
ese esquema al que hacía referencia el
exministro Mejía en el texto citado anterior-
mente: la Subdirección de Bellas Artes,
Patrimonio y Comunicaciones. Con entida-
des adscritas como la Biblioteca y el Archi-
vo Nacional, el Museo Nacional, el Museo
de Arte Colonial, el Teatro Colón de Bogotá,
El Instituto Colombiano de Antropología y
una dependencia asesora: Planeación.
El proyecto de descentralización fue
muy tímido, con algunas acciones, eventos
y apoyos a la institucionalidad cultural en
las regiones y con la realización de certá-
menes de trascendencia en el ámbito
nacional como las Jornadas de Cultura
Popular, de Memoria Cultural, las Historias
Regionales y la Expedición CREA: “Una
expedición por la cultura colombiana”
iniciada en 1992. Se destacó asimismo un
ambicioso proyecto de publicaciones.
Durante la existencia de COLCUL-
TURA, deben señalarse momentos y
procesos políticos interesantes:
En 1974 se hizo el primer esfuerzo
por elaborar un plan de cultura cuando
nal que ocupa un lugar destacado en la
institucionalidad cultural.
Como consecuencia del Bogotazo,
se desató una época de violencia política
muy dolorosa, que sin duda alguna ha
ocasionado una herida que se prolonga
hasta nuestros días, en diversas formas
del conflicto con diferentes actores: gue-
rrillas, paramilitares, bandas criminales,
delincuencia común y desafortunadamen-
te, también algunas veces agentes vincu-
lados al Estado. Violencia que ha marca-
do de manera trágica nuestra historia
nacional. La semana pasada murió preci-
samente en combate el líder del movi-
miento guerrillero más antiguo de Améri-
ca, Las Fuerzas Armadas Revolucionarias
de Colombia — FARC — que llevan más
de cincuenta años de lucha armada y que
desdibujaron una propuesta política, se
aliaron con el narcotráfico y practican una
de las formas más abominables del con-
flicto, como es el secuestro.
Uno de los investigadores extran-
jeros más reconocidos, sobre el proble-
ma de la violencia en Colombia, el profe-
sor Daniel Pecaut de las Escuela de Altos
Estudios de París, en un libro reciente
sobre las FARC señala que “si bien han
pregonado las transformaciones agrarias
y políticas del país, sus objetivos en la
práctica se han confundido con su partici-
pación en la economía de las drogas y
los actos de terror contra la sociedad”
(citado por el historiador Eduardo
Posada Carbó. Periódico el Tiempo,
Noviembre, 2011).
Sin embargo a pesar de la violen-
cia, Colombia es un país que sigue en la
construcción de un proyecto democrático
y que sin lugar a dudas ha tenido una
propuesta cultural de gran dimensión, y
un avance significativo en materia de
políticas culturales en el panorama
latinoamericano.
A finales de los cincuenta los dos
partidos políticos, Liberal y Conservador,
en la búsqueda por tratar de solucionar la
violencia partidista, llegaron a un acuerdo
que se llamó “El Frente Nacional”. Impli-
caba éste una alternancia en el poder por
16 años. En estos años la institucionali-
dad tradicional cultural adquirió fuerza y
dinamismo y se dieron transformaciones
de trascendencia.
En el año de 1960 la Reforma del
Ministerio de Educación, del cual depen-
día la mayor parte de la institucionalidad
cultural, se propuso una mayor conexión y
coordinación de las instituciones de cultu-
ra para no duplicar esfuerzos, lograr la
descentralización y tener mayor cobertura.
En 1966 se llevó a cabo el “primer
Congreso Nacional de Cultura” y una de
sus recomendaciones fue la creación de
un organismo que estructurara las entida-
des del estado de promoción de la cultura
para un mayor apoyo a las instituciones
culturales (Mena y Herrera, 1994, p.107).
3. UMA NUEVA ARQUITECTURA INSTI-
TUCIONAL CULTURAL A PARTIR DEL
INSTITUTO COLOMBIANO DE CULTU-
RA EN EL CONTEXTO DE LAS TENDEN-
CIAS POLÍTICO CULTURALES EN AMÉ-
RICA LATINA
El investigador colombiano y ex
ministro de cultura Juan Luis Mejía, en un
texto del 2010 titulado “¿Derechos sin
Estado? Tres momentos de la institucio-
nalidad cultural en América Latina” - publi-
cado por la OEI, en Pensar Iberoamérica,
al anotar sobre las transformaciones
culturales en la década de los 60 a partir
de la ampliación de los nuevos modelos
económicos, inspirados en el Primer
Decenio Mundial del Desarrollo y la Alian-
za para el Progreso, dice que se transfor-
mó la visión de los Estados y se llevaron a
global. (Rey, Compendio de políticas
culturales en Colombia, 2011, p. 23).
Es pertinente referirse en el desa-
rrollo de la institucionalidad cultural a
algunos antecedentes históricos para
hacer énfasis en la organización de la
cultura en el Estado nacional, desde 1968
con la creación del Instituto Colombiano
de Cultura —COLCULTURA—y luego con
el Ministerio de Cultura en 1997 hasta
nuestros días.
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS EN
LOS SIGLOS XVIII y XIX
Con motivo de las celebraciones
bicentenarias de la independencia el año
pasado en Colombia, diversos certáme-
nes académicos se orientaron a una
mirada de nuestro proyecto histórico en la
construcción de la nación, y muchos se
hicieron en clave cultural.
En el siglo XVIII, en el Virreinato,
época de la colonia, en Colombia se
llevó a cabo un proyecto cultural que
dejó honda impronta: la Real Expedición
Botánica proyecto pedagógico, social,
científico que hizo un acercamiento a la
flora y geografía colombiana que como
sostiene el investigador Eduardo Mendo-
za Varela, llegó más allá, hacia “la pro
-
fundización de un mundo que estaba por
descubrirse”.
En 1777 se fundó en Bogotá la
Biblioteca Nacional, la más antigua de su
género en América, centro de patrimonio y
difusión cultural. En el siglo XIX un hecho
fundamental marcó la historia de nuestra
cultura: La Comisión Corográfica que
pretendía adentrarse en el conocimiento
geográfico y cultural de nuestro país y que
contribuyó a la apropiación de nuestro
patrimonio cultural y social, y dejó un bello
legado de reproducciones artísticas.
El Museo Nacional de Colombia,
uno de los más antiguos de Américas se
creó en 1823.
En los inicios del siglo XX se reali-
zaron reformas educativas y culturales,
éstas especialmente relacionadas con el
patrimonio y protección de lugares históri-
cos como Cartagena de Indias. Asimismo
muy pocos años después de haberse
iniciado la radio en el mundo, se creó una
radio cultural en 1929 asociada a la
Biblioteca Nacional.
En los años treinta y cuarenta se
desarrolló en Colombia un Proyecto Cul-
tural Liberal de envergadura (1930-1946)
donde se le dio gran énfasis a las transfor-
maciones educativas y culturales, para un
cambio de mentalidad en la perspectiva
de la modernización del país y de la insti-
tucionalidad cultural. Se consolidó y se
enriqueció especialmente la Biblioteca y
el Archivo Nacional, se crearon la Radiodi-
fusora Nacional y otros museos. Se lleva-
ron a cabo proyectos de mucho alcance
en el campo de la cultura popular y even-
tos de amplia dimensión nacional, algu-
nos de los cuales persisten hoy, como los
Salones Nacionales de Arte.
Colombia vivió un hecho dramático
hacia la mitad del siglo pasado que marcó
profundamente nuestra historia: el llamado
Bogotazo, en 1948, con la muerte del cau-
dillo liberal y aspirante a ocupar la primera
magistratura del país, Jorge Eliécer
Gaitán. Este líder ocupó el cargo de Minis-
tro de Educación en los años 40 y fortale-
ció de manera especial la institucionalidad
cultural como parte de su proyecto político.
El partido Conservador, que
había sucedido a los gobiernos libera-
les, fue derrocado en 1953 y la historia
política colombiana tuvo la única dicta-
dura militar que duró cuatro años. En
este período se creó la Televisora Nacio-
INTRODUCCIÓN
Una vez más la vida me ha dado la
oportunidad de estar en este maravilloso
país y disfrutar del paisaje de esta región y
del intercambio de ideas con colegas en
quienes he admirado su decidida vocación
por el trabajo cultural como elemento
constitutivo en la construcción de esta
nación de tan rica diversidad cultural.
Agradezco a la Universidad Federal Flumi-
nense, el Laboratorio de Acciones Cultura-
les, a la municipalidad de Niterói y al Minis-
terio de Relaciones de Exteriores, que tan
gentilmente me han brindado la oportuni-
dad de continuar un diálogo cultural del
cual hemos disfrutado muchos colombia-
nos que nos acercamos a una realidad tan
interesante, que marca un referente en el
contexto cultural latinoamericano.
1. DE DÓNDE PARTE MI EXPOSICIÓN
Por circunstancias personales y
profesionales he podido conocer desde
muy joven la realidad cultural colombiana y
desarrollar un interés por mirar su devenir
cultural. Como profesora universitaria mi
desempeño ha sido especialmente en
docencia, extensión e investigación en polí-
ticas y desarrollo cultural en Colombia. Al
mismo tiempo he tenido la oportunidad de
trabajar de cerca como participante y coor-
dinadora de varios proyectos culturales en
mi ciudad, Medellín, en mi región Antioquia,
y en el país, y esto me permite poder plan-
tear algunas inquietudes sobre la construc-
ción cultural institucional en el país, pues
en especial después de los años ochenta
he observado, participado y estudiado una
relación muy interesante: Estado-sociedad
civil-academia, para la consolidación de
unas políticas públicas en diálogo, proce-
sos en los que se han dado logros destaca-
dos. A eso me referiré más adelante.
2. CONTEXTO HISTÓRICO DE LA
ARQUITECTURA INSTITUCIONAL DE
COLOMBIA
En el año 2010 el Ministerio de
cultura de Colombia publicó un denso y
extenso libro denominado Compendio de
Políticas Culturales, fruto de un largo traba-
jo que consignó 25 campos de política
cultural. El compilador, profesor Germán
Rey, afirma en la introducción que:
Las políticas culturales, tal como las
conocemos hoy en día, son relativa-
mente recientes en el panorama de
las políticas públicas. Pero la presen-
cia de la cultura en el diseño de la
arquitectura institucional latinoameri-
cana puede remitirse por lo menos a
tres grandes momentos en el pasado.
El primero, ubicado en la segunda
mitad del siglo XIX, se podría caracte-
rizar como un intento de construir
instituciones culturales sectoriales
para atender campos particulares de
las artes y de lo patrimonial; en el
segundo, hacia la primera mitad del
siglo XX, movimientos revoluciona-
rios, populistas, nacionalistas y libera-
les asumieron la cultura como una
dimensión básica de la construcción
de la nación, la modernidad y, sobre
todo, de la participación popular; y en
el tercero, a partir de la segunda mitad
del siglo XX, se empieza a reforzar la
institucionalidad cultural, se rediseñan
los campos de la cultura, se fortalecen
los medios de comunicación, aumen-
tan las interacciones de la cultura con
otras áreas de la gestión pública y se
inserta la cultura en el escenario
la conservación y difusión del patrimonio
cultural. La obligatoriedad de incluir la
dimensión del desarrollo en los planes
generales, regionales y locales, y sobre
todo en la afirmación del principio filosófi-
co y político de la cultura como fundamen-
to de la nacionalidad, lo que abrió un hori-
zonte muy amplio a la dimensión cultural y
a la consolidación institucional. Asimismo
el paso de la democracia representativa a
la participativa estatuida en la Constitu-
ción, significó un camino de diálogo socie-
dad civil - Estado y de participación comu-
nitaria, que es necesario considerar en el
posterior proceso de desarrollo cultural e
institucional del país.
Esta Constitución se formuló como
un proyecto de construcción de nación, en
un país muy resquebrajado por la violen-
cia. En la campaña presidencial anterior a
la Constitución, que se dio en el gobierno
de César Gaviria, 4 candidatos presiden-
ciales perdieron la vida víctimas del con-
flicto. Fue pues un llamado a la esperanza
y a darle un vuelco a la política.
El gobierno Gaviria se desarrolló
en el contexto internacional del auge de
las teorías neoliberales que tenían conse-
cuencias no favorables a la cultura: “las
empresas estatales, configuradas para
prestar servicios básicos, pasan a manos
privadas. El Estado se reduce a su
mínima expresión y la institucionalidad
cultural no es ajena a esta tendencia”.
(Mejía, Juan Luis, Pensamiento
Iberoamericano nº 4, 2009).
Sin embargo, es interesante desta-
car que en Colombia en el primer lustro de
los noventa se presentaron documentos
de políticas culturales que dejaron huella
en la consolidación de la institucionalidad
cultural y su gestión hasta nuestros días:
La cultura en los tiempos de transición
1991-1994” y el “Plan Nacional de Cultura
1992-1994”.
En el primero se plantea la apertu-
ra económica y también la necesidad de
afirmar la identidad, al mismo tiempo que
asimilar las manifestaciones culturales de
“otros ámbitos”. La democracia en la
medida del reconocimiento, participación,
diálogo y tolerancia con los otros y la des-
centralización: el municipio como escena-
rio de cultura (Mena y Herrera, 1994, p.
164). Se propuso además la creación de
Fondos Mixtos de Cultura en los departa-
mentos y reestructuración de los Conse-
jos Territoriales de Cultura.
En el segundo, “El Plan Nacional de
Cultura 1992-1994: Colombia el camino
de la paz, el desarrollo y la cultura hacia el
siglo XXI”, se crea el Sistema Nacional de
Cultura, se promueve el desarrollo institu-
cional y se propone asimismo un amplio
programa de capacitación y formación en
cultura, tema clave para un mejor futuro de
las políticas culturales y su gestión y para
fortalecer la institucionalidad.
5. UN HITO FUNDAMENTAL EN LA OR-
GANIZACIÓN Y LA GESTIÓN DE LA
CULTURA: LA LEY GENERAL DE CUL-
TURA Y LA CREACIÓN DEL MENISTE-
RIO DE CULTURA EN 1997
Todos los procesos vividos en los
años sesenta, ochenta y noventa, y en la
consolidación de la organización institucio-
nal colombiana y el ejercicio de la participa-
ción y diálogo con la sociedad civil repre-
sentada en: grupos comunitarios y cultura-
les, sectores educativos y académicos
universitarios, creadores, líderes e investi-
gadores culturales, gestores y miembros
de ONG, fueron abonando el terreno para
que en 1997, mediante un proceso amplio
de discusión y participación en todo el
país, se formulara la Ley 397 de Cultura y
se creara el Ministerio de Cultura que susti-
tuyó al Instituto Colombiano de Cultura
—COLCULTURA— y le dio un peso políti-
Humano, el 3er lugar después de Angola y
Haití, puesto por lo demás nada honroso.
Sin embargo con todos estos con-
trastes se puede afirmar que a pesar de
las diversas violencias se le ha venido
apostando a un desarrollo político cultural
que creo que es considerable en el contex-
to latinoamericano y éste ha contribuido a
construir democracia y cultura política.
¿Qué alcances ha habido en los
desarrollos de políticas culturales e
institucionalidad cultural?
- La formulación de la Ley de
Cultura y la creación del Ministerio de
Cultura desde 1997 ha significado un
desarrollo considerable del sector, una
presencia más nacional y una vocería
ante las instancias del Estado que
demuestra logros.
La Ley de Cultura 397 de 1997 fue
complementada por la Ley 1185 del 2008
representó un logro en cuanto se le dio
mayor énfasis al patrimonio cultural, espe-
cialmente al inmaterial y se creó el Sistema
Nacional de Patrimonio, lo que significa
organización de la institucionalidad, no
sólo con el Consejo Nacional de Patrimo-
nio Cultural sino con los regionales y loca-
les. Es un instrumento valioso para este eje
de la cultura que requería de mayor aten-
ción. Por otra parte la reforma de la Ley de
refiere también a unos ajustes necesarios
al Sistema Nacional de Cultura ha permiti-
do una convocatoria al sector público y la
sociedad civil para trabajar en una coordi-
nación y articulación entre lo local, lo regio-
nal y lo nacional que le da vigor al sistema.
- En el 2010 se terminó de ejecutar
el Plan de Cultura de Colombia 2001-
2010. Su formulación fue un hito cultural
pues participaron alrededor de 23000
colombianos de todos los departamentos en
el país. El Ministerio de Cultura entregó el
año pasado un documento, que todavía está
en construcción, denominado Una década
de Ciudadanía Democrática cultural.
En los horizontes para una próxima
década se hace énfasis en el fortaleci-
miento de la gestión de la cultura, de la
sostenibilidad, de la necesidad de generar
empleos, de fortalecer los vínculos econó-
micos y culturales, incentivar el empode-
ramiento y la industria cultural, el fortaleci-
miento de la descentralización, propiciar
por medio de la gestión pública para la
cultura mayores condiciones de autono-
mía para las regiones y localidades. Otro
horizonte es el reto ineludible de la dimen-
sión global, fortalecer la informática y la
comunicación. Sobre este documento,
aunque significa una aproximación valio-
sa, debe seguirse trabajando para mos-
trar con mayor precisión los logros.
- El Esfuerzo que el Ministerio ha
hecho para realizar el trabajo del Com-
pendió de Políticas Culturales es un
aporte de gran dimensión: con más de
25 políticas, que no sólo recoge las tradi-
cionales referentes a las artes, a sus diver-
sas expresiones, al patrimonio en sus
diversas formas, los museos y archivos, a
la lectura, las bibliotecas. También se detie-
ne en el desarrollo de las políticas cultura-
les más actuales, de la diversidad cultural:
etnolingüística, de los pueblos indígenas,
de las comunidades afrodescendientes.
Por otra parte elabora de una
manera muy acertada en el contexto del
discurso político cultural contemporáneo el
tema del turismo cultural, de la comunica-
ción y la cultura, la cultura digital, la política
cinematográfica (que no estaba muy desa-
rrollada en Colombia y que le ha permitido
un impulso importante al cine colombiano
actual). Asimismo contempla temas tan de
punta como el emprendimiento cultural y
las industrias culturales que responden
por lo demás a un asunto de estudio e
investigación que ha tenido mucho énfasis
en Colombia en los últimos años: el de la
Economía cultural. Nuestro país fue uno
de los primeros en desarrollar una Cuenta
Satélite de Cultura. Recientemente, por
ejemplo, la UNESCO publicó con datos del
Departamento Nacional de Estadística y el
apoyo del Ministerio de Cultura de Colom-
bia que se calcula en 3.21% el aporte
específico de las industrias culturales al
PIB (Periódico El Tiempo, 2011, p. 26).
En la perspectiva de este Compen-
dio de Políticas Culturales aparecen
además instituciones claves, y formas de
gestión para la sostenibilidad que permiten
un andamiaje más sólido para la cultura en
el orden nacional y en el regional y local.
Deben mencionarse las políticas de
concertación y estímulos que apuntan a
una mejor distribución de los recursos con
el concepto implícito de corresponsabilidad
del orden local, regional y asimismo institu-
cional con participación y estímulo además
de aportes privados. Una política necesaria
es la de la infraestructura cultural que
impulsa cubrir un déficit en este campo,
sobre todo en grandes regiones de Colom-
bia alejadas de los centros de poder político
y económico. Esto unido también al impul-
so de las políticas de las casas de la cultura
que en el país han tenido larga tradición.
La política de gestión internacional
de la cultura se mira en “un contexto mar-
cado por la globalización y la cooperación
dinámica entre países y pueblos”. Uno de
los signos importantes es la realidad de
las diásporas de colombianos hacia el
exterior (se calculan alrededor de 4 millo-
nes) no sólo por lo que representan desde
el punto de vista económico, sino porque
son “puntos fundamentales de interaccio-
nes e intercambios simbólicos”.
- El camino hacia un nuevo Plan
de Cultura para la década: la experien-
cia que ha tenido Colombia con el Plan de
Cultura 2001-2010: Hacia una ciudadanía
Democrática Cultural, ha sido muy positi-
va no sólo por los logros que tuvo en
términos de realización de proyectos:
como por ejemplo, el Plan Nacional de
Lectura y Bibliotecas, el Plan Nacional de
Música para la Convivencia, el Programa
Nacional de Radios Comunitarias, el Plan
Nacional de Artes, avances notable en
estudios sobre economía y cultura, conso-
lidación del Sistema Nacional de Cultura,
entre otros. De todas maneras estamos a
la espera de un compromiso del Ministerio
con un nuevo plan pues hay un acumula-
do de datos, estudios y de experiencias
que merecen continuar el proceso iniciado
en la formulación en el año 2000.
- Otro aspecto muy importante es
que se ha generado un pensamiento
político cultural y una pedagogía cultu-
ral al impulsar una ciudadanía activa,
una ciudadanía cultural que se ha tradu-
cido en mayor desarrollo en la participa-
ción y metodologías de formulación de
políticas, planes y proyectos culturales lo
que es muy valioso.
Debe resaltarse aquí la interlocu-
ción cada vez más creciente con sectores
académicos, lo que ha significado un
aporte en términos de riqueza de concep-
tualizaciones, análisis de contextos, inves-
tigaciones, metodologías de trabajo que le
aportan a la institucionalidad de la cultura.
De la misma manera a la universidad en
sus funciones de docencia, investigación y
extensión señalando también necesida-
des de nuevos programas académicos, de
desarrollos disciplinarios, y como ha suce-
dido en otros lugares de Latinoamérica,
interés por los Estudios Culturales.
- El fomento regional: éste ha sido
decisivo en la consolidación institucional
cultural y la gestión desde el estado nacio-
nal y su relación e interlocución con el resto
del país, muy especialmente debido al forta-
lecimiento del Sistema Nacional de Cultura.
En un país tan diverso como
Colombia, como afirmaba anteriormente,
desde los años 80 y especialmente des-
pués del Constitución de 1991, y a la par
con la realidad del conflicto, se ha desa-
rrollado un proceso de participación en las
regiones, con diferencias obvias entre
ellas. El estatuto del nuevo municipio
colombiano (1988), hizo que el núcleo de
desarrollo cultural fuera esta instancia
local y esto alimenta al Sistema Nacional
de Cultura. Ha habido además una mayor
organización institucional en los departa-
mentos y en los municipios, en el campo
de la articulación de la sociedad civil y la
institucionalidad cultural con el Estado,
por medio de los Consejos Territoriales y
Sectoriales de Cultura.
Desde los organismos estatales de
los departamentos, las ciudades capitales
la organización se define de manera dife-
rente entre: Secretarías de Cultura, Insti-
tutos de Cultura (algunos unidos al patri-
monio, la educación, el turismo, los depor-
tes y el desarrollo), coordinaciones cultu-
rales, corporaciones, oficinas para la
cultura, turismo y protocolo, entre otros.
- La Institucionalidad normativa
4
:
En Colombia se ha hecho un esfuerzo
considerable especialmente a partir de la
Constitución de 1991, de la Ley General
de Cultura 397 de 1997 y de la reforma de
ésta por la Ley 1185 del 2008 por desarro-
llar un soporte legislativo que ha mostra-
do frutos. Cito algunos ejemplos relevan-
tes: sobre comunidades negras 1993;
sobre resguardos indígenas 1994; Ley del
Libro en 1993; de archivos 2000; estampi-
lla Procultura 2001; la Ley del cine en el
2003; Ley de Lenguas en el 2009, que
reconoce fuera del español 64 lenguas
indígenas, 2 afrodescendientes, y la de
las comunidades Rom.
El Ministerio de Cultura acaba de
presentar al Congreso 4 proyectos de
Ley: sobre patrimonio sumergido, que en
la caso de Colombia es muy significativo
por el que se encuentra en el Mar Caribe;
de espectáculos públicos para desactivar
cargas tributarias excesivas de las artes
representativas, el de cine para incentivar
la inversión extranjera en escenarios la
producción en el país, y el de creación de
un fondo para la infraestructura cultural
pues hay carencia de escenarios para
grandes eventos. (“La Cultura no es tema
de farándula”: entrevista con la Ministra
de Cultura Mariana Garcés en su primer
año de trabajo, El Tiempo, 2011, p. 20)
7. LA SUBGERENCIA CULTURAL DEL
BANCO DE LA REPÚBLICA: UNA INSTI-
TUCIONALIDAD DE GRAN PRESENCIA
EN COLOMBIA
En un acercamiento cultural a la
institucionalidad cultural de Colombia es
necesario nombrar una institución que
desde los años 50 del siglo pasado viene
desarrollando una labor cultural y una
gestión muy eficiente con un soporte
financiero considerable que se ha equipa-
rado algunas veces al del mismo Ministe-
rio, y es la Subgerencia Cultural del Banco
de la República.
El Banco de la República es el equi-
valente al Banco Central. La subgerencia
Cultural del Banco de la República, tiene
dos instituciones sobresalientes: El Museo
del Oro, el más famoso en su género en el
mundo, y la Biblioteca Luis Ángel Arango
considerada una de las más importantes
de Latinoamérica, institución modelo, por
su exitosa gestión, fondo bibliográfico, su
avanzada tecnología y por el número de
lectores que cubre, uno de los más altos
en el panorama global. Posee además
una pinacoteca de pintura universal,
latinoamericana y colombiana que es de
gran valor. Y es depositaria de una dona-
ción del maestro Fernando Botero, tanto
de buena parte de sus obras, como tam-
bién de obras del patrimonio universal. La
Subgerencia Cultural cuenta con 29 sucur-
sales en el país, la mayoría de ellas biblio-
tecas, que son a la vez centros de cultura.
8. DE CÓMO UN PROCESO DE APREN-
DIZAJE PARTICIPATIVO APORTA A LA
CONSOLIDACIÓN DE LA INSTITUCIO-
NALIDAD CULTURAL Y LA CONSTRUC-
CIÓN DE CIUDAD: EL CASO DE MEDE-
LLÍN "UNA CIUDAD QUE SE PIENSA Y
SE CONSTRUYE DESDE LA CULTURA"
En el recorrido general realizado
sobre aspectos de la institucionalidad
cultural y los procesos de participación en
Colombia, país con una diversidad cultu-
ral de gran dimensión, que es uno de sus
mayores patrimonios, se ha resaltado que
a pesar de sus problemas de violencia,
sus procesos político culturales participa-
tivos, y la consolidación de una organiza-
ción cultural que se ha enriquecido con
ellos, es considerable.
No quisiera terminar sin referirme
de una manera rápida a un caso muy con-
creto en la cultura local, el de Medellín mi
ciudad. También la ciudad ha sido ligada,
como nuestro país, a un imaginario muy
doloroso de violencia, además explotado
de una manera inmisericorde, sobre todo
por los medios de comunicación tanto
externos como internos. Sin embargo, la
otra cara de una ciudad pujante y espe-
cialmente empeñada en salir adelante por
medio de un proyecto educativo y cultural
ha empezado a emerger y es mirada, no
sólo en Colombia sino en el exterior,
como un referente digno de análisis e
invitada a escenarios internacionales
como el que acaba de tener en L’Arsenal
propiciado por la Alcaldía de París, para
ver el caso de la transformación de Mede-
llín especialmente a partir de la cultura y
del urbanismo social.
En ese contexto vale la pena men-
cionar una experiencia última que fue
culminación de un proceso de más de dos
años y medio en la elaboración de su Plan
de Desarrollo Cultural 2011-2020: Mede-
llín una ciudad que se piensa y se constru-
ye desde la cultura.
Medellín es la segunda ciudad de
Colombia, con 2 millones trescientos mil
habitantes y otros municipios conurbados
con los que conforma un área metropoli-
tana de 3 millones 550 mil habitantes.
Administrativamente está conformada
por 6 zonas, 16 comunas y 5 corregi-
mientos que corresponden éstos últimos
al área rural de la ciudad que representa
más del 70% de su territorio. Su mayor
población está concentrada obviamente
en el área urbana.
Hace 20 años fue considerada la
ciudad más violenta del mundo y ha
perdido mucha de su población, sobre
todo joven por los estragos del conflicto:
“hoy Medellín no es la ciudad ni más
violenta del mundo, ni de Latinoamérica
ni siquiera de Colombia (…) “el manejo
transparente de los recursos, la interven-
ción integral de territorios y de problemas
(todas las herramientas de desarrollo
puestas el servicio de las zonas más
pobres de la ciudad, con una apuesta por
el urbanismo social), y la decisión política
y presupuestal de hacer que la educación
y la cultura sean las herramientas claves
para el desarrollo de la ciudad y de la
sociedad, marcan el rumbo político e
institucional de Medellín desde el 2004”
(Montoya, Medellín una ciudad que se
piensa y se construye desde la cultura.
Plan de Desarrollo Cultural Medellín
2011-2020. En el Seminario Internacional
de Cultura y Desarrollo Local. Bello Hori-
zonte (Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
El llamado urbanismo social
que ha
desarrollado tanto Medellín, es un pilar
fundamental del desarrollo local, que le ha
hecho énfasis al proyecto cultural y educa-
tivo y la puesta en marcha de programas
con una gestión eficaz y de perspectiva
sostenible y que ha permitido la construc-
ción de centros educativos, escuelas y
colegios y de espacios públicos como: una
red maravillosa de bibliotecas, el Jardín
Botánico, el Parque de la Ciencia, Centro
Cultural Moravia (en un antiguo barrio de
invasión construido sobre un basurero), el
Centro de La Memoria, entre muchos
otros, con una inversión alta y con una
concepción de que en los sectores menos
favorecidos es en donde más hay que
hacer construcciones de altísima calidad
estética y técnica, de amplia proyección.
El Plan de Cultura de Medellín y su
lema una ciudad que se piensa y se cons-
truye desde la cultura, tiene toda la fuerza
de su significado. Es importante señalar
que todo esto está articulado a la Agenda
21 de Cultura concertada en Barcelona y
Porto Alegre, y es fruto también de un
proceso político cultural y de fortalecimien-
to de la institucionalidad cultural que desde
los años 80 ha llevado a cabo un diálogo
my fructífero entre institucionalidad pública
y privada, sectores académicos, creadores
y líderes culturales, gestores culturales,
líderes comunitarios, empresarios, lo que
ha permitido una acumulado cultural que
en sí mismo es un valioso patrimonio de
metodologías de formación de planes y
pedagogía político cultural. Se puede
afirmar que además se ha desarrollado
una cultura política, entendida en la pers-
pectiva en que un investigador colombia-
no Arturo Escobar ha venido estudiando a
partir de los movimientos sociales.
La universidad pública ha tenido
papel protagónico en el proceso de desa-
rrollo político cultural de Medellín, pues
desde los años 90 con el primer Plan de
Cultura de la ciudad que se constituyó en
el primero de su género en el país, y el
segundo que se acaba de entregar, han
sido las dos universidades públicas colom-
bianas más importantes colombianas, las
que los han coordinado, y docentes de
ellas han participado en los dos procesos:
la Universidad Nacional de Colombia-sede
Medellín y la Universidad de Antioquia.
El último Plan que se entregó fue
coordinado por la Universidad de Antioquia
en cabeza de la directora de Extensión
Cultural de ese centro universitario, María
Adelaida Jaramillo. Con el profesor Patri-
cio Rivas aquí presente tuve la oportuni-
dad de compartir esta experiencia con
otros asesores, regionales, nacionales e
internacionales. La participación comunita-
ria fue de verdad exitosa: 62 talleres terri-
toriales, 12 sectoriales, 2 foros de ciudad,
el primero en el contexto de la reunión del
BID que tuvo lugar en Medellín en el 2009,
y el segundo para la entrega final. 6 foros
temáticos, 6 reuniones con expertos nacio-
nales, internacionales; varias reuniones
con los servidores públicos sobre todo de
la Secretaría de Cultura Ciudadana y la
asesoría permanente del Consejo Munici-
pal de Cultura. (Montoya, Medellín una
ciudad que se piensa y se construye desde
la cultura. Plan de Desarrollo Cultural de
Medellín 2011-2020, 2011, p. 2. Presenta-
do en el Seminario Internacional de Cultu-
ra y Desarrollo Local. Bello Horizonte
(Brasil). Octubre 25-28 del 2011).
Todo esto muestra un espectro
amplio de esa participación que sin lugar
a dudas le dio legitimidad al proceso y
que asimismo refuerza la posibilidad de
gobernanza.
El Objetivo del plan es: “Promover
y consolidar a Medellín como un espacio
cultural abierto al mundo, equitativo, inclu-
yente, deliberativo y diverso que promueve
la implementación de políticas culturales
participativas al servicio de la expansión la
ciudadanía cultural, del desarrollo sosteni-
ble y del mejoramiento de la calidad de vida
y el bienestar de todos sus habitantes”.
Se definieron los siguientes retos
para el Plan:
- La cultura como motor de trans-
formación.
- La ciudad en un mundo con
nuevas realidades: Comunicado, competi-
tivo y planificado.
- Los derechos culturales.
- La Convivencia plural y pacífica
en un mundo más urbano.
- El asunto central de la diversidad
en el mundo de hoy.
Asimismo se tomaron como enfo-
ques del plan: el de derechos, el poblacio-
nal, el territorial, articulados entre sí.
Finalmente se definieron los linea-
mientos político culturales y se precisa-
ron estrategias:
1. Expansión de la ciudadanía y de
la democracia cultural
2. La interculturalidad para la cons-
trucción de la ciudad
3. Impulso y generación de proce-
sos de reconocimiento social del patrimonio
4. Educación ciudadana en la cons-
trucción de ciudadanía
5. Fomento y fortalecimiento de la
formación y de la educación artística y cultural
6. Gestión del conocimiento,
acceso a la información y a las tecnolo-
gías en diálogo con la cultura
7. La ciudad comunicada y comu-
nicadora
8. Cultura y desarrollo
9. Interacción de Medellín con la
región metropolitana del Valle de Aburrá,
el departamento, el país y el mundo
10. Fortalecimiento de la institucio-
nalidad y del sector cultural
¿Qué significa todo este proceso?
Quisiera terminar con una referen-
cia más directa a la lectura que he hecho
de mi ciudad en clave de cultura como
participante activa desde los años 70 en
sus procesos culturales, en la definición
de políticas y planes, en la investigación
sobre ellos, y con una mirada que si bien
tiene su raíz en la vida académica, se ha
podido ampliar con la participación directa
en proyectos, tanto de la institucionalidad
oficial como de la privada, y lo que ha
representado gran aprendizaje para mí,
los procesos comunitarios donde tiene
una gran fortaleza la ciudad.
Todo este “recurso cultural” ha
tenido la fuerza para que en medio de
enormes dificultades se haya seguido
construyendo ciudad en sus proyectos y
propuestas educativas y culturales.
En 1990 en el primer Plan de Cultu-
ra para la ciudad ampliamente participati-
vo también, cuyo lema era “la afirmación
de la vida y la creatividad” se dice:
(…) el surgimiento de las culturas se
impone como el único combate de la
vida para hacer que el curso de la
Historia en la unidad de sus factores
se recobre y en sus líneas se vuelva a
relatar el tiempo en la dimensión espi-
ritual y trágica cambiante y ensoñado-
ra de los hechos de la cultura y en
este sentido, la construcción de la
propuesta de organizar la acción
cultural para una ciudad como la
nuestra constituyen una respuesta
para la afirmación de la vida y de la
creatividad. (Citado por Bravo, Itinera-
rios Culturales, 2008, p. 137).
En el prólogo del Plan que acaba-
mos de construir, Medellín, una ciudad
que se piensa y se construye desde la
cultura encomendado a uno de los aseso-
res internacionales, Patricio Rivas se dice:
Los propósitos y metas trazadas en el
Plan, requieren de instituciones esta-
tales y privadas que mejoren y flexibili-
cen sus mecanismos de gestión,
redistribución de recursos y apoyo a
los procesos socioculturales que, a
diferencia de otros sectores de la vida
económica y social, no se rigen por
temporalidades y marcos de referen-
cia precisos como sucede con educa-
ción, salud e infraestructura.
Sin ser exhaustivo, el esfuerzo de
articular a Medellín como un espacio
cultural, contribuye de manera decisi-
va a la superación del centrismo con
el cual tradicionalmente se definen las
políticas públicas en América Latina.
Pero desde un ángulo más profundo,
Medellín, mediante el Plan, se hace
cargo de pensar la cultura como factor
indispensable de la libertad, la paz y el
desarrollo. (Rivas en Plan de Cultura
de Medellín 2011-2020, 2011, p. 23).
Vale la pena añadir que la institu-
cionalidad cultural se ha consolidado en la
ciudad no sólo desde los soportes político
administrativos del mejoramiento de la
gestión y de la perspectiva permanente de
la sostenibilidad desde los términos eco-
nómicos y sociales, también desde el
punto de vista financiero, normativo y de
interlocución permanente con otros secto-
res, por ejemplo el empresarial. Éste lo ha
asumido no sólo con el concepto de la
empresa moderna como responsabilidad
social sino con uno que va más allá y que
implica una concepción ética, política, el
de corresponsabilidad.
También se ha establecido una
interlocución muy dinámica con otros
países especialmente europeos y latinoa-
mericanos. El caso de la cultura en Mede-
llín llama la atención por los cambios que
se están generando a pesar de la violen-
cia, por la convocatoria que siempre es
respondida, y debo también mencionarlo,
por un soporte económico significativo,
pues la ciudad en este momento cuenta
con el mayor presupuesto destinado para
la cultura por un una ciudad colombiana.
CODA
Querido colegas y participantes de
este Seminario, el diálogo, esa bella
forma de comunicación humana que nos
fue enseñada desde los orígenes de
nuestra cultura en la filosofía griega y que
en el discurso contemporáneo y el con-
texto de la diversidad cultural adquiere
mayor dimensión, en el escenario de este
seminario tiene una fuerza especial.
Varias personas de Medellín han venido a
Brasil a intercambiar y aprender de uste-
des, lo mismo que de otros países
latinoamericanos. En el evento que nos
congrega en esta hermosa ciudad de
Niterói participa mañana en el debate
sobre “Movimientos sociales, territorios
interculturales y derechos”, otro colega,
líder cultural y de la comunicación en
nuestra ciudad, el querido amigo Mauricio
Mosquera, Director de Telemedellín.
Con mis añoranzas de antigua
estudiante de filosofía y de lectora y
amante de la literatura vuelvo a retomar la
pregunta de Heidegger a propósito de la
poseía de Hölderlin: ¿es posible hablar de
poesía en tiempos de penuria? Pregunta
vigente, con mucha mayor razón en estos
flujos vertiginosos de la contemporanei-
dad que nos acosan con las crisis, las
incertidumbres, los peligros, y sobre todo,
la fuerza devastadora de la violencia.
Les tengo que confesar que sí, es
posible en estos tiempos de penuria reto-
mar el significado esencial de la palabra
“poiesis”: creación. Nacimos para habitar
creativamente nuestro mundo, creatividad
en el sentido más profundo de esta pala-
bra, capacidad enorme de crear a pesar
de nuestra frágil naturaleza que nos ha
sido concedida a los humanos que al crear
y dejar memorias que nos enlazan con el
pasado, le dan significado al presente, y
nos permiten vislumbrar un futuro con el
cual tenemos la obligación de sembrar
esperanza para los que nos sucedan.
En una bella obra llamada “Los
Invocados”, un gran escritor colombiano,
Premio Rómulo Gallego, amigo y colega
de la universidad, Manuel Mejía Vallejo,
fallecido hace diez años decía:
No sé si uno sea lo que ya
pasó, o si continua siendo otra espe-
ranza, la poesía tiene que decirlo o
pierde su retórica. Que sólo el verso
vista nuestra desnudez, que sólo la
verdad con música diga nuestro desa-
rraigo, o se haga luz por el milagro de
la existencia obligatoria. Que cada
palabra cumpla su destino; que cada
verso diga la posibilidad de no morir
completamente. Que la voz del que
canta sabia y bondadosamente sea la
voz de los que no la tienen y el oído de
los que no pueden escuchar. De los
que todavía seguimos esperando.
Esto es ni más ni menos el destino
de la cultura.
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ción, Cultura y Recreación Departamento Admi-
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Aracelli Morales. Bogotá: 2002.
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA. Constitución
Política de Colombia 1991. Santa Fe de Bogotá:
Ecoe ediciones. 1991.
co de dimensión “como organismo encar-
gado de formular, coordinar, ejecutar y
vigilar las políticas del estado en la materia,
en concordancia con los planes y progra-
mas de desarrollo , según los principios de
participación contemplados en la ley”.
Un dato interesante: la máxima
figura de la literatura colombiana García
Márquez y otro gran escritor Álvaro Mutis,
entre otros personajes de la vida cultural,
se opusieron al Ministerio por temor a que
tuviera como resultado el predominio de
una “cultura oficial” y una burocratización.
La Ley de Cultura contempla 4
títulos: I Los Principios Fundamentales y
Definiciones de índole filosófica y política,
que plasmaban el espíritu de la Constitu-
ción de 1991. II Del Patrimonio cultural de
la Nación. III: Del fomento y los estímulos
a la creación, investigación y actividad
artística y cultural. IV De la Gestión Cultu-
ral. Este título le da en el marco de esa
Ley General de Cultura, un estatuto más
sólido al Sistema Nacional de Cultura que
ya llevaba algunos progresos con los Con-
sejos Territoriales y los Fondos Mixtos
desde principios de los años 90, como se
expuso anteriormente. Le dio relevancia al
Consejo Nacional de Cultura como orga-
nismo asesor del Ministerio. Viene funcio-
nando regularmente desde entonces con
amplia participación territorial, sectorial,
de casas de la cultura, de grupos étnicos y
poblacionales, y de otras instancias del
gobierno como el Ministerio de Educación
Nacional y el Departamento Nacional de
Planeación, entre otros representantes.
Son muchas las propuestas que ha
desarrollado el Ministerio pero quisiera
resaltar dos: el Programa Nacional de
Concertación para hacer más participati-
vo, equitativo y de más amplia cobertura el
apoyo con recursos del Estado. Y el Plan
Nacional de Cultura 2001-2010: Hacia una
ciudadanía democrática y cultural.
Se podrían destacar del Plan diver-
sas características: ser un plan estratégi-
co a 10 años; plantearse como una
propuesta de honda repercusión y alcan-
ce en la construcción político cultural
colombiana; insistir en la necesidad de
formar ciudadanos activos y responsables
como sujetos culturales.
Definió el Plan 3 campos esencia-
les: el de Participación, el de Creación y
Memoria, y el de Diálogo Cultural. El de
Creación y Memoria como ejes constituti-
vos del hecho cultural; y el de participa-
ción y diálogo como ejercicio de ciudada-
nía cultural que le dio una dimensión
mayor a la política cultural hacia una políti-
ca de Estado y fue aún más allá, hacia una
política pública en el sentido en que en los
últimos años se le ha dado a este término,
donde tanto el Estado como la sociedad
civil trabajan en concertación en la formu-
lación, ejecución, seguimiento y evalua-
ción de políticas y planes de cultura.
6. EN QUÉ ESTAMOS AHORA LOS CO-
LOMBIANOS EN MATERIA DE CULTU-
RA: UN INTENTO DE LECTURA DE
ALGUNS ASPECTOS DE NUESTRA
REALIDAD
Colombia es, un país con 46 millo-
nes de habitantes, una división territorial
de 32 departamentos, una capital, Bogotá
(Distrito Capital) de 8 millones de habitan-
tes, un desarrollo económico muy intere-
sante que en el panorama internacional le
ha permitido (como a otros países latinoa-
mericanos) sortear la crisis financiera
mundial. Incluso es considerado en un
grupo de los países emergentes llamados
Civetas
3.
Con una población urbana
cercana al 75%, y rural del 25%, que invir-
tió los términos en 50 años. Pero Colom-
bia es un país de grandes contradicciones
porque en materia de inequidad ocupa
según el último Informe de Desarrollo
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momentos de la Institucionalidad cultural en América
Latina. En: Pensar Iberoamérica. Revista de Cultura.
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REY, Germán. Cultura y Desarrollo humano: unas
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rica. Revista de Cultura. OEI. 2002. Disponible En:
<http://www.oei.es/pensariberoamerica/ric00a04.htm>
1
Niterói, noviembre 17 de 2011
2
Profesora Universidad Nacional de Colombia - Sede
Medellín. Facultad de Ciencia Humanas y Económicas
3
Término utilizado por dirigentes y teóricos de la econo-
mía para referirse a Colombia, Indonesia, Vietnam,
Egipto, Turquía y Suráfrica que tienen como característi-
cas poblaciones jóvenes, dinámicas económicas para la
inversión, cierta estabilidad política (antes del golpe de
Egipto) que permite ver en ellos un futuro promisorio.
4
Se utiliza aquí el concepto del investigador chileno
Manuel Antonio Garretón en su texto sobre las Políticas
culturales en los gobiernos democráticos en Chile
(Políticas culturales en Iberoamérica, 2008:94)
Contato:
Marta Elena Bravo
hermelin@une.net.co
111
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Ano 2, número 2, semestral, março 2012
¿Cómo hablar de cultura en la universidad?
La gestión de un campo para los Estudios Culturales
Como falar de cultura na Universidade?
A gestão de um campo para os Estudos Culturais
How do we speak about culture in the university?
Managing the field of Cultural Studies
Mónica Bernabé
1
Partimos de la complejidad que presenta el vocablo cultura y precisa-
mos el modo en que lo usamos en el momento de formular el proyecto
de la Maestría en Estudios Culturales. También argumentamos sobre
la importancia de los contextos en el marco de los estudios culturales y
las estrategias para establecer conexiones entre sociedad y universi-
dad. De ahí que formulemos una agenda para una discusión de los
espacios que ocupa el problema de la cultura en la era del pos-
industrialismo y la necesidad de revisar los marcos disciplinares que
organizan las universidades. A su vez, describimos las conexiones
locales y los recursos de la cultura que motivaron la fundación de un
nuevo espacio de estudios de posgrado en Rosario, Argentina.
Resumen:
Palabras clave:
Cultura
Universidad
Estudios culturales
Contexto
Campo
112
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pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
Partimos da complexidade que apresenta o vocábulo “cultura” e deter-
minamos o modo como o usamos no momento de formular o projeto do
Mestrado em Estudos Culturais. Argumentamos, inclusive, sobre a
importância dos contextos no âmbito dos estudos culturais e as estra-
tégias para estabelecer conexões entre sociedade e Universidade. A
partir daí, formulamos uma agenda para a discussão dos espaços em
que ocupa o problema da cultura na era pós-industrial e a necessidade
de revisar os setores disciplinares que organizam as universidades.
Por sua vez, descrevemos as conexões locais e os recursos da cultura
que motivaram a fundação de um novo espaço de estudos de pós--
graduação em Rosario, Argentina.
We begin by dealing with the complexity of the term culture and
precisely define how we employ it when we formulate the project for
the Masters in Cultural Studies. We also discuss the importance of
contexts in the framework of cultural studies and the strategies to
establish connections between society and university. Along these
lines we develop an agenda for the discussion of the spaces the
cultural issue occupies in the post industrial era and the need to review
the way universities organize the different disciplines. At the same
time, we describe the local connections and the cultural resources that
motivated the foundation of a new space for post graduate studies in
Rosario, Argentina.
Palavras chave:
Key words:
Resumo:
Abstract:
Cultura
Universidade
Estudos culturais
Contexto
Campo
Culture
University
Cultural studies
Context
Field
113
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cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
¿Cómo hablar de cultura en la
universidad? La gestión de un campo
para los Estudios Culturales
114
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
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Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
115
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
Gedisa, 2002.
1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
116
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
117
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cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
Gedisa, 2002.
1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
118
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pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
Gedisa, 2002.
1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
119
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cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
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Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
120
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pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
Gedisa, 2002.
1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
121
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cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
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Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
122
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
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1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
124
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
cias formativas diferentes, lo cierto que,
en el terreno de la cultura, nos hallamos
atrapados en un campo enunciativo que
fluctúa entre nociones circunscriptas entre
dos extremos. Por un lado, una noción
amplia, muy general que hace equivaler a
la cultura con toda una sociedad y que se
evidencia en nociones como “la cultura
argentina” o “la cultura brasilera”. Por el
otro, una noción restrictiva, referida a la
“encrucijada valorativa” de la cultura como
reclama Beatriz Sarlo y que tiene sus
raíces en la concepción adorniana del
terreno de las artes y la literatura (Sarlo,
1997). Precisamente, ubicándonos en
medio de esta tensión, propusimos ges-
tionar un programa de estudios interdisci-
plinario para incursionar en los flujos y
acciones de la cultura contemporánea.
CONTEXTOS
Lawrence Grossberg plantea que
los estudios culturales no son estudios
“sobre” la cultura, aunque la cultura sea
un punto fundamental del proyecto, sino
que tienen como objeto las formas en que
las prácticas culturales producen, se
insertan y operan en el interior de la vida
cotidiana. Los estudios culturales ofrecen
una estrategia y una política para explorar
los modos en que los contextos de vida se
constituyen en matrices de poder y de
conocer las posibilidades de luchar, resis-
tir y cambiar las estructuras de ese poder.
Entonces cabe preguntar: ¿cuál es
el contexto desde el cuál partimos para la
promover un programa de estudios cultu-
rales? ¿Cuál la coyuntura que presiona al
momento de asumir nuestra tarea intelec-
tual? En lo inmediato, nuestro contexto es
la vida institucional, nuestra experiencia
académica atravesada por relaciones
sociales y políticas que suponen un com-
promiso tanto con el adentro y el afuera de
la universidad. Algo similar postula Heloisa
Buarque de Hollanda cuando dice que los
estudios culturales son un área con una
vinculación visceral a contextos históricos
y geopolíticos [Buarque de Hollanda,
2011]. Contrariamente a la tradición univer-
salista desde la que se pensó el orden
curricular en las disciplinas sociales y
humanísticas en América Latina, los estu-
dios culturales impulsan hacia una lógica
local en la producción de conocimiento.
Partimos de una localidad cultural
(Rosario) a fin de poner en relación una
ciudad con su situación regional (Mercosur,
Unasur) en el marco de un intercambio
cultural global. La instancia que abren los
estudios culturales, permite que lo local
sea básicamente la posibilidad de poner en
circulación teorías y conocimientos genera-
les en concordancia con políticas propias,
tanto desde lo académico como de las
organizaciones gubernamentales y no
gubernamentales. Significa poder reflexio-
nar sobre las relaciones entre modernidad
y posmodernidad en el mundo global en el
marco de las prácticas cotidianas. Significa
producir una teoría de la cultura que regis-
tre sus circunstancias y pueda sostener un
contacto fluido con la red cultural pública
tanto gubernamental como con los movi-
mientos sociales. Cuando hablo de cultura
lo hago a partir de una precisa circunstan-
cia de enunciación: la experiencia de vida
en una ciudad de un millón de habitantes
que está situada a 318 kilómetros de una
megalópolis, Buenos Aires, con once millo-
nes de habitantes. La relación entre estas
dos ciudades fue históricamente pensada
en términos de dependencia interna: el
poder centralizador y amenazante de
Buenos Aires es producto de una larga
historia de dominación y vaciamiento ejer-
cida sobre las ciudades del interior del
país. Esto ha sido una de las marcas cons-
titutivas de la nación argentina y las notas
básicas de un problema político y económi-
co que no deja de suscitar tensiones en la
vida cultural de nuestra sociedad.
puntos de contacto y los desencuentros,
los puntos ciegos de una situación que
encontrará sus salidas en la posibilidad de
articular o fundar otros sistemas u otros
circuitos de evaluación y producción.
Los estudios culturales dibujan un
campo de fuerzas a partir de tres puntos
básicos - cultura, sociedad y universidad -
con el objetivo de construir un territorio
posible desde el cual desarrollar un traba-
jo de gestión innovador. Hablo por mi
experiencia reciente: la gestión de la
Maestría en Estudios Culturales en el
Centro de Estudios Interdisciplinarios la
Universidad Nacional de Rosario
3
. En el
momento de elaborar nuestra perspectiva
conceptual, que ya señalé como un factor
imprescindible a la hora de trabajar en la
cultura, partimos de los aportes realizados
por especialistas provenientes de distin-
tos campos de estudio. En los últimos
años se han publicado una gran cantidad
de trabajos sobre teoría de la cultura
como sobre políticas culturales. Particu-
larmente, llama la atención la edición de
diferentes diccionarios.
4
Los diccionarios,
como las enciclopedias, son formas de
ordenar el saber y recurrimos a ellos en
situación paradojal. Si la modernidad
comienza con una Enciclopedia, con la
quimera de Diderot y D’alembert de com-
pilar la suma del conocimiento, siglos des-
pués los cimientos mismos de esa moder-
nidad serán sacudidos con otra enciclope-
dia: la que Borges imaginó en el “Idioma
analítico de John Wilkins” y que hace reír
a Foucault al iniciar la escritura de Las
palabras y las cosas y su descripción del
trastorno profundo del afán clasificatorio
del pensamiento occidental.
En los inicios del siglo XXI, la
preocupación por definir el término cultu-
ra, y establecer un léxico básico para el
campo de estudios correspondiente,
probablemente se ajuste a la necesidad
académica de fundar una lengua vehicu-
lar, una especie de esperanto que pueda
mediar entre las distintas disciplinas y
legitimar un área de conocimiento. La
proliferación de diccionarios y de lexico-
nes también puede ayudar a la revisión de
las bases epistemológicas de los tradicio-
nales estudios humanísticos a fin de obte-
ner mapas confiables para el abordaje de
las relaciones entre cultura y sociedad en
el momento en que han caído las certezas
desde las cuales analizábamos la dimen-
sión simbólica de la vida colectiva. Vienen
a aportar el rigor científico necesario para
autorizar las bases institucionales para el
estudio de las acciones de producción,
administración y distribución de la cultura.
Son los pasos obligatorios para organizar
un campo disciplinar que propicia la emer-
gencia de espacios innovadores para la
discusión académica. Por último, los
diccionarios, junto con los numerosos
ensayos interdisciplinarios, son una forma
de dar respuesta a un cierto malestar
curricular que asoma en las aulas univer-
sitarias a causa de la desconexión entre la
academia y la sociedad en temas que
revisten una cierta urgencia: la experien-
cia de la violencia (lo que Susana Rotker
denominó “ciudadanías del miedo”) y la
profunda desigualdad en los modos de
acceso a la sociedad del conocimiento.
En el marco latinoamericano, la
relación entre cultura, sociedad y universi-
dad asume significativas variaciones
según la impronta de cada una de nues-
tras historias y tradiciones instituciona-
les. Si indagáramos exhaustivamente en
las estrategias de la gestión de la cultura
en cada uno de los casos específicos,
probablemente las circunstancias que
rodean a los colegas de Niteroi o Medellín
o Lima difieran con las de Rosario. De ahí
que resulte interesante la tarea de articu-
lar un consenso crítico y epistemológico
que nos permita encontrar unas bases
sólidas para avanzar en los intercambios.
Más allá de que provenimos de experien-
te estamos pensando desde las coordena-
das de un tiempo complejo. Giorgio Agam-
ben advierte que los coinciden de una
manera excesivamente absoluta con la
época, que concuerdan perfectamente con
ella, no son contemporáneos porque, justa-
mente por esa razón, no consiguen verla,
no pueden mantener su mirada fija en ella.
De ahí que lo contemporáneo habite en las
fallas, en las fracturas del tiempo que nos
ha tocado vivir. Michel Foucault veía al
pasado como la sombra que producen las
interrogaciones teóricas del presente. Ante
el tiempo es el título del libro de Georges
Didi-Huberman que retoma estas coorde-
nadas para finalmente declarar la sobera-
nía del anacronismo entendido como una
constelación de tiempos heterogéneos que
convergen como efecto de ciertas expe-
riencias culturales y artísticas. Más que
hacer historia, dice, importa examinar las
manipulaciones que la memoria hace del
tiempo. En los fragmentos de un muro de
Fra Angélico pintado en un convento
florentino del Quattrocento, el crítico fran-
cés “ve” o experimenta el recuerdo de los
drippings de Jackson Pollock. Un cuadro,
entonces, puede contener todos los tiem-
pos y Fra Angélico ser más afín a los pinto-
res de la neo-vanguardia que de sus con-
temporáneos renacentistas. Somos con-
temporáneos a condición de poder manipu-
lar múltiples tiempos.
Desde esta experiencia de la con-
temporaneidad, abordar la cultura viviente
significa instalarse en las borrosas fronteras
entre el pasado y el presente para enten-
der las variables que envuelven a la activi-
dad humana inserta en un proceso básico y
decisivo: el entramado del lenguaje. Preci-
samente, Raymond Williams pensó que las
formas de la cultura estaban inevitable-
mente ligadas a las formas del lenguaje.
2
Capas de aire, aliento material, grano de
la voz, emanación vibrátil de los cuerpos,
el lenguaje no es instrumento sino prácti-
ca activa, cambiante, nunca fija. En sinto-
nía con Raymond Williams, pensamos
que la estructura de sentir brinda una
perspectiva para enmarcar una forma
posible de hablar de cultura en el presente
y, al mismo tiempo, gestionar un programa
de estudios culturales en donde la cultura
sea entendida como conciencia práctica.
La tarea reviste un costado político: con-
siste en liberar a los sentidos corporales
de su alienación y restaurar la experiencia
de lo táctil tan afín a las estrategias de las
vanguardias. Susan Buck-Morse propone
reconciliar al arte y la cultura con lo estéti-
co pero a condición de recuperar el signifi-
cado etimológico de la palabra “estética”,
es decir, aquello que “percibe a través de
la sensación”. Aisthesis, la experiencia
sensorial de la percepción. Las terminales
de los sentidos – nariz, boca, ojos, oídos,
algunas áreas más sensibles de la piel -
están localizadas en la superficie del
cuerpo, la frontera que media entre el inte-
rior y lo exterior. El campo original de la
estética no es el arte sino la realidad, la
naturaleza corpórea, material. (Buck-
Morse, 2005). Entonces, si los cuerpos
importan es imprescindible orientar la
educación para la resistencia contra la
domesticación cultural de nuestros senti-
dos. El centro no es el cerebro, sino el
cuerpo en tanto sistema sinestésico que
conecta con el mundo de afuera.
Un programa de estudios de la
cultura que trabaje para la justicia social
hará propicia la creación de espacios
institucionales de sensibilización ajenos al
formato burocrático y los controles de
medición, en definitiva, de una política
que resista a la “pulsión de prueba” como
la entiende Avital Ronell, es decir, del
testeo a través del número (de publicacio-
nes, nacionales e internacionales, con
referato o sin referato, de direcciones y
codirecciones de tesis, de tesis en curso y
tesis aprobadas, etc. etc. etc.). Nos
preocupa la relación entre la cultura de la
universidad y la cultura de la sociedad, los
ractuando con agentes ajenos a la
universidad: estados municipales o pro-
vinciales, ongs, empresas privadas.
En el campo de los estudios cultu-
rales desde hace ya bastante tiempo se
viene advirtiendo sobre el fenómeno de la
expansión de la cultura al ámbito político y
económico. George Yúdice analiza el
proceso de culturalización de la economía
hacia fines del siglo XX en su imprescindi-
ble El recurso de la cultura desde donde
redefine las tradicionales nociones de la
cultura que distinguían entre lo alto, lo
masivo y lo antropológico. Si atendemos a
la nueva división internacional del trabajo
cultural veremos cómo se han desarticula-
do muchos de nuestros viejos paradigmas
interpretativos. La cultura ya no es sólo la
expresión de la identidad de un grupo o la
lucha entre los contenidos culturales
hegemónicos y subalternos o entre lo
local y lo universal. Hoy en día, la alta
cultura -lejos de definirse en oposición a la
cultura de masas- también es un recurso
cuando, para dar un ejemplo de la ciudad
de Rosario, un festival de poesía o un
museo de arte contemporáneo pasan a
formar parte de un proyecto urbano que, a
su vez, se vende como atracción turística.
La cultura entendida como recurso entra
en sintonía con una racionalidad económi-
ca comparable a la que se aplica a los
recursos naturales [Yúdice, 2002, 14].
Esto sucede como efecto del proceso
vertiginoso de expansión cultural que se
produce en sintonía con la dinámica de
desmaterialización y distribución sin
precedentes de los bienes simbólicos en
el marco del denominado “capitalismo
cultural” en la era posfordista del trabajo.
Pero antes de continuar con el
tema de la cultura como recurso, o mejor,
para encontrarle una variable que atienda
a nuestra actual coyuntura universitaria,
quiero recuperar un aspecto del problema
muy presente en Raymond Williams y que
resulta importante si pensamos que la
gestión de la cultura debe estar acompa-
ñada de un programa de estudios que
argumente sobre teoría de la cultura. Una
teoría que reintroduzca lo material en este
ámbito será posible desde un pensamien-
to de la experiencia. Afincar la especula-
ción sobre la cultura en la experiencia es
una forma de accionar contra las abstrac-
ciones y la excesiva desmaterialización
del mundo posmoderno. Para ello, es
necesario citar aquí otra palabra clave o
construcción verbal central de Marxismo y
literatura de Williams: la “estructura de
sentimiento” o, mejor, “estructura del
sentir”. Pienso que si la cultura es un
recurso como postula Yúdice, ella comien-
za por accionar en lo físico y en lo corpo-
ral. Es un dato que interesa a la hora de
analizar cómo es que hablamos de cultura
en la universidad, una observación que
resultó decisiva al momento de elaborar
nuestro programa de Estudios Culturales.
Decidimos abordamos la cultura desde un
tiempo presente para evitar las descripcio-
nes y trabajos propios de los estudios
humanísticos o la sociología clásica que
generalmente han pensado la cultura en
tiempo pasado. De cierta forma, procura-
mos emplazar nuestras experiencias en el
tiempo presente a fin de resistir su trans-
formación en un producto acabado. El
dilema que afrontamos es justamente la
dificultad que produce pensar lo contem-
poráneo, esto que está sucediendo ahora
cuando escribo a fin de resistir activamen-
te una posible separación entre la cultura y
la sociedad, entre experiencia y universi-
dad. Desde el punto de vista de los estu-
dios culturales, el interés reside en dar
cuenta de lo vivo, de lo que está siendo, en
cierta forma, del roce de nuestro objeto de
estudio con lo personal, lo subjetivo: esto
que me está sucediendo aquí y ahora.
Lo contemporáneo es tema de
debate y terreno incierto. Vale la pena
anotar que cuando decimos tiempo presen-
LA PALABRA CULTURA
“No hablan el mismo idioma” decía
Raymond Williams. Se refería a las distin-
tas formas de valorar o los diferentes inte-
reses aplicados a una misma palabra sin
precisar los alcances de su significación.
Sospechamos que cuando decimos
cultura no siempre hablamos el mismo
idioma ni referimos al mismo fenómeno.
(Williams, 2003). En la medida en que un
vocablo registra usos variados por parte
de múltiples agentes, la prudencia impone
examinar las circunstancias y operar con
el rigor crítico que permita establecer una
conversación entre distintas disciplinas y
colegas de disímiles procedencias. La
palabra cultura está ligada a los contex-
tos, es decir, en estrecha relación con el
campo de fuerzas en donde se configuran
nuestras experiencias. Por eso, si cultura
es una palabra clave y describe un área
de convergencia, entonces habrá que
afinar el análisis sobre sus usos. Para
empezar, podemos decir que cultura es
un vocablo altamente significativo y aca-
rrea incertidumbres teóricas y dificultades
relacionadas con su conceptualización,
sus referencias y sus aplicaciones.
En primer lugar, creo importante
señalar que en el marco de la universidad
se plantea una circunstancia institucional
problemática al momento de iniciar una
conversación sobre la cultura. Existe una
suerte de consenso académico sobre la
necesidad de promover el abordaje inter-
disciplinario y de dar impulso a programas
de estudios que atiendan a las nuevas
tramas socio-culturales configuradas en
las últimas dos décadas del siglo XX, en
especial, a los procesos de “des-
clasificación” y “des-distribución”, como
los denomina Hans Ulrich Gumbrecht:
“mientras las diferencias a nivel de los
ingresos individuales crecen exponencial-
mente, la tradicional jerarquía simbólica
entre las diferentes clases sociales parece
haber desaparecido hace mucho”
(Gumbrecht, 2003). Un dato sobresaliente
de nuestro contexto son los desbordes de
los parámetros de las modernidades
nacionales a partir de las grandes corrien-
tes migratorias y los efectos de las nuevas
tecnologías. Estos fenómenos, que
operan a escala transnacional, han astilla-
do las nociones convencionales y de
mayor circulación referidas a la cultura: la
que piensa a la cultura como una esfera
relativamente autónoma o, del otro y en
un sentido más antropológico, la que
entiende que cultura es una forma de vida.
El problema consiste en que, al momento
de determinar un lugar propicio para esta-
blecer un diálogo y una acción interdisci-
plinaria en conexión con la levadura cultu-
ral que crece en la calle, la universidad
parece no poder ofrecerlo. Nos pregunta-
mos ¿en qué espacio académico pueden
asentarse programas de estudios móviles,
fluidos y en condiciones de sortear los
protocolos formales con los que funciona
la universidad? ¿Cómo sincronizar los
tiempos largos del trámite académico con
la aceleración del tiempo social?
El tema reviste su importancia
porque, como señala Heloísa Buarque de
Hollanda, innovar, pasar fronteras, inven-
tar es una operación de riesgo en el área
de las humanidades y de los departa-
mentos de comunicación y sociales en
que se divide el saber ya consolidado.
(Buarque de Hollanda, 2010). En general
la conversación transdisciplinar termina
produciéndose en los márgenes de la
institución, o simplemente se despliega
en algún congreso o proyecto de investi-
gación y, en muy pocas ocasiones, inte-
Hay veces que comenzamos por
una intuición para dar inicio a una investi-
gación. Partimos de la hipótesis de que la
universidad es una isla urbana. En el
marco de la segmentación que caracteri-
za a las metrópolis contemporáneas, la
universidad funciona como un mundo
aparte, con sus reglas y protocolos y que
de vez en cuando interactúa con otros
mundos en un espacio complejo y múlti-
ple. ¿Existe alguna sintonía entre las
prácticas universitarias y las prácticas de
la vida cotidiana en la ciudad? ¿Cómo es
que se relaciona la universidad con el
afuera? Y si coincidimos en que ese
vínculo es frágil e intermitente, ¿cómo
intensificar el diálogo y multiplicar las
conexiones a fin de propiciar una trama de
colaboración fecunda? Esta es la encruci-
jada en la nos encontramos al asumir la
tarea de propiciar cambios para dejar de
ser sólo observadores de las formas cultu-
rales y comenzar a introducirnos en el
mundo de los problemas de la gente con
la finalidad de aportar para la constitución
de vasos comunicantes entre los investi-
gadores, los diferentes proyectos de
producción cultural y la acción comunita-
ria. Si acordamos que la cultura no se
distingue de la política y la economía, será
gestión la otra palabra clave para estable-
cer estrategias de relación. Como lo ha
señalado George Yúdice, la cultura como
recurso constituye un nuevo pacto episté-
mico donde la ideología y buena parte de
lo que Foucault denominó sociedad disci-
plinaria son absorbidas dentro de una
racionalidad económica o ecológica de
modo tal que se vuelven prioritarias la
gestión, la conservación, la administra-
ción, la distribución y la inversión. Frente a
este nuevo panorama de la cultura, ¿cuál
es la política de relaciones de la institu-
ción a la que seguimos llamando universi-
dad? ¿Qué política viene desarrollando
en reconocimiento de este nuevo marco
epistemológico que entiende a la cultura
como un campo de negociación más que
como la expresión de contenidos? Una
concepción expandida de la cultura se
legitima en función de su capacidad de
resolver problemas sociales y se constitu-
ye como incentivo para la generación de
riquezas y la inclusión social. En este sen-
tido, la economía política es economía
cultural. ¿Y cuáles son los programas de
estudios que contemplan estos cambios
estructurales? Creo no equivocarme si
respondo que prácticamente esos progra-
mas constituyen una alarmante minoría.
EL CAMPO DE CULTURA EN EL CON-
TEXTO DE LA CULTURA DE LA SOJA
Para operar con la estrategia del
anacronismo, el contexto desde el cual
abordo el tema de la cultura como recurso
me permitió recuperar el concepto prima-
rio de la palabra cultura, el que está
inscripto en su genoma etimológico: el
cultivo de la tierra. Este orden primario de
la significación del vocablo posiblemente
haya sido paulatinamente abandonado a
causa del imaginario iluminista del progre-
so que propició que la ciudad se constitu-
yera en sinónimo de cultura en oposición
a la rusticidad de la vida campesina. Y sin
embargo, a fines del siglo XX, cambios
tecnológicos radicales se asientan en el
campo de tal forma que la agricultura se
volvió un enorme laboratorio científico.
Vivimos una época en la cual la tradición
del cultivo de la tierra está siendo violenta-
mente transformada por el capitalismo
transnacional que se cierne como amena-
za a la biodiversidad. El historiador Eric
Hobsbawm graficó los cambios ecológi-
cos del planeta desde una perspectiva
satelital. Al comienzo de la era de las
revoluciones la Gran Muralla China era el
único resultado de la acción del hombre
sobre la Tierra que podía ser visto desde
el espacio. A comienzos del siglo XXI, en
cambio, se hace visible la reducción de
los espacios verdes, el aumento del
ochenta, alimentaron a la porción más
importante de la novela y el ensayismo
latinoamericano también parecen haber
caído junto a la caída del Estado benefac-
tor y el inicio de la era pos-industrial. Posi-
blemente Transculturación narrativa en
América Latina de Ángel Rama sea la
última lectura de la tradición regionalista y
la formulación de un utopismo rural inspi-
rado por la figura mítica del etnógrafo y
escritor peruano José María Arguedas.
Rama argumentó sobre la transcultura-
ción desde un programa estético-político
que entiende la modernidad como un
proyecto sin fisuras, hegemónico y homo-
geneizador instrumentado por las elites
urbanas. Como lo analizó Mabel Moraña,
frente al poder hegemónico asentado en
las ciudades metropolitanas y sus subsi-
diarias latinoamericanas, el crítico
uruguayo formuló un programa de desco-
lonización cultural invirtiendo la dicotomía
civilización/barbarie que, desde el Facun-
do de Sarmiento, fue la trama a partir de la
cual las elites intelectuales locales pensa-
ron las políticas culturales para el conti-
nente (Moraña, 1997). En contraposición
a la idea de que las ciudades eran las
proveedoras de ciudadanía y de educa-
ción para salir del atraso, el imaginario
regionalista produjo una serie de utopías
rurales que veían en el campo el ámbito
de la autenticidad y la identidad. Si el
iluminismo y el positivismo burgués sostu-
vieron el mito del progreso y la moderniza-
ción en camino hacia la emancipación, el
ensayismo culturalista lo puso en duda a
partir de la creencia en que la fuerza libe-
radora residía en lo vernáculo.
Resulta curioso que a comienzos de
los ochenta Rama retorne al momento
inicial del regionalismo latinoamericano, en
especial al manifiesto regionalista de
Gilberto Freyre. Frente al cosmopolitismo
paulista y carioca, Freyre produjo una
suerte de recuperación proustiana de la
provincia basado en una extensa y detalla-
da descripción de sabores de infancia. Son
los recuerdos de provincia que paradójica-
mente advienen, igual que tantos otros
casos, desde el extranjero. Freyre comien-
za a pensar en su región natal cuando viaja
a Nueva York. Como suele ocurrir, la tierra
de la infancia es un recuerdo que retorna
desde el centro mismo de la modernidad.
La modernidad tendió a dividir a la
población entre los que actuaban en el
mundo de la escritura y los que actuaban
en el mundo de la oralidad. En la mayor
parte del tercer mundo rural, la distinción
básica era entre “la costa” y el “interior”,
entre “la ciudad” y “la selva”. El principio
era el verbo y conocimiento equivalía,
literalmente, a poder. Algo especialmente
visible en países donde el estado era, a
los ojos de sus súbditos, una maquinaria
que absorbía sus recursos y los repartía
entre los empleados públicos. Era un
mundo en el que la gente pobre del
campo podía beneficiarse de la educación
u ofrecérselas a sus hijos porque el deseo
de aprender era prácticamente universal.
Esas ansias de conocimiento explican en
buena medida la enorme migración del
campo a la ciudad que despobló el agro
en América del Sur a partir de los años
cincuenta. En la ciudad todos podían
“llegar a ser algo”. El mero hecho de saber
conducir un vehículo a motor –dice Hobs-
bawm- podía ser la clave para una vida
mejor. Y en cada uno de los momentos de
crisis, desde el corazón mismo de las
ciudades, emergió el utopismo rural como
espacio imaginario al que se le atribuía
rasgos de una sociedad integrada, orgáni-
ca, más justa y solidaria. Esa versión
idealizada del pasado, las “arcadias” de
las que habla Raymond Williams, son la
contrapartida de una mirada crítica con
respecto al orden tecnológico y a los cam-
bios que impone.
¿Cuándo cayó la imagen del campo
como primitivismo autóctono, de lo verná-
culo, de la “peculiaridad cultural” como
dice Rama? ¿Cuál es el último avatar de
su tecnificación? En ningún lugar chocaron
los viejos y nuevos usos tan frontalmente
como en la frontera amazónica de Colom-
bia cuando en los años setenta se convirtió
en la sede de los laboratorios que transfor-
maban la coca en cocaína. Y en el Cono
Sur, cuando se introduce el cereal diseña-
do científicamente dando inicio a una
reconversión rural sin precedentes. Enton-
ces, cabe preguntarse, qué es hoy “el
campo” y qué “la ciudad” en América
Latina, qué funciones podemos atribuir al
mundo rural, por ejemplo, en un país como
la Argentina, que había ingresado tempra-
namente a la modernidad bajo la metáfora
de “granero del mundo”. Hacia fines de
siglo XX, la modernización tecnológica y la
investigación biogenética se instalaron en
el campo y desde allí vienen modificando
las ciudades. Si un fantasma recorría el
mundo en la década del ochenta era el de
Frankenstein aunque esta vez, a la inversa
del monstruo de Mary Shelley, los científi-
cos jugaron a crear vida a partir de los
organismos vivos. La expresión transgéni-
co fue acuñada en 1981 por Gordon y
Ruddle para designar a los OMG
(Organismos modificados genéticamente)
obtenidos mediante la manipulación de
genes. La biotecnología implantó el
modelo de las "granjas moleculares" que
producen grandes beneficios económicos
a través de los diseños transgénicos de
oleaginosas. De este modo, finalizó un
orden milenario de la agricultura, esencial
para garantizar la continuidad de la finca
agraria y su producción, según el cual el
agricultor se proveía a sí mismo de la
semilla que requería para el año siguiente.
Ahora, en la medida en que depende de
unas pocas grandes empresas gigantes
para la provisión de la semilla y del paque-
te tecnológico que la acompaña, los
productores fueron perdiendo autonomía y
funcionalidad. Actualmente se da la para-
doja de una agricultura sin agricultores.
Partiendo de un aquí local y un
ahora global (Appadurai, 2001) cabe
preguntar por los términos en que operan
los procesos de construcción cultural en
nuestras realidades locales. Planteamos
un programa de estudios culturales desde
la ciudad de Rosario que se encuentra
sujeta a las alternativas de una revolución
agraria que ha alterado notoriamente su
paisaje. Hace ya varias décadas que
vivimos en lo que Marie-Monique Robin
denominó “el mundo según Monsanto”
5
.
Es la época de la super-producción de
granos y de la expulsión de las poblacio-
nes campesinas hacia las periferias de las
ciudades en busca de trabajo. El desarro-
llo biotecnológico al servicio del capital
financiero canaliza el flujo de miles de
migrantes regionales (de las provincias
más pobres del norte argentino y de los
campesinos de los países limítrofes, en
especial, paraguayos y bolivianos) hacia
las ciudades pos-industriales donde algu-
nos logran ingresar al mundo laboral de
los servicios de limpieza y mantenimiento
más básicos mientras otros viabilizan su
inserción social en alguna ONG o coope-
rativa dedicada a reciclar los residuos.
Silviano Santiago [2004] ha denominado
“cosmopolitismo del pobre” a esta nueva
forma de desplazamiento de deshereda-
dos y campesinos de todas partes que
saltan por encima de la revolución indus-
trial y caen directamente a la posmoderni-
dad de las metrópolis y también aquellos
que, aunque no cruzan o no pueden
cruzar fronteras, participan en la cultura
global ingresando a través de la cultura de
masas y sus extensiones electrónicas.
Existen diferentes situaciones de
tensión entre lo local y lo transnacional y
profundas transformaciones producidas
por las migraciones y la tecnología elec-
trónica. Los procesos sociales locales se
encuentran cada vez más impactados
por las corrientes de flujo, transmigra-
ción, transplantación y tránsito poblacio-
nal, económico y cultural que el antropó-
logo cubano Fernando Ortiz en 1940 ya
había analizado en términos de “transcul-
turación”. Este proceso de reconfigura-
ción de territorios y poblaciones necesa-
riamente demanda de una revisión crítica
del otro campo, el de los estudios de
cultura y de los alcances de la palabra
cultura en el marco de la universidad
que, en sus formas organizacionales y
departamentales, parece más conectada
con los paradigmas del siglo XIX que con
los del XXI. Desplegando distintas posi-
ciones críticas, será útil revisar las nocio-
nes que aún vertebran gran parte de los
estudios provenientes de las humanida-
des basadas en conceptualizaciones
universalistas de los sujetos.
Nuestro programa de estudios
culturales hace eje en la promoción de
ciudadanías culturales como estrategias
de inclusión en tanto propuesta política
decisiva no sólo para Argentina, sino para
toda América Latina. Estas modernidades
desbordadas, como la de los demás
países periféricos, están dramáticamente
atravesada por la desigualdad. Lo acu-
ciante de nuestras sociedades se traduce
en millones de personas que están fuera
del sistema a causa del diseño de políti-
cas de exclusión internas y externas. De
ahí que el lugar desde donde se habla o
desde donde se teoriza se vuelva particu-
larmente relevante. No sólo el lugar desde
donde se habla y teoriza, sino también
como dice Hugo Achugar (2001), el lugar
desde donde se lee.
Nuestra propuesta pugna por la
emergencia de un campo de fuerzas en
donde cohabiten y negocien disciplinas
que en la estructura académica persis-
ten dentro de férreas fronteras organiza-
cionales: los estudios literarios, las cien-
cias de la comunicación, la antropología,
las artes, la sociología que actualmente
sólo contactan en los discursos críticos
que subvierten el orden institucional que
los disciplina en compartimentos estan-
cos. En la Maestría en Estudios Cultura-
les de Rosario formulamos un recorrido
que atiende a los ejes relacionales de lo
local-global evitando que lo local funcio-
ne como un ejemplo o como una mera
resistencia a las políticas globales sino
más bien como la emergencia de espa-
cios de innovación y creación que dina-
micen identificaciones parciales y puen-
tes afectivos en un tejido social dañado.
En sentido contrario de algunas narrati-
vas recientes que describen a las perife-
rias urbanas de América Latina sólo
como espacios de la violencia (droga,
trata sexual, miseria, marginación y
muerte), ponemos atención en las alter-
nativas culturales que enfrentan a las
políticas de criminalización del otro y
prestamos oído a una serie de voces
disonantes que bregan por articular
espacios de esperanza como dice David
Harvey (2003). Nos interesa conectar
con los artistas y productores culturales
que enunciando y produciendo en los
límites (de la ciudad, de la lengua, del
sistema) luchan por la inclusión en un
momento histórico en donde han caído
las viejas herramientas de disciplina-
miento estatal centradas en la educa-
ción formal, la participación política y el
trabajo asalariado. En este sentido,
habrá que elaborar una agenda propia
de temáticas para el intercambio y el
establecimiento de una conversación
sobre la cultura en América Latina.
Pienso en una serie mínima y posible: a)
las tensiones entre el campo y la ciudad
desde sus lugares de intercepción,
especialmente los múltiples espacios de
fronteras que las ciudades dibujan
actualmente; b) las acciones concretas
de políticas académicas en relación a
los espacios institucionales como
museos y centros culturales y grupos
alternativos que en medio de las crisis
económicas y sociales promocionan y
posibilitan gran parte de la producción
artística contemporánea; c) los flujos
ciudadanos y las ciber-ciudades que
articulan un nuevo urbanismo apuntan-
do a reconstruir espacios públicos, al
aire libre y en la web, en las calles y
plazas como territorios densamente
marcados por sus habitantes.
Cuando ha caído la idea del poder
redentor del arte como la del esteticismo
resistente a cualquier demanda prove-
niente de la presión social, tal vez un
buen programa de trabajo consista en
abrir la discusión sobre la existencia o no
de un poder crítico que alcance a conec-
tar con aquello que vibra más allá de las
islas académicas.
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YÚDICE, George. El recurso de la cultura. Los
usos de la cultura en la era global. Barcelona,
Gedisa, 2002.
1
Drª. en Letras. Universidad Nacional de Rosario.
2
Lee en la Ideología alemana: “[E]l “espíritu” nace ya
tarado con la maldición de estar “preñado” de materia,
que aquí se manifiesta bajo la forma de capas de aire en
movimiento, de sonidos, en una palabra, bajo la forma
del lenguaje. El lenguaje es tan viejo como la concien-
cia: el lenguaje es conciencia práctica […]” [Marx –
Engels, 1968, 31].
3
Proyecto gestionado junto con la Dra. Sandra
Vandettaro a partir del año 2010.
4
Los más destacados: Altamirano, Carlos (Director).
Términos críticos de sociología de la cultura, Bs. As.,
Paidos, 2002; Coelho, Texeira. Diccionario crítico de
política cultural. Cultura e imaginario. Barcelona,
Gedisa, 2009; Mckee Irwin, Robert / Szurmuk, Mónica.
Diccionario de Estudios Culturales Latinoamericanos.
México, Siglo XXI Editores, 2009.
5
“El mundo según Monsanto” es el título de la película
documental y del libro que dan cuenta de la investiga-
ción realizada por la francesa Marie-Monique Robin
sobre la empresa Monsanto de Saint-Louis (Misuri,
EEUU) que en más de un siglo de existencia fue
fabricante del PCB (piraleno), del agente naranja usado
como herbicida en la guerra de Vietnam. La empresa
también ha desarrollado la soja transgénica para incre-
mentar el volumen de herbicidas que la misma empresa
produce y comercializa, como el potente "Roundup" que
contamina cultivos de plantas comestibles por proximi-
dad. Argentina es el tercer productor de cultivos transgé-
nicos en el mundo con 22,9 millones de hectáreas. El
primero es EE. UU. (66,8 millones) y el segundo Brasil.
Debido a que la mayor parte del cultivo se localiza en los
alrededores del puerto de Rosario, es la Bolsa de
Comercio de esta ciudad el principal ámbito de comer-
cialización de soja, seguido en importancia por la Bolsa
de cereales de Buenos Aires.
tamaño de las grandes metrópolis, la luz
de ciertas instalaciones gigantes como los
grandes aeropuertos, los destellos de las
guerras y de las catástrofes. Se me ocurre
que desde estas imágenes espaciales
surge una agenda para los estudios cultu-
rales del nuevo milenio. Advierte el histo-
riador inglés que los dos problemas cen-
trales, y a largo plazo decisivos para el
destino de la humanidad, son de orden
demográfico y ecológico (Hobsbawm,
2001). Al mismo tiempo que disminuye el
espacio verde, crece la brecha que
separa ricos y pobres.
Me remito a Hobsbawm para argu-
mentar que los cambios ocurridos en el
último cuarto del siglo XX significan el fin
de siete u ocho milenios de historia huma-
nas que habían comenzado en el paleolíti-
co. Con el desarrollo de la biotecnología
vegetal y el diseño de plantas transgéni-
cas terminó la larga era en que la inmensa
mayoría de la humanidad se sustentaba
practicando la agricultura y la ganadería.
Hoy resulta verdaderamente sorprenden-
te enterarnos que la población que habita-
ba en ciudades a principios del siglo XX
era el 10 % del total mundial. La gran
esperanza de los científicos es que la
población del planeta, en constante
aumento desde mediados del XX, para el
2030 quede estable en una cifra cercana
a los diez mil millones de seres que es
cinco veces la población existente en
1950. Hay sociólogos y urbanistas que
pronostican que para el 2050 la gente
sólo vivirá en ciudades. Se detienen en
argumentar sobre las futuras catástrofes
causadas por la superpoblación, el haci-
namiento y la deformidad urbana. Serán
“ciudades monstruosas totalmente ajenas
a un modelo de sociedad que organice
una coexistencia armoniosa”
(Lefranc, 2006). A juzgar por la
“directiva de retorno” aprobada hace unos
años por el Parlamento Europeo, la civitas
de los países del norte que, según Mongin
se nutre del humanismo renacentista,
terminará dibujando sólo un flujo expulsi-
vo para los miles de migrantes afectados
por el hambre y la guerra, la desocupa-
ción y la miseria. Para una enorme
porción de la humanidad, las ciudades
europeas terminarán ofreciendo calles de
dirección única con sentidos orientados
sólo hacia la puerta de salida.
Raymond Williams, a inicios de la
década del 70, se quejaba de la hipocre-
sía de las sociedades industriales ricas
cuando advertían sobre las consecuen-
cias del dramático proceso de superpobla-
ción en las megalópolis de los países
“subdesarrollados” en donde las poblacio-
nes rurales desde mediados del siglo XX
vienen desplazándose hacia los centros
de una economía monetaria en busca de
trabajo y de una oportunidad de progresar.
Para confrontar abiertamente con la astu-
cia imperial en materia argumentativa,
escribió El campo y la ciudad, una origina-
lísima historia de la literatura inglesa que
demuestra que tanto la ciudad como el
campo son construcciones culturales rela-
cionadas al proceso básico del capitalis-
mo como modo de producción. En la
urdimbre de sus imágenes, encontramos
un fragmento que bien podría formar parte
de las crónicas urbanas de los escritores
latinoamericanos: “La última imagen de la
ciudad, en el ex mundo colonial y neocolo-
nial, es la capital política o el puerto
comercial rodeado de barrios pobres, las
barriadas que con frecuencia crecen a
una increíble velocidad. En Perú, mientras
escribo esto, unas pocas hectáreas de
desierto se transformaron, de la noche a
la mañana, en una ciudad de treinta mil
habitantes (…)” (Williams, 2001, p. 354).
El horizonte del siglo XXI es
urbano. Desde esta perspectiva, las viejas
utopías -particularmente las rurales- que
desde la década de veinte hasta los años
Contato:
Mónica Bernabé
mbernabe@express.com.ar
125
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Formação em organização da cultura: a situação latino-americana
Formación en la organización de la cultura: la situación de América Latina
Training in the organization of culture: the latin american situation
Alexandre Barbalho
2
Leonardo Costa
3
Antonio Albino Canelas Rubim
1
O presente artigo aborda como se configura o campo da organização
da cultura na América Latina, destacando, em especial, o lugar da
formação nesse setor. Após analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano e as especificidades brasileiras, apresen-
taremos os principais dados referentes ao mapeamento que abrange
de forma sistemática as mais diversas instituições que trabalham na
formação e qualificação em organização da cultura nos mais diferen-
ciados níveis de aprimoramento (atividades presenciais e on-line de
extensão, graduação, especialização, mestrado, doutorado etc.)
existentes na atualidade brasileira.
Resumo:
Palavras chave:
Organização da Cultura
América Latina
Formação
Mapeamento
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
126
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Este artículo discute la configuración del campo de la organización de la
cultura en América Latina, destacando en particular el lugar de forma-
ción en este sector. Después de revisar la literatura sobre este tema en
América Latina y las especificidades brasileñas, presentamos los princi-
pales datos sobre la cartografía que cubre, de manera sistemática, las
más diversas instituciones que trabajan en la formación y la cualificación
en la organización de la cultura en los niveles más diversos diferencia-
dos de actividades educativas (actividades de clase y en línea, pregra-
do, especialización, maestría, doctorado, etc.) existentes en Brasil.
This article covers the configuration of the field of the organization of
culture in Latin America, highlighting in particular the place of training
in this sector. After reviewing the literature on this theme in Latin
American and the Brazilian specificities, we present the main data
from the mapping which covers, in a systematic way, the various
institutions working in training and qualification in the organization of
culture in the most differentiated levels of educational activities
(classroom learning and distance learning extracurricular courses,
undergraduate, specialization, masters, doctorate, etc..) currently
existing in Brazil.
Palabras clave:
Key words:
Resumen:
Abstract:
Organización de la Cultura
América Latina
Formación
Cartografía
Organization of Culture
Latin America
Training
Mapping
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
127
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Formação em organização da cultura:
a situação latino-americana
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
128
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari
-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes
-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
129
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
130
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi
-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
131
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
132
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi
-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
133
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
134
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser
-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
Bibliografia
AVELAR, Rômulo. O avesso da cena: notas sobre
produção e gestão cultural. Belo Horizonte: DUO
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
135
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
136
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
138
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto
-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 1: Instituições por região e por estados
139
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio
-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 2: Instituições por status legal
Quadro 3: Instituições por recursos
140
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 4: Instituições por atividades principais
141
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 5: Cursos por nível / tipo
Quadro 6: Cursos por campo
142
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 7: Cursos por área temática
Quadro 8: Cursos por regularidade
143
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 9: Áreas de conhecimento de proveniência dos professores por curso
145
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
Quadro 13: Requerimentos para conclusão por curso
Quadro 12: Requerimentos para admissão por curso
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
146
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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Europe, Russian Federation, Caucasus, Central
Asia. Bruxelas: ENCATC, 2003.
1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
147
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
148
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).
brasileiro. Pressupõe procedimentos
administrativos e operacionais, mas
não se resume a eles. Pressupõe
também a gerência de processos no
campo da cultura e da arte, mas vai
além dele. Para melhor conceituar-
mos o campo da gestão cultural,
podemos articulá-lo a ideia de media-
ção de processos de produções mate-
rial e imaterial de bens culturais e de
mediação de agentes sociais os mais
diversos (RODRIGUES, 2009, p. 77).
O sexto número da Revista Obser-
vatório do Itaú Cultural (REVISTA OIC), de
2008, apresenta um especial sobre os
profissionais da cultura e a formação para
o setor. A primeira matéria, cujo título é Os
fazeres e os saberes dos gestores de
cultura no Brasil, busca traçar um perfil do
gestor cultural: “um dos profissionais--
chave do setor (...). Cabe a ele, entre
muitas outras atribuições, promover a
produção de bens culturais e facilitar a
sua circulação, cuidando para que o
acesso público a esses bens seja garanti-
do” (REVISTA OIC, 2008, p. 06).
Através de entrevistas com pesquisa-
dores e responsáveis por organizações
culturais no Brasil, foi constatado que a
formação desse profissional é uma necessi-
dade que urge para o setor. Segundo Rubim,
em texto publicado nessa edição da OIC:
Não existe cultura sem seu momento
organizativo. Mesmo determinadas
manifestações culturais ditas espontâ-
neas não podem se realizar sem orga-
nização. Mas esse caráter inerente e
‘natural’ talvez tenha obscurecido a
imediata atenção com esse movimen-
to, que só recentemente emergiu
como espaço de práticas e formula-
ções (RUBIM, 2008, p. 52).
Na revista são citadas algumas
posições sobre as diferentes terminolo-
gias utilizadas no setor, como a de Albino
Rubim, que “vê o gestor não como aquele
que formula ou implementa diretrizes
culturais, mas como o profissional que
está à frente de projetos permanentes de
cultura” (REVISTA OIC, 2008, p. 10). Já “o
produtor cultural (...) organizaria projetos
específicos e descontinuados no tempo,
dentro ou fora da esfera governamental”
(REVISTA OIC, 2008, p.10).
Já Maria Helena Cunha vê o produ-
tor cultural
14
como “alguém que caminha
de mãos dadas com o gestor, sob a sua
coordenação” (REVISTA OIC, 2008, p.
13). Essa visão tenta tratar a questão a
partir de uma relação lado a lado (ao cami-
nhar de mãos dadas), onde um coordena
o outro. A produção pode estar, em alguns
momentos, sob a coordenação da gestão,
mas isso não marca necessariamente
uma diferença fundamental das atuações.
Maria Helena Cunha cita o exemplo que
“até as empresas particulares deixaram de
pensar somente em projetos pontuais. Se
elas se envolvem em um festival, por
exemplo, vão querer promover edições
continuadas” (REVISTA OIC, 2008, p. 14).
Sobre o caso brasileiro, onde o termo
produção cultural tem uma maior tradição
em relação ao termo gestão cultural, é abor-
dado que, a partir de uma visão neoliberal,
“o produtor, no contexto único das leis de
incentivo, substituiu a idéia do gestor porque
a cultura teria passado a ser vista como
produto de mercado, obedecendo a suas
flutuações” (REVISTA OIC, 2008, p. 11).
Para Lia Calabre, “pensar e planejar
o campo da produção, circulação e consu-
mo da cultura dentro de uma racionalidade
administrativa é uma prática que pertence
aos tempos contemporâneos” (CALABRE,
2008, p. 66). Uma das dificuldades que
temos para definir as profissões e as ativi-
dades culturais e propor programas de
formação e capacitação que respeitem as
do México. Esse sistema de formação já
ofereceu mais de 510 cursos de capacita-
ção com a participação de mais de 16.000
alunos no país (OROZCO, 2006)
11
.
2. O CASO BRASILEIRO: PRODUÇÃO E
GESTÃO CULTURAIS
Em 2004 a telenovela Celebridade
12
,
veiculada pela Rede Globo, trouxe como
mote principal o embate de duas produto-
ras culturais – Maria Clara Diniz e Laura
Prudente da Costa –, que foram interpreta-
das respectivamente pelas atrizes Malu
Mader e Cláudia Abreu. A trama da novela
das oito, principal horário da emissora, de
alguma forma colocou em pauta a legitimi-
zação e o reconhecimento social de uma
profissão até então pouco abordada e em
crescente formação (RUBIM, 2005). A
produção cultural, mesmo engendrada nos
processos internos da própria emissora, até
então era pouco conhecida e diferenciada
enquanto área de atuação na sociedade
(COSTA, 2007).
Alguns livros no Brasil, desde a
década de 1970, buscam demonstrar as
experiências vividas na prática com a
administração das artes, com dados com-
pilados, por exemplo, da administração
teatral (BRITO, 1973; LYRA, 1989). Além
de trazer questões como o planejamento
na área, perfis profissionais e modelos de
contratos, há ainda, conforme estabeleci-
do na época, modelos de documentos que
deveriam ser enviados para o registro na
censura (BRITO, 1973). São livros que
trabalham com a nomenclatura mais próxi-
ma do arts management, tendo em vista
que o termo produtor cultural no Brasil tem
um papel mais central a partir do financia-
mento através das leis de incentivo.
Já no livro Ação Cultural: idéias e
conceitos, organizado a partir da experiência
da realização do Curso Regional de Espe-
cialização em Políticas Culturais, executado
em 1997 pela Fundação Joaquim Nabuco,
em Recife, a figura do produtor cultural é
colocada por diversas vezes como o “artista
e intelectual” (BARBOSA et al., 2002).
Para Francisco Paulo de Melo Neto
(2000), as áreas de promoção e produção
cultural são bem distintas: a produção é
inerente ao mundo simbólico, à criativida-
de e sensibilidade artísticas (o produtor
seria o criador
13
); enquanto o promotor
cultural estaria vinculado ao mercado, a
questão da oferta e da procura, da organi-
zação e difusão do produto cultural. Posi-
ção que marca uma diferença em relação
ao que é comumente utilizado no campo,
que entende o produtor preferencialmente
como aquele profissional que atua no
backstage, e não no proscênio.
Segundo Rubim, “uma das carac-
terísticas dessa emergência recente e,
por conseguinte, da ausência de tradição
na conformação específica desse
momento é a falta de sedimentação inclu-
sive na sua nomeação” (RUBIM, 2008, p.
52). No Brasil temos um caso semelhante
ao apresentado anteriormente na experi-
ência latino-americana (profusão / confu-
são de nomes na área da organização da
cultura), e, muitas vezes, termos que
poderiam exprimir situações diferentes no
campo de trabalho são utilizados como
sinônimos (TATSCH, 2001).
Essa falta de diferenciação é um
dos pontos que afeta a profissionalização,
já que é necessário primeiramente reco-
nhecer o que de novo traz a complexifica-
ção do setor cultural. Precisamos ir além
das (in)definições que apresentam os
termos “gestão” e “produção” como sinô-
nimos de uma mesma atividade no campo
da organização. Como situa Rodrigues,
Gestão cultural é um termo relativa-
mente recente no cenário cultural
de projetos eficientes e eficazes, tal como
um administrador cultural no desenvolvi-
mento das infra-estruturas culturais, na aná-
lise de audiência e economia da cultura, e
na gestão de recursos e projetos de difusão
cultural: “En esta área entran todos aquellos
que tienen una formación económica--
administrativa, como los administradores,
contadores, economistas, o los profesiona-
les en recursos humanos, turismo y comer-
cio” (OROZCO, 2006, p. 60).
Já na área artística, o profissional
trabalharia como um mediador das manifes-
tações artísticas, entre a arte e a sociedade,
desenvolvendo ações de difusão e educação
artística e teria formação em alguma discipli-
na artística (pintura, escultura, dança etc).
Essa tipologia elaborada por
Orozco (2006) serve para elucidar um
pouco a questão, mas essas fronteiras
profissionais são mais tênues do que o
exposto acima. Para Rubens Bayardo, por
exemplo, a gestão cultural é entendida
como mediação entre atores e disciplinas
que torna possível a distribuição, a comer-
cialização e o consumo de bens e serviços
culturais; e articula criadores, produtores,
promotores, instituições e públicos para
formar o circuito no qual as obras se mate-
rializam e adquirem seu sentido social:
Estamos pensando em demandas
inovadoras e crescentes relacionadas
com a cultura, que atualmente forma um
espaço expandido onde as artes e o
patrimônio, que tempos atrás eram iden-
tificados como a totalidade, são hoje
apenas uma parte, e muito menor, de
seu universo (BAYARDO, 2008, p. 57).
Vale destacar o caso do México
como experiência ibero-americana de políti-
ca pública de formação na organização da
cultura (MEDRANO, 2009). Os anos oitenta
são um ponto de mudança na formação
sistemática dos trabalhadores de serviços
culturais no país, quando se iniciou, em
1983, um projeto de capacitação intitulado
Programa de formación y capacitación de
promotores culturales, “dirigido a los respon-
sables de la planeación y operación de
actividades culturales de instituciones edu-
cativas, de asistencia social u otros organis-
mos públicos y privados que prestaban este
tipo de servicios” (OROZCO, 2006, p. 62).
No ano de 2001, foi criada a Direc-
ción de Capacitación Cultural ligado ao
Consejo Nacional para la Cultura y las
Artes (CONACULTA) e, posteriormente,
foi lançado o Sistema Nacional de Capaci-
tación Cultural, com o objetivo de:
Capacitar, actualizar y profesionalizar a
los promotores y gestores culturales,
para elevar el nivel y la calidad de los
servicios culturales que prestan las
instituciones públicas y privadas, comu-
nidades y grupos independientes. Esti-
mular procesos educativos y organizati-
vos para el aprendizaje de marcos
conceptuales, herramientas metodológi-
cas y operativas, y dominio de la planea-
ción y la gestión de proyectos culturales
9
Para a formação de gestores cultu-
rais, foram projetados e oferecidos pela
Dirección de Capacitación Cultural certifi-
cados em promoção, gestão, desenvolvi-
mento cultural e tópicos relacionados de
Nível I (200 horas) e Nível II (300 horas),
bem como cursos, workshops, seminários
e conferências. Foram envolvidos em
todos os processos da formação o pessoal
das instituições culturais dos estados e
municípios, professores e diretores de
centros culturais, bem como de universida-
des e agências independentes. O proces-
so é dividido em quatro subsistemas:
capacitação cultural, formação cultural
contínua, capacitação a distância, e forma-
ção profissional
10
. Todas as atividades de
formação e atualização são certificadas
oficialmente pelo Ministério da Educação
culturais”, “administradores e gerentes
culturais” ou “trabalhadores culturais”
(MOREIRA, 2003, p.23; OEI, 1998, p.19).
Cada uma dessas definições indica
um histórico. A noção de trabalhadores cultu-
rais (trabajadores culturales), por exemplo, é
difundida na América Latina, baseando-se
em uma releitura da obra do pensador italia-
no Antonio Gramsci, rompendo a distinção
entre trabalho material e intelectual
(MOREIRA, 2003). Além dessas denomina-
ções, outras fizeram parte do imaginário
latino-americano, tais como: agentes cultu-
rais, atores culturais, tecedores culturais etc.
Com a entrada nos anos oitenta da
denominação gestão cultural (géstion cultu-
ral), podemos pensar três caminhos para
se refletir sobre essa noção na América
Latina: 1. A gestão cultural inclui e assimila
as noções anteriores (como animadores e
promotores), sem existir contradições ou
modificações relevantes entre os termos; 2.
A necessidade de preservar as denomina-
ções anteriores, rechaçando a expressão
gestão cultural como uma intromissão
excessiva do econômico e do mercantil no
campo cultural; 3. A perspectiva de autores,
como Canclini e Martín-Barbero, que consi-
deram que existem transformações impor-
tantes na dimensão cultural e que é preciso
buscar uma expressão próxima a atual
práxis cultural (MOREIRA, 2003).
Segundo a OEI, a expressão gestão
cultural está ligada, pelo menos, a quatro
grandes transformações contemporâneas
da dimensão cultural: 1. A extensão da
noção da cultura por motivos filosóficos,
sociais, políticos e jurídicos; 2. A crise das
noções de política e desenvolvimento a
partir da década de 1970; 3. A necessidade
de políticas culturais que gestionem âmbi-
tos além da cultura artística, a cultura tradi-
cional e o patrimônio; 4. A aceitação e
importância de repensar rigorosamente as
inter-relações entre economia e cultura
8
.
Luis Enrique Chabaneau descreve
a emergência do campo profissional da
gestão cultural nos setores públicos e
privados uruguaios a partir do ano de
1996. Segundo Chabaneau, “la gestión de
la cultura es la respuesta contemporánea
al espacio cada vez más amplio y comple-
jo que la cultura ocupa en la sociedad
actual” (CHABANEAU, 1997, p. 24).
Reconhecendo o novo cenário da
organização das atividades culturais e a
necessidade de uma função gerencial na
cultura, Chabaneau (1997) assinala ainda
a importância de se definir a gestão cultu-
ral, o seu campo profissional e os diversos
agentes, os perfis profissionais com as
funções exercidas, a metodologia de
trabalho inerente a profissão, as técnicas
necessárias e, conseqüentemente, as
exigências formativas que acompanham o
pleno desenvolvimento profissional.
Para José Luis Mariscal Orozco
(2006) podemos resumir a ação na área
da gestão cultural através de três aspec-
tos: área social, área administrativa e área
artística. Cada aspecto indica visões e
noções diferenciadas sobre o objeto “cul-
tura” a ser trabalhado e sobre os aspectos
práticos envolvidos nesse trabalho.
Na área social, o profissional teria o
papel de ser um agente de mudança
social, realizando uma série de atividades
destinadas ao acompanhamento de
processos de desenvolvimento social, tais
como projetos de investigação, de capaci-
tação e de desenvolvimento comunitário,
numa concepção mais alargada do que
seria cultura. A formação destes profissio-
nais vincular-se-ia, especialmente, à socio-
logia, antropologia, história, comunicação,
direito, psicologia, filosofia e pedagogia.
Na área administrativa, o profissional
trabalharia ao lado da oferta e da demanda
de serviços, buscando o desenvolvimento
A organização é imanente ao siste-
ma cultural, em todas as suas manifesta-
ções e expressões, em um patamar macro
e/ou micro-social. Portanto, não existe
cultura sem seu momento organizativo.
Daí a necessidade óbvia de ações de
formação e de capacitação direcionadas
aos agentes envolvidos na formulação, na
gestão e na produção cultural – áreas que
compõem a organização da cultura
4
. Con-
tudo, quando se observa especificamente
a realidade brasileira, constata-se o cará-
ter esporádico e não sistemático de tais
ações, o que não ocorre necessariamente
em outros países latino-americanos. No
Brasil, o que se revela é a carência de
uma política de formação para o setor, em
qualquer esfera administrativa (federal,
estadual ou municipal)
5
.
Tal contexto evidencia-se na nome-
ação dos agentes que atuam no setor. Pre-
domina entre nós o termo “produção cultu-
ral” que não pode ser extensivo ou sufi-
ciente a todos os ramos da cultura ou
mesmo de seu momento organizativo.
Como o ato de nomear não é isento de
valores, observamos que por detrás da
recorrência a este termo pelos próprios
agentes encontram-se a citada ausência
de tradição na formação de gestores, a
submissão da cultura à lógica de mercado
e a frágil política cultural na esfera federal,
pelo menos até os governos de Fernando
Henrique Cardoso (BARBALHO, 2007;
RUBIM, 2007). Esse conjunto de fatores
elucida igualmente a importância que o
marketing cultural obteve no país, compa-
rado com outros países latino-americanos.
No entanto, avaliamos que das
recentes transformações vivenciadas
pelas políticas culturais no Brasil, com a
presença mais ativa do Estado no gover-
no Lula e nas gestões de Gilberto Gil e
Juca Ferreira à frente do Ministério de
Cultura, surgem possibilidades de mudan-
ças no setor organizativo da cultura. Isto
porque estas transformações vêm exigin-
do uma política nacional e sistemática de
formação, em especial, de formuladores
de políticas e gestores culturais.
O presente artigo aborda como se
configura o campo da organização cultural
na América Latina, destacando, em espe-
cial, o lugar da formação nesse setor. Após
analisar a literatura que discute esse tema
no contexto latino-americano em geral e
as especificidades brasileiras, apresenta-
mos alguns resultados de pesquisa reali-
zada sobre este setor formativo no Brasil.
A pesquisa contou com o financia-
mento do Ministério da Cultura e faz parte
de um esforço mais amplo da Secretaria de
Articulação Institucional em torno da efeti-
vação do Plano e do Sistema Nacional de
Cultura, uma vez que, em ambos, aparece
o papel fundamental da formação no setor
organizativo da cultura (MINC, 2009,24).
1. ANIMADORES, ADMINISTRADORES
OU GESTORES? (IN) DEFINIÇÕES NA
ORGANIZAÇÃO DA CULTURA LATINO--
AMERICANA
6
Segundo documento da Organiza-
ção dos Estados Ibero-americanos para a
Educação, a Ciência e a Cultura (OEI),
intitulado Formación en Administración y
Gestión Cultural
7
, a noção de gestão cultu-
ral ingressa no discurso cultural da Ibero--
América na segunda metade da década de
1980, tanto nas instituições governamentais
quanto nos grupos culturais comunitários.
Pretendia inicialmente ser uma proposta
distinta da atividade cultural realizada pelos
denominados “animadores e promotores
especificidades dessas atividades é a
atuação num “campo novo, com fronteiras
fluidas” (CALABRE, 2008, p. 66).
Podemos perceber, inclusive em
mercados regionais, diferenças de frontei-
ras entre a atuação do profissional nas
diversas áreas, com diferentes graus de
profissionalização nos casos das artes
cênicas, música, artes plásticas etc. Em
Salvador, por exemplo, é visível a distin-
ção no ramo da música entre a organiza-
ção dos chamados independentes (como
o rock “alternativo”) e do axé “comercial”.
No primeiro caso vemos ainda uma profu-
são de artistas-produtores, sendo que no
segundo a distinção de profissões já está
em outro patamar. Seguindo o exemplo
do axé “comercial”, temos um outro
grande exemplo soteropolitano de organi-
zação na área cultural que é o carnaval,
onde é necessária uma grande articula-
ção de instituições, recursos financeiros,
materiais técnicos e humanos – o que não
seria possível ser realizado, nos dias de
hoje, de forma amadora.
Portanto, podemos identificar atual-
mente algumas formas de entrada no
campo profissional da organização da
cultura: há os sujeitos que aprenderam e
refletiram sobre esse ofício no exercício
cotidiano do trabalho; aqueles que já se
encontravam em um mercado de trabalho
mais estruturado e complexo, o que os
levou a buscar uma formação mais siste-
mática e específica; e sujeitos que optaram
por fazer cursos acadêmicos mesmo sem
experiências práticas anteriores, buscando
uma formação específica para a área.
A formação autodidata sempre
predominou no setor específico dos agen-
tes da organização da cultura. Muitos
destes “profissionais” desempenhavam
suas funções de forma amadora, o que
implicava em projetos mal formulados e
mal executados, resultando numa baixa
credibilidade do mercado da cultura
(FISCHER, 2002). Segundo Rômulo
Avelar, “várias foram as gerações de
empreendedores culturais que se forma-
ram intuitivamente, aprendendo com
erros e acertos” (AVELAR, 2008, p. 21).
Se ainda hoje, o valor da formação
autodidata na área cultural é reconhecido
como um importante instrumento de
busca de conhecimentos, práticas e pes-
quisas (CUNHA, 2003), tal formação não
se mostra capaz de suprir as necessida-
des, de modo sistemático, de um mercado
especializado que busca profissionais
capacitados e qualificados:
A necessidade de compreender,
planejar e atuar com a promoção cultu-
ral na perspectiva da consolidação da
cidadania e da centralidade humana
impinge aos empresários e aos traba-
lhadores a necessidade de permanen-
temente refletirem sobre a prática.
Esse processo deve ser apoiado por
um corpo de conhecimento. Eviden-
ciar o conhecimento, organizá-lo e
disseminá-lo são ações necessárias
de qualificação (SESI, 2007, p. 41).
A capacidade de reflexão sobre a
sua área é um fator a ser pensado nesse
processo formativo. Numa crescente profis-
sionalização em vistas de um desenvolvi-
mento cultural, o campo não quer apenas
pessoas que saibam realizar somente o seu
ofício de forma administrativa. São solicita-
dos agentes que possam contribuir para o
crescimento cultural, como ressalta Maria
Helena Cunha: “constatamos, portanto, a
necessidade de ampliação e aprofunda-
mento de um processo reflexivo e conceitu-
al sobre a cultura, mais especificamente
pelo viés da formação de seus agentes”
(CUNHA, 2003, p. 104).
O aprofundamento de um processo
reflexivo e conceitual sobre a cultura, mais
mais quanto o diploma quer sancionar uma
competência cada vez mais etérea”, mas
também acredita que “são muitos os que
precisam de orientação (...), é preciso
pensar em sua formação na medida em
que cresce cada vez mais a requisição
desses agentes culturais” (COELHO, 1986,
p. 114-115). E, mesmo sem utilizar essa
noção, o autor delineia uma formação mul-
tidisciplinar para o setor: psicologia, peda-
gogia, antropologia, artes e administração
– com ressalvas a essa última disciplina.
Voltando a uma definição do que
seria um produtor cultural, o projeto Pro-
dução Cultural no Brasil
16
disponibiliza
uma série de opiniões sobre esse profis-
sional: produtor de recurso, de talento, um
autodidata, um gestor, um artista, um
agitador… Dentre elas podemos destacar
a de Leandro Knopfholz, administrador de
empresas e diretor do Festival de Teatro
de Curitiba, que apresenta algo próximo a
um sinônimo do mediador cultural:
O produtor cultural é um agente, é um
eixo, talvez, de juntar possibilidades
de que como eu me entendo. Eu vejo
que eu faço parte de uma cadeia, que
é uma cadeia da economia criativa, da
indústria criativa. Do que depende esta
cadeia? Da criatividade. Normalmente
o criativo é o cara mais emocional,
então faz parte do trabalho do produtor
cultural reconhecer essa criatividade,
trabalhar a criatividade, embalar a
criatividade e apresentar essa criativi-
dade para o público. Quem é esse
público? É o patrocinador, é o agente
público, é o público em geral, é a
imprensa, é todo mundo. Então eu
acho que o produtor cultural, a profis-
são produtor cultural, é essa profissão
que fica no meio, entre a criatividade e
o consumo, e trabalha a cadeia.
17
Temos alguns livros no Brasil que
trazem informações sobre as atividades e
a figura do produtor e/ou do gestor cultu-
ral, mas é o gestor cultural Rômulo Avelar,
em seu livro O Avesso da Cena: notas
sobre produção e gestão cultural, um dos
autores que melhor exemplifica a relação
de diferenças e semelhanças de atuação
entre os profissionais da produção e os
que estariam ligados a gestão. Segundo
Avelar, produtor cultural é o profissional
que “(...) cria e administra diretamente
eventos e projetos culturais, intermedian-
do as relações dos artistas e demais
profissionais da área com o Poder Públi-
co, as empresas patrocinadoras, os espa-
ços culturais e o público consumidor de
cultura” (AVELAR, 2008, p. 52), enquanto
o gestor cultural é o profissional que:
administra grupos e instituições culturais,
intermediando as relações dos artistas e
dos demais profissionais da área com o
Poder Público, as empresas patrocina-
doras, os espaços culturais e o público
consumidor de cultura; ou que desenvol-
ve e administra atividades voltadas para
a cultura em empresas privadas, órgãos
públicos, ONGs e espaços culturais
(AVELAR, 2008, p. 52).
São definições que nos auxiliam a
resumir as outras noções abordadas até
então no caso brasileiro. Segundo Avelar,
produtor age enquanto posição central do
processo cultural, atuando como o grande
mediador entre os profissionais da cultura
e os demais segmentos e “nessa perspec-
tiva precisa atuar como ‘tradutor das dife-
rentes linguagens, contribuindo para que
o sistema funcione harmoniosamente”
(AVELAR, 2008, p. 50). Ao gestor também
caberia o papel de interface entre diferen-
tes profissionais, no entanto, de acordo
com os diagramas apresentados, o gestor
pode ainda estar presente no interior de
outras instituições, contexto no qual ele é
o responsável por alguma área privada de
patrocínio a cultura ou por algum espaço
cultural. Ainda de acordo com Avelar
(2008), produção e gestão culturais são
atividades essencialmente administrati-
vas, verbo presente em ambas as defini-
ções que foram abordadas pelo autor.
Para uma comparação com os
termos de referência oficial no Brasil, apre-
sentamos a seguir os dados da Classifica-
ção Brasileira de Ocupações (CBO)
18
.
Nesse documento, “Produtores artísticos
e culturais” constituem a família de
número 2621. Desde a versão anterior, as
ocupações do mercado são organizadas e
descritas por famílias, que constituem um
conjunto de ocupações similares corres-
pondente a um domínio de trabalho.
Nessa família, por exemplo, estão
presentes o “Produtor cultural”, o “Produ-
tor cinematográfico”, o “Produtor de teatro”
e os tecnólogos formados nessa área. A
descrição sumária da família, que foi con-
cebida por um comitê convidado de profis-
sionais que atuam na área, é a seguinte:
Implementam projetos de produção de
espetáculos artísticos e culturais (teatro,
dança, ópera, exposições e outros),
audiovisuais (cinema, vídeo, televisão,
rádio e produção musical) e multimídia.
Para tanto criam propostas, realizam a
pré-produção e finalização dos projetos,
gerindo os recursos financeiros disponí-
veis para o mesmo (MTE, 2010, p. 399).
Em relação à formação profissio-
nal, o documento afirma que “essas ocu-
pações não demandam nível de escolari-
dade determinado para seu desempenho,
sendo possível que sua aprendizagem
ocorra na prática” (MTE, 2010:399), mas
destaca que “seguindo a tendência de
profissionalização que vem ocorrendo na
área das artes, (...), cada vez mais será
desejável que os profissionais apresen-
tem escolaridade de nível superior” (MTE,
2010:399). A CBO não indica, entre as
suas ocupações, a figura do gestor cultu-
ral – trazendo apenas o gestor público ou
o gestor de eventos, ligado a área do
turismo. Ou seja, não há uma diferencia-
ção oficial em relação a essa ocupação
profissional de acordo com o MTE.
A família dos “Produtores artísticos
e culturais” tem como código internacional
comparativo da ocupação o 2455 – Acto-
res y directores de cine, radio, teatro, tele-
visión y afines. Esse código corresponde
à Classificação Internacional Uniforme de
Ocupações (CIUO 88), para comparação
de estatísticas internacionais. A sigla da
CIUO 88 em inglês é ISCO 88 e em fran-
cês é CITP 88. Essa comparação parece
não ser a melhor possível em relação ao
exposto pelo CBO, pois na família de
atores e diretores de cinema, teatro e
afins os produtores culturais teriam uma
ocupação distinta
19
. A família que melhor
caracterizaria esse comparativo interna-
cional seria a de número 1229, que reúne
os produtores e administradores não clas-
sificados anteriormente em outras famí-
lias, a qual possui entre as suas tarefas
“planning, directing and coordinating acti-
vities concerning recreational, cultural and
sporting operations and events”.
Segundo a CBO, os produtores de
rádio e televisão são regulamentados pela
Lei nº 6.615/78 e Decreto nº 84.134/79
20
e
vinculados ao Sindicato dos Radialistas; os
produtores de cinema e teatro têm a profis-
são regulamentada pela Lei nº 6.533 de 24
de maio de 1978
21
, que dispõe sobre as
profissões de Artista e Técnicos em Espetá-
culos e Diversões e estão vinculados ao
Sindicato dos Artistas e Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Cinematográfica
(Sindicine). Além do exposto pela CBO,
temos ainda o registro profissional de tecnó-
logos em Produção Cultural e de Eventos
através do Conselho Federal de Administra-
ção, desde a publicação de Resolução Nor-
mativa de nº 374
22
para tanto no Diário
Oficial da União, no dia 13 de novembro de
2009, aprovando o seu registro nos Conse-
lhos Regionais de Administração.
Como a área dispõe de linhas
tênues de atuação, fora a questão da sua
recente profissionalização, temos uma
série de sindicatos e conselhos que
buscam representar esse profissional, que
pode acabar não se sentindo representa-
do por nenhum deles. A área carece ainda
de uma maior organização em termos de
associações ou órgãos de classe que bus-
quem congregar profissionais que possam
refletir sobre as problemáticas da atuação
em organização da cultura.
Podemos pensar essa relação
entre produção e gestão no campo da
organização da cultura sob o aspecto de
diferentes grupos que tentam mudar os
nomes para manter distância de certas
categorias e aproximar-se de outras, onde
a expressão semântica utilizada acaba
por se tornar uma expressão de distância
social. Como analisa Bourdieu, “o efeito
de redefinição criadora observa-se, sobre-
tudo, nas ocupações com grande disper-
são e pouco profissionalizadas e nos seto-
res mais novos da produção cultural e
artística” (BOURDIEU, 2010, p. 166).
Tendo como pano de fundo essa
análise da multiplicidade de terminologias
e denominações dos agentes ligados à
organização da cultura, iremos abordar o
“estado da arte” da formação no campo
da organização da cultura no Brasil, apre-
sentando dados do mapeamento que
realizamos entre os anos de 2009 e 2010
para o Ministério da Cultura.
3. MAPEAMENTO: PROCEDIMENTOS
DA PESQUISA
O presente mapeamento abrange
de forma sistemática as mais diversas
instituições que trabalham na formação
em organização da cultura nos mais dife-
renciados níveis de aprimoramento exis-
tentes na atualidade brasileira. Portanto,
ele engloba obrigatoriamente: instituições
universitárias e culturais, fundações,
empresas, entidades da sociedade civil,
organizações não-governamentais etc.
O mapeamento foi realizado atra-
vés de pesquisa on-line, acionando instru-
mentos de investigação apropriados
(aplicação de questionários, pesquisa
documental, contato telefônico para com-
plementação de dados etc.). Ele abrange
não só dados precisos acerca destes entes
formadores, mas também recolhe informa-
ções quantitativas e qualitativas, referen-
tes aos conteúdos, tecnologias e métodos
pedagógicos acionados nas variadas
modalidades de capacitação e aperfeiçoa-
mento desenvolvidas pelos referidos
entes. O banco de dados do mapeamento
encontra-se disponível no endereço
www.organizacaocultural.ufba.br.
A pesquisa realizada para o mapea-
mento começou em 15 de junho de 2009,
prosseguindo até 15 de setembro de 2009.
A pesquisa foi dividida em três fases:
exploração, preenchimento dos dados no
banco de dados, e complementação e
revisão dos dados. Inicialmente os cinco
bolsistas
23
participantes fizeram uma etapa
exploratória, para encontrar, através de
ferramentas de busca
24
, possíveis cursos a
serem adicionados no mapeamento. Dada
a dispersão geográfica do universo da
pesquisa, o uso da estratégia de pesquisa
na rede foi uma escolha importante. Para
que as buscas não fossem repetitivas
entre os cinco bolsistas, eles foram dividi-
dos da seguinte forma: Secretarias,
Universidades, empresas privadas, Siste-
ma S (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE),
Fundações e Pontos de Cultura
25
.
As buscas conseguiram reunir um
número razoável de informações, através
do acesso a sites institucionais e
informativos
26
, sendo que tivemos uma
maior dificuldade para encontrar as ações
realizadas pelos Pontos de Cultura (já que
muitos não dispõem de um site próprio
que descreva os seus projetos).
Todo o processo foi acompanhado
por meio de reuniões semanais, para
esclarecimento de dúvidas de caráter con-
ceitual da pesquisa, e de e-mails enviados
para um grupo criado para auxiliar na con-
dução dos trabalhos
27
. Um corte realizado
nessa fase foi referente aos seminários,
congressos e encontros com temas de
interesse à organização da cultura, que
ficaram de fora do mapeamento devido ao
seu caráter mais eventual.
Além das buscas, outra ferramenta
utilizada foi o Alertas do Google: “atualiza-
ções por e-mail sobre os resultados rele-
vantes mais recentes do Google (web,
notícias, etc.) com base nos termos ou tópi-
cos que você definir”
28
. Diariamente, após
uma varredura de palavras-chave previa-
mente cadastradas, todas as informações
sobre “produção cultural”, “gestão cultural”
e “política cultural” eram enviadas para o
gtmapeamento@gmail.com, e-mail utiliza-
do na fase da pesquisa. A partir daí checá-
vamos se tinha alguma informação sobre
cursos no Alerta, para então adicioná-la no
mapeamento. Essa ferramenta foi bastante
útil no decorrer da pesquisa, fazendo com
que um maior número de experiências
pudessem ser cadastradas, além de
garantir que todas as informações presen-
tes na Internet sobre o assunto estavam
sendo vasculhadas automaticamente.
Com um mês de buscas, e após
reunirmos um número razoável de infor-
mações, passamos para o preenchimento
das informações utilizando um banco de
dados. Antes de trabalharmos com o
banco de dados foi preciso definir um
formulário
29
. Com o andamento do traba-
lho, algumas questões precisaram ser
revistas para melhor afinação de critérios
(por exemplo, a área temática “Captação
de recursos” foi alterada para “Financia-
mento da cultura”, abrangendo questões
relativas à captação, marketing cultural e
uso de leis de incentivo), e foram altera-
das conforme o questionário final.
A fase de preenchimento, devido
ao grande número de instituições e cursos
encontrados na fase anterior, demandou
um tempo maior do que o previsto origi-
nalmente no projeto do mapeamento.
Todo o processo foi acompanhado, mais
uma vez, através de reuniões semanais,
onde eram estabelecidos os padrões de
preenchimento dos dados colhidos. Duas
bolsistas
30
ficaram responsáveis pela
complementação dos dados dos cursos
de pós-graduação, graduação, graduação
tecnológica e cursos técnicos. Tal univer-
so foi escolhido devido ao seu caráter
mais permanente em relação aos cursos
de extensão – de perfil mais esporádico.
Para isso elas entraram em contato, atra-
vés de ligações telefônicas (utilizando o
Skype) e/ou por e-mail, com todas as
instituições previamente listadas, para
solicitar as informações que faltavam.
Apenas cerca de um quarto das institui-
ções que foram contatadas respondeu
complementando os dados necessários, o
que apontamos como um dos limites do
mapeamento, requerendo para sua com-
plementação a pesquisa em campo, pelo
menos nas instituições mais importantes.
Devido ao grande número de
cursos de extensão, e ao seu caráter
mais esporádico, decidimos que eles
passariam apenas por uma revisão para
detectar possíveis falhas da fase anterior
do preenchimento (para mantermos o
padrão dos dados colocados no banco
de dados). O mesmo aconteceu com as
instituições, que passaram por uma revi-
são dos dados e por uma complementa-
ção realizada através de mais buscas na
Internet. Um dos itens revisados foi o
geoprocessamento, realizado com o
apoio do Google Maps
31
, através das
coordenadas de localização das institui-
ções. Quando a instituição não dispunha
de endereço completo no seu site, o
ponto marcado no geoprocessamento
era o da cidade, localizada através do
aplicativo do Google. Outro item bastan-
te revisado se referia às áreas temáticas
dos cursos, para atestarmos o padrão
dos dados preenchidos. Um assistente e
uma bolsista
32
contribuíram nesse pro-
cesso. Com isso, demos por encerrada a
fase de pesquisa, tendo como linha de
corte os cursos que foram realizados até
dezembro de 2009.
4. DADOS MAIS RELEVANTES DAS INS-
TITUIÇÕES MAPEADAS
O banco de dados compreende um
total de 257 instituições, 355 setores, 624
cursos e 98 publicações. Para poder
cadastrar algum curso primeiro era preci-
so cadastrar a sua instituição de origem e
o setor no qual era realizada tal formação.
Conforme demonstra o Quadro 1,
do total de instituições pesquisadas, a
maior parte se encontra na região Sudeste
(48,44%), sendo que tal dado pode ser
também visualizado através do geoproces-
samento (onde é possível ver claramente a
maior concentração nos estados de São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro (17,19%).
Há regiões que demonstram o
dado inverso, com um pequeno número
de instituições com formação nessa área.
A região Norte, com seus sete estados,
compreende apenas 3,52% do total,
sendo que em três estados da região não
foi localizada nenhuma instituição –
Amapá, Roraima e Tocantins. O desta-
que fica com o Pará com 1,56%.
A região Nordeste tem 22,66% das
instituições, com destaque para os estados
da Bahia (10,16%), Piauí (4,30%) e Ceará
(2,73%). A região Sul possui 14,45% das
instituições, com destaque para o Paraná
(6,64%) e o Rio Grande do Sul (5,86%). Por
fim, a região Centro-Oeste (10,94%), com
destaque para o Distrito Federal (5,86%) e
Goiás (2,73%). Nesses números estão as
instituições que promovem cursos de curta
duração e que não apresentam regularida-
de na oferta. Isso explica, por exemplo, que
o Piauí apareça com uma porcentagem
relativamente alta, se comparada com
outros estados nordestinos, como Pernam-
buco, por exemplo, e não tenha nenhuma
instituição entre as que ofertam graduação
ou pós na área, como veremos.
A maior parte das instituições pes-
quisadas que trabalham com formação em
organização da cultura são privadas
(49%), seguidas de públicas (29%) e
outras (22%). As instituições privadas com-
preendem desde universidades e faculda-
des até empresas de produção ou gestão
cultural. As instituições públicas referem--
se em sua maioria a universidades públi-
cas e a órgãos de gestão estatal na área
da cultura (secretarias e fundações), de
diferentes entes (federais, estaduais e
municipais). Já o status de outras compre-
ende desde associações a organizações
não-governamentais. Segue gráfico das
instituições conforme seu status legal:
Também era do interesse da pes-
quisa saber quais as fontes de recursos
que a instituição dispunha. Seguindo o
dado anterior, no qual a maiorias das insti-
tuições eram privadas, tais como faculda-
des, a maior fonte de recurso das institui-
ções que trabalham com formação na
área se dá através de taxas de inscrição
e/ou mensalidades para participação no
curso (31,59%). Depois temos os fundos
públicos (ministérios, fundos governa-
mentais, etc.), com 25,37% e os fundos
privados (fundações, doações, patrocina-
dores, etc.) com 23,13%. As atividades
comerciais (vendas, consultoria, etc.)
correspondem a 17,91% dos recursos.
Essa questão permitia a marcação de
respostas múltiplas, dado a possibilidade
das instituições disporem de recursos de
fontes diversas. Segue abaixo gráfico
comparativo das fontes de recursos:
Outro dado colhido das instituições
foi sobre as suas atividades principais,
para podermos saber, por exemplo, qual o
quantitativo de instituições que são estri-
tamente de ensino e oferecem formação
em organização da cultura. A maior parte
das instituições pesquisadas tem como
atividade principal o ensino (41,38%),
seguidas de instituições que trabalham
com gestão, marketing e promoção
(35,71%) e de pesquisa (22,41%). Essa
questão era preenchida de forma mais
precisa através da busca anterior da
missão da instituição, onde podíamos
aferir quais eram os seus objetivos e ativi-
dades. A missão das instituições, pergun-
ta de forma aberta, está presente nas
fichas cadastradas no banco de dados.
Outras informações colhidas de
forma aberta das instituições se referem ao
seu contato (site, e-mail, telefone), nome
do diretor, endereço (com cidade e estado,
sendo utilizado posteriormente para afinar
o geoprocessamento), o seu ano de esta-
belecimento e uma imagem ilustrativa
(para compor a ficha do banco de dados,
podendo ser desde uma foto das instala-
ções até a logomarca da mesma).
Podemos concluir, a partir das
informações acima, que há no país um
processo concentrador no que se refere
a instituições de formação em organiza-
ção da cultura, tendo como outro lado
perverso da moeda o fato de alguns
estados não possuírem nenhuma insti-
tuição. Outro elemento que merece aten-
ção por parte de uma política pública é a
presença majoritária de empreendimen-
tos privados, o que dificulta a maior
absorção da demanda, uma vez que
nem toda ela dispõe de recursos para
investir em formação. Por fim, é impor-
tante estar atento para o fato de que
uma grande parte destas instituições
não possui o ensino, e muito menos a
pesquisa, como sua principal atividade,
mas as áreas de gestão, marketing e
promoção. Isso sinaliza, primeiro, a
fragilidade pedagógica destas institui-
ções e, segundo, que o fim último destes
149
Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br
especificamente pelo viés da formação de
seus agentes, pode ser notado como uma
preocupação constante dos atores que
integram a área. É preciso se preparar
para as especificidades do gerenciamento
de atividades culturais
15
, principalmente
no que se refere à “capacidade organiza-
cional e à ampliação de conhecimentos
antes restritos a outras áreas, como as
questões econômicas, jurídicas e admi-
nistrativas” (CUNHA, 2003, p. 104).
O profissional responsável pela
organização da cultura necessita de
conhecimentos específicos e singulares
da cultura contemporânea, mas entrela-
çados com informações das demais áreas
que deverão manter um diálogo próximo
entre o universo artístico cultural, o poder
público, meio empresarial e a sociedade
civil, como forma de proporcionar experi-
ência ou contato com o trabalho prático
inerente à própria atividade do setor:
De forma esquemática, podem-se
destacar os seguintes itens como objeti-
vos de uma linha de estudo [do setor
cultural]: conhecer os locais de atuação
profissional, para identificar as singulari-
dades e seus potenciais, tendo condi-
ções de planejar e determinar priorida-
des; conhecer as diferentes áreas cultu-
rais e artísticas, onde suas ações serão
desenvolvidas diretamente e estar
atento as novas tendências; acompa-
nhar de forma ativa as políticas culturais
vigentes em todos os níveis governa-
mentais: municipal, estadual e federal;
conhecer temas específicos de econo-
mia da cultura e dos princípios jurídicos,
dominando técnicas de planejamento e
gerenciamento da área cultural e méto-
dos de avaliação; e dominar conheci-
mentos das áreas de comunicação e
marketing (CUNHA, 2003, p. 106).
Maria Helena Cunha lista acima,
basicamente, que tipo de conhecimento
um agente da organização da cultura deve
obter para atuar na sua área. Como a área
é relativamente nova, pelo menos na sua
profissionalização, muitos tiveram que
buscar esses conhecimentos e absorvê--
los durante a sua jornada de trabalho,
durante a vida diária na profissão. Não
havia cursos que formassem tal agente,
então a sua formação deveria ser buscada
de outras formas: há pessoas provenien-
tes da área de administração, das áreas
humanas e artísticas (dançarinos, direto-
res de teatro, músicos), até pessoas sem
nenhuma formação acadêmica. Havia a
necessidade do próprio mercado nessa
nova função, o que trouxe diversos tipos
de profissionais para trabalhar na área.
Com o decorrer da trajetória do
campo, com o seu crescimento e sua
necessidade de profissionalização, algu-
mas universidades começam a perceber a
importância da criação de cursos para
formação nessa área. Como veremos em
seguida, existe hoje no país uma gama
dispersa de pequenos e esporádicos cursos
técnicos, alguns poucos cursos de gradua-
ção e experiências em pós-graduação,
quase sempre em nível de especialização.
Em vias de se obter perspectivas
reais de profissionalização é importante
pensar numa formação pautada pela mul-
tidisciplinaridade inerente ao campo da
organização da cultura. O domínio destas
diversas áreas de estudo poderá fazer
com que o profissional de cultura esteja
capacitado a planejar e gerenciar as suas
atividades, identificando as singularidades
e potencialidades do seu campo de atua-
ção, problematizando e discutindo conti-
nuamente sobre os aspectos inerentes à
política cultural e privada e aprimorando o
seu conhecimento referente às diversas
formas de manifestações artísticas.
Teixeira Coelho não se coloca entre
os que exigem diploma para tudo – “tanto
cursos seja a atuação no mercado, em
detrimento do setor público.
5. DADOS MAIS RELEVANTES DOS
CURSOS MAPEADOS
Dos 626 cursos pesquisados temos
um universo grande de níveis de formação.
A maior parte dos cursos (75,88%) é de
extensão, ou seja, cursos que têm um cará-
ter mais esporádico. Depois temos 9,49%
de cursos de especialização (sendo que
alguns cursos ofertados nunca consegui-
ram fechar uma turma, dado que será anali-
sado mais adiante), seguidos de 6,11% de
cursos outros que contêm disciplinas na
área da organização da cultura em seu
quadro formativo. Inicialmente esse não
seria o foco da pesquisa, mas como conse-
guimos na fase exploratória um número
grande de cursos (38 experiências) que
continham apenas parte do seu currículo na
área decidimos cadastrá-los no banco de
dados, com essa ressalva (são cursos de
níveis variados de formação, que estão
agregados de uma forma diferente). Temos
pouca oferta de graduação na área (0,96%),
mas podemos perceber um número maior
de cursos de graduação tecnológica
(2,41%), num somatório total apenas de
3,37%. Os cursos técnicos oferecidos na
área correspondem a um total de 2,73%.
A maior concentração de cursos na
área de extensão e o reduzido número de
cursos superiores indicam que, no que se
refere à formação, o setor organizativo da
cultura encontra-se em uma situação muito
frágil. Percebe-se que é uma área recente
na academia, com poucas universidades
ofertando cursos em áreas do setor. O que
implica também na fragilidade do campo
de pesquisas sobre o tema, bem como das
atividades de extensão – extensão enten-
dida aqui como o conjunto de atividades
dos docentes e discentes de uma institui-
ção superior de ensino na sociedade onde
está inserida. Tal contexto não deixa de
marcar a qualidade dos profissionais do
setor que, como veremos, vêm das mais
diversas áreas e muitas vezes não pos-
suem os atributos exigidos para o exercício
das atividades organizativas da cultura,
como discutido na Introdução.
Como já exposto anteriormente, defi-
nimos a área da organização da cultura
através da atuação em produção, gestão e
políticas culturais. Com isso decidimos
aferir os cursos conforme essa divisão do
campo, encontrando os seguintes dados:
70,18% dos cursos são na área de produ-
ção cultural, 26,09% dos cursos são na área
de gestão cultural, e 3,40% dos cursos são
na área de políticas culturais. Segue abaixo
gráfico comparativo dos cursos por campo:
Devido ao caráter multidisciplinar do
campo da organização da cultura, decidi-
mos aferir, através dos currículos dos
professores (parte dos dados foi pesquisa-
da através da plataforma Lattes do CNPq),
quais são as áreas de conhecimento de
proveniência
34
. As áreas com maior con-
centração de professores foram Comunica-
ção (com 13,50%), Artes (com 10,66%), e
Administração (com 10,26%). Uma das
áreas aferidas foi Cultura
35
, que traz um
número de professores (6,48%) com forma-
ção, por exemplo, em gestão cultural – um
dado positivo para o fortalecimento desse
campo de formação, já que há uma retroali-
mentação de profissionais qualificados nos
primeiros ciclos formativos do setor.
A diversidade de áreas, inclusive fora
das Humanidades, como é o caso da Enge-
nharia, demonstra mais uma vez a fragilida-
de acadêmica do setor que permite a inser-
ção, quase que aleatória, de professores
com diferentes formações. Este quadro, por
um lado indica, no caso das áreas de conhe-
cimento mais próximas ao campo da organi-
zação da cultura, a perspectiva multidiscipli-
nar exigida para uma formação de qualida-
de. Mas, por outro lado, o que é preocupan-
te, sinaliza como este é um setor novo, sem
tradição no que se refere às mínimas
exigências curriculares. Ao mesmo tempo, é
um campo de trabalho que vem ganhando
grande visibilidade na atual configuração da
economia, onde os bens e serviços simbóli-
cos ocupam lugar de destaque. O que se
pode deduzir é que muitos desses profissio-
nais atuavam em outras áreas antes de
entrar nesse mercado – o que mostraria a
força gravitacional do campo da cultura.
Segue abaixo quadro completo dos profes-
sores por área do conhecimento:
Em relação aos procedimentos
metodológicos adotados, a maior parte
dos cursos utiliza aulas expositivas
(68,84%), seguido da utilização de mul-
timeios (11,49%), e da realização de
oficinas ou atividades práticas
(10,90%). A grande concentração em
aulas expositivas revela que a formação
peca por não permitir ao corpo discente
a vivência de experiências concretas
em produção, gestão e/ou elaboração e
execução de políticas culturais. Apenas
4,27% dos cursos trabalham com edu-
cação a distância. Segue abaixo gráfico
que relaciona os procedimentos meto-
dológicos por curso:
Em relação à proveniência dos
estudantes, a maioria dos cursos pes-
quisados atua de forma local (67,90%),
seguidos de cursos com abrangência
estadual (24,03%). Poucos cursos
trabalham com uma abrangência nacio-
nal, sendo que um dos pontos que auxi-
liam nessa limitação é ainda a pequena
quantidade de cursos virtuais sobre
organização da cultura. A pouca quanti-
dade de alunos estrangeiros que procu-
ram o Brasil para fazer algum curso no
que se refere à organização da cultura
revela a falta de tradição no país deste
tipo de formação e, portanto, seu pouco
reconhecimento internacional. Segue
abaixo gráfico que reúne os dados da
proveniência dos estudantes:
Dentre os requerimentos para
admissão nos cursos, a maior parte se
refere ao pagamento de inscrição do
mesmo (28,46%). Há ainda outras possibi-
lidades de admissão, na seqüência: expe-
riência (13,97%), processo seletivo
(13,04%), grau de escolaridade – universi-
tário (11,99% - que se refere, em sua
maioria, aos cursos de pós-graduação),
grau de escolaridade – secundário (9,35%
- que se refere, em sua maioria, aos
cursos de graduação e graduação tecnoló-
gica), e idade (7,64%). 10,28% dos cursos
não têm nenhum requerimento prévio de
admissão. Segue gráfico comparativo dos
requerimentos para admissão por cursos:
Em relação aos requerimentos
para conclusão dos cursos, a maioria se
resume a presença dos alunos (75,77%).
Isto se explica pelo dado de que estes
cursos são, em grande maioria, de exten-
são e com curta duração. Assim, não
demandam critérios de seleção, muito
menos de conclusão – mais um índice
da fragilidade de formação no setor.
Dentre outros requerimentos, estão a
realização de trabalhos práticos e/ou
estágios (8,87%), monografias e/ou
teses (8,45%), exames (5,77%) e pes-
quisa (1,13%).
Outras questões abertas foram colo-
cadas em relação aos cursos, dentre elas:
objetivos, ano de início, número de progra-
mas organizados (até 2009), diretor/pessoa
responsável, nomenclatura da certificação,
duração do curso, quantidade de professores
(listagem com nomes e titulação), público--
alvo, quantidade de alunos por curso, custo
total para participação no curso, atividades
extra-curriculares, se o curso é oferecido em
parceria com alguma outra instituição, se já
foi replicado em outras cidades, e se o curso
faz parte de alguma rede / associação nacio-
nal ou internacional no campo da cultura.
Para finalizar o cadastro ainda tínhamos a
possibilidade de anexar informações comple-
mentares, tais como: currículo do curso,
ementas das disciplinas, bibliografia e outros
documentos de interesse.
6. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPE-
AMENTO
A partir dos dados apresentados
acima podemos fazer algumas inferências
acerca do “estado da arte” no que se refere
à formação em organização da cultura no
Brasil. Inferências que apontam para a
necessidade urgente de se elaborar no país
uma política nacional voltada para essa
questão. Seguindo as informações apresen-
tadas, o primeiro ponto a justificar tal política
é, como já foi dito anteriormente, a fragilida-
de acadêmica da formação no setor.
Quando falamos sobre a organização da
cultura, temos no Brasil um campo não esta-
belecido. Contexto que se revela nos dados
apresentados e analisados: a maior parte
dos cursos pesquisados (75,88%) é qualifi-
cada como “extensão”; a limitada abrangên-
cia nacional dos cursos (apenas 7,73%); a
pouca quantidade de diferentes procedi-
mentos metodológicos, tais como práticas
(10,90%) e cursos a distância (4,27%); a
pouca quantidade de processos seletivos
para a admissão do aluno (apenas 13,04%
– faltam exigências quanto ao ingresso dos
alunos além dos aspectos financeiros); e
pouca avaliação (apenas um quarto dos
cursos trazem a exigência de trabalhos
finais para a sua conclusão – 24,23%).
Um segundo ponto a ser abordado
são os aspectos regionais. Constatamos
que a grande maioria das instituições
envolvidas com formação em organização
da cultura encontra-se na região Sudeste
(48,44%), e mais especificamente em São
Paulo (20,70%) e Rio de Janeiro
(17,19%). O outro lado crítico deste dado
é de que a região Norte possui apenas
3,52% de instituições atuantes no setor,
sendo que os estados do Amapá, Roraima
e Tocantins não apresentam nenhuma.
Tal tendência vem sendo enfrentada
pelo Ministério da Cultura nas gestões
Gilberto Gil / Juca Ferreira apesar de não ter
sido de todo revertida. Portanto, deve haver
um esforço maior por parte dos entes fede-
rados, sob coordenação do Governo Fede-
ral, na criação dos referidos cursos nas regi-
ões Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sul e
Sudeste, em ordem decrescente de priori-
dades. Por outro lado, sabemos que mesmo
em São Paulo e Rio de Janeiro, estas insti-
tuições estão basicamente situadas na capi-
tal, revelando a uma concentração dentro
dos estados que também deve ser evitada.
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1
Professor Titular do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos da Universidade
Federal da Bahia. rubim@ufba.br
2
Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará.
alexandrebarbalho@hotmail.com
3
Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. leo.fcosta@gmail.com
4
No nosso entendimento, existem três patamares distin-
tos da organização da cultura: 1) a dos formuladores e
dirigentes, afeitos ao patamar mais sistemático e
macro-social das políticas culturais; 2) a dos gestores,
instalados em instituições ou projetos culturais mais
permanentes, processuais e amplos e 3) a dos produto-
res, mais adstritos a projetos de caráter mais eventual e
micro-social. A formação em organização da cultura,
portanto, deve compreender estes três patamares que
possuem, cada um, suas peculiaridades, bem como
características em comum.
5
Não podemos desvincular tal carência de uma mais
ampla: a da própria elaboração e execução das políticas
culturais no Brasil, marcadas por seu caráter tardio,
assistemático, carente de planejamento, continuidade e
recursos financeiros, além de espaço privilegiado de
práticas que marcam historicamente a cultura política
brasileira como um todo: autoritarismo, assistencialis-
mo, clientelismo, patrimonialismo.
6
A discussão que segue nos subitens 1 “Animadores,
administradores ou gestores? (In)Definições na organi-
zação da cultura latino-americana” e 2 “O caso brasilei-
ro: produção e gestão culturais” encontram-se, com
pequenas alterações, na tese de Leonardo Costa
intitulada Profissionalização da organização da cultura
no Brasil. A esse respeito ver COSTA, 2011.
7
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
8
http://www.campus-oei.org/cult003.htm (acesso em
06/10/2009).
9
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_sistna
l.html (acesso em 02/01/2011).
10
http://vinculacion.conaculta.gob.mx/prog_capcult_progr
amas.html (acesso em 02/01/2011).
11
Segundo dados mais recentes, foram capacitados
cerca de 23.000 alunos em gestão cultural no México
pelo programa (BARBA, 2009). Infelizmente não conse-
guimos checar esse dado com estatísticas oficiais do
próprio governo.
12
http://pt.wikipedia.org/wiki/Celebridade_(telenovela)
(acesso em 01/03/2008).
13
Algo semelhante abordado por Rocío Del Socorro
Gómez Zúñiga, que utiliza o termo produtor cultural
englobando a criação artística, ressaltando apenas uma
diferença entre os produtores culturais formais e os
informais – ou amadores (GÓMEZ ZÚÑIGA, 2008:72).
14
A pesquisadora Maria Helena Cunha no seu livro
Gestão cultural: profissão em formação expõe a noção do
gestor cultural ao tratar os seus entrevistados, base para
o seu trabalho de construção do campo cultural em Belo
Horizonte. Entretanto, ao contrário da escolha da autora,
alguns entrevistados fazem a opção nas suas narrativas
pelo título de produtor cultural – o que dificulta a discussão
sobre uma distinção entre as profissões (CUNHA, 2007).
15
Inscrito no âmbito da atividade de produção cultural,
são assinaladas principalmente três fases na execução
de projetos: pré-produção, produção, pós-produção. Na
pré-produção temos a idealização do projeto, a formata-
ção, o planejamento, a captação etc. A produção é o
momento de maior tensão, pois além da execução existe
o monitoramento constante, para que as coisas saiam
como foram planejadas, Por fim, na pós-produção, será
avaliado e criticado todo o percurso do projeto, para que
se tenha um aprendizado em relação ao que foi executa-
do e uma melhor continuidade de ações. O produtor
cultural preferencialmente formula um modo de fazer
com que as obras de criadores tornem-se visíveis e
ganhem uma maior notoriedade, através de eventos e
produtos, presenciais ou midiáticos (RUBIM, 2005).
16
Site que disponibiliza gratuitamente entrevistas em
vídeo com 100 gestores, artistas e realizadores cultu-
rais de todas as regiões do Brasil. O projeto é uma
realização da Casa da Cultura Digital e da Secretaria
de Políticas Culturais do Ministério da Cultura.
http://www.producaocultural.org.br/no-blog/conheca-o--
projeto/ (acesso em 29/12/2010).
17
http://www.producaocultural.org.br/wp-content/themes/
prod-cultural/integra/integra-leandro-knopfholz.html
(acesso em 29/12/2010).
18
A CBO teve a sua versão mais recente lançada em
2010 pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e é
o documento que “reconhece, nomeia e codifica os
títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro”. A CBO é uma ferramen-
ta que serve para as estatísticas de emprego--
desemprego, para o estudo das taxas de natalidade e
mortalidade das ocupações, para o planejamento das
reconversões e requalificações ocupacionais, na elabo-
ração de currículos, no planejamento da educação
profissional, no rastreamento de vagas, e dos serviços
de intermediação de mão-de-obra. Disponível em
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/saibaMais.jsf
(acesso em 21/12/2010).
19
http://www.ilo.org/public/english/bureau/stat/isco/isco88
/2455.htm (acesso em 29/12/2010).
20
http://www.imprensa.org.br/leis_prof_radialistas.html
(acesso em 29/12/2010).
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6533.htm
(acesso em 29/12/2010).
22
http://www.cfa.org.br/download/RN09374%20consolida
da.pdf (acesso em 02/01/2011).
23
Clara Marques, Geise Oliveira, Rafael Raña, Sara
Regis e Simone Batista (alunos do curso de Comunica-
ção com habilitação em Produção em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal da Bahia).
24
A principal ferramenta utilizada foi o Google
<http://www.google.com.br>.
25
O Programa Cultura Viva, através do projeto Pontos
de Cultura convenia instituições com atuação na área
cultural para articular e impulsionar as ações que já
existem nas suas comunidades. Devido a quantidade
de Pontos existentes e a diversidade das suas localiza-
ções geográficas decidimos colocá-los como um dos
itens principais da pesquisa.
26
Sites informativos que traziam, por exemplo, a
divulgação das inscrições de determinado curso.
27
<gtmapeamento@googlegroups.com>.
28
<http://www.google.com.br/alerts>.
29
Questionário inspirado no documento Training in
Cultural Policy and Management (UNESCO, 2003).
30
Geise Oliveira e Sara Regis.
31
<http://maps.google.com.br/>.
32
Ugo Mello (graduado em Comunicação com habilita-
ção em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia) e Clara Marques.
33
Sendo entendida aqui não como o processo de criação,
e sim de organização do campo das linguagens artísticas.
34
Além das áreas previamente colocadas no questioná-
rio, em “outros” encontramos: Ciência Política,
Relações Internacionais, Medicina, Oceanografia,
Tecnologia da Informação, Medicina Veterinária, Biolo-
gia, Geografia, Geologia, Física, Química, Museologia,
Ciências da Informação, Agronomia, Botânica, Educa-
ção Física, Teologia, Ciências Contábeis, Matemática;
num total de 36 áreas do conhecimento.
35
Inicialmente tal área não constava no questionário,
mas foi incluída após observações dos bolsistas na
primeira fase de preenchimento de dados no sistema,
já que era uma das áreas percebidas de forma recor-
rente no currículo de alguns professores.
Contato:
Antonio Albino Canelas Rubim - rubim@ufba.br
Alexandre Barbalho - alexandrebarbalho@hotmail.com
Leonardo Costa - leo.fcosta@gmail.com
Ano 2, número 2, semestral, março 2012
Depois da divisão por campo,
definimos os cursos através das suas
áreas temáticas, questão que permitia a
marcação de múltiplas respostas. A
área correspondente ao financiamento
da cultura teve a maior porcentagem de
cursos, com o total de 18,22%. Tal área
temática abrange os cursos ligados a
captação de recursos, ao marketing
cultural e ao uso das leis de incentivo a
cultura (esse dado pode ser associado
com o dos cursos de extensão, os quais
versam, em sua maioria, sobre essas
questões). A segunda área temática
com maior concentração é elaboração
de projetos (com 16,20%), que, de certa
forma, poderia estar ligada a questões
de financiamento (já que a feitura de
projetos é uma das atividades precisas
para a captação de recursos), mas
como tem um grande número ficou des-
tacada como outra área. No total, pode-
mos agrupar um total de 34,42% de
cursos que são majoritariamente liga-
dos a questões do financiamento.
Destaca-se também a quantidade de
cursos na área de produção (terceira
posição), gestão (quinta posição) e polí-
tica (sexta posição), que podemos con-
siderar como o “núcleo duro” da organi-
zação da cultura. Por fim, merece res-
saltarmos a boa posição ocupada pelas
artes
33
(quarta posição). No primeiro
questionário algumas áreas temáticas
foram cortadas, já que percebemos um
número muito reduzido (ou quase nulo)
de experiências (tal como cursos com
temática em conselhos de cultura).
Segue abaixo quadro completo dos
cursos por áreas temáticas:
Do total de cursos, 63,75% foram
considerados irregulares (ad hoc)
irregular no sentido de não serem oferta-
dos com regularidade, ou seja, sem
freqüência definida (dado que pode ser
facilmente entendido se pensarmos que a
maioria dos cursos é de extensão) –, e
36,25% têm caráter regular (com periodi-
cidades diversas).