PEDAGOGIA BILÍNGUE: FORMAÇÃO, DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO DE SURDOS
BILINGUAL PEDAGOGY: TRAINING, TEACHING AND DEAF EDUCATION
Leila Couto Mattos7
Lucyenne Matos da Costa Vieira-Machado8
Resumo
O Curso de Pedagogia do Instituto Nacional de Educação de Surdos é pioneiro e inovador na
formação de pedagogos bilíngues. Este estudo discute questões referentes aos projetos
pedagógicos dos anos de 2006 e 2013 no que diz respeito aos aspectos bilíngues do processo
formativo, à docência e às práticas pedagógicas. Buscou-se problematizar a dicotomia entre
a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa na relação direta com a construção de
conhecimento e formação docente. Os resultados apontam para um processo de formação
bilíngue que, por si só, vai abrindo novas possibilidades e caminhos para a formação de
pedagogos bilíngues uma vez que as especificidades linguísticas próprias à educação de
surdos, antes de serem obstáculos, promovem potência, criatividade e geram diálogo entre
as diferentes línguas e suas modalidades.
Palavras-chaves: Pedagogia. Bilinguismo. Surdos. Formação docente.
Abstract
The Pedagogy Course of the National Institute of Deaf Education is a pioneer and innovator
in the training of bilingual educators. This study discusses issues related to CBP's pedagogical
projects, the bilingual aspects of the training process, teaching and pedagogical practices.
We sought to problematize the dichotomy between brazilian sign language and Portuguese
language in the direct relationship with the construction of knowledge and teacher training.
Results point to a bilingual training process that, by itself, opens up new possibilities and
paths for the training of bilingual educators where the linguistic specificities inherent to
deafness, before being obstacles, have been promoted creativity and generate dialogue
between different languages and modalities.
Key words: Pedagogy. Bilingualism. Deaf people. Teacher training.
Introdução
Como centro de referência nacional e órgão do Ministério da Educação, o Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES) vem, desde 1856, no Rio de Janeiro, atuando na
8Doutora (2012) e Mestre (2007) em Educação pelo Programa de Pós graduação em Educação da Universidade
Federal do Espírito Santo (PPGE- UFES). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7385-6243
7Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pedagoga. Fonoaudióloga.
Especialista em Surdez e em Psicopedagogia. Telefone: 27 98826-3252. E-mail: nucleolila@gmail.cm.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9404-0967
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educação de alunos surdos, desenvolvendo pesquisas na área da surdez e formando
profissionais dentre outras atribuições e, desde 2006, em seu Departamento de Ensino
Superior – DESU/INES oferece o Curso de Pedagogia para alunos surdos e ouvintes
Pelo seu caráter pioneiro e inovador, o curso vem passando por necessárias
modificações, buscando adequar seus propósitos educacionais à formação de seus egressos
bilíngues que deverão atuar em ambientes educacionais (inclusivos)9do ensino comum.
Entendemos que estudos e pesquisas em relação ao referido curso são de extrema
importância para a construção de novos olhares e entendimentos sobre proposta tão
inovadora e necessária neste momento de reconhecimento, respeito e acolhimento às
diferenças.
A partir da transformação do curso normal superior do INES em um Curso de
Pedagogia presencial, na perspectiva bilíngue no ano de 2006, um projeto pedagógico é
então construído e efetivado entrando em vigor (BRASIL, 2006). Entretanto, em 2013, um
outro projeto foi elaborado pela equipe de professores para dar início ao ano letivo de 2014
(BRASIL, 2013), inicialmente, no primeiro período, estendendo-se aos outros períodos em
um processo de transição gradual. Os períodos subjacentes foram migrando gradualmente.
Pretendeu-se com esse novo projeto pedagógico construir , pouco a pouco, uma integração
entre a modalidade presencial e o ensino a distância do curso de pedagogia.
Este estudo, busca discutir questões referentes aos projetos pedagógicos (2006 e
2013), do Curso de Pedagogia do INES, como também, aquelas referentes aos aspectos
bilíngues do processo formativo, da docência e das práticas pedagógicas, do corpo discente e
docente, compostos por alunos e professores surdos e ouvintes. Como metodologia de
pesquisa, este estudo insere-se em um contexto de estudo de caso com aplicação de
questionários aos alunos e professores e análise de documentos.
9Não nos parece mais possível pensar em ambientes educacionais que não considerem os diferentes modos de
ser e estar no mundo e, portanto, não haveria necessidade da adjetivação inclusivos para definir ou indicar
ambientes educacionais. Ambientes educacionais por si são ambientes inclusivos, ou pelo menos, deveriam
ser.
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Algumas especificidades do Curso de Pedagogia de acordo com o projeto pedagógico em
curso
O ingresso no Curso de Pedagogia, modalidade presencial, se por vestibular por
meio do qual são oferecidas 50% das vagas, para surdos e 50% para ouvintes. Os candidatos
devem apresentar obrigatoriamente fluência na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e na
Língua Portuguesa escrita (LPE). Durante todo o Curso, a presença de intérpretes de
Libras/Língua Portuguesa (LP) é disponibilizada. O Colégio de Aplicação do INES é aberto ao
Curso de Pedagogia como campo de pesquisas, estudos e estágios curriculares, ao mesmo
tempo que es aberto a parcerias com outras instituições de ensino interessadas na
formação de professores bilíngues para atuar na área da educação de surdos em ambientes
educacionais regulares.
Em relação aos aspectos linguísticos subjacentes à própria educação de surdos e aos
processos comunicativos em geral, o curso considera a Libras como a língua de instrução,
enquanto que a LP é disciplina obrigatória, porém, apenas em sua modalidade escrita. Os
aspectos avaliativos garantem flexibilidade na correção de provas e dos trabalhos redigidos
pelos alunos surdos, considerando o aspecto semântico e a singularidade linguística
naturalmente manifesta no nível formal de sua escrita. As provas, quando aplicadas, poderão
ser tanto em LPE, com tradução ou em Libras, também com tradução, quando necessário, e
são obrigatoriamente registradas em vídeo.
Projetos Pedagógicos 2006 e 2013
Dentre os objetivos apresentados em ambos os projetos, selecionamos aqui, com
vistas às discussões deste estudo, aqueles que consideramos os mais desafiadores por
dependerem sobremaneira de uma competência e um domínio linguístico para serem
alcançados, em especial, no que diz respeito aos alunos surdos. Em cada um dos objetivos,
selecionamos partes de seus enunciados que nos chamaram a atenção, não por uma
impossibilidade de efetivação, mas, por nos colocar a pensar sobre quais caminhos tomar,
que direções traçar para que tais objetivos possam ser alcançados para além de todos os
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impasses linguísticos que ainda hoje enfrentamos diariamente na educação de alunos
surdos.
Tomamos aqui a liberdade de compartilhá-los com nosso leitor sublinhando alguns
deles e perguntando assim como Masschelein e Simons (2014) nos perguntam “Como estar
presente no/para o presente, como ver o presente outra vez (com olhos outros que não os
vistos - grifo meu), como lidar com ele, o que pensar sobre ele, como se relacionar com ele e
continuar?” Para os autores, essas perguntas nos aterram, nos fincam na situação presente
e, de certa forma, nos permitem “[...] ganhar uma certa garantia no confronto com questões
específicas” (ibid, p. 15-16), o que afinal é um dos nossos propósitos neste estudo, a busca
de tentar esclarecer algumas questões que nos são valiosas, ao invés de seguirmos tentando
conceituá-las ou apresentar soluções definitivas em relação a elas.
A seleção feita respeitou o critério da compreensão dos conteúdos, da troca de
informações que permeiam o meio processual, da participação autônoma e independente
entre todos os discentes, considerando a possibilidade da existência de um percentual de
alunos e professores sem fluência na Libras e na LPE
Os seguintes objetivos do CBP foram então selecionados:
1. O compromisso com uma qualificada formação bilíngue (LIBRAS/LP) para pedagogos
surdos e não surdos, de forma a torná-los agentes brasileiros multiplicadores.
2. Formar pedagogos competentes e comprometidos com posicionamentos éticos, que
englobem pensamento crítico, reflexivo e criativo, por meio da construção de
conhecimentos teóricos, técnicos e práticos, cujas correspondentes ões sirvam como
marca de excelência e referência no país.
3. Disponibilizar para os licenciandos conhecimentos que lhes permitam serem efetivos
participantes na construção e no desenvolvimento de projetos pedagógicos, para os quais
sejam tomados como parâmetros o trabalho coletivo, a interdisciplinaridade, a autonomia,
a cooperação e a solidariedade.
Os eixos norteadores do Curso de Pedagogia são definidos a cada semestre e
incorporados em Núcleos de Estudos que constavam das diretrizes nacionais para os cursos
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de Pedagogia que estavam vigentes à época de organização do curso; São eles: “Núcleo de
Estudos Básicos; o Núcleo de Aprofundamento e Diversificação de Estudos; e o Núcleo de
Estudos Integradores” (BRASIL, 2013, p. 20). Importante ressaltar que disciplinas acerca da
educação de surdos, da comunidade surda e da Libras estão incluídas nos núcleos de
estudos. Entretanto, como dito anteriormente, a LP, embora esteja contemplada como
disciplina, será trabalhada apenas em sua modalidade escrita e como matéria obrigatória,
distribuída em quatro semestres.
No projeto pedagógico de 2006, a LP escrita além de ter sido disciplina obrigatória em
todos os períodos, com 120h de carga horária semestral, teve a Libras como suporte em seu
processo de aprendizagem, além do critério da leitura obrigatória de 2 livros por cada
semestre. Nesse projeto, a Libras não era oferecida como disciplina curricular, somente a
LPE. Entretanto, a partir do projeto pedagógico de 2013, a Libras passou a ser disciplina
obrigatória nos quatros períodos iniciais e no sexto, perfazendo uma carga horária total de
300h, assim como a disciplina LPE, que também em 2013, passa a ser ofertada do primeiro
ao quarto período, como disciplina obrigatória, perfazendo uma carga horária total de 240h.
O Curso de Pedagogia, como um curso bilíngue de pedagogia para alunos surdos e
ouvintes com foco na educação dos surdos, considera de extrema importância a construção
de saberes pedagógicos acerca da escolarização de surdos, bem como o conhecimento da
Libras.A organização curricular deixa clara a integração entre os conhecimentos necessários
à formação do pedagogo, bem como aqueles mais específicos relacionados aos aspectos
linguísticos envolvidos na educação de pessoas surdas.
[...] a composição do currículo se faz a partir de uma sequência estruturada
dentro de uma lógica em que predominam, nos períodos iniciais do curso,
atividades formadoras reconhecidas como de fundamentos
epistemológicos, a partir da metade do curso, ocorrerá a ênfase nas
atividades formadoras de profissionalização e ao longo de toda a formação
teremos atividades formadoras específicas para o foco bilíngue do curso,
sendo umas dedicadas aos estudos da surdez, dos indivíduos surdos e da
escolarização de surdos e outras específicas para aquisição de língua
(LIBRAS e português (BRASIL, 2013, p. 18-19).
Em relação aos ajustes e às modificações realizadas nos projetos pedagógicos de
2006 e 2013, todas ocorreram por demanda do próprio desenvolvimento do curso e
daquelas que foram surgindo no caminho. São as experiências que dão sentido à vida fora e
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dentro da escola e, em especial, nesse curso é preciso que “[...] os professores e alunos
encontrem [...] maneiras de evitar que um único discurso se transforme em local de certeza e
aprovação” (GIROUX; SIMON, 2013, p. 121), e permitir que o fluxo das transformações siga
adiante, construindo e desconstruindo, a favor de processos de subjetivação reais, humanos
e diversos.
Apresentação dos dados coletados pela aplicação de questionários
A coleta de dados se deu pela aplicação de questionários por considerarmos
algumas vantagens da aplicação dessa técnica que, segundo Moreira e Caleffe (2008),
poderiam ser sublinhadas como “[...] o uso eficiente do tempo, a possibilidade de uma alta
taxa de retorno, o anonimato para o respondente e o uso de perguntas padronizadas” (ibid,
p. 96-98). Uma vez que contamos com a presença do intérprete e tradutor de língua de sinais
e Língua Portuguesa TILSP, em função das especificidades linguísticas inerentes à educação
de surdos, consideramos o questionário o recurso adequado ao nosso objetivo de coleta de
dados.
Foram aplicados questionários ao Coordenador do curso, aos professores e aos
alunos de todos os períodos do curso, durante os horários regulares, de aula. Para os
professores e coordenador, os questionários foram colocados em seus escaninhos e
comunicados aos mesmos pela própria coordenação do curso, embora os mesmos
estivessem presentes em alguns períodos e turmas durante a aplicação dos questionários.
Os questionários aplicados foram estruturados, principalmente, por questões
fechadas, o que contribuiu, sobremaneira, para uma análise mais padronizada das respostas
obtidas. Houve uma especial atenção com a linguagem utilizada nas perguntas, considerando
os alunos surdos e a necessidade da presença dos TILSP, o que nos levou ao uso de perguntas
em escala, para tópicos mais específicos. As perguntas foram agrupadas por temas na
tentativa de contribuir para uma melhor compreensão dos alunos, como também favorecer a
interpretação e, posteriormente, a análise e organização dos dados.
A pesquisa foi encaminhada por meio da Plataforma Brasil, ao Comitê de Ética e
Pesquisa, CEP/UFES, que, com base na Resolução 466/2012 CNS, que realizou a análise dos
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documentos de apresentação obrigatória ao desenvolvimento da pesquisa e aprovou o
projeto em curso, autorizando que fosse iniciado no final do segundo semestre letivo em
2016.
Coordenação Pedagógica e Professores do Curso de Pedagogia
Neste período, o Curso de Pedagogia contava com aproximadamente quarenta
professores, dos quais apenas seis eram surdos. Desse total, somente dez responderam ao
questionário, sendo que nenhum professor surdo respondeu, apesar da ampla divulgação
dos questionários no departamento e de ter sido oferecido amplo acesso aos mesmos.
Tanto o Coordenador pedagógico, quanto os professores que responderam ao
questionário, tinha tido experiência docente na área da surdez, antes de ingressarem no
Curso, com exceção de quatro professores.
Durante a aplicação dos questionários, ficou claro o acúmulo)de afazeres e a falta de
tempo dos professores para que pudessem se ocupar com o preenchimento dos
questionários, mesmo considerando que os questionários foram colocados em seus
escaninhos pessoais e que todos eles foram comunicados pela coordenação sobre a pesquisa
em curso.
Quanto à formação acadêmica, todos os docentes, incluindo o coordenador de
curso, são doutores, sendo que dois têm pós-doutorado. Em relação à Libras, dois
professores chegaram ao CBP com fluência, três não completaram sua formação e cinco
têm formação completa, sendo que um professor se formou pela FENEIS (Federação
Nacional de Educação e Integração dos Surdos) e os outros pelo próprio INES. Quando
perguntados sobre a fluência em Libras, três se consideraram fluentes, enquanto sete mais
ou menos fluentes. Alguns deles relatam dificuldades na comunicação com alunos e
professores surdos, em alguns momentos, percebendo que o mesmo acontece em relação
aos alunos também.
Outro dado importante é que, segundo o coordenador, todos os professores surdos
do curso são bilíngues, isto é, são fluentes em Libras e em LPE. Em relação aos colegas
professores ouvintes bilíngues que poderiam dar aula em Libras, sem a presença de
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intérpretes, a média ficou em torno de três professores. E, para quatro professores, não
nenhum colega capaz de dar aula sem intérprete.
Para o coordenador e para os professores que participaram da pesquisa, a presença
dos intérpretes na sala de aula não garante a compreensão dos alunos que, muitas vezes,
têm apenas uma compreensão parcial da aula. Para eles, nem sempre e não
necessariamente, a compreensão está garantida com a presença do intérprete.
As avaliações, os trabalhos e as provas nas aulas são realizadas em Libras ou/e em
LPE. Fica a critério dos professores a escolha, de acordo com as condições dos seus alunos.
Entretanto, dois professores sempre realizam suas avaliações apenas em Libras e quatro
sempre em LPE. O professor de LP escrita realiza suas avaliações, trabalhos e provas somente
em língua portuguesa escrita.
Na docência, segundo o coordenador, as práticas pedagógicas utilizadas pelos
professores, em alguns momentos, são bilíngues e, quase sempre, envolvem atividades
bilíngues. Para a grande parte dos professores, as práticas docentes do Curso de Pedagogia
são bilíngues e encontram-se em constante construção e aprimoramento. Segundo três
professores, elas nem sempre atendem às necessidades dos alunos surdos, com o que
concorda o coordenador.
A fluência em Libras e na LPE é de fato o grande desafio desse curso, para os alunos
e até mesmo para alguns professores. Menos da metade dos alunos, surdos e ouvintes, é
bilíngue, isso é, é fluente em ambas as línguas, segundo o coordenador e a maior parte dos
professores. Os dados coletados revelaram que mais alunos ouvintes fluentes em Libras
do que alunos surdos e menos de um quarto dos alunos surdos têm fluência na LPE.
Entretanto, esse fato parece não impedir que os alunos surdos realizam leitura de livros,
textos e pesquisas na internet tendo como referência a LPE, uma vez que recorrem a ajuda
de parentes, amigos e colegas ouvintes.
De acordo com o coordenador e com a maioria dos professores, a grade curricular
do curso atende tanto às especificidades curriculares dos cursos de formação de professores
em geral, quanto aquelas específicas à formação de professores surdos a partir do novo
currículo (BRASIL, 2013). Para o corpo docente, é realmente importante que essas
especificidades relativas ao bilinguismo e à educação de surdos, na formação de pedagogos
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surdos, sejam consideradas não pelas questões linguísticas específicas a esse grupo
minoritário, mas, também, pelo tempo em que os surdos ficaram sem exposição à uma
língua que permitisse o acesso, à comunicação e ao conhecimento.
Na comunicação com os alunos surdos, a maioria dos professores que responderam
ao questionário disse sentir, às vezes, alguma dificuldade. Na comunicação com seus colegas
professores surdos, quatro professores ouvintes disseram não ter dificuldade na
comunicação, três relataram ter alguma dificuldade, às vezes, enquanto outros três disseram
ter dificuldade.
Cinco professores ouvintes disseram que seus alunos surdos não têm dificuldade
alguma em se comunicar com eles. Porém, três professores relataram perceber que, algumas
vezes, alguns de seus alunos surdos demonstram ter dificuldade em se comunicar com eles e
dois professores afirmam que há alunos surdos que têm dificuldade na comunicação.
Em relação a fluência em Libras pelos alunos surdos, a maioria dos professores
considerou que menos da metade é fluente, enquanto apenas três professores consideraram
que mais da metade dos alunos surdos é fluente em Libras. No que diz respeito à fluência em
Libras pelos alunos ouvintes, a maioria dos professores considerou que menos da metade
desses alunos tem fluência, enquanto somente dois professores consideraram mais da
metade desses alunos ouvintes com fluência.
Para a maioria dos professores, menos da metade dos alunos surdos têm fluência
em LPE e quatro professores disseram que menos de 25% poderiam ser considerados
fluentes em LPE.
Para alguns professores, existe nesse curso algumas especificidades que precisam
ser consideradas; São elas: a importância da formação continuada de professores em um
curso como esse é vital; é preciso investigar as diversas realidades escolares e como essas
realidades demandam um profissional bilíngue; existem apenas quatro professores surdos
que são formados no Curso de Letras/Libras e têm Pós Lato Sensu; é um curso que vem se
constituindo na prática nos desafios linguísticos buscando avançar em uma política
linguística em paralelo às práticas pedagógicas.
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Alunos Surdos e Alunos Ouvintes do CBP
Quando foi realizada a coleta de dados, em 2016, o número de alunos era 162,
distribuídos entre o turno da tarde e da noite, dos quais 41 eram surdos e 121 ouvintes.
Nesta pesquisa, obtivemos um retorno de 123 questionários de alunos, sendo 37 de alunos
surdos e 86 ouvintes, distribuídos no 1°, 3°, e períodos, no turno da tarde e da noite.
Diferentemente dos professores, em relação aos alunos, tivemos um excelente nível de
retorno dos questionários.
Os alunos surdos, em sua grande maioria, disseram não ter dificuldade em se
comunicar, nem com seus colegas surdos, nem tampouco, com seus colegas ouvintes. O
número de alunos surdos que disse ter dificuldade em se comunicar com seus colegas, ou
ainda dificuldade em se comunicar, às vezes, com seus colegas surdos e ouvintes, ficou
equiparado.
O número de alunos ouvintes que disse não ter dificuldade em se comunicar com
seus colegas surdos foi o mesmo daqueles que disseram ter, às vezes, dificuldade em se
comunicar. Os alunos ouvintes disseram não ter dificuldade em se comunicar com seus
colegas ouvintes em sua grande maioria, mas alguns poucos pontuaram que, às vezes, têm
dificuldade em se comunicar com seus pares ouvintes, o que nos chamou a atenção.
A maioria dos alunos surdos disse não ter dificuldade em se comunicar com seus
professores surdos e, aproximadamente, esse mesmo quantitativo disse ter, às vezes,
dificuldade em se comunicar com seus professores ouvintes.
Mais da metade dos alunos ouvintes afirmou não ter dificuldade em se comunicar
com seus professores surdos, mas a terça parte desses alunos, disse ter dificuldade, às vezes.
Entretanto, alguns alunos ouvintes disseram ter, às vezes, dificuldade em se comunicar com
os professores ouvintes.
A maioria dos alunos surdos disse que não tem professores surdos que sentem
dificuldade em se comunicar com eles, mas, alguns desses alunos, disseram que também não
tem professores ouvintes que tenham dificuldade em se comunicar com eles, embora, alguns
outros tenham dito que têm professores ouvintes que às vezes, têm dificuldade.
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Em relação à língua, a grande maioria dos alunos surdos se considerou fluente em
Libras e menos de 25% desses alunos em LPE. Em torno de 50% se consideraram mais ou
menos fluentes em LPE. Desses alunos surdos, dez alunos se consideraram mais ou menos
fluentes em Língua Portuguesa Oral e seis se consideraram fluentes. Quanto aos alunos
ouvintes, apenas a quarta parte se considerou fluente em Libras, enquanto mais da metade,
mais ou menos fluente. Em relação à língua portuguesa escrita, a grande maioria se
considerou fluente, embora em torno de 25%, apenas mais ou menos fluentes.
Os alunos ouvintes e os alunos surdos concordaram em ter, em média, quatro
professores bilíngues Libras/LPE. Entretanto, alguns poucos alunos ouvintes e,
aproximadamente, a metade dos alunos surdos disseram não ter nenhum professor bilíngue.
Ambos disseram ter, em média, três professores ouvintes bilíngues que poderiam dar aula
sem a presença do intérprete.
A grande maioria dos alunos surdos considerou que a presença do intérprete na sala
de aula garante a compreensão das aulas. Em relação à leitura de livros e textos que os
professores recomendam, 20 alunos surdos disseram que cumprem as tarefas sozinhos,
enquanto 16 disseram contar com a ajuda de ouvintes e intérpretes. Essa mesma proporção
apareceu no que diz respeito às pesquisas na internet sobre temas, discussões e trabalhos
solicitados pelos professores.
Segundo a grande maioria dos alunos ouvintes, nem sempre as avaliações, trabalhos
e provas eram realizadas em Libras ou em LPE. Em torno de 25% desses alunos pontuou que
as avaliações, trabalhos e provas eram sempre realizadas em LPE. Quanto aos alunos surdos,
50% disseram que sempre as avaliações, trabalhos e provas eram realizadas em Libras e 50%
disseram que sempre eram realizadas em LPE. Menos da metade desses alunos relatou que
nem sempre as avaliações, trabalhos e provas eram realizadas em Libras,como também nem
sempre em LPE.
Discussão
Como ressaltamos anteriormente, o Curso de Pedagogia carrega em si, sem dúvida
alguma, um aspecto inovador e pioneiro em relação ao ensino superior para alunos surdos, o
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que o torna, para nós educadores, um grande desafio. Entendemos que a construção de
ambientes bilíngues, para a educação de surdos, são ambientes que favorecem
sobremaneira o desenvolvimento dos alunos e, consequentemente, abrirão novos caminhos
para o acesso à formação superior e profissional. Entretanto, é preciso cautela. Nesta
pesquisa, não transitamos pelo conhecido, pelo certo ou pelo errado, pelo melhor ou pelo
pior, ao contrário, tomamos como referência uma forma de pensamento crítico que nos
conduz ao desafiante trabalho dos questionamentos, das buscas e de olhares outros, a partir
da nossa própria experiência como sujeitos da ação, como possibilitadores atentos de ações
do nosso tempo, na tentativa de criar as condições para pensar o que precisa ser pensado.
Assim, seguindo sobre a análise dos projetos pedagógicos do curso, percebemos o
quanto eles estavam comprometidos com as especificidades linguísticas dos sujeitos surdos
e, consequentemente, em construir uma proposta bilíngue de formação de professores
surdos e ouvintes, de modo a atender essas especificidades. Por se tratar de um curso
pioneiro, ele se caracteriza principalmente como processo contínuo, estando em constantes
transformações e adequações no que diz respeito a um ambiente pedagógico acadêmico
bilíngue para surdos e ouvintes. É, portanto, uma proposta que,
Faz-se indispensável uma educação baseada na visão de que a liberdade
humana envolve a compreensão da necessidade e a transformação dessa
necessidade. Precisamos de uma pedagogia cujos padrões e objetivos a
serem alcançados sejam determinados em conformidade com metas de
visão crítica e de ampliação das capacidades humanas e possibilidades
sociais (GIROUX e SIMON, 2013, p. 113).
Essa é a nossa responsabilidade. o desafio aponta para uma trajetória marcada
pelo comprometimento e pela disposição de todos os envolvidos em marcar a virada do
nosso século pela aproximação das diferenças e pelo encontro entre professores e alunos em
um ambiente ousado e, ao mesmo tempo, promissor na construção de novas possibilidades
e novos caminhos de formação pedagógica superior. Então, perguntamos: o que importa, de
fato, nessa formação? O que pedagogicamente precisa ser desconstruído para em seguida
ser reconstruído? Quais as reais possibilidades desse processo formativo? Quais as
especificidades? O que de novo ou não nada além do que a história da educação de
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surdos vem nos dizendo séculos? Seguimos por processos dicotomizados ou nos
arriscamos por novas possibilidades?
Enfim, muitas questões que a partir dessa pesquisa buscamos responder na busca
de pistas, de especificidades e de experiências que nos permitam seguir adiante na
construção de uma proposta educacional bilíngue em consonância com o projeto pedagógico
do Curso de Pedagogia, que inclui em seus objetivos, expressões da mais pura coragem e
determinação pedagógicas, quais sejam: uma qualificada formação bilíngue; formação de
agentes brasileiros multiplicadores; posicionamentos éticos; pensamento crítico, reflexivo e
criativo; conhecimentos teóricos, técnicos e práticos; construção e desenvolvimento de
projetos pedagógicos; trabalho coletivo, interdisciplinaridade, autonomia, cooperação e
solidariedade.
A partir da análise documental de ambos os projetos pedagógicos e dos
depoimentos do coordenador e dos professores do curso, percebemos algumas significativas
modificações entre o projeto de 2006, quando o curso começou, e o projeto de 2013. Foram
incluídas em 2013: a disciplina Educação Bilíngue do Surdo com aumento de carga horária e,
a disciplina LPE que passou a ser ministrada em turmas separadas para alunos surdos e
ouvintes. O estágio em escolas de surdos passou a ser obrigatório e as atividades de pesquisa
também foram incluídas no projeto pedagógico 2013, do curso.
Essas alterações são fruto das experiências do dia a dia, das interações cotidianas
entre todos os envolvidos no curso, marcando, mais uma vez, o caráter de processo do Curso
de Pedagogia presencial, em uma perspectiva bilíngue.
Para o coordenador e professores, a grade curricular do Curso, a partir de 2013,
atende tanto às especificidades curriculares dos cursos de formação de professores em geral,
quanto àquelas mais diretamente relacionadas à formação de professores surdos. É senso
comum entre os docentes que falta avançar em uma política linguística em paralelo às
práticas pedagógicas e, enquanto se trabalha nesse sentido, o curso vai se constituindo na
prática dos desafios linguísticos. Em relação ao projeto pedagógico, pelo menos
teoricamente, as cartas parecem dadas. Os objetivos são claros e as modificações do projeto
em 2013, de fato, priorizaram questões fundamentais para a formação dos pedagogos e de
suas competências qualificadas em seus objetivos. Entretanto, a partir das informações
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coletadas pelos questionários chegamos à questão central do Curso de Pedagogia, qual seja,
a comunicação bilíngue na relação com a educação de surdos.
Como promover um ambiente de fato comunicativo se as pessoas envolvidas no
processo não dominam as línguas em questão? sabemos que não temos respostas. Aliás,
esse nos parece o grande mérito desse curso, assumir o que não se sabe, mas se precisa
saber. Portanto, quando decidimos pela aplicação de questionários para coleta de dados,
optamos por uma abordagem que nos direcionaria para o que os dados coletados poderiam
quantificar e não, propriamente, o quanto eles quantificaram, o que nos colocaria diante de
uma possibilidade de
[...] estabelecer um ethos atento e experimental: a arte de tornar algo capaz
de aparecer e se transformar em alguma coisa” (algo que nos preocupa, e
que começa a significar ou exprimir) (grifo e parênteses do autor), que não
apareceria sem esse trabalho (MASSCHELEIN e SIMONS, 2014, p. 23).
É então a partir do que não se sabe, que se busca saber. No decorrer da pesquisa,
ficou claro que o Curso tem características formativas de processo que permite que ele se
reestruturando continuamente. Por si próprio, promove um ambiente que se caracteriza pela
criatividade, inovação e flexibilidade em relação às práticas e ações pedagógicas. Os recursos
pedagógicos são manejados livremente com a participação de todos. trocas de
experiências horizontalizadas, o que gera oportunidades únicas para reflexões,
aprendizagens, intercâmbios linguísticos e troca de afetos permitindo que as diferenças se
complementem. É de fato um ambiente inusitado! Um ambiente no qual convivem duas
línguas, onde ambas têm sua importância reconhecida no ambiente pedagógico, docente e
discente, para alunos e professores, surdos e ouvintes.
O ambiente bilíngue, do ponto de vista da determinação do projeto pedagógico,
estava garantido e isso pode ser notado pelo fato, por exemplo, das avaliações, trabalhos e
provas serem realizadas tanto em LP e/ou em Libras, dependendo de cada caso,
individualmente, ficando a decisão a critério dos professores e alunos envolvidos. Os alunos
surdos tinham liberdade para contar ou não com o apoio de pessoas ouvintes, como
intérpretes, amigos ou familiares, na execução de tarefas extras escolares. As disciplinas de
Libras e de LPE eram obrigatórias, assim como os estágios em escolas que tivessem alunos
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PEDAGOGIA BILÍNGUE: FORMAÇÃO, DOCÊNCIA E EDUCAÇÃO DE SURDOS
surdos em suas classes. Entretanto, ainda assim, um ambiente que de fato possa ser
considerado bilíngue no que diz respeito ao ensino superior para alunos surdos ainda é, nos
tempos atuais, um grande desafio.
Devemos ressaltar um outro ponto. A grande maioria do corpo docente do Curso de
Pedagogia considerou que a atuação dos intérpretes em sala de aula não garante a
compreensão dos alunos. Ora, o ambiente do referido curso está posto a partir do
reconhecimento da língua de sinais, da língua portuguesa escrita, do tradutor e TILPS, mas
também é perpassado, todo o tempo, pela língua portuguesa oral, a partir do momento, que
circulam professores, alunos, funcionários, visitas e tantos outros que são usuários naturais
da língua portuguesa oral. Esse cenário coloca por terra a polêmica que tantos séculos
veio sendo posto na educação de surdos em relação à oralidade e/ou a língua de sinais.
Todas as modalidades linguísticas e recursos específicos à educação de surdos são
necessários e, ao mesmo tempo, não suficientes porque, de fato, é uma questão de
construção e de tempo. É uma mudança de paradigma e não de escolhas profissionais e/ou
pessoais. É muito maior...
O que queremos chamar atenção pelo viés dessa pesquisa realizada em um curso
que se pretende bilíngue é que uma língua não é algo que exclui, pelo contrário, ela
acrescenta. Acrescenta novas possibilidades, pois apresenta novos mundos, novas formas de
ser e de estar presentes na diferença. É preciso reconhecer a importância, o direito e a
conquista das línguas de sinais na educação dos surdos que veio com a virada dos séculos,
mas isso não significa desjuizar ou (des)estatuir outras possíveis formas de comunicação para
os surdos. No caso do Brasil, a LP, tanto escrita quanto oral, são, em diferentes situações
mais, ou menos, importantes possibilidades de conexão com o país, com o público e com os
diferentes tempos e espaços.
Estamos em tempo de diferenças, multiplicidades e sempre possibilidades outras,
que não mais de exclusão. As famílias de bebês surdos, quando devidamente orientadas,
poderão fazer a escolha tanto da Libras,quanto da língua portuguesa, em ambas as suas
modalidades, porém, a escolha poderá ser apenas a Libras ou ainda, poderá também ser
somente a língua portuguesa oral e, consequentemente, a escrita. São todas possibilidades
As pessoas são livres para fazerem suas escolhas. Não podemos mais nos render ao pastoreio
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Matto e Vieira-Machado
ou às políticas públicas para uma educação de massa. Se seguirmos tomados, imbuídos, pelo
passado, por suas políticas de exclusão, não perceberemos a lacuna existente entre o
passado e o futuro, como nos falam Masschelein e Simons, pela obra de Hannah Arendt:
A lacuna existe quando o indivíduo é ele mesmo ali, atento ao presente,
cuidando dele, preocupando-se com ele (o que não é o mesmo que
conhecê-lo grifo do autor), [...] Neste sentido, o exercício do pensamento
não é um salto para fora desse presente, mas, pelo contrário, permanece
ligado ao presente e está enraizado nele (grifo do autor) (2014, p. 12-13,
grifos do autor).
E é nessa lacuna, do presente, que os surdos começam a chegar às universidades
públicas e privadas. Cursam graduação, mestrado, doutorado e prestam concurso público
para a docência e para tal contam com o apoio dos intérpretes, dos amigos, da família e dos
professores. A livre comunicação, por meio da Libras, faz toda a diferença no que diz respeito
à segurança, à autoestima, à troca com seus pares e as suas futuras possibilidades
profissionais. A convivência com ou ouvintes usuários da Libras aproxima as diferenças,
desafia adequações, possibilita novas criações e descobertas como também aponta novos
caminhos acadêmicos na construção do conhecimento.
É, então, a partir dessas considerações, que percebemos o quanto o Curso de
Pedagogia presencial em uma perspectiva bilíngue vem apresentando resultados que
apontam para um processo de formação bilíngue que, por si só, vai abrindo novas
possibilidades e caminhos para a formação de pedagogos surdos bilíngues onde na qual as
especificidades linguísticas próprias à educação de surdos, antes de serem obstáculos a esse
processo, vem se movendo pela potência, criatividade e diálogo entre as diferentes línguas e
suas modalidades. Com a lacuna do presente, preenchida pelo próprio presente, sem o peso
e o ressentimento do passado, parece que se está, pouco a pouco, construindo um presente
no qual os alunos estarão aptos a atuar, na perspectiva de uma educação que se faça, para e
nas diferenças, como professores bilíngues, em todas as habilitações pertinentes à formação
pedagógica.
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Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Educação de Surdos.Instituto Superior Bilíngue
de Educação. Projeto do Curso Bilíngue de Pedagogia. Opção pela transformação do curso normal
superior, licenciatura, do Instituto Nacional de Educação de Surdos em curso bilíngue de pedagogia,
licenciatura. Rio de Janeiro: INES. 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Educação de Surdos. Departamento de Ensino
Superior. Projeto Pedagógico do Curso Bilíngue de Pedagogia – EAD. Rio de Janeiro: INES. 2013.
Dicionário on line <https:dicionario.priberam.org/imbu%C3%ADdo> Acesso em 14/02/2019.
GIROUX, Henry; SIMON, Roger. Cultura popular e pedagogia crítica: a vida cotidiana como base para o
conhecimento curricular. In: MOREIRA, Antonio Flavio; TADEU, Tomaz (Orgs). Currículo, Cultura e
Sociedade. Cortez: São Paulo, 2013.
MASSCHELEIN, Jan; SIMONS, Maarten. A pedagogia, a democracia, a escola. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.
MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da Pesquisa para o professor pesquisador.
2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. 245p.
Data do envio: 03/06/2021
Data do aceite: 25/05/2021
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