
Geografia das Infâncias (LOPES, 2006), como as diferentes realidades sociais impactam
nas infâncias e suas subjetividades.
A pandemia que levou ao isolamento, ainda que incipiente, desde março do
ano passado, trouxe novos desafios às experiências vividas por essas infâncias,
incluindo a própria relação com o espaço. Assim, ampliar a leitura de mundo dos
educandos neste contexto traz novos desafios aos docentes que precisam atuar a partir
do espaço vivido. O desafio central é ampliar o entendimento de vivências espaciais.
Além do mais, vimos que o direto à cidade engloba diversos direitos
fundamentais que têm por finalidade assegurar o bem-estar social, a moradia digna, o
respeito aos demais habitantes, o direito de ir e vir, o sentimento de pertencimento
local, o acesso aos bens artísticos, históricos e culturais pela população citadina (e suas
infâncias) de São Gonçalo-RJ para que a cidade desempenhe sua função social. Em
vista disso, fazemos a asserção de que a garantia do direito à cidade não se restringe ao
fato dos indivíduos se apropriarem dos espaços (simbólicos e materiais) urbanos, e
sim, de terem plena participação política para que, em comunhão, possam reivindicar
seus direitos e exercer uma gestão democrática.
Inferimos que, dentro e fora do contexto pandêmico causado pela COVID-19,
nossas infâncias – principalmente aquelas vividas pelas crianças nascidas e crescidas
nas camadas mais empobrecidas – seguem impossibilitadas de desfrutar, em grande
parte, da cidade, porque foram roubadas, desumanamente, de seus direitos dentro do
tecido urbano. Aliás, para aprender os direitos à cidade de São Gonçalo-RJ, é
necessário vivenciar seu cotidiano, isso, pois, a cidade educa os sujeitos que a
(re)significa e (re)formula. Desse jeito, como preconiza Tavares (2007, p. 71), não
pretendemos pleitear uma cidade didatizada; o intuito está em discutir a cidade
experienciada, percebida e vivida pelos(as) educadores(as) e educandos(as).
Sendo assim, salientamos que a pandemia impõe a necessidade de
trabalharmos com um outro currículo diferente desse que até agora vigora nas salas de
aula, nas escolas e que se mostra amplamente inócuo para a realidade das camadas
periféricas. Com isso, se faz necessário um processo de reflexão sobre o que ocorre no
mundo para, assim, podermos atuar de modo a não entender como natural as
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº38
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