A duração da viagem, entre Rio e Nova York, foi de 23 dias. Por volta do dia 13
de julho, Leonor Augusta e Maria Guilhermina desembarcaram no porto da cidade de
Nova York, acompanhadas de 9 bagagens. De acordo com a lista de passageiros
localizada , diante de um universo de 33 passageiros, elas foram registradas como
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passageiras n.º. 2 e n.º. 3, respectivamente, o que pode indicar terem sido as primeiras
a adquirirem as passagens. É provável que outros passageiros tenham embarcado
durante o percurso da viagem, contudo, a listagem consultada dá conta apenas
daqueles que desembarcaram no porto de Nova York. (LIST OF PASSENGERS. DISTRICT
OF THE CITY OF NEW YORK, PORT OF NEW YORK. M 237. Ano: 1820-1897. Rolo, 468).
Pela produção historiográfica apresentada, é possível compreender que casos
das duas mulheres viajantes não foram excepcionais, embora possam ser diminutos
frente as empreendidas por homens; que as viagens por elas realizadas, também se
enquadravam em movimento de busca por formação profissional específica que não
existia no Brasil ou então que era vedada a mulheres.
É possível apontar que Maria Guilhermina seguiu um movimento característico
de algumas mulheres que buscavam formação profissional específica na segunda
metade do século XIX, como foi o caso das duas brasileiras que foram aos Estados
Unidos em busca da graduação em medicina, Maria Augusta Generoso Estrella
(1860-1946) e Josefa Agueda Felisbela Mercedes de Oliveira (1864-?), as primeiras
médicas brasileiras (RAGO, 2000). Ainda, segundo Rago (2000), ao viajarem em
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busca por formação em uma especialidade, ambas alargaram fronteiras socialmente
criadas e delimitadas para o gênero feminino e criaram um novo “campo de
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É importante indicar que a Reforma Leôncio de Carvalho (1879) declinou a proibitiva legal de
mulheres frequentarem curso superior. Maria Augusta Gerenoso Estrella e Josefa Agueda Felisbela
Mercedes de Oliveira foram alunas do New York Medical College and Hospital for Woman e suas
matrículas são anteriores à data da reforma educacional imperial. Durante o período de estudos em
Nova York, o pai e provedor de Maria Augusta enfrentou séria crise financeira, o que impediu que o
mesmo custeasse sua estada e formação. Dom Pedro II, por sua vez, interveio e, via decreto, concedeu
uma bolsa para que a estudante brasileira terminasse sua formação (RAGO, 2000).
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A lista de passageiros consultada é o documento oficial do governo estadunidense. Foi preenchido
pelo comandante do vapor, Comandante Carpenter. A lista designa nome, idade, sexo, país de cidadania,
país nativo, destino, número de bagagens e localização do compartimento (cabine ou outro tipo de
acomodação). Na listagem consta o registro de 33 passageiros que passaram pelo vapor no trajeto da
viagem, destes 10 eram provenientes do Brasil, incluindo Maria Guilhermina e sua mãe Leonor. O
documento indica que a profissão informada para as duas foi a de professor.
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº 38
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