pelas Orientações Curriculares, que constituíam cadernos separados por disciplinas,
contendo a relação de objetivos, habilidades, conteúdos e sugestões de atividades. Tal
documento inseria a rede municipal no novo ordenamento que as políticas neoliberais
estavam dando à educação. O documento anterior, que enfatizava a diversidade
cultural presente nas escolas da rede municipal e que previa um trabalho em que as
diferentes linguagens, diferentes histórias, diferentes culturas e diferentes visões de
mundo fossem valorizadas foi relegado ao esquecimento em prol de uma proposta de
viés neoliberal, tecnicista.
Entretanto, a análise de alguns planejamentos realizados nessa rede permite
não somente perceber a elaboração de práticas curriculares a partir da realidade, como
também a preocupação com o atendimento às diferenças percebidas – o que se
distancia dos documentos orientadores da política educacional pública, que ensejam
uma uniformização das práticas. Assim, é possível verificar que alguns/algumas
professores/professoras conseguem perceber o trabalho a ser realizado com seus
grupos de estudantes, além de seu posicionamento crítico e de sua busca de soluções.
Não obstante a tensão que, muitas vezes, os documentos da política educacional
causam no trabalho das escolas, é possível identificar a elaboração de propostas
curriculares a partir de diretrizes elaboradas coletivamente nas escolas – o que
constitui movimentos insurgentes.
É neste sentido que socializamos aqui experiências que buscam organizar o
currículo escolar e as práticas didáticas a partir da realidade, dos interesses, da cultura
e das experiências de estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, envolvendo
diversos componentes disciplinares. Essas ações tiveram como aporte a concepção
freireana de diálogo, pois, conforme Freire (2005):
Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo
programático da educação não é uma doação ou uma imposição –
um conjunto de informes a ser depositado nos educandos –, mas a
devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo
daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada.
A educação autêntica não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de
A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e
desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre
ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou
desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº 38
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