INSPIRAÇÃO FREIRIANA SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA: A PROPOSTA DE UM GLOSSÁRIO EM LIBRAS
FREIRIAN INSPIRATION ON PHYSICAL EDUCATION PEDAGOGICAL
PRACTICES: THE PROPOSAL OF A GLOSSARY IN BRAZILIAN SIGN
LANGUAGE
Ingrid Lourenço de Amorim Corrêa
35
Maíra Soares Henriques
36
Tathianna Prado Dawes
37
Ludmila Veiga Faria Franco
38
Resumo
Olhar os alunos com suas especificidades e identidades é desafiador para os
professores, mas pensar em uma educação inspirada por Freire nos faz ver além das
diferenças. A presente pesquisa, fruto de um trabalho de conclusão do curso de
educação física da Universidade Federal Fluminense, objetivou discutir a importância
da produção de glossários em Libras dentro do contexto da educação física escolar,
abarcar conceitos da surdez, Libras e educação de surdos como proposta de
aprendizagem pelas diferenças e compreender a inclusão na educação física escolar
através da relação dos alunos surdos com os professores ouvintes. Foi realizada uma
coleta de sinais sobre esportes e posterior catalogação dos resultados, possibilitando a
expectativa de criação de um glossário sobre esportes com bola.
38
Doutoranda em Ciências e Biotecnologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em
Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduada em Direito pela
Universidade do Rio Grande (UNIGRANRIO). Professora Assistente de Libras na Universidade Federal
Fluminense (UFF), Coordenadora do Projeto Produzindo Materiais Bilíngues para Promoção da Saúde
das Pessoas Surdas. E-mail: ludmilaveiga@id.uff.br Telefone: (21) 99136-6005 ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2596-4730.
37
Doutoranda em Estudos de Linguagem na Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em
Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduada em Pedagogia no Centro
Universitário Plínio Leite (UNIPLI). Professora Assistente de Libras na Universidade Federal Fluminense
(UFF), Coordenadora do Programa de Extensão Libras, Linguística e Divulgação (LILINDIV). Líder do
Grupo de Pesquisa Estudos do Bilinguismo: LIBRAS e Língua Portuguesa para o surdo (EBILPS). E-mail:
tathiannadawes@id.uff.br Telefone: (21) 99753-1717 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5573-8139.
36
Graduada no Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e Graduanda no Curso de Bacharel em
Ciências Biológicas, ambos na Universidade Federal Fluminense (UFF). Integrante do Projeto de Extensão
Libras, Linguística e Divulgação (LILINDIV). Membro do Grupo de Pesquisa Estudos do Bilinguismo:
LIBRAS e Língua Portuguesa para o surdo (EBILPS). E-mail: masoares@id.uff.br Telefone: (21) 99820-3421
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8161-0094.
35
Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal Fluminense (UFF) e
integrante dos Projetos de Extensão Libras, Linguística e Divulgação (LILINDIV) e Produzindo Materiais
Bilíngues para Promoção da Saúde das Pessoas Surdas. Membro do Grupo de Pesquisa Estudos do
Bilinguismo: LIBRAS e Língua Portuguesa para o surdo (EBILPS). E-mail: ingridamorim@id.uff.br Telefone:
(21) 98015-6029 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4313-0783.
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº 38
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Palavras-chaves: Glossário. Surdez. Educação Física Escolar. Inclusão. Libras.
Abstract
Looking at students with their specificities and identities is challenging for teachers but
thinking of an education inspired by Freire makes us see beyond the differences. This
research, the result of a final paper in the physical education course at Universidade
Federal Fluminense, aimed to discuss the importance of the production of glossaries in
Libras within the context of school physical education; encompass deafness, Libras and
deaf education concepts as a proposal of learning throughout the differences; and
comprehend the inclusion in school physical education through the relationship of deaf
students with hearing teachers. A collection of signs on sports and subsequent
cataloging of the results were held, making possible the expectation of creating a
glossary on sports with balls.
Keys words: Glossary. Deafness. School physical education. Inclusion. Brazilian Sign
Language.
Introdução
Este trabalho é fruto de uma pesquisa iniciada nos projetos de Extensão
Libras, Linguística e Divulgação (LILINDIV) e Produzindo Materiais Bilíngues para
39
Promoção da Saúde das Pessoas Surdas , ambos aprovados pela Pró-Reitoria de
40
Extensão (PROEX) e pertencentes à Universidade Federal Fluminense. Do envolvimento
nos projetos, originou-se o trabalho de conclusão de curso que possui o foco na criação
de um glossário em Língua Brasileira de Sinais (Libras) relacionado aos esportes que se
utilizam de bolas.
Buscamos refletir sobre uma educação física escolar através do olhar
Freiriano, acreditando na necessidade de um ensino que exige a criticidade e a
mudança da curiosidade ingênua desses alunos surdos para a curiosidade
epistemológica (FREIRE, 2021). Acreditamos nas potencialidades da educação física na
40
O projeto Produzindo Materiais Bilíngues para Promoção da Saúde das Pessoas Surdas possui o
objetivo de criar materiais bilíngues (Libras/português). São utilizados vídeos e materiais produzidos,
traduzidos e interpretados em Libras com o foco de promover e divulgar direitos e informações sobre
saúde de forma acessível para o público surdo.
39
O projeto LILINDIV desenvolve seus trabalhos desde o ano de 2017 e possui o intuito de divulgar e
produzir materiais com os sinais coletados nas diferentes áreas do conhecimento, contribuindo para a
difusão da Língua Brasileira de Sinais.
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desconstrução e reconstrução dessas curiosidades, desfazendo e refazendo discursos e
ações que afetam as diversidades presentes na sociedade.
De acordo com Soares et al. (1992), entre as quatro primeiras décadas do
século XX, a educação física foi marcada por fortes influências das Instituições
Militares. Possuía o foco na disciplina e no desenvolvimento da aptidão física pautada
na repetição mecânica de movimentos, impondo aos alunos o respeito e a
conformidade à hierarquia social, correspondendo então à execução do projeto de
sociedade idealizado pela ditadura do Estado Novo” (SOARES et al., 1992, p. 36). Tendo
vista essa perspectiva, concordamos com Soares et al. (1992) ao pensar que as aulas de
educação física escolar devem abranger:
[...] a compreensão das relações de interdependência que jogo,
esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor
um programa de Educação Física, têm com os grandes problemas
sócio-políticos atuais [...]. A reflexão sobre esses problemas é
necessária se existe a pretensão de possibilitar ao aluno da escola
pública entender a realidade social interpretando-a e explicando-a a
partir dos seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe à
escola promover a apreensão da prática social. Portanto, os
conteúdos devem ser buscados dentro dela (SOARES et al., 1992, p.
42).
Soares et al. (1992), ao pensar que a organização dos conteúdos na educação
física deve estar em concordância com o objetivo de promover a leitura da realidade
dos alunos, “isso quer dizer que o aluno atribui um sentido próprio às atividades que o
professor lhe propõe” (p. 41), dialoga com Freire (2013, p. 35), visto que o autor
enfatiza que os estudantes necessitam desenvolver em si a consciência crítica de que
resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele”.
Freire (2013) evidencia que, quando se coloca o foco unicamente no educador
como sujeito central do processo educativo, acaba-se tratando os educandos como
recipientes vazios a serem preenchidos, sendo meros depósitos”. Surge, a partir disso,
a concepção de educação “bancária”, na qual os alunos recebem informações e as
arquivam. O autor explicita que através dessa distorcida visão da educação, não
criatividade, não transformação, não saber (FREIRE, 2013, p. 34). É almejada
uma educação problematizadora, em que ocorre diálogo entre educador e educando,
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na qual ambos “se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os
argumentos de autoridade’ não valem” (FREIRE, 2013, p. 39). Freire destaca ainda
que os educandos, em lugar de serem recipientes dóceis de depósitos, são agora
investigadores críticos, em diálogo com o educador, investigador crítico, também”
(2013, p. 40). Para ele, essa concepção se compromete com a libertação, se apoiando
no diálogo como desvelador da realidade.
Atualmente, ainda é perceptível a existência de algumas barreiras, em
determinados casos, na atuação da educação física como mediadora na mudança das
curiosidades ingênua e epistemológica citadas por Freire (2021). Uma dessas situações
ocorre na educação de surdos, na qual existe uma barreira linguística entre os
envolvidos (PUPIM et al., 2016) e, por vezes, prevalece a ideia de que o surdo deve
copiar mecanicamente o que é visto em aula, tratando-se, portanto, de uma mera
repetição de movimentos (ALVES e PINTO, 2016). Acreditamos que tal prática se
aproxima muito da concepção de educação “bancária” proposta por Freire (2013), o
que deve ser contestado. No presente trabalho, a produção do glossário visa contribuir
para a educação de surdos reconhecendo tais barreiras linguísticas encontradas por
esses sujeitos nas aulas de educação física escolar. Logo, encaramos ser urgente a
necessidade de proporcionar um ambiente inclusivo, dispondo de materiais
pedagógicos que possam contribuir para um ensino que se utiliza da Libras no contexto
das aulas de educação física.
Antes de aprofundarmos as discussões sobre os alunos surdos na educação
física escolar, de acordo com a perspectiva Freiriana, e a proposta de criação do
glossário, iremos abordar alguns conceitos importantes quando se trata dos estudos no
campo da Libras, surdez e educação de surdos.
Alguns conceitos importantes relacionados à surdez e à LIBRAS
A surdez, por vezes, acaba sendo definida levando em consideração
unicamente a visão adotada pela área da saúde e, tradicionalmente, também, pela
área educacional, na qual os diferentes graus de surdez leve, moderada, severa e
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profunda são avaliados em decibéis. Existem materiais fornecidos pelo Ministério da
Educação (MEC) que traçam um limiar para a designação de um indivíduo como surdo,
considerando apenas aqueles com surdez severa ou profunda, enquanto os indivíduos
com surdez leve ou moderada são considerados deficientes auditivos (DA) (LIMA et al.,
2006).
Todavia, segundo Garcia , os sentidos de “surdez” e de “surdo” não são
equivalentes, visto que o primeiro é dado médico, criação clínica [...], o segundo,
identidade de um povo” (2015, p. 81). Existe, portanto, a importância da manifestação
cultural na conceituação de uma pessoa como surda, como destacado a mesmo pelo
Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2005), que, em seu art. 2º, salienta o uso da Libras
como forma de interação com o mundo.
Corroborando tal pensamento e em contradição à perspectiva estritamente
médica, Cardoso e Francisco (2017, p. 109) acreditam que ao falar em surdez e pessoa
surda, entendemos a surdez a partir de sua marca enquanto diferença e não enquanto
deficiência, que necessita ser corrigida”. Lopes (2007) sugere a compreensão da
diferença surda como uma diferença cultural, o que demarca uma questão de luta para
a comunidade surda. De acordo com Garcia (2015):
Surdo, no Brasil e em pleno século XXI, é um dos possíveis
fundamentos para agrupamentos sistêmicos cujo objetivo político
parece ser sustentar a visibilidade de determinada comunidade
formada por pessoas que compartilham entre si uma mesma língua:
Libras. [] Surdo é enunciado como indicativo de povo que se
agrupa em função de similaridades coletivizadas: comportamento,
necessidades, linguagem, espaços e lugares próprios e especializados
para sua permanência momentânea ou para sua circulação (GARCIA,
2015, p. 67).
É necessário reforçar que a Libras é de fato uma língua, reconhecida
oficialmente através da Lei 10.436/2002 (BRASIL, 2002). Mesmo sendo um sistema
linguístico de natureza visual-motora, a Libras possui sua estrutura gramatical própria e
é capaz de transmitir ideias e fatos como qualquer outra língua. Quadros e Stumpf
(2019) evidenciam que existem diferentes perfis de pessoas que utilizam a Libras,
podendo ser surdos filhos de pais surdos, surdos filhos de pais ouvintes, ouvintes filhos
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de pais surdos (CODAs, Children of Deaf Adults) e até mesmo ouvintes que aprendem a
Libras e se desenvolvem de modo fluente. De qualquer forma, considerando os
diferentes modos de contato com a língua, é inegável que a Libras desempenha um
papel fundamental para a comunidade surda brasileira.
No que diz respeito à educação, sabe-se que ela é assegurada a todos os
cidadãos brasileiros, conforme estabelecido pela Lei 9.394/1996 (BRASIL, 1996).
Entretanto, a trajetória dos surdos foi marcada por muitas adversidades desde a
Antiguidade, com a privação de direitos essenciais e, séculos depois, no campo da
educação, com a imposição do oralismo como base teórico-prática empregada para a
educação de surdos , cujo principal fundamento era a proibição do uso da língua de
41
sinais e a imposição da língua falada. Dessa forma, o oralismo e a supressão da língua
de sinais acarretaram uma deterioração marcante no aproveitamento educacional das
crianças surdas e na instrução dos surdos em geral” (SACKS, 2010, p. 21).
O oralismo esteve em vigência a a década de 1970, quando surge a proposta
da comunicação total que, segundo Honora e Frizanco (2009), se apoiava em todas as
formas de comunicação possíveis para efetivação da educação, o que incluía língua de
sinais, língua oral, escrita e qualquer tipo de gestos e mímica para transmitir
determinada mensagem. Goldfeld relata que, a partir da década de 1970, em alguns
países como Suécia e Inglaterra percebeu-se que a língua de sinais deveria ser utilizada
independentemente da língua oral” (1997, p. 32). Assim, na década de 1980 o
bilinguismo surge como proposta para a educação de surdos e vai ganhando mais
adeptos mundialmente ao longo da década seguinte.
O bilinguismo é a metodologia utilizada ainda nos dias de hoje e entende o
surdo como sujeito bilíngue utilizando a língua de sinais como sua língua materna
(L1) e a língua oral oficial de seu país, através da escrita, como segunda língua (L2). No
Brasil, para assegurar o direito à educação de crianças surdas, foi necessária a
implementação de diversas políticas de inclusão.
Além da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, e da mencionada Lei
10.436/2002 e Decreto 5.626/2005 que instituiu a inclusão da Libras como
41
O oralismo saiu como método vitorioso na votação que ocorreu em 1880, no Congresso Internacional
de Educação de Surdos, realizado em Milão.
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disciplina curricular obrigatória em todos os cursos de Licenciatura e Pedagogia, além
de tornar obrigatória a presença de intérpretes para o atendimento de alunos surdos
é importante destacar a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI, Lei
13.146/2015). Esta lei implementada em 2015, além de reforçar propostas previstas
em outros dispositivos legais, concebe inovações importantes no campo da educação,
como a afirmação de a obrigatoriedade da inclusão escolar de pessoas com deficiência
não ser restrita às escolas públicas, mas também aplicadas às instituições privadas de
ensino.
O aluno surdo na educação física escolar: um olhar acerca das corporeidades que
emergem das diferenças nos cotidianos escolares
A educação física apresenta uma relação com a exclusão e marginalização dos
corpos que não cumprem um modelo de aptidão física e habilidades motoras. Oliveira
(1994) afirma que esses corpos são formados (ou deformados) para exibir um caráter
acrítico e dependente perante as relações de poder existentes na sociedade,
acarretando, segundo Soares et al. (1992), a utilização da educação para adaptar e
adestrar o indivíduo nessa sociedade, alienando-o da sua condição de sujeito.
Levando em consideração esse passado, concordamos com Alves et al. (2013,
p. 196) ao defenderem a educação física escolar desvinculada dos aspectos de
rendimento esportivo, técnica pela técnica, exclusão dos menos habilidosos e qualquer
outra prática excludente”. Quando pensamos sobre o esporte na educação física
escolar, defendemo-lo para além dos movimentos técnicos, dessa forma, dialogando
com Ginciene (2016) ao afirmar que não é que a técnica não deva ser ensinada ou seja
menos relevante, apenas não compartilhamos da ideia da aprendizagem por aspectos
técnicos com movimentos repetidos e mecânicos, descontextualizados e focados
apenas no desenvolvimento da habilidade motora.
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Apesar de Freire (1989), em sua obra A importância do ato de ler , discorrer
42
sobre o contexto da alfabetização dos indivíduos, acreditamos que tal discussão se
aplica à educação física escolar e dialogamos com o trecho o qual afirma que os alunos
não precisam “memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua
significação profunda” (FREIRE, 1989, p. 12). Pensando no contexto da educação física
escolar, acreditamos nas suas potencialidades e compartilhamos de uma visão oposta
a movimentos mecânicos e descontextualizados, em que é preciso:
[...] compreender que não é possível pensar no corpo separado do
sujeito que o habita, portanto, para nós tratarmos do corpo sujeito’,
[...] Pensamos o corpo como diversas formas de ser e estar no
mundo. É a materialidade corpórea, biológica, imbricada por histórias
que são singulares e plurais, inscritas por experiências e vivências
individuais e coletivas, com as quais nos constituímos sujeitos do
mundo, sempre a partir das múltiplas redes de relações nas quais
circulamos em nossas vidas cotidianas na sociedade (CUPOLILLO e
COPOLILLO , 2011 apud SANETO e COPOLILLO, 2020, p. 136).
43
A escola é um espaço habitado por indivíduos plurais, devendo incorporar em
seu currículo práticas pedagógicas que atendam à diversidade existente. Porém,
mesmo que a escola tenha sido afetada por políticas públicas de inclusão, ainda ocorre
nela a rejeição e a exclusão do considerado diferente” na perspectiva da normalidade
e da anormalidade. Quando olhamos para a relação dos alunos surdos com os espaços
escolares, percebemos que são submetidos a uma padronização de adequação aos
moldes ouvintistas, em que tudo o que diverge deste padrão deve ser corrigido,
normalizado” (GESSER, 2009, p. 67).
Perlin (2016) menciona as representações hegemônicas e dominantes
ouvintistas, quando se trata da surdez, resultando em relações de poder que
43
CUPOLILLO, Amparo; COPOLILLO, Martha. Sentir, pensar e olhar: Múltiplos significados para os
corpossujeitos. In: XVII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte/IV Congresso Internacional de
Ciências do Esporte. 2011. Disponível em:
http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2011/2011/paper/view/2909/1398. Acesso em: 03 de
setembro de 2021.
42
A obra A importância do ato de ler aborda a necessidade da leitura de mundo e o contexto no qual os
alunos estão inseridos para a sua alfabetização. Defende ir além de apenas organizar letras e sons, pois
deve levar em consideração a experiência do educando no processo e não do educador.
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influenciam nas mais diversas esferas da vida dos surdos, como na sua língua,
educação, identidades e cultura.
Destacamos a educação física detentora de potencialidades na formação de
sujeitos emancipados capaz de desfazer e romper com modelos hegemônicos,
“tecendo outras redes de conhecimentos para se questionar como esses modelos
foram se constituindo, criamos caminhos para desnaturalizar preconceitos e
estereótipos que foram sendo naturalizados ao longo da história” (SANETO e
COPOLILLO, 2020, p. 137).
Quando refletimos sobre a surdez, concordamos com Gesser (2009) ao
mencionar o fato de a surdez ser encarada como um problema apenas para os ouvintes
que possuem um olhar estritamente fisiológico, o que é complementado por Pires e
Santos (2020, p. 22) ao dizerem que a surdez é vista nesses casos como uma
deficiência que deveria ser curada e recuperada” (PIRES e SANTOS, 2020, p. 22).
Entretanto, apesar dos esforços para inclusão dos surdos e das
mencionadas conquistas legais adquiridas, Pires e Santos (2020) mostram que por mais
que haja um Decreto dispondo sobre a garantia de uma escolarização efetiva aos
alunos surdos à medida que a barreira comunicacional existente com os docentes fosse
diminuída, na prática tais entraves são mantidos, que os professores não adquirem
um conhecimento satisfatório de Libras.
Mesmo com a introdução da Língua Brasileira de Sinais no currículo de
formação dos professores, esta inserção não garante o domínio na língua por parte dos
docentes e não permite uma relação autônoma entre os professores ouvintes e alunos
surdos, necessitando-se da presença dos tradutores e intérpretes da língua de sinais
(TILS) nas aulas. Não podemos considerar a presença dos intérpretes como uma
solução, pois “muitas vezes, são obrigados a interpretar conteúdos que não são de seu
domínio” (PIRES e SANTOS, 2020, p. 70), resultando em conteúdos repassados com
uma certa defasagem por não serem mediados pelo próprio docente.
Especificamente nas aulas de educação física escolar, o cenário consegue ser
pior. Pupim et al. (2016) mencionam que, devido ao fato de a educação física realizar
suas aulas em um espaço diferenciado, na maioria das vezes fora da sala de aula,
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utilizando-se da quadra ou pátios, a relação entre alunos surdos e TILS fica deslocada
neste contexto, no qual os TILS são dispensados pelo professor de educação física por
acreditar não ser necessária a presença deles. Ocorre a presunção, por parte do
docente, de que ele poderá se comunicar com o aluno surdo através de gestos ou que
esse estudante poderá simplesmente imitá-lo nos movimentos durante a aula (PUPIM
et al., 2016).
Independentemente de ser necessária a ajuda do educador ou a presença dos
TILS durante o processo de ensino, concordamos com Freire (1981) ao mencionar que
a ajuda do educador não deve anular a responsabilidade e a criatividade dos alunos na
construção de seus saberes. Em vista disso, torna-se alarmante a existência de aulas de
educação física focadas apenas na reprodução dos movimentos. Freire (2021) indaga a
necessidade de se estabelecer uma relação entre os componentes curriculares com os
saberes que os alunos vivenciam enquanto indivíduos permeados por experiências
sociais. Logo, existe a importância de contextualizar os saberes com as vivências e
experiências individuais de cada um, incluindo suas particularidades e sua identidade.
Acreditamos ser preocupante a crença de que o surdo pode se comunicar
através de pantomímica ou de que, quando um professor de educação física propuser
um exercício, ele vai executar de forma a repetir aquele exercício” (ALVES e PINTO,
2016, p. 9), copiando os movimentos do professor. Reiteramos a nossa visão de uma
educação física escolar para além dos movimentos, pois acreditamos em uma
educação física potencializadora de múltiplas corporeidades:
[...] para além do corpo, fazendo com que os alunos desenvolvam um
caráter de criticidade sobre as diversas áreas. Esse é um dos
propósitos do ensino de Educação Física, desmistificando, inclusive a
ideia de outrora que reforça e que simboliza essa disciplina única e
exclusivamente como aquela que tem como foco principal ver e
desenvolver o corpo, sem qualquer criticidade e reflexão do mundo
em que está inserido (ALVES e PINTO, 2016, p. 10).
Defendemos que ensinar exige também o reconhecimento da identidade
cultural desses indivíduos e que é “assumir-se como ser social e histórico, como ser
pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos” (FREIRE, 2021, p.
42). Complementamos essa ideia com o pensamento de Saneto e Copolillo que
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111
afirmam que o corpo que tangencia os cotidianos escolares é o corpo do mundo, vivo
e potente” (2020, p. 137).
Barboza (2015) aponta que, mesmo que as aulas de educação física escolar
sejam mais visuais em relação às outras disciplinas, não podemos confundir e
considerar adaptações ineficientes como inclusão. Concordamos com Candau e
Moreira (2008) ao mencionarem que é inconcebível realizar uma prática pedagógica
desculturalizada e descontextualizada da realidade desses alunos. São necessárias
aulas que contemplem também para os alunos surdos uma "leitura" da "leitura”
anterior do mundo (FREIRE, 1989, p. 13) que eles possuem. Além disso, o autor
menciona que não significa uma ruptura com a "leitura" do mundo menos crítica que
possuíam antes, mas sim uma leitura mais crítica que possibilita a esses grupos uma
posição “fatalista em face das injustiças, uma compreensão diferente de sua
indigência” (FREIRE, 1989, p. 14).
Deste modo, concordamos com Freire (2021) ao mencionar que ensinar exige
criticidade, portanto, é necessário transformar a curiosidade ingênua relacionada aos
saberes do senso comum e aproximá-la cada vez mais da curiosidade epistemológica.
Sendo assim, os educandos vão desenvolvendo o seu poder de captação e de
compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais como
uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo”
(FREIRE, 2013, p. 41). No intuito de contribuir para uma educação física escolar que
rompa com a ideia de aulas focadas unicamente na demonstração visual e repetição
dos movimentos, defendemos uma interação direta entre alunos e docentes através da
Língua Brasileira de Sinais. Surge, então, a construção de um glossário em Libras na
área de esportes objetivando auxiliar na acessibilidade dos alunos surdos, dispondo-se
a construir um material que possa contribuir tanto na formação desses alunos e dos
docentes envolvidos no processo como também para os TILS, docentes em formação e
ouvintes sinalizantes.
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O motivo da escolha de um glossário em esportes
A escolha da produção de um glossário do campo do esporte surge devido à
história da relação do surdo com os esportes, cujos primeiros movimentos surgiram na
França, por meio dos Banquetes dos Surdos-Mudos , que estimularam o surgimento
44
do Club Cycliste des Sourds-Muets em 1899, posteriormente, influenciando na criação
de outras associações de esportes surdos pelo mundo (BENVENUTO e SÉGUILLON,
2016). Compreendemos a influência dos esportes na construção e no fortalecimento
das relações sociais na comunidade surda, oportunizando por intermédio das
associações de surdos um espaço para troca de conhecimentos e vivências por meio da
sua língua própria: a Língua Brasileira de Sinais. Essas associações de surdos
“tornaram-se importantes pontos de articulação política e de prática esportiva”
(FRANCO, 2019, p. 54). Portanto, podemos concordar com Dorziat ao apontar que:
Esse espaço político tem sua materialidade, para os Surdos, nas
Associações de Surdos, que se constituem em iniciativas
enriquecedoras, pois permitem o convívio e a liderança das pessoas
historicamente excluídas do direito à voz. Sem esses espaços de luta,
a promoção e preservação de uma sociedade que respeite as
diferentes manifestações culturais ficam comprometidas (DORZIAT,
2009, p. 25).
(2010) evidencia que a formação das associações foi importante para
transmitir e preservar a cultura surda, devido às tentativas de isolá-la da sociedade.
Além de influenciar na cultura surda, o esporte também auxiliou na divulgação e
visibilidade da Libras e na consolidação das identidades surdas. Ressaltamos que
quando mencionamos identidades surdas, acreditamos serem elas plurais, dinâmicas,
complexas e que se interseccionam (HIRATA, 2014), permeadas por múltiplas
opressões.
Tendo em vista os aspectos mencionados, a elaboração do glossário surge
também da necessidade da utilização de termos específicos nas diversas áreas do
44
Os Banquetes dos Surdos-Mudos existiam com a justificativa de homenagear o abade Charles-Michel
de l'Épée (1712-1789), conhecido como “Pai dos surdos” por ser um importante educador na história
destes indivíduos. Os Banquetes eram uma forma resistência à imposição da oralização e à proibição do
uso do uso das línguas de sinais estabelecidas pelo Congresso de Milão (1880).
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conhecimento. Malacarne e Oliveira (2018) mencionam que devido ao fato de os
glossários utilizarem-se de vídeos e ao seu fácil acesso no compartilhamento na
internet, eles ajudam a difundir e a tornar os sinais mais acessíveis entre a comunidade
surda, os profissionais da área e entre ouvintes sinalizantes, promovendo a ampliação
do vocabulário e dos termos técnico-científico.
Logo, “o glossário é utilizado como elucidário para termos técnicos ou cujos
sentidos são pouco conhecidos dentro da comunidade Surda” (OLIVEIRA e STUMPF,
2013, p. 221), tornando-se cada vez mais necessária a produção de glossários devido à
crescente entrada de alunos surdos nos espaços educacionais. Surgindo-se então a
necessidade de:
[...] exigir a implementação de projetos e programas de ensino e
divulgação da Libras, produção e distribuição de material didático
adequado, além de formação e capacitação de profissionais para
trabalhar com esses alunos, cenário que propicia, além de grande
expansão lexical, o início de uma fase de intenso movimento de
dicionarização da Língua Brasileira de Sinais (MANDELBLATT e
FAVORITO, 2018, p. 160).
Apesar do aumento da produção de materiais como glossários, Grativol
aponta que existem “muitos sinais que circulam na comunidade surda que não se
encontram registrados em glossários e dicionários de grande circulação e/ou de
instituições formais” (2019, p. 93). Oliveira e Stumpf (2013) mencionam ainda o fato de
a Libras ser uma língua, como qualquer outra, em constante mudança, levando à
necessidade da representação dos termos mais técnicos.
Portanto, a formação do glossário em esportes surgiu no intuito de uma coleta
aprofundada e um agrupamento de sinais na modalidade esportiva do rugby e do polo
aquático, porém, concordando com o que foi dito por Grativol (2019) sobre a carência
de divulgação de termos mais específicos, a etapa de coleta, descrita detalhadamente
no tópico a seguir, nos despertou para a necessidade de ampliação do tema do
glossário para que contemplasse um maior número de modalidades esportivas,
optando-se pela construção de um glossário de esportes que se utilizam de bolas.
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A coleta dos sinais
O presente trabalho se tratou de uma pesquisa de carácter quantitativo, que
buscou sinais em Libras relacionados aos esportes, realizada mediante o levantamento
em bibliografias impressas e digitais. Foram catalogados, de maneira geral, todos os
sinais no campo de conhecimento do esporte e separados por modalidades. Foram
inseridos e catalogados não apenas sinais referentes aos nomes de modalidades
esportivas, mas também sinais relacionados aos fundamentos, regras e materiais
específicos utilizados em cada uma delas.
A coleta dos sinais foi realizada, no período de setembro de 2020 até abril de
2021, com pesquisas nos sites de busca Google Acadêmico e portal Periódicos CAPES,
escolhidos por serem plataformas muito abrangentes em seus resultados exibidos,
além de permitirem a delimitação da pesquisa por idiomas, o que facilitaria o encontro
de publicações brasileiras. Nos portais, foi feito o uso combinado dos descritores Libras
e esportes, glossários esportes Libras, manuário esportes Libras e sinalários esportes
Libras.
A partir da triagem dos resultados apresentados, foram encontrados os
seguintes materiais digitais: Glossário Esporte da e-Aulas USP , Manuário Técnico em
45
Libras Sinalário para a Modalidade Handebol nas Aulas de Educação Física e Glossário
46
de Educação Física Libras–Português . É importante destacar que o Glossário Esporte
47
da e-Aulas USP foi encontrado diretamente a partir das buscas descritas, enquanto os
demais foram redirecionamentos do encontro das respectivas dissertações de
mestrado que lhes deram origem.
Além disso, foi feito o uso de materiais adicionais conhecidos pelas equipes
dos projetos de extensão que deram origem a este trabalho, tratando-se tanto de
47
O glossário pode ser acessado através do link: Glossário de Educação Física Libras–Português. Ele é
resultado de uma pesquisa de mestrado que pode ser acessado em: O ensino da educação física com as
mãos: Libras, bilinguismo e inclusão.
46
O manuário pode ser consultado em: Manuário Técnico em Libras Sinalário para a Modalidade
Handebol nas Aulas de Educação Física. Ele é fruto de uma dissertação de mestrado que pode ser
consultada: Gestão do manual técnico em Libras: Sinalário para a modalidade handebol nas aulas de
educação física.
45
Glossário esportes e-Aulas USP: Libras EaD - Glossário - Esporte.
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115
fontes digitais quanto impressas. Foram eles: TV INES , Manuário acadêmico e escolar
48
do Instituto Nacional de Educação de Surdos , Surdolimpíadas Sinalário , Canal do
49 50
YouTube da professora de educação física surda Hellen Silva , Glossário Natação em
51
Libras , Glossário SurdeSportes , Sinalário Disciplinar em Libras (Sinalário PR) ,
52 53 54
Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira (volume 2) , Livro Ilustrado da Língua
55
Brasileira de sinais (volume 1) e Livro Ilustrado da Língua Brasileira de sinais (volume
56
2) .
57
Resultados e discussões
Conforme foi relatado anteriormente, inicialmente foram inseridos todos os
sinais relacionados às modalidades esportivas encontradas, sendo organizadas a fim de
podermos ter uma visão das modalidades que surgiram e a quantidade de sinais em
cada uma delas. Da coleta inicial, encontramos os seguintes resultados:
57
Volume 2 do Livro ilustrado da língua brasileira de sinais: Desvendando a comunicação usada pelas
pessoas com surdez das autoras Márcia Honora e Mary Lopes Esteves Frizanco (2010).
56
Volume 1 do Livro ilustrado da língua brasileira de sinais: Desvendando a comunicação usada pelas
pessoas com surdez das autoras Márcia Honora e Mary Lopes Esteves Frizanco (2009).
55
Volume 2 da Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira: O mundo do surdo em Libras, dos autores
Fernando César Capovilla e Walkiria Duarte Raphael (2004).
54
O sinalário Disciplinar em Libras foi produzido pela Secretaria de Educação do Governo do Estado do
Paraná e pode ser acessado em: Sinalário PR.
53
O Glossário SurdeSportes pode ser acessado através do link: Glossário de Esportes olímpicos em
Língua de Sinais. A dissertação de mestrado que deu origem ao trabalho pode ser acessada em: A
educação física, os esportes e a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS-LSB): desenvolvimento do glossário
SurdeSportes para acessibilidade e inclusão da comunidade surda.
52
O glossário natação em Libras pode ser consultado através do link: Glossário Natação em Libras. Ele é
resultado de uma pesquisa de mestrado em Diversidade e Inclusão de Erick Rommel Hipólito Souza, que
pode ser acessada em: A natação e suas provas: glossário em Libras.
51
O canal da Hellen Silva foi utilizado como uma fonte de coleta de sinais devido ao fato de ela ser
professora de educação física e surda. Seu canal pode ser consultado em: Hellen Silva.
50
Surdolimpíadas Sinalário pode ser consultado em: Sinalário Surdolimpíadas. O sinalário foi realizado
através da HQ Surdolimpíadas - encontros linguísticos, disponível em: Surdolimpíadas - encontros
linguísticos.
49
Os sinais coletados no Manuário do Instituto Nacional de Educação de Surdos podem ser consultados
em: Manuário acadêmico e escolar do INES.
48
Os sinais coletados na TV INES podem ser consultados em: TV INES - Acessível sempre.
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Quadro 1: Número total de fontes digitais e impressas encontradas e quantidade de sinais. (continua)
FONTES
SINAIS ENCONTRADOS
QUANTIDADE
DE SINAIS
Sinalário PR
Esporte, basquete, beisebol, futsal, golfe, bola de golfe, taco de golfe, buraco de golfe, 2
turmas (6 de cada lado), vôlei, arremesso, saque, quadra, rede suspensa, futebol, campo de
futebol, atletismo, caixa de areia, corrida, estádio, salto, salto em distância, salto com vara,
sarrafo, barra, corrida, salto distância, boxe, luva de boxe, protetor bucal, capoeira, berimbau,
ciclismo, capacete, luva para ciclista, esgrima, florete, máscara de esgrima, hipismo, lutas, surf,
xadrez, natação.
43 sinais
Livro Ilustrado da
Língua Brasileira de
sinais (vol. 1)
Basquete, futsal, golfe, handebol, vôlei, tênis, tênis de mesa, boliche, futebol, gol, corrida de
obstáculos, corrida, boxe, canoagem, ciclismo, judô, patins, surf, xadrez, natação.
20 sinais
Livro Ilustrado da
Língua Brasileira de
sinais (vol. 2)
Pênalti, estádio de futebol, falta, goleiro, jogador de futebol, ginástica rítmica, jogos
Pan-americanos, campeonatos, olimpíadas, jogador, juiz, atletismo, expulso do jogo, Copa do
Mundo.
14 sinais
Enciclopédia da
Língua de Sinais
Brasileira (vol. 2)
Esporte, basquete, beisebol, bola de beisebol, luva de beisebol, taco de beisebol, futsal, golfe,
handebol, arremesso, vôlei, vôlei de praia, tênis, tênis de mesa, boliche, futebol, campo de
futebol, estádio de futebol, gol, goleiro, campeonatos, Olimpíadas, árbitro de esportes, juiz,
capitão, esportista, arco e flecha, arqueiro, dardo, arremesso de peso, corrida, salto, corrida de
obstáculos, boxe, remo, capoeira, ciclismo, bicicleta, ciclista, esgrima, esgrimista, tempo (pedir
tempo em jogos esportivos), hipismo, hóquei no gelo, judô, judoca, karatê, lutas,
paraquedismo, paraquedas, patinação, surf, xadrez, natação, mergulho, nadador, piscina.
57 sinais
Manuário INES
Atacante, árbitro, atletismo, badminton, basquete 1, basquete 2, basquete 3x3, bicampeão,
boxe, canoagem slalom, canoagem velocidade, capoeira, ciclismo BMX corrida, ciclismo BMX
freestyle, escalada, esgrima, esportes, fórmula 1, futebol, futebol americano, futsal, ginástica
artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, gol, goleiro, golfe, halterofilismo, handebol
1, handebol 2, hipismo 1, hipismo 2, hóquei na grama, judô, karatê, luta, meio de campo, nado
artístico, natação, polo aquático, remo, rugby, saltos ornamentais, skate, surf, taekwondo,
tênis, tênis de mesa 1, tênis de mesa 2, tiro, tiro com arco, triatlo, tri campeão, vela, vestiário,
vôlei, vôlei de praia.
57 sinais
TV INES
Esporte, esporte coletivo, basquete, basquete em cadeira de rodas, golfe, handebol, vôlei,
vôlei de praia, vôlei sentado, tênis, tênis em cadeira de roda, rugby, rugby em cadeira de rodas,
polo aquático, tênis de mesa, goalball, futebol, futebol de 7, futebol de 5, gol, ginástica rítmica,
Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Surdolimpíadas, Olimpíadas,
Paralimpíadas, árbitro de esportes, tiro com arco, atletismo, corrida, salto, corredor,
velocidade, resistência, corrida de São Silvestre, meia maratona, badminton, boxe, canoagem,
canoagem slalom, canoagem de velocidade, capoeira, berimbau, atabaque, pandeiro,
capoeirista, abadá, cordel, ginga, roda, meia lua, esquivar, ciclismo, ciclismo de pista, ciclismo
de estrada, ciclismo mountain bike, ciclismo BMX, esgrima, esgrima em cadeira de rodas,
ginástica artística, hipismo, hóquei sobre a grama, halterofilismo, judô, luta greco-romana,
nado sincronizado, pentatlo, saltos ornamentais, remo, taekwondo, triatlo, vela, tiro
desportivo, natação, maratona aquática.
74 sinais
Glossário
SurdeSportes
Basquete, golfe, handebol, vôlei, vôlei de praia, tênis, rugby, polo aquático, tênis de mesa,
futebol, ginástica rítmica, tiro com arco, badminton, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima,
hipismo, hóquei no gelo, halterofilismo, judô, lutas, nado sincronizado, pentatlo, saltos
ornamentais, remo, taekwondo, triatlo, vela, tiro desportivo, natação.
31 sinais
Glossário de
Educação Física
Libras-Português
Esporte individual, esporte tradicional, ginástica rítmica, ginástica artística, técnicas esportivas.
5 sinais
e-Aulas USP
Esporte, tênis de mesa, futebol, jogador de futebol, árbitro de esportes, atleta, equipe,
atletismo, judô, natação, piscina.
11 sinais
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Quadro 1: Número total de fontes digitais e impressas encontradas e quantidade de sinais. (conclusão)
FONTES
SINAIS ENCONTRADOS
QUANTIDADE
DE SINAIS
Glossário de
Natação em Libras
Prova de 25m, prova de 50m, nado livre 50m, nado livre 100m, nado livre 200m, nado livre
400m, nado livre 800m, nado livre 1500m, nado de costas 50m, nado de costas 100m, nado de
costas 200m, nado de peito 50m, nado de peito 100m, nado de peito 200m, nado de borboleta
50m, nado de borboleta 100m, nado de borboleta 200m, medley individual 100m, medley
individual 200m, medley individual 400m, livre 4x50m, livre 4x100m, livre 4x200m, medley
4x50m, medley 4x100m, misto 4x50m livre, misto 4x100m livre, misto 4x50 medley, misto
4x100m medley, pernada livre/crawl, pernada borboleta, pernada peito, pernada costas,
braçada livre com boia, braçada peito com boia, braçada borboleta com boia, braçada costas
com boia, braçada prancha, exercício de respiração, largada, largada de costas e de medley,
virada 1, virada 2, toque de parede, toque de parede com duas mãos, queimar a largada 1,
queimar a largada 2, cronômetro, árbitro de partida, tiro de largada, touca e óculos de
natação, óculos de natação, sunga, maiô, livre/crawl, peito, borboleta, costas, revezamento.
59 sinais
Sinalário
Surdolimpíadas
Futsal, handebol, vôlei, vôlei de praia, polo aquático, tênis de mesa, boliche, futebol,
Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Surdolimpíadas, Comitê Internacional
de Desporto para Surdos (ICSD), badminton, ciclismo, corrida de orientação, bússola,
localização, longitude, mapa, mata ciliar, orientação, percurso permanente, ponto de controle,
topografia, curling, esqui-alpino, esqui cross country, ginástica artística, hóquei no gelo, judô,
karatê, lutas, saltos ornamentais, sandboard, taekwondo, tiro desportivo, xadrez, natação.
37 sinais
Canal Prof. Hellen
Esporte, basquete, beisebol, futebol americano, futsal, golfe, handebol, drible handebol,
arremesso com apoio, arremesso com suspensão, vôlei, vôlei de praia, tênis, tênis de mesa,
rugby, polo aquático, frescobol, futevôlei, biribol, tênis de mesa, boliche, futebol, escanteio,
impedimento, ginástica rítmica, Olimpíadas, Paralimpíadas, tiro com arco, artes marciais,
atletismo, corrida de obstáculos, corrida com revezamento, corrida meio fundo, corrida fundo,
corrida pista, corrida maratona, salto triplo, salto altura, salto altura com vara, salto distância,
lançamento com martelo, lançamento com disco, lançamento de peso, lançamentos,
badminton, boxe, capoeira, ciclismo, crossfit, esgrima, ginástica artística, hipismo, hóquei no
gelo, halterofilismo, jiu-jitsu, judô, karatê, kung-fu, lutas, nado sincronizado, patinação, saltos
ornamentais, remo, surf, taekwondo, triatlo, xadrez, natação, natação revezamento, natação
maratona, natação medley, natação crawl, natação costas, natação peito, natação borboleta.
75 sinais
Manual Técnico em
Libras Sinalário para
a Modalidade
Handebol nas Aulas
de Educação Física
Passe pronado, passe lateral, passe de ombro, passe de peito, passe picado, arremesso com
apoio, arremesso sem apoio, arremesso, recepção, recepção alta, drible, finta, ala ou ponta
esquerda, ala ou ponta direita, meia esquerda, meia direita, armador central, pivô, goleiro,
bola h1, bola h2, bola h3, tiro de 7 metros, tiro livre (9m), tiro de meta, tiro lateral, gol,
sobrepasso (andada) ou + de 3 segundos, dois dribles ou drible ilegal, 2 minutos, advertência,
invasão de área, falta de ataque, segurar/empurrar, tempo, tiro livre, linha de 6m, linha de 7m,
linha de 9m.
39 sinais
TOTAL DE SINAIS: 522 sinais
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.
Ao observarmos e selecionarmos as modalidades esportivas que possuem
relação com bolas, encontramos as seguintes modalidades: vôlei, vôlei de praia,
basquete, beisebol, tênis, rugby, biribol, frescobol, handebol, polo aquático, futevôlei,
futebol americano, tênis de mesa, golfe, rugby, ginástica rítmica, futsal, goalball,
boliche. Encontramos também modalidades adaptadas de alguns esportes citados:
futebol de cinco, futebol de sete, rugby em cadeira de rodas, vôlei sentado e tênis em
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118
cadeira de rodas. Filtrando os sinais relacionados somente às modalidades que se
utilizam de bolas, encontramos a seguinte quantidade de sinais:
Quadro 2: Quantidade de sinais encontrados para esportes com bolas das obras digitais e impressas.
FONTES
QUANTIDADE DE SINAIS RELACIONADOS A ESPORTES COM
BOLA ENCONTRADOS
Sinalário PR
14 sinais
Livro Ilustrado da Língua Brasileira de sinais (vol. 1)
10 sinais
Livro Ilustrado da Língua Brasileira de sinais (vol. 2)
6 sinais
Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira (vol. 2)
19 sinais
Manuário INES
23 sinais
TV INES
23 sinais
Glossário SurdeSportes
11 sinais
Canal Prof. Hellen
24 sinais
e-Aulas USP
3 sinais
Sinalário Surdolimpíadas
8 sinais
Glossário de Educação Física Libras-Português
1 sinal
Manual Técnico em Libras Sinalário para a Modalidade
Handebol nas Aulas de Educação Física
39 sinais
TOTAL DE SINAIS: 181 sinais
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.
Ao categorizarmos os sinais encontrados, nos deparamos com 19 modalidades
esportivas, sendo elas: basquete, futebol americano, beisebol, futsal, golfe, handebol,
vôlei, vôlei de praia, tênis, rugby, polo aquático, frescobol, futevôlei, biribol, tênis de
mesa, boliche, goalball, futebol e ginástica rítmica.
Analisando os sinais das modalidades isoladamente nos materiais que as
citam, o canal da professora Hellen Silva se destaca como a fonte que apresenta uma
maior variedade, contendo 18 modalidades dentre as 19 analisadas. Temos o Manuário
INES mencionando 13 modalidades, e 11 modalidades presentes na TV INES, na
Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira (volume 2) e no Glossário SurdeSportes.
Contendo 9 modalidades, temos Livro Ilustrado da Língua Brasileira de Sinais (volume
1), e, no Sinalário Surdolimpíadas, encontramos 8 menções às modalidades. No
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119
Sinalário PR, temos 5 modalidades e, no glossário e-Aulas USP, obtemos 2
modalidades. O resultado aponta apenas uma modalidade citada no Livro Ilustrado da
Língua Brasileira de Sinais (volume 2), no Glossário de Educação Física Libras-Português
e no Manuário técnico em LIBRAS.
Ao examinarmos os sinais próprios das modalidades, além do manuário
específico sobre handebol, são encontrados pouquíssimos sinais específicos para
outras modalidades. Apenas o futebol, vôlei e golfe possuem sinais mais
característicos, porém em pequena quantidade. O único material que, além de conter
os sinais das modalidades, apresenta os espaços e materiais que se dispõem nas
modalidades é o Sinalário PR.
Concordamos que observa-se a falta de sinais para o ensino de Educação
Física, para oferecer acessibilidade comunicacional às aulas e aos grandes eventos
esportivos” (BARBOZA, 2015, p. 31), tornando a situação preocupante. Afinal, a Língua
Brasileira de Sinais “marca a identidade da comunidade surda, determina a
compreensão de mundo, possibilita a constituição de identidade e também traz à tona
alguns aspectos culturais que são peculiares a esse grupo” (SANTOS e DAROQUE, 2019,
p. 247).
O estudo evidencia uma urgente necessidade do aprofundamento e produção
de materiais com termos específicos em Libras para área do esporte. A proposta, ainda
em andamento, da produção do glossário surgiu da finalidade de estruturar e construir
um material que pudesse auxiliar na comunicação e compreensão dos alunos surdos e
professores da educação física escolar, contribuindo, então, para uma melhora na
prática pedagógica e no processo de ensino-aprendizagem desses sujeitos.
Julgamos que esses materiais podem contribuir para a diminuição da barreira
linguística existente entre os alunos surdos e professores nas aulas de educação física,
permitindo que os sujeitos surdos sejam respeitados em suas diferenças a partir do
conhecimento de sua língua. Freire (2021, p. 118) destaca que aceitar e respeitar a
diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar. Para o autor:
Se a estrutura do meu pensamento é a única certa, irrepreensível,
não posso escutar quem pensa e elabora seu discurso de outra
maneira que não a minha. Nem tampouco escuto quem fala ou
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120
escreve fora dos padrões da gramática dominante. E como estar
aberto às formas de ser, de pensar, de valorar, consideradas por nós
demasiado estranhas e exóticas, de outra cultura? Vemos como o
respeito às diferenças e obviamente aos diferentes exige de nós a
humildade que nos adverte dos riscos de ultrapassagem dos limites
além dos quais a nossa autovalia necessária vira arrogância e
desrespeito aos demais (FREIRE, 2021, p. 118).
Considerando o objetivo de coletar os sinais mais específicos das modalidades
contendo suas regras, fundamentos e materiais utilizados para a sua realização, o baixo
número de sinais que contemplam as suas especificidades torna, infelizmente,
desafiador a produção do glossário em esportes.
Considerações finais
O trabalho procurou abarcar conceitos importantes quando se trata de Libras
e surdez. Buscou-se refletir sobre a relação do aluno surdo e o espaço escolar a partir
de uma inspiração da pedagogia freireana nas aulas de educação física. Foram tecidas
discussões sobre a relação dos alunos surdos com professores que não possuem um
domínio de Libras e sobre como esse processo perpetua a existência de uma educação
física escolar pautada apenas na reprodução dos movimentos e afastada dos saberes
que os alunos surdos possuem enquanto indivíduos imersos em experiências sociais.
Apesar dos problemas apontados, a proposta em andamento da produção do
glossário surgiu no intuito de colaborar na prática pedagógica dos professores de
educação física com indivíduos surdos para, de fato, auxiliar na mediação da
transformação das curiosidades ingênuas em curiosidades epistemológicas, conceitos
trazidos por Freire em seu livro Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática
educativa, e no rompimento de uma educação “bancária”, conceituada por Freire em
Pedagogia do oprimido, em que os alunos são vistos como recipientes vazios para
deposição de informações.
Acreditamos em uma educação física escolar potencializadora de múltiplas
corporeidades e, quando se trata dos alunos surdos, acreditamos que eles são
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121
atravessados por muitos estigmas, entretanto, são dotados de potencialidades e
emancipação para a construção de novos paradigmas.
Apesar de escolhermos modalidades que se utilizam de bolas, os resultados
apontam desafios para produção de um glossário com termos específicos para cada
modalidade encontrada. Evidenciou-se que, mesmo com a crescente produção de
materiais como glossários, torna-se necessário o aprofundamento nos estudos de
glossários em esportes e a produção de materiais contendo sinais específicos para as
modalidades esportivas.
A expectativa do trabalho é produzir um glossário digital com os sinais
encontrados da coleta realizada, com a intenção de disponibilizá-lo online e
gratuitamente através da plataforma Libras Acadêmica da Universidade Federal
Fluminense devido ao seu fácil acesso, contribuindo para a difusão da Língua Brasileira
de Sinais.
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atividades físicas mediado por um educador físico. Afluente, UFMA/Campus III, v.1, n.3, p.
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Data do envio: 07/09/2021
Data do aceite: 08/12/2021
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