desconstrução e reconstrução dessas curiosidades, desfazendo e refazendo discursos e
ações que afetam as diversidades presentes na sociedade.
De acordo com Soares et al. (1992), entre as quatro primeiras décadas do
século XX, a educação física foi marcada por fortes influências das Instituições
Militares. Possuía o foco na disciplina e no desenvolvimento da aptidão física pautada
na repetição mecânica de movimentos, impondo aos alunos o respeito e a
conformidade à hierarquia social, correspondendo então “à execução do projeto de
sociedade idealizado pela ditadura do Estado Novo” (SOARES et al., 1992, p. 36). Tendo
vista essa perspectiva, concordamos com Soares et al. (1992) ao pensar que as aulas de
educação física escolar devem abranger:
[...] a compreensão das relações de interdependência que jogo,
esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor
um programa de Educação Física, têm com os grandes problemas
sócio-políticos atuais [...]. A reflexão sobre esses problemas é
necessária se existe a pretensão de possibilitar ao aluno da escola
pública entender a realidade social interpretando-a e explicando-a a
partir dos seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe à
escola promover a apreensão da prática social. Portanto, os
conteúdos devem ser buscados dentro dela (SOARES et al., 1992, p.
42).
Soares et al. (1992), ao pensar que a organização dos conteúdos na educação
física deve estar em concordância com o objetivo de promover a leitura da realidade
dos alunos, “isso quer dizer que o aluno atribui um sentido próprio às atividades que o
professor lhe propõe” (p. 41), dialoga com Freire (2013, p. 35), visto que o autor
enfatiza que os estudantes necessitam desenvolver “em si a consciência crítica de que
resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele”.
Freire (2013) evidencia que, quando se coloca o foco unicamente no educador
como sujeito central do processo educativo, acaba-se tratando os educandos como
recipientes vazios a serem preenchidos, sendo meros “depósitos”. Surge, a partir disso,
a concepção de educação “bancária”, na qual os alunos recebem informações e as
arquivam. O autor explicita que através dessa “distorcida visão da educação, não há
criatividade, não há transformação, não há saber” (FREIRE, 2013, p. 34). É almejada
uma educação problematizadora, em que ocorre diálogo entre educador e educando,
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº 38
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