Piaget”, “agora é Reggio Emilia” . É esta morte que não fala do interesse que me move,
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do que impulsiona o meu desejo de vida, de buscar, de aprender – porque cada um
constrói a sua aprendizagem, no grupo e com um educador.
O conhecimento é partejado sempre no grupo mediado pelo educador, nessa
busca permanente de desejar, nesse conflito entre morte e vida que produz paixão.
Mas há a paixão de vida e há a paixão de morte. A segunda está na concepção
autoritária, na concepção centralizadora, que não escuta e não parte do saber, da
curiosidade, do interesse, da vontade do educando: não escuta para partejar com ele o
conhecimento, o novo. Algumas vezes o desejo de vida é uma fagulha, é uma chama, é
frágil, e, em outras vezes, é um desejar vida.
Desejo é chama do que nos habita, do que expressa nossa essência, nossa
alma. O desejo de ser sempre mais, aprender mais, vem da insatisfação em relação ao
conhecimento que já se tornou velho em alguns aspectos da minha aprendizagem.
Então busco outro para aumentar essa chama, que pode estar frágil, fraca. Em
compensação, com alguns alunos, o desejo pode estar em permanente labareda
desorganizada, sem limite. Nesses casos, o educador necessita intervir, limitando e
cercando a tomada de consciência para educar essa labareda, que consome e que não
produz conhecimento. De tão desorganizada, ela se perde. O mais difícil é educar a
chama. O mais fácil nessa busca de desejar a vida, em que os educandos ou nós
educadores nos encontramos, é que essa labareda incendeie ou se apague.
Educar a chama pode apagar o nível de dificuldade, de conflito, de insanidade
deste mundo atual, mas não a própria chama. Digo o mundo, porque o Brasil deste
mundo, deste estado em que a humanidade está, o mais fácil é incendiar; o mais difícil
é limitar, é, em alguns momentos, se preservar. Porque também é necessário silenciar,
para não “dar murro em ponta de faca” e se perder na exposição, e, nessa perda, ser
castrada pelo outro ou pela realidade. Preciso me preservar para ganhar força e luz nas
empreitadas que tenho que enfrentar. Essa preservação de si é alimento para me
sustentar nesse ato de desejar a vida; esse se preservar é altamente respeitoso comigo
mesma, como educadora, e com os meus alunos.
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Referência à abordagem pedagógica desenvolvida em Reggio Emilia, província no norte da Itália, com
crianças até seis anos.
ISSN 1807-6211 [Fevereiro 2022] Nº 38
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