30 ANOS DA ECOPEDAGOGIA:
BREVE ENSAIO SOBRE ORIGEM E REINVENÇÃO

30 YEARS OF ECOPEDAGOGY:
BRIEF ESSAY ABOUT ORIGIN AND REINVENTION

Ivo Dickmann8

Resumo: Esse ensaio é uma introdução à Ecopedagogia e ao processo que está em curso de
reinvenção e estabelecimento de novas bases teóricas e práticas, diante dos desafios do
tempo atual em que vivemos. Partindo da leitura aprofundada e da discussão de teóricos
que identificamos como originários, buscamos responder a uma questão: o que é a
Ecopedagogia? Para responder à pergunta, o texto foi dividido em três partes: 1) sobre as
origens latino-americanas da Ecopedagogia, há 30 anos; 2) os caminhos da Ecopedagogia ao
longo dos seus 30 anos; 3) o processo de reinvenção da Ecopedagogia com base nos três
pilares de crítica: o patriarcado, a modernidade e o capitalismo. Encerramos o ensaio com
um conjunto de proposições para uma caminhada coletiva visando a constituição da
Ecopedagogia como campo de investigação.

Palavras-chave: Ecopedagogia. Origem. Reinvenção.

Abstract: This essay is an introduction to Ecopedagogy and the ongoing process of
reinvention and establishment of new theoretical and practical bases, given the challenges of
the current time in which we live. Starting from an in-depth reading and discussion of
theorists we identify as originating, we seek to answer a question: what is Ecopedagogy? To
answer the question, the text was divided into three parts: 1) on the Latin American origins
of Ecopedagogy 30 years ago; 2) the paths of Ecopedagogy throughout its 30 years; 3) the
process of reinventing Ecopedagogy based on the three pillars of criticism: patriarchy,
modernity and capitalism. We close the essay with a set of propositions for a collective
journey aiming at the constitution of Ecopedagogy as a field of investigation.

Keywords: Ecopedagogy. Origin. Reinvention.

8 Pós-doutor em Educação pela Uninove-SP, doutor e mestre em educação pela UFPR. Graduado em Filosofia.
Professor do Programa de Pós-graduação em Educação (mestrado) e do Programa de Pós-graduação em
Ciências da Saúde (mestrado e doutorado) da Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó.
Líder do Palavração: grupo de pesquisa em educação. E-mail: educador.ivo@unochapeco.edu.br ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-6293-8382

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Primeiras palavras: marco zero

O tema da Ecopedagogia não é uma questão fácil, geralmente me fazem a mesma

pergunta: Afinal, o que é a Ecopedagogia? Ou ainda, de outra forma, uma que também é

muito recorrente: Quais as diferenças entre Ecopedagogia e Educação Ambiental?

Este breve ensaio é uma tentativa de responder a estas perguntas – o que acredito

que seja uma tarefa para mais de um texto, como venho explicitando nos momentos em que

sou chamado para falar sobre a temática. A reinvenção da Ecopedagogia é uma missão que

assumimos para a vida inteira, além do mais, não se faz isso sozinho, mas num trabalho

coletivo, de muitas mãos, de homens e mulheres que se debruçam, de forma sistemática,

sobre o estudo das suas origens (parte um), de sua trajetória com seus autores e obras de

referência (parte dois) e, por fim, a explanação do processo, que ousamos iniciar em meados

de 2017, de reinvenção da Ecopedagogia depois de vinte anos de um quase esquecimento

do tema (parte três).

Assim se constitui o itinerário da reflexão que buscamos neste ensaio, escrito

especialmente para a Revista Aleph que propõe nesse número discutir o tema Educação e

Democracia: permanências e transformações no mundo contemporâneo.

O que caracteriza a Ecopedagogia? Aos neófitos e neófitas que pretendem

conhecê-la, espero que neste texto os leitores e leitoras tenham aqui uma chave inicial para

entrar na sua história e trajetória e se sentirem instigados a seguirem pesquisando sobre a

temática – sem querer construir uma “igrejinha ecopedagógica” de forma proselitista, ou

buscar seguidores, mas sim, como um semeador que espalha as sementes em solo fértil.

De modo prático, para darmos a devida importância que o tema necessita, temos um

grupo de pesquisa, o Palavração, que se encontra quinzenalmente para estudar capítulo por

capítulo da obra capital de Francisco Gutiérrez e Cruz Prado sobre a temática: Ecopedagogia

e cidadania planetária. Esse movimento tem como foco a esperança de que possamos

compreender melhor as perspectivas dos autores, aprofundando nossos saberes para

podermos dar nossa contribuição de forma consistente a esse pensamento latino-americano,

de modo rigoroso cientificamente e, ao mesmo tempo, realizando um exercício prático de

ternura e intuição, majoritariamente feminino, que fazemos coletivamente nos encontros.

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Não estamos postulando que essa é a melhor maneira de estudar a Ecopedagogia,

mas acreditamos que com esse rigor, especialmente nessa fase inicial, precisamos retomar as

obras de referência para compreendermos melhor o que não foi percebido na primeira

leitura. É preciso destacar aspectos e conectá-los às pesquisas que estamos conduzindo, seja

na iniciação científica, nas monografias, nos mestrados, nos doutorados ou nos

pós-doutorado. Além disso, estamos reunindo um conjunto de outras referências em

português, espanhol e inglês que ainda serão objeto de análise e reflexão para a produção da

Ecopedagogia nesse tempo de permanências e transformações do mundo atual: um novo

tempo.

1. Origens da Ecopedagogia

A Ecopedagogia começou a ser pensada e desenvolvida nos anos de 1990, mais

especificamente em 1992 (30 anos, em 2022), na Costa Rica com Francisco Gutiérrez e Cruz

Prado (2013) e no Brasil a tradução do livro se deu no final da década de 1990. No início do

ano 2000, surge a obra de Moacir Gadotti: Pedagogia da Terra. Estes dois livros inauguram o

que hoje chamamos de Ecopedagogia, tanto que não é possível produzir ou falar sobre o

tema sem passar por esses escritos. Ao mesmo tempo, numa herança ligada à Teologia da

Libertação, dois livros de Leonardo Boff se destacam: Saber Cuidar e Ecologia: Grito da Terra,

Grito dos Pobres.

O surgimento da Ecopedagogia, por ser recente, é muito fácil de ser delimitado e nos

garante certa condição de perceber sua potencialidade e, ao mesmo tempo, aspectos

limitadores. Seu potencial está na nova visão de como aprendemos e como nos relacionamos

com o Planeta Terra – o que acontece de forma simultânea –. Assim, a Ecopedagogia se

apresenta como uma nova forma de aprendizado conectado com o cotidiano, provavelmente

pela grande influência de Paulo Freire (1996) que afirmou que o processo gnosiológico é um

fazer que se dá de forma mais eficiente quanto mais perto estão os sujeitos e o objeto do

conhecimento. Explicitando de outra forma, afirmou ele, na Pedagogia da Autonomia (1996),

que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as condições dialógicas para a

produção de novos conhecimentos.

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Identificados os autores e autora de referência (GUTIÈRREZ, PRADO, GADOTTI e

BOFF) e sabendo de sua principal influência teórica (FREIRE), pode-se estabelecer também

que a Ecopedagogia é tributária da Carta da Terra, pois ela emerge e se consolida como uma

produção teórica e pedagógica, mas também como uma filosofia latino-americana que se

apresenta ao mundo.

É importante, contudo, destacar algumas diferenças entre elas. A primeira é que a

Carta da Terra se torna um documento mais universalizante que os princípios da

Ecopedagogia. Outra diferença, que me parece importante registrar, é que a Carta da Terra

está centralmente preocupada com a relação sociedade-ambiente, enquanto a Ecopedagogia

tem uma preocupação centrada na relação sujeito-conhecimento do mundo. Essas

diferenças não significam que uma é mais importante que a outra, mas explicitam que o foco

dado na produção do documento Carta da Terra e na produção da nova abordagem da

cidadania planetária (Ecopedagogia) são próximos, mas distintos.

Aliás, a Ecopedagogia também produziu a sua Carta. No encontro internacional em

São Paulo, no Instituto Paulo Freire, em 1999, foi criado o movimento pela Ecopedagogia e

escrita a “Carta da Ecopedagogia: em defesa de uma Pedagogia da Terra” (GADOTTI, 2001).

Ela é orientada por dez princípios fundamentais:

1) a Terra é um organismo vivo, em evolução, interdependente com os seres vivos;
2) é necessário mudar o paradigma econômico para um desenvolvimento justo, equitativo na
direção do bem-estar sócio-cósmico;
3) dependência da sustentabilidade econômica e ambiental a uma consciência ecológica e
educativa;
4) consciência de pertencimento a uma única comunidade de vida gera solidariedade e cidadania
planetária;
5) a problemática ambiental cotidiana processa uma consciência ecológica e uma mudança de
mentalidade;
6) a ecopedagogia não é só para educadores, mas para toda a humanidade em vista da mudança
das relações;
7) a sociedade planetária exige trabalhar a partir dos contextos da vida e interesses das pessoas;
8) reeducar o olhar desenvolvendo atitudes de reversão da cultura do descartável;
9) biocultura, cultura da vida, geradora de vida e de harmonia entre os seres vivos e a natureza;
10) nova forma de governabilidade, de gestão democrática, ética e participativa associada aos
direitos humanos e planetários (GADOTTI, 2010, p. 75-78)

Deste modo, a Ecopedagogia se caracteriza como um movimento pedagógico na

perspectiva freiriana, que incorpora a questão socioambiental, não ficando restrita a ela,

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avançando na reflexão sobre a relação sociedade-natureza em sua multiplicidade e

complexidade de aspectos, tecendo uma crítica contundente ao atual modelo

socioeconômico insustentável, ao pensamento moderno e às diversas formas de exploração

da vida. O nosso papel, ao estudar e pesquisar a Ecopedagogia, é ser fiel à sua origem e se

desafiar a seguir produzindo sobre ela, a partir de seus conceitos chaves e de suas bases

epistemológicas.

2. Caminhos da Ecopedagogia

Podemos afirmar que a Ecopedagogia está se fazendo no caminho, ela é a própria

caminhada, ela é o processo entre a partida e a chegada. Isso nos permite olhá-la como uma

possibilidade de intervenção sócio-pedagógica e ambiental na história. Dizendo de outra

forma, temos a oportunidade de nos unirmos aos precursores para produzir juntos o

desenvolvimento da Ecopedagogia, a partir de nossas realidades, orientados pelos princípios

originários.

Isso não significa afirmar que é preciso mudar radicalmente a Primeira Ecopedagogia.

Contudo, muitas transformações sociais aconteceram e estão por vir provocando

transformações nas formas de ver e fazer Ecopedagogia.

As transformações já são perceptíveis na produção dos norte-americanos Richard

Kahn (2010) e Greg William Misiaszek (2020), bem como nas do australiano Phillip Payne

(2017). Eles estão com os pés noutros lugares do mundo, mesmo sendo freirianos, e

constroem abordagens da Ecopedagogia a partir do conceito de desenvolvimento. Na

América Latina, temos um livro singular sobre a Ecopedagogia que expressa a preocupação

da urgência de preservação do Planeta (Zimmermann, 2005). Sabemos que ainda é

incipiente a produção na área, mas a revisão de Ruiz-Peñalvez et al (2021) demonstrou que

há muitas produções em inglês (na Austrália, nos Estados Unidos e na Europa). Em espanhol

ou português a produção é menor e há uma diversidade de abordagens (confundindo

Educação Ambiental com Ecopedagogia) que se dissipam em temáticas que não estão

aproximadas com as origens da Ecopedagogia. Ou seja: há muito ainda o que produzir sobre

Ecopedagogia na América Latina. A própria Cruz Prado vem sinalizando o câmbio de

cidadania para cuidadania, um neologismo que supera a visão burguesa/sexista de cidadão,

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para uma perspectiva do cuidado com todas as formas de vida, anunciada pelas mulheres

argentinas com quem dialogava (PRADO ROJAS, 2020).

A Ecopedagogia é uma pedagogia do caminho, que se faz caminhando e, sem

pedantismo, é assim que ela vem se constituindo como uma das perspectivas mais crítica de

abordagem das relações ser humano e mundo, mas também e principalmente, entre seres

humanos e seres humanos no mundo. O que não torna uma tarefa fácil se debruçar sobre

ela, pelo contrário, exige de nós a assunção do tema como centralidade de nossas pesquisas

e de uma postura “franciscana”, sabendo que não seremos entendidos agora, mas no futuro,

quando consolidarmos a Ecopedagogia, esta será um campo de investigação.

Acredito que em ritmo variado, mas consistente, estamos redescobrindo a

Ecopedagogia para aprofundar suas raízes (radicalizá-la) e, com isso, talvez em longo prazo

(vinte anos, na nossa projeção), construirmos uma Segunda Ecopedagogia, que incorpora a

anterior e avança para temas que não estavam na ordem do dia, nem no contexto de origem.

Talvez seja essa uma característica intrínseca da Ecopedagogia – e também foi muito de

Freire – o constante reler-se, reinterpretar-se, no diálogo aberto e crítico com o contexto

concreto, o mundo vivido, a materialidade do real, a realidade-mundo, os lugares de

vivência.

Numa tentativa de explicar o que estou afirmando, a figura abaixo demonstra que há

uma Ecopedagogia primeira, não há como negá-la, ela tem consistência teórica e está

assentada numa base que é uma crítica ao pensamento moderno hegemônico, dialogando

com o que havia de vanguarda nos anos 1960-1990. Vinha também na esteira da Educação

Popular e de identidade latino-americana, mas dialogava com autores de diversos lugares do

mundo, da Física, da Química, da Complexidade, do Marxismo, da Teoria Crítica da Educação,

num amálgama inovador e com caminhos bem definidos.

Ao mesmo tempo, o movimento da Histórica permitirá avançarmos para outras

Ecopedagogias – no plural –, porque já há núcleos de pesquisadores se organizando e

produzindo constantemente sobre o tema, como nunca antes. Tais produções logo se

tornarão referências para alavancar mudanças, proporcionando novas concepções do que é a

Ecopedagogia – o que, no meu entendimento, é um movimento potente para a constituição

de campo de pesquisa e investigação. Se da primeira para a segunda fase foi preciso 30 anos,

temos muito chão pela frente!

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Fonte da Imagem: elaboração do autor (2022)

3. Reinvenção da Ecopedagogia

Esse momento da virada epistemológica e temática da Ecopedagogia, é propício para

definirmos o caminho a seguir ou até mesmo para decidirmos que podemos ir por diversos

caminhos, resguardar os princípios orientadores originários para criar outros que vão se

acoplar ao terceiro momento da Ecopedagogia.

Na produção sobre a qual estamos nos debruçando nos últimos anos, já localizamos

três questões centrais que merecem nosso olhar atento e nos levam a crer que a

Ecopedagogia pode contribuir para a derrocada do patriarcado, a superação do pensamento

moderno dominante e para aprofundar as críticas ao capitalismo.

Há nessas três questões basilares, grandes enfrentamentos e dificuldades a serem

superados, visto que somente a produção de pesquisas não será suficiente para mudar

aspectos que são estruturais em nossa sociedade. A busca por essa superação não é uma

invenção ecopedagógica, mas precisa ser vista como uma pauta que vale a luta, seja na

Academia ou fora dela. De modo sucinto, a seguir, como tais questões se apresentam no

cenário político-ecopedagógico, a partir dos estudos e elaborações teóricas da Ecopedagogia.

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A - Patriarcado
Esse é o nome dado a uma forma de dominação masculina branca, cisgênera e

heteronormativa (SAFFIOTI, 2004; LERNER, 2019), mas ela se desdobra num conjunto de

outras formas de violência de gênero, de cor, de raça/etnia, de classe, de deficiência. Ele foi

criado há milhares de anos para justificar socialmente uma supremacia, inicialmente do

homem sobre a mulher, que depois foi se ampliando em diversas esferas da sociedade.

Trata-se, em última instância, da legitimação da superioridade de uns em detrimento de

outros, o que, em si mesmo, já é uma violência simbólica. Portanto, devemos nos colocar em

reflexão sobre como podemos desenvolver movimentos contrários à permanência dessa

racionalidade e de práticas patriarcais. No que tange às questões ecopedagógicas ele

legitima a usurpação dos bens naturais e a destruição da natureza, inviabilizando a

reprodução de todas as formas de vida com dignidade no Planeta Terra.

B - Modernidade
Com o pensamento cartesiano (embora, não só com ele), uma forma de produção de

conhecimentos e de explicar o real é inaugurada e se torna hegemônica. Nesses termos, há a

predominância de uma racionalidade que divide os campos do conhecimento no sentido de

compreender e analisar o mundo. O que, inicialmente, se apresentou como uma retomada

da razão grega, gerou a falência dessa razão. Podemos tomar como expressões mais

singulares desse fenômeno as crises humanitárias geradas pelas duas grandes guerras,

quando o método científico sectarizou o humano entre razão e emoção (praticamente

matando a segunda). Simplificando o complexo e linearizando o cíclico, como forma de

pensar e agir no mundo que, segundo Adorno (1995), produziram os campos de

concentração. O autor considera tais eventos como as maiores provas de que o projeto da

Modernidade faliu, apesar dos grandes avanços científicos. É preciso estabelecermos outras

bases, agregar outras dimensões humanas na construção de saídas para a produção de

conhecimento, tais como: a emoção, a intuição, a ternura, a amorosidade e a alegria. Em

vista de construir novas formas para solucionar os problemas e evitar danos socioambientais

precisamos incluir o sentir-pensar como um par potente para a produção de sínteses nos

novos tempos.

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C - Capitalismo
Trata-se da forma de organização de processos de trocas, produção e consumo que

reflete sobre a própria produção da vida contemporânea. Mesmo que nem sempre tenha

sido assim, é necessário admitir que o capitalismo está revestido de uma capacidade incrível

de se regenerar após cada crise econômica. A base desse sistema se alicerça na acumulação

de riqueza pela alienação do trabalho, na iniciativa privada como princípio ordenador da

capacidade empreendedora humana e no fetiche da mercadoria como propulsor do

consumo, esses mecanismos geram produção em massa e poluição na mesma escala,

destruindo o Planeta, ao fazer uso desordenado dos recursos naturais. As tentativas de

criação de alternativas ao modelo tem se mostrado incipientes e este sistema renasce cada

vez mais forte. Essas renovações se aliam à precarização do trabalho (ANTUNES, 2018) e a

uberização dos trabalhadores (SLEE, 2017). Hoje é possível comprar e vender qualquer coisa,

pois tudo se transforma em mercadoria, inclusive a vida humana. Porém, como afirmou

Marx (1975), o capitalismo não é eterno, mas uma fase transitória da história, que

estabelecerá seu próprio fim ao gerar contradições indissolúveis dentro do sistema de

exploração do trabalho e de acumulação de riqueza.

O leitor ou leitora pode se sentir chamado a se unir nessa empreitada acadêmica e

escolher por qual caminho quer andar para contribuir na construção de outra Ecopedagogia.

Penso que ao tomarmos esses três pilares como crítica ecopedagógica do mundo, nos

colocamos no espectro amplo da Teoria Crítica de Educação e de Sociedade, mantendo-nos

coerente com os últimos vinte anos de estudo sistemático do pensamento e da práxis

freiriana.

A isso chamamos reinvenção, que é o processo pelo qual nos mantemos fiéis às

origens, mas ousamos ir além e criar algo novo. É como se ouvíssemos a mesma música, com

melodia diferente. A dialética busca fazer a superação do velho, que não desaparece mas é

incorporado ao novo, dando origem a outra perspectiva. A contradição é o motor da dialética

que nos coloca em movimento criativo e crítico permanente, com seriedade acadêmica e

rigorosidade científica.

O processo de produzir a reinvenção da Ecopedagogia é uma ferramenta de luta em

busca de uma sociedade mais justa e solidária e de um mundo mais sustentável e a defesa

dos Direitos Humanos, a garantia das políticas sociais para as classes mais desfavorecidas, a

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opção preferencial pelos pobres torna-se um horizonte, um guia para a construção das

nossas trajetórias acadêmicas.

Não cansamos de repetir que: todas as lutas são uma só! A construção desse

entendimento também é tarefa dos/das ecopedagogos/as. Não é algo espontâneo, que se

faça de qualquer jeito, mas um processo coletivo e coletivizante, que agrega pessoas, que

respeita o ritmo de cada um, que instiga ao acompanhamento, mas que não tem ponto de

partida e objetivo final. É processo, é caminho que se faz caminhando, passo a passo, mão na

mão!

(In)Conclusões: sementes…

Deixo aqui algumas palavras desse caminhar como sugestões para que as pessoas ou

grupos que estão lendo esse ensaio ecopedagógico possam contribuir com a reinvenção da

Ecopedagogia:

- Primeiro: ir aos textos de referência, ler cada um (já que são poucos), refletir sobre

eles, trazê-los para dentro das produções que fazemos, levar para a sala de aula, instigar

outros para que também façam tal leitura.

- Segundo: investigar tais textos coletivamente e nos procurem, pois o Grupo de

pesquisa Palavração está disponível para debater formas de pensar coletivamente a

Ecopedagogia e produzir juntos conhecimentos coletivos. Penso ser mais eficiente do que

realizar essa tarefa histórica de forma solitária.

- Terceiro: formar uma rede internacional de pesquisadores/as que se considerem

ecopedagógicos, tendo a Ecopedagogia como ponto de partida para TCC, IC, dissertações,

teses e pós-doutorados, produzindo conhecimentos consistentes e relevantes sobre o tema.

- Quarto: retomar o evento da Ecopedagogia, centralizando a produção e

disseminando as ideias e princípios ecopedagógicos, constituindo-a como um campo de

investigação científica.

- Quinto: iniciarmos uma revista internacional, diferente das que existem em função

do produtivismo acadêmico, que congregue as produções dos pesquisadores/as da

Ecopedagogia de todo o mundo, sendo referência para quem pesquisa sobre o tema.

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Esses cinco tópicos podem ser o começo de uma grande revolução ecopedagógica na

Academia, lugar privilegiado para produzir conhecimento, além de ser uma tarefa coletiva

instituinte de aproximação de um núcleo irradiador de pessoas focadas no mesmo objeto

de pesquisa.

Em outras palavras, precisamos fazer um deslocamento do método para novos

caminhos possíveis de inéditos viáveis; superar a ideia fechada de conceito e estabelecer

novos horizontes de conhecimentos; superar o absolutismo da razão pela perspectiva

dialógica da emoção e da amorosidade (DICKMANN, 2022).

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Data do envio: 14 setembro 2022
Data do aceite: 10 outubro 2022

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