EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA: PERMANÊNCIAS E TRANSFORMAÇÕES NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO

EDUCATION AND DEMOCRACY: PERMISSIONS AND TRANSFORMATIONS IN
THE CONTEMPORARY WORLD

Erika Leme1

Nazareth Salutto2

Rejany Dominick3

Renata Paixão4

Walcea Alves5

A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto6

Darcy Ribeiro

Como sociedade, temos clareza dos riscos advindos de uma possível ruptura do

processo democrático? Quando a democracia está em risco de ruptura é possível tecer a

educação como um projeto de sociedade? Sem educação pode haver democracia?

Hoje, 05 de outubro de 2022, quando as primeiras linhas deste editoral são tecidas,

celebra-se o aniversário da Constituição Federal de 1988. Dentro do contexto de tantas lutas

por direitos, esse documento se coloca como um marco de referenciais basilares para que a

democracia seja o cerne das políticas e práticas em nossa sociedade. Neste contexto, os

6 Frase emblemática do pesquisador brasileiro, proferida no Congresso SBPC, em 1977, cujo título foi “Sobre o
óbvio”.

5 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. Doutora em Educação.
Professora Adjunta. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC/UFF).
E-mail: walceaalves@id.uff.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8294-917X

4 Designer de moda (Anhanguera), Designer Gráfica (Microlins), graduanda em Pedagogia (Universidade Federal
Fluminense), e bolsista da Revisa Aleph (Revista vinculada ao Programa de Pós Graduação em Educação -
FEUFF). Email: renatapaixao@id.uff.br ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6658-2777

3 Doutora em História, Filosofia e Educação (UNICAMP). Professora, extensionista e pesquisadora da Faculdade
de Educação da UFF e do Curso de Mestrado em Diversidade e Inclusão do Instituto de Biologia-UFF. 1ª
Secretária da Associação Internacional de Inclusão, Interculturalidade e Inovação Pedagógica, coordenadora de
área do PIBID-UFF Pedagogia - Niterói 2022 e Editora da Revista Aleph. E-mail: rejany_dominick@id.uff.br Orcid:
https://orcid.org/0000-0003-0456-4201

2 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. Doutora em Educação
Brasileira (PUC-Rio). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Infância, Bebês e Crianças
(GERAR). Editora da Revista Aleph. E-mail: m_n_salutto@id.uff.br ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8043-595X

1 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutora em
Educação (UFF). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas LaIFE - Laboratório de Inclusão, Formação Cultural e
Educação. Membro da AIIIIPE - Associação Internacional de Inclusão, Interculturalidade e Inovação Pedagógica.
Editora da Revista Aleph. E-mail: erikaleme@id.uff.br ORCID: http://orcid.org/0000-0002-8088-6002

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termos Educação e Democracia, que são os pilares desse número, que concretizamos ainda

no meio de um processo eleitoral, nos convoca à reflexão sobre o próprio sentido de ser e

existir de uma sociedade democrática. Mas, como seria essa sociedade democrática nos

tempos atuais, visto que o conceito de democracia é uma construção sócio-histórica?

O período pandêmico revelou as diferentes exclusões que estávamos e estamos

vivenciando no Brasil e no mundo. No ano de 2022, em especial no campo da educação,

reafirmamos tempos de muitos reencontros, de re-ocupação dos espaços físicos onde se

corporificam as vivências de ensinar aprendendo e aprender ensinando; fortalecendo a

grande potencialidade de, a partir de uma visão progressista, vivenciarmos a grande festa da

democracia. Mas, no sentido dialético em que flui a vida, 2022 também vem sendo um ano

de angústias e tensões frente ao contexto de esgarçamento sócio-político e de afronta à

Carta Magna de 1988.

As sistemáticas e perversas intervenções do atual governo da união, por meio de

discursos aparentemente contraditórios, mas que no seu cerne acenam ao totalitarismo via

interpretações, tensionam as quatro linhas da constituição. Como tais discursos são

implementados na tessitura político-social brasileira, mas também em outros espaços

mundiais. A deterioração paulatina das políticas públicas e das instituições democráticas por

meio de cortes e congelamentos de verbas e desmonte de órgãos que implementavam

políticas visando a equidade de acesso à população pobre, negra, feminina à tem produzido

uma nefasta exclusão. As escolas públicas de todos os níveis de educação e ensino sofrem

impactos que vão desde o congelamento do valor unitário para a merenda escolar até a

implementação da BNCC que esvazia o ensino médio de disciplinas ligadas à formação do

pensamento artístico e crítico.

Para Lalande (1993)7 Democracia é o “Estado político no qual a soberania pertence à

totalidade dos cidadãos, sem distinção de nascimento, de fortuna ou de capacidade” (p.

238). Democracia não se esgota no exercício de ir às urnas votar em nossos governantes, o

que é importante, sem dúvida. Mas significa a participação ativa na geração de políticas que

atendam a população como um todo, sem a criação de privilégios para aqueles que já

participam de forma privilegiada da estrutura social com maior acesso a bens culturais e

7 LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Também disponível
em https://www.skoob.com.br/livro/pdf/vocabulario-tecnico-e-critico-da-filosof/livro:149743/edicao:166956.

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materiais. Uma democracia nunca está pronta! Mas, é preciso que o Estado e seus gestores

se percebam como a serviço da população e se ocupem de garantir estruturas que

possibilitem a equidade de acesso.

O Estado Democrático, responsável pela implementação de políticas sociais

constituídas a partir do debate público e das demandas da população, é aquele que tem

como sentido a representatividade do povo e não a soberania de alguns. O que temos visto

nos últimos anos é o desmonte do Estado, das políticas públicas, a precarização dos serviços

públicos e a reapropriação do Estado para fins privados.

Este número da Revista Aleph conta com artigos de autores que, diante do cenário

contemporâneo, apontam críticas e caminhos para seguirmos esperançando e lutando por

direitos. Em sintonia com a temática, as corujas da capa dessa edição - fotografadas no

campus da UFF Gragoatá, em Niterói/RJ, por Renata Paixão, estudante de Pedagogia e

bolsista da revista - representam o símbolo da sabedoria da deusa Minerva, bem como a

logo do curso de Pedagogia, locus privilegiado dos debates sobre educação e formação

docente em nossa universidade. Escolhemos esse registro como metáfora que ratifica nosso

compromisso e engajamento com os processos democráticos

Inicia esta publicação, o artigo do autor convidado Ivo Dickmann, no qual apresenta

análise dos 50 ANOS DA ECOPEDAGOGIA: BREVE ENSAIO SOBRE ORIGEM E REINVENÇÃO, no

qual há resgate das elaborações sobre o pensar-fazer sobre o processo que está em curso de

reinvenção e reestabelecimento de novas bases teóricas e práticas desta proposta diante dos

desafios do tempo atual em que vivemos.

Abrindo o Dossiê Temático temos o artigo, EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA: REFLEXÕES

SOBRE AVANÇOS, RETROCESSOS E RESISTÊNCIAS NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO NO

BRASIL, que aborda a necessidade da educação inclusiva para a participação individual e

coletiva das pessoas com deficiência nos rumos da democracia no país. Há, também, o texto

O MURMÚRIO CONSERVADOR: NOTAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA UM ESTUDO DE

SISTEMAS EM DESEQUILÍBRIO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO, artigo que aborda a pesquisa na

perspectiva apresentada por pesquisadores Uruguaios sobre as produções discursivas a

respeito da educação no país, onde há avanços de propostas conservadoras.

O artigo INTELIGÊNCIA BANDIDA: ESBOÇO DE UMA EPISTEMOLOGIA DAS FAVELAS EM

DIÁLOGO COM PAULO FREIRE E VIGOTSKI parte da leitura de mundo e experiência dos

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autores na educação popular nas favelas brasileiras aprofundando teoricamente a

problemática que emerge como conceito: INTELIGÊNCIA BANDIDA. Esta nasce do resultado

de experiências de classes que se forjaram à revelia das conformações mais cruéis impostas

às Classes Trabalhadoras das Favelas, pelo capitalismo.

DE UMA MÁQUINA A OUTRA POLÍTICAS ATUAIS DE SUJEIÇÃO SOCIAL E

DESSUBJETIVAÇÃO DAS POPULAÇÕES NEGRAS NO BRASIL EM TEMPOS DE CRISTÃOCRACIA,

discute a evangelização midiática e a reconversão da sociedade brasileira, no período

recente, em uma nação evangélica ou cristãocracia.

Em ACOLHIMENTO DE ALUNOS NO CURSO DE PEDAGOGIA: REFLEXÕES E

ESTRATÉGIAS PARA UMA EXPERIÊNCIA DIALÓGICA E INCLUSIVA, é apresentado um relato de

experiência com base na observação de aulas no curso de Pedagogia. Identifica-se o

distanciamento entre a bagagem cultural dos alunos e a expectativa do corpo docente. O

artigo intitulado DO SILÊNCIO DOÍDO A UMA ESCRITA DE MUITOS FIOS: PARTILHAS,

DESAFIOS E AFETAÇÕES NAS PRÁTICAS DE PESQUISA ACADÊMICA, trás reflexões

experienciadas ao longo de uma oficina de construção de textos para artigos, no contexto de

um Programa de Pós-Graduação.

SUPERANDO AS FRONTEIRAS VIRTUAIS: A INTERAÇÃO HUMANA COMO FERRAMENTA

DE ALCANCE E ATENDIMENTO A ALUNOS COM COMPORTAMENTO SUPERDOTADO DURANTE

O ISOLAMENTO SOCIAL, apresenta debate sobre as transformações do mundo causadas pela

pandemia da Covid-19 e suas consequências para as relações intra e interpessoal de alunos

com comportamento superdotado, atendidos em Curso de Férias organizado por um grupo

de pesquisa.

Em Questões contemporâneas, o artigo DA GULA ALIMENTAR À TECNOLÓGICA:

REFLEXÕES REDUTORAS DE DANOS DIANTE DA SOCIEDADE DO CONSUMO expressa a relação

da juventude atual com a frequente aquisição de novas tecnologias para informação e

comunicação para diversas finalidades, apresentando argumentos para se pensar uma

educação para a gula tecnológica.

A educação, em seus espaços institucionais de saberes e fazeres, se constitui como

campo privilegiado para o exercício crítico e a abertura à diversidade, tratando de temas que

podem estar excluídos ou destituídos do contexto escolar. A possibilidade de refletir e pensar

com o outro corrobora a experiência democrática, que se compõe de modo relacional,

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EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA: PERMANÊNCIAS E TRANSFORMAÇÕES NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO

intencional e estratégico.

Aos autores e autoras que contribuíram com suas reflexões e posicionamentos,

manifestamos nossos sinceros agradecimentos.

Aos leitores, desejamos reflexões que favoreçam a defesa da democracia e da

educação.

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