“ELA É UMA ANCESTRAL VIVA!” O ENCONTRO COM LIA DE ITAMARACÁ: MOVIMENTOS ANTIRRACISTAS E A EFETIVIDADE DA LEI 10.639 NA EDUCAÇÃO INFANTIL
“ELA É UMA ANCESTRAL VIVA!” O ENCONTRO COM LIA DE ITAMARACÁ: MOVIMENTOS ANTIRRACISTAS E A EFETIVIDADE DA LEI 10.639 NA EDUCAÇÃO INFANTIL
“SHE'S A LIVING ANCESTOR!” MEETING LIA DE ITAMARACÁ: ANTI-RACIST MOVEMENTS AND THE EFFECTIVENESS OF LAW 10.639 IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION
Joana Paula dos Santos Gomes de Oliveira[1]
Resumo
O presente texto retrata o encontro entre um grupo de crianças, com cinco anos de idade, matriculadas em um Núcleo Avançado de Educação Infantil, e a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá. O encontro e o diálogo com as múltiplas infâncias que habitam o cotidiano da Educação Infantil potencializam as reflexões da professora pesquisadora e anunciam movimentos da educação antirracista como enfrentamento ao racismo. A melodia Minha ciranda é o fio entrelaçador entre a vivência problematizada e os valores civilizatórios afro-brasileiros. Nesse sentido, o trabalho discute os desafios e possibilidades da efetividade da Lei 10.639/2003 desde a primeira etapa da Educação Básica como compromisso ético, estético e político na luta por um mundo mais justo.
Palavras-chaves: Prática antirracista. Educação Infantil. Professora pesquisadora. Lei 10.639/2003. Valores civilizatórios.
Abstract
This report describes the encounter between a group of five-year-old children enrolled in an Advanced Early Childhood Education Center and the Pernambuco cirandeira Lia de Itamaracá. The encounter and dialogue with the multiple childhoods that inhabit the daily life of Early Childhood Education enhance the reflections of the researcher teacher and announce movements of anti-racist education as a confrontation with racism. The melody Minha ciranda is the interlacing thread between the problematized experience and Afro-Brazilian civilizational values. In this sense, the work discusses the challenges and possibilities of the effectiveness of Law 10.639/2003 from the first stage of Basic Education as an ethical, aesthetic and political commitment in the struggle for a fairer world.
Keywords: Anti-racist practice. Early childhood education. Teacher researcher. Law 10.639/2003. Civilizational values.
A potência do encontro na Educação Infantil
Minha ciranda não é minha só
Ela é de todos nós, ela é de todos nós
A melodia principal quem guia
É a primeira voz, é a primeira voz…
O que pode acontecer quando somos afetados pelo(s) encontro(s)? A pergunta parte da inquietação de uma mulher negra, das classes populares, professora efetiva da Rede Pública Municipal de Educação de Niterói com atuação na Educação Infantil. A questão nasce da compreensão de que os encontros mais bonitos e transformadores da minha trajetória humana e profissional são com as crianças no cotidiano da Educação Infantil. São as crianças, majoritariamente das classes populares, negros e negras, que despertam todos os dias a professora pesquisadora que sou.
Como parte desses encontros, origina-se o presente texto com a intenção de compartilhar reflexões decorrentes da experiência entre crianças, de cinco anos de idade, matriculadas no Núcleo Avançado de Educação Infantil (NAEI) Ângela Fernandes, entre professoras[2] e a cirandeira Lia de Itamaracá. Toda a equipe do NAEI participou para que o encontro com a cirandeira, mulher negra, pernambucana, acontecesse. Desse modo, a experiência neste trabalho é compreendida como algo que “nos passa [...],e ao nos passar, nos forma e nos transforma” (LARROSA, 2002, p. 25). Nesse sentido, a composição da Lia, Minha Ciranda[3], parte marcante da nossa vivência, nos conduzirá por essas linhas reflexivas como modo de indicar que a ciranda não é minha, ela é nossa[4].
Embora o movimento de escrever me coloque como primeira voz, a melodia da ciranda é guiada pela junção das nossas vozes, pela potência dos nossos encontros que provocam continuamente o exercício crítico e reflexivo sobre o meu fazer (ESTEBAN e ZACCUR, 2002). Logo, a prática é o ponto de partida para a preocupação com as aprendizagens das crianças, o que requer tencionar o trabalho pedagógico para esta etapa.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), os eixos orientadores do trabalho pedagógico para com as crianças são as interações e a brincadeira. O documento indica também a necessidade de criar ambientes e situações para que a criança se desenvolva de forma integral na relação consigo mesma e com o outro. Assim, a indissociabilidade entre o educar e cuidar orienta o currículo e os fazeres pedagógicos, pois ao educar estamos cuidando e ao cuidar estamos educando.
Com destaque para a importância de propiciar situações e espaços de interações, brincadeiras e cuidados neste processo de aprendizagens,
[...] a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 2009, p. 23).
Como sinaliza o texto acima, pensar a prática pedagógica em uma perspectiva educacional, ética e estética pode ampliar os conhecimentos da realidade social e cultural. Para esta trajetória se faz necessário ter nítida a concepção de criança orientadora de o nosso fazer pedagógico. Sob esse olhar, este texto abraça a concepção de criança como ator social que age diretamente nas relações sociais, contribuindo para construção do mundo e estabelecendo conexões diretas entre os diferentes sujeitos (BARBOSA, 2007).
A compreensão da criança como sujeito histórico, social e de direitos se faz importante para tecer práticas pedagógicas capazes de ampliar os seus saberes e repertórios, a partir do que tenha sentido para ela. Esse entendimento pode fazer do espaçotempo[5] da Educação Infantil um lugar de experiências, de encantamento e de produção de conhecimentos. Não obstante ao encantamento presente na instituição escolar, esse lugar como instituição social não se isenta do racismo estrutural problematizado por Silvio Almeida: “Uma pessoa não nasce branca ou negra, mas torna-se a partir do momento em que seu corpo e sua mente são conectados a toda uma rede de sentidos compartilhados” (ALMEIDA, 2019, p. 53).
Eliane Cavalleiro em seus estudos (1998; 2001) denuncia a existência e a manifestação do racismo em diferentes instituições na sociedade brasileira e, portanto, na escola. De acordo com a autora, o racismo no cotidiano escolar pode marcar perversamente a vida da criança, resultando em:
Autorrejeição, desenvolvimento de baixa autoestima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, consequentemente, evasão escolar (CAVALLEIRO, 2001, p. 12).
Concordo com Cavalleiro (2001) que há um conjunto de práticas baseadas no silêncio e omissão que podem anular, aos poucos, a identidade étnico-racial da criança negra. Sendo assim, é de modo silencioso que as diferentes dimensões do racismo operam marcando a subjetividade dos sujeitos afetados. Visto que, historicamente, a educação pautada na cultura eurocêntrica ensina que o “mais bonito”, o valorizado, o humano, é o não negro (FANON, 2008) se faz necessário, então, aprender e ensinar outros modos de contemplar a negritude. Assim, compreendo o antirracismo como possibilidade de quebrar a trajetória de autorrejeição e de negação da negritude.
A prática antirracista também se faz como luta contra todas as formas de discriminação. Nesse viés, a valorização da história e cultura africana e afro-brasileira como processo de formação do orgulho identitário pode ser um caminho potente para a educação antirracista. A luta por uma educação que visa um mundo mais justo para todas as pessoas é de longa jornada. A Lei 10.639/2003, certamente, é um marco significativo para a sociedade brasileira e uma importante conquista da luta do movimento negro (GOMES, 2017).
Dentre as mudanças significativas da Lei, podemos observar a presença da questão étnico-racial nos currículos escolares com a alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/1996 (LDB) que altera o artigo 26 incluindo o artigo 26-A que passa a especificar o seguinte:
§ Art. 26-A1
Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileiras e indígenas.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá di-
versos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil (BRASIL,2009).
O artigo 26-A potencializa os povos africanos, afro-brasileiros e indígenas como protagonistas, como sujeitos históricos e sociais plenos. Um dos pontos destacados por Gomes (2017) na demanda ainda existente se dá em torno da efetiva inclusão e garantia do direito às diferenças étnico-raciais, tanto no imaginário pedagógico quanto na política educacional brasileira. Tais prerrogativas estão embasadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais (BRASIL, 2004).
Assim sendo, este texto é escrito de modo poético com o propósito de enfrentamento ao racismo. A introdução versa sobre o encontro da professora pesquisadora com as múltiplas infâncias que fazem do cotidiano da Educação Infantil um espaçotempo de desafios e possibilidades. Primeiramente ocorre a problematização do que é proposto como prática pedagógica para a primeira infância. Posteriormente, apresenta-se de forma breve a concepção de criança defendida neste texto. Ao pensar a criança como sujeito de direitos, o texto traz a reflexão sobre o racismo no cotidiano escolar.
Na segunda parte do trabalho, o relato da experiência com Lia de Itamaracá é tecido com os fios de alguns valores civilizatórios afro-brasileiros cunhados pela educadora e militante Azoilda Loreto da Trindade (2006). Valores visibilizados como abertura da prática antirracista, como possível caminho da Educação das Relações Étnico raciais (ERER) e efetividade da Lei 10.639 na Educação Infantil. A letra da canção Minha Ciranda aparece entrelaçada ao texto às vezes como epígrafe e, em outros momentos no corpo da escrita, porque potencializa o relato como “um registro do saber da prática, ou do coração” (SAMPAIO, 2015, p. 102).
Afeto como potência ancestral na Educação Infantil
Para se dançar ciranda
Juntamos mão com mão
Formando uma roda
Cantando uma canção…
No processo de formar nossas rodas de conversas, seja de contação de histórias ou para outros fins, o meu objetivo como professora é o de proporcionar às crianças experiências encharcadas de afeto. As crianças com as quais tenho trabalhado gostam muito de cantar e dançar. Assim, partindo do interesse delas, fui provocada a recordar uma brincadeira, da minha infância, chamada ciranda. Você já participou de uma brincadeira de roda e/ou ciranda? Qual é a canção que vem à memória quando você pensa em ciranda? Ao ser despertada pelas crianças, além de realizar as perguntas mencionadas anteriormente, aproveitei para criar outras memórias e aprendizagens envolvendo a ciranda.
Certa manhã, com a intenção de apresentar a ciranda e a história de Lia de Itamaracá lancei o convite para brincarmos de ciranda. Diante do meu convite algumas se organizaram e começaram a entoar: “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...” A minha intenção foi a de apresentar o ritmo da ciranda para as crianças, mas elas também me fizeram um convite enquanto giravam e cantavam de mãos dadas. Sem hesitar entrei na roda com as crianças, cantamos e brincamos com uma canção que fez parte da minha história.
Naquela manhã, em um segundo momento, com as crianças sentadas em roda, procurei retomar o planejado e peguei o meu baú de histórias. As crianças sabem que quando o baú aparece é certo dele vir recheado com novidades e surpresas. Enquanto procurava um lugar para sentar-me na roda pude ver os olhinhos atentos seguindo o movimento das minhas mãos. Abri o baú, peguei a imagem da Lia de Itamaracá, uma mulher negra com um lindo vestido colorido. No tecido africano disponibilizei a imagem e ao lado a letra da música Minha ciranda.
Figura 1tecido africano com o material utilizado
Figura 2 - Imagem da Lia de Itamaracá
Fonte: Acervo da professora pesquisadora, novembro de 2021
Iniciei a conversa perguntando se as crianças conheciam a cirandeira enquanto a fotografia dela passava na roda. As crianças observavam a imagem da Lia ao mesmo tempo em que pude ouvir suas primeiras impressões: –Ela é africana porque está com aquele pano[6] na cabeça! –Nossa, ela parece com a tia Barbara! –A unha dela é muito bonita e colorida! –Ela é a baobá - essa criança[7] associou Lia de Itamaracá à Ruth Souza porque se lembrou do clipe O pequeno príncipe preto[8], apresentado ao anteriormente grupo, em que a atriz interpreta o baobá. As vozes dos pequenos invocam a importância de ouvir as crianças com uma escuta atenta e um olhar sensível para tomar como legítimo o que é praticado e narrado por elas como experiências próprias (PEREIRA, 2014).
Nessa perspectiva, depois de ouvir as crianças, apresentei a cirandeira da seguinte forma: –E, agora minha gente, uma história eu vou contar! Uma história verdadeira de uma grande cirandeira nascida na Ilha de Itamaracá. Estou falando da pernambucana que desde pequenininha tinha talento a esbanjar. Assim que veio ao mundo recebeu o nome Maria Madalena Correia do Nascimento, mas após seu crescimento ficou conhecida como tia Lia, e até mesmo, Dona Lia de Itamaracá! As crianças gostaram de ouvir o texto rimado[9], mas participaram com maior envolvimento quando realizei a leitura da letra da ciranda. Durante a leitura da letra conversamos sobre as rimas, repetições e trocadilhos, o que fez da música uma grande brincadeira.
Como continuidade da proposta, coloquei a canção para tocar no meu celular, em um volume baixo, pedi para que as crianças fechassem os olhos para sentir a música e, assim, experienciamos um momento mágico. A voz da Lia tem o poder de afetar e isso ficou perceptível nos modos como as crianças expressavam o que sentiam: – ela tem uma voz forte!; – A música dela me deixou arrepiada! Enquanto a canção tocava, como uma espécie de fundo, continuei a narrar mais da história de Lia. Comecei por seu nome verdadeiro, mostrei a imagem da Ilha onde ela nasceu demarcando como o lugar onde, desde menina, Lia aprendeu a cirandar e a cantar com as pessoas mais velhas. Como forma de honrar os seus ancestrais, a cantora escolheu como seu nome artístico Lia de Itamaracá.
Desde os primeiro momentos da experiência com a Lia de Itamaracá o afeto se fez presente. O afeto dialoga com o valor civilizatório afro-brasileiro da ancestralidade que aponta para um outro valor: a memória (TRINDADE, 2006). Para Azoilda Trindade, o povo negro carrega a memória de uma história submersa, velada pelo racismo, história que precisa ser descortinada, desenterrada juntamente com “o passado, a história, a sabedoria, os olhos dos/das mais velhos/as têm uma dimensão de saber- fazer, de quem traz o legado” (TRINDADE, 2006, p.12).
A conversa sobre ancestralidade com as crianças tomou uma proporção poética quando uma menina disse: –Ela é uma ancestral viva! A criança expressou o conhecimento adquirido com o livro O pequeno príncipe preto, o que evidencia a potência da educação antirracista, pautada na Lei 10.639. Ou seja, uma educação com práticas antirracistas tecidas ao longo de todo o ano letivo. Do diálogo sobre ancestralidade, puxamos o fio para conversar sobre sonhos a partir do sonho de infância da cirandeira de tornar-se uma cantora famosa. Conversamos também sobre a sua juventude e do seu tempo como cozinheira de uma escola pública, como foi a mãe da professora Barbara, que trabalhava comigo, a mesma professora mencionada pelas crianças durante a apreciação da imagem da Lia. O diálogo trouxe à tona muitas semelhanças com as nossas histórias negras, com as trajetórias de resistência e (re)existência de muitas mulheres negras, de mães, avós, irmãs e tias de tantas de nossas crianças.
Olha eu vi uma preta cirandeira
Brincando com ganzá na mão
Brincando ciranda animada
No meio de uma multidão
Ao mencionar os sonhos de uma mulher negra, não tive como deixar de fora as suas lutas até o sonho se realizar. Os valores ancestrais presentes na vida e nas cirandas de Lia de Itamaracá revelam a sagacidade, a resistência do povo negro brasileiro diante dos muitos obstáculos. Tal resistência foi o fio de conexão para conversarmos sobre o que é patrimônio cultural e o porquê de termos Lia de Itamaracá ocupando esse lugar. Nesse momento, os pequenos curiosos demonstraram interesse em conhecer mais sobre a Lia por meio de perguntas: –Tia, ela existe de verdade?!; – Você tem o telefone dela?!; –Tia, ela já viajou para a África?!; –Ela já veio aqui em Niterói?!
Em face de tantas questões, combinei com as crianças de partirmos das perguntas realizadas por elas para pesquisarmos mais sobre a vida da cirandeira. Mediante a proposta, uma menina colocou-se de pé na roda e disse: –Tia, é só procurar no Google, ele responde tudo o que a gente pergunta! Concordei com a ideia da pequena e perguntei se mais alguma criança tinha outra sugestão para o nosso processo de pesquisa. Um menino complementou dizendo: –Pode ser no Youtube...aí mesmo, onde a gente está ouvindo a música dela! Apoiei a sua resposta e sugeri também de pesquisarmos perguntando para os adultos mais velhos das nossas famílias.
Para marcar a nossa manhã, após o combinado sobre a pesquisa decidimos aprender a dançar cirandar. No pátio da instituição formamos uma linda roda, juntamos mão com mão, cantamos a canção e cirandamos. Ao findar esse momento estava organizando os materiais, pendurando no mural da sala a fotografia da Lia e a letra da canção. A música não estava mais tocando, as crianças estavam brincando de outras coisas quando fui surpreendida por outra menina do grupo que correndo ao meu encontro disse: –Tia, eu não gostei da música da Lia não... Eu amei! Vamos ouvir “dinovo”?! Depois de um convite irresistível sorri, abracei a menina e conectei novamente o meu aparelho celular à caixa de som e, assim, continuamos ouvindo muitas cirandas da Lia de Itamaracá.
A experiência com a ciranda e com Lia de Itamaracá apresenta-se como oportunidade de criação, de interações, de aprendizagens e brincadeiras. Logo, brincando aprendemos com a pernambucana que para se dançar ciranda é preciso formar uma roda, ou círculo, como as crianças dizem. O segundo passo é o de dar as mãos. Assim, unimos crianças e adultos, com diferentes histórias e experiências, para cirandar no movimento de tecer vivências antirracistas. Juntamos nossas mãos de diferentes tamanhos e cores, balançamos nossos cabelos de diferentes texturas, formatos e comprimentos.
Como enfatiza a Lei 10.639/03 a obrigatoriedade de incluir no currículo a história da África, dos africanos e afro-brasileiros é essencial para visibilizar parte da nossa história que foi silenciada por séculos de escravização. Nesse sentido, busco o ditado africano capaz de ensinar que “enquanto o leão não aprende a contar a sua história, só conhecerá a história do caçador”. No caso desse relato, o foco esteve na produção dos conhecimentos dos povos negros no Brasil por meio da presença do corpo negro de Lia de Itamaracá.
Em alguns momentos, a sua corporeidade negra causou desconforto e espanto para alguns, no espaço da Educação Infantil. Com isso, lembrei-me da experiência de Frantz Fanon, quando ouviu de uma criança: “Mamãe, olhe o preto, estou com medo!” (FANON,2008, p.105). A ruptura com os padrões eurocêntricos é realmente assustadora. Contudo, a recuperação da identidade começa quando aceitamos as características físicas da negritude, antes mesmo dos atributos culturais, mentais, intelectuais, morais e psicológicos, pois “o corpo constitui a sede material de todos os aspectos da identidade” (MUNANGA, 1999, p. 19).
A construção de uma educação antirracista na Educação Infantil precisa impulsionar experiências reveladoras de rupturas com práticas discriminatórias ainda existentes na escola, inclusive no cotidiano da Educação Infantil. Com o parecer 003/2004 (Brasil, 2004), se instituiu a ERER como diretrizes para a organização do currículo em prol de uma educação voltada para a produção do conhecimento, assim como para a formação de reconhecimento, valorização e afirmação do direito à diferença. Assim sendo, o movimento antirracista visa o embate à dominação, à exclusão e a opressão que se concretiza nas relações e experiências entre os diferentes sujeitos. A seguir, o encontro com Lia de Itamaracá desvela a prática antirracista, também como uma educação tecida com vida e como valorização da vida (TRINDADE, 2006).
O encontro com Lia de Itamaracá
Menina eu parei, fiquei olhando
A preta pegou a improvisar
Eu perguntei quem é esta nega
Sou Lia de Itamaracá
A compreensão da importância histórica da corporeidade negra dos nossos corpos leva-me a compartilhar o presente relato como modo de resistir à colonialidade do poder, do ser, do saber (WALSH, 2013). Assim, coloco-me a problematizar a minha prática, a pensar nas interações e brincadeiras atreladas ao educar e ao cuidar.
A vivência com a Lia de Itamaracá ocorreu no verão, um período de bastante calor, por este motivo, para o dia seguinte, havíamos combinado com as crianças um banho de mangueira. Na manhã de sexta-feira, o corpo docente[10] estava preparado para esse momento, envolvendo o educar e o cuidar, quando os pequenos começaram a chegar. Algumas professoras preparavam o café da manhã, outras docentes organizavam o espaço para o banho de mangueira quando algumas crianças começaram a pedir: –Tia, coloca aquela música outra vez?; –Vamos ouvir a ciranda da Lia?!; – A música dela me deixa arrepiada!
Para o trabalho pedagógico que se realiza com as infâncias, o movimento dos pequenos indica a importância de compreender a criança como sujeito de conhecimentos e de direitos. Em vista disso, Walter Kohan (2007, p. 101) aborda a infância a partir do que ela tem, e não do que lhe falta: “como presença, e não como ausência; como afirmação, e não como negação; como força, e não como incapacidade”. Nesse sentido, o reconhecimento da criança como sujeito histórico, de pessoa que age na cultura e com a cultura é o que possibilita a construção de novos caminhos práticos teóricos no espaçotempo da Educação Infantil (MARTINS,2020).
Tendo em conta o desejo das crianças, o banho de mangueira aconteceu ao som das cirandas. Desse modo, brincamos, cirandamos e conversamos sobre nossos sentimentos. Após o banho de mangueira colocamos em prática a proposta de pesquisarmos mais com as crianças sobre a vida da cirandeira. No notebook da unidade, abri a reportagem[11]: “A ciranda democrática de Lia de Itamaracá”. Em pequenos grupos li trechos importantes e relacionados à curiosidade das crianças e adultos envolvidos. Descobrimos que Lia foi filha de uma família de 18 irmãos, foi a única que se interessou por música. Desde os seus 12 anos caminhava para o Recife para participar das rodas de ciranda.
Na reportagem Lia descreve os passos da ciranda como movimentos inspirados no mar, pois os movimentos dos braços para cima e para baixo representam o balanço das ondas. Lia destaca ter uma regra inquebrantável, a de iniciar a dança pelo pé esquerdo e seguir brincando de vai e vem com o corpo inteiro. Os movimentos realizados por nossos corpos durante a ciranda se entrecruzam com o valor civilizatório afro-brasileiro da corporeidade. Concordo com Azoilda Loretto da Trindade (2006) que a percepção da existência, das subjetividades e diversidades dos corpos negros está relacionada com a compreensão dos seus modos de ser e estar no mundo.
Pesquisar com as crianças foi um movimento de fortalecimento coletivo da nossa corporeidade para afirmar a vida, apesar do racismo, das injustiças e desigualdades sociais. Mobilizada pelo encantamento experimentado por nós no processo de pesquisa, enviei uma mensagem para a página oficial da Lia de Itamaracá no instagram. Na mensagem compartilhei a alegria e riqueza dos momentos vivenciados com as crianças. O sábado e domingo daquela semana foi movimentado, pois tive uma resposta da página dizendo que a cirandeira Lia de Itamaracá estaria em Niterói na semana seguinte.
A professora Barbara também ficou sabendo do mesmo evento e imediatamente entrou em contato com os organizadores para saber sobre a possibilidade de realizarmos o encontro das crianças com a pernambucana. Para tal, mais uma vez, nos deparamos com um valor afro-civilizatório, pois a organização de toda burocracia exigida para um evento como esse e, em tão pouco tempo, só foi viável pela potência da coletividade (TRINDADE, 2006).
Na segunda feira, nossa roda de novidades foi tomada de emoção e gritos de alegria. Barbara iniciou a conversa dizendo ter novidades sobre a Lia de Itamaracá. A docente narrou a minha experiência com o instagram oficial da cirandeira e antes que concluísse a sua fala uma criança declarou: –Já sei, A Lia de Itamaracá convidou a gente pra conhecer o mundo dela! As demais crianças olharam para nós, educadoras, esperando uma confirmação sobre o exposto pela colega.
No ponto da conversa em que a professora contou para os pequenos sobre a presença da nossa ancestral, o patrimônio cultural vivo, Lia de Itamaracá no quilombo urbano Xica Manicongo em Niterói, as crianças vibraram. Gravei o áudio desse momento e até ao dia de hoje quando escuto os gritos de alegria das crianças fico emocionada. Posso voltar no tempo e contemplar as crianças pulando, abraçando umas às outras, abraçando as professoras e dizendo: –A Lia vai vir aqui em Niterói!!; –Lia, Lia!
Naquela semana intensificamos nossa pesquisa e nos organizamos para encontrarmos a lia de Itamaracá pessoalmente. Decidimos coletivamente registrar as aprendizagens decorrentes da investigação para presentear a Lia com um material feito pelas crianças.
Figura 3 Frente do envelope confeccionado com as crianças
Figura 4 - Verso do envelope com a assinatura das crianças
Fonte: Acervo da professora pesquisadora, novembro de 2021
Durante a confecção do presente para a cirandeira, vivenciei mais uma vez as bonitezas (FREIRE, 2005) de um trabalho coletivo. Afirmo isso, porque o encontro com Lia encantou crianças e adultos da instituição. A equipe da limpeza passou a limpar a escola cantarolando as cirandas. Outro momento de interação ocorreu enquanto as crianças registravam seus sentimentos por meio de desenhos e um menino negro pediu para levar o celular com a imagem da Lia para mostrar para a equipe da cozinha: –Quero mostrar para as moças da cozinha como a Lia é linda!.
O gesto do pequeno elucida a relevância de conversas sobre negritude, sobre diferenças, para ampliar a experiência com o nosso corpo negro para além da escravização (CAVALLEIRO, 2006). Quando me lembro do gesto do menino faço a seguinte leitura: ele conseguiu perceber-se representado na imagem da Lia, tal como foi afetado decidiu afetar também. Sua atitude pode visibilizar o quanto a negritude é afeto, é partilha, é acolhimento. A prática pedagógica antirracista é capaz de promover “o respeito mútuo, o respeito ao outro, o reconhecimento das diferenças, a possibilidade de se falar sobre as diferenças sem medo, sem receio ou preconceito” (CAVALLEIRO, 2006,p.48).
A ciranda vai, vai
A ciranda vem, vem
A ciranda só presta na praia
Pra gente brincar mais um bem
O encontro com a cirandeira aconteceu na sexta-feira à tarde. Quando o transporte chegou, uma menina pegou o envelope com os desenhos, o abraçou forte e disse: –Não podemos esquecer o presente da Lia! Com o coração aquecido seguimos para o nosso destino. No caminho cantamos algumas cirandas e conversamos sobre nossas expectativas: – A Lia de Itamaracá é muito especial para mim!; – Quando eu encontrar com a Lia vou dar um abraço muito apertado nela!; – Eu sei toda a história da Lia de Itamaracá!; – A Lia de Itamaracá vai dançar ciranda com a gente?!
As crianças estavam ansiosas e enquanto esperavam a cirandeira tiveram a oportunidade de conhecer e abraçar o Rodrigo França, autor do livro O pequeno príncipe preto. Quando Lia de Itamaracá subiu as escadas para chegar ao salão do quilombo, as crianças a recepcionaram com muitos abraços. Algumas crianças olhavam para ela parecendo não acreditar no que viam. Com um sorriso largo a menina entregou o envelope para Lia que, humildemente e acolhedora, recebeu cada desenho, enquanto as crianças eufóricas diziam: –Esse fui eu que fiz; –Eu desenhei você e eu!; –Eu fiz um coração para você!; –Desenhei a ilha que você mora!;–Eu fiz todo mundo dançando ciranda com a Lia!; – Desenhei corações cirandeiros para você!
Figura 5 Desenho: corações cirandeiros
Figura 6- -Desenho: A ilha da Lia de Itamaracá
Fonte: Acervo da professora pesquisadora, novembro de 2021
Os desenhos das crianças externam suas aprendizagens e os diferentes modos como foram afetadas. Esse dia ficará marcado em nossas memórias. Assim como Lia, posso dizer que a ciranda nos encontrou, nós também encontramos os movimentos da ciranda e encontramos a força da negritude em Lia de Itamaracá. Nossa “ancestral viva” abriu caminhos para a presença das músicas, das danças, das composições e histórias de outras mulheres negras no nosso cotidiano.
De acordo com Cavalleiro (2006) as Diretrizes curriculares para o Ensino das Relações Étnico-raciais além de um direito social, são constituídos de valores civilizatórios presentes na História e Cultura Afro-Brasileira. Com base nesses apontamentos tenho a percepção de que as vivências com a cirandeira Lia de Itamaracá indicam a possibilidade da efetividade da Lei 10.639/2003 por meio de experiências de aprendizagens, sobre a história e cultura africana e afro-brasileira, defendidas por Azoilda Loretto da Trindade (2006).
Pausando a ciranda
Como professora pesquisadora, pude problematizar o meu fazer docente identificando possíveis caminhos para construir práticas pedagógicas que respeitem as singularidades das crianças como sujeitos de direitos. Ao questionar a prática respeitando o cuidado e a amorosidade (FREIRE,2005) necessários ao ato educativo, observei a criticidade do fazer pedagógico nascendo do amor profundo pelas pessoas e pela vida e alinhando-se com a prática humana. As dimensões ética, estética e política da prática pedagógica apontam o compromisso com a nossa formação humana, com a formação dos excluídos e, por isso, busca na efetividade da lei 10.639 a ruptura com a exploração, a subalternização, a invisibilidade e o silenciamento.
O relato aponta para a relação entre infância e questão racial como um dos eixos centrais da prática pedagógica. A prática educativa antirracista dialoga com a educação libertadora defendido por Freire (1997). Neste sentido, a experiência compartilhada visibiliza a urgência do estudo sobre a ERER para fortalecer movimentos de uma educação antirracista na Educação Infantil. A prática pedagógica pode ampliar os conhecimentos da realidade social e cultural em busca da aceitação, do respeito e da confiança quando o fazer pedagógico se pauta em uma educação articulada ao cuidado. Os valores civilizatórios estão articulados ao trabalho com as crianças indicando o cotidiano da Educação Infantil como lugar de vida, de criação e transformação. Nesse sentido, a prática antirracista na Educação Infantil se faz interagindo, brincando,cuidando, educando e cirandando.
Referências
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra - Coleção Feminismo Plurais,2020.
BARBOSA, Maria. Carmen Silva. Culturas escolares, culturas de infância e culturas
familiares: as socializações e a escolarização no entretecer destas culturas. Educação e
Sociedade. Campinas, v. 28, p. 1059-1083, 2007.
BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação/Secad, 2004.
BRASIL, MEC. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 2009.
CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. 1998. 229f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
CAVALLEIRO, Eliane. Educação Anti-Racista: compromisso indispensável para um mundo melhor. In: CAVALLEIRO, Eliane (org). Racismo e antiracismo na educação: repensando nossa educação. 6 ed. São Paulo: Selo Negro, 2001.
CAVALLEIRO, Eliane. Introdução. In.: BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília, DF, p.13-28, 2006.
ESTEBAN, Maria. Teresa; ZACCUR, Edwiges. A pesquisa como eixo de formação docente. In: Professora Pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Bahia: Edufba, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 63ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2005.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis/Rio de Janeiro: Vozes, 2017.
KOHAN, Walter Omar. Infância:entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica,2007.
LARROSA,Jorge.Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Rev. Bras. Educ.Rio de Janeiro,n. 19, abril, p. 20-28, 2002.
MARTINS FILHO, Altino José. PESQUISA COM CRIANÇAS DEIXAR FAZER VIVER A VIVA VOZ DAS CRIANÇAS. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 28, p. 176-187, 2020.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Editora Vozes, 1999.
PEREIRA, Rita Marisa Ribes. Por uma ética da responsividade: exposição de princípios para a pesquisa com crianças. Currículo sem Fronteiras, v. 15, n. 1, p. 50-64, 2014.
SAMPAIO, Marisa Narcizo. Caminhos que se fazem ao caminhar: diálogos entre teoria e prática em registros de professoras. Campinas: Mercado de Letras, 2015.
TRINDADE, Azoilda Loretto da. Fragmentos de um discurso sobre afetividade. In: BRANDÃO, Ana Paula. (coord). Saberes e Fazeres. V.1: modos de ver. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006.
WALSH, Catherine (Ed.). Pedagogíasdecoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I. Quito, Ecuador: EdicionesAbya-Yala, p 2013. 553.
Data do envio: 26/01/2024
Data do aceite: 14/06/2024
Revista Aleph, Niterói, V. 1, Junho . Ano 2024, nº 41, p. 1 - 19 ISSN 1807-6211
[1] Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Professora da Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME) com atuação no Núcleo Avançado de Educação Infantil (NAEI) Angela Fernandes. E-mail: joana_jn2010@hotmail.com. Telefone: (21) 98506-5740. ORCID (https://orcid.org/0000-0003-1954-1563).
[2] Na Educação Infantil da Rede Pública Municipal de Niterói atuamos no sistema de bidocência. São duas professoras regentes para cada grupo de referência. Uso o feminino por ser o magistério exercido predominantemente por mulheres. A experiência com a cirandeira Lia de Itamaracá envolveu toda a equipe do NAEI Angela Fernandes.
[3] Clipe disponível em: https://www.youtube.com/@LiadeItamaracaOFICIAL/videos.
[4] A letra da ciranda e as falas das crianças estão em itálico para diferenciar do restante do texto.
[5]Nilda Alves (1998) no artigo: Imagens das escolas: sobre redes de conhecimentos e currículos escolares, utiliza a junção desses termos transformando-os em uma só palavra para mostrar a possibilidade de existência desses termos− um tem relação com o outro e só existe nesta relação.
[6] A criança fez referência ao turbante.
[7] Neste relato não menciono os nomes das crianças para preservar a identidade das mesmas.
[8] A BAOBÁ- O Pequeno Príncipe Preto [CLIPE]. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=czVQF1jFXPo . O clipe foi apresentado para as crianças porque contamos a história O pequeno príncipe preto do autor Rodrigo França.
[9] foi o resultado da minha investigação sobre a vida da cirandeira.
[10] O banho de mangueira foi uma proposta coletiva. Todos os grupos e as docentes participaram.
[11] Disponível em: https://monkeybuzz.com.br/materias/a-ciranda-democratica-de-lia-de-itamaraca/- Acesso em novembro de 2021.