RAP, MÚSICA E VOZ DA EMANCIPAÇÃO SOCIAL
RAP, MÚSICA E VOZ DA EMANCIPAÇÃO SOCIAL[1]
RAP, MUSIC AND THE VOICE OF SOCIAL EMANCIPATION
Miguel Lombas[2]
Gustavo Henrique Rückert[3]
Resumo: O presente artigo analisa a importância da música rap na voz do compositor, rapper, jurista e filósofo angolano MCK, como uma ferramenta discursiva de resistência, de emancipação e de despertar de consciência por dar voz e protagonismos a grupos socialmente excluídos pela sociedade e pelas instâncias do poder político. A partir das composições do rapper MCK, procuramos descrever o mestre cerimônia - emceein/MC como o porta voz da sua comunidade ao defender um ponto de vista claro, que tem consciência de seu papel político e luta pelo direito de narrar e usar a sua voz em prol da coletividade. O rap é discutido aqui como um dispositivo mobilizador de discurso de emancipação e resistência que caracteriza e fomenta o combate as segregações sociais, o racismo, o machismo, o sexismo, a desigualdade social entre outras formas segregarias e discriminatórias que os corpos negros e periféricos têm sido vítimas da sociedade e do Estado.
Palavras-chave: Música rap. Emancipação. MCK.
Abstract: This article analyzes the importance of rap music in the voice of the Angolan composer, rapper, jurist and philosopher MCK, as a discursive tool of resistance, emancipation and awakening of conscience by giving voice and protagonism to groups socially excluded by society and the authorities of political power. Based on the compositions of rapper MCK, we seek to describe the master of ceremony - emceein/MC as the spokesperson for his community by defending a clear point of view, aware of his political role and fighting for the right to narrate and use his voice in for the benefit of the community. Rap is discussed here as a mobilizing device for discourse of emancipation and resistance that characterizes and encourages the fight against social segregation, racism, machismo, sexism, social inequality, among other segregating and discriminatory forms that black and peripheral bodies have. they were victims of society and the state.
Keywords: Rap music. Emancipation. MCK.
O Hip-hop em cena
A partir das periferias urbanas estadunidenses, mais precisamente nos bairros negros e latinos de Nova Iorque, o movimento Hip-hop desponta nos anos 1960 como possibilidade de fala ao jovem subalterno. Tendo como expressão os elementos do Dj e do MC, rapidamente o hip-hop articulou uma linguagem que perpassava as artes visuais, a dança e a música de jovens negros e de periferia de diferentes países. Para entendermos como os jovens subalternizados usaram a arte musical como forma de protesto é preciso contextualizamos a situação social e a política norte-americana nos anos 60.
A vida política e social dos bairros periféricos/guetos estadunidenses era marcada por muita violência e restrições econômicas. Nos anos 50 e 60, os bairros periféricos de Nova Iorque eram constituídos majoritariamente por latinos e afrodescendentes, que enfrentaram uma forte crise resultante do projeto de urbanização, que ocasionou abandono e retirada de projetos sociais. As políticas capitalistas tomaram conta da região e as populações mais carentes emigraram para o Brooklyn e para a parte Sul do Bronx, construindo e se abrigando em casas populares. Algumas das consequências sociais para a ausência de políticas nesta região foram o alto índice de criminalidade, de tráfico de drogas, de prostituição, da brutalidade policial, do racismo, a fraca incidência das instituições do Estado, as famílias monoparentais com índice muito alto de alcoolismo e de tabagismo, o alto índice de desemprego, a diminuição brusca do índice da renda média per capita, entre outros. Este cenário desumano, de desolação e de desamparo social contribuiu para o agravamento da guerra do Vietnam, conforme discorre a pesquisadora brasileira Ana Lúcia Souza:
No que se refere à economia, a sociedade norte-americana viveu forte crise na qual sobressaíram o processo de desindustrialização e a elevação do desemprego. Além disso, ocorreram alterações no papel do Estado que se refletiram, por exemplo, no enfraquecimento dos programas assistenciais ou de transferência de renda. Nessa época, os norte-americanos também estavam às voltas com a guerra do Vietnam, o que colaborava com o quadro dramático, mais ainda por parte da população – negros ou hispânicos em sua maioria – enviada aos campos de combate e sofrendo com sequelas de mutilação, morte e debilitação física e psicológica (Souza, 2011, p. 63).
Jovens imigrantes jamaicanos, afrodescendentes e porto-riquenhos, moradores do Bronx, viram-se abandonados pelo poder público com a brutalidade das desapropriações executadas por oficiais municipais, sob orientação do planejador urbano Robert Moses, com a intenção de reorganizar a dinâmica espacial do capitalismo local:
Pelas situações opressivas surgidas como consequência de uma política econômica voltada para a transformação de Manhattan num grande centro financeiro ligada aos subúrbios, fundamentada na construção do marcante símbolo de segregação socioespacial de Nova Iorque – a Cross-Bronx Expressway (Fernandes, 2014, p. 87).
Com a forte violência, a marginalização e a separação das periferias nas metrópoles pelas instâncias do poder político, vários movimentos juvenis surgiram nos anos 60 e estenderam-se até os finais da década de 70 em protesto contra a desigualdade social, o desemprego, a pobreza, a miséria e a falta de implementação de políticas públicas que pudessem garantir o bem-estar social, como a educação, a saúde, o transporte, o lazer, etc. Vale destacar que parte dos movimentos juvenis buscava proteger as populações negras contra as atrocidades e o preconceito racial. Assim, as ruas do Bronx passaram a ser o epicentro dos encontros juvenis e das lideranças comunitárias, configurando-se como lugar de lutas entre gangues rivais, envolvidas em crimes de assassinatos, furtos e tráfico de drogas. As gangues assumiram as ruas do Bronx e alguns destas eram os guardiões e protetores de determinadas comunidades, quarteirões ou grupos, dentre as gangues mais famosas e temidas destacam-se os Chingalings, Savage Skull, Savage Nomads, Black Falcons e os Black Spades.
As gangues se centravam na autodefesa de suas comunidades ao fomentarem atos de autoproteção sem regras e desprovidos de políticas públicas. Em consequência, o bairro do Bronx ficou ameaçado pelos traficantes de drogas, pela prostituição, pelos crimes brutais e pelo surgimento de intermediários no arrendamento de residências, estes que recusavam fornecer serviços de energia elétrica e água potável aos inquilinos. Os gangsters promoviam incêndios intencionais em residências desabitada de maneira a escaparem das seguradoras; com essas atitudes viram-se muitos quarteirões completamente desabitados (Chang, 2005).
Assim como sucedeu nos Estados Unidos, nos anos 60, em Angola, a maioria da população mora em extrema pobreza, à margem da sociedade e de quem detém o poder político – o Estado. De maneira a contornarem essa triste situação, surgiram várias individualidades e movimentos sociais, com destaque aqui para o movimento hip-hop que através da música rap têm se levantando e usam as suas vozes para protestarem contra as assimetrias sociais, pedirem e exigirem melhores condições de vidas para população angolana.
Na sua obra Memórias da Plantação, a psicanalista e artista plástica Grada Kilomba (2019) sustenta que não ter direito à fala é o mesmo que não ter direito à cidadania, sendo que a cidadania é a participação ativa na sociedade. Ela mostra como historicamente os grupos subalternos (colonizados, mulheres, etc.) foram privados de voz. Essa, para ela, é a maior violência imposta pelos Estados coloniais e pós-coloniais. Tal como Kilomba, Spivak, Krenak, Quijano e muitos outros têm dado as suas vozes para protestar, para denunciar e acima de tudo para despertar a consciência.
Os rappers têm erguido as suas vozes de lutas e de resistências contra as atrocidades sociais, sendo estes movimentos poéticos e políticos de tomada de voz e de participação na vida social de pessoas silenciadas e oprimidas. Portanto, a música rap pode figurar como verdadeiras revoluções poéticas e políticas, já que vão contra esse silenciamento, uma violência historicamente imposta pelo Estado sobre os sujeitos subalternizados.
Desde a sua gênese na década 60 até os dias de hoje, o movimento hip-hop tem desempenhado um papel preponderante na luta contra as assimetrias sociais e políticas a nível mundial. Entretanto, existe uma vasta trajetória das letras musicais e poéticas do estilo rap a servirem de instrumento de resistência e de denúncias sociais, onde os rappers surfam por essas ondas como bravos militantes do movimento hip-hop agindo como intelectuais engajados, colocando suas artes ao serviço da comunidade, ao trazerem temáticas que descrevem as injustiças sociais que os cidadãos enfrentam de forma constante, principalmente, os que vivem nas periferias.
O rap tornara-se importante ponte entre populações negras no espaço e no tempo. As letras, de estilo realista, engajadas politicamente com os movimentos negros, são duras e diretas, dialogando com a crônica e a autobiografia, se destacando com um discurso crítico contra as injustiças e as desigualdades vivenciadas na pele pelas comunidades a quem o rap representa. No entanto, o rap assume, aqui, um caráter de resistência, como nos explica Alfredo Bosi, “opor a força própria à força alheia” (Bosi, 2002, p. 118). A música rap vai surgindo assim não como uma mera diversão, mas atua como arma de resistência e de emancipação das populações periféricas excluídas que se mostram oponentes das políticas de governo dos seus Estados.
Ritmo e Poesia, ou simplesmente rap, é um estilo musical do movimento hip-hop que atualmente é representado por dez (10) elementos, dos quais quatro (4) núcleos (Dj, MC, Grafitti e o Breakin) e por seis (6) complementares (Street knowledge, Beatboxin, Street fashion, Street language, Street entrepreneurialism e Saúde e Bem-Estar). Vale ressaltar que para a criação do rap existem dois papéis fundamentais: o do MC e o do DJ. O MC, ou mestre de cerimônias, é quem fala enquanto a música é tocada. O DJ, ou disc jockey, é o criador da batida: seleciona os discos, os beats, etc. Inicialmente, essa dupla trabalhava para o entretenimento — “era o som que embalava as grandes festas que, a partir de 1976, tomaram conta do Bronx” (Salles, 2007, p. 28).
É através dos seus elementos núcleos, que o movimento hip-hop se espalhou pelo mundo todo e é por meio deles que o rap “acaba se destacando e assumindo responsabilidade como porta-voz do movimento, tanto do lado político-ideológico quanto do sociocultural” (Leal, 2007, p. 67). Desde os tempos idos que a música rap é usada como ferramenta de luta social, política, econômica e cultural, com vista a ajudar os jovens a escaparem-se da delinquência, das drogas, da prostituição, das rixas de gangues, da brutalidade social e sobretudo de construção de consciência, de personalidade e de intervenção política.
O movimento em causa tem como linha de orientação o cultivo do amor, da paz, da união e da diversão, com responsabilidade, assim como outros movimentos têm as suas próprias identidades, como descreve o teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano Start Hall (1998, p. 45) ao alegar que:
Cada movimento apelava para identidade social de seus sustentadores. Assim, o feminismo apelava às mulheres, a política sexual aos gays e lésbicas, as lutas raciais aos negros, o movimento antibelicista aos pacifistas, e assim por diante. Isso constitui o nascimento histórico do que veio a ser conhecido como a política de identidade – uma identidade para cada movimento (Hall, 1998, p. 45)
Tendo em consideração a linha de raciocínio de Hall e da Universal Zulu Nation (UZN), organização que rege o movimento hip-hop e com base nos princípios e código de conduta da organização plasmados nas lições infinitas (Infinity lessons), podemos afirmar que o movimento em causa, tem como linha de orientação identitária a alteridade humana, a socialização e a educação através das artes. Para uma maior percepção da cultura hip-hop, temos que fazer um levantamento histórico, sociológico, econômico, legal, político, pedagógico e cultural; porque a cultura hip-hop é uma ferramenta de construção e de reconstrução da personalidade do indivíduo com vista a sua reintegração social, tendo como base vinculativa o direito natural das pessoas, uma esfera jurídica inata inviolável e inalienável a todos os níveis; e eis a razão da cultura hip-hop ser uma cultura internacional, pelo seu formato humanístico, desde o momento do seu surgimento nos Estados Unidos da América.
MCK, a voz emancipatória da juventude angolana
Os artistas representantes do gênero musical rap pertencentes ao movimento hip-hop que os liga através da música, papéis que os MC´s assumem como exemplo, destaca-se no cenário nacional angolano o músico António Admiro Nhanga, mais conhecido como Katrogipolongopongo, ou simplesmente MCK, artista expoente e um dos maiores nomes do cenário do rap feito nos países de Língua Portuguesa e em Angola, em particular. Nascido em Luanda, MCK teve seu início nas artes através da dança, atuando como dançarino do Break-Dance, que é um dos elementos do movimento hip-hop. O Break-Dance é um estilo de dança associado à cultura hip-hop, no qual os seus praticantes usam a linguagem corporal para se expressarem. Tal como o MC, por trás de um dançarino do breakin existe um Dj, o responsável em colocar as músicas e as batidas para os dançarinos mostrarem as suas técnicas e performances. Os praticantes deste elemento do hip-hop chamam-se B-boy / B-Girl.
Porém, foi na música que o rapper MCK encontrou sua principal forma de expressão, rendendo-lhe inclusive o apelido pelo qual é conhecido, uma junção de “MC” e “Katrogipolongopongo”, já que Katrogipolongopongo entra no movimento Hip-hop numa fase em que existia um movimento de renascimento cultural denominado por Núcleo Rap, que tinha como preocupação abordar questões ligadas à africanidade. Além disso, o Núcleo inspirava-se nas ideologias e literaturas dos percursores da luta contra a exploração e dominação colonial, como Kwame Nkrumah, Leopold Senghor, Aimé Césaire, Cheikh Anta Diop, Patrice Lumumba, John Kenyatta, Kenneth Kaunda, Marcus Garvey e muitos outros.
Nesta conformidade, o Núcleo Rap procurava então ir em busca de nomes de origem africana, fato que levou a que muitos jovens vinculados ao movimento Hip-hop passassem a se identificar com antropônimos locais, como Nganga Wambote; Ngadyama Wakambasonhe; Mutu Moxi; Tetembwa, Kudibangela; Kuntwala; Kuzoka; Dyala Kya Kilunge; Vuvu Manzambi; Xitukumulukumba, Kamesu, Keyta Mayanda, só para citar estes.
Com intuito de possuir um nome artístico com sonoridade africana, que a abono da verdade é um distintivo que não existe nas línguas africanas, juntou várias sílabas, dando lugar a Katrogipolongopongo, que, no entender do músico em causa, significa “paz de espírito.” Em 2007, participou do espetáculo “Era do Hip-hop”, realizado no Campo da Banca, o qual foi apresentado pelo rapper, compositor, ativista e radialista Kook Klever, este que infelizmente teve imensas dificuldades em pronunciar o nome ao Katrogipolongopongo e impôs ao artista que, na sua vez de cantar, seria anunciado por MCK. Foi assim que nasceu o nome que hoje é conhecido no mundo artístico. Influenciados pelo Rap norte-americano e, acima de tudo, pela língua inglesa, a geração anterior à sua possuía nomes em inglês, e isso não se verificou apenas em Angola, mas de um modo geral na Lusofonia, a título de exemplo nomes como Kook Klever, Boss AC, Mano Brown, GC Unity, MV Bill, San The Kid, etc.
Conforme já foi referenciado aqui, MCK entrou no movimento hip-hop por intermédio do Break-Dance, mas anos depois, Katrogi, como também é conhecido nas elites musicais, inspirando-se em artistas internacionais como 2Pac, Snoop Dogg, Mano Brown e em artistas nacionais, mas desarticulados ao estilo Rap, a saber: Paulo Flores, Bonga, Filipe Mukenga, Urbano de Castro e David Zé, as suas formas de cantar e de abordagem musical fizeram com que começasse a dar os primeiros passos na música. Porém foi mesmo em 1995 que se juntou aos amigos Mister Guigas e Nuno Pai para juntos formarem o grupo Os Negros Positivos, com o qual gravou várias músicas. A música intitulada: “O pobre tem que lutar para comer arroz” passou a ser o tema musical do grupo com mais destaque. Infelizmente, no ano seguinte, isto é, em 1996, o grupo desarticulou-se por causa das responsabilidades sociais e religiosas de cada um dos membros. Por exemplo, o MCK tornou-se testemunha Jeová por influência da senhora Domingas, sua mãe.
No final de 1996, MCK passou a seguir uma carreira a solo, passando a fazer muito freestyle nas ruas da cidade de Luanda. O freestyle é uma das características do rap e é feito na hora em forma de improviso, feito numa roda de amigos em espécie de brincadeiras ou durante um evento de forma individual em batalhas. MCK por muito tempo viu o seu nome no auge, tido como um dos renomados freestaleiros na altura, e em consequência disso, passou a receber vários convites para participar em competições de freestyle e, acima de tudo, em programas radiofônicos que abordavam sobre hip-hop, como o FM Expresso, que tinha a rubrica “O Nacional Expresso”, onde se tocava apenas Rap Nacional e era apresentado por Moisés Luís e Kessy Kelly.
Em 1997, Katrogipolongopongo foi convidado a participar do programa Era do Hip-hop, que era emitido pela rádio LAC e apresentado por Ikonoklasta e Nkruma dos Santos. No seu ponto de vista, o programa serviu como barómetro orientador daquilo que é hoje a sua carreira artística. Isto porque foi um programa que tinha uma linha de produção muito forte, primava pela alternatividade musical, beleza artística, o rigor na escrita e coerência nas abordagens. O sucesso nas disputas de freestyle entre os MCs motivou o MCK a investir em suas rimas e em uma possível carreira musical, produzindo de maneira artesanal algumas centenas de cópias de mídias físicas com a música “Casos da cidade”, em 1996, que conta com a participação no refrão do rapper angolano Mestre Naywanguimono. Essa música foi seu primeiro sucesso, deixando-o conhecido para além das fronteiras luandenses.
Com a ditadura disfarçada em democracia que o país vive e com o pendor político que as músicas de MCK acarretam ao denunciarem o sistema ideológico e político implementado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola, o MPLA, MCK passou a ser uma voz solitária e, inclusivamente, foi considerado como persona non grata e, por várias vezes, foi ameaçado de morte, proibido de cantar e realizar espetáculos e aparecer na mídia pública pelo regime ditatorial de José Eduardo dos Santos. Destemido e com o êxito da empreitada, o artista lançou, em 2002, o seu primeiro álbum: Trincheira de ideias. Dentre outras músicas, o álbum conta com Técnicas, causas e consequências, vulgarmente conhecida por (sei lá que uáué), música esta que tirou do mundo dos vivos o jovem Arsénio Sebastião, carinhosamente tratado por Cherock. Naquela era, MCK já era um artista conhecido no cenário do rap nacional e nos países de expressão portuguesa.
Arsénio Sebastião, ou melhor, Cherock até a data dos fatos era um jovem lavador de carro e morador do bairro Marçal, em Luanda. Foi morto de forma bárbara no Embarcadouro do Mussulo em 26 de novembro de 2003 pela Unidade da Guarda Presidencial (UGP) do ditador e ex-presidente de Angola José Eduardo Dos Santos. Cherock, enquanto exercia a sua atividade laboral e habitual de lavar carros, foi surpreendido pela UGP, enquanto lavava e cantarolava a música Técnicas, causas e consequências, ele foi questionado pela guarda se conhecia o músico pessoalmente e se tinha relação com MCK O pacato jovem afirmou por várias vezes que não conhecia o rapper MCK, mas que era um mero apreciador das músicas do artista. Cherock começou a ser espancado pela UGP com intuito de dizer alguma coisa relacionada ao músico, mas nada tinha por dizer concernente a ele, porque não o conhecia, clamando apenas a Deus pela sua sobrevivência — algo que não veio acontecer. Em seguida fitaram-lhe a boca, os braços, as pernas e lançaram-no para o mar, morrendo então asfixiado.
Com a morte de Cherock, assistiu-se então à violação dos Direitos Humanos, a tão elementar que é a vida conforme está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos no seu artigo 3º: “todo o cidadão tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” Ainda em torno disso, a Lei Constitucional da República, que vigorou em Angola de setembro de 1992 a fevereiro de 2010, no seu artigo 22º, garanti-nos que “o Estado respeita e protege a vida da pessoa humana”. Infelizmente não se notou o cumprimento deste artigo em Angola, até porque quem tem o dever de proteger é o mesmo quem o tirou. Ao tomar conhecimento da morte de Cherock, o artista entrou em contato com a família e prestou todo seu apoio de forma incondicional, fez do malogrado seu eterno admirado, a música Chamada grampeada, do álbum V.A.L.O.R.E.S, é disto um exemplo:
Sinto-me honrado pela luta que implementas
Admiro a tua coragem e a esperança que alimentas
Ironia do destino, fui morto pela guarda
Ordem do Divino, sou teu anjo da guarda
Desde já, agradeço o Carinho que nutres por mim
Amor se paga com amor, e eu morri por ti
Limpa às Lágrimas e ouve Diaraby
Há muitas ondas negativas contra ti
Limpa às Lágrimas e segue Diaraby
São recados do Cherokee para ti
A geografia da tua vida está na palma da minha mão
Há muita inveja e covardia vai com calma meu irmão
É meu dever proteger-te a distância
Te vigio a todo instante não importa a circunstância
Quando entras, quando largas, quando peras, quando cagas
Quando ferras, quando pregas, quando farras, quando pagas
Cuidado com as miúdas, cuidado com esses Top´s
Cuidado com a imprensa, eles querem-te mais próximo
Cuidado com esses Prémios, pode ser um golpe (MCK, 2018).
Este tema musical faz menção ao diálogo entre MCK com seu eterno admirador Cherock, quando este serve como um anjo da guarda de MCK, a geografia da vida do seu ídolo está nas suas mãos, razão pela qual controla, a partir dos céus, os passos do artista em causa, dia e noite, aconselhando-o a ter cuidado com os top’s, os prêmios e principalmente com quem anda e fala. Com o seu slogan de vida “Paz, Justiça e Liberdade” e a sua luta em busca de uma Angola mais justa e igualitária para os(as) angolanos(as) sem distinção de cor, raça, etnia, religião e ideologia política, as músicas de MCK são mal recebidas pelas instâncias políticas do país, levando o artista ser perseguido e visto como “enteado” da pátria angolana.
A par das ameaças e perseguições de que foi e vem sendo vítima, MCK viu ainda um leque de shows seus a nível nacional serem boicotados e proibidos de serem realizados por ordem superior. A título de exemplo, foi proibido de realizar o concerto Ikopongo no Cine Tivoli, em Luanda, e teve shows proibidos e boicotados em Malange, Benguela, Huila e Namibe. O pior de tudo é que, sem aviso prévio e fundamentos judiciais, MCK foi interditado de sair de Angola, em 2015, a fim de participar no festival Terra do Rap, que se realizaria no Brasil.
Com todas estas ameaças e perseguições, MCK usou a violência do Estado como energético para cimentar sua carreira artística, como o Dom Quixote de La Mancha, e inspirado na música “Cavaleiro andante”, do rapper brasileiro Gabriel o Pensador, intitulou-se como um “Cadáver andante” e fez uma música com mesmo título, fazendo uma incursão dos momentos bons e ruins que vivenciou, destacando os elogios que recebeu de algumas figuras mundiais, como o ex-presidente norte americano Barack Obama, a ex-chanceler alemã Ângela Merkel e o ex-presidente da União Europeia/primeiro ministro português Durão Barroso. Por fim, questiona na letra a sua namorada, hoje a sua esposa, se estava preparada para ser viúva.
Cansei de ser um vivo ignorante…
De hoje em diante cadáver andante…
Se tiver que dar a vida darei, Jesus morreu…
Barack Obama reconheceu, Durão Barroso tirou o chapéu,
Ângela Merkel, ela agradeceu...
Quer ser minha mulher está pronta para ser viúva? (MCK, 2014)
Ainda concernente aos descontentamentos das perseguições de que tem sido alvo, MCK manifestou-as na música Problemas, que conta com a colaboração do rapper brasileiro Mano Brown. A música em questão relata os fatos que o músico passou desde as perseguições, impedimentos de viajar para o exterior e acusação de golpista de que foi vítima pelo tribunal, no então caso conhecido por 15+2.
Cabelo crespo, um metro e oitenta
Eu estou na estrada desde a década noventa
Alvo do sistema minha velha só lamenta
Buede problemas, perseguições nojentas
A morte do Cherock foi apenas um sinal
Do preço da liberdade e da justiça social
Fui chamado a tribunal acusado de golpista
Barrado no aeroporto feito um terrorista
A bófia me pediu para ter cuidado
Eu disse que eu sou cuidado investigo a voz do guardo
Não tenho fama de bandido sempre fui artista
Só falo, não mato, sou rapper e ativista
Não calo, sou chato, filosofo e jurista
Não pago mas, bato perguntem ao radialista
Desde o tempo do sei lá que uaué
Eu remo e rimo contra maré
Sou carne para jacaré, regime da marcha re só paro quando eu morrer (MCK, 2018).
O percurso artístico do MCK é marcado, também, com episódios positivos. Com o seu rigor na escrita, estética e coerência nas suas abordagens musicais, MCK recorre sempre ao uso das figuras de estilo para embelezar o seu discurso musical, que trazem consigo denúncias sociais. Atualmente, MCK tem cinco álbuns lançados com periodicidade de quatro em quatro anos, com exceção ao lançado em 2018.
O rapper tem recebido vários convites de artistas nacionais e internacionais para participar em seus álbuns. A nível nacional, por exemplo, participou nos seguintes álbuns: Cultivar: Páginas rimadas da minha vida, de Kook Klever; Incorrigível e Sombra, de KID MC; nós, o do Conjunto, do Grupo Conjunto Ngonguenha; O Ermo, de Flagelo Urbano; O homem e o artista, de Keyta Mayanda; O último Samurai, de Dj Samurai; Fortificando a desobediência, de DJ Pelé; Oxigénio Volume II, de Sanguinário, etc. Já a nível internacional, MCK participou dos álbuns dos seguintes artistas: A esperança é o alimento da alma, de S.N.J; África Natividade: Cheiro do Brasil, de Sandra de Sá; Cubaliwa, do Azagaia; Inquérito Tungsténio, de Renan Inquérito; outros tempos, de Xeg, etc.
Para além dos aspetos referenciados atrás, o músico em causa teve inúmeras distinções nos últimos anos: distinguido pelo jornal O Crime como uma das figuras de maior relevância na sociedade angolana, em 2018; o álbum V.A.L.O.R.E.S constou nos concorrentes da crítica do prémio do Top dos Mais Queridos da Rádio Nacional de Angola, edição 2018; em 2014 a música “Gémeos Separados”, que conta com a participação do rapper brasileiro Kabide, foi distinguida como a melhor mensagem, atribuído pelo Blog Cuia; melhor Rap em 2013 pelo Angola Music Awards; Melhor Letra em 2013, com a música Cadáver andante, atribuído pelo Blog Cuia. Além disso, integrou na lista de artistas mais influentes no continente africano em 2012; distinção de melhor rap pelo programa Top Rádio Luanda, em 2012; foi distinguido em 2011 com a melhor letra do ano pela Rádio Eclésia.
Com o crescimento de seu trabalho, veio também sua maior profissionalização. MCK criou de forma independente, entre os finais de 1990 e princípios de 2000, a sua produtora Masta K que passa a cuidar não só de sua carreira, mas também de diversos outros artistas do rap angolano e internacional. Enquanto responsável da Masta K, ele procurou sempre apoiar os seus colegas que tivessem dificuldades em divulgar os seus trabalhos discográficos. A par das várias coletâneas da Masta K e os quatros álbuns da sua autoria, Trincheira de ideias (2002); Nutrição espiritual (2006); Proibido ouvir isto (2011), V.A.L.O.R.E.S (2018) e Sementes (2024), editou e lançou os seguintes álbuns de artistas angolanos: Pão Burro: 2ª Via, do rapper Pai Grande; o poeta e as melhores coisas da vida são de graça, do rapper Ikonoklasta. Com propósito de levar boa música aos ouvidos dos seus seguidores, comprou direitos autorais das obras discográficas de alguns pilares do Rap Luso, a fim de distribuí-los em Luanda. Distribuiu os seguintes álbuns de caráter internacional: Babalaze, do rapper Azagaia; Mary Witch, do rapper Halloween; Educação visual e Serviço público, do rapper Valete.
Em 2006, é lançada sua segunda obra discográfica, Nutrição Espiritual. Com um espaço cada vez maior no cenário artístico angolano, MCK passava, também, a aparecer de forma tímida e com algumas censuras a misturas em grandes festivais de música hip-hop e em alguns programas radiofônicos. A esse ponto o discurso presente em suas letras transcendia esse universo, atingindo setores mais amplos da sociedade, como a política. Alguns destaques devem ser feitos com relação à diversificação das atividades de MCK. Ao longo de todo esse tempo, que vem atuando como bravo militante do movimento hip-hop, agindo como intelectual engajado, colocando as suas artes ao serviço da comunidade, ao trazer temáticas que descrevem as injustiças sociais que os cidadãos enfrentam de forma constante, principalmente, os que vivem nas periferias; veio se fortalecendo o selo “Masta K Produsons”. Hoje, além do escritório voltado para a música, MCK atua como ativista cívico e defensor dos Direitos Humanos, está preocupado com elevado número de pessoas afetadas pelo vírus do HIV. Com propósito de dar a sua contribuição na luta contra esta epidemia que tem assolado milhares de pessoas a nível mundial, através da sua editora, em janeiro de 2014, lançou a sua linha de preservativo denominando de “Bom Peru” no espaço Elinga Teatro. A bandeira levantada pela marca é a da luta contra o vírus do HIV que infelizmente tem ceifado vidas de milhares de pessoas no mundo, em particular no continente africano, conforme o artista canta em A “Voz do Vírus”, do Nutrição Espiritual.
Não tens como voltar, abusaste a bebida
Não adiantas chorares, já estou na tua vida
Prazer em conhecer-te eu sou o sida
Cheguei a ti graças ao teu orgulho
Podes me tratar de HIV. Bró vais assumir barulho
Minha origem é duvidosa,
Não sei dizer se fui criado ou se vim do chipanzé
Te lembras daquela dama boa? Uma tal de Josefina que comeste em Lisboa?
Éh! Eu estava dentro dessa mboa
Pediste carne com carne e negaste o preservativo
Sexo, bom herói de cama armado em vivo
Me lembro que estava com copo e assim me hospedei no teu corpo
Hoje enforco tuas células diariamente
Não te poupo e te bondo lentamente
Te mato nas calmas e depois me retiro
Giro em África meu egocêntrico
Jamais saio do organismo onde eu entro
Por intermédio de relações sexuais multiplico-me (MCK, 2006).
Na música, o artista usa o recurso estilístico da personificação para alertar a população sobre o vírus da HIV. Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, a voz é um som produzido pela laringe. O vírus é definido como um microrganismo, que é agente infeccioso de certas doenças contagiosas. Portanto, estamos perante dois nomes, sendo que o segundo encarna o primeiro para dialogar e explicar para as pessoas infectadas com o vírus da HIV como o mesmo entrou nos seus organismos. Depois das duas Guerras Mundiais, o vírus da HIV tem sido um dos maiores causadores de mortes no mundo e, em particular, no continente africano. Infelizmente, até hoje não se consegue explicar com precisão a origem deste vírus que, infelizmente, há anos vem desestruturando famílias, deixando milhões de pessoas órfãs, viúvos e viúvas.
Um ano depois de ter lançado os preservativos, isto é, em 2015, MCK fez com que a sua arte musical criasse subprodutos, com este quesito pensou nas várias ferramentas de comunicação, criando e lançando uma linha de pen-drive, denominada “Pulseira da rima honesta”, a mesma tinha uma capacidade de armazenamento de 16 GB e continha os álbuns Trincheira de Ideias, Nutrição Espiritual e Proibido Ouvir Isto, vídeos, imagens e algumas músicas inéditas lançadas naquela era.
Para além dos subprodutos que a arte musical de MCK criou, o artista ainda lançou marcas de roupas como: partes cornos, casacos, pullover e t-shirts. Estas duas últimas trazem nos seus versos poemas musicais de MCK, fazendo com que as mesmas deixassem de ser meros vestuários. As frases estampadas nos versos das t-shirts e dos pullovers tornam-se celebres em máquinas produzidas pelo Rap em detrimento do valor estético, da rima, da beleza textual e da representatividade simbólica de que as mensagens carregam consigo, levando as pessoas a adquirirem as t-shirts e os pullovers que contêm frases com as quais se identificam.
Rap, o despertar de consciência
Desde os longínquos tempos que, a música está presente nas vivências e convivências das sociedades, servindo para educar, reeducar, repreender, entreter e despertar a consciência da população. A música tem sido usada, também, como instrumento de lutas a fim de mostrarem os seus manifestos em detrimento de uma situação ou ocasião, pois ela representa a beleza cultural e a forma de compreender, atuar, reivindicar e o despertar de consciência de um povo, a título de exemplo é a música “Milagres”, do rapper angolano MCK.
Livros p´ra comarca
Preservas da minha marca
Dou bola e chuteiras e peope larga o cra cá
Palestras na favela, droga mata e dread desmarca
Jesus preto que eu rimo vira lei
Vim do gueto, muitas vidas já salvei, ganster, beatch, drogados any way
O meu rap faz milagre e eu nunca cobrei
Rap académico elevo faculdades
Rap polémico estudado em faculdades
Meu verso tem poder, muda mentalidade (MCK, 2018)
Os versos acima foram retirados da música “Milagres”, do álbum V.A.L.O.R.E.S, do rapper angolano MCK. O artista, nesta música faz menção dos efeitos socio emocionais que a sua música causa no ser humano. Nesta temática musical, há evidências das mudanças que a música rap causa em certas pessoas e, de acordo com a letra, há pessoas que outrora estavam atreladas a delinquência, a prostituição, a bebedeira, porém, foi o rap de MCK que as libertou dos vícios, fazendo com que a música do MCK serve como elemento emancipatório e despertar de consciência da juventude angolana.
O rapper em questão, usa as suas músicas como forma de salvar as pessoas e despertá-las do crime e para tal, palestra e atua nos serviços prisionais como agente educador e faz da sua música uns dos meios de reeducação, de integração, de inserção e ressocialização dos indivíduos nas sociedades. Por outra, o artista cria subproduto da sua arte como preservativos com a sua marca de maneira a sensibilizar as pessoas sobre o HIV, doando ainda livros aos estabelecimentos penitenciários com realce para as comarcas, contribuindo no acesso à educação aos detentos.
MCK é uma figura imensurável da rap angolano, e para muitos jovens angolanos, serve de fonte de inspiração. Com as suas músicas, MCK tem ajudado muitos jovens a mudarem de consciência, deixarem a delinquência, a prostituição e a optarem por um modo de vida mais justo. A música Milagre é disto exemplo.
Escrita erudita, caneta jorra sangue
Esse mambo já não é rap, nós estamos a fazer milagre
Viagra lírica não corta com vinagre
Situação criativa, perguntem ao puto Agre
Ndengue da zona e conhece os feitos do Dyarabi
Sempre muni o povo com ideias
Executivo sabe, eu sou a defesa do muni
Mesmo o Boni conhece bem o player
Se rapper não está fácil muitos dread´s estão fugir
Podem puni, o rap está na veia
Papoites estão com medo
Peoper está se uni, o M teme com a mani
Próprio cota está sai, regime está cai, cota Rafa está cai
Corrida no monarca, Katrogi é um mini autarca
Livros para comarca, preservas da minha marca
Dou bola e chuteiras e peoper larga o cra cá
Palestras na favela, droga mata e dread desmarca
Jesus preto que eu rimo vira lei
Vim do gueto, muitas vidas já salvei
Ganster, beatch, drogados e any way
O meu rap faz milagre e nunca cobrei
Édi Macedo e Santiago temem a concorrência
Luati não faz álbum, estou sem concorrência
Fatos são factos lutem com às ocorrências (MCK, 2018).
Milagre é um acontecimento extraordinário, incomum e espantoso que não pode ser explicado pelas leis naturais. Do ponto de vista religioso, considera-se milagre quando há sinal ou indício de que há interferência divina na vida dos homens, ou seja, quando os crentes sentem que Deus está a operar nas suas vidas. Partindo do exposto, podemos aferir que Milagre faz menção aos efeitos socioemocionais que a música causa no ser humano. Nesta temática musical, que conta com a colaboração do musico angolano Loromance, há evidências das mudanças que a música rap causa a certas pessoas. De acordo com a letra, há pessoas que outrora estavam presas na delinquência, na prostituição, porém foi o rap de MCK que as libertou dos vícios, servindo como agente ativo na ajuda de mudança de consciência de muitos e de reintegração dos marginalizados.
Há múltiplas formas e modo de resistir às opressões e às violências da sociedade, do Estado e todas as formas segregacionistas sociais. E, dentre as várias formas de resistências que une múltiplas vozes de luta em expressões culturais e artísticas estão as artes (a literatura, as artes plásticas, o teatro, a dança, a música). Priorizo aqui a música, mais precisamente a música rap feita pelo rapper angolano MCK por ser um do objeto de estudo da nossa pesquisa. O rapper em questão usa as suas manifestações artístico-culturais como forma de resistência ao usar a sua voz para falar pela coletividade ao exigir melhores condições de vida para a população angolana e questionar a classe política dominante angolana.
A filosofa e escritora negra Ângela Davis (2019), na sua obra Mulheres, Cultura e Política, reflete sobre as resistências representada pelos movimentos sociais, o potencial de conscientização e constatação da música algo que a classe dominante não consegue enxergar a partilha política expressa pela música. A partir desta reflexão, a autora argumenta que a convergência dos diversos grupos, em diferentes países, em torno de interesses comuns é essencial para a construção de um mundo menos desigual. Dessa forma, “as pessoas negras foram capazes de criar uma comunidade estética de resistência com sua música, o que por sua vez encorajou e nutriu uma comunidade política de luta ativa por liberdade” (Davis, 2019, p. 167). Esse potencial político da música está presente em todos os álbuns do MCK, de diversas formas e abordagens, mas a faixa musical “O Silêncio também Fala”, presente no álbum Nutrição Espiritual, apresenta diretrizes para atingir essa resistência política cultural e de incentivo a população a exigir melhores condições de vida e lutar de forma árdua contra os seus direitos na busca por uma Angola justa e igualitária para todos independentemente da cor da pele, da religião, da filiação partidária e da etnia assim como canta MCK em Silêncio também Fala:
Mano desperta do sono, não seja mais um
Quem vive de esperança morre a fazer jejum
Viva a vida de forma livre, aprenda a ser cidadão
Saiba que o medo é o pior inimigo da revolução
A democracia não cai do céu, corre atrás dela
O grande exemplo está aí, Nelson Mandela
Liberdade é conquistada com sacrifício e glórias
Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral
Assim confessa a história
Obstáculos! São ingredientes p’ra vitória
É hora de pôr fim a esse cenário sinistro
Angola é um estado democrático de direito
E o morador da Boavista é igual ao senhor ministro
Portanto, deve existir respeito
Até quando queres beber água da cisterna?
Exige a qualidade de vida há quem te governa
Não podemos viver calados eternamente
As grades da comarca não prendem a tua mente
São Nicolau, Tarrafal, não foram poucas cadeias
Os porretes doem na carne, mas não desfazem ideias
Angolano acorda! Chora agora, ri depois
Luta em defesa dos teus direitos, manifesta a tua voz
O país não tem dono, Angola é de todos nós (MCK, 2006).
Na música o Silêncio também Fala, MCK canta as precárias condições de vida de amplos seguimentos sociais angolano e estimulam a população a erguerem as suas vozes silenciadas pela Ditadura Militar durante o mandato de 38 anos do presidente José Eduardo dos Santos. É da inteira responsabilidade e competência do Governo criar condições que possam garantir a segurança e o bem das suas populações, mas enquanto eles não fizerem isso, é necessário que os angolanos e as angolanas de forma uníssona unirem forças e ideologias para juntos saírem às ruas e protestarem contra o governo e exigirem de quem os governa igualdade de direito, de segurança, de saúde, de educação e a garantia dos direitos básicos do cidadão conforme pasmada na Constituição angolana.
O rapper questiona também o tratamento desproporcional dadas as populações periféricas e subalternas em detrimento da classe governativa. Assim, o movimento hip-hop como elemento estético e político na voz do MCK busca denunciar a fratura gerada pelo sistema segregacionista e classista que constitui e institui a sociedade angolana.
Hoje em Angola, o inimigo não é o colono, mas sim os governantes angolanos que assumiram o seu lugar e a sua prática, por meio de suas políticas de governo, que não conseguem pôr em prática as suas promessas eleitorais que possam surtir efeitos na vida daqueles que os elegeram. De 1975 para cá que a Angola vem sendo governado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA, que infelizmente durante estes 48 anos no poder não consegue criar nem garantir as condições mínimas para a população angolana. Daí que o rapper usa as suas músicas como forma de luta, de despertar de consciência e de incentivo para a sociedade angolana a inspirar-se nas ideias dos líderes africanos como Amílcar Cabral, Kwame Nkrumah e Nelson Mandela que colocaram as suas vidas em risco em nome do coletivo na luta contra o colonialismo e as segregações sociais. Se no passado os angolanos e as angolanas uniram-se para lutar contra o colono em prol da libertação e independência de Angola, situações que provocou detenções e prisões de vários nacionalistas angolanos nas cadeias de Tarrafal e de São Nicolau em Cabo Verde, hoje à luta é contra o MPLA e o seu governo que a quase meio século de governo não consegue romper com as práticas colonialistas como as questões raciais e a divisão entre as classes que, em consequência as populações periféricas, vivem em péssimas condições e sem acesso aos mínimos serviços.
Passados 48 anos de independência e livres do colonialismo português, os angolanos vivem em extrema pobreza, com índice elevado de analfabetismo, de desemprego, sem água potável, sem o acesso à habitação, às escolas, à saúde, ao saneamento básico e às infraestruturas que possam proporcionar e dignificar a vida do angolano. As ausências destas condições fazem com que a população proteste e exija melhor condições de vida de quem lhe governa de forma desumana e viola com os princípios básicos consagrados Constituição da República de Angola.
No verso Angola não é só Luanda, o rapper MCK pede distribuição e aplicabilidade de forma igualitária dos valores económicos obtidos nas vendas dos recursos naturais (diamante e petróleo) exportados. Ou melhor, os investimentos não devem ser e estar concentrados na capital – Luanda, mas, deve haver diversificação para as demais províncias. O rapper por meio das suas letras contestarias e com pendores políticos, informativos e ácidas nas críticas sociais que elabora “corporifica uma análise consistente das conjunturas políticas e institucionais que nos atravessam” (Oliveira, et al, 2020, p. 400). MCK mostra que a música é um instrumento de luta e alerta que a democracia não cai do céu e uma forma de exigir liberdade é colocar a vida em risco. Assim, o rapper mostra a capacidade de o rap visibilizar:
A voz dos excluídos e, consequentemente, produzir empoderamento e autoestima (…). Um “corpo sem valor” encontra uma letra de rap que o inspira a se ver como um ser com seu próprio valor. (…). Além disso, identifica e resiste à tutela dos mecanismos que o/a fizeram crer no discurso desvalorizador, abala os mecanismos que criam a exclusão e, dessa forma, não permite que os pilares da injustiça social permaneçam invisíveis, demonstrando, assim, a força do rap na luta contra o racismo socialmente estabelecido e institucionalizado. É dessa forma que acreditamos que o rap é capaz de produzir uma pedagogia crítica e alternativa (Oliveira, et al, 2020, p. 396).
Para o autor, com seu poder contra hegemônico, o rap tornou-se elemento importante para a população marginalizada e excluída em que seus apoiadores expressam os seus anseios, críticas, suas vivências nas periferias e buscam resgatar as suas histórias, lutar e resistir contra todas as formas segregacionistas. O rap, desde o século passado vem atuando e servindo como a arma da população negra e periférica no combate conta o racismo, a pobreza, a igualdade e de construção da identidade de jovens negros periféricos.
O rap é conhecido pela sua característica denunciante em que suas composições apresentam críticas sociais e questionam a formas de governar dos líderes políticos. Como afirmou o rapper brasileiro Sabotage, “o rap é compromisso/não é viagem”. Assim, o compromisso do rap enquanto movimento artístico, político e cultural é com a população excluída, o rap por meio das suas letras que se configuram como pedagógicas, políticas, cultural e de resistência contra a hegemonia política conecta pessoas que sentem, passam e vivem na pele as segregações sociais e estatais.
MCK enquanto voz emancipatória e de despertar de consciência procura, também, questionar os conhecimentos eurocêntricos e denunciar a exploração, estratificação racial e os estereótipos que o europeu criou em torno da pessoa negra ao participar como narrador da história dos povos colonizados, assim como, aponta Michel-Rolph Trouillot (2016, p. 20), ao defender que os europeus participarem “na história não apenas como atores, mas também como narradores”.
Vejamos o que o rapper canta em Rap Crespo, a seguir, realço que o verso rap crespo parte dois, claro que não é só cabelo, subtende a gama de informação histórica e cultural que a música do MCK contém e, em particular, o tema em questão ao fazer um paralelo entre a inteligência que pessoas absorvem a partir das suas músicas e ao cacho de cabelo crespo na cabeça de uma pessoa afro.
Rap crespo parte dois, claro que não é só cabelo
Genocídio cultural, autêntico flagelo
Mataram a identidade, a história e o elo
De um povo alegre que vivia em paz,
Modelo pacificamente invadido, iludido por missionários
Lobos em pele de ovelhas, salafrários
Arrancaram nossos nomes, batizaram Nzinga em Ana
Deixaram miséria e fome, violaram as nossas manas
Angola, Ghana, Zimbabué, Botswana
Fizeram nosso continente casa da mãe Joana
Ridículo, fomos estratificados, duas classes de pretos, indígenas e assimilados
Segregaram-nos em casebres de chapa e lata
Futuro condenado, traçado pela acrópole
Explorados à distância em nome da Metrópole (MCK, 2018).
A música em questão está presente no álbum V.A.L.O.R.E.S (2018), no qual, o rapper faz uma exortação ao abismo social, histórico e cultural que caracteriza a marginalização e a violação das terras exploradas pelos europeus. O rapper denuncia o contato entre europeus e africanos por meio da colonização e da escravidão, em que o europeu ofuscou às histórias dos povos africanos ao sustentarem que os seus modos de vida, os seus nomes e os das suas terras não se adequavam a eles. Em consequência disso, os nomes dessas terras foram batizados com nomes europeus, desprovendo o poder do nome e todo o acervo cultural, histórico e identitário entre as pessoas africanas, indígenas e os seus territórios. A colonização assume o lugar e a importância de um amplo conjunto de eventos de ruptura histórica (Hall, 2003), porque as histórias dos países colonizados são contadas pela ótica do colonizador. O europeu usou/usa a questão da raça como forma de poder entre os colonizados e os colonizadores. Estes últimos, acham-se superiores aos demais ao desvalorizarem as descobertas científicas, tecnológicas e culturais dos povos que foram invadidos, colonizados e sofreram com a colonização, como expressas na sequência da música “Rap Crespo” cantada pelo rapper MCK.
Não existe colono bom, esquece isso meu mano
Presta atenção ao som, até hoje sentimos os danos
Da riqueza saqueada, não foi só matéria prima
Foram roças, foram minas, vidas e autoestima
É hora da mudança e inversão do quadro
Eu 'tou ligado, que combate será árduo
A ministra da cultura devia usar um crespo
Mas não é só ela, ela e todo o resto
Props p'ra Mara Dalva que exibe o mambo na tela
Lázaro, Thais, orgulhos da favela
Atitude e consciência no cinema e na novela
Beyoncé, Kendrick, rest in peace Mandela
Orinegma, Lueji, nossos nomes estão de volta
Teu preconceito trás revolta, colono mente e volta
As algemas são mentais, é necessária mente solta
P'ra ser preciso, eu não vim pedir favores
O que eu preciso é igualdade e valores (MCK, 2018)
Na África, as pessoas são nomeadas de acordo às circunstâncias que a progenitora enfrenta durante a gestação ou ainda diante da situação social, política e econômica que o seu território esteja sofrendo, permitindo a pessoa conhecer as suas origens por meio das fontes históricas (orais, materiais e escritas). O verso props p'ra Mara Dalva que exibe o mambo na tela, quer dizer abraços para apresentadora de tv Mara D´alva que exibe os seus cabelos crespos nas telas, rompendo assim com o genocídio cultural que Angola insiste em seguir. Ou seja, neste país africano, a não destruição do imaginário colonial faz com que centenas de pessoas percam os seus empregos, além de serem expulsos das escolas por usarem cabelo crespo. O rapper MCK vai, assim, enaltecer contribuição de muitas celebridades mundiais negras que usam cabelo crespo e conservam a memória ancestral afro na música, no cinema, na literatura, no desporto, nas artes e na política.
A música Kamama ou Kuzu, presente no álbum Proibido Ouvir Isto (2011), que conta com a colaboração do kudurista Bruno M, este que já foi membro de uma gangue no seu bairro, tem como estrutura o diálogo entre sujeito-lírico e interlocutor, sendo estes divididos pela liberdade e pela prisão. O eu-lírico usa a sua experiência social dos bairros em que cresceram (Chabá e Combatente) para abordar a criminalidade e o valor da liberdade: “já estive nesta vida, conheço bem o filme/ Não há heróis no mundo do crime/perdi vários amigos por do kumbo/Caminhos são dois: kamama ou kuzu”. A voz lírica mostra ter aprendido com o sofrimento que passou nas cadeias e fundamenta que perdeu vários amigos por causa do kumbo (dinheiro), alertando para os jovens em conflitos com a lei e mergulhados no crime que há apenas dois caminhos nesta vida, que são a kuzu (cadeia) e a kamama (cemitério).
Já o interlocutor é um recluso que vive aprisionado das suas liberdades na cadeia, mas se mostra arrependido por estar no mundo do crime, pede perdão aos pais e a Deus pelos crimes que cometeu e promete mudar de vida, tal como o músico Bruno M, assim que ganhar a liberdade.
(…) estou farto da cadeia meu Deus já não aguento
É doloroso a vida de um detento
Além de violento é fúnebre e sangrento
Pai, tu sabes que eu não nasci bandido
Desculpa mãe por não ter te dado ouvido
Perdoa os meus pecados senhores, estou arrependido
Lliberta-me das drogas, do álcool e do crime
Já estive nesta vida quero mudar de team
Aprendi a ser homem de verdade
A comarca me mostrou o valor da liberdade
Quem foi que disse que homem não chora?
Eu tenho fé em Deus que vai chegar a minha hora
Eu vou sair daqui com a minha cabeça erguida
Tipo Bruno M, eu vou mudar de vida (MCK e Bruno M, 2011)
Conforme o artista faz menção em um dos versos da música Milagre, “rapper acadêmico, elevo faculdades, rapper polémico estudado em faculdades, meu verso tem poder muda mentalidade, eu vou tomar poder luto por liberdade”. O rap de MCK tem passado a ocupar um lugar no espaço acadêmico, o que não se verificou anteriormente. Orgulha o artista ver suas músicas a servirem como objeto de reflexão acadêmica, instrumento de pesquisa e contribuindo no crescimento intelectual da sociedade.
Hoje MCK é consultado por vários pesquisadores internacionais e nacionais de diversas áreas do saber que tensionam desenvolver temas dos seus trabalhos de graduação e pós-graduação, voltados de forma geral ao movimento hip-hop e de forma mais específica nas suas músicas. Alguns temas de pesquisa foram: O ativismo musical; Análise estilístico-temático da música rap de MCK; Denúncias nas músicas de MCK e Visão arquitetônica da cidade de Luanda nas letras musicais de MCK, a partir das músicas: Elinga, Inspira Ações e Guetos na Vertical.
As letras musicais de MCK têm sido refletidas em várias universidades nacionais e internacionais: a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, por intermédio do hip-hop Arcaive[4], que vem desenvolvendo pesquisas em tornos das suas músicas, a Universidade de Lisboa e a Universidade de Coimbra, em Portugal, onde já palestrou e tem vários estudantes a desenvolverem trabalhos em torno das suas letras musicais; na Universidade Federal do Maranhão, no Brasil, onde palestrou em 2017. A nível nacional, as suas letras musicais foram refletidas em mesas redondas na Universidade Católica e Metodista de Angola.
Considerações Finais
Durante o seu percurso artístico, MCK já pensou em desistir, mas o que lhe levou a continuar na estrada da música e em busca de uma Angola justa foram as três máximas, “Paz, Justiça e Liberdade”, que ele usa como seu lema de vida. Teve a consciência de que a importância da sua luta é superior às ameaças e muito mais superior ainda ao universo de dificuldades que enfrenta. Hoje os ganhos da sua luta são visíveis. Por exemplo, Angola é um país com um espaço mais plural, onde há mais liberdade de expressão, de imprensa e de comunicação. Outrora foi chamado de frustrado, mas hoje é um dos músicos mais ouvido e visto, tido como um contribuinte ativo na dinamização da democracia em Angola.
A educação é tão fulcral, sendo ela um direito de todos e um dever do Estado garantir aos seus cidadãos independentemente das condições sociais, da raça, da cor da pele, da religião, da etnia, etc. As artes de um modo geral, e em particular a música rap que através do movimento hip-hop arrolado nos seus elementos núcleos (Deejayin/Dj, MC, Grafitti e o Breakin) têm servido de parceira fiel das políticas sociais, tendo em vista que os seus praticantes são, não raras às vezes, usuários dos serviços penitenciários, ao “demonstrarem ser possível formular alianças e resistir às vulnerabilidades e riscos que estão expostos, unindo-se a interesses coletivos e engajados na luta por uma sociedade sem exploração e dominação burguesas” (Poncio, 2014, p. 62)
Outrossim, a música rap é uma revolução poética e política, servindo como ferramenta de luta social, política e cultural, com vista a ajudar os jovens a escaparem-se da delinquência, das drogas, da prostituição, das rixas de gangues, da brutalidade social e sobretudo de construção de consciência, de personalidade e de intervenção política. A cultura Hip-hop, enquanto expressão é “um movimento de luta e rebeldia, de organização e de mobilização, que adentra as prisões para servir de instrumento emancipatório e contribuinte da não vinculação ao estereótipo criminal e elucidação da seletividade penal a que estão submetidos” (Ide). A música rap tem servido de instrumento de lutas e resistências contra as atrocidades sociais que corpos marginalizados pela sociedade têm sido vítimas da sociedade. Portanto, a música rap feita por MCK é uma revolução poética e política de tomada de voz, do despertar de consciência, da emancipação, da participação ativa na vida social das camadas excluídas pela sociedade e pelas instâncias do poder político.
REFERÊNCIAS
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CHANG, Jeff. Can’t stop, wont´s stop: a history of the Hip-hop culture. 1. ed. New York, USA: St. Martin´s Press, 2005.
DAVIS, Ângela. Mulheres, cultura e política. [ed. orig. 1990]. 1. ed. São Paulo, SP: Boitempo, 2019.
FERNANDES, Ana Claúdia Florindo. O Rap e o Letramento: A construção da identidade e a constituição das subjetividades dos jovens na periferia de São Paulo. Dissertação (Mestrado) — Escola de Educação, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, 2014.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 2. ed. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 1998.
_______ Da diáspora - identidades e mediações culturais. 1. ed. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2003.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Cobogó, 2019.
LEAL, Sérgio José de Machado. Acorda Hip-hop! Despertando um movimento em transformação. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano, 2007.
MCK. Nutrição espiritual. Luanda: Masta K Produsons, 2006.
______. Proibido Ouvir Isto. Luanda: Masta K Produsons, 2011
______. V.A.L.O.R.E.S. Luanda: Masta K Produsons, 2018.
OLIVEIRA, et al. Imagens: resistências e criações cotidianas. Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient. Rio Grande. p. 388-410, jun. 2020. E-ISSN 1517-1256.
PONCIO, Gabriel Rodrigues. Projeto de intervenção profissional: se elas são as presas, quem são os predadores?1. ed. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2014.
SALLES, Ecio. Poesia revoltada. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano, 2007.
SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramentos de resistência poesia, grafitti, música, dança: Hip-hop. 1. ed. São Paulo, SP: Parábola Editorial, 2011.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciando o passado: Poder e a produção da história.1. ed. Curitiba, PR: Huya, 2016.
Data do envio: 04/09/2024.
Data do aceite: 05/11/2024.
Revista Aleph - Niterói, dezembro de 2024, nº 42, p. 1 - 26 ISSN 1807-6211
[1] Este artigo é resultado parcial do projeto de pesquisa “Política e Música: A Vida Social Angolana No Rap De MCK”, desenvolvido por Miguel Lombas, sob orientação do Gustavo Henrique Rückert, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), no âmbito do Mestrado.
[2] Doutorando em Estudos Literários pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, Brasil. Contato: lombadas1990@gmail.com ORCID: 0000.0002-6182-2708.
[3] Doutor em Estudos de Literatura, com ênfase em Literaturas Portuguesa e Luso-Africanas pela mesma instituição. Professor Adjunto de Literaturas em Língua Portuguesa na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Email: gh.ruckert@gmail.com ORCID0000-0002-9267-5229.
[4] Núcleos de pesquisadores voltado aos estudos sobre Hip-Hop a nível mundial.