DOI: https://doi.org/10.22409/mov.v7i12.42359


APRESENTAÇÃO


É com grande satisfação que apresentamos às leitoras e aos leitores a décima segunda edição da Movimento – Revista de Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação e da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. O presente número inclui o dossiê intitulado Marxismo(s) e Educação Popular, além de cinco artigos de fluxo contínuo.

Com oito artigos, uma entrevista, um documento e duas resenhas, o dossiê Marxismo(s) e Educação Popular ressalta a importância do pensamento marxista para analisar a realidade. As autoras e os autores evidenciam a atualidade de intelectuais como Paulo Freire, Antonio Gramsci, Karl Marx, Vladmir Lênin, Friedrich Engels e Bell Hooks, sempre com vistas à análise da educação popular. Destacamos que as contribuições vieram de quase todas as regiões do Brasil, além de um país vizinho, a saber, da Argentina. Isso evidencia a relevância do debate sobre a educação popular na América Latina.

O primeiro artigo do dossiê, intitulado Sentidos da educação popular na história brasileira, de Rodrigo Lima Ribeiro Gomes, aborda a temática da educação popular em perspectiva de “longa duração”. O autor recupera a história da educação popular do Brasil Colônia até os dias de hoje, procurando captar as mudanças de sentido ocorridas no conceito ao longo da história no país. Ele finaliza o artigo mostrando que a educação popular necessita de uma nova visão, a qual incorpore as contribuições locais dos movimentos do presente com as preocupações universais dos educadores populares do passado.

No artigo O marxismo e a educação popular, Cláudio Reis mostra a importância dos pensamentos de Marx, de Lênin e de Gramsci para a educação e o que esses autores entendem por princípio educativo. Além disso, o texto traz Paulo Freire – principal referência brasileira para se pensar a educação popular – para refletir sobre a educação do oprimido, apresentando a experiência dos povos indígenas. Assim, Cláudio Reis demonstra a relevância do pensamento marxista para compreender a realidade atual.

O artigo Educação (popular) e hegemonia, de Percival Tavares da Silva e Sérgio Miguel Turcatto, aborda as relações de hegemonia que atravessam a práxis da educação popular por intermédio das leituras de Marx, de Engels e de Gramsci. Os autores mostram de que modo a burguesia, por meio da educação, busca mecanismos de controle, de disciplina e de exploração da força de trabalho das massas. O texto faz referência à educação no Brasil e pontua que a crise educacional sobre a qual tanto se fala é, na verdade, um programa da burguesia para manter a hegemonia.

Em Antonio Gramsci y la crítica pedagógica como creación política, María Cecilia Pato trabalha com as reflexões e as contribuições teóricas de Gramsci no campo dos processos educacionais nas sociedades contemporâneas. A autora utiliza-se do pensamento crítico para examinar a relação entre a política e a educação.

No trabalho de Maria Antônia de Souza e Cecília Maria Ghedini, intitulado Pedagogia socialista, educação popular e educação do campo: problematizando a escola pública no/do campo, as autoras têm por objetivo problematizar a escola pública no/do campo a partir da concepção da educação rural e da educação do campo. O texto também apresenta os obstáculos para que a Pedagogia Socialista e a Educação Popular fundamentem políticas e práticas educacionais, por meio de registros de trabalhos com professores de escolas públicas na Região Metropolitana de Curitiba e no Sudoeste do Paraná.

No texto Educação popular e mapeamento social: uma experiência de ação cultural no Acampamento Padre Josimo MST, TO, de Rejane Cleide Medeiros de Almeida, analisam-se as práticas de educação popular no Acampamento Padre Josimo, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Tocantins, na luta pelo território. A metodologia utilizada pela autora foi a realização de duas oficinas de mapas no acampamento em 2018, por meio das quais se buscou transformar “a cultura do silêncio”.

Já no artigo Educação popular nas lutas libertárias contemporâneas, de Carla Cristina Lima de Almeida e de Ana Lole, examina-se o caráter emancipatório da educação popular articulada às lutas contra as desigualdades de classe, de gênero, de sexualidade e de raça. Para tanto, as autoras recorrem ao pensamento de três importantes intelectuais, a saber, Antonio Gramsci, Paulo Freire e Bell Hooks, os quais articulam o lugar da educação, no seu sentido amplo, na construção da práxis libertadora.

Por fim, o último artigo do dossiê é de autoria de Sebastián Gómez: Las tesis desescolarizantes de Iván Illich en los primeros años 1970 en Argentina. La traducción de una polémica italiana en la Revista de Ciencias de la Educación (1970-1975). Nele o autor reconstrói os traços principais da polêmica em torno das teses de Iván Illichas as quais tiveram evidência na Itália no final de 1972 e início de 1973. Além disso, o pesquisador também hipotetiza sobre as razões que levaram a Revista de Ciencias de la Educación (RCE) a traduzir e a compilar aquela polêmica no vertiginoso ano argentino de 1973.

Em seguida, a entrevista com o professor Luiz Augusto Passos da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Passos é filósofo e possui uma vasta experiência em Educação Popular urbana e junto aos povos indígenas. Na entrevista, realizada por Ana Lole e Percival Tavares da Silva, percebemos a grande vivência do entrevistado na Educação Popular, o que nos leva a sentir “a chama ardente da educação popular entre nós”.

Na seção Documento, consta com um artigo de Eric Hobsbawm, inédito no Brasil, publicado na Revista italiana Rinascita em 1987. A tradução foi realizada por Anita Helena Schlesener. Neste artigo "Para entender as classes subalternas”, Hobsbawm comenta a influência de Gramsci no campo do marxismo no mundo e ressalta como o filósofo sardo influenciou o campo da história da ideologia, da cultura e da formação do senso comum. Cabe lembrar que, neste 27 de abril de 2020, faz 83 anos da morte de Gramsci.

Fechamos o Dossiê com duas resenhas. A primeira delas, escrita por Larissa Costa Murad, trata do livro O fermento de Gramsci na nossa filosofia, política e educação”, organizado por Ana Lole e publicado pela Mórula Editorial em 2018. A publicação é produto de um trabalho coletivo que se desenvolveu a partir do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Filosofia, Política e Educação (NuFiPE) na UFF e os textos trazem aspectos da obra de Gramsci para a análise da realidade brasileira.

A segunda, produzida por Herculis Pereira Tolêdo, resenha o livro A atualidade da filosofia da práxis e políticas educacionais”, organizado por Anita Helena Schlesener, André Luiz de Oliveira e Tatiani Maria Garcia de Almeida e publicado pela editora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) em 2018. A publicação traz escritos de pesquisadoras e de pesquisadores de diversas regiões do país, os quais traduzem os escritos de Marx, de Lênin e de Gramsci para a atualidade, mostrando a importância desses autores para análises profícuas da conjuntura brasileira no campo da educação.

Esperamos que a leitura do dossiê possa acalentar e fortalecer o espírito crítico e combativo em tempos tão difíceis, em que mais do que nunca a urgência é reinventar o presente.


Boa leitura!



Ana Lole

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Rio de Janeiro, RJ, Brasil


Anita Helena Schlesener

Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)

Curitiba, PR, Brasil

Movimento-Revista de Educação, Niterói, ano 7, n.12, p.26-29, jan/abr. 2020.