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v.17, nº 32, jan-abr (2019) ISSN: 1808-799 X


LUTA DE CLASSES E PERSPECTIVAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA1

Emir Sader2


Boa tarde! Obrigado pelo convite! Eu sou um professor como vocês. Desde o terceiro ano do meu curso de Filosofia na USP eu dou aula sempre em escola pública, sempre com concurso, com muito orgulho e com muito amor.

É a primeira conferência que eu faço depois do resultado eleitoral. As coisas mudaram. E mudaram para pior. Nós temos que entender o tamanho da derrota, as contradições da situação e o novo cenário que nós temos pela frente. Inquestionavelmente, é uma derrota da esquerda, do campo popular, da educação pública e dos trabalhadores porque eles derrubaram a Dilma, condenaram e prenderam o Lula e ganharam a eleição. Não é pouco. O que nós tínhamos há quatro anos atrás era uma quarta vitória eleitoral de um programa que diminuiu fortemente a desigualdade no país, país que era conhecido como o mais desigual do continente mais desigual. Um país no qual a gente passou a ter orgulho de viver, um país que a gente tinha presidentes que eram respeitados mundo afora. E agora, nós temos uma coisa dramática sobre a qual nós ainda estamos pensando o que exatamente vai ser. Eu escrevi um artigo, outro dia, intitulado “Que Brasil vai ser esse?”. É difícil saber, mas vamos fazer um pouco de análise para saber o tamanho do enfrentamento.


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1 Conferência proferida no IV Intercrítica (Intercâmbio Nacional dos Núcleos de Pesquisa em Trabalho e Educação), realizado entre 26 e 28 de novembro de 2018, no campus central do IFRN, em Natal/RN.

2 Emir Sader, formado em filosofia pela USP, com mestrado em Filosofia e doutorado em Ciência Política, ambos pela Universidade de São Paulo (USP), por onde se aposentou como professor de sociologia. Atualmente, dirige o LPP (Laboratório de Politicas Publicas) da UERJ.

A crise não acabou, a crise mudou a forma – as eleições de 2014 e seus desdobramentos


Nós vivemos, em 2014, a mais profunda e prolongada crise da história do Brasil. Não só pela reação da direita, mas porque ali estavam as raízes do que aconteceu depois. A gente podia ir muito atrás se quisesse, em 2013 e tudo mais, mas vamos tomar as eleições de 2014, que foram dramáticas, em que o Nordeste salvou o Brasil de uma derrota do projeto popular. Vamos recordar que a Dilma ganhou por uma diferença exígua de 3% mais ou menos, tendo feito um governo muito bom do ponto de vista das políticas sociais. Praticamente todo o programa Minha Casa Minha Vida foi do primeiro mandato da Dilma. O extraordinário programa Mais Médicos foi do primeiro mandato da Dilma. A continuidade do Bolsa família, de uma rede de proteção às pessoas mais desamparadas veio, em grande parte, do primeiro governo da Dilma. Houve problemas, houve erros e eu diria, se fosse localizar um erro maior, foi o silêncio. O Lula falava, o Lula argumentava, o Lula comentava, o Lula criticava, isso é fundamental. Foi um erro imaginar que a gente fazendo boas políticas sociais ganha a consciência das pessoas, porque entre as medidas e a consciência está a interferência dos meios de comunicação.

Para resumir, o resultado final, no centro-sul e no sul do Brasil, nós perdemos de dois terços a um terço. Nós ganhamos no Nordeste e no norte de Minas (que é uma espécie de Nordeste) com mais de 70% de votos e daí foi possível nossa vitória. Isso quer dizer que um candidato como o Aécio teve 52 ou 53 milhões de votos, dos quais, provavelmente, 30 milhões é de beneficiários das nossas políticas sociais, certamente camadas populares. Então, no sul e no centro-sul, nós perdemos a maioria da população trabalhadora, da população pobre, para um candidato de direita que não tinha o que dizer e não tinha proposta a fazer. Prometia que manteria as propostas sociais dos governos do PT, mas seus gurus econômicos diziam exatamente o contrário. Então, foi uma situação dramática, uma situação em que nós ganhamos por pouco e aí está o problema do Brasil e de outros países que tiveram governos progressistas ou ainda têm: perdemos uma parte dos beneficiários das nossas políticas. Vocês conhecem os argumentos, os argumentos não eram que sua vida melhorou porque mudou o governo e o governo dá prioridade às políticas sociais. Os argumentos eram “eu me esforcei”, “Deus me ajudou”, como se ele fosse

preguiçoso nos anos 90 e como se Deus não estivesse de plantão nos anos 90. Em suma, se deixaram levar por esses argumentos.

A disputa fundamental da agenda nacional nós conseguimos ganhar em 2002 e depois sucessivamente, quando convencemos a maioria da população que o problema principal do Brasil é a desigualdade social. É a fome, a miséria e a exclusão social. Priorizando as políticas sociais nós ganhamos a maioria da população. O Lula chegou ao final do seu segundo governo tendo 80% de referências negativas na mídia e saiu com apoio de 87% porque convenceu a grande maioria do país que a prioridade no Brasil é a democratização social.

Nós tínhamos democratização política quando saímos da ditadura, mas nunca tivemos democratização social. Tivemos durante 12, 13 anos. E essa foi a grande transformação que houve naquele período. Ao longo do primeiro governo da Dilma nós fomos perdendo a centralidade da questão social na cabeça das pessoas. Inclusive, porque a Dilma pretendeu, corretamente, diminuir a taxa de juros ao nível internacional para não atrair capitais especulativos e ela foi vítima de uma brutal campanha da qual as mobilizações 2013, olhando retrospectivamente, fazem parte. Aí começou a desqualificação da política, pois quando se falava “contra tudo isso que está aí”, era contra o PT. Quando se falava “o gigante despertou”, negava que tinha havido 10 anos de melhoria das condições de vida da massa da população. Então, na verdade, houve uma instrumentalização daquelas manifestações que começaram a reverter a agenda nacional. Até aquele momento, inclusive, a imagem do Brasil no mundo é extraordinariamente positiva. O Lula era mais conhecido do que o Pelé, coisas formidáveis como imagem no mundo. A partir daquele momento começou a mudar porque não era só contra a política, era a desqualificação do Estado, por corrupção do PT. O PT como partido corrupto. A centralidade deixou de estar na questão social e foi deslocada para a questão da corrupção - o problema fundamental do Brasil seria a corrupção e a operação Lava Jato veio consolidar e cristalizar isso. Foi se criando o clima que levou ao Golpe que derrubou a Dilma.

Não vamos entrar em mais detalhes, mas obviamente houve erros graves no começo do segundo mandato da Dilma, especialmente o ajuste fiscal que ela tentou colocar em prática. Errado, equivocado e socialmente injusto, porque recaía só sobre os trabalhadores e sem penalização das grandes fortunas, das heranças, nada disso. Foi economicamente ruim porque quanto mais se corta, mais aumenta a

recessão. E politicamente desastroso porque ela tinha ganho com um pouco mais de 50% e de repente baixou sua popularidade para 8% ou 10%, mesmo nos estados do nordeste.

Então, aí se consolidou um clima que a direita aproveitou para criar um cenário de instabilidade política, social e econômica no Brasil, com a ideia de que o Brasil estava em uma situação econômica crítica, com a ideia de que o Brasil estava dominado por um clima de corrupção e vocês sabem, através de argumentos que não tinham nenhum fundamento constitucional, impuseram o impeachment. Mais grave do que isso, o judiciário se calou. O judiciário está feito para abrir a constituição e saber se tal ou qual comportamento está dentro das normas constitucionais. Não é que ele se pronunciou a favor ou contra. Não se pronunciou, calou-se simplesmente. Decidiu sobre tudo, até sobre pipoca no cinema e não opinou sobre o caso mais grave da história política dentro do Brasil, que era derrubar uma presidenta sem argumento legal nenhum (a tal das pedaladas fiscais), que tinha acabado de ser reeleita. Então, foi gravíssimo aquele episódio e abriu o período que acabou levando à situação eleitoral que nós tivemos agora. Passamos a ter uma espécie de regime de exceção, passou a haver um processo de judicialização da política. O judiciário passou a se considerar com poder para julgar, por cima do voto popular, quem tem direito. Foi se configurando aquilo que é a nova estratégia da direita no Brasil e fora do Brasil.


A estratégia híbrida num novo tipo de golpe


O Brasil tinha inaugurado, em 1964, a modalidade de ditaduras militares. Mas as ditaduras militares não eram mais possíveis, inclusive, tem um consenso latino- americano de punir países que tentassem golpes militares. Então, o tipo de golpe mudou. É o que se chama de estratégia híbrida. Tem um livro escrito por um jornalista russo e publicado pela editora do MST, Expressão Popular, que se chama exatamente Estratégias Híbridas, e que é muito bom - eu recomendo fortemente. Como é que tal estratégia se deu no Brasil? Se deu pela combinação de um Congresso Nacional majoritariamente financiado com recursos privados. A Odebrecht chegou a dizer que ela financiou (que ela elegeu, na prática) 150 parlamentares, quer dizer, seria o maior partido do Brasil. Ao invés dos caras estarem com camiseta de tal ou qual partido, eles deveriam estar com a camiseta da

Odebrecht, num lugar determinado. O que é demonstrativo do peso brutal do poder econômico, instrumentalizado pelo Eduardo Cunha, naquele momento. Foi um elemento fundamental, sem o qual não teria sido possível, política e juridicamente, a derrubada da Dilma. Em segundo lugar, os meios de comunicação passaram a ter um poder enorme para condenar as pessoas sobre as quais se levantavam suspeitas no judiciário. A desqualificação pública de personagens através da ideia de que é corrupto, está condenado, etc e tal, antes mesmo de haver um julgamento das pessoas. Isso favoreceu que o judiciário, através da Lava Jato em particular, judicializasse a política e começasse a fazer o que se chama de lawfare, uma expressão inglesa que vem na verdade da ideia de guerra, mas guerra das leis. Trata-se da utilização arbitrária das leis para perseguição política. É óbvio que o caso do Lula é o caso mais escandaloso. Não há nenhuma prova para condenar e nem sequer para processar o Lula. O próprio juiz que coordenou o processo, que montou as delações premiadas, disse que não tinha provas para condenar o Lula, ele tinha convicções. Convicção é algo subjetivo; o direito se faz baseado em provas, ou então não se pode condenar absolutamente ninguém. É um caso claro de perseguição política. Antes mesmo dele [Moro] aderir ao governo do Bolsonaro, vocês sabem como é que ele tratava e trata o Lula para os seus parceiros, por escrito e oralmente? Ele chama o Lula de “nine” - em inglês, que é o seu idioma original -, desqualificando o Lula por ter tido um acidente de trabalho. Não tem coisa mais depreciativa e discriminatória do que chamar uma pessoa por isso, dessa maneira, demonstrando que ele não tinha nenhuma isenção.

Das coisas mais escandalosas do judiciário brasileiro é que, reiteradamente, com todo comportamento político do Moro, o judiciário diz que ele é isento. Isento para julgar o Lula? Ele é o inimigo político e perseguidor do Lula, é isento de imparcialidade, de vergonha ou de qualquer outra coisa, menos disso. As leis foram instrumentalizadas para a perseguição política. Não vou comparar o Lula ao Aécio porque é covardia e o Lula não merece ser comparado com o Aécio, mas olhem os casos escandalosos de confissões declaradas, como no caso do Aécio ou do governo Temer. Nunca teve uma quadrilha tão grande dirigindo o governo! Talvez tenha, a partir de primeiro de janeiro, uma pior ainda. Mas comparar isso com o Lula, contra quem não há nenhuma prova? Onde é que está o dinheiro? Onde é que estão as vantagens? Onde é que está o apartamento? É um escândalo em termos

judiciais! Então, a combinação do congresso, dos meios de comunicação e do judiciário configura a nova forma de golpe, uma forma de judicialização da política, em que o judiciário se arvora o direito de decidir quem pode ou quem não pode ser candidato. O Aécio pode ser candidato, mas o Lula não pode ser candidato. Esses bandidos que estão no governo Temer podem ser ministros, mas o Lula não podia ser ministro da Dilma. Não vou repetir porque são escandalosas e não é necessário reiterar mais isso, mas foi uma nova forma de golpe que, na realidade, destrói a democracia política. Basta dizer que até às vésperas do início da campanha eleitoral qualquer pesquisa dizia que o Lula ganharia no segundo turno, então, a vontade popular era uma e o que acabou prevalecendo foi a outra, porque Lula foi proibido de ser candidato.

A democracia está desarticulada. Eles ganharam, mas ganharam com tramoias, forçando as leis para transformá-las em instrumentos de perseguição política. Aconteceu com o golpe contra a Dilma, com o processo da condenação do Lula e aconteceu com a eleição deste ano. Vocês se lembrarão que até uma segunda-feira determinada, numa semana que terminaria com uma manifestação do Ele Não das mulheres, o Haddad passou na frente e liderava a campanha eleitoral, mas de repente, naquela semana as pesquisas eleitorais deram resultados radicalmente diferentes. Folga enorme de 10 pontos a favor do Bolsonaro. O que tinha acontecido naquele momento? Na perspectiva das manifestações das mulheres, quem acompanhou pela internet, viu as fotografias forjadas que não tinham nada a ver com a manifestação das mulheres, como se a manifestação das mulheres tivesse sido um bacanal, uma imoralidade. Na verdade, começava na quinta-feira a publicação de notícias falsas, multiplicadas aos milhões através de robôs. Vocês conhecem algumas delas, em especial a da mamadeira escandalosa. O Haddad é uma pessoa que é difícil forjar uma rejeição dele a partir do seu comportamento real, então, era preciso mentir, dizer que no Ministério da Educação ele tinha distribuído nas escolas aquelas mamadeiras e tinham até fotografias, dando uma ideia de veracidade. O kit gay e todas aquelas histórias multiplicadas aos milhões, mecanismo que foi descoberto por uma jornalista da Folha de São Paulo e que apontava, inclusive, os empresários que financiaram, mas o Tribunal Superior Eleitoral disse que não aconteceu nada.

Então, nós fomos tendo, a partir de 2016, uma espécie de regime de exceção. Já não era uma democracia, em grande medida porque o judiciário, que deveria estar cuidando das leis e do estado de direitos, passou a ser omisso ou agente de perseguição política, no caso da Lava Jato. Tivemos uma deformação enorme, mas ainda assim era possível ter ganho a eleição quando o Lula era candidato porque quando ele aparecia nas pesquisas, ele ganhava do Bolsonaro no primeiro turno. Não pesavam tanto ainda as igrejas evangélicas, que tiveram papel importante naquela virada, depois da manipulação de quinta, sexta, sábado e domingo. Ali vieram as igrejas evangélicas com um discurso brutal de desqualificação moral, do risco do PT.

Enquanto o debate se dava sobre o programa de governo – e o Haddad dizia que tinha o livro numa mão e a carteira de trabalho na outra - ele estava ganhando, mas eles conseguiram deslocar para outros temas: corrupção do PT, segurança pública e as questões morais. Supostamente, as crianças estavam sendo degeneradas nas escolas, então, era preciso proteger as crianças e tudo aquilo que vocês viram. Ele tem a vantagem de ser conservador porque isso mobiliza as pessoas, mobiliza família e tudo mais. Não porque o que o Bolsonaro defende seja majoritário no país, mas acontece que ele convocou uma quantidade grande de pessoas com aquilo que a pessoa tem de pior. Aquela mesma pessoa eventualmente é um trabalhador, mas tem uma postura machista, eventualmente agride a mulher e então acabou sendo mobilizado e convocado pelo seu pior lado.


Conservadorismo e atraso nas eleições de 2018


Há uma série de avanços importantes na sociedade a que alguns setores reagiram de maneira rancorosa, especialmente no caso dos homossexuais, LGBT. Avanços que foram uma decisão não do Congresso, mas do judiciário, mas que a sociedade acolheu com grande alegria, com grande felicidade de saber que toda forma de amor vale a pena. Qualquer pessoa pode escolher sua forma de vida, contanto que não prejudique aos outros. E estava se convivendo com isso. Passamos a ter nas ruas casais de homens ou de mulheres de mãos dadas, se beijando e tudo mais. Mas é uma coisa que setores rancorosos estavam resistindo a isso e, de repente, apareceu alguém que polarizou essa questão. O tema da homossexualidade é um tema que afeta muito aquela ideia de família tradicional,

parece que está fora da normalidade. O futuro ministro da educação disse que o sexo é uma questão biológica e natural. Desde a Simone Beauvoir que vem a história de que a mulher não nasce mulher, torna-se mulher. O “homem” e a identidade se fazem na identidade social que a gente cria. No entanto, voltamos para aquela coisa conservadora do “papai” e “mamãe”. Bolsonaro já falou que quem dá educação sexual são papai e a mamãe, em casa. A escola dará informação, mas quem dá orientação é a família, projetando um ideal de “famíla estruturada”, onde todos continuam juntos, ninguém se divorciou, ninguém tem amante, não existe mais aquilo que é quase majoritário na sociedade, que é a mulher vivendo sozinha com os filhos.

Agora, a razão pela qual ele ganhou, não foi só por esses argumentos que conquistaram essas pessoas. No fundo, a razão mais importante foi que ele criou o pânico do PT, o medo do retorno do PT, como se os governos do PT não tivessem dado certo. Os governos do PT tiveram problemas, especialmente no final, mas fundamentalmente foram governos que deram certo, sendo um dos mais importantes governos do Brasil, do ponto de vista social, do ponto de vista da retomada do crescimento econômico, da retomada dos bancos públicos e de expansão do ensino. Foi esse conjunto de medidas que tentaram apagar e esquecer da cabeça das pessoas e é por isso que o Lula não pode falar. Por isso que na véspera de uma decisão do Supremo sobre um habeas corpus do Lula, o chefe do exército confessou há pouco tempo, que ele tinha que falar na noite anterior. E ele falou. Uma coisa brutal, pressionar o Supremo. Como se fossem as Forças Armadas pressionando o Supremo. Se fosse tomada outra medida, se o Lula tivesse sido libertado recebendo o habeas corpus, o processo estaria fora de controle, do controle deles. O Lula é o único líder popular do Brasil, é o único que fala para a massa da população. Nós não passamos aqui em Natal na caravana pelo nordeste, mas passamos pelo Rio Grande do Norte, pelo nordeste inteiro, pelos 9 estados. Eu estive nas 4 Caravanas e, especialmente no Nordeste, é uma maravilhosa história de amor correspondido do Lula com o povo e do povo com o Lula. Nsse livro que eu organizei, está o Lula, está o povo e o fotógrafo do Lula, o Stuckert, com essas imagens maravilhosas que vocês podem ver nos exemplares que eu trouxe para cá.

Então, o Lula é uma besta, é o diabo. É o diabo e ele tem que desaparecer, ele tem que morrer, porque a simples presença dele é uma denúncia do que eles

fizeram com o Brasil esse tempo todo. A Gleisi falou essa semana, quando a folha de São Paulo se deu ao luxo de mais uma vez criticar o PT perguntando onde estava a autocrítica do partido, ela falou: “Vocês têm 100 anos de idade, aprovaram os piores governos que fizeram do Brasil uma oligarquia com a maior desigualdade social do mundo. Cadê a autocrítica de vocês?” O PT fez um governo que diminui a desigualdade, promoveu os direitos sociais e o Lula é a personificação disso. Vocês conhecem a trajetória da famosa família Silva e do próprio Lula: que só tomou café aos 7 anos de idade, que viajou 13 dias no pau de arara com a única camiseta que cada um da sua família tinha, que foi engraxate, foi office-boy e se tornou o maior presidente da história do Brasil, o líder político do século XXI. É um caso extraordinário. Eles têm que prender esse cara, não podem deixá-lo solto. Imaginem o Lula solto! A primeira coisa que ele iria fazer era retornar uma caravana pelo Nordeste. Como é que ele ia ser recebido? Ele já era um mito, ele sim, um mito. Imagine o Lula voltar? Cada um fica pensando em que abraço dar nele e o que vai dizer para ele. Aquelas lágrimas que as pessoas tinham, imagina agora com nossa impotência diante dele na circunstância que ele está? A comunicação com ele é por escrito. Quando a gente fala “Boa noite, Lula!” no fim da tarde, ele aciona três vezes a luz da sua cela para mostrar que está ouvindo. O Lula está reduzido a isso. É uma situação dramática e, sem exagerar, eu assino embaixo, dizendo que o melhor brasileiro está preso e o pior brasileiro vai ser presidente do Brasil. Um paradoxo brutal. Como é que foi possível isso? Foi por isso, pela deterioração do modelo democrático pelo uso das leis contra o exercicio da soberania política, pela manipulação das informações em relação ao candidato que representava o Lula e pela criação na memória, na cabeça das pessoas de diabolização do PT. Porque os dois fatores que levaram à vitória eleitoral no final da campanha do Bolsonaro foram: primeiro, a corrupção e a corrupção do PT, o único partido corrupto. Segundo, a questão da segurança pública, para a qual ele não tem nenhuma solução que não seja o armamento mais generalizado da população. Mas ele aparece como alguém que se preocupa com isso. Vocês sabem que em grandes regiões, de São Paulo e do Rio de Janeiro, a população pobre está desvalida entre traficantes, milicianos e polícia e aparece ele se preocupando com isso. Quando nós vamos procurar solução para isso, a solução é nenhuma. O único exemplo que ele deu é que um caminhoneiro, se tiver um revólver, pode resistir a um assalto. A população se armar

não representa nenhum avanço e nenhuma proteção. E a esquerda não conseguiu tratar a questão da corrupção devidamente porque é uma pecha que vem sendo jogada em cima do PT desde 2005. A questão da segurança pública, não somos demagógicos para falar que vamos resolver do dia para a noite, porque é uma questão com outras dimensões, tem o narcotráfico incluído, e tudo mais. Tudo isso foi complementado com esses kits morais fabricados, que acabaram gerando um papel importante das Igrejas Evangélicas, explorando esse mecanismo, apoiadas nos robôs, na multiplicação das fake news e acabou levando ao resultado eleitoral.

Então, o juiz roubou uma, duas, três vezes. Agora, o campeonato não acabou, mas esse jogo eles ganharam. O que muda nisso tudo? Primeiro, que a iniciativa é deles, quem está no governo toma as iniciativas. Qualquer barbaridade que o Bolsonaro diga é reproduzida. Ele tem nas mãos o direito de escolher os seus assessores e como ele não é nada, ele está, perigosamente, cada vez mais incorporando militares em cargos importantes. Não sei quem é pior, militar ou aqueles imbecis na educação ou nas relações exteriores, até porque não são militares tradicionais (repressivos, mas com certo tom nacionalista), agora eles são absolutamente neoliberais e corruptos. Vários deles que estão aí têm casos de corrupção escandalosos. Bolsonaro está cercado por militares e mesmo não sendo as Forças Armadas como instituição, é claro que eles as representam.


Criminalização dos movimentos sociais e ataque aos direitos dos trabalhadores


O perigo não é um golpe militar, o perigo é isso que está acontecendo agora: a militarização do poder político e blindagem do poder do Estado. É como se a direita dissesse: “Poxa, nós cometemos erros, possibilitamos que o PT ganhasse 4 vezes seguidas e agora nós vamos tomar as medidas para o governo nunca mais escapar das nossas mãos.” Estão fazendo isso não só em medidas de repressão e desqualificação da instituição pública, mas também em medidas institucionais que podem dificultar novamente a esquerda a ganhar as eleições no Brasil. Não só com aquilo que já existe no Tribunal Superior Eleitoral, que é totalmente parcial; meios de comunicação nas mãos de algumas poucas famílias, articuladas com a direita, mas também o Supremo Tribunal Federal, que fica quieto ou adota medidas concretas, inclusive de criminalização dos movimentos sociais. Vão primeiro aos movimentos

sociais com a ideia de que o MST e MTST não respeitam o direito de propriedade e vocês sabem que o direito à propriedade é o direito mais sagrado da democracia liberal, embora tenha a ver com o direito de poucas pessoas. Onde é que está o direito ao trabalho na nossa Constituição? Não está! Se algum movimento social ocupa terras improdutivas e bota para produzir, o dono daquela terra, que mora numa cidade talvez no sul do Brasil, liga para a polícia e a polícia vai lá. Tem efetividade a reclamação do direito da propriedade, que se materializa numa ação da polícia. Mas se perde o trabalho, vai reclamar para quem? Bispo de Taubaté? Não tem para quem reclamar, nem sequer um telefone. Agora, pior do que isso, com a desqualificação dos direitos dos trabalhadores, a maioria dos trabalhos são intermitentes e informais. Parece que é melhor ser informal do que formal, mas na verdade ser informal quer dizer trabalhar sem a carteira de trabalho, sem direitos estabelecidos e sem a garantia que a gente vai trabalhar no mês que vem. Querem que a gente seja flexível ou inflexível? Flexível. Só que na verdade a palavra real é: trabalho precário, trabalho sem carteira de trabalho.

Durante o governo do Fernando Henrique, um governo neoliberal, a maioria dos trabalhadores brasileiros passou a estar na informalidade, nos trabalhos precários. No governo do PT foi se recuperando isso. Lentamente, mas foi se recuperando. A maioria dos trabalhadores já tinham carteira de trabalho mas não é só carteira de trabalho, é sindicato, é campanha salarial e tudo mais. Agora, apagaram tudo isso. É como se na campanha salarial sentassem uns e outros e os empresários dissessem: “Bom, vamos discutir. Primeiro ponto: qual é a jornada semanal de trabalho?” Porque não está definido que seja aquela. Esse banco de horas faz parte da ideia de que possa trabalhar 12h hoje, 3h amanhã. Pior ainda, o banco de horas significa a negociação individual com cada trabalhador, aumentando a desqualificação do sindicato. Além do mais, do dia para a noite, terminaram com o imposto sindical, que leva a uma falência econômica do sindicalismo brasileiro. Então, estão realizando aquele sonho da direita brasileira que era destruir todos os direitos que o Getúlio tinha implementado, que o Lula tinha consolidado, terminando com a Consolidação das Leis Trabalhistas, que vem de 1943. Então, a situação social dos trabalhadores é a mais fragilizada desde a República Velha. Vocês sabem que o Washington Luís, que em São Paulo é consagrado - quem for a São Paulo sabe que tem avenidas, tem tudo em homenagem a ele. São Paulo é tão reacionário

que os dois ídolos de São Paulo são os Bandeirantes, matadores de índio, e Washington Luís, da Revolução de 1932, que é contra o direito dos trabalhadores e contra Getúlio Vargas. Retrocedeu-se a isso. Porque Washington Luís, a frase famosa dele é que a Questão Social é caso de polícia, é dar porrada, é repressão. Esse é o cara consagrado pela elite paulista. Então, os trabalhadores estão retrocedendo a uma situação de fragilidade imensa. Mas não é só isso, porque há todo um quadro social. Com aquela medida que congelou os recursos para as políticas sociais, só estamos vendo se perpetuar aquilo que tinha desaparecido. Essa imprensa é tão imoral que nunca disse que nos governos do PT tinha desaparecido as crianças vendendo bala na rua e famílias vivendo na rua era praticamente uma exceção, porque estavam integrados de alguma maneira a algum tipo de política social. Voltou escandalosamente aquela situação doída, trágica e imoral de viver no Brasil, que é tropeçar nas pessoas morando, vivendo no meio da rua.

A razão de fundo pela qual fizeram tudo isso é uma única: a manutenção do modelo econômico neoliberal. A direita voltou ao governo com o Temer e mostrou que não aprendeu nada. Voltou a implementar a mesma política econômica de ajuste fiscal dos anos 90, que fracassou. Naquela época, pelo menos estabilizou a inflação, mas agora não tinha nenhuma conquista a prometer e a realizar, apenas ajuste. Cortar, cortar, cortar, cortar, aprofundou a recessão – lembra que temos 27 milhões de pessoas sem emprego no Brasil e sem expectativa de ter emprego no Brasil. Então, o Temer tinha euforia e em pouco tempo estava reduzido a 3% de apoio. O Macri, na Argentina, foi eleito com espetacular projeto de marketing e em pouco tempo a Argentina está na situação que está. Não vou dizer que é culpa dele a final da Libertadores, mas o clima de violência existente faz parte. Aqui querem que tenha escola sem partido e lá tem Libertadores sem jogo, sem partido. A Argentina, hoje, está numa situação mais dramática do que a do Brasil e o Macri, que tinha um prestígio por ter derrotado o peronismo com a campanha eleitoral marqueteira, está com prestígio lá embaixo. Então, quem tem esse programa econômico vai perder rapidamente o apoio popular. Provavelmente, vai aumentar a repressão, que é o que Macri está fazendo na Argentina porque quanto menos apoio popular, mais repressão. Mas, certamente, esse governo está condenado, tal qual os outros governos neoliberais, a perder o apoio da população.

Enquanto o Lula era candidato, a Igreja Evangélica não tinha esse poder que ela tem porque o evangélico é pessoa do povo, ele tem emprego ou ele está desempregado; ele tem salário ou não tem salário e assim por diante. Nós podemos interpelá-lo por um lado ou interpelá-lo por outro. Eles trataram de apagar esse lado e colocar as questões morais. Mas a vida cotidiana não se faz com isso, se faz com com feijão e arroz, se faz com emprego, se faz com salário e com mínima garantia de futuro. É isso que Lula representou e representa na cabeça das pessoas. Então, quaisquer que sejam as políticas que o Moro vai levar adiante - e ele está disposto a criminalizar tudo que ele puder -, a popularidade desse governo vai para baixo porque ninguém se alimenta de demagogia e de xingamentos. A vida cotidiana é feita de outra coisa. Então, o primeiro elemento é esse: eles vão perder apoio.

Em segundo lugar, eles vão tentar criminalizar os movimentos sociais e a esquerda porque sabem que é quem pode capitalizar o enfraquecimento dele. Por isso também vão tentar encadear condenações do Lula para inviabilizar que ele possa ser expressão do desencanto da massa da população, e da retomada da memória dos governos Lula. Só que o tempo vai passando, não dá para ficar só em base no que o PT já fez, embora tenha que se reiterar para contrapor e mostrar a diferença entre o governo do PT, o governo Temer e o futuro governo, que tem o ministro econômico mais radical do que o Meirelles. Ele é pinochetista, é Chicago boy. Ele falou que o Brasil não cresce pelas marcas social-democratas do país. Ele quer acabar com qualquer tipo de direito que traga custa para o patrão. Assim como na questão ecológica, o lema é liberar geral. Qualquer regulação do meio ambiente é um desgaste econômico. Ou como diz o ministro das relações exteriores do Bolsonaro: “A proteção do meio ambiente é uma forma de dificultar o crescimento das economias capitalistas, favorecendo a China.” Então, o Brasil acabou de cancelar a reunião do meio-ambiente, que ia acontecer no Brasil, dizendo que não tem dinheiro, mas na verdade é uma palhaçada e o governo vai tomar o caminho do Trump, saindo do acordo de Paris, para o qual o Brasil foi muito importante para contribuir e que é o máximo de regulamentação já conseguida até agora. Então, é desregulamentação generalizada. Neoliberalismo é desregulamentar. Quem pode, pode e quem não pode dança, numa espécie de luta de todos contra todos, só que em condições de absoluta desigualdade, num país tão brutalmente desigual, em que quem está por cima vai ganhar cada vez mais.

Nós entramos num período de instabilidade não menor do que antes. Agora tem um certo desconcerto e uma certa tristeza porque fomos derrotados. Mas agora nós temos a perspectiva de voltar a mobilizar a massa da população e essa perspetiva da direita não tem continuidade no tempo porque os pés deles são de barro, porque não aprenderam que essa política neoliberal leva à derrota. Os tucanos mantiveram e foram derrotados 4 vezes em condições de democracia aberta. Não incorporaram políticas sociais de jeito nenhum. Nós temos que ter capacidade de retomar nossos laços com a massa da população para fazê-la perceber, sentir qual é a sua situação real e quem é o responsável por isso. O Temer fala que está entregando a economia em bom estado e o Bolsonaro fala que vai receber a economia em péssimo estado por causa dos governos do PT. Primeiro se entendam: a economia está bem ou está mal? Segundo: a responsabilidade é de quem governou até 4 anos atrás ou de quem governou nos últimos 3 anos? Em suma, vão tentar contar histórias que não colam na massa da população. Hoje já tem muita gente desconcertada, tem gente na direita envergonhada. Muitos fecharam os olhos: “Não faz mal que ele seja a favor da tortura e da ditadura, contanto que não volte o PT.” Mas outros setores se sentem decepcionados porque ele juntou uma quantidade de políticos corruptos em torno dele. E isso possibilita que haja uma desmistificação da imagem dele. Além disso, sobretudo, é preciso dizer que o Temer e ele não governam para todos, não governam para a massa do povo brasileiro. Mostrar que tudo que eles falam é fumaça para esconder aquilo que é o mais importante: os empresários estão felizes e os trabalhadores estão descontentes. Vamos recordar que o Haddad continuou ganhando naqueles setores que a população é mais pobre, em todos os lugares. Então não é verdade que as igrejas evangélicas levaram os pobres para o outro lado. Não é verdade. O PT tem que fazer autocrítica? Tem! Mas a maior autocrítica é daqueles que achavam que não era possível um governo do PT, aqueles que disseram lá atrás que o PT tinha traído e Lula ia fracassar. O PT não traiu e o Lula não fracassou. O Lula foi o presidente mais importante da história do Brasil. Cadê a autocrítica desses setores? A autocrítica do PT tem que acontecer nos marcos de reconhecer os sucessos do governo do PT. Quando eles perderam os direitos, as pessoas começaram a se dar conta, ou têm mais propensão a se dar conta que não é porque se esforçaram mais ou menos, é porque mudou o governo. Este é um governo que governa para os ricos

e em especial para os banqueiros. Só tem um setor econômico no Brasil que está ganhando no Brasil e são os bancos. Não quer dizer que tem empresário bom, que é produtivo e outro que não é bom, que é especulativo. Todo grande grupo econômico, na sua cabeça, tem o setor financeiro que dirige. Os grandes grupos empresariais se financeirizaram, se tornaram grupos especulativos. Cada vez que se diz no final do dia que a bolsa de valores cresceu tanto, não se produziu nenhum bem e nenhum emprego, foi compra e venda de papéis.


Desafios das forças progressistas neste cenário


Para concluir, então, primeiro reconhecer a derrota. Segundo, saber as contradições dessa realidade. Não foi um jogo limpo, nem com a Dilma, nem com o Lula, nem com Haddad. Terceiro lugar, eles têm um governo que tem contradições profundas, especialmente, repito, pelo modelo econômico que é o que afeta a vida cotidiana de todo mundo, em todo o mundo. Em quarto lugar, eles vão endurecer a repressão e a linguagem de ameaças. O cara que vai cuidar do Instituto Agrário disse que vai fazer reforma agrária nos assentamentos do MST. O que ele quer dizer com isso? Vai retomar essas terras para dar para os latifundiários improdutivos? Estão com todas as ameaças. Tem coisas que temos que tomar como símbolos fundamentais, como linha de defesa para impedir que eles avancem ilimitadamente. Primeiro, a defesa da escola púbilca, das universidades públicas. Ali, as ameaças foram bem resistidas e até o Supremo teve uma postura favorável. Segundo, organizações sociais que são símbolo, como o MST, que tocam na questão da propriedade e que para eles são sagradas, temos que ter uma defesa intransigente. Terceiro, a questão LGBT, pela questão da diversidade de identidade na sociedade. Quarto, a questão da escola sem partido. Vamos recordar que ainda no final desse governo atual vai se votar na câmara, na comissão especial, a Escola sem Partido. Se for aprovado, vai para o novo senado, que é pior que o atual. Mesmo assim, muita gente de direita se pronunciou contra. O ACM Neto se pronunciou contra o Escola sem partido, o Olavo de Carvalho se pronunciou contra, a Globo também, então não é claro que eles possam ganhar. Um outro tema vai ser a reforma da

previdência, pendente há um tempo. Vamos ver se eles conseguem. Nós temos que retomar com o argumento com o qual os derrotamos. Claro que eles também não votaram pela proximidade das eleições e o medo dos parlamentares serem reprimidos pelos eleitores que não votariam neles. Mas nós conseguimos argumentar e levar à maioria da sociedade a ideia de que com esse mecanismo ninguém vai conseguir se aposentar. Vai morrer sem se aposentar. Então, esse argumento foi majoritário, se difundiu na sociedade e nós temos que retomar esse argumento para voltar a colocar a vida concreta das pessoas, não a ideia de que se gasta muito. Isso é uma mentira, não se toca no direito deles. No judiciário não toca, no congresso não toca e querem apertar para baixo. Então, temos que estar qualificados para retomar laços com a população e inclusive com a população evangélica, respeitando a religião deles, mas mostrando que a vida cotidiana deles vai ser afetada mais ainda do que nesse governo do Temer.

É uma hora dura para nós. É duro ver o Brasil desse jeito, é duro ver o que estão fazendo com o Lula e temos que ter muita força moral. É a hora do debate. Temos que debater e discutir para entender as coisas e não ficar só com postura psicológica nem de otimismo - de achar que eles vão se derrubar rápido e facilmente

-, nem de pessimismo – de achar que é uma coisa que veio para muito tempo. Essa é uma história de turbulência. Está marcado o Dia da Mulher em março, primeira grande manifestação popular nacional, das reivindicações sociais de todos os setores e muito em particular das mulheres. Então, é um período de luta dura, mas quem diria que o Lula seria eleito presidente do Brasil? Quem viveu o governo do Fernando Henrique e a desmoralização do movimento popular, a euforia que eles tinham! Fernando Henrique derrotou o Lula duas vezes no primeiro turno! Parecia imbatível e não foi isso que aconteceu. Nós temos capacidade de retomar a ofensiva, de nos reagrupar. Não somos menos que éramos antes, não perdemos influência porque somos nós; nós perdemos influência sobre o meio em que a gente atua. Nós temos que recuperar isso, falar com as pessoas, tentar convencê-las que o Temer governou para os ricos e o Bolsonaro vai continuar governando para os ricos. Temos que respeitar a religião, mas apontar que o basquete cotidiano vai ser o do achatamento dos salários, do desemprego e da recessão. Era isso que eu podia tentar ajudar na reflexão de todos nós, para sabermos exatamente onde a gente está. Houve um desenlace da mais profunda e prolongada crise brasileira, mas não

terminou a crise. Mudou a forma da crise porque temos um novo tipo de governo e nós temos que enfrentar esses novos obstáculos que eles colocaram para nós. São novos obstáculos que incluem as fakes news, significando para uma parte de nós uma capacidade de convencimento, atenção e sensibilidade para fazer com que a população passe a votar conforme seus interesses e não com a manipulação da verborragia teológica, teocrática dessa nova direita. Agora, é vergonha. É isso que a direita tem para oferecer para o Brasil? É Bolsonaro, é Olavo de Carvalho? Incrível! A elite brasileira, muito requintada e sofisticada, é isso que ela tem para oferecer? Temos orgulho de dizer o que nós temos para oferecer, eles têm vergonha. Daqui a pouco, principalmente setores da classe média, vão dizer que votaram no partido Novo, ninguém votou no Bolsonaro: “Não sei como esse cara passou para o segundo turno e ganhou a eleição”. Todo mundo vai contar histórias dizendo que achou que ele não faria isso. Mas ele disse expressamente o que ia fazer! Nós temos clareza sobre o que a gente fez, dos erros que cometemos, das conquistas que nós propiciamos e temos orgulho disso e eu acho que o Nordeste é a melhor demonstração disso. Não sou eu que vou falar para vocês no que o Nordeste se transformou durante aqueles anos, mas é por isso que o nordeste nos dá orgulho. A eleição dos governadores todos que vocês trouxeram. Eu até escrevi na internet para quem não aguenta mais aquele sul maravilha, vem prô nordeste, porque além de ser muito melhor, é muito mais bonito. Obrigado!


Recebido em: 30 de novembro de 2018. Aprovado em: 07 de fevereiro de 2019. Publicado em: 28 de maio de 2019.