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v.17, nº 32, jan-abr (2019) ISSN: 1808-799 X


MEMÓRIA, EDUCAÇÃO E RESISTÊNCIA NA BAHIA: A COMISSÃO MILTON SANTOS DE MEMÓRIA E DE VERDADE¹


Lívia Diana Rocha Magalhães2 Daniela Moura Rocha de Souza3


O grupo de estudos e pesquisa em História e Memória Geracional e trajetórias sóciogeracionais – GHEMPE, sediado no Museu Pedagógico da UESB, desenvolve a pesquisa “Educação, Memória e História da Bahia: processos autoritários e ditadura militar” tendo como norte o levantamento de documentos que dão suporte ao entendimento acerca dos processos autoritários que recaíram sobre estudantes, professores (as) e funcionários (as), baianos (as) durante a ditadura civil-militar (1964 - 1985).

Tomamos como parâmetro as discussões sobre memória arquivada (RICOEUR, 2007) memória coletiva e social (HALBWACHS, 2006), memória geracional (ARÓSTEGUI, 2004; MAGALHÃES, 2018), entre outras, priorizando a análise sobre memória dominante, memórias alternativas, memória e ideologia (MAGALHÃES, MASCARENHAS, 2011), buscando o potencial do documento no que corresponde à recomposição de memórias oprimidas silenciadas pela história oficial, a partir de uma perspectiva histórico-dialética.

Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), pela Lei de nº 12.528/2011, outras dezenas de comissões, similares a esta, foram instauradas nos âmbitos estaduais, municipais, inclusive em instituições de ensino superior em todo o


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1 DOI: https://doi.org/10.22409/tn.17i32.p28315

2 Doutora em Educação pela UNICAMP, com pós-doutorado em Psicologia Social pela UERJ. Professora plena do DFCH da UESB. Coordenadora geral do Museu Pedagógico e do Grupo de estudos e pesquisa em História e Memória Geracional e trajetórias sócio geracionais – GHEMPE. Vice coordenadora do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Memória: Linguagem e Sociedade pela UESB. lrochamagalhaes@gmail.com

3 Doutora em Educação pela UNICAMP, com pós-doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade pela UESB. Professora do DCH da UNEB campus VI. Vice coordenadora do Grupo de estudos e pesquisa em História e Memória Geracional e trajetórias sócio geracionais – GHEMPE.

profadanymoura@gmail.com

Brasil. No caso da Bahia, o Conselho Universitário (CONSUNI) criou a Comissão Milton Santos de Memória e Verdade, com o objetivo de agrupar documentos e depoimentos a fim de verificar o que se passou na UFBA, durante a ditadura civil- militar brasileira, sendo esta a única instituição de ensino em todo o território baiano a ser contemplada com essa ação. Apesar da decisão do CONSUNI ter sido em maio de 2012, a referida Comissão só foi formada no final de 2013.

A Comissão, instalada em dezembro de 2013, foi composta por docentes, alunos e funcionários da UFBA, sob a presidência do prof. Othon Jambeiro (Presidente). Em agosto de 2014, a Comissão divulgou o relatório final intitulado Golpe Civil-Militar de 1964 na UFBA: rompendo o silêncio do Estado e reduzindo o espaço da negação, contendo 173 páginas de relatos transcritos, documentos sigilosos do Gabinete da reitoria que incluía perseguição a estudantes, funcionários e professores, trocas de correspondências, atas, dentre outros documentos durante a ditadura civil- militar, além de disponibilizar 29 depoimentos de professores e estudantes, que na época sofreram repressão por serem considerados perigosos para o regime.

Os documentos estão disponíveis e podem ser acessados gratuitamente por meio do website: https://www.memoriaedireitoshumanos.ufsc.br/items/show/755. Como em breve também se encontrarão disponibilizados em nosso acervo digital disponibilizado no site do GHEMPE.

A partir do material apresentado por essa Comissão, e outros acervos por nós coletados, construímos um panorama de resistência na Bahia, onde a UFBA desempenha o papel de protagonista das manifestações de estudantes e professores em oposição ao regime instalado, dando início a uma série de iniciativas semelhantes, a fim de (re)direcionar os rumos da política educacional do período.

Este documento constitui uma referência máster da memória da resistência do campo educacional, e apresenta importantes revelações sobre a história silenciada pelo regime militar de 1964 a 1985 na Bahia.


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Fonte: Capa do relatório final da Comissão Milton Santos de Memória e Verdade, 2014.


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Fonte: Portaria de constituição dos integrantes da Comissão Milton Santos de Memória e Verdade, 2013.


Referências


ARÓSTEGUI, Julio. Historia del presente e interacción generacional. In: . La historia vivida. Sobre la historia del presente. Madrid: Alianza, 2004.


BAHIA. Golpe Civil-Militar de 1964 na UFBA: rompendo o silêncio do Estado e reduzindo o espaço da negação. Relatório final da Comissão Milton Santos de Memória e Verdade da UFBA. 173f. Salvador: Comissão Milton Santos/UFBA, 2014. Disponível em: https://www.memoriaedireitoshumanos.ufsc.br/items/show/755


ALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.


MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha. História, memória e geração: remissão inicial a uma discussão político-educacional. In: Revista Histedbr on-line. Vol. 14, n.55, 2018.


.; ALMEIDA, José Rubens Mascarenhas de. Relações simbióticas entre Memória, ideologia, história e educação. In: LOMBARDI, José Claudinei.; CASIMIRO, Ana Palmira B.S.; MAGALHÃES, Lívia D. R (Org.). História, Memória e Educação. São Paulo: Alínea, 2011.


RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: editora da UNIAMP, 2007.


Recebido em: 25 de fevereiro de 2019. Aprovado em: 28 de fevereiro de 2019. Publicado em: 28 de maio de 2019.