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v.17, nº 34, set-dez (2019) ISSN: 1808-799 X


ARQUIVO GERAL DOS TRABALHADORES: AÇÃO SINDICAL EM DEFESA DA HISTÓRIA DAS LUTAS DOS TRABALHADORES1


Maria Claudia Pereira da Silva2


A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens3


O SINTTEL RJ, Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Rio de Janeiro, de longa data investe, apoia e divulga iniciativas voltadas ao resgate e preservação da memória das lutas dos trabalhadores. Já na década de 1990 organizou seu próprio Arquivo, responsável pelo tratamento da produção documental da entidade e pelo desenvolvimento de projetos voltados ao resgate e registro da história da categoria, para, em seguida, constituir o Arquivo Geral dos Trabalhadores, espaço de custódia criado com propósito de receber, abrigar, reunir, tratar e preservar coleções individuais e de organizações, compondo um grande acervo coletivo organizado em fundos com a denominação do respectivo doador.

A partir da formação do Arquivo do Sindicato, além da instauração de uma política permanente de guarda e registro da trajetória de lutas da entidade, a história da organização sindical da categoria foi recuperada desde a sua origem com o acesso a documentos como os que retratam a fundação do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Telegráficas, Radiotelegráficas e Radiotelefônicas; o desmembramento do Centro Dos Operários e Empregados da Light e Companhias Associadas, a criação da Associação Profissional dos Trabalhadores em empresas Telefônicas e reconhecimento do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Telefônicas do Rio de Janeiro; as sucessivas alterações da base territorial que, inicialmente restrita ao então Distrito


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1 Texto recebido em 28/03/2019. Aprovado em 25/04/2019, pelos Editores. Publicado em 27/09/2019.

DOI: https://doi.org/10.22409/tn.17i34.p38062.

2 Pesquisadora do SINTTEL RJ, Coordenadora do Arquivo Geral dos Trabalhadores

3 LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990. p. 477.

Federal (futuro estado da Guanabara), chegou a abranger os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, todos posteriormente desligados, sendo este último excluído da base à revelia da vontade da categoria que, em plebiscito se manifestou contrária à divisão em dois sindicatos de trabalhadores em empresas telefônicas: o do estado do Rio de Janeiro e o do estado da Guanabara (que em 1975 passa a Município do Rio de Janeiro); a aquisição e inauguração da sede própria (Rua Morais e Silva, 94, Maracanã); o processo de fusão das entidades representativas dos empregados em empresas telefônicas e telegráficas que dá origem aos Sindicatos dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações e Operadores de Mesas Telefônicas (telefonistas em geral), os SINTTEL’s; e a unificação dos sindicatos do município e do estado do Rio de Janeiro, formando o SINTTEL RJ que conhecemos hoje.

Já o Arquivo Geral dos Trabalhadores foi formado a partir da cessão do acervo documental e bibliográfico do dirigente Francisco Izidoro, que ao longo de mais de 40 anos de militância social e sindical, como testemunha e agente de vários momentos importantes da história do país, pode acumular grande parte do material que circulou neste período, especialmente na imprensa sindical/operária e alternativa. Além deste material, o Arquivo vem sendo alimentado e enriquecido por outras cedências, como a do Núcleo Piratininga de Comunicação, repassado por seu criador, o pesquisador e escritor Vito Giannotti, grande fomentador da comunicação sindical.

O Fundo Francisco Izidoro, além de fotografias, audiovisuais, bottons, adesivos, cartazes, cartilhas, impressos e outros milhares de documentos textuais emitidos por correntes e partidos políticos de esquerda, sindicatos, centrais sindicais, movimento comunitário e outros, reúne cerca de 10.000 livros e 100.000 exemplares de periódicos. Nele temos documentados momentos decisivos da nossa história recente, como o processo de criação da Central Única dos Trabalhadores.

A Biblioteca constitui ampla bibliografia na área de ciências humanas, com ênfase no movimento sindical, direito do trabalho brasileiro, esquerda no Brasil e marxismo. O acervo de periódicos, segmento em mais adiantado estágio de organização, que hoje (somado aos cerca de 500 novos títulos pertencentes ao fundo Vito Giannotti) perfaz o total de 3.310 títulos catalogados, guarda importantes conjuntos de publicações de direito trabalhista e previdenciário, grandes coleções de publicações de partidos políticos e organizações de esquerda, centenas de jornais e

revistas alternativos, e, destacadamente, muito bem representa a produção da imprensa sindical.

Dentre as publicações alternativas, contamos com diversos e raros títulos que no período da ditadura militar deram voz à resistência enfrentando a censura, como a “Pif Paf”, 1ª revista de humor crítica ao novo regime, lançada apenas 1 mês após o golpe, e que circulou de maio a agosto de 1964, quando foi apreendida; “O Pasquim” que, publicado por renomados jornalistas e chargistas (dentre eles Millôr Fernandes e Ziraldo, que também participaram da “Pif Paf”), sobreviveu à ditadura apesar de ter seus realizadores várias vezes presos, circulando de 1969 a 1991; o semanário “Opinião”, editado de outubro de 1972 a abril de 1977, reuniu diversos setores da oposição, com grande participação de intelectuais e colaboradores no Brasil e no exterior; o jornal “Ex”, lançado em novembro de 1973, circulou por dois anos, quando a primeira edição do seu 16º e último número, que denunciou o assassinato do jornalista Wladimir Herzog, esgotou nas bancas e teve a 2ª edição apreendida pela repressão; o “Movimento”, editado de 1975 a 1981, cobriu o período final da ditadura, em particular, até que os atentados às bancas de jornal inviabilizaram financeiramente sua circulação; o “Em Tempo:”, lançado em 1978, precursor do boletim da Democracia Socialista, corrente do Partido dos Trabalhadores; a “Voz da Unidade”, iniciada em 1980, último órgão do PCB a circular em banca de jornal; e o “Jornal do PT”, primeira publicação do partido no estado, estreada em abril de 1980 pelo Movimento Pró Partido dos Trabalhadores / RJ.

Da imprensa sindical dispomos de impressos de diferentes categorias, de todas as regiões do país, representando desde movimentos de oposição e entidades que não tiveram condições de ir além de publicações esporádicas, a sindicatos como os “Metalúrgicos do ABC” e “Bancários do Rio de Janeiro” que chegaram a ter publicação diária de seus jornais por um longo período.

Ainda que frente a uma conjuntura de ataque aos trabalhadores, onde o governo federal, desrespeitando frontalmente o princípio da autonomia sindical, edita medida provisória que, ao “regular a forma de cobrança das contribuições sindicais”, tenta inviabilizar a sustentação financeira das entidades, o SINTTEL RJ mantém o compromisso de sustentar e alimentar o Arquivo Geral dos Trabalhadores com captações e aquisições, oferecendo espaço e infraestrutura de tratamento para abrigar novos fundos, com vista à futura divulgação e disponibilização do acervo em

ambiente próprio para consulta e estudo. Apresentamos a seguir alguns documentos que exemplificam a coleção.

No que tange à história do nosso sindicato destacamos as atas de fundação do Sindicato dos Telegráficos em 1931 e da Associação dos Telefônicos em 1940, o primeiro Estatuto do Sindicato dos Telefônicos de 1941, a foto da fachada da sede própria quando adquirida, em 1961, e o Estatuto elaborado após a conquista da liberdade de organização na Constituição de 1988, aprovado na assembleia que unificou os SINTTEL’s do estado e do município do Rio de Janeiro em 1990.

No Arquivo Geral, demostramos a riqueza do acervo destacando o primeiro número da revista “Problemas”, de 1947, publicação do Partido Comunista Brasileiro dirigida por Carlos Mariguella; exemplares de periódicos da imprensa alternativa e da imprensa sindical; e documentos de 1983 que registram a divisão no momento de redefinição do movimento sindical brasileiro, quando a tentativa de unificação a partir de um único organismo de representação a nível nacional acaba por dar origem a duas entidades distintas: CUT – Central Única dos Trabalhadores, fundada 28 de agosto e CONCLAT - Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora, criada em 6 de novembro. Concluímos afirmando nossa crença na importância da preservação da memória como instrumento de acesso a todo um conhecimento acumulado, para que nossa trajetória, com vitórias, conquistas e também derrotas, se perpetue, para nossa própria reflexão e para aqueles que virão.


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