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V.18, Nº 35 - 2020 (jan-abr) ISSN: 1808-799 X


DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v18i35.40499


REVISTA POLIVISÃO: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E EDUCAÇÃO INTEGRAL/INTEGRADA NA VISÃO DOS DOCENTES

DE UMA ESCOLA POLIVALENTE1


Maria Augusta Martiarena de Oliveira2


Resumo3

No ano de 1986, circulou na cidade de Osório, no estado do Rio Grande do Sul, a Revista Polivisão. Esse periódico era produzido pelos docentes da Escola Polivalente daquela cidade. Essa instituição integrou uma rede de escolas criada no âmbito dos acordos entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID). O objetivo do presente artigo é analisar a compreensão dos docentes de uma Escola Polivalente sobre educação integral/integrada e formação profissional. Para tanto, utiliza-se a imprensa pedagógica como fonte de pesquisa.

Palavras-chave: história da educação profissional; imprensa pedagógica; Escolas Polivalentes.


REVISTA POLIVISIÓN: EDUCACIÓN PROFESIONAL Y EDUCACIÓN INTEGRAL / INTEGRADA EN LA VISIÓN DE LOS DOCENTES DE UNA ESCUELA POLIVALENTE


Resumen

En el año 1986, circuló en la ciudad de Osório, en el estado de Rio Grande do Sul, la Revista Polivisión. Este periódico era producido por los docentes de la Escuela Polivalente de aquella ciudad. Esta institución integró una red de escuelas creada en el marco de los acuerdos entre el Ministerio de Educación (MEC) y la Agencia Internacional para el Desarrollo (USAID). El objetivo del presente artículo es analizar la comprensión de los docentes de una Escuela Polivalente sobre educación integral / integrada y formación profesional. Para ello, se utiliza la prensa pedagógica como fuente de investigación.

Palabras clave: historia de la educación profesional; prensa pedagógica; Escuelas Polivalentes.


POLIVISÃO MAGAZINE: PROFESSIONAL EDUCATION AND INTEGRAL/INTEGRATED EDUCATION IN THE VISION OF THE TEACHERS OF A POLIVALENT SCHOOL


Abstract

In the year 1986, the Polivisão Magazine was circulated in the city of Osório, in the state of Rio Grande do Sul. This journal was produced by the professors of Polyvalent School of the mentioned city. This institution integrated a network of schools created under the agreements between the Ministry of Education (MEC) and the International


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1 Artigo recebido em 24/06/2019. Primeira avaliação em 06/09/2019. Segunda avaliação em 04/10/2019. Aprovado em 12/01/2020. Publicado em 23/01/2020.

2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pelotas. Pós-doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. E-mail: augusta.martiarena@osorio.ifrs.edu.br e martiarena.augusta@gmail.com. https://orcid.org/0000-0002-1118-3573

3 Este trabalho faz parte de um projeto maior, intitulado “História e memória da educação profissional: o caso da Escola Maria Teresa Vilanova Castilhos – Escola Polivalente” e conta com um bolsista PIBIC

– CNPq e fomento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS.

Agency for Development (USAID). The purpose of this article is to analyze the understanding of the teachers of a Polyvalent School on integral/ integrated education and professional formation. For this, the pedagogical press is used as a research source.

Key words: history of professional education; pedagogical press; Polyvalent Schools


Introdução


Pensar como se constituíram historicamente as relações entre educação e trabalho, bem como as suas influências nas acepções, na legislação e nas práticas que envolvem a educação profissional é ponto importante para os historiadores da educação que se dedicam à compreensão da história da educação profissional. O presente trabalho pretende analisar a compreensão dos docentes de uma Escola Polivalente sobre educação integral/integrada e formação profissional. A proposta de ensino integrado está presente na Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Por integrar tal rede, considera-se fundamental dedicar-se à compreensão das concepções que se referem a esse tipo de ensino.

A análise de tal contexto se dá a partir da imprensa pedagógica como documento de investigação. Deve-se ter em conta que o presente estudo se assenta na Revista Polivisão, da qual conta-se com apenas três números. Tal periódico era produzido pelos professores da Escola Maria Teresa Vilanova Castilhos – Escola Polivalente e circulou na cidade de Osório, no estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1986. Os números foram encontrados no Arquivo Histórico Antonio Stenzel Filho, instituição ligada à Assessoria de Cultura da Prefeitura Municipal de Osório.

Considera-se relevante o estudo de um órgão da imprensa pedagógica, cuja circulação ocorreu no litoral norte gaúcho, pois há um número restrito de investigações sobre tal região. Além disso, embora existam pesquisas sobre a rede de escolas polivalentes, ainda há muito o que estudar sobre tais instituições e sobre os embates entre o tecnicismo proposto com a sua criação e a as práticas que vieram a se efetivar nas escolas. Ressalta-se, ainda, que os docentes que escreviam para tal revista nem sempre integravam o quadro da Escola Polivalente, mas atuavam na cidade de Osório, notadamente na rede estadual de ensino.

Como mencionado, o presente trabalho dedica-se ao estudo das concepções de ensino integrado, com base nos textos publicados na Revista Polivisão, cuja circulação ocorreu na década de 1980. Deve-se ter em conta que, o contexto em que tal órgão circulou na região é marcado pela redemocratização política, após vinte e um anos de governo ditatorial e ressalta- se que, o periódico foi publicado no primeiro ano de redemocratização. Torna-se necessário, ainda, apontar para o contexto de movimentos sociais em que os docentes da rede estadual,

rede a qual as escolas polivalentes vinculavam-se, encontravam-se4. Logo, o contexto político e social influenciou sobremaneira a escrita, as práticas e os debates que serão apresentados neste estudo.

A Escola Polivalente e a Revista Polivisão


A Escola Maria Teresa Vilanova Castilhos é fruto dos acordos firmados entre o então Ministério da Educação e da Cultura (MEC) e a Agência Internacional de Desenvolvimento (USAID). Essa agência internacional contratou quatro especialistas para atuaram como consultores por dois anos, em conjunto com quatro educadores brasileiros, constituindo-se como a equipe responsável por implementar as ações previstas pelo convênio, estruturando-se a EPEM (Equipe de Planejamento do Ensino Médio) nacional, integrada por oito membros. Tal grupo assessorava os estados na implantação das EPEMs locais, subordinadas à nacional.

Faz-se necessário destacar que o entendimento de Ensino Médio não se encontra relacionado ao atual, cuja denominação remonta à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 1996 (Lei nº 9394/96). As Escolas Polivalentes atendiam o equivalente às séries finais do Ensino Fundamental, que antes de 1971, recebiam o nome de ensino ginasial. O Rio Grande do Sul integrava os estados que foram atendidos pela Equipe de Planejamento do Ensino Médio (EPEM), que deu origem ao PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio), o qual foi regulamentado pelo Decreto n. 63.914, de 26 de dezembro de 1968, e visava incentivar o desenvolvimento quantitativo, a transformação estrutural e o aperfeiçoamento do ensino médio.

Aproveita-se o desenvolvimento dessa explicação no que se refere à compreensão de ensino médio ou secundário para justificar a discussão de uma educação integral no que seria o equivalente às séries finais do ensino fundamental, tendo em vista que, conforme Gallo (1996), Proudhon considerava que a educação politécnica ocuparia o espaço do ensino secundário, o qual pode ser tanto considerado, em âmbito nacional o ensino médio (2.º grau), como incluir às séries finais do ensino fundamental (antigo ginásio, considerado ensino secundário).


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  1. Sobre o tema ver: MAUER; PIRES; MARTIARENA DE OLIVEIRA, 2017 e MAUER; SILVA; MARTIARENA DE OLIVEIRA, 2016.

    Tanto Araújo (2010), como Resende e Gonçalves Neto (2013), relacionam a criação da rede de escolas polivalentes, com a reforma educacional estabelecida pela Lei nº 5.692/715, que se dedicou à reformulação dos ensinos de 1º e 2º graus e tornou o último obrigatório e necessariamente profissionalizante. Conforme Araújo (2010), a viabilização dos recursos esteve atrelada às diretrizes que pautavam a proposta para essas instituições, as quais visavam, principalmente, atender a demanda de mão de obra barata, assim como o atendimento assistencialista das classes menos favorecidas. Em consonância com os apontamentos do autor supracitado, Souza e Lima (2016, p. 77) afirmam que: “A Pedagogia Tecnicista é compreendida tendo sua origem no Brasil a partir da tendência subordinada à lógica produtivista do mercado de trabalho, sob a aprovação da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a qual buscou sua extensão a todas as escolas do país [...]”. Entende-se, portanto, que a educação tecnicista se encontra vinculada à proposta de formação para o mercado de trabalho, como apontam os autores.

    A Escola Polivalente de Osório foi inaugurada no dia 14 de novembro de 1974, a qual, conforme nota da imprensa local: “[…] cumpre, fiel e cabalmente, os objetivos dispostos nos primeiros artigos da Lei da Reforma do Ensino, ou seja, a sondagem de aptidões e a iniciação para o trabalho” (PLANADOR, 1975, p. 15). A matéria publicada nessa revista foi assinada por José Carlos Becker, Diretor do PREMEM. Pode-se perceber a vinculação da proposta educacional proveniente das relações entre o MEC e a USAID, notadamente no que tange às aptidões e a preparação para o trabalho. A relação entre o estabelecimento da escola na cidade de Osório e tais acordos também são evidenciadas na mesma matéria: “O custo do Polivalente anda ao redor de Cr$ 3.000.000,008 (três bilhões antigos), provindos de convênios entre USAID, MEC, SEC e Prefeitura Municipal” (PLANADOR, 1975, p. 15). Em consonância com as afirmações realizadas por Araújo (2010), Resende e Gonçalves Neto (2013), bem como Souza e Lima (2016), percebe-se que a implantação dessa rede envolveu recursos de instituições diferentes, bem como das esferas nacional, estadual e municipal.



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  2. Destaca-se que tal legislação atuou no sentido de alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 4.024, de 20 de dezembro de 1961.

    Com base nas informações presentes na revista Planador, a escola contava com 32 professores que receberam treinamento para atuarem nesse tipo de escola. Becker destacava que o Pessoal Técnico-administrativo, segundo ele Diretor, Vice, Coordenador e Orientador, havia cursado, no mínimo, duas faculdades. Como mencionado anteriormente, a instituição recebia os alunos das séries finais do 1º grau. Em 1975, a escola contava com 640 alunos. O diferencial da proposta referia-se à inclusão de disciplinas técnicas no currículo (técnicas industriais, técnicas comerciais, técnicas agrícolas e técnicas domésticas).

    Entretanto, ainda que as Escolas Polivalentes tenham sido criadas para configurarem- se em propaganda do regime militar e, conforme Souza e Lima (2016), viabilizar a entrada antecipada de jovens no mercado de trabalho, a sua estrutura ampla e organizada, bem como a circulação de docentes que propiciou, atuaram no sentido de manutenção dos estudantes na escola e na vida escolar. Deve-se ter em conta que a história das instituições escolares está marcada pelas políticas públicas, mas, também, pela atuação dos sujeitos integrantes da comunidade escolar. Nesse sentido, ao realizar-se uma aproximação com a Revista Polivisão e seu escopo, por exemplo, percebe-se como a proposta da instituição e de suas disciplinas técnicas foi ressignificada.

    Como mencionado anteriormente, a Revista Polivisão foi um periódico coordenado e editado pelos docentes da Escola Polivalente de Osório. Embora presume-se a existência de números anteriores, conta-se apenas com os três números publicados em 1986. Ainda que as revistas contem com contribuições do corpo discente e de outros membros da comunidade escolar, a mesma pode ser considerada como imprensa dos professores, tendo em vista o que afirma Hernández Díaz:

    El origen de la prensa pedagógica de los profesores va muy vinculado al proceso de afirmación de los maestros, de los profesores, como profesionales especializados y miembros de un grupo amplio de personas com problemas e intereses compartidos em el sector de la enseñanza [...], (HERNÁNDEZ DÍAZ, 2018, p. 19).


    Deve-se ter em conta que, a revista objeto desta investigação foi produzida durante um período de fortalecimento da identidade docente, por meio dos movimentos de greve do magistério estadual, que assolaram o Rio Grande do Sul entre o final da década de 1980 e a década de 1990. Conforme Bulhões (1992, p.11): “Na década de 1980, a luta do magistério público estadual do Rio Grande do Sul acompanhou, em

    linhas gerais, a trajetória do movimento sindical brasileiro”. Esses períodos de forte reivindicação e engajamento, representam momentos de estreitamento dos laços identitários, o que caracterizou o momento de produção da Revista Polivisão. Compreende-se que é relevante pesquisar o mesmo, pois, de acordo com Hernández Díaz:

    El periódico profesional de los maestros, em versión semanal, quincenalo mensual, siempre que no se vea sometido a una aparición irregular por razones técnicas, económicas o políticas que lo impidan, ofrece a sus lectores artículos de opiniõn sobre política escolar, o sobre aspectos relacionados com la innovación educativa [...], (HERNÁNDEZ DÍAZ, 2018, p. 25).


    A Revista Polivisão configura-se em documento muito relevante para o estudo da cultura escolar, da aplicação ou não das políticas educativas e do pensamento pedagógico que circulava entre os docentes. Tais revistas são manifestações de um tempo e um espaço definido, mas o seu estudo gera contribuições para o entendimento dos docentes do litoral norte gaúcho e do magistério estadual, bem como para compreender a rede de escolas polivalentes. Dentro os temas considerados relevantes, encontra-se a compreensão de escola e de ensino integrado/integral.


    Ensino integrado/integral: um desafio à dualidade estrutural presente na educação brasileira


    Deve-se ter em conta que a Escola Polivalente, criada durante o período ditatorial, relaciona-se aos ideais de polivalência, os quais, de acordo com Cruz, Ramos e Silva (2017):

    O termo polivalência ou polivalente no período que compreende o governo militar foi apresentado pelo Conselho Federal de Educação, a partir das indicações do Conselheiro Valnir Chagas. Este conselheiro apresentou algumas indicações que tinham como foco a regulamentação (CRUZ; RAMOS; SILVA, 2017, p. 1189).


    Tais autoras afirmam que o Parecer nº 895/71 retomou a ideia de polivalência ao indicar que o professor polivalente atuaria no 1.º e 2.º graus e poderia ministrar diferentes disciplinas, o que estaria atrelado a uma formação generalista. Entretanto, ao realizar uma leitura atenta dos textos produzidos pelos docentes, verifica-se que,

    diferentemente do que era pautado pela legislação, os docentes preocupavam-se com uma formação integral.

    Estudar os debates sobre educação integrada a partir dos textos dos professores da rede estadual de ensino, publicados na Revista Polivisão constitui-se em reflexão relevante. Ao verificar no periódico a presença de tal tema, propôs-se as seguintes questões: Como os professores da Escola Polivalente de Osório e da rede estadual de ensino cuja atuação ocorria na cidade de Osório-RS pensavam a educação integrada na década de 1980? Suas pautas se davam a partir de suas práticas ou, além dessas, havia referenciais teóricos que embasavam os seus posicionamentos? Nesse sentido, o presente trabalho trata de compreender como discussões que ocorriam esfera nacional eram apreendidas e ressignificadas na base.

    Ainda que o tema ensino integrado seja extremamente atual, especialmente no que tange à realidade dos Institutos Federais de Educação, deve-se ter em conta que tais concepções remontam de períodos anteriores. A defesa do ensino integrado encontra- se, em geral, ligada ao enfrentamento do que Moura (2007) denomina como dualidade estrutural na educação brasileira. Segundo o autor: “A relação entre a educação básica e profissional no Brasil está marcada historicamente pela dualidade”, (MOURA, 2007, p. 5). Tal dualidade, mencionada pelo autor, refere-se à diferenciação de uma educação para as elites e de uma educação para as camadas populares, ora cerceada, ora assistencialista. De acordo com Ciavatta (2009, p. 175):

    A educação pelo trabalho é um dos movimentos de políticas educacionais que podem ser identificadas na história da educação brasileira. Ele parece restrito em sua abrangência, mas é profundo como questão recorrente no quadro da formação social brasileira. Trata-se de um movimento do Estado e da sociedade civil que, primeiro, respondia aos sentimentos morais e religiosos da época e, depois, às necessidades “nacionais” da indústria nascente.


    Tendo em vista essa significação, questiona-se como a defesa da superação entre uma educação para as elites e uma educação para as camadas populares se desenvolveu em uma instituição criada a partir dos acordos MEC-USAID. Nesse sentido, faz-se necessário entender como os docentes compreendiam o contexto educacional.

    O estudo das concepções presentes entre os docentes realiza-se a partir dos textos publicados na seção Educação. Deve-se ter em conta que, ao longo dos três números, algumas seções, conforme Martiarena de Oliveira (2018, p. 220): “repetem-se

    (Educação, Política, Psicologia e Comunicações), outras constam em dois números (Esportes, Escola, Pesquisa e Passatempo), outras constam em apenas um número (Economia/meio ambiente; Reflexão, Sociedade, Saúde, Folclore e Correspondência)”. Dessa forma, a seção que serviu como base para esta pesquisa, esteve presente em todas edições. Destaca-se que a mesma contou com três matérias no primeiro número, quatro no segundo e cinco no terceiro. No primeiro número, temos os seguintes artigos:


    Tabela 1 – Identificação dos artigos publicados na Seção “Educação”


    Número

    Título do artigo

    Autor (a)


    1

    A palavra do Secretário de Educação

    Pronunciamento do Prof. Plácido Steffen

    Objetivos educacionais da Educação Física

    Valdionor Aguiar da Costa

    A escola em uma estrutura capitalista

    Anilda M. de Souza


    2

    A escola está sendo democrática?

    Suely Eva dos N. Braga

    Quando será que a educação...

    Mercedes Marchant Wolff

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    Sebastião Fich da Rosa

    Qualificação ou preparação para o trabalho

    Roque José Walker


    3

    O equacionamento da educação nacional

    Mercedes Marchant Wolff

    Preparação para o trabalho

    Mercedes Marchant Wolff

    Educação Ambiental

    Sebastião Fich da Rosa

    Escolha profissional

    Serviço de Orientação Educacional

    Clube de matemática da Escola Rural de Osório

    Elena Maria Hass Chemale

    Jussanã Conceição de Paula Marques

    Salete Oliveira Adib

    Tânia Raquel Oliveira Filho

    Fonte: Elaborado pela autora


    A partir desse conjunto de textos, iniciou-se a identificação de quais abordavam diretamente o termo integrado, logo, localizou-se apenas o artigo intitulado “Preparação para o trabalho”, de autoria de Mercedes Wolff. Além do termo integrado, buscou-se outras categorias que são consideradas chave no ensino integrado, como:

    1) compreensão de homens e mulheres como seres históricos; 2) trabalho como princípio educativo; 3) a pesquisa como princípio educativo; 4) interdisciplinaridade e

    contextualização6. Além disso, foram destacados textos de professores que se dedicaram a refletir sobre o papel da escola na sociedade em que viviam.

    Deve-se ter em conta que, de acordo com Ciavatta (2014), a proposta de ensino integrado conta como origem remota a educação socialista que pretendia a formação omnilateral.

    Gramsci, conforme Dore (2014), entendia que qualificar operários não significava democratizar a escola, mas representava a possibilidade de que cada cidadão pudesse tornar-se governante. No Brasil, o ensino integrado origina-se a partir dos debates entre a educação politécnica e a educação tecnológica, embora Ciavatta (2014) reforce que a defesa dessa educação omnilateral estava presente desde a década de 1980 e integrou os debates da elaboração da LDB de 1996. Ciavatta (2007), nos afirma que:

    Nos anos 1980, para a elaboração da educação na nova Constituição aprovada em 1988 e para a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394/1996), discutiu-se muito a questão da educação politécnica, da escola unitária e do trabalho como princípio educativo. Fazer a crítica da profissionalização compulsória (segundo a Lei 5.692/1971) e defender a introdução do trabalho na educação levava à questão de pensar o trabalho como princípio educativo, pensar a educação politécnica, o que significa a educação do ser humano em toda a sua potencialidade, (CIAVATTA, 2007, p. 131).


    Nesse sentido, selecionou-se excertos que demonstravam a forma como os professores da Escola Polivalente de Osório compreendiam a escola e o seu contexto.


    Tabela 2 – Edição, título do artigo e excertos sobre o contexto da escola pelos docentes da Escola Polivalente de Osório

    N.º

    Artigo

    Excerto

    1

    A escola em uma estrutura capitalista

    As relações sociais de produção capitalista se definem pela separação entre o trabalho produtivo e a propriedade dos meios de produção. De um lado, o operariado (trabalhadores) possui a força de trabalho. De outro, os burgueses (patrões) são proprietários dos meus de produção. Assim, verifica-se a exploração do operariado pela burguesia, onde o acúmulo de


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  3. Tais categorias foram definidas a partir de Moura (2007). O texto do autor apresenta cinco eixos norteadores para o desenvolvimento do ensino integrado vinculado à formação profissional, o eixo “d) a realidade concreta como uma totalidade, síntese das múltiplas relações” não foi mencionado por entender-se que a contextualização, presente na categoria seguinte, o contempla. O eixo de interdisciplinaridade e contextualização, conforme Moura (2007) contempla, ainda, flexibilidade. Entretanto, nos textos publicados na Revista Polivisão, não há referência a tal tema, mesmo indiretamente.




    capital se dá pela extorsão da mais valia, (SOUZA, 1986, n. 1, p. 41).

    1

    A escola em uma estrutura capitalista

    “O Aparelho Ideológico Escolar, sob controle permanente do Estado, ocupa um lugar privilegiado, inculcando a ideologia dominante. Contribui para a reprodução das relações sociais de produção através da divisão social do trabalho (manual X intelectual). Essa desigualdade reforça as necessidades do capital, uma vez que a escola, principalmente a profissionalizante, inculca no futuro trabalhador as técnicas rudimentares, mas indispensáveis, de adaptação ao maquinismo”, (SOUZA, 1986, n. 1, p. 41).

    1

    A escola em uma estrutura capitalista

    “A escola não reflete as diferenças entre seus destinatários (alunos). Ela os explora e produz as desvantagens. É na escola que se realiza essencialmente a discriminação social. Todos são tratados da mesma maneira. A todos é solicitado o mesmo livro, o mesmo material, como se todos tivessem igual ritmo de trabalho e mesma capacidade de aquisição de conhecimentos. Impõe forma de linguagem e de cultura determinada, mais próximas das que vigoram na família burguesa”, (SOUZA, 1986, n. 1, p. 42).

    1

    A escola em uma estrutura capitalista

    “Essa luta não pode ser apenas dos educadores no sentido de refletir os conteúdos e os métodos de ensino tecnicista”, (SOUZA, 1986, n. 1, p. 42).

    2

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    “A família patriarcal estabelece como objetivo primário a procriação, onde o casamento é um arranjo grupal e o filho representa status e mão-de-obra barata, e também, aumento do poderio econômico e político, ficando a relação efetiva como fim secundário.

    As oligarquias rurais evoluíram, comandaram a política e o Brasil, ao longo da História, importou tecnologia e desenvolveu um modelo altamente concentrador de riquezas, onde só os ricos tinham acesso à cultura, situação que ainda se verifica em nossos dias”, (ROSA, 1986, n. 2, p. 20).

    2

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    A partir de 1966, quando se firmou o acordo MEC-USAID, se firmou a ideologia da profissionalização e do desenvolvimento e os peritos deste acordo acabaram concluindo que a educação técnica profissionalizante era o ideal para a educação brasileira (na sua lógica, o que era bom para os EEUU é bom para o Brasil), estando sublimar a ideia de produção mais racional com mão-de- obra barata para exportar a países desenvolvidos e manter nosso país como colônia continental.

    Na realidade, esta ideologia está a serviço do capitalismo (mão- de-obra barata e especializada – Lei 5692/71) e de outro lado, grupos dirigentes (reforma do ensino superior). A educação como sistema é dependente do sistema econômico e é dentro da sociedade de classe que exerce um papel ideológico: “o de ocultar o projeto social e econômico da classe dominante - Gadotti, 1975.”(ROSA, 1986, n. 2, p. 21).

    2

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    Nos últimos vinte anos a educação teve um caráter eminentemente técnico e isto conduziu a uma alienação política que hoje se reflete na carência de liderança, outrora abundante, (ROSA, 1986, n. 2, p. 22).

    Fonte: Elaborada pela autora

    Como pode ser percebido, os textos que abordam de forma geral o contexto educacional foram publicados pela Professora Anilda M. de Souza e pelo Professor Sebastião Fich da Rosa. Ambos apresentam referências de autores como Cunha7 e Gadotti8. Ao analisar os excertos, percebe-se que existe uma forte crítica com relação ao papel da escola enquanto instituição reprodutora do sistema vigente, de uma sociedade de classes, a reprodução das desvantagens sociais. Ressalta-se, ainda, que as críticas dos docentes pairam, inclusive, sobre a forma como a instituição em que atuavam foi criada, o que pode ser percebido notadamente, quando Rosa (1986), menciona os acordos MEC-USAID e a intencionalidade do regime vigente quando da criação da rede de escolas polivalentes, em formar mão de obra pouco onerosa.

    A hegemonia estrangeira, principalmente dos Estados Unidos, é amplamente criticada, bem como o papel periférico/marginal ocupado pelo Brasil em esfera global. Outro assunto criticado é, justamente, a dicotomia entre o trabalho manual e o intelectual, que, conforme citado anteriormente, refere-se à dualidade estrutural que o ensino integrado objetiva, na opinião de Moura (2007), superar.

    Agora, passa-se a identificar os excertos conforme as categorias mencionadas.

    1. Compreensão de homens e mulheres como seres históricos

      Tabela 3 – Edição, título do artigo e excertos sobre a compreensão de homens e mulheres como seres históricos pelos docentes da Escola Polivalente de Osório

      N.º

      Artigo

      Excerto

      2

      O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

      É na escola que se firmam valores, que se estrutura a personalidade, a auto-imagem e a própria identidade como pessoa, (ROSA, 1986, n.2, p.19).

      2

      O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

      A educação não deve ser um mecanismo de perpetuação de estruturas sociais anteriores, mas um mecanismo de implantação de estruturas sociais ainda que imperfeitas: as democráticas, (ROSA, 1986, n. 2, p. 19).

      3

      Educação Ambiental

      A sala de aula é um espaço muito limitado em relação às potencialidades do indivíduo, por isso, ela deve ser aberta, renovadora, democrática, (ROSA, n. 3, 1986, p. 25).

      3

      Educação Ambiental

      Talvez, o melhor legado que se possa deixar às gerações futuras não sejam as informações na área cognoscível, mas a nossa ação respeitosa para com o ambiente natural, o nosso espírito de harmonia, a nossa luta para a conquista de um espaço democrático em que as decisões sejam tomadas pela própria comunidade, (ROSA, n. 3, 1986, p. 25).


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  4. CUNHA, Luiz Antonio. Uma leitura da Teoria da Escola Capitalista. Rio de Janeiro: Achiame, 1980.

  5. No texto é referenciado Gadotti, 1975, entretanto não há a referência completa.


3

Educação Ambiental

O educador, ao assumir uma nova postura, estará contribuindo para o aperfeiçoamento social, assumindo um compromisso mais amplo, mais abrangente e responsável, (ROSA, n. 3, 1986, p. 27).

3

Educação Ambiental

A Escola, com seu corpo docente e discente participantes, pode e deve ser o agente das mudanças pelas quais passa a educação ambiental, dando-lhes um tratamento globalizado, de modo que não seja mais uma matéria no currículo, mas esteja presente em todas as formas de conhecimento, pois há uma interdependência e uma intercomplementariedade de todos os fatores que garantem a qualidade de vida, (ROSA, n. 3, 1986, p. 27).

Fonte: Elaborada pela autora


A compreensão de alunas e alunos enquanto seres históricos capazes de realizar uma transformação social foi uma constante nos dois textos publicados pelo prof. Sebastião Fich da Rosa. No texto “O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro”, o professor afirma a importância do papel da escola em desenvolver determinados valores nos discentes, bem como o papel da educação em realizar uma transformação social.

A partir do tema “educação ambiental”, o prof. Sebastião Fich da Rosa, também aponta para a compreensão de que mulheres e homens são seres históricos, logo, podem se constituir em sujeitos de transformação social. Nessa compreensão, tanto docentes, como discentes são englobados e chamados a fazer a diferença em ações que objetivem a construção de um meio ambiente mais sadio. Tais afirmações tecidas por Rosa (1986), encontram-se em consonância com o que aponta Moura (2007), que entende que o ensino integrado deve buscar a autonomia e a emancipação através de sua participação responsável e crítica nas esferas cultural, social, econômica e política.

  1. Trabalho como princípio educativo


    Tabela 4 – Edição, título do artigo e excertos sobre a compreensão do trabalho como princípio educativo pelos docentes da Escola Polivalente de Osório

    N.º

    Artigo

    Excerto


    2

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    A educação técnica deve estar em equilíbrio com a educação política, pois é preciso saber por que fazer, (ROSA, 1986, n. 2, p. 22).

    3

    Educação Ambiental

    […] a educação deve ser permanente, prática e aproveitar os fatos concretos, por isso temos que pensar em algo mais que o recinto da escola, tomando iniciativas constantes, estimulando, rompendo as relações formais e as estruturas viciadas, (ROSA, n. 3, 1986, p. 27).


    3

    Preparação para o trabalho

    A Escola Maria Teresa Vilanova Castilhos, no cumprimento da determinação do Ministério de Educação e Cultura, a partir do ano de 1985, deu início à implantação da Lei 7044/82, que introduziu significativas alterações na Lei 5692/71, no sentido de uma abordagem em que o homem tenha possibilidade de tornar-se apto para inserir-se criticamente no mundo do trabalho, (WOLFF, 1986, n. 3, p. 6).

    3

    Preparação para o trabalho

    Os alunos estão desenvolvendo trabalhos nas áreas de Técnicas Industriais, no torno, e escultura em madeira com o Professor Onofre Ramos. Nas artes gráficas, com as Professoras Ana Eulália Simoni e Marilú Nozari, um grande grupo de alunos já desenvolve trabalho de grande qualidade. O professor Domeciano Netto procura atender a grande expectativa de um grupo de alunos que, em função da forma de abordagem dos assuntos, buscaram subsídios nas técnicas comerciais. Um grupo de alunos procurou o Professor Renato Rodrigues Freitas, de Técnicas Agrícolas, no sentido de desenvolver experiências que possam equacionar problemas referentes à agropecuária, desde a hora até problemas de combate de pragas e doenças das plantes a nível de pequena propriedade, de forma mais natural, ou seja, sem uso de agrotóxicos, (WOLFF, 1986, n. 3, p. 8).

    Fonte: Elaborada pela autora


    O tema do trabalho como princípio educativo consta nos textos do prof. Sebastião Fich da Rosa e da prof.ª Mercedes Wolff. Deve-se ter em conta que, conforme Moura (2007):

    Está relacionado, principalmente, com a intencionalidade de que através da ação educativa os indivíduos/coletivos compreendam, enquanto vivenciam e constroem a própria formação, o fato de que é socialmente justo que todos trabalhem, porque é um direito subjetivo de todos os cidadãos, mas também é uma obrigação coletiva porque a partir da produção de todos se produz e se transforma a existência humana e, nesse sentido, não é justo que muitos trabalhem para que poucos enriqueçam cada vez mais, enquanto outros se tornam cada vez mais pobres e se marginalizam – no sentido de viver à margem da sociedade, (MOURA, 2007, p. 22).


    Definitivamente, o trabalho como princípio educativo é um dos elementos mais relevantes na proposta que objetiva formar cidadãos de maneira omnilateral. No texto de Rosa (1996a), a formação crítica pelo trabalho é apresentada como crítica à formação tecnicista que esteve presente na criação da rede de escolas polivalentes. Aparece, também, na exigência de amplitude com que a educação precisa ser abordada.

    Ao desvelar as limitações do espaço escolar e apontar para a necessidade de aproveitar fatos concretos, Rosa (1986) encontra-se em consonância com a concepção de politecnia presente em Proudhon. Conforme Gallo (1993):

    Para a realização da aprendizagem politécnica, não basta uma escola comum, é necessária uma oficina-escola, onde a manipulação das

    coisas seja possível, onde a aplicação prática dos conhecimentos teóricos seja imediata e onde do próprio trabalho prático se possa chegar à formulação e ao entendimento de novos conceitos teóricos, (GALLO, 1993, p. 37).


    Wolff (1986), ao contrário, ocupa-se de apresentar as transformações que as práticas escolares que se levavam a cabo na Escola Polivalente estavam vivenciando a partir da Lei 7044/82, a qual previa que: “§ 1º A preparação para o trabalho, como elemento de formação integral do aluno, será obrigatória no ensino de 1º e 2º graus e constará dos planos curriculares dos estabelecimentos de ensino”. Exclui-se a profissionalização compulsória e passa-se a mencionar a preparação para o trabalho. Ainda que na Lei em questão não seja mencionada a expressão “mundo do trabalho”, amplamente difundida por Ciavatta (2007; 2014), Wolff já a utiliza em oposição à ideia de mercado de trabalho. Ambos Wolff e Rosa, entendem a educação para o trabalho como elemento de emancipação e de crítica.

  2. A pesquisa como princípio educativo


    Tabela 5– Edição, título do artigo e excertos sobre a compreensão da pesquisa como princípio educativo pelos docentes da Escola Polivalente de Osório

    N.º

    Artigo

    Excerto

    2

    O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro

    […] O conhecimento técnico-científico deve ser apresentado de forma que o educando possa aguçar seu espírito questionador e se lançar em novas experiências capazes até de aprimorar conceitos, apontar novas alternativas e aprender pelo princípio da redescoberta, (ROSA, 1986, n. 2, p. 22).

    3

    Educação Ambiental

    […]. Nesse sentido, podemos implementar visitas a locais críticos, a autoridades, promovendo debates onde todas as faces dos problemas sejam analisadas, para que se traga à luz da verdade, a relação risco- benefício e que as decisões envolvam as comunidades interessadas, (ROSA, n. 3, 1986, p. 27).

    Fonte: Elaborada pela autora


    De acordo com Moura (2007, p. 23): “Nesse sentido, assume-se que a pesquisa, enquanto princípio educativo deve estar presente em todas as ofertas, independentemente, do nível educacional e da faixa etária dos alunos, pois se localiza de forma precípua, no campo das atitudes e dos valores”. Tal proposta é percebida no texto do prof. Sebastião Fich da Rosa, que, em seus dois textos, aponta para a necessidade de apresentar o conhecimento técnico-científico e de relacionar tal conhecimento com as necessidades da comunidade.


  3. Interdisciplinaridade e contextualização


Tabela 6 – Edição, título do artigo e excertos sobre a interdisciplinaridade e contextualização pelos docentes da Escola Polivalente de Osório

N.º

Artigo

Excerto

3

Educação Ambiental

A aprendizagem se processa de forma global, através da convivência em grupo, do respeito às decisões da maioria, da finalidade de informações, da descoberta de valores como: a amizade, a união e a solidariedade, (ROSA, n. 3, 1986, p. 25).

3

Educação Ambiental

O processo de comprometimento da escola deve começar com as questões locais, estudando o meio ambiente em que vive o aluno, seus problemas e suas formas de solução, (ROSA, n. 3, 1986, p. 28).

3

Educação Ambiental

Maior que a função cognitiva do mestre, é a função de preparar os jovens para viver num mundo desconhecido e imprevisível, o qual não soubemos preservar, (ROSA, n. 3, 1986, p. 28).

3

Preparação para o trabalho

“A escola tentou objetivar estes elementos elaborando um projeto que, de maneira integrada ao currículo já existente, acrescentasse, como tarefa de educação, o desenvolvimento da ciência e o domínio da tecnologia visando ao progresso”, (WOLFF, 1986, n. 3, p. 7).

3

Preparação para o trabalho

“Para evidenciar a real interdisciplinaridade do projeto e a perfeita sintonia entre os diferentes setores da Escola, o Professor Roque Malmann, do Serviço de Orientação Educacional, vem acompanhando este processo dinâmico que tomou conta das séries finais do primeiro grau, através de um trabalho que procura mostrar as perspectivas de que os alunos dispõem ao concluir o curso”, (WOLFF, 1986, n. 3, p. 8).

3

Preparação para o trabalho

“Estamos colocando em suas mãos mais um exemplo de trabalho integrado de Preparação para o Trabalho, feito nesta Escola, pois esta revista resume os esforços de alunos, professores, pais, direção e comunidade em geral”, (WOLFF, 1986, n. 3, p. 8).

Fonte: Elaborada pela autora


Conforme Moura (2007, p.24): “Assim, a interdisciplinaridade é um exercício coletivo e dinâmico que depende das condições objetivas das instituições, do envolvimento e do compromisso dos agentes responsáveis pelo processo ensino-aprendizagem”. A leitura dos textos da revista Polivisão, notadamente da prof.ª Mercedes Wolff e do prof. Sebastião Rosa apontam para o fato de que a compreensão do ensino integrado, nesse contexto, se dava, em grande parte, pela sua relação com a interdisciplinaridade. Faz-se mister ressaltar que, é justamente em excerto relacionado à interdisciplinaridade, o momento em que o termo “integrado” é utilizado. Além disso, elementos integrantes dessa concepção de ensino, são, também,

recorrentes, como “global”. Em ambos os textos, mas de forma mais frisada no de Rosa (1986), o entendimento da escola como um espaço com função social definida, é reforçado.

A contextualização e a flexibilidade são mencionadas especialmente no que tange o comprometimento da educação em inserir-se em seu contexto local e atuar no sentido de conscientização (no caso do texto de Rosa, ambiental) e de transformação.

A concepção de ensino integrado encontra-se vinculada ao ideal de escola presente nos docentes. Esses ideais de escola e de sociedade almejada, encontram-se presentes no texto do prof. Sebastião Fich da Rosa, publicados no número 2, no artigo intitulado “O ensino técnico agropecuário no contexto educacional brasileiro”. O docente afirma que: “O crescimento de todas as potencialidades do ser humano só se processa num ambiente democrático com liberdade social e individual, (ROSA, 1986, n.2, p.19). E continua:

A escola, numa sociedade justa e democrática, deve ser renovadora, proporcionar a liberdade social e individual, ser crítica, questionadora e com um currículo desvinculado de ideologias dominantes e que desenvolva suas atividades dentro de um enfoque científico- experimental, via indispensável para a reformulação do conhecimento, (ROSA, 1986, n. 2, p. 21).


Por fim, o professor Sebastião afirma: “Uma escola autocrática e conservadora leva o indivíduo à alienação e à estruturação de sua personalidade impregnada de autoritarismo e preconceitos à renovação”, (Rosa, 1986, n.2, p.19).


Considerações finais:


Ainda que os debates sobre o ensino integrado se encontrem notadamente vinculados ao nível médio e ocorram especialmente no âmbito dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e na proposta hoje substituída pela Reforma do Ensino Médio da introdução da politecnia, é relevante estudar o que antecede os debates atuais. A historicidade dos termos e das propostas promovem uma reflexão acerca de nossas práticas e de nosso contexto. Se efetivamente somos seres históricos que podem atuar de forma transformadora, é fundamental lançar um olhar para o passado e compreender instituições e situações que lancem luz às nossas questões atuais.

Sabe-se que nos anos de 1980, a proposta de um ensino integrado está presente. O estudo da Revista Polivisão possibilita conhecer como esses debates ocorrem em uma esfera micro. Essa investigação viabiliza entender como os pequenos (por desconhecidos, mas grandes pelo seu papel de ação transformadora no cotidiano escolar) refletem, ressignificam e levam ao dia a dia da escola em uma pequena cidade do litoral norte gaúcho, as concepções de ensino integrado e de formação humana integral.

Os textos em que se percebe a referência ao ensino integrado foram escritos por três autores: a prof.ª Anilda de Souza, a prof.ª Mercedes Wolff e o prof. Sebastião Fich da Rosa. Não se pode afirmar que todos os decentes da instituição estivessem articulados com tais concepções, entretanto, acredita-se que tais posicionamentos fossem bastante difundidos, tendo em vista que os textos foram publicados na revista organizada pelo corpo docente da instituição.

O conceito de ensino integrado apresentado é articulado, especialmente, com a ideia de preparação para o trabalho. Nesse sentido, pode-se perceber que os docentes da Escola Polivalente de Osório, interpretam os debates sobre o ensino integrado e a formação omnilateral, ocorridos na década de 1980, como temas relacionados à preparação para o trabalho.

A leitura dos textos produzidos pelos docentes aponta para o fato de que os mesmos reconhecem elementos integrantes à concepção de ensino integrado e os discutem em suas produções, compartilhadas por meio da imprensa pedagógica, seja, da Revista Polivisão. Verifica-se, portanto, que se encontram presentes nos textos, elementos que indiquem: a compreensão do ser humano como histórico, logo capaz de efetuar a transformação social; o trabalho como princípio educativo; a pesquisa como princípio educativo e a interdisciplinaridade e contextualização.

São as transformações ocorridas a partir da Lei 7044/82, que se percebe o envolvimento dos docentes em discutir abertamente suas propostas de uma escola democrática e renovadora. Verifica-se que, entre tais docentes, é na preparação para o trabalho que se encontra o gérmen do trabalho como princípio educativo, em sua visão emancipatória e na sua proposta de formação integral.


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