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V.18, nº 37, set-dez (2020) ISSN: 1808-799 X


DISSERTAÇÃO DE MESTRADO1



LISBOA, José Rivaldo Arnaud2. Atuação da Igreja Católica na prelazia de Cametá: o contexto da educação popular no período de 1980 a 1999. 2019. 206p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura. Universidade Federal do Pará – Campus CUNTINS/Cametá, 2019.3


Resumo Expandido


A pesquisa, em termos gerais, busca compreender como se efetivou a educação de cunho popular oportunizada pela Prelazia de Cametá às suas bases4 .e Em termos específicos, analisar a formação e informação das bases pela Prelazia, se está direcionou essa formação para a luta política, bem como observar quais resultados dessa educação tornaram-se visíveis. Desta forma, o objeto de estudo partiu da hipótese que a formação propagada na Prelazia durante a administração de Dom José Elias (1980 a 1999) desenvolveu-se sob viés político, formando com isso


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1 Resumo recebido em 30/04/2020. Aprovado pelos editores em 29/05/2020. Publicado em 25/09/2020. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v18i37.46292.

2Mestre em Educação e Cultura pelo Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura – PPGEDUC

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(Cametá – Pará – Brasil), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor de História das redes estadual e municipal de ensino de Cametá – Pará – Brasil. E-mail:rivaldo_lisboa@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2577-3053. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3901758252699435.

3Dissertação de Mestrado defendida em 26 de abril de 2019, sob orientação da Prof.ª Drª Benedita Celeste M. Pinto, no Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura da Universidade Federal do Pará – Campus CUNTINS/Cametá, Pará - Brasil.

  1. Entenda-se “bases prelatícias”, no referir-se aos membros das comunidades cristãs, aos

    trabalhadores rurais, camponeses, pequenos agricultores, ribeirinhos, sindicalizados, não sindicalizados, filiados e não-filiados politicamente, ou seja, àqueles que estavam dentro do contexto para e por onde fluiu a educação popular a partir da Instituição Prelazia.

    lideranças nos municípios de Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará, que assumiram o Legislativo, Secretarias de Governo, Conselhos Municipais, etc., Logo, encaminharam-se análises sobre a atuação da Igreja Católica de Cametá com a educação popular, partindo do pressuposto de que a Prelazia de Cametá, nas décadas de 1980 e 1990, viabilizou educação de cunho popular às suas bases. Ressalta-se que esse modelo de educação seria aos moldes da pedagogia freireana, fundamentada em sua obra Pedagogia do Oprimido.

    Em termos metodológicos, o processo de investigação constituiu-se por levantamento e análise literária e documental, considerando ainda entrevistas com sujeitos ligados aos movimentos sociais da região e com o processo formativo. Desse modo, os principais dispositivos teóricos compreenderam determinadas categorias, como as reflexões freireanas, que atravessaram temáticas como a Educação Popular; Sujeitos e Comunidades Eclesiais de Base (Comunidades Cristãs); Formação e Conscientização da Construção Cidadã, dentre outras. Com isso, foi possível embasar todo o contexto empírico das entrevistas realizadas.

    Ressalte-se que, dada a configuração em que estas formações ocorreram, isto é, ao período ditatorial brasileiro, precisou-se também de análise de bibliografia específica e sua conexão com a Amazônia, bem como com estudos já produzidos a respeito da Prelazia de Cametá, em que mereceram destaque os impressos do Jornal Comunidade Cristã, os quais possibilitaram a análise profunda das atividades desenvolvidas pela mesma, permitindo retroceder até a fundação deste jornal (1969), coincidentemente ano de criação das Comunidades Cristãs na Prelazia de Cametá.

    A partir da memória dos que vivenciaram esse período histórico da Prelazia e que muito contribuíram com o estudo analisado, constatou-se que estes sujeitos foram transformados em protagonistas e narradores de suas próprias histórias. “Na opinião de Paul Thompson, a história ganha nova dimensão quando se utiliza a experiência de vida das pessoas de todo tipo como matéria-prima” (PINTO, 2010, p. 34).

    Aos nove narradores escolhidos de forma criteriosa, levou-se em conta o papel que tiveram ou desempenharam no contexto do processo prelatício com a educação popular, sendo pois: membros do clero local, da equipe central e da equipe de formação, motorista da Prelazia e particular do bispo, agente da pastoral de educação, animadores de comunidades e membro da pastoral da juventude (PJ), o que tornou um grupo bem heterogêneo e com condições de proporcionar uma visão bem mais

    ampla da temática estudada e da realidade vivenciada pela Prelazia. Assim, teve-se uma pesquisa qualitativa porque seus sujeitos apresentaram experiências realizadas no campo da educação popular produzida pela Prelazia de Cametá.

    Domingues & Carrozza (2013) aferem que a técnica da “História Oral tem sido uma das grandes contribuições no estudo das experiências de homens e mulheres em diversos e diferentes setores da sociedade”, como forma de valorizar grupos sociais que, de certa forma, estiveram/estão invisíveis nos registros científicos e/ou escritos (DOMINGUES & CARROZZA, 2013, p. 147).

    A educação popular pensada e oportunizada pela Prelazia caracterizou-se pela “educação de base, alfabetização de adultos, organização popular, apoio e integração”5.

    Para consecução desse processo, a Prelazia contou com o trabalho de vários agentes ligados à Pastoral de Educação, mas também com a colaboração de monitores e animadores de comunidades. Além destes, foram firmadas parcerias com o Partido dos Trabalhadores e com os Sindicatos dos Trabalhadores, dos Pescadores e dos Professores, entidades que se tornaram parceiras da Prelazia, principalmente na realização dos encontros “Anilzinho”, nos Acampamentos dos atingidos pela “Barragem de Tucuruí” e outros, por onde também fluiu educação popular às bases prelatícias.

    Foram vários os caminhos e vieses utilizados pela Prelazia para oferecer educação de cunho popular às suas bases. De uma forma mais direta podemos ressaltar as turmas de alfabetização de adultos, as quais eram criadas e formadas dentro de uma pedagogia freireana; os Encontros de Formação (de Liderança, de Catequese, de Agricultura, de Saúde e outros) que usavam a temática “Fé e Política”, para formar os comunitários da base; os Círculos Bíblicos que reuniam semanalmente os comunitários e discutiam temas de relevância nacional, regional e/ou local, dentro de uma perspectiva do método Ver, Julgar e Agir; as edições do Jornalzinho Comunidade Cristã que buscavam informar e formar ao mesmo tempo dentro de uma perspectiva mais ampla.

    O texto final da pesquisa foi estruturado em quatro capítulos. No primeiro, fez- se uma discussão teórica acerca da educação popular e a ação de Paulo Freire, no


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  2. Relatório “Memória do Setor Educação da Prelazia de Cametá do Tocantins – 1º semestre de 1991”. Fonte: Acervo da Diocese de Cametá-Pará.

Brasil, América Latina e África, intitulado “A educação como práxis que liberta”; o segundo, compreendeu o “Histórico da Diocese de Cametá”; o terceiro e quarto capítulos apresentaram a estruturação da Prelazia e o agir e interagir com o processo de viabilização da educação popular, denominados, respectivamente, “O sentido da educação popular na Prelazia de Cametá” e “Ver, julgar, agir e resistir”.

Assim, na perspectiva de promover as gentes de sua base, a Igreja prelatícia de Cametá - dentro de uma linha libertadora com a educação popular aos moldes freireanos e sob inspiração da Teologia da Libertação a qual embeveceu os padres lazaristas da Congregação da Missão, bem como comunitários e agentes de pastoral

-, viabilizou educação de cunho popular, evidenciada pela pesquisa.

Resultado do agir e interagir dos vários atores sociais no contexto da Prelazia e suas ações com a educação popular, evidenciamos vários “achados” com esse processo, sendo eles: a Educação Popular como denúncia da ausência do Estado; a Educação Popular como militância; a Educação Popular com foco na formação e trabalho associados a fatores econômicos; a Educação Popular na perspectiva de atividade ético-política transformadora; a Educação Popular como integração. E ratificamos: a Prelazia viabilizou educação de cunho popular aos moldes freireanos às suas bases, promoveu um processo de alfabetização às mesmas, bem como proporcionou formação cidadã com viés político.

Quanto ao questionamento que permeou todo o estudo, se “houve contribuição ou não da Prelazia para uma formação cidadã das gentes da base?”, a resposta se encontra ao longo dos capítulos terceiro e quarto: O povo prelatício protagonizou sua história, recebeu formação e orientação para melhor viver e produzir, trilhou os caminhos da conscientização a partir dos cursos e informações recebidas e buscou e lutou por seus direitos (seja com os encontros Anilzinho, seja com os Acampamentos do Movimento dos atingidos pela Barragem de Tucuruí).

Assim, percebe-se que a educação de cunho popular recebida pelas bases prelatícias contribuiu, de forma significativa, para sua formação, informação e conscientização. “A iniciativa própria tornara-se o motor de vitalidade das comunidades, incluindo cada vez mais pessoas, valorizando os dons diversos e a boa vontade” (FRENCKEN, 2010, p. 472).

Ao final, conclui-se: A Igreja Católica de Cametá se voltou às suas bases com uma proposta de educação que foi bem acolhida. Em contrapartida, a resposta destas

se reverteu em mais qualidade de vida, de cultivar, de cuidar da saúde, de se organizar, de lutar por seus direitos, de se informar, de celebrar a vida. A Teologia da Libertação, além dos padres lazaristas, acabou por contagiar comunitários e demais pessoas da base, dando à Igreja Católica local um rosto cada vez mais progressista.


Referências


DOMÍNGUEZ, A. S.; CARROZZA, N.G.V. História Oral, Discurso e Memória. In:

Tempos Históricos, Vol. 17, 2º Semestre de 2013. p. 141 – 161.


FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 64ª edição. Rio de Janeiro/São Paulo. Paz e Terra, 2017.


FRENCKEN, G. Em Missão: Padres da Congregação da Missão (Lazaristas), no Nordeste e Norte do Brasil. Fortaleza: Edições UFC, 2010.


GADOTTI, M. Caminhos e significados da educação popular em diferentes contextos.

Cadernos de EJA V 06. São Paulo: IPF, 1999.


PINTO, F. Capitolina. Edição 24, Ano 2, 2016. (Disponível em: file:///C:/Users/rival/Desktop/Hist%20Oral%20-%20Textos/O%20que%20%C3%A9% 20hist%C3%B3ria%20oral Capitolina.html. > Acesso em: 26/03/2019, às 20:35h.)