MEMÓRIA E DOCUMENTOS¹
Apresentação
Neste número da revista TN selecionamos para a seção Memória e Documentos um material que, parafraseando sua autora, Profª Eunice Trein, nos “toca o coração”, ainda que também nos “bata no fígado”. Isso porque, como o conjunto dos artigos que compõem a revista podem atestar, não há como pensar e atuar no espaço da educação e da escola – mormente a pública – sem que uma vasta gama de sentimentos seja acionada.
É o que o Memorial apresentado por Eunice Schilling Trein, como parte de sua progressão para Professora Titular da faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, nos permite desvelar. Intitulado Um Tributo à Escola Pública, o presente documento assume um caráter bem mais amplo que simplesmente o de recuperar sua trajetória particular de docente na referida universidade, mas procura articular esta trajetória com a luta e a constituição de experiências de educação referenciadas socialmente, que se propõem, no passado e no presente, públicas, democráticas, transformadoras – dos sujeitos e da sociedade.
Por isso, pensamos que ele cabe tão bem neste número da TN, que tem como temática central a 38ª Reunião Nacional da Anped, e cujos trabalhos apresentados no GT 09 - Trabalho e Educação, procuram analisar e problematizar questões candentes para pesquisadores, docentes, discentes e representantes de movimentos da sociedade que têm na formação humana, na educação, e na relação destas com o trabalho a sua ferramenta de intervenção no mundo, na busca de transformações radicais das relações sociais, em seus diferentes aspectos. Tal escolha se torna ainda mais especial quando vemos destacado, no texto de Eunice, a sua participação como coordenadora, no período de 1993 a 1996, exatamente do GT Trabalho e Educação, tendo assumido, logo depois, também a coordenação do Fórum de Coordenadores dos Programas de Pós Graduação da Anped, entre setembro de 1998 e setembro de 1999.
A história recuperada pela autora, desde a infância na região sul do Brasil até sua atuação nos 25 anos como docente da UFF, tem a coerência de não
¹ DOI: https://doi.org/10.22409/tn.16i29.p4646
anular o sujeito capaz de fazer escolhas – mesmo em situações desfavoráveis, na maioria das vezes, fora de seu controle – ao mesmo tempo que situa tal sujeito (e suas escolhas) num dado contexto histórico, político, social, que atua fortemente sobre as condições em que o mesmo age, potencializando ou impedindo/dificultando estas ações. Nesse sentido, o destaque que Eunice faz às experiências coletivas na defesa – teórica e prática – da educação como bem público torna-se exemplar para todas e todos que pretendemos continuar a luta por uma escola pública, laica e democrática.
Nem todas elas foram um sucesso, como nos lembra a autora; ou, até porque alcançaram ou ousaram contribuir para fazer avançar uma determinada concepção de educação e de escola, sofreram ataques diretos ou foram sendo neglicenciadas. Mas o que Eunice destaca como importante – e que permanece com os sujeitos nelas envolvidos – é a capacidade de atuação coletiva, atuação que a autora nos demonstra, não acontece apenas dentro da escola – seja a escola de que nível for. E é por isso que este Memorial foi escolhido para o presente número da TN: para que possamos conhecer um pouco mais da trajetória de uma docente que vem se dedicando à área Trabalho e Educação (e também à da Educação Ambiental), com contribuições significativas e importantes mas, para além disso, porque o seu trabalho recupera experiências e práticas educativas, coletivas, muito ricas, e que se tornam estratégicas que se mantenham vivas na nossa memória e nos nossos registros, a fim de que possamos resgatá-las (transformando-as, mediante os desafios atuais) na defesa intransigente e permanente de uma escola verdadeiramente pública e democrática.
Niterói, março de 2018 Maria Cristina Paulo Rodrigues
Recebido em: 23 de fevereiro de 2018. Aprovado em: 25 de março de 2018. Publicado em: 13 de junho de 2018.