1
V.20, nº 42, 2022 (maio-agosto) ISSN: 1808-799 X
O “ESTRANHO CASAMENTO” ENTRE ULTRANEOLIBERALISMO E
ULTRACONSERVADORISMO E OS ATAQUES À UNIVERSIDADE PÚBLICA
1
Inny Accioly
2
Luciane da Silva Nascimento
3
Kleyton Vieira Sales da Costa
4
Resumo
O artigo analisa os sentidos da associação entre ultraneoliberalismo e ultraconservadorismo e seus impactos nas
universidades públicas. São analisados a agenda de desmonte e refuncionalização das universidades,
relacionando-a às contrarreformas ultraneoliberais, e o uso da retórica do ódio e da guerra cultural para a
desmoralização dos servidores e descredibilização das instituições científicas. Conclui-se que a associação com
o ultraconservadorismo é estratégica para liberar os entraves institucionais para a implementação da agenda
ultraneoliberal.
Palavras-chave
: Universidade Pública; Ultraneoliberalismo; Ultraconservadorismo.
EL "EXTRAÑO MATRIMONIO" ENTRE EL ULTRANEOLIBERALISMO Y EL
ULTRACONSERVADURISMO Y LOS ATAQUES A LAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
Resumen
El artículo analiza el significado de la asociación entre ultraneoliberalismo y ultraconservadurismo y sus impactos
en las universidades públicas. Analiza la agenda de desmantelamiento y refuncionalización de las universidades,
relacionándola con las contrarreformas ultraneoliberales, y el uso de la retórica del odio y la guerra cultural para la
desmoralización de los funcionarios y el descrédito de las instituciones científicas. Se concluye que la asociación
con el ultraconservadurismo es estratégica para liberar los obstáculos institucionales para la implementación de la
agenda ultraneoliberal.
Palabras clave:
Universidad Pública; Ultraneoliberalismo; Ultraconservadurismo
.
THE "STRANGE MARRIAGE" BETWEEN ULTRANEOLIBERALISM AND ULTRACONSERVATISM
AND THE ATTACKS ON PUBLIC UNIVERSITIES
Abstract
The article analyzes the significance of the association between ultraneoliberalism and ultraconservatism and its
impacts on public universities. It analyzes the agenda of dismantling and refunctionalization of universities, relating
it to ultraneoliberal counter-reforms, and the use of hate rhetoric and cultural warfare for the demoralization of civil
servants and the discrediting of scientific institutions. It is concluded that the association with ultraconservatism is
strategic to release institutional obstacles for the implementation of the ultraneoliberal agenda.
Keyword
: Public University; Ultraneoliberalism; Ultraconservatism.
1
Artigo recebido em 09/03/2022. Primeira Avaliação em 01/05/2022. Segunda Avaliação em 30/04/2022. Aprovado
em 27/05/2022. Publicado em 21/07/2022. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v20i42.53425.
2
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta da Universidade
Federal Fluminense (UFF), E-mail: innyaccioly@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7726-4536.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7319745034492288.
3
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: luciane.estrela@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
5809-5597. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0950951467818362.
4
Graduado em Economia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pesquisador dos grupos
Economia e Conjuntura do Sistema Financeiro/UFRRJ e do Observatório do Banco Central/UFRJ.
E-mail: kleyton.vsc@gmail.com. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-5256-1203.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0378007654407801.
2
Introdução
5
Ao longo da última década, a agenda de desmonte das universidades públicas
brasileira vem sendo acrescida progressivamente de elementos de conteúdo moral
que, para além de justificar a destruição do seu caráter público e o escoamento de
recursos para o setor financeiro e as corporações do ensino superior, incitam a
vigilância sobre o conteúdo das pesquisas e atividades acadêmicas, perseguições a
pesquisadores e estudantes e o cerceamento da autonomia didático-científica e
administrativa previstas na Constituição Federal de 1988 (CF/88).
Os discursos em ataque às universidades públicas que propagavam a falácia
de que “o investimento público nas universidades seria ineficiente pois a maioria dos
estudantes seria de famílias ricas que teriam condições de pagar pelos estudos”
(WORLD BANK, 2017) foram somados a declarações caluniosas por parte de um
Ministro da Educação que afirmou que determinadas universidades “ao invés de
procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiveram fazendo balbúrdia”
6
e que “há
plantações de maconha nas universidades e que laboratórios de química das
instituições são usados para a produção de drogas sintéticas”
7
.
5
Seguindo as normas da revista Trabalho Necessário, que só permite a presença de três autores para
a publicação do artigo, declaramos que precisamos omitir na autoria deste artigo a importante
contribuição do autor André de Melo Modenesi, Professor Associado do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil, Pesquisador do CNPq e da FAPERJ,
Coordenador do Observatório do Banco Central/UFRJ.
6
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo em abril de 2019, o então Ministro da Educação, Abraham
Weintraub, comentou o corte de verbas na UFF, UFBA e UNB: “Universidades que, em vez de procurar
melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas. A lição de
casa precisa estar feita: publicação científica, avaliações em dia, estar bem no ranking ”. Notícia
disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/04/30/mec-corta-verba-de-tres-
universidades-federais-mas-nao-explica-motivo.ghtml
7
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, em reunião convocada pela Comissão de Educação da
Câmara dos Deputados (ocorrida em 11 de dezembro de 2019) para dar explicações sobre declarações
feitas à imprensa, afirmou que “há plantações de maconha nas universidades e que laboratórios de
química das instituições são usados para a produção de drogas sintéticas. Ele exibiu matérias
jornalísticas colhidas na internet, as quais, para ele, seriam a prova das declarações”. (Agência Câmara
de Notícias, 11 de dezembro de 2019). Disponível em https://www.camara.leg.br/noticias/625418-
ministro-da-educacao-reafirma-que-ha-plantacoes-de-maconha-nas-universidades/
Em 2021, Abraham Weintraub foi condenado a pagar 40 mil reais por danos morais coletivos a
professores. A ação foi movida pelo Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo
Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco. Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/politica/weintraub-e-condenado-por-ofender-professores-ao-dizer-
que-universidades-fabricam-drogas/.
3
Ao contrário do que é propagado pelo Banco Mundial (WORLD BANK, 2017),
70% dos estudantes das universidades federais brasileiras possuem renda familiar
per capita de até 1,5 salários-mínimos. Dentre estes, 26% vivem em famílias com
renda per capita de até 0,5 salário-mínimo. Do total de estudantes das instituições
federais de ensino superior, 51% são os primeiros da família a cursarem uma
universidade (ANDIFES; FONAPRACE, 2019). Além disso, os investimentos seguem
sendo insuficientes, uma vez que apenas 21% da população com idade entre 24 a 34
anos completou o ensino superior. A média é extremamente baixa em comparação a
países vizinhos como Colômbia (30%), Chile (34%) e Argentina (40%) (INEP, 2020).
O objetivo deste artigo é analisar a agenda de desmonte das universidades
públicas brasileiras, destrinchando as medidas de desinvestimento e a sua
conjugação com os ataques de conteúdo moral, empreendidos pelas frentes
ultraconservadora e ultraneoliberal.
A investigação seguiu o método do materialismo histórico-dialético, buscando
elucidar as múltiplas contradições que permeiam o tempo presente (em seu caráter
histórico) e, particularmente, a produção de conhecimento no Brasil nas universidades
públicas.
O texto está estruturado em quatro seções. Na primeira, são analisados os
sentidos da associação entre ultraneoliberalismo e ultraconservadorismo. Na
segunda, são analisadas as medidas de desinvestimento e seus impactos na carreira
docente. Na terceira, é feita uma análise empírica, com base no Google Trends, dos
termos mais usados pela frente ultraconservadora na desqualificação das
universidades. Na quarta, é analisado o ultraconservadorismo e as estratégias da
“guerra cultural” (LEHER, 2021b) direcionadas contra as universidades públicas.
Conclui-se que a atuação conjugada das frentes ultraneoliberal e
ultraconservadora tencionam o caráter público, laico e a autonomia universitária
prevista no artigo 207 da Constituição Federal, impactando profundamente a produção
de conhecimento em solo nacional, impossibilitando o avanço de determinadas
agendas de pesquisa e a consolidação de princípios democráticos e dos direitos
humanos.
4
“O estranho casamento”
Ao analisar o contexto brasileiro frente à pandemia da COVID-19, Fontes
(2020) expressa que estamos diante de “um estranho casamento não monogâmico”
entre grupos fascistas, militares saudosos da ditadura empresarial-militar, teologias
da prosperidade e empresários da religião, ultraneoliberalismo amoral e pragmático e
conservadorismos de cepas diversas.
É possível notar que neste “casamento”, ou seja, na associação entre
neoliberalismo e conservadorismo, ambos ganham vigor no propósito da defesa dos
interesses do capital (SIERRA et al, 2020).
Conforme é ressaltado por Fontes (2020), o pensamento liberal contém muitas
nuances, inúmeras tendências e autores. Contudo, sendo uma filosofia e uma prática
política gestada na defesa do capitalismo, tem como característica central a
“adesividade proteiforme” (FONTES, 2020) aos variados momentos da expansão
capitalista, renovando argumentos e estratégias coercitivas que pretendem justificar e
perpetuar a separação entre o produtor (o trabalhador) e o resultado do seu trabalho,
em um complexo processo que Marx (2008) descreveu como alienação do trabalho:
Os desdobramentos do ordoliberalismo, do neoliberalismo, do
ultraliberalismo e, agora, do ultraneoliberalismo desvelam sua face
mais óbvia trata-se unicamente de defender a propriedade do capital,
e sua pressa feroz em extrair mais-valor, pisoteando sobre as massas
trabalhadoras (FONTES, 2020, p.12).
Na ânsia de ampliar a extração de mais-valor, “o neo, o pós-neo e agora o
ultraneoliberalismo, todos, sem exceção, reforçaram os instrumentos de blindagem, a
propaganda e as instâncias coercitivas do Estado de maneira a bloquear qualquer
opção proveniente dos setores populares” (FONTES, 2020, p.13). Nesta “ânsia”,
ampliam a capacidade de articulação com setores outrora considerados como
adversários, a saber, as religiões, os autocratas e até mesmo os fascistas (ibid.).
Harvey (2018) ressalta que um dos grandes impactos da crise de 2008 foi a
perda de legitimidade do neoliberalismo, cuja saída foi se tornar mais autoritário.
Portanto, o autor defende que existe uma linha direta entre a crise do subprime de
2008 e a volta dos regimes autoritários. “A crise tem objetivo de disciplinar a população
para algum tipo de regime de austeridade. O dinheiro grande gosta de crise. No mundo
todo, durante crises, os ricos ficam mais ricos” (HARVEY, 2018).
5
No “casamento” entre ultraneoliberalismo e o conservadorismo (ou
ultraconservadorismo), este último se mostra mais eficaz na condução das medidas
anti-populares, em razão do próprio modo como emprega a sua ideologia (SIERRA et
al, 2020). Utilizando a moral cristã, manipulando as insatisfações gestadas pela
omissão do estado em prover políticas sociais e fomentando o pânico moral, a ala
ultraconservadora consegue alcançar as massas (incluindo grande parte da classe
trabalhadora) e incitar o ódio às esquerdas e às minorias, consideradas culpadas pela
crise que é tida primeiramente como sendo uma crise moral da sociedade.
Os servidores públicos se tornaram alvo de ataques por supostamente
comporem uma classe de privilegiados que colocariam em colapso o orçamento
público e, dentre essa classe de privilegiados, os professores (da educação básica e
do ensino superior) passaram a ser duplamente atacados com acusações de que
doutrinariam os estudantes por meio de uma suposta “ideologia de gênero”,
“marxismo cultural”, “gramscismo”, “ditadura gayzista” e outras invenções
8
.
Adicionalmente, foram instituídas emendas constitucionais e dispositivos legais
visando a redução e congelamento de salários, privatizações, flexibilização das
regulações trabalhistas, aumento da idade para aposentadoria, demissões, cortes de
recursos para políticas sociais, enfim, a desconstrução dos direitos sociais
conquistados na Constituição brasileira de 1988.
É preciso ressaltar que é falaciosa a afirmação de que o colapso do orçamento
público decorreria dos gastos com pagamento dos servidores. Conforme aponta Leher
(2021a, p.18):
O percentual de trabalhadores que atua no setor público como
percentual da população está abaixo da média existente na OCDE:
9,6%, Brasil: 5,6%. [...] Os gastos com pessoal ativo e aposentado da
União, embora apresentados como explosivos, vem caindo nas duas
últimas décadas, passando de 4,9% do PIB em 2002 para 4,1% do PIB
em 2016.
8
Estes são termos cunhados por figuras políticas da extrema direita e seus “gurus”, empresários
conservadores e militares. No artigo “Gramscismo: uma ideologia da extrema direita”, publicado no Blog
da Boitempo em 8 de maio de 2019, Lincoln Secco aponta algumas destas figuras. Artigo disponível
em https://blogdaboitempo.com.br/2019/05/08/gramscismo-uma-ideologia-da-extrema-direita/. As
acusações de doutrinação e perseguições o que Penna chama de “ódio ao professor” (PENNA, 2015)
se espalharam nacionalmente a partir de ões de grupos como o Movimento Escola Sem Partido.
Para análise aprofundada deste “movimento”, ver Colombo (2018).
6
Ao analisar a série histórica das greves ocorridas no Brasil entre 1983 e 2018,
Accioly e Lamosa (2021) verificaram que a partir dos anos 2000, as paralisações
realizadas pelos trabalhadores do setor público acumularam maior número de horas
em relação às greves dos trabalhadores do setor privado. Entre os servidores, é
notável o poder de mobilização da categoria docente nos protestos de rua,
especialmente em reação ao desmonte dos direitos sociais, como é observado na
Emenda Constitucional 95 (sancionada em 2016), na reforma trabalhista (2017) e na
reforma da previdência (2019), analisadas na próxima seção.
Em 2020, foram registradas 192 greves do funcionalismo público (nos três
níveis administrativos), contabilizando mais de 7 mil horas paradas (DIEESE, 2022).
Entre as pautas das mobilizações, estiveram a exigência de vacinas contra a COVID-
19 e o provimento de auxílio emergencial para os desempregados.
Apesar da repressão, os servidores públicos e, em particular, os professores,
seguem na luta pelos direitos dos trabalhadores. Conforme aponta Leher (2020),
mesmo nos ásperos dias de pandemia da COVID-19, as universidades públicas
formaram nódulos de efervescência intelectual, com notável produção comprometida
com a luta dos trabalhadores, buscando agregar sindicatos, coletivos antirracistas,
trabalhadores de aplicativos, coletivos estudantis e diversos outros movimentos.
Contudo, antes da pandemia, em 2019, se delineava no Brasil um quadro de
desigualdade extrema, onde os 50% mais pobres acessavam apenas 3,5% da renda
total do trabalho, enquanto o grupo dos 10% mais ricos se apropriava de cerca de
52% (BARBOSA, 2019). Nestas condições, “nenhuma ideologia racional poderia ser
levada adiante, muito menos aquela baseada na ética dos direitos humanos, que
orienta os movimentos sociais” (SIERRA et al, 2020, p.63).
O “casamento” entre ultraneoliberalismo e ultraconservadorismo, enquanto um
fenômeno do movimento de acumulação do capital no contexto de hegemonia do
capital financeiro, “afunda os direitos humanos no caldo da moral neoconservadora,
composta pela doutrina do velho testamento, defesa do livre mercado, intimidação e
punição severa contra todos que representam algum perigo à ordem” (SIERRA et al,
2020, p.63).
Portanto, para a manutenção da ordem, a produção intelectual levada a cabo
nas universidades públicas tanto aquelas intimamente comprometidas com a classe
trabalhadora como aquelas que apenas atuam na defesa dos princípios
7
constitucionais precisaria ser inviabilizada. Mais que isso, a própria universidade
precisaria ser “refuncionalizada” (LEHER, 2021b), se convertendo em organizações
de cunho utilitarista e ajustadas aos requisitos da atual configuração do padrão de
acumulação no capitalismo dependente (FERNANDES, 1981). Como salienta Leher
(2021b, p.2), “a zona de conflito com a universidade e com a ciência, como é possível
depreender, torna-se muito vasta e não se restringe aos embates de ideias, na forma
de confrontos de argumentos”.
Na próxima seção, apresentamos algumas medidas que dão materialidade ao
projeto do capital para a “refuncionalização” da universidade pública, debatendo o
projeto de desmonte das universidades e as medidas de desinvestimento que
impactam severamente na carreira docente, nas condições de trabalho e no
cumprimento da função social da universidade no seu compromisso com os
problemas nacionais (LEHER, 2021b).
A Frente Ultraneoliberal, o Estrangulamento Orçamentário e a
Refuncionalização da Universidade Pública
Nas últimas décadas, temos vivenciado mudanças substantivas nas políticas
de financiamento da educação pública como parte de um processo mais amplo de
refuncionalização das políticas sociais sob a égide neoliberal. Tais mudanças são
resultantes de um processo onde se conjugam elementos de reiteração da condição
de dependência na relação capitalista internacional, em consonância com a crescente
captura do fundo público pelas frações da burguesia que estão no “bloco no poder”
9
A complexidade desse cenário soma-se à lógica irracional da reprodução do
capital dentro das relações financeirizadas, onde o capital monetário se apresenta
como a principal mercadoria do capitalismo, expandindo as relações sociais “que
permitem a extração do mais-valor ao passo que se descola ficticiamente das
condições da própria vida social” (FONTES, 2010, p. 35). O processo de
financeirização avançou de forma robusta e tem contribuído decisivamente para o
adensamento da exploração da força de trabalho.
9
Para a compreensão do conceito, ver: Poulantzas (1981) e Pinto (2014).
8
A imprecisa e polissêmica categoria “neoliberalismo” abre possibilidade para
diferentes exposições quanto à interpretação do termo. Adotamos aqui a perspectiva
analítica de Brettas (2020):
No plano conceitual, o neoliberalismo possui acepções diversas,
mesmo quando restringimos o debate às análises do pensamento
social crítico (...). Trata-se no geral, de diferenças na ênfase que os
analistas dão a determinados aspectos em detrimento de outros,
embora todos abarquem um conjunto de medidas e alterações que
possuem uma direção comum: a busca por restaurar o poder burguês
ameaçado pela crise instaurada no final dos anos de 1960 e início dos
anos de 1970, o que implica a adoção de medidas voltadas para
retomar o aumento da taxa de lucro (BRETTAS, 2020, p. 157).
Guardadas as especificidades do debate, que transcendem os limites deste
artigo, é necessário pontuar que o neoliberalismo ganhou materialidade ao redor do
globo para além de suas proposições iniciais que incidiam sobre as pautas da
privatização, liberalização econômica e corte de gastos com as políticas sociais. Com
algumas resistências da classe trabalhadora, nos países onde os efeitos nefastos das
primeiras ondas de contrarreformas se fizeram sentir, as orientações
macroeconômicas neoliberais foram sendo refuncionalizadas, com novas semânticas,
e à medida que ganharam maior escala alçaram o patamar que, hoje, recebe a
definição de ultraneoliberalismo (BEHRING, 2021).
Na análise do ajuste fiscal operado nas últimas décadas no Brasil, Behring
(2021) destaca que a punção do fundo público foi intensificada a partir da interferência
direta das instituições financeiras nacionais e internacionais credoras da dívida pública
que, através de uma macroeconomia engenhosa instaurada pelo Plano Real com a
orientação do Fundo Monetário Internacional (FMI), fundou: “Uma lógica orientada
para a preservação de parcelas ainda maiores do butim para a finança, sustentada
sobremaneira pelo fundo público” (BEHRING, 2021, p. 162).
Na hegemonia do capital financeiro, sob a onda ultraneoliberal, com a
orientação das agências coletivas do capital (os Organismos Internacionais), é que
teremos a retração das políticas sociais. Em especial, a saúde e a educação são
afetadas pelos cortes e escoamento do fundo público para o setor privado. Isso afeta
diretamente o ensino superior público, indo ao encontro da lógica da
“refuncionalização da universidade pública” (LEHER, 2021b).
9
O processo de refuncionalização recai na retirada da universalidade que estas
instituições possuem no processo de construção do conhecimento. A atuação das
frações da burguesia que operam os cortes orçamentários são as mesmas que
impõem uma educação de viés utilitarista, de forma a adequar a formação às
necessidades da reprodução do capital no Brasil. Essa orientação impacta no
pensamento crítico e mina a unidade entre teoria e prática, que é fundante para a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, estabelecido na CF/88 (LEHER,
2021b).
A refuncionalização do ensino superior público vem acompanhada pelo
estrangulamento orçamentário ampliado após o “golpe de Estado de novo tipo”
10
, que
criou as bases para a ascensão da extrema direita. A partir do golpe e da nomeação
de Michel Temer para a Presidência, em 2016, foram institucionalizadas uma série de
contrarreformas. Em menos de dois anos, entramos numa espécie de barbárie
ultraneoliberal (hoje, também, associada ao neofascismo) (BEHRING, 2021).
No propósito de consolidar a agenda ultraneoliberal, as elites apoiaram a
candidatura de um presidente assumidamente ultraconservador, ligado a grupos
fundamentalistas religiosos, às milícias e aos representantes da velha política
brasileira, conforme analisado na seção 4 deste artigo.
Entre as principais contrarreformas do período, podemos destacar: a Emenda
Constitucional 95, de 15 de dezembro de 2016, que institui um regime fiscal que
altera diretamente os gastos em educação e saúde, estrangulando-os durante um
ciclo de 20 anos; o projeto "Future-se", que busca refuncionalizar as universidades; e
Emendas Constitucionais que impactam a natureza do Estado e das políticas sociais:
A Emenda Constitucional 103 de 2019 (EC103/2019), a Proposta de Emenda
Constitucional 188 de 2019 (PEC188/2019) e a Emenda Constitucional 109 de
2021 (EC109/2021).
A virada para a fase ultraneoliberal (BEHRING, 2021) é operacionalizada por
organizações que cumprem o papel de construir uma nova pedagogia da hegemonia
10
Referimo-nos aqui sobre o golpe jurídico-parlamentar que culminou com a destituição ilegítima da
presidente Dilma Rousseff e que, ainda, nos impõe muitos desafios quanto ao entendimento de sua
complexidade e desdobramentos, entretanto sabemos que os resultados perniciosos desse golpe
conduziram à ascensão um candidato com ligações assumidamente ultraconservadoras e
ultraneoliberais (com inspiração neofascista). Behring (2021) utiliza essa terminologia golpe de Estado
de novo tipo”, de fato, corroboramos com a análise da autora, que abrange a complexidade do
fenômeno vivenciado em 2016.
10
formando frentes de ação no interior do Estado. São observadas a atuação de uma
frente social-liberal (LAMOSA, 2020) e de uma frente liberal ultraconservadora
(COLOMBO, 2018, apud LAMOSA, 2020). Compreendemos que as pautas
ultraneoliberais, materializadas nas contrarreformas, se aproximam da frente social-
liberal.
A Emenda Constitucional 95 (EC95) de 2016 é um marco legal que implementa
um novo regime fiscal ultraneoliberal (BEHRING, 2021). Segundo Leher (2021), se o
Brasil perdeu para o Chile o papel de pioneiro na implementação das políticas
neoliberais, podemos dizer que agora é o “precursor” na América Latina do avanço
ultraneoliberal e das políticas de financeirização da educação:
A Emenda Constitucional no 95/2016 é a matriz da desconstrução de
todas as políticas sociais da Constituição de 1988. Vem acompanhada
de novas propostas de alterações constitucionais que operacionalizam
o desmonte, entre as quais a chamada reforma administrativa que
provoca as mudanças institucionais em prol dos interesses privados-
mercantis. [...] Foi a EC no 95/2016 criou a justificativa ideológica do
caráter categórico, imperativo, das contrarreformas em curso.
Concebida nos grandes marcos da agenda do golpe de 2016, “Uma
Ponte para o Futuro”, a referida EC 95 com o apoio do andar de cima e
da grande imprensa. A operação ideológica empreendida pela EC foi
ardilosa e logrou êxito na caracterização de que os gastos públicos
cresceram de modo desmedido e que por isso precisariam ser
estancados por vinte anos (LEHER, 2021a, p.9).
Conforme abordado, é falacioso o argumento do colapso do gasto público
como resultante do pagamento com pessoal. Adicionalmente, o corte
operacionalizado pela EC95 se restringe basicamente às áreas da saúde e educação,
enquanto não estabelece teto para gastos com pagamento dos juros e amortização
da dívida pública. Isso expressa um fator que Marx (1978) destaca sobre a função
primordial do capital, a saber, a sua preponderância em detrimento das necessidades
humanas. Esse é o motor da contrarreforma trabalhista de 2017 (Lei 13.467/2017) e
da contrarreforma da Previdência Social (EC 103/2019).
Segundo Leher (2021a), as contrarreformas configuram a destruição dos
aspectos progressivos da CF/88. A EC95 quebra a vinculação orçamentária
constitucional para a educação, gerando, no âmbito federal, um congelamento do
gasto com educação aos patamares de 2017 (ROSSI et al, 2019). Portanto, provoca
um permanente estrangulamento orçamentário.
11
Em conjugação com a EC95, foi apresentado o projeto de lei do “Future-se”,
que coloca a captação de recursos privados como principal forma para a manutenção
das instituições federais, que seriam gerenciadas por Organizações Sociais (OS). A
primeira versão do projeto foi apresentada em julho de 2019 e sua terceira e última
versão foi apresentada em janeiro de 2020. Todas as versões foram rechaçadas pelas
universidades, o que postergou o seu avanço.
Segundo Giolo, Leher e Sguissardi (2020), as medidas inviabilizam a função
social das universidades, atingem a autonomia universitária e
operacionalizam/consolidam as morfologias das contrarreformas na universidade
pública, coroando os direcionamentos legados pela EC95.
Por sua vez, a contrarreforma da Previdência Social (EC 103/2019) altera o sistema
de previdência social, reduzindo drasticamente a possibilidade de aposentadoria
(BEHRING, 2021).
(...) é um ajuste fiscal draconiano que tem relação com a EC nº 95, para
canalizar recursos para o pagamento de juros, encargos e
amortizações da dívida pública, este sim o primeiro item de gasto do
orçamento geral da união, no mesmo passo da leniência fiscal para com
o empresariado brasileiro (BEHRING, 2021, p. 217).
Na mesma linha, a EC 109/2021 dispõe medidas emergenciais e também
permanentes de controle do crescimento das despesas obrigatórias nos âmbitos do
governo federal, estados e municípios para a seguridade social (BRASIL, 2022). Os
impactos da EC103/2019 e EC109/2021 no setor público é a maior precarização do
trabalho em áreas sociais relevantes, como a saúde e a educação.
A precarização ataca o conjunto da classe trabalhadora e essas emendas são
as provas materiais dessas tendências no serviço público e no trabalho docente
(SILVA, 2020).
No corolário das emendas de ataque à classe trabalhadora e aos servidores,
está a PEC 188/2019
11
, que:
Estabelece medidas de ajuste fiscal aplicáveis ao custeio da máquina
pública; modifica a estrutura do orçamento federal; estende a proibição
de vinculação de receitas de impostos a qualquer espécie de receitas
públicas, ressalvadas as hipóteses que estabelece; permite a redução
temporária da jornada de trabalho de servidores públicos como medida
para reduzir despesas com pessoal; propõe mecanismos de
11
Também conhecida como a PEC do Pacto Federativo.
12
estabilização e ajuste fiscal quando as operações de créditos
excederem as despesas de capital, as despesas correntes superarem
noventa e cinco por cento das receitas correntes ou a realização de
receitas e despesas puder não comportar o cumprimento das metas
fiscais do ente; e cria o Conselho Fiscal da República (BRASIL, 2022).
A ideia é limitar os gastos com serviços públicos pela esfera da União,
repassando-os aos municípios e estados, na lógica de um permanente ajuste fiscal.
A proposta extingue os municípios pequenos e reformula o federalismo no país.
Adicionalmente, propõe a desvinculação dos gastos constitucionais com a educação.
Estes dispositivos turbinam o processo de financeirização do ensino superior, pois o
estrangulamento orçamentário das universidades públicas colabora para a expansão
das instituições privadas.
Se por um lado a agenda ultraneoliberal estabelece as bases econômicas da
precarização das universidades, por outro, a agenda ultraconservadora promove a
sua desqualificação perante à sociedade, conforme abordado nas próximas seções.
Análise da Evolução do Interesse por Termos Chave das Narrativas da Extrema
Direita de ataque às Universidades
Nesta seção, busca-se capturar o momento em que discursos ofensivos às
universidades públicas emergiram no cenário brasileiro e, dessa maneira, identificar
fatores contemporâneos que serviram como alicerce para a guinada narrativa das
pautas reacionárias. Para alcançar este objetivo, utiliza-se o sistema de
monitoramento/sistematização de buscas Google Trends
12
.
A amostra utilizada possui quatro palavras-chave: marxismo cultural;
esquerdistas; e gramscismo. As palavras-chave foram selecionadas a partir da análise
da bibliografia que mapeia o vocabulário usado por figuras centrais do Bolsonarismo
na guerra cultural (analisada na próxima seção). Os dados foram definidos com base
no interesse relativo do termo de maior interesse, definindo estes termos como a base
100 do índice, ou seja, o pico de popularidade em relação ao interesse de pesquisa.
Assim, os dados observados mostram que entre janeiro de 2004 e março de 2022, o
termo de maior interesse foi “gramscismo” com pico em outubro de 2018. Ressalta-se
12
De acordo com Google (2021), o Google Trends é uma ferramenta que analisa uma porcentagem de
pesquisas na web do Google para determinar quantas pesquisas foram feitas em um período.
13
que o mês de outubro de 2018 (período das eleições presidenciais) registrou o maior
pico de popularidade nas buscas para os três termos investigados: “gramscismo” igual
a 100, “marxismo cultural” igual a 98 e “esquerdistas” igual a 76.
Os resultados mostram que, de maneira geral, o interesse pelos termos chave
selecionados inicia uma tendência de crescimento expressiva entre os anos de 2011-
2013, ganhando volume de buscas no período subsequente às manifestações de
junho de 2013 que proporcionaram um deslocamento discursivo para uma posição
conservadora (PINTO, 2017). O processo eleitoral de 2014 revelou estas tensões. Em
uma eleição fortemente disputada, Dilma Rousseff (do Partido dos Trabalhadores -
PT) foi reeleita Presidente da República, mas seu adversário no segundo turno, Aécio
Neves (do Partido da Social-Democracia PSDB), questionou o resultado e fomentou
entre a população uma desconfiança em relação à lisura do processo eleitoral e às
urnas eleitorais eletrônicas. Posteriormente, o Presidente eleito em 2018, Jair
Bolsonaro, viria a reforçar a desconfiança no processo eleitoral e no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), em um claro ataque aos processos democráticos. Em 2014, também
foi iniciada a Operação Lava Jato, liderada pelo Ministério Público, com o mote do
“combate à corrupção”, a incriminação de empresários e especialmente do ex-
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em nossos levantamentos sobre os termos de busca na internet, em relação
ao volume (Figura 1), o termo “marxismo cultural” possui um nível de interesse maior
do que o observado nos outros dois termos analisados. Mesmo que “gramscismo” seja
a palavra-chave com o maior pico de interesse, “marxismo cultural” e “esquerdistas”
tiveram um maior interesse em termos de volume de pesquisas. Dessa maneira, o
termo “marxismo cultural” (analisado na próxima seção) possui mais consistência
temporal, sendo considerado predominante em relação aos demais termos em
análise.
14
Figura 1 - Índice de interesse por termos-chave agregados
Fonte:
Elaborado pelos autores com base no Google Trends
13
Observamos que os picos de busca pelos termos estão em linha com o
aumento da disseminação de notícias falsas (Fake News) por meio das redes sociais.
Neste processo, a internet e as redes sociais têm papel fundamental, pois possibilitam
a coleta de dados individuais dos usuários, como suas disposições mentais e
tendências políticas; utilização de robôs (trolls) para difundir ideias e forjar
comportamentos de massa; e financiamento de blogueiros e influencers para
dominarem os debates nas redes sociais. Isso tornou possível a criação de uma
“engenharia” para desinformação e disseminação de notícias falsas com intuito de
aumentar a aceitação de agendas que nas últimas décadas não vinham encontrando
espaço e recepção frente à opinião pública, como, por exemplo, a restrição dos
direitos das mulheres e pessoas LGBTQI e a criminalização do aborto. Esta agenda
anti-direitos encontra como expressão o termo “ideologia de gênero” que, conforme
apontado na Figura 4, não era um alvo relevante de buscas na internet até 2015.
Na experiência brasileira, a onda de manifestações de 2013 consolidou
narrativas em defesa de uma urgente renovação política. Contudo, a retórica “Lava-
13
Todos os gráficos foram elaborados pelos autores com base no Google Trends.
15
Jatista” de combate à corrupção possibilitou o fortalecimento da extrema-direita como
sendo representante de uma “nova política” que combateria as “imoralidades” não só
da corrupção, mas também no âmbito dos costumes, conforme debatido na próxima
seção deste artigo.
A Figura 2 desagrega os termos e, assim, reforça a observação realizada
através da comparação realizada anteriormente que considera os três termos em
conjunto. Nota-se que outubro de 2018 é o pico comum entre os três termos.
Figura 2 - Índice de interesse por termos-chave individuais
Fonte:
Elaborado pelos autores com base no Google Trends
As três palavras selecionadas têm como traço comum a conotação político-
ideológica, manifestada através de uma crítica pseudo-intelectual direcionada aos
denominados “intelectuais de esquerda”. Essa classe se tornou alvo da extrema direita
brasileira e, como consequência, as universidades públicas se tornaram um alvo
concorrente, uma vez que o elemento de ataque estava associado figurativamente a
elas. Dessa maneira, como meio de complementar a investigação, foi inserida na
comparação um termo relacionado com uma das pautas centrais da extrema direita,
a sexualidade.
A captura dessa dimensão moral foi realizada através do termo chave
“ideologia de gênero”. A Figura 3 apresenta os resultados encontrados. Observa-se
que o termo “ideologia de gênero” possui diferentes picos de interesse ao longo da
16
série histórica. Entretanto, mantém como ponto comum com os demais termos o seu
crescimento entre os anos de 2013 e 2015. O pico em 2015 pode estar relacionado
por ter sido o ano em que a primeira versão da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) foi lançada para consulta pública, sendo alvo de críticas sistemáticas por
parte dos conservadores por prever o debate sobre gênero e sexualidade nas escolas.
Figura 3 - Índice de interesse por termos-chave agregados, considerando a dimensão moral
Fonte:
Elaborado pelos autores com base no Google Trends
Por fim, a Figura 4 apresenta a desagregação dos termos-chave analisados.
Por meio dos quatro gráficos, se observa o elemento comum de maior interesse
durante as eleições presidenciais de 2018. Mas se ressalta os diferentes picos de
interesse para o termo “ideologia de gênero”.
17
Figura 4 - Índice de interesse por termos-chave individuais, considerando a dimensão moral
Fonte:
Elaborado pelos autores com base no Google Trends
Entre os termos adotados nas narrativas da extrema direita brasileira, aqueles
que pertencem à dimensão político-ideológica se caracterizam pela tendência de
crescimento a partir de 2013, tendo as eleições presidenciais de 2018 como maior
ponto de interesse em relação às buscas. O termo utilizado como representante da
dimensão moral tem diferentes momentos de aquecimento abrupto do interesse,
compartilhando com a dimensão político-ideológica o maior valor registrado na série
histórica no mês de outubro de 2018.
Ultraconservadorismo e as armas da Guerra Cultural contra as Universidades
O debate sobre os sentidos do que se convencionou chamar de “guerra
cultural” exige uma série de mediações e análise de fatores como a dinâmica da luta
de classes, a formação histórico-social de determinada sociedade, as relações
econômicas de dominação e dependência entre nações, dentre outros, que fogem ao
escopo deste artigo. Por ora, nosso objetivo é compreender como a atuação da frente
ultraconservadora que agrega grupos religiosos, militares, empresários,
organizações de caráter fascista e simpatizantes corrobora para levar adiante as
reformulações na estrutura do Estado em particular no financiamento e autonomia
das universidades públicas.
18
A forma de atuar da frente ultraconservadora pode ser identificada por
estratégias discursivas (debatidas na seção 3) que produzem consequências
concretas, materiais, no sentido da eliminação de todos que não se enquadram em
sua visão de mundo. Assim, instalam uma “guerra cultural” para eliminar o que é
identificado como sendo progressista: os direitos das mulheres, das pessoas LGBT,
das comunidades indígenas, a preservação ambiental, enfim, os direitos humanos e
ambiental.
Como exemplo a nível internacional, está o discurso do conservador Pat
Buchanan, em 1992, na convenção do Partido Republicano, quando buscava se
candidatar à presidência dos Estados Unidos e havia sido derrotado nas eleições
primárias do partido, que referendou a candidatura de George Bush. Buchanan havia
obtido 23% dos votos, num total de cerca de 3 milhões de eleitores (ROCHA, 2021).
A seguir, alguns trechos do discurso:
uma guerra religiosa em curso neste país. É uma guerra cultural,
tão crítica para o tipo de nação que seremos como foi a própria Guerra
Fria, pois esta guerra é pela alma da América. (...) A agenda que Clinton
& Clinton [Bill e Hillary, sendo Bill o candidato escolhido pelo partido
Democrata] iria impor à América, aborto livre, litmus test para o
Supremo Tribunal, direitos homossexuais, discriminação contra escolas
religiosas, mulheres em unidades de combate isso é mudança, tudo
bem. Mas não é o tipo de mudança de que a América precisa. Não é o
tipo de mudança que a América quer. E não é o tipo de mudança que
podemos suportar numa nação a que ainda chamamos o país de Deus.
(...) O princípio organizador central desta república é a liberdade. E
desde as antigas florestas do Oregon e Washington, até ao Império
Interior da Califórnia, a grande classe média americana tem de começar
a fazer frente a estes extremistas ambientais que colocam aves, ratos
e insetos à frente de famílias, trabalhadores e empregos. (...) Contra a
ideia amoral de que os casais homossexuais e lésbicas devem ter a
mesma posição na lei que os homens e mulheres casados. (...) A favor
do direito das pequenas cidades e comunidades a controlarem o esgoto
de pornografia que polui terrivelmente a nossa cultura popular.
14
O ideário da guerra cultural de Buchanan chegou ao poder nos Estados Unidos
a partir da eleição de Donald Trump, em 2016. Desde então, ganharam proeminência
pautas contra os imigrantes, contra o aborto e os direitos das mulheres, dos afro-
descendentes e pessoas LGBT, conforme apontado na seção 3 deste artigo.
14
Patrick J. Buchanan, “1992 Republican National Convention Speech,” Houston, Texas, 17 de Agosto
de 1992, tradução dos autores. Disponível em <https://voicesofdemocracy.umd.edu/buchanan-culture-
war-speech-speech-text/>
19
Espalharam-se posições abertamente anti-científicas e de ataque a determinadas
agendas de pesquisa, o que motivou a American Educational Research Association
(AERA), associação de pesquisa educacional fundada em 1916, a divulgar uma carta
aberta, em fevereiro de 2022, com denúncias do cerceamento do trabalho docente
nos Estados Unidos:
Diversos cursos estão sendo retirados do currículo ou ameaçados de
extinção; aqueles envolvidos no ensino ou na realização de pesquisas
sobre temas como racismo, teoria racial crítica ou identidade de gênero
estão sendo escrutinados ou desencorajados de seguir nessas linhas
de investigação, seja diretamente por suas instituições ou, mais
amplamente, pelas pressões exercidas sobre suas instituições.
Enquanto algumas das mais flagrantes reprimendas são dirigidas a
questões sociais, muitas outras áreas (por exemplo, a pressão para
destruir os dados de pesquisa da COVID) também têm experimentado
efeitos de repressão. uma boa razão para se estar tanto alarmado
quanto vigilante. Está em curso uma onda de legislações que visam
restringir a liberdade acadêmica, limitar a educação e pesquisa
antirracista e até mesmo proibir a discussão de conceitos “divisivos” na
sala de aula.
15
No mesmo sentido, em abril de 2021, a Science publicou um artigo
denunciando os crescentes ataques e ameaças sofridos por cientistas no Brasil, sob
o governo Bolsonaro
16
.
Sem dúvidas, a guerra cultural bolsonarista relaciona-se aos modelos
transnacionais de ascensão da extrema direita. Contudo, é possível identificar traços
singularmente brasileiros (ROCHA, 2021).
Ao longo da década de 1980, o Brasil foi palco de grande efervescência política
com a retomada das ruas pelos movimentos sociais, que foram alvo de intensa
repressão a partir do golpe empresarial-militar de 1964. A correlação de forças no
período possibilitou uma Constituição que estabeleceu direitos e vinculações
orçamentárias, debatidas nas seções anteriores (LEHER, 2021a).
Imediatamente a CF/88 passa a sofrer críticas, pois, ao proporcionar bem-estar às
camadas pobres “o governo se torna um Papai Noel, dispensando sua generosidade
15
AERA Statement on the Significance of Academic Freedom in a Divisive Political Climate, 22 de
Fevereiro de 2022. Disponível em < https://www.aera.net/Newsroom/AERA-Statement-on-the-
Significance-of-Academic-Freedom-in-a-Divisive-Political-Climate>
16
Escobar, Herton. ‘A hostile environment.' Brazilian scientists face rising attacks from Bolsonaro's
regime Harassment and budget cuts have researchers fearing for their jobs and safety. Science, 7 de
Abril de 2021. Disponível em < https://www.science.org/content/article/hostile-environment-brazilian-
scientists-face-rising-attacks-bolsonaro-s-regime>
20
ao povo, que por sua vez, exige cada vez mais” (BIRDSALL; PINCKNEY; SABOT,
2000, p.9, tradução nossa). Nesta perspectiva, o “governo Papai Noel” (ibid.) estaria
fadado à bancarrota, pois seria impossível e, principalmente, indesejável, atender às
demandas crescentes de indivíduos acostumados a “almoço grátis”, expressão
celebrizada pelo arauto do neoliberalismo Milton Friedman (1975).
Para sanar o problema, as medidas de austeridade são apresentadas como
uma “dor virtuosa após a festa imoral” (BLYTH, 2017, p.36). Conforme ressaltam Rossi
et al (2019), o termo austeridade aproxima a figura do Estado a de um indivíduo, com
a finalidade de exaltar comportamentos associados ao rigor, disciplina, prudência,
sobriedade. Portanto, atribui julgamento moral (ancorado na concepção burguesa de
mundo) às iniciativas dos governos no provimento de políticas sociais, de forma a
associá-las a comportamentos irresponsáveis e repugnantes. Contudo, o mesmo
julgamento não se aplica aos grandes proprietários que acumulam dívidas tributárias
ou sonegam impostos.
Os direitos sociais garantidos na CF/88 representam ameaças não aos
lucros dos grandes proprietários, mas também às parcelas conservadoras da
sociedade que se sentiram prejudicadas pela sua orientação baseada nos direitos
humanos (SIERRA et al, 2020).
Em 1987, teria sido iniciada a articulação conservadora no Congresso
Nacional com a formação da bancada evangélica, que se fortaleceu se associando à
bancada ruralista e à bancada da bala, composta em grande parte por militares.
Assim, a reorganização subterrânea da direita teria se principiado no processo de
redemocratização, se adensando na década de 1990, recrudescendo com a primeira
vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência e atingindo um ápice no
governo Dilma, especialmente com a instalação da Comissão da Verdade
17
(ROCHA,
2021).
Um exemplo da presença de representantes conservadores no Congresso
desde a Constituinte é o ex-deputado Jair Bolsonaro, que ocupou o cargo de deputado
federal de 1991 (no Congresso revisor) até 2019, quando assumiu a Presidência da
17
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e teve como finalidade apurar graves
violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. Para
mais informações, acessar o site: http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/index.php
21
República. Em 1999, durante uma entrevista, o então deputado e atual presidente
afirmou:
Através do voto, você não vai mudar nada nesse país! (...) Só vai
mudar, infelizmente, quando nós partirmos para uma guerra civil aqui
dentro... E fazendo um trabalho que o regime militar não fez: matando
uns 30 mil! Começando com o FHC! Não deixar pra fora, não! Matando!
Se vai morrer (sic) alguns inocentes, tudo bem (...).
18
O encerramento da ditadura empresarial-militar (19641985) causou
apreensão entre a ala militar mais diretamente envolvida nas ações de tortura:
No início de 1989, o chefe do Centro de Informações do Exército (CIE),
general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, mudou o formato dos
Relatórios Periódicos Mensais (RPM) do órgão para a “difusão de
conhecimentos destinados ao seu público interno”. Com alterações na
diagramação, na linguagem e na distribuição, o militar tentava ampliar
a influência dos chamados RPMs na formação da tropa. No RPM de
dezembro de 1989, por exemplo, a Nova República seria caracterizada
como um “regime de permissividade política e social sem precedentes”,
o que abriria espaço para uma nova “tentativa de tomada do poder”
pelas esquerdas (PEDRETTI, 2021, np).
O ideário das “tentativas de tomada do poder pelas esquerdas” é referendado
pelo projeto desenvolvido pelo Centro de Informações do Exército (CIE), entre 1985 e
1988, que resultou em um documento de cerca de mil páginas, o ORVIL, cuja grafia é
a palavra “livro” ao contrário. O seu propósito foi fornecer a versão dos militares sobre
o período da ditadura e contrapor o livro “Brasil: nunca mais”
19
, publicado em 1985 e
que documenta os episódios de tortura.
O vocabulário do ORVIL remonta aos ideais anticomunistas presentes no
Exército pelo menos desde 1935, quando militares ligados ao Partido Comunista
Brasileiro (PCB) tentaram promover uma insurreição armada, que ficou conhecida
como Intentona Comunista. Contudo, o ORVIL traria como novidade o argumento de
que estava em curso uma quarta tentativa de tomada do poder, não mais baseada na
luta armada, mas na manipulação da opinião pública:
Em maio de 1989, o RPM [Relatórios Periódicos Mensais do Centro de
Informações do Exército] trouxe um texto intitulado “A nova esquerda e
o processo revolucionário”, que se dedicava a entender a relação entre
18
Disponível em < https://youtu.be/M-tkPPwT9Xw>
19
Ver ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil Nunca Mais. Petrópolis: Vozes, 1985.
22
o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores
(CUT). Segundo o documento da inteligência do Exército, essas
organizações eram as principais responsáveis pela nova estratégia das
esquerdas revolucionárias: o “trabalho de massas” (PEDRETTI, 2021,
np).
Este mesmo relatório afirmava que:
Inspirados e influenciados quando de sua estada no estrangeiro pelos
pensamentos do ideólogo italiano Antonio Gramsci, considerado depois
de Lênin o maior teórico do marxismo, [os líderes subversivos]
passaram a buscar o domínio das instituições culturais e da educação.
Pretendiam, assim, criar uma contra-hegemonia social, viabilizando as
transformações que permitiram a conquista do poder e a modificação
da estrutura vigente (ibid.).
Os termos “marxismo cultural” e “Gramscismo” circulavam nas publicações
do CIE impulsionadas pelo general Avellar Coutinho no final dos anos 1980
(PEDRETTI, 2021). Como visto na seção anterior, tais argumentos ganharam eco
mais recentemente, a partir da atuação de Olavo de Carvalho, ideólogo do governo
Bolsonaro e da extrema direita no Brasil que teve papel organizativo para a ebulição
da guerra cultural e a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
A partir da análise dos livros e postagens de Olavo de Carvalho e seus
seguidores, Rocha (2021) identificou que a estratégia da guerra cultural está ancorada
nem tanto em um conteúdo a ser exaustivamente repetido, mas fundamentalmente
em uma forma, que é atualizada de acordo com o contexto. A visão bélica do mundo
é o combustível da guerra cultural, que divide o mundo de forma binária opondo “nós”
a “eles”, que passam a ser convertidos em inimigos a serem simbólica e materialmente
eliminados. Um ponto chave das estratégias é que mobilizam intensa carga
emocional. A internet e as redes sociais desempenham papel fundamental devido à
rapidez na circulação de ideias, que são repostadas por um grande número de
pessoas.
O conjunto dos que são considerados inimigos é constantemente atualizado,
podendo incluir indivíduos anteriormente considerados aliados. Rocha (2021)
identifica que o bolsonarismo realiza uma adaptação truculenta da Doutrina de
Segurança Nacional da ditadura para tempos democráticos. Ressalta-se que a Lei de
Segurança Nacional (Decreto-Lei 898/1969) estabeleceu a pena de morte no
arcabouço jurídico brasileiro. Além disso, estabelecia medidas para reprimir o que
identificava como “guerra psicológica adversa”:
23
A guerra psicológica adversa é o emprego da propaganda, da contra-
propaganda e de ações nos campos político, econômico, psicossocial
e militar, com a finalidade de influenciar ou provocar opiniões, emoções,
atitudes e comportamentos de grupos estrangeiros, inimigos, neutros
ou amigos, contra a consecução dos objetivos nacionais (DECRETO-
LEI Nº 898/ 69, § 2º, art. 3
o
).
O dispositivo legal transformava todos aqueles que expressassem críticas à
ditadura empresarial-militar em ameaça à segurança nacional. Na atualização
bolsonarista para tempos democráticos, a retórica do ódio (ROCHA, 2021) é
empreendida para insuflar atitudes para a eliminação do inimigo.
O ideário do ORVIL serve como fundamento para categorizar como comunismo
tudo o que não é o seu anticomunismo (ROCHA, 2021), que é balizado por uma
concepção de cristianismo que compreende a realidade como sendo uma luta do bem
contra o mal na qual o bem se identifica com a moral cristã branca e patriarcal e o
mal representa tudo o que, em sua visão, se afasta disso, como as lutas antirracista e
por direitos humanos.
A guerra cultural se apropria do discurso religioso para forjar uma subjetividade
entre a classe trabalhadora que estabelece uma oposição entre “sujeito de bem” e
sujeito crítico, por exemplo. Conjugando a ideia liberal de que o sucesso/fracasso é
resultado do esforço pessoal, com a crença religiosa acerca da vontade divina, são
afastadas quaisquer possibilidades de crítica social e luta coletiva por melhores
condições de vida.
Esta conjugação está na base da sociedade burguesa. Contudo, o que o
ultraconservadorismo logrou por meio da guerra cultural foi dar um passo adiante,
movendo uma parte expressiva dos trabalhadores de uma posição de resignação e
passividade para posicionamentos ativos de combate aos “inimigos”, compreendidos
não como sendo aqueles que lucram em cima da exploração do trabalho, mas sim
aqueles que se engajam na luta por direitos sociais.
Em particular, as universidades públicas são atacadas por se guiarem pelo
princípio da laicidade e colocarem em debate as construções sociais relativas a
gênero, sexualidade, a submissão da mulher no patriarcado, por denunciar o racismo
estrutural, o genocídio dos povos indígenas. Na ocasião do golpe de 1964, as
universidades passaram a ser alvo de perseguição, estudantes e professores foram
presos, torturados e assassinados. Atualmente, muitos dos sobreviventes, seus filhos
24
e netos, atuam como professores e pesquisadores e seguem denunciando as
tentativas de apagamento da memória do período.
Portanto, para os militares que atuaram nas sessões de tortura e os seus
apoiadores, chegar ao poder de forma “democrática” traria a legitimidade necessária
para que seguissem no propósito real de destruição das instituições que pudessem
cobrar justiça pelo passado de arbitrariedades. Nas palavras do presidente de
Bolsonaro, em entrevista realizada em 2016: “O erro da ditadura foi torturar e não
matar”
20
.
Além das universidades, estão na mira as diversas estruturas da memória
oficial como a Biblioteca Nacional, o Museu Histórico Nacional, a Casa de Rui Barbosa
e o Arquivo Nacional (órgão gestor de importantes informações sobre o passado
recente). Em 2019, Bolsonaro lançou o Decreto n
o
10.148 que retira do Arquivo
Nacional a prerrogativa de decidir sobre a eliminação de documentos e,
posteriormente, nomeou pessoas ligadas ao exército para a gestão. Desde que
Bolsonaro assumiu a presidência, o número de militares ocupando cargos civis
cresceu 108% em relação a 2016 (ANDES, 2021). Conforme denunciado por
Thuswohl (2022):
Servidores denunciam a eliminação indiscriminada e sem
embasamento técnico de documentos financeiros que nem sequer
foram encaminhados para prestação de contas ao Tribunal de Contas
da União, além de provas documentais de crimes cometidos pela
ditadura (1964-1985) que deveriam estar anexados a processos
analisados pela Comissão Nacional da Verdade. É uma verdadeira
“queima de arquivo”.
A reestruturação do Estado, abordada na seção 2, é operacionalizada por
figuras estratégicas que atuam na promoção da guerra cultural para garantir que: 1)
dados e informações desfavoráveis aos militares não sejam divulgados; 2) para
atender os interesses da base de apoio (evangélicos, ruralistas e militares); 3) para
instalar um ambiente de caos administrativo que inviabiliza a execução de políticas
sociais e favorece a agenda ultraneoliberal.
20
Folha de S. Paulo, 28 de março de 2019. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/veja-10-frases-polemicas-de-bolsonaro-sobre-o-golpe-
de-1964-e-a-ditadura-militar.shtml.
25
A intenção de desconstruir a organização estatal em vigência foi manifestada
por Jair Bolsonaro em um jantar com lideranças conservadoras em Washington
(EUA), no dia 17 de março de 2019, quando o presidente declarou:
O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos
construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que
desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós
começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu
possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz.
21
Como exemplo, em fevereiro de 2022, o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação,
limitou o acesso aos dados do Censo Escolar dos anos anteriores, uma medida que
provoca a descontinuidade de pesquisas sobre as políticas educacionais, impactos na
avaliação educacional e na elaboração de políticas públicas que respondam às
necessidades da população
22
.
O discurso bélico e o desprezo pela vida são recorrentes. Como exemplo, em
reunião de ministros com o presidente, em abril de 2020, enquanto a pandemia da
COVID-19 fazia milhares de vítimas, Paulo Guedes (discípulo de Milton Friedman na
escola de Chicago e Ministro da Economia) declarou se referindo aos servidores
públicos: “Então nós sabemos e é nessa confusão toda, todo mundo achando que
tamo distraído, abraçaram a gente, enrolaram a gente. Nós já botamos a granada no
bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário”
23
.
A política educacional é um dos principais alvos. Na educação básica, o projeto
é a militarização de escolas públicas, a tentativa de regulamentação da educação
domiciliar (homeschooling) uma demanda da bancada religiosa e, principalmente,
a imposição das pautas conservadoras contrárias ao aborto e às discussões sobre
gênero e sexualidade nas escolas.
No ensino superior, a ofensiva racista, homofóbica e sexista foi intensificada
dramaticamente no período das eleições presidenciais de 2018, conforme foi possível
identificar na seção anterior. Entre 2017 e 2020, cerca de 41 pesquisadores buscaram
21
Jornal Valor Econômico, 18 de março de 2019. Disponível em:
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/03/18/nos-temos-e-que-desconstruir-muita-coisa-diz-
bolsonaro-durante-jantar.ghtml
22
Portal da ANPED, 22 de fevereiro de 2022. https://anped.org.br/news/posicionamento-publico-de-
entidades-sobre-exclusao-de-dados-do-censo-escolar-pelo-inep
23
Discurso disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6cg5AAcijv4
26
ajuda da organização Scholars at Risk (SAR), que oferece suporte a docentes
ameaçados de morte para deixarem o país temporariamente.
Diversos episódios ilustram o ambiente de guerra às universidades instalado
em 2018:
Uma estudante negra da Universidade de Fortaleza foi estuprada após sofrer ameaças
afirmando que "limpariam a universidade" de "seu povo" quando Bolsonaro tomasse posse
(SCHOLARS AT RISK, 2019, p. 11).
Estudantes foram atacados próximo ao campus da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro por terem feito panfletagem para o candidato da oposição à Bolsonaro (ibid,
p.33).
Policiais fizeram incursões em diversas universidades, interrogaram professores e
confiscaram materiais (ibid, p.54).
Na Universidade Federal Fluminense, ordem judicial determinou a retirada da faixa
"Direito UFF Antifascista"; os folhetos "Manifesto em Defesa da Democracia e das
Universidades Públicas" foram confiscados (ibid.).
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mandado judicial ordenou a retirada de
cartazes que homenageavam a vereadora Marielle Franco, assinada em março de 2018
(ibid.).
Na Universidade Federal da Grande Dourados, um juiz ordenou o cancelamento de
uma palestra sobre o fascismo (ibid.).
Na Universidade Federal de São João Del Rei, juiz ordenou a retirada de uma
declaração, publicada no site e assinada pelo reitor, promovendo princípios democráticos e
rejeitando a violência nas eleições (ibid).
Os ataques alcançaram tamanha gravidade que provocou manifestação do
Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa da inviolabilidade da autonomia
universitária (LEHER, 2021b).
Estes episódios demonstram que os setores do judiciário alinhados à frente
ultraconservadora não demonstram pudor em reafirmar a correlação entre o fascismo
e o candidato ao qual estavam alinhados.
Após a posse Bolsonaro, os conflitos assumiram maior envergadura, pois, com o
poder governamental, suas palavras assumiram novos significados lastreadas agora
pelo poder de Estado (LEHER, 2021b). Como exemplo, uma das primeiras medidas
tomadas foi a Medida Provisória n.873/2019, que alterou as regras para o
recolhimento da contribuição sindical
24
.
Além de afrontar os sindicatos importante ferramenta de luta em defesa das
universidades públicas o governo vem nomeando reitores não eleitos pela
comunidade acadêmica.
24
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/03/06/bolsonaro-ataca-sindicatos-e-tenta-
impedir-organizacao-popular-contra-suas-politicas
27
A autonomia universitária, tendo sido tratada de forma genérica pela CF/88,
passou a ser limitada no que tange à definição da forma de ocupação do cargo de
reitor. Em 1995, a lei 9.192/95 instituiu que os reitores de universidades federais
seriam nomeados pelo Presidente, a partir de listas tríplices organizadas por
colegiado. Fazendo valer desta prerrogativa, Bolsonaro passou por cima da tradição
de nomeação do candidato mais votado em consulta pública à comunidade
acadêmica. Entre 2019 e março de 2022, das 69 universidades federais do país, 22
eram administradas por reitores que não foram eleitos
25
.
O primeiro ministro da Educação empossado por Bolsonaro, Ricardo Vélez
Rodríguez (que permaneceu no cargo apenas 3 meses), afirmou que “a ideia de
universidade para todos não existe” e que “as universidades devem ficar reservadas
para uma elite intelectual”
26
. Reafirmando a desqualificação da universidade como um
espaço democrático de produção de conhecimento, em abril de 2019, foi anunciado
um corte de 42% no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia
27
.
Entre abril de 2019 e junho de 2020, Abraham Weintraub ocupou o cargo de
Ministro da Educação. Durante o período, os ataques foram intensificados. Em
resposta aos protestos contra os cortes, Weintraub afirmou que a prioridade é a
educação básica e a pré-escola, em detrimento das universidades
28
. Contudo,
nenhuma medida foi tomada no sentido de fortalecimento destes níveis educacionais.
Prosseguindo com os ataques, foi anunciado um corte de 30% no orçamento
da Universidade de Brasília, da Universidade Federal Fluminense e da Universidade
Federal da Bahia. Para justificar, o ministro declarou que “universidades que, em vez
de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão
verbas reduzidas.”
29
.
Assim, os cortes foram fundamentados em argumentos apelativos para insuflar
os ânimos da guerra cultural. Weintraub declarou que “a universidade deve estar com
sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo” e que existiria “gente pelada
25
Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2022/03/01/volta-as-aulas-tres-reitores-nomeados-
por-bolsonaro-ignoram-acoes-para-prevencao-da-covid-19
26
Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/01/28/ideia-de-universidade-para-todos-
nao-existe-diz-ministro-da-educacao.ghtml
27
Disponível em: https://www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=40&campo=11948
28
Disponível em: https://twitter.com/AbrahamWeint/status/1123329639408197633
29
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/04/30/mec-corta-verba-de-tres-
universidades-federais-mas-nao-explica-motivo.ghtml
28
dentro do campus”
30
. Após a declaração, a ferramenta “Monitor do WhatsApp
brasileiro”, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
identificou o compartilhamento massivo de imagens de jovens nus em ambientes
universitários.
No mesmo período, Bolsonaro fez declarações sobre possíveis cortes
orçamentários em cursos de filosofia e sociologia para supostamente focar nas áreas
de veterinária, engenharia e medicina. No entanto, Bolsonaro também estendeu os
ataques ideológicos a importantes institutos de pesquisa nestas áreas, como a
FIOCRUZ e o INPE.
Por exemplo, ao ser informado que em seu governo a destruição da Amazônia
teria se intensificado, o presidente chamou de mentirosos os dados do INPE sobre
desmatamento (dados monitorados por satélites desde 1988). Ferindo a credibilidade
do INPE, Bolsonaro solicitou investigação, clamando que o INPE estava sendo
influenciado por ONGs. Na ocasião, o diretor Ricardo Galvão foi demitido após se
pronunciar em defesa da reputação da instituição
31
.
Os ataques discursivos e os cortes de recursos são estratégias conjugadas.
Cerca de dois meses antes do ataque ao INPE, em maio de 2019, a agência CAPES
congelou bolsas de estudo de pós-graduação. A justificativa foi de que os cortes
atingiam bolsas ociosas, dando a entender que estariam sobrando bolsas nos
programas de Pós-Graduação
32
. No mesmo período, o governo lançou o programa
FUTURE-SE, analisado na seção 2.
Em novembro de 2019, o ministro Weintraub acusou as universidades de terem
“plantações extensivas de maconha”, além de os laboratórios de química estarem
“desenvolvendo droga sintética”. Por causa desta acusação, em 2021, Weintraub foi
condenado a pagar indenização por danos morais coletivos a professores
33
.
Em 2020, com a eclosão da pandemia da COVID-19, escolas e universidades
suspenderam atividades presenciais como medida sanitária de contenção da doença.
Contudo, o negacionismo científico tomou lugar enquanto política pública. A
30
Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/universidades-com-balburdia-terao-verbas-reduzidas-
diz-weintraub/
31
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/02/politica/1564759880_243772.html
32
https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/bolsas-da-capes-com-cortes-pelo-governo-
bolsonaro-educacao-/#page3
33
Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/03/04/ex-ministro-weintraub-e-
condenado-pela-justica-em-mg-por-dizer-que-universidades-fabricam-drogas/
29
orientação do governo contrariou o consenso científico em torno dos protocolos de
prevenção e tratamento da COVID-19, além de postergar propositalmente a vacinação
da população. Tal orientação provocou impactos diretos na educação, pois o retorno
às aulas presenciais com segurança requer que o sistema vacinal da população esteja
avançado e que investimentos sejam feitos no sentido de adequar a infraestrutura de
escolas e universidades aos protocolos sanitários.
As universidades seguiram com atividades de ensino, pesquisa e extensão
usando ferramentas online, o que exacerbou os mecanismos de controle sobre o
trabalho docente e alargou a escala dos ataques ideológicos. Ao longo de 2020, foram
registrados inúmeros episódios de invasão nas plataformas onde ocorriam atividades.
Alguns exemplos foram o ataque cibernético na ocasião da defesa de um Trabalho de
Conclusão de Curso sobre discursos de ódio e criminalização da homotransfobia, na
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); uma na UFSM com o tema “Saúde e
Nutrição da População Negra”; um debate sobre negritude com professores da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), que foi interrompido por invasores que
exibiam imagens de conotação racista e gritavam “mito, mito” em referência ao
presidente Bolsonaro; o webinário Atlântico Negro, organizado pela Universidade de
Campinas (Unicamp); um evento do centro acadêmico da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que foi alvo de invasão por grupo
neonazista; uma videoconferência sobre a História da África, realizada pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR); um debate sobre Saúde Sexual e
Reprodutiva, Maternidade e Raça, promovido pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Os ataques têm como pontos em comum o caráter racista, misógino,
homofóbico, fascista e a exibição de filmes pornográficos, imagens de violência,
imagens da suástica outras
34
.
Em 2021, o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal,
e o professor Eraldo Pinheiro, foram objeto de investigação criminal por terem tecido
“uma declaração desrespeitosa dirigida ao Presidente da República” em seu “local de
trabalho” (SCHOLARS AT RISK, 2021). Em maio, o professor de direito da
Universidade de São Paulo (USP), Conrado Hbner Mendes, passou a enfrentar
ataques devido a artigos de opinião publicados por ele (ibid.).
34
Ver: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/ataques-virtuais-a-aulas-e-reunioes-academicas-
expoem-fragilidade-de-plataformas1
30
Não professores, mas também estudantes sofrem os ataques da guerra
cultural contra as universidades. Um dos maiores é, sem dúvidas, o impedimento de
cursar o ensino superior, pois, como parte das investidas do governo contra a
educação, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) requisito para a entrada no
ensino superior e o órgão que o elabora (o INEP), foram palco na disputa pela
orientação ideológica dos conteúdos. Adicionalmente, a pandemia da COVID-19 e a
situação de abandono das escolas públicas impossibilitou que um grande número de
estudantes realizasse a prova. Como resultado, o número de candidatos que se
inscreveram em 2021 (3,1 milhões) é o menor número desde o ano de 2005, sendo
os estudantes negros os mais impactados.
Conclusões
O artigo analisou a agenda de desmonte e refuncionalização das universidades
blicas, que está intrinsecamente vinculada às contrarreformas ultraneoliberais que
intentam reverter as conquistas de direitos sociais na CF/88.
Em análises futuras, pretende-se correlacionar graficamente os índices de interesse
pelos termos-chave (seção 3), o avanço das contrarreformas (seção 2) e os ataques
às universidades (seção 4). A identificação de novos termos-chave também será um
ponto crucial no sentido de aprofundar as análises sobre a forma com que os grupos
utilizam as ferramentas tecnológicas e identificar alterações na narrativa desses
grupos.
O “casamento” do ultraneoliberalismo com o ultraconservadorismo é
estratégico, pois este fornece a ideologia da guerra entre “bem e mal”, reavivando um
discurso religioso bélico que vem forjando a subjetividade de grande parte da classe
trabalhadora para a adesão ativa à agenda ultraneoliberal, com uso, inclusive, da
violência contra os que se opõem.
Adicionalmente, os ultraconservadores têm conseguido liberar os entraves
institucionais enfrentados para a implementação da agenda neoliberal desde a década
de 1990. Ao instalarem o “caos administrativo”, inviabilizam a execução de políticas
sociais e abrem os caminhos para a financeirização não na educação, mas também
na saúde e previdência.
31
O uso da retórica do ódio e da guerra cultural auxiliam a deslegitimação das
lutas sindicais, a desmoralização dos servidores e a descredibilização das instituições
científicas.
Particularmente, os ataques às universidades públicas provocam danos
irreversíveis, pois impactam na formação de gerações de trabalhadores, na produção
científica destinada ao enfrentamento dos problemas nacionais e na promoção e
consolidação dos direitos humanos. Portanto, a defesa da universidade pública se
coloca como tarefa primordial a ser assumida por aqueles que nutrem apreço à
democracia.
Por fim, defendemos que a análise do “casamento” entre ultraneoliberalismo e
ultraconservadorismo e a sua materialização na retirada dos direitos dos
trabalhadores é estratégica para os movimentos classistas e demais movimentos
sociais defensores da democracia.
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