V.20, nº 42, 2022 (maio-agosto) ISSN: 1808-799 X


O GOOGLE WORKSPACE FOR EDUCATION (GWE): MERCADORIA E HEGEMONIA NA EDUCAÇÃO1


Lúcio Braga2 Sonia Rummert3


Resumo

O artigo, derivado de pesquisa documental, objetiva compartilhar elementos que concorrem para o entendimento do processo pelo qual a GOOGLE LLC, através de sua mercadoria para a educação, o Google Workspace for Education (GWE), vai incidir nas decisões sobre políticas educacionais do Estado Integral. Fundamentamo-nos no materialismo histórico, especialmente em Gramsci, para investigar o objeto e a forma como ele atua na conformação de um trabalhador de novo tipo, influenciando a direção da educação de filhos e filhas da classe trabalhadora e impactando sua vida cotidiana e seu futuro.

Palavras-chave: Mercadoria; Capital-educador; Estado Integral; Hegemonia.


GOOGLE WORKSPACE FOR EDUCATION (GWE): MERCANCÍA Y HEGEMONÍA EN LA EDUCACIÓN

Resumen

El artículo, derivado de una investigación documental, pretende compartir elementos que contribuyan a la comprensión del proceso por el cual GOOGLE LLC, a través de su mercadería para la educación, Google Workspace for Education (GWE), influirá en las decisiones sobre políticas educativas del Estado integral. Nos basamos en el materialismo histórico, especialmente en Gramsci, para investigar el objeto y la forma en que actúa en la conformación de un nuevo tipo de trabajador, incidiendo en el rumbo de la educación de los hijos e hijas de la clase trabajadora e impactando en su vida cotidiana y su futuro. Palabras clave: Mercancías; Capital educativo; Estado Completo; Hegemonía.


GOOGLE WORKSPACE FOR EDUCATION (GWE): MERCHANDISE AND HEGEMONY IN EDUCATION

Abstract

The article, derived from documentary research, aims to share elements that contribute to the understanding of the process by which GOOGLE LLC, through its merchandise for education, Google Workspace for Education (GWE), will influence the decisions on educational policies of the Integral State. We base ourselves on historical materialism, especially on Gramsci, to investigate the object and the way it acts in the conformation of a new type of worker, influencing the direction of the education of working class sons and daughters and impacting their daily life and their future.

Keywords: Commodity; Capital-educator; Integral State; Hegemony.


1 Recebido em 04/04//2022. Primeira avaliação: 10/05/2022. Segunda avaliação; 17/05/2022. Aprovado em 25/05/2022. Publicado em 21/07/2022. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v20i42.53939.

2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Professor de Sociologia da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2709-0988. E-mail: luciodbraga@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7141845665262517.

3 Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Professora Associada do Doutoramento em Formação de Adultos do Instituto de Psicologia e

Ciências da Educação da Universidade de Lisboa – Portugal.

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1187-87861. E-mail: rummert@uol.com.br. Lattes: http://cnpq.br//9928452814893376.

Introdução


Este estudo apresenta resultados parciais da pesquisa que vem sendo empreendida por um dos autores, cujo interesse específico sobre o tema decorreu, inicialmente, de sua experiência como docente na disciplina de Sociologia das redes pública e privada de ensino no município do Rio de Janeiro. Precisamente numa instituição da rede particular de ensino, o docente-pesquisador travou o primeiro contato com a mercadoria educacional da Google LLC, o Google Workspace for Education (GWE).

Em 2018, os professores foram entusiasticamente informados acerca da “novidade” que chegava para potencializar e ampliar as possibilidades do trabalho docente. Pouco tempo depois, algumas contradições inerentes ao sistema sociometabólico do capital adquiriram materialidade, tanto pela ingerência nas relações de trabalho, quanto pelas novas formas de apropriação indevida do tempo de trabalho. Tais processos, como expressão das relações sociais hoje hegemônicas e pautadas pela competitividade, pela produtividade e pelo gerencialismo (SHIROMA; EVANGELISTA, 2004; MOTTA, 2007), fundamentam-se na lógica economicista tal como atualmente se configura no neoliberalismo.

A experiência partilhada com os demais docentes possibilitou depreender que a utilização da mercadoria educacional da Google concorria para a con-formação de um trabalhador de “novo tipo” (GRAMSCI, 2020). Tratava-se, assim, de uma ação que visava contribuir para a construção de uma nova sociabilidade, de um novo padrão de relações de trabalho, com grande similaridade àquela que o filósofo sardo identificava no processo de constituição do taylorismo e do fordismo. Destacava, assim, em sua análise, que:


Na realidade não se trata de novidades originais: trata- se apenas da fase mais recente de um longo processo que começou com o próprio nascimento do industrialismo, uma fase que é apenas mais intensa do que as anteriores e se manifesta sob formas mais brutais, mas que também será superada através da criação de um novo nexo psicofísico de um tipo diferente das anteriores e certamente, de um tipo superior. (GRAMSCI, 2020, p. 266, grifos nossos).


A experiência aqui referida era vivenciada pelos docentes de redes públicas de ensino do Brasil desde o ano de 2013. Antes mesmo de ser lançada para o público

mundial, a Google LLC firma uma parceria com o governo do Estado de São Paulo, sendo essa cidade o primeiro grande “laboratório” para tal mercadoria educacional. Em seguida, sob nome de Google Suite for Education (GSE)4 vai espraiar-se por outras cidades e estados do território nacional, como será apresentado na seção 3 deste artigo. Nesse processo de expansão, deve ser mencionado, especialmente, o caso do estado do Rio de Janeiro, cuja Secretaria Estadual de Educação firmou, em março de 2020, acordo com a Google LLC, justificado pelo fechamento das escolas em decorrência da pandemia de Covid-19. Assim, novamente, um dos autores vivencia na atualidade, como docente, o processo que analisa em sua dissertação de mestrado, fundamentada no materialismo histórico.

Tal análise requer um fecundo e permanente diálogo entre a teoria e a empiria, essencial à compreensão cada vez mais ampliada do movimento do real. Para tanto, se faz necessário elucidar as razões socioeconômicas que requerem o trabalhador de novo tipo; apreender a complexidade da relação homem-máquina no processo de desenvolvimento do capital; evidenciar as estreitas relações entre o capitalismo flexível e os processos de compressão do espaço-tempo; desvelar o modo como se dá esse complexo processo formativo; e, ainda, explicitar as bases ideológicas de tal processo no âmbito das teses do capital humano, do capital social e do capital inovador.

Entretanto, os limites deste trabalho não permitem empreender análise desse porte, associando-a ao campo empírico da pesquisa. Optamos, em decorrência, por apresentar aos leitores a síntese da pesquisa documental até aqui realizada, por entendermos ser pertinente partilhar a complexidade de nosso objeto de pesquisa, o Google Workspace for Education (GWE), bem como a penetração de sua plataforma educacional nos sistemas públicos de ensino do Brasil.

Com esse objetivo, na próxima seção, serão apresentadas informações gerais sobre a Google LLC e o Google Workspace for Education (GWE), mercadoria educacional da Google LLC, trazendo seu histórico marcado por célere e ampla expansão tanto no âmbito empresarial, quanto como aparelho privado de hegemonia


4 No dia 17 de fevereiro de 2021, o Google anunciou publicamente o lançamento da nova geração do G Suite for Education, o Google Workspace for Education (GWE). Disponível em: https://edu.google.com/intl/ALL_br/products/workspace-for-education/education-fundamentals/.

Acesso em 29 de março de 2022.

com atuação significativa na educação pública, inicialmente em seu país de origem e, em sequência, em âmbito internacional.

A seguir, na terceira seção, será abordado especificamente o caso do Brasil. Mais de 4 milhões de estudantes da rede pública do estado de São Paulo começam a utilizar as “ferramentas inovadoras, desenvolvidas para facilitar a prática escolar e a interação entre escolas e órgãos administrativos” (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013), o que, em 2014, seria lançado com o nome de Google Suite for Education (GSE). A partir de então, surgem parcerias firmadas com as redes públicas e privadas da educação básica e da educação superior, nas esferas administrativas, federal, estadual e municipal. Nesse processo, será mencionada a estreita relação entre Google LLC e outras instituições empresariais interessadas na privatização e mercantilização da educação como, por exemplo, a Fundação Lemann e a FTD-Educação.

A título de considerações finais, serão apresentados alguns apontamentos acerca dos temas centrais abordados e a indicação dos desdobramentos da pesquisa. Desse modo, se, como nos lembra Marx (2007, p. 535), “não se trata apenas de interpretar o mundo de diferentes maneiras, o que importa é transformá-lo”, pretendemos que a pesquisa em desenvolvimento possa municiar a classe trabalhadora de elementos para a compreensão dos mecanismos através dos quais o capital vai conformar a educação e o trabalho e, com isso, pavimentar o caminho para uma contraofensiva ao modelo imposto pelo capital.


A “mercadoria-educação” Google Workspace for Education (GWE)


O sistema educacional da Google LLC 5 , atualmente denominado Google Workspace for Education (GWE), é uma mercadoria da Google LLC desenvolvida especialmente para a educação, uma “mercadoria-educação” (RODRIGUES, 2007). Criado em 2006 pelo professor de Matemática e gerente de projetos da Google LLC, Zach Yeskel, teve a sua primeira implantação em larga escala na Arizona State


5 Em 2005, com a criação do conglomerado Alphabet, a ser abordado adiante, a Google INC, que significa incorporated ou corporação, torna-se Limited Liability Company (Sociedade de Responsabilidade Limitada) – cuja sigla é LLC – e que se assemelha à LTDA no Brasil, e conta com

número ilimitado de membros. Disponível em: https://abc.xyz/. Acesso em 7 de setembro de 2021.

University (ASU)6, contando, na ocasião, com 65.000 mil estudantes. Menos de duas semanas depois, seu sistema próprio, criado por seus técnicos, foi substituído pelo sistema da Google LLC, o qual, em 2007, passou a ser usado por todos os alunos e professores daquela universidade.

Em 2014, a mercadoria educacional da Google LLC é lançada para todo o público, nomeada de Google Suite for Education (GSE). Segundo a Google LLC, a sua mercadoria para a educação é “um pacote gratuito de ferramentas fáceis de usar que oferece uma base flexível e segura para aprendizagem, colaboração e comunicação” (GOOGLE FOR EDUCATION, 2021a). O “pacote” de serviços da plataforma educacional da Google7, que incluía o Google Classroom (Google Sala de Aula), é anunciado por Yeskel, na ocasião de lançamento da mercadoria. Segundo ele, “esperançosamente, o Classroom ajudará você a passar um pouco menos de tempo na copiadora e um pouco mais de tempo fazendo o que você ama – ensinando”8. A declaração de Zach Yeskel, referindo-se, sobretudo, aos docentes, oculta a concepção de educação e de aprendizagem que a Google LLC, uma das mais lucrativas empresas de tecnologia do mundo, anuncia através de sua plataforma educacional.

Antônio Gramsci (2020) apontava o papel de industriais do bloco industrial- produtivo9 na construção do americanismo, analisando as questões sócio-históricas do processo de americanismo na Europa, notadamente na Itália. Como exemplo, citamos a tentativa de Giovanni Agnelli10 em “instituir uma escola de operários e técnicos especializados tendo em vista uma radical mudança industrial e do trabalho



6 Para melhor detalhamento, ver https://www.dropbox.com/s/47dm7d8y6tdb3wx/arizona-state- university-case-study.pdf?dl=0

7 Para Antunes (2021), o capitalismo de plataforma tem se apresentado como uma metamorfose das

formas de trabalho, caracterizada pela individualização, invisibilização e práticas de jornadas extenuantes, encontrando-se com as formas pretéritas de trabalho, referente àquele praticado no capitalismo em sua fase inicial, “ampliando-se globalmente, modalidades pretéritas de superexploração do trabalho que haviam sido obstadas pela luta operária nas primeiras lutas e confrontações no início da Revolução Industrial” (ANTUNES, 2021, p. 34).

8 Livre tradução do autor. No original Hopefully Classroom will help you spend a little less time at the photocopier and a little more time doing what you love teaching. Disponível em: https://cloud.googleblog.com/2014/08/more-teaching-less-tech-ing-google.html. Acesso em 21 de

agosto de 2021.

9 Para Gramsci (2020, p. 256), seria “aquele destinado a resolver em sentido moderno e acentuadamente capitalista o problema de um ulterior desenvolvimento do aparelho econômico italiano, contra os elementos semifeudais e parasitários da sociedade que se apropriam de uma parcela

excessivamente vultosa da mais valia, contra os chamados produtores de poupança”.

10 Giovanni Agnelli (1866-1945), capitalista italiano, fundador da FIAT.

através de sistemas racionalizados [...]” (GRAMSCI, 2020, p. 258). Destarte, se o americanismo e o fordismo constituíram o trabalhador de novo tipo, cabe refletir, com o autor, sobre a concepção de trabalhador e de trabalho que despontam a partir dos modelos de acumulação flexível do capital, uma concepção que implica a “intensificação dos processos de trabalho e uma aceleração na desqualificação e requalificação necessárias ao atendimento das novas necessidades do trabalho” (HARVEY, 2016, p. 257).

No limite, a partir da declaração de Zach Yeskel, apresenta-se a naturalização da apropriação do lazer e o incremento do tempo de trabalho, no caso dos professores, em contato com a máquina (MARX, 2017, p. 475-490). Cabe investigar e analisar por que e de que forma a mercadoria educacional da Google LLC atua na conformação de um tipo de educação e de escola para a construção de um trabalhador de novo tipo.

Essa questão nos leva a analisar como a Google LLC, uma empresa de capital privado, vai influir nas decisões sobre políticas educacionais no âmbito do Estado Integral, que constitui “além do aparelho de governo, também o aparelho ‘privado’ de hegemonia ou sociedade civil” (GRAMSCI, 2020, p. 258). Nessa perspectiva, podemos afirmar que as frações da classe burguesa que representam o capital tecnológico, no caso da Google LLC, atuam no âmbito do Estado Integral na construção de consenso em torno da utilização de sua plataforma educacional, incidindo, portanto, na forma como a burguesia pretende conformar e disciplinar o trabalho e o trabalhador no sentido de “elaborar um novo tipo humano, adequado a um novo tipo de trabalho e de processo produtivo” (GRAMSCI, 2019, p. 248), necessário ao capitalismo de plataforma (ANTUNES, 2021). Assim como o pensador sardo debateu à sua época a respeito do fordismo, consideramos estar em uma fase de adaptação psicofísica a uma nova estrutura industrial, porém, no caso, à fase do capital flexível (HARVEY, 2016), na qual se inscreve mais amplamente o objeto de estudo deste trabalho.

Uma das principais formas de auferir lucros da Google LLC é a propaganda11, porém, de acordo com a empresa, o GWE é livre de publicidade e propaganda. A


11 Sobre os lucros da Google e como ela efetivamente lucra. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160329_google_dinheiro_fn. Acesso em 6 de setembro de 2021.

pesquisa já permitiu identificar ao menos uma das formas de lucro extraídas pela empresa a partir do GWE, a produção dos Chromebooks, computadores com uma interface direta com o GWE, sendo vendidos às escolas para a utilização de alunos e professores.

Os Chromebooks são, de acordo com a Google LLC (GOOGLE FOR EDUCATION, 2021b), computadores portáteis (laptops) “duráveis e desenvolvidos para estudantes”. Dos 12,6 milhões de dispositivos móveis vendidos para escolas dos EUA, em 2017, os Chromebooks representaram 58% do mercado (GOOGLE FOR EDUCATION, 2017), o que caracteriza um aumento das vendas de computadores por parte da empresa Google LLC, bem como a ofensiva da empresa de capital estadunidense na educação pública (RODRIGUES, 1998; LEHER, 1999; NEVES, 2002; SOUZA, 2019).

Identificamos, também, que o distrito estadunidense de Chicago, terceiro maior em número de escolas públicas dos Estados Unidos da América, com 642 escolas,

25.000 professores e mais de 350.000 alunos, começou a adotar os Chromebooks em 2012 e, em 2019, possuía mais de 300.000 computadores vendidos pela Google LLC em sua rede pública escolar (GOOGLE FOR EDUCATION, 2021c).

A Google LLC é uma empresa de capital internacional, com sede em Montain View, na Califórnia, Estados Unidos. Foi criada em 1996, a partir de um projeto de doutorado na Universidade de Stanford, desenvolvido por Larry Page e Serge Brin. Através do projeto, os estudantes criaram um mecanismo de busca na internet, inicialmente com o nome de Backrub, um site através do qual estudantes da Universidade de Stanford poderiam fazer buscas de artigos acadêmicos na internet, entre outros interesses.

A partir de 15 de setembro de 1997, o nome Google foi registrado, porém ainda dependente da estrutura técnica e tecnológica da Universidade de Stanford. Logo a seguir, em 1998, foi criada a Google.com, um produto da Google INC. não mais dependente da Universidade de Stanford, bem como do uso de seus aportes tecnológicos.

Como é característico do capital monopólico - neste caso, da internet - da tecnologia, a partir de 2003, a Google INC passou a incorporar diversas outras empresas do ramo, como destaca Santos (2018) acerca do capital monopólico:

O monopólio se transforma no elemento essencial do funcionamento do sistema, sem destruir, porém, as leis de produção de mais-valia como fundamento do modo de produção capitalista. Ao mesmo tempo, os dirigentes das empresas monopolistas passam a ser o setor integrador da classe dominante, substituindo os capitalistas financeiros do século passado e inicios do século XX. (SANTOS, 2018, p. 56).


Cabe ainda salientar, no caso da Google LLC, a relação estabelecida – e não a substituição – entre capital monopólico da internet e capital financeiro, uma vez que, em 2004, se inicia a venda de suas ações no mercado de valores de Wall Street. Em 2013, a Google LLC aumentou seu patrimônio e seus lucros em 922%; no mesmo ano, a empresa estava cotada na bolsa de valores de Nova Iorque em 290 bilhões de dólares (AGÊNCIA EFE, 2013).

A partir de 2003, sua “fábrica” passa a denominar-se Googleplex, complexo de edifícios que formam a sede da empresa Google. Hoje, há mais de 70 complexos da Google LLC pelo mundo. Em 2005, a empresa instalou seus primeiros escritórios de negócios na América Latina; no Brasil, na cidade de São Paulo, e no México, na capital Cidade do México.

A Google LLC incorpora e adquire sistematicamente outras empresas, ampliando os negócios que incidem, de formas diversas, sobre os processos de construção de uma nova sociabilidade coaduna com a lógica do capitalismo e sua fase atual, visando a criar capilaridade em todas as esferas da vida ampliada dos sujeitos na sociedade, o que caracteriza uma “nova forma” de lidar com a vida social, mediada pelos interesses econômicos representados pela Google LLC.

Em sua aparência, tais mecanismos de sociabilidade, mediada pelo capital, são chamados de “ferramentas”: o Google Earth (programa de georeferenciamento utilizado em todo o mundo); os programas de relacionamentos interpessoais que incidem sobre o mundo do trabalho, como o Google Talk e o Google Reader; e, ainda, os programas que permitem às empresas que fazem a propaganda na Google LLC acompanhar seus lucros, o Google Analytics. Este último relaciona-se com um dos principais mecanismos de lucro da empresa: os anúncios e a publicidade que são veiculados a partir do Google Ads.

O Google Ads (criado sob o nome de Google Adwords) é a plataforma de anúncios do Google. Sua primeira versão foi lançada em 2000. Em 2021, a receita publicitária do Google foi de U$ 209,49 bilhões de dólares. Se comparamos ao ano de

2019, com uma receita de 134,81 bilhões de dólares, notamos o vertiginoso incremento financeiro da empresa, coincidindo com o período mais agudo da pandemia da COVID-19 (STATISTA, 2021).

Uma outra ação de incorporação monopólica da Google LLC foi a compra, em 2006, por US $1,65 bilhões, do site de vídeos YouTube. Na época, o site de vídeos tinha apenas um ano de funcionamento. Atualmente, é o maior site de compartilhamento de vídeos do mundo, também incidindo sobre novas formas de sociabilidade mediadas pelo capital, além de ser mais uma forma de criar valor para a Google LLC. Hoje, a empresa também é responsável por outras incorporações, dentre elas o sistema operacional Android, além da criação de seu próprio serviço de “navegação” na internet, o Google Chromme. A empresa tem investido, ainda, em mercadorias de localização para motoristas, como o Google Maps e o Waze.

Em 2015, Page e Brin fundam o conglomerado do capital monopólico da internet, a Alphabet, que passa a controlar a Google LLC. Os negócios desenvolvidos pelas subsidiárias da Alphabet vão desde biotecnologia e extensão da vida humana até o desenvolvimento de carros elétricos não tripulados e drones para a entrega física de mercadorias, sem o contato humano. Na Figura 1, podemos visualizar algumas das principais empresas subsidiárias da Alphabet e da Google.

Figura 1: Esquema da Alphabet



Fonte: Elaborado pelo autor12



12 As informações para a montagem desse esquema, encontram-se disponíveis em https://www.tecmundo.com.br/google/104430-conheca-estrutura-monstruosa-utilizada-google-



Atividades das subsidiárias Alphabet

Calico: responsável por desenvolver pesquisas relacionadas a genética e DNA, tendo como

principal intuito a compreensão detalhada do processo de envelhecimento;

Atividades das subsidiárias Google

Ads: é o serviço de publicidade da Google e principal fonte de receita desta empresa; Cloud: é um provedor de recursos de computação em nuvem, utilizado para desenvolver,

implantar e operar aplicativos na web;

YouTube: plataforma de compartilhamento de vídeos; Android: sistema operacional;

Hardware: desenvolvimento de aparelhos e dispositivos físicos para acesso e interação; Infrastructre: desenvolvimento de infraestrutura empresarial.

Nesse cenário, não é fortuito o fato de que, mesmo durante o período em que quase cinco milhões de pessoas em todo mundo morreram acometidas de uma doença que, até março de 2022, havia retirado a vida de mais de 650.000 mil brasileiros e brasileiras 13 , em sua maioria trabalhadores e trabalhadoras pobres (VEJA, 2020), a Google LLC tenha mantido a margem de lucro de antes da pandemia, gerando um excedente de 7,23 bilhões de dólares para a empresa (OXFAM, 2020, p. 65). Como destaca a diretora financeira do conglomerado de tecnologia, Ruth Porat, “o salto nos lucros no primeiro trimestre reflete a elevada atividade do consumidor online e o amplo crescimento da receita de anunciantes” (ESTADÃO CONTEÚDO, 2021). Corrobora o afirmado o fato de a Google LLC ser, em 2021, uma das quatro maiores empresas do mercado mundial de tecnologia (G1, 2021).


servidores.htm e https://www.spinpalace.com/br/blogue/saiba-mais-sobre-estrutura-atual-da-alphabet/ Acesso em 27 de março de 2022.

13 Conforme dados disponíveis em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em 16 de março de 2022.

Valendo-se de seu braço filantrópico, a Google.org, criada em 2005, deslocou

250 milhões de dólares para “enfrentar os problemas da educação mundial” (GOOGLE FOR EDUCATION, 2021d). De acordo com a empresa, a Google.org atua em “capacitação econômica” mediante treinamento em habilidades digitais para candidatos a empregos e acesso equitativo ao capital, principalmente em comunidades sub-representadas em “tecnologia e inovação” e “aprendizagem” (GOOGLE, 2021a).

Podemos destacar algumas formas de atuação da Google.org que incidem no tipo e na direção da educação e que abarcam desde a instalação de redes de internet em ônibus escolares transformados em “ambientes de aprendizagem conectados”14 até a “formação para profissões que ainda não existem”15.

Essa questão nos aproxima da perspectiva de compressão do tempo-espaço (HARVEY, 2016), no caso, o espaço da escola, na medida em que o contexto histórico do capital revela “parte de uma história de ondas sucessivas de compressão do tempo-espaço geradas pela pressão de acumulação do capital - com seus perpétuos esforços de aniquilação do espaço por meio do tempo e de redução do tempo de giro” (HARVEY, 2016, p. 276).

Sugerir que crianças, no caminho para a escola (sobretudo as mais pobres e que vivem em áreas rurais), ao invés de se concentrarem na paisagem ou ainda conversarem ou brincarem com seus colegas, devam estudar dentro de um ônibus, que ainda conta com um professor disponível, não nos parece nada confortável de fato. Afinal, trata-se amiúde da ideologia do “capital educador”16 em suas mediações tecnológicas, associadas à ideia de “trabalho remoto” e “ensino remoto”, compondo o ideário de “aprender em qualquer lugar” e de “ensinar de qualquer lugar” ou, ainda, de “trabalhar de qualquer lugar”. São associações feitas aos modelos de ensino e, portanto, de trabalho docente, mediados pela tecnologia. Assim,

A ideia de liberdade e flexibilidade (trabalhar quando e onde quiser) propagada pelas empresas constitui, na verdade, a transferência deliberada de riscos para aumentar o controle



14 Trata-se de um projeto da Google.org iniciado em algumas regiões rurais dos Estados Unidos cujo nome original é Rolling Study Halls.

15 O texto reproduzido no site da Google baseia-se em uma pesquisa de 2016, apresentada no Fórum

Econômico Mundial nesse mesmo ano, denominada The future of jobs, que pode ser acessada em http://reports.weforum.org/future-of-jobs-2016/.

16 Sobre a questão do capital educador, ver, por exemplo, Evangelista e Pereira (2019).

sobre os/as trabalhadores/as pois essa liberdade significa ausência de salário garantido e incremento de custos fixos, que se convertem em responsabilidade dos/as trabalhadores/as. (ANTUNES, 2021, p. 66).


Em decorrência, trabalho remoto/ensino remoto formam um par dialético “naturalizado” no léxico das políticas e práticas educacionais. Tais termos são propalados pela Google LLC, ao disponibilizar “ferramentas que possibilitam o ensino e a aprendizagem de qualquer lugar”, “seja totalmente virtual, totalmente presencial ou algo intermediário, explore recursos que o ajudarão a personalizar um plano melhor” para a escola e para seus alunos (GOOGLE FOR EDUCACTION, 2021e).

Desde 2020, a Google LLC, com o apoio da UNESCO, promove um evento com palestra para públicos de todos os continentes, a fim de criar um consenso em torno da utilização de sua plataforma educacional. Divulgando o The Anywhere School (ensine de onde estiver), o evento é anunciado pela Google LLC como:


[…] uma iniciativa do Google para disponibilizar tudo o que você precisa para começar. Nossas ferramentas gratuitas e seguras foram desenvolvidas para possibilitar o ensino e o aprendizado colaborativos em qualquer lugar, a qualquer hora e em qualquer dispositivo, para que nada possa deter o avanço do ensino (GOOGLE, 2021b).


Nessa direção, e com base nos elementos expostos, consideramos que a Google LLC, através do GWE, pretende conformar a educação, criando um consenso em torno da utilização de sua mercadoria educacional, o GWE, com a intenção de criar um “novo tipo humano, associado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo” (GRAMSCI, 2020, p. 248).

Lançado para o público mundial em 2014 – no dia em que, nos Estados Unidos da América, celebra-se o Dia dos Professores17 –, sob o nome de Google Classroom (Google Sala de Aula), a plataforma de serviços educacionais, que faz parte da Google Apps for Education, é definida como um LMS ou Learning Management System (Sistema de Gerenciamento de Aprendizado)18, o qual pode ser utilizado tanto no mundo empresarial, quanto em escolas.


17 Nos Estados Unidos da América, o dia dos professores é um feriado não oficial, celebrado na primeira terça-feira de maio. No dia do lançamento mundial, o criador Zack Yeskel faz a comunicação registrada no blog da Google LLC: https://blog.google/outreach-initiatives/education/previewing-new-classroom/

18 Sobre o LMS, ver https://searchcio.techtarget.com/definition/learning-management-system.

É importante ressaltar que os Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem (SGA) são considerados assunto estratégico pelo governo imperialista dos Estados Unidos da América. Dessa forma, em 1998, é criado, pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, um grupo que tinha como uma de suas principais tarefas padronizar as tecnologias de aprendizagem.

O grupo, que conta com a participação do Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia, ligado diretamente ao Gabinete da Presidência, visava consolidar os esforços federais por meio de um programa federal de treinamento, o Federal Training Technology Initiative (FTTI):


A visão da tecnologia de aprendizagem da FTTI englobava uma série de iniciativas nacionais públicas e privadas de aprendizagem eletrônica voltadas para o uso do poder das tecnologias de aprendizagem para ampliar o alcance de educadores e instrutores que enfrentavam o desafio assustador de mover a força de trabalho dos Estados Unidos para a Era da Informação.19


Dessa forma, com amplo suporte infraestrutural e ideológico (jurídico-político) de organismos internacionais e apoiado pelo governo imperialista estadunidense, a plataforma educacional cresceu rapidamente: de acordo com a Google LLC, no mundo todo, mais de 170 milhões de estudantes e professores utilizam a plataforma educacional GWE (GOOGLE FOR EDUCATION, 2021f), contando atualmente com mais de 100 milhões de acessos diários (SAMPAIO, 2020).


A GWE no Brasil atual


No Brasil, as mercadorias da Google LLC para a educação vêm sendo usadas desde 2013 em parceria com as redes públicas e privadas da educação básica e da educação superior, nas esferas administrativas, federal, estadual e municipal, além de instituições empresariais interessadas na privatização e mercantilização da educação, como a Fundação Lemann (OLIVEIRA, 2017) e FTD-Educação (2021). A partir daí, governos estaduais começam a realizar parcerias entre suas redes de ensino e o GWE, como veremos adiante.



19 Trata-se de uma livre tradução do autor. No original: The then-FTTI’s learning technology vision encompassed a number of national public and private electronic learning initiatives geared toward using the power of learning technologies to broaden the reach of educators and trainers who were faced with

the daunting challenge of moving America’s work force into the Information Age (EUA, 2006).

A relação da Google com a Fundação Lemann, a partir de 2017, é emblemática, na medida em que atua na construção de um consenso em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Construída de forma atropelada e sem a participação popular, a Base foi homologada em 2018, sob contexto político marcado por um governo de caráter autoritário, com políticas regressivas para a classe trabalhadora, parte do projeto de autocracia burguesa no Brasil20 (FERNANDES, 2019).

Um dos objetivos declarados da parceria entre a Google LLC, a Fundação Lemann e a Nova Escola era disponibilizar, pelo site Nova Escola, aulas preparadas com o conteúdo da BNCC, antes mesmo de sua aprovação e homologação. O projeto, que contava com o aporte de R$ 15,8 milhões por parte da Google LLC e de outros R$ 6 milhões provenientes da Fundação Lemann, pretendia “capacitar” professores com aulas e vídeos alinhados aos conteúdos da BNCC, em um momento em que, no Congresso Nacional e na sociedade, a própria BNCC estava sendo debatida. Dessa forma, pensamos que tal iniciativa, por parte da Google LLC e da Fundação Lemann, aponta para um objetivo das empresas em associar as redes públicas de ensino com o projeto de empresariamento da educação e das contrarreformas neoliberais na educação, como é o caso da BNCC, como exemplifica a declaração do diretor executivo da Fundação Lemann, Deniz Mine:


No futuro, tendo a base organizada, o professor vai poder dar um Google para saber como ensinar o sistema solar no terceiro ano e vai aparecer o vídeo do YouTube Edu, os planos de aula da Nova Escola, mas também da Escola Digital, do Portal do Professor e o que a rede de São Paulo ou a Educopédia, do Rio de Janeiro, produziram. E o professor vai conseguir ter várias fontes. (OLIVEIRA, 2017).


A seguir, consideramos importante apresentar um breve histórico da chegada e enraizamento da Google LLC no Brasil, a partir de 2013, na rede pública de ensino da cidade de São Paulo, primeira do país, cujo governo encetou uma parceria com a Google LLC com o objetivo de utilizar seus serviços educacionais na rede pública. Trata-se da primeira experiência, em todo o mundo, na qual a Google vai fornecer e implementar sua mercadoria educacional para mais de 5 mil escolas, quatro milhões de estudantes e cerca de 300 mil professores e funcionários (GOOGLE, 2013), em


20 Para Fernandes (2019, p.82-83), o “Estado autocrático-burguês é não só, a forma invertida do Estado-democrático burguês, mas instrumento de dominação do imperialismo e do despotismo burguês reacionário” .

acordo de cooperação com a maior rede pública de ensino no Brasil. Segundo a empresa, o investimento se justifica porque:

A Internet é um motor de desenvolvimento socioeconômico e de formação de capital humano. Tecnologias de ponta, como o Google Apps for Education, terão um papel crucial para ajudar a equipar as gerações futuras com as habilidades necessárias para ter sucesso no mercado de trabalho de hoje e de amanhã. (GOOGLE, 2013).

Sendo assim, a Google anuncia seus interesses, apontando para a formação de um trabalhador de novo tipo, combinando a ideologia do capital humano (MOTTA, 2008) com os interesses de frações da classe burguesa que já se expressavam no Relatório Delors (DELORS, 1998).

No ano de 2014, a Paraíba torna-se o primeiro estado do Nordeste a estabelecer uma parceria com a Google LLC em seu sistema de ensino. Em 2017, o Estado do Pará, em acordo envolvendo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e uma empresa intermediária do ramo da tecnologia, a Interceleri, inicia a implementação da plataforma educacional da Google LLC em sua rede (MONTAGNER, 2018). O acordo constituiu uma operação de crédito de 350 milhões de dólares, dos quais 18,3 milhões seriam usados no Sistema Educacional Interativo, que envolve o uso da tecnologia nas salas de aula e é parte do Programa de Melhoria da Qualidade e Expansão da Cobertura da Educação Básica do BID (AGÊNCIA PARÁ, 2017).

Em 2015, a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul também estabelece a parceria com a Google, através de uma empresa intermediária, a MSTech. No ano de 2018, a cidade paulista de Barueri tornou-se a primeira no Brasil a implementar o sistema educacional da Google em toda a sua rede de educação básica (BARUERI, 2018). O processo de adesão da cidade ao sistema educacional tecnológico, bem como o êxito supostamente alcançado, foi apresentado no último “The Anywhere School 2020: Ensine de onde estiver”, evento sobre tecnologia educacional da Google LLC. Nele, a secretária de educação de Barueri, Flavia Moreno, apresentou o caso em exposição sobre o tema “Brasil: estratégias de igualdade no ensino público” (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SANTA CATARINA, 2021).

A parceria da Google LLC com o estado de Santa Catarina, consolidada em 2019, aponta para o que pode caracterizar o processo de atuação da Google LLC na construção de um consenso para a utilização de sua plataforma educacional GWE, na medida em que o Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED)

influenciou sobremaneira a construção dessa parceria (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SANTA CATARINA, 2021).

O CONSED se define como uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que reúne as Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal. Sua atuação, juntamente com a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e com o Movimento pela Base, no processo aqui referido, caracteriza-o como aparelho de hegemonia, uma vez que


A realização de um aparelho hegemônico, enquanto cria um novo terreno ideológico, determina uma reforma das consciências e dos métodos de conhecimento, é um fato de conhecimento, um fato filosófico. Em linguagem Crociana: quando se consegue introduzir uma nova moral conforme a uma nova concepção do mundo termina-se por introduzir também esta concepção, isto é, determina-se uma completa reforma filosófica. (GRAMSCI, 2020, p. 320).


Tais aparelhos de hegemonia constituem a direção e o sentido das pautas e interesses de frações da classe burguesa, sendo parte do capital investido na construção das políticas de contrarreformas neoliberais na educação, implementadas nos últimos anos, como a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a (Contra)Reforma do Ensino Médio.

No caso específico do município do Rio de Janeiro, identificamos acordo firmado diretamente entre a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) e a Google LLC, a partir de quando o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro (CEE) emitiu, em 23 de março, a Deliberação no 376/2020 (RIO DE JANEIRO, 2020a), estabelecendo que as instituições vinculadas ao Sistema Estadual de Ensino do estado do Rio de Janeiro poderiam reorganizar suas atividades escolares, de forma a serem realizadas pelos estudantes e profissionais da educação em regime especial domiciliar.

A SEEDUC, com base nessa deliberação, emitiu, em 5 de abril de 2020, a circular SUGEN SEI no 22 (RIO DE JANEIRO, 2020b), esclarecendo procedimentos pedagógicos a serem adotados nas salas de aula virtuais, bem como a forma como os professores deveriam utilizar o GWE e suas funcionalidades21. No mesmo dia, o então secretário de educação do Estado, Pedro Fernandes, anunciou a parceria em


21 Em recente artigo, Daniela Patti do Amaral e Janaina Specht da Silva Menezes apontam alguns movimentos desse processo (AMARAL; MENEZES, 2020).

suas redes sociais.

Dessa maneira, em função do fechamento das escolas públicas, visando evitar a propagação do vírus Covid-19, a Google LLC encontra, em meio à pandemia, uma janela de oportunidade para seus investimentos. Como evidenciam Souza e Evangelista (2020):

Não é sem razão que a OCDE (2020) e a UNESCO (2020) sugerem aos países em quarentena que revejam seus marcos legais para que as alterações possam ser “operacionalizadas” já e possibilitem sua permanência em seguida. As suas orientações, somadas às do Banco Mundial, abrangem um amplo conjunto de flexibilizações: dos currículos, da avaliação, dos métodos de ensino, da jornada letiva, das certificações, dos materiais didáticos. (SOUZA; EVANGELISTA, 2020, p. 1).


Nessa conjuntura, é firmado o acordo entre a SEEDUC-RJ e a plataforma educacional da Google LLC. De acordo com o documento (RIO DE JANEIRO, 2020b), a parceria com a Google LLC teria como objetivo elaborar o planejamento, o suporte, o acompanhamento e o efetivo uso de recursos pedagógicos por professores, alunos e demais funcionários da secretaria, cujos dados funcionais foram “migrados” do sistema institucional da SEEDUC - Sistema Conexão Educação - para o sistema de dados da Google LLC, através de sua plataforma educacional.

De acordo com o último Censo Escolar (INEP, 2021), o Estado do Rio de Janeiro registrava 600.032 matrículas de alunos e 44.347 docentes, apenas no Ensino Médio, área majoritária de atuação da SEEDUC-RJ, o que representa 644.379 usuários do sistema, sem contar os demais funcionários da direção e administração escolar. Tal contingente constitui, sem dúvida, um enorme manancial de potenciais usuários – compreendidos como clientes –, extremamente atrativo para o capital. Essa perspectiva foi claramente enunciada por um representante de frações burguesas do mercado de empresas de tecnologia do setor educacional, destacando a estratégia perfeita da Google LLC na ótica empresarial: “deixar os estudantes familiarizados com as tecnologias da marca para que eles sigam como usuários até chegar ao mercado de trabalho é o que toda companhia quer” (FRAGA, 2019).

A secretaria apresentou, em Circular Interna, alguns motivos para a utilização da plataforma educacional, tais como: a “facilidade de acesso (seja por dispositivos móveis, notebooks, PCs, dentre outros), a interface amigável e simples de operacionalizar, tanto para o aluno, como para o professor” (RIO DE JANEIRO,

2020b).

Passado pouco mais de um ano de utilização da plataforma, a pesquisa realizada em sites de fóruns de defesa da educação pública, sindicatos e demais movimentos sociais, além da experiência de um dos autores, que tem acompanhado o GWE na pandemia desde sua implantação, evidencia um cenário oposto ao que o documento oficial vaticina – o que é demonstrado como um oásis revela-se apenas uma miragem no deserto, como tem sido o “ensino remoto”, assim como o “ensino híbrido”, termos que hoje integram o glossário do capital educador em mediação com a tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.

Já em 1º de março de 2021, a SEEDUC-RJ associa o GWE a um aplicativo de celular, o Applique-se, plataforma digital da rede estadual que, de acordo com a SEEDUC-RJ, permite ao usuário navegar sem o consumo de pacote de dados graças à navegação patrocinada, cedida pela SEEDUC (2021). No entanto, o aplicativo que já fora utilizado nos Estados do Amazonas, Pará, São Paulo e Paraná, atingindo para mais de sete milhões de alunos, é suspeito de integrar uma rede de notícias falsas, utilização não autorizada de dados dos usuários e demais irregularidades. Contratado durante a pandemia, que serviu para justificar uma regulamentação mais afrouxada, o aplicativo é desenvolvido pela empresa, a IP.TV, que possui ligações22 com o atual governo federal de caráter neofascista.

O produto mais conhecido da IP.TV é o Mano, um canal de vídeos criado em 2018 para alavancar a campanha de Jair Bolsonaro com notícias falsas e outros conteúdos não permitidos, como apologia às armas e à ditadura empresarial-militar. O principal canal do Mano é justamente a TV Bolsonaro, um canal digital com vídeos que fazem apologia ao uso de armas, ao fascismo e à ditadura militar23. O canal faz parte de uma série de outros, oferecidos a estudantes da rede pública do Pará e do Amazonas, crianças e jovens entre quatro e 17 anos24.

O Applique-se está envolto em uma série de problemas que abarcam desde a


22 As informações a respeito do Applique-se encontram-se disponíveis em: https://theintercept.com/2020/06/15/app-empresa-tv-bolsonaro-aulas-online-pandemia/. Acesso em 12 de outubro de 2021.

23 Ver vídeo de Flavio Bolsonaro conclamando seus partidários e apoiadores a utilizarem o Mano:

https://youtu.be/iwjLRfd0umk

24 As informações a respeito do Applique-se também se encontram disponíveis em: https://theintercept.com/2020/06/15/app-empresa-tv-bolsonaro-aulas-online-pandemia/. Acesso em 12 de outubro de 2021.

dificuldade de acesso dos alunos, até a suspeita de utilização e venda dos dados pessoais de alunos e professores, tendo o Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), em notificação extrajudicial à SEEDUC, questionado a utilização do aplicativo (SEPERJ, 2021). Mesmo assim, em declaração à imprensa, o então Secretário de Educação do Rio de Janeiro, Comte Bittencourt, declarou que o aplicativo ficará como “legado aos alunos” (CONSED, 2021), o que caracteriza a direção que frações da classe burguesa pretendem dar à educação de jovens, filhos e filhas da classe trabalhadora. Com essas marcas, o GWE é disponibilizado, a partir de 1º de março de 2021, no Rio de Janeiro, através do Applique-se.

Tal cenário manteve-se até 20 de outubro de 2021, quando, pelo motivo declarado de diminuição de mortes e de casos da COVID-19, o governo do Estado do Rio de Janeiro, através do decreto nº 47.801, de 19 de outubro de 2021 (RIO DE JANEIRO, 2021), determina o retorno às aulas presenciais. Com isso, desenha-se uma nova configuração de utilização do Applique-se, bem como do GWE no Estado do Rio de Janeiro. Com o retorno às aulas presenciais, os alunos não são mais obrigados a utilizar o Applique-se uma vez que, resguardando os casos especiais descritos no decreto, devem comparecer às aulas.

Assim sendo, a fim de preservar os limites metodológicos e analíticos da pesquisa, em que pese o desafio de perscrutar o real em seu flagrante movimento, resguardaremos os alongamentos deste estudo para o oportuno momento de sua redação final. Por ora e para as finalidades propostas neste artigo, ficaremos com os apontamentos analíticos descritos, e que encaminham, ao menos assim pensamos, algumas das principais questões que indicamos até aqui.


Considerações finais


A pesquisa em curso, da qual deriva este artigo, visa explicitar a atuação da Google LLC por meio da plataforma GWE, que objetiva concorrer amplamente para o controle da classe trabalhadora, incidindo de diferentes modos na formação e con- formação tanto dos estudantes quanto de seus professores, desde a educação básica. Nessa direção, e com base nos elementos expostos, consideramos que a Google LLC pretende conformar a educação, criando um consenso em torno da

utilização de sua mercadoria educacional, o GWE, com a intenção de contribuir para a criação de um “novo tipo humano, associado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo” (GRAMSCI, 2020, p. 248).

Como demonstrou o filósofo italiano no estudo acerca do americanismo e do fordismo (2020), por exemplo, mas também em outros escritos como os referentes aos intelectuais e ao princípio educativo (2000), a subsunção do trabalho ao capital requer um conjunto de características psicofísicas em cuja construção a educação, na forma escolar, desempenha papel fundamental, embora não único.

Se ao padrão de acumulação taylorista-fordista correspondia um paradigma educativo adequado ao modelo fabril do século XIX e, por conseguinte, adequado à formação daquele trabalhador de novo tipo, na atualidade são outros os paradigmas requeridos pelo padrão de acumulação flexível. Pode-se considerar, em decorrência, que, em um novo tipo de acumulação e de modelo racionalizado de produção – o capitalismo flexível –, a plataforma de serviços educacionais da Google.LLC vai plenamente ao encontro dos interesses e necessidades do capital, representando-o como intelectual orgânico (GRAMSCI, 2000) e atuando no sentido de constituir um outro trabalhador de novo tipo.

Esse aspecto, que ainda requer aprofundamento, é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, possibilitando que se possa, com propriedade, apreender o papel da Google.LLC na construção de consenso, no âmbito do Estado Integral, referente à utilização de sua mercadoria educacional, o GWE, e para além dela.

Em face da necessidade de delimitar nosso objeto de estudo, nos deteremos à

análise do estado brasileiro, marcado, neste momento histórico, por um governo apoiado por expressivas frações da classe burguesa, que se caracteriza pela emergência do neofascismo, pelo vilipêndio das lutas da classe trabalhadora e pela criminosa gestão da crise sanitária derivada da pandemia da Covid-19.

Esse cenário obscuro, no campo da educação, foi precedido pela aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), gestada na ofensiva reacionária desde 2015-2016, aprovada em 2017, aprofundando os processos de mercantilização da educação e a captura de sua dimensão pública. Do mesmo modo, e com sentido complementar, destaca-se, para os fins de nosso estudo, a (Contra)Reforma do

Ensino Médio, aprovada em 2018, ainda no governo Temer, cuja implementação se encontra em curso.

A análise de ambos os instrumentos legais nos interessa especialmente por explicitar a relação da Google LLC com a educação pública, pela mediação particular da GWE, como se evidencia, por exemplo, pela estreita convergência entre os interesses empresariais e as contrarreformas neoliberais na educação, aqui referidas. Pretendemos, assim, compreender a complexidade e a capilaridade desse processo.


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