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público e das parcerias público-privadas. Estes conduziram o deslocamento de
direitos sociais e universais, como saúde e educação, tão recentemente conquistados,
para “serviço público não estatal”.
A partir de então, as já multiplicadas organizações privadas passaram a atuar,
com permissão e apoio do Estado estrito, em todas as áreas sociais. No bojo da
educação, as pautas da CNI, por exemplo, foram totalmente acatadas. Nesse sentido,
se é fato que, ainda em torno da Constituinte, a movimentação do empresariado
originou um novo modo de ‘pensar, formular e resolver as questões’, e assim um novo
projeto que apontava para a superação do patamar econômico-corporativo, também
o é que, no âmbito da educação especificamente, os empresários conquistaram força,
espaço e legitimidade jamais vistas na história, nacional e internacionalmente.
O primeiro ponto a se destacar é que, diante da correlação de forças
estabelecida na década de 1980-90 e da reestruturação produtiva em curso, estava
claro para a classe dominante que não bastaria apenas a formação para o trabalho
nos aspectos cognitivos. Era necessário formar um novo padrão de sociabilidade e,
nesse sentido, construir um modelo de sociedade, nos padrões da ordem, em fina
sintonia com seus interesses de classe. Era necessário, portanto, transcender o nível
econômico-corporativo de consciência coletiva.
Precisamente nesse sentido, a capacitação seria a solução para o desemprego
em tempos de globalização, mas a própria inserção do Brasil no mercado mundial
predominantemente como exportador de produtos primários dispensava mão de obra
qualificada para nossos postos de trabalho; a educação pública precisava ser
expandida, mas o setor público era ineficiente e improdutivo. O então ministro da
educação Paulo Renato Souza, vindo diretamente do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) para a pasta, levou adiante inúmeras medidas que tinham
como nervura central a educação profissional desintegrada do ensino médio e o
ensino fundamental minimalista, defendidas pelo Banco Mundial e pelo MEC como as
modalidades de melhor retorno econômico (LEHER, 2010).
Noutros termos, garantir qualidade da educação para todos, ou a
oportunidade de aumentar as chances de vender a força de trabalho
no mercado, de modo eficiente e produtivo, perpassaria conferir ao
alunado as competências estritamente requeridas pelas ocupações
disponíveis. Nesse sentido, as modalidades supracitadas seriam
economicamente mais produtivas, pois ofereceriam uma formação
menos dispendiosa e, ao mesmo tempo, suficiente para formar forças
de trabalho vendáveis naquela realidade. Como discorre Leher (2010),