momento era muito crítica. De acordo com Lunatcharsky (2017b), os obstáculos
eram vários, a exemplo do número insuficiente de instituições de ensino, professores
despreparados, dentre outras dificuldades herdadas da antiga escola. Os esforços
eram grandes, e a relação do Comissariado com parte do magistério reacionário era
conflituosa, o que tornava a complexa tarefa de reformar a escola ainda mais difícil,
pois, para que isso acontecesse, era necessário o comprometimento de todos. O
autor ainda comenta que, inicialmente, a reforma seria parcial, mas as mudanças
continuariam acontecendo até se chegar a uma escola realmente popular. Para ele:
A reforma da escola, depois da Revolução de Outubro, tem
obviamente o caráter de um ato de luta das massas pelo
conhecimento, pela educação. O Comissariado da Educação deve, o
mais rapidamente possível, destruir os privilégios de classe também
neste campo, que talvez seja o mais importante. A questão não está
em apenas torná-la acessível para todos na forma como ela é, pois
que assim como ela foi feita pelo regime passado, ela não serve para
as massas trabalhadoras. Trata-se de sua reconstrução radical no
espírito de uma escola verdadeiramente popular (LUNATCHARSKY,
2017b, p. 286).
Do ponto de vista dos educadores socialistas, a nova escola, além de ser
gratuita e acessível, deveria ser única e do trabalho. Contudo, destaca-se no
documento que a escola não deve ser única em todos os níveis horizontalmente,
mas precisava ser única verticalmente. Isso quer dizer que os estudantes tinham
aptidões e disposições diferentes, mas que todos deveriam cursar disciplinas
entendidas como unificadoras da formação e do ensino. A Escola Única do Trabalho
não era encarada como um centro de treinamento profissionalizante, capaz de
formar os sujeitos para desempenhar apenas um ofício na sociedade. Os
educadores socialistas defendiam a educação politécnica, que proporcionava às
crianças, “[...] na prática, o conhecimento dos métodos de todas as mais importantes
formas de trabalho, em parte na oficina escolar ou na fazenda escolar, em parte nas
fábricas, usinas e semelhantes” (LUNATCHARSKY, 2017b, p. 290). Podemos
considerar que o trabalho seria o eixo articulador da escola, por meio do qual as
crianças se familiarizavam com o meio ambiente natural e social. De acordo com
Freitas (2017, p. 09), “para os pedagogos deste período, a escola deveria estar
envolvida na criação da nova vida social, cujas possibilidades estavam sendo
abertas pela revolução; portanto, deveria se envolver profundamente na formação
de um novo ser humano imerso na vida social”.