em cima de uma inquietação que eu tinha desde pequeno. É que era, que era isso,
olhar pro mundo e vê... Sentir um incômodo profundo, com a barbárie que a gente
vive, com as formas de destruição, com o desprezo pelo outro. Enfim, sempre tive
uma ligação muito estreita com a Baía de Guanabara, né? Fui criado em Paquetá.
Então, ver a Baía de Guanabara se destruindo, se acabando. Eu sou do tempo em
que ainda peguei, ainda via cavalo-marinho, né? Eu tinha que tomar cuidado
nadando porque podia esbarrar numa arraia, hoje em dia não tem mais nada disso.
Até arraia voltou um pouco agora, enfim... Mas a situação virou um quintalzão do
parque industrial, de navios, né? Então, essa inquietação que vinha desde criança
em relação ao que eu via na vida, foi se vinculando às minhas escolhas
profissionais. Então, eu fui fazer Biologia, na verdade motivado por isso, achei
inicialmente que a Biologia ia dar conta dessa discussão e depois eu fui vendo que
não, que a Biologia tinha contribuição bacana e tal, importante... Mas, enfim, essa
relação sociedade e natureza traz a questão ambiental, porque demanda esse lado
social, né? Porque, na verdade, as questões são sociais! O problema ambiental só
existe em função de uma questão social. E aí, fui buscando uma série de outras
formações e estudos, mas sempre vinculado à minha vivência, né? Movimento
ambientalista, meninos e meninas de rua, que viviam em situação de rua. Enfim, nas
favelas do Rio e depois isso foi se ampliando para vários grupos sociais, escolares,
não escolares. E mais especificamente, para os últimos [anos], eu diria, talvez os
últimos dez, quinze anos vim me aproximando do debate dos povos tradicionais, por
vários motivos, né? Eu acabei me vinculando muito...
Ah... Por vários motivos, um mais estrutural, que eu diria, é a questão de que sem
dúvida nenhuma é esse processo de desenvolvimento que a gente tem no Brasil,
diante dessa reprimarização, essa base do extrativismo, né? Muito forte, de uma
perda do processo de desindustrialização no Brasil, isso gera uma pressão enorme
sobre os povos tradicionais porque na verdade (...) É o agronegócio, é a extração
mineral, da madeira, e por aí vai, minério total, muito forte... Então, quem acaba
sendo o sujeito prioritário aí desse [sic] debate todo? Acaba sendo/são os povos
tradicionais, porque eles sofrem mais diretamente, né (...) Fui me apaixonando... por
esse mundo dos povos tradicionais, pelas tradições africanas (...) e aprendi muita
coisa com esses grupos e aprendo até hoje, sou totalmente vinculado a todos eles.