E o Inova, eu acho que é essa coisa, ele virou band-aid pra Suzano,
band-aid para as complicações da escola […]. A sociedade está mudando
muito rapidamente, a gente não consegue acompanhar, as redes sociais
tiveram um papel fundamental nessa questão, o bolsonarismo com as
violências, eu acho que a gente até... A pandemia nos poupou isso, que a
gente não saberia como é que estariam nossos alunos, meninos e meninas,
assim, né? Com essa beligerância do bolsonarismo de pegar e matar, não
sei como é que seria no físico aqui (Nara, Diretora da EE Rosa).
Da resiliência, eu quero cair duro quando eu ouço resiliência: “Não, a gente
tem que ser resiliente”, eu: “Ah não, fale tudo menos resiliência gente, né?”,
que é esse espaço de conformação do sujeito, ah, aceita tudo, se adapta a
tudo, então veio o perrengue, mas se adapte, lide com isso, não é assim
gente, tem hora que... Aí eu lembro do Paulo Freire de novo falando da justa
ira, tem hora que a gente tem que ficar com raiva, a Seduc não fala de raiva,
não fala de medo, não fala de angústia, é tudo happy, tudo êêê, todo mundo
feliz… (Geraldo, Professor coordenador da EE Dália).
[…] a grande lógica quando você reduz 3.000, que é o que tinha no currículo
da nossa escola, pra 1.800 na formação geral básica, eu vejo uma
gravidade tremenda, é diminuir o conhecimento dos alunos nos aspectos
científicos, é diminuir arte na escola, é diminuir o diálogo e implementar uma
proposta tarefeira, ainda que tenha tecnologia implementada, mas é uma
tecnologia reduzida a operar os aplicativos, ou seja, às demandas de
precariedade que o mercado exige desse novo cidadão, o eu
empreendedor, é o pensamento individual, tudo é eu na proposta, e ela
simplesmente não é só uma proposta educacional, eu entendo que seja um
raciocínio, uma lógica para o novo modelo de sociedade que não garante
mais os direitos mínimos para as pessoas, então a escola, ela é espaço, ela
é palco pra isso (Itamar, Diretor da EE Íris).
As competências socioemocionais elas têm que ser UM [ênfase] elemento
para se pensar a educação, porque vivemos num mundo hoje em que o
socioemocional é importante. […] O centro da educação não tem que ser as
competências socioemocionais e a preparação para esse mundo uberizado.
[…] Aí vêm esses projetos mirabolantes que invertem: porque nós
precisamos ter uma mão-de-obra flexibilizada para se encaixar em qualquer
trabalho que tiver, não é formação, é qualquer trabalho. […] Eu acho que é
um modelo de educação que não vai formar nossos estudantes para a
necessidade deles, vai formar nossos estudantes para uma necessidade do
capital. Você vai estar desempregado, mas você vai ser formado para ser
empreendedor se você quiser. Vá lá e empreenda, assim você está bem na
vida (Adriana, Diretora da EE Tulipa).
Alguns pontos se destacam nos relatos acima: que o contexto de repressão
também possui reproduções no âmbito escolar. Como citado pela diretora Nara, o
caso de uma escola estadual na cidade de Suzano onde houve um atentado de
atiradores, resultando em estudantes e servidores mortos.
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Um fato como este
marca gerações. Não à toa que os temas da resiliência, da felicidade a qualquer
custo permeiam atividades promovidas pela Seduc sob a ideologia de competências
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O atentado ocorreu em escola estadual na cidade de Suzano que deixou 10 pessoas mortas,
incluindo os dois atiradores que eram ex-alunos. Disponível em <brasil.elpais.com > Acesso em 11
ago. 2021.