gases de efeito estufa, algo que, combinado ao conhecimento a respeito dos
sistemas oceânicos e terrestres de absorção desses gases, é absolutamente central
para conceber de maneira realista estratégias de estabilização.
Esse conhecimento, a propósito, precisaria ainda ser enriquecido por noções
mais amplas a respeito do funcionamento do Sistema Terra, abrangendo ciclos
biogeoquímicos (como o do nitrogênio e o do carbono, por exemplo), limites
planetários e mecanismos de retroalimentação. (Rockstrom et al., 2009; Steffen et
al., 2015) Apenas sobre esses fundamentos se pode articular rigorosamente
considerações a respeito de pontos críticos de não retorno, mudanças abruptas,
colapsos e, especialmente, ter maior clareza a respeito dos diversos graus de
urgência que daí emergem.
Apenas sobre esses fundamentos é possível absorver seriamente, de maneira
propriamente científica, o ritmo acelerado em que são publicadas atualizações do
melhor conhecimento à disposição, do acervo de evidências, das várias projeções
de cenários futuros. Não custa lembrar que as dificuldades para caminhar nessa
direção não são necessariamente originadas em concepções pedagógicas
mal-informadas (ou mal-intencionadas). Levar em consideração todo esse amplo
repertório de elementos torna demasiadamente flagrante o descompasso abissal
entre as destruições e urgências ecológicas que temos impulsionado e as políticas
economicamente determinadas que têm sido elaboradas e, em menor medida,
perseguidas. (IPCC, 2023) Em outros termos, levar a ciência a sério talvez seja
subversivo demais para um ramo do conhecimento de vocação conservadora.
Abstraindo momentaneamente dessa restrição objetiva, devemos apontar
outro tópico que se impõe no rastro da questão climática: a centralidade da questão
energética. Segundo dados da Climate Watch, mais de 70% de todas as emissões
de GEE estão relacionadas à produção ou ao consumo de energia.4Significa que
nenhuma estratégia crível de controle das emissões para estabilização da química
atmosférica pode passar ao largo de uma imperativa descarbonização5do setor.
As alternativas viáveis de descarbonização não são muitas. A mais evidente e
imediata seria a contração da escala total de produção e consumo de energia. Esta
alternativa, no entanto, é incompatível com um sistema compulsivamente expansivo.
5Ainda de acordo com a Climate Watch, 90,1% das emissões totais do setor em 2019 foram de CO2.
4Os dados mais recentes são de 2019, quando o setor de energia respondeu por 75,64% das
emissões. Disponível em: https://www.climatewatchdata.org/ghg-emissions.