reprodução do sistema capitalista, então ela inevitavelmente reproduz também
elementos do colonialismo e, consequentemente, do racismo.
Uma vez que as transformações técnicas possibilitadas pelas tecnologias
digitais no século XXI são indissociáveis do sistema de produção capitalista,
sustentado pela divisão de classes e expropriação de valor, os autores defendem
que o método dialético e a teoria marxista do valor ainda se constituem como um
fértil instrumento teórico-metodológico de análise. Esta tese é trabalhada na
segunda parte da obra, intitulada Colonialismo digital, acumulação primitiva de
dados e a psicopolítica, onde os autores se contrapõem a perspectivas teóricas que
defendem que a teoria do valor desenvolvida por Marx não daria mais conta de
explicar o atual estágio da sociedade profundamente transformada pelo
desenvolvimento técnico.
Muitas das tendências que advogam a desatualização da teoria marxista do
valor e da luta de classes, atribuem ao desenvolvimento informacional uma
possibilidade de valorização do tipo D-D’ (valorização do valor) que prescinda da
mediação produtiva. Isso porque os produtos informacionais, ou virtuais, poderiam
ser replicados e “produzidos” indefinidamente sem efetivamente passarem
repetidamente pelas relações de produção.
Segundo os autores, tais argumentos só se sustentam pela crença na
imaterialidade das novas tecnologias digitais. Neste sentido, buscam destacar
justamente o aspecto material de qualquer tecnologia, mesmo dos mais sofisticados
algoritmos ou softwares, uma vez que todos são dependentes de tempo e espaço e,
portanto, frutos de trabalho e produção humanas que podem ser expropriadas pelo
capitalismo. Não é possível existir softwares sem hardwares, ou tecnologias como
internet, armazenamento nas nuvens etc, sem uma extensa rede de cabos de fibra
óptica e servidores. Da mesma forma, não é possível existir hardwares e a estrutura
material em que pretensamente o valor possa ser produzido fora da exploração do
trabalho, sem “[...] ouro, lítio, columbita, tantalita, coltan, cobalto, entre outras
matérias-primas frequentemente extraídas de forma violenta de terras indígenas ou
africanas pelo garimpo predatório (Deivison e Lippold, 2023, p. 100)”.
Os autores apontam ainda que vivemos um processo em que se opera uma
ofensiva (sem nenhum tipo de regulamentação) sobre espaços que antes não eram
expropriados, tais como os momentos de ócio, de lazer, a criatividade, a cognição, a