V.22, 48 - 2024 (maio-agosto) ISSN: 1808-799 X
A TEORIA DA ATIVIDADE DE LEONTIEV: PONTOS-CHAVE
1
Quenizia Vieira Lopes
2
Adriana Regina de Jesus Santos
3
Resumo
Busca-se discorrer sobre a Teoria da Atividade de Leontiev, a qual tem como base teórica a Teoria
Histórico-Cultural de Vigotski e, por conseguinte, o Materialismo Histórico-Dialético, de Karl Marx.
Expõe-se uma síntese da teoria, abordando seus pontos principais, como a estrutura da atividade.
Este trabalho visa auxiliar a assimilação de conhecimentos teóricos de interessados na temática.
Como procedimento metodológico, utilizou-se uma abordagem qualitativa a partir da adoção de
pesquisa documental. Ao final desse estudo, detectou-se que a Teoria da Atividade pode ser utilizada
no contexto educacional.
Palavra-chave: Atividade; Motivo; Sentido; Significação; Trabalho.
TEORÍA DE LA ACTIVIDAD DE LEONTIEV: PUNTOS CLAVE.
Resumen
Busca discutir la Teoría de la Actividad de Leontiev, que tiene como base teórica la Teoría
Histórico-Cultural de Vygotsky y, en consecuencia, el Materialismo Histórico-Dialéctico de Karl Marx.
Se presenta una síntesis de la teoría, abordando sus puntos principales, como la estructura de la
actividad. Este trabajo tiene como objetivo ayudar a la asimilación de los conocimientos teóricos de
los interesados en el tema. Como procedimiento metodológico se utilizó un enfoque cualitativo
basado en la adopción de la investigación documental. Al final de este estudio, se detectó que la
Teoría de la Actividad puede ser utilizada en el contexto educativo.
Palabra clave: Actividad; Motivo; Sentido; Significado; Trabajo.
LEONTIEV'S ACTIVITY THEORY: KEY POINTS.
Abstract
It seeks to discuss Leontiev's Theory of Activity, which has as its theoretical basis Vygotsky's
Historical-Cultural Theory and, consequently, Karl Marx's Historical-Dialectical Materialism. A
synthesis of the theory is presented, addressing its main points, such as the structure of the activity.
This work aims to help the assimilation of theoretical knowledge of those interested in the subject. As
a methodological procedure, a qualitative approach was used based on the adoption of documentary
research. At the end of this study, it was detected that the Activity Theory can be used in the
educational context.
Keyword: Activity; Motive; Sense; Meaning; Work.
3
Pós-doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro - Brasil.
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil.
Professora do Departamento de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Paraná - Brasil..
Email: adrianar@uel.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3324193224582884.
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-9346-5311.
2
Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Paraná - Brasil. Mestra em
Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil. Pedagoga/área Orientação
Educacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO), Brasil.
E-mail: quenizia@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3770206977035882.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6199-0616.
1
Artigo recebido em 05/03/2024. Primeira Avaliação em 15/03/2024. Segunda Avaliação em
20/03/2024. Aprovado em 09/07/2024. Publicado em 07/08/2024.
DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v22i48.62174.
1
Introdução
O presente artigo tem como objetivo compreender os aspectos centrais da
Teoria da Atividade, desenvolvida pelo psicólogo soviético Alexei Nikolaevich
Leontiev (1903-1979), um dos principais teóricos e proponentes da Psicologia
Histórico-Cultural. Assim, apresenta seus pontos essenciais, quais sejam sua
definição, sua estrutura geral e suas unidades basilares
4
.
A Teoria da Atividade de Leontiev tem suas raízes na psicologia
histórico-cultural e é uma abordagem fundamental para compreender o
comportamento humano e suas interações com o ambiente. Sob essa ótica, a
primeira seção deste artigo aborda suas principais características, com vistas a
possibilitar um melhor entendimento sobre a teoria. A estrutura geral da atividade,
tópico apresentado na segunda seção, especifica que, para o seu desenvolvimento,
a atividade dispõe de elementos essenciais para a sua realização. Na terceira seção
do artigo, discorre-se sobre as unidades basilares da Teoria da Atividade: motivos,
significação e sentido, como forma de compreender sua aplicabilidade.
Como procedimento metodológico, utilizou-se uma abordagem qualitativa a
partir da adoção de pesquisa documental. Em relação à revisão bibliográfica, tem-se
como parâmetro principal os estudos dos autores Bernardes (2012), Duarte (2004),
Leontiev (2004; 2010; 2017; 2021) e Martins (2015).
Justifica-se este trabalho tendo em vista a escassez de artigos específicos
que abordem a Teoria da Atividade de forma completa, objetiva e sucinta na
perspectiva única de Leontiev. Assim, com base em busca por meio de
palavras-chave e operador booleano com a descrição ("Teoria da Atividade") AND
("Leontiev"), o portal de Periódicos Capes (Capes, 2024) aponta 149 trabalhos
publicados (dos quais 148 são artigos, sendo 101 cadastrados em periódicos
revisados por pares). A maioria dos artigos versam sobre a teoria de forma geral.
4
Este texto compõe parte de pesquisa de doutorado, em andamento, da primeira autora sob
orientação da segunda autora. Não será aprofundada a Teoria Histórico-Cultural, dado que as autoras
publicaram, em outro periódico qualificado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior), artigo científico sobre a referida temática.
2
Teoria da Atividade de Leontiev: visão geral
A Teoria da Atividade surgiu a partir dos trabalhos desenvolvidos por Vigotski,
no início do século XX. Após sua morte, outros estudiosos deram continuidade a
esses trabalhos e coube a Leontiev o aprofundamento quanto à Teoria da Atividade.
Em sua obra "Atividade, Consciência e Personalidade" (Leontiev, 2021), o
autor explora a noção de atividade humana. Leontiev enfatiza a ideia de que os
mecanismos cerebrais (ou psicológicos) devem ser compreendidos como produtos
do desenvolvimento da própria atividade objetal. O autor destaca que a consciência,
que é relacionada ao psiquismo humano, surge a partir do processo de trabalho
social e que a personalidade humana nasce pelo contexto social.
Entende-se, segundo explicitado pelo autor (Leontiev, 2021), que diferentes
espécies podem ter estruturas cerebrais e processos mentais específicos adaptados
às suas necessidades e contextos ambientais, pois os mecanismos cerebrais podem
se formar de maneiras variadas tanto na história evolutiva (filogênese) quanto no
desenvolvimento individual (ontogênese).
Conforme disposto por Duarte,
O importante aspecto a ser destacado é o de que, entre a
necessidade de alimento dada no ponto de partida e a satisfação
dessa necessidade no ponto de chegada, um elemento
intermediário, uma atividade mediadora: a produção de
instrumentos. Não importa quão primitivo seja esse primeiro
instrumento, a pedra lascada. Importa que começa a diferenciação
entre o ser humano e os animais (DUARTE, 2004, p. 49).
Por influência do trabalho, o homem obteve transformações no seu
organismo, o que fez com que sua fisionomia e anatomia fossem aperfeiçoadas com
vistas ao próprio desenvolvimento do trabalho e ao convívio em sociedade, uma vez
que o trabalho possui como característica o desenvolvimento no ambiente coletivo.
Verifica-se, portanto, que o trabalho é o responsável pelo processo de humanização
do homem, ou seja, enquanto o animal busca na natureza a forma de suprir suas
necessidades, o homem, ao transformar a natureza por meio do trabalho para suprir
suas necessidades, acaba por transformar a si mesmo. Ademais, o trabalho
constitui-se como atividade indispensável ao homem, diferenciando-se da atividade
dos animais, uma vez que é mediado pela reflexão consciente, isto é, é realizado de
forma intencional e organizada.
3
Mas, afinal, como se define a atividade? De acordo com o disposto por
Leontiev,
A atividade é uma unidade molar, não aditiva, da vida do sujeito
corporal e material. Num sentido mais restrito, ou seja, no nível
psicológico, é uma unidade da vida mediada pelo reflexo psíquico,
cuja função real consiste em orientar o sujeito no mundo objetivo. Em
outras palavras, a atividade não é a reação ou um conjunto de
reações, mas um sistema que tem estrutura, transições e
transformações internas e desenvolvimento próprio (LEONTIEV,
2021, p. 103-104).
Desse modo, considera-se a atividade, assim como o trabalho, algo vital ao
ser humano, promovente do encadeamento da consciência, da realidade subjetiva,
que é criada a partir das experiências do próprio sujeito no mundo, com a realidade
objetiva, que é produzida no plano exterior a partir da interação na coletividade.
Outrossim,
Por atividade, designamos os processos psicologicamente
caracterizados por aquilo a que o processo, como um todo, se dirige
(seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o
sujeito a executar esta atividade, isto é, o motivo (LEONTIEV, 2010,
p. 68).
Fazendo uma análise da Teoria da Atividade, sob a perspectiva de Leontiev, é
consentido afirmar que esta se debruça em uma análise da formação da consciência
humana, a partir da sua atividade social. Compreende-se, assim, que o ser humano
não pode ser visto separadamente do meio sociocultural ao qual pertence e suas
ações são atinentes à sua evolução social e desenvolvimental, o que confirma a
inserção dessa teoria no contexto histórico-cultural. Dessa forma, a Teoria da
Atividade propõe que o desenvolvimento do psiquismo humano ocorre em um
movimento dialético entre as atividades práticas e os processos psíquicos; ou seja,
de acordo com a maneira que a pessoa age no mundo, os seus pensamentos e
suas ações são conduzidos.
Conforme disposto por Martins (2015), a consciência e a atividade caminham
juntas e são complementares uma da outra, sendo que a atividade humana
necessita de intermédio para o seu desenvolvimento, o qual é alcançado por meio
da consciência. Nessa linha, fica evidente a importância da consciência no processo
de desenvolvimento humano e, consequentemente, das atividades realizadas. Ao
falar de atividade é preciso pontuar o conceito de personalidade. Segundo Leontiev
4
(2021, p. 182), "(...) sob o conceito de personalidade, entende-se a pessoa em sua
totalidade empírica”. Assim, essa unidade transforma o sujeito em um ser completo
e individual
5
.
A atividade possui características especificamente humanas, transformando a
natureza de forma consciente e organizada para o atingimento de um objetivo, ou
seja, provoca transformações sobre a natureza e sobre o próprio homem, inclusive
trazendo para este o desenvolvimento de potencialidades até então não reveladas.
A atividade é a categoria que auxilia a relação do homem com o mundo, uma vez
que ela medeia a conexão do mundo subjetivo com o mundo objetivo, ou seja, da
realidade criada no interior do homem a partir da sua visão de realidade exterior.
No contexto do Materialismo Histórico-Dialético, considera-se a atividade
como “uma unidade de análise do desenvolvimento e do comportamento humano”
(Bernandes, 2012, p. 46). Assim, entende-se que a atividade se realiza no contexto
da sociedade e deve ser estudada e desenvolvida levando-se em conta os aspectos
da historicidade.
Leontiev (2021) expõe que o conceito de atividade tinha sido trabalhado por
Marx, teórico do qual era adepto, ao abordá-la sob a teoria do conhecimento,
relatando que a atividade se vinculava à atividade sensorial prática do homem no
mundo, por meio de objetos, agindo, pois, por meio dela, em um contexto
materialista. Para Marx, conforme citado por Leontiev (2021), no processo da
atividade, a pessoa age sobre o objeto, manuseia-o e pode inclusive modificá-lo com
intuito de atingir seus objetivos.
Destarte, por meio da atividade o homem mantém seu contato dialético com o
mundo, agindo, pois, nele, modificando-o e sendo modificado, ao tempo que age
sobre si e sobre a natureza; ou seja, aquilo de que se apropria no desenvolvimento
da atividade auxilia no desenvolvimento do próprio homem, bem como este pode
promover mudanças no seu contexto.
Importante abrir parênteses neste texto para destacar que Leontiev buscou a
construção de um referencial materialista histórico e dialético para a Psicologia.
Desse modo, as funções psicológicas superiores (tipicamente humanas, tais como a
atenção voluntária, memória, abstração, comportamento intencional etc.) são
5
Como o foco principal deste estudo é discutir sobre a atividade, não serão aprofundadas discussões
sobre consciência e personalidade, elas apenas serão conceituadas para um melhor entendimento da
temática “atividade”.
5
produtos da atividade social, têm uma base biológica, mas, fundamentalmente, são
resultado da interação do indivíduo com o mundo, interação mediada pelos objetos
construídos pelos seres humanos. Por isso,
Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que
a natureza lhe quando nasce não lhe basta para viver em
sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no
decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana
(LEONTIEV, 2004, p. 285).
Atesta-se, portanto, que a atividade surge a partir da categoria trabalho,
possibilita a condução do homem no seu processo de humanização e requer
mediação para sua realização. Por conseguinte, a atividade contribui no
desenvolvimento da consciência do sujeito, na construção de sua personalidade e
na assimilação de conhecimentos.
Para um melhor entendimento sobre a atividade, tratar-se-á, na sequência, da
estrutura que ela possui.
Estrutura da Atividade
Com base em Leontiev (2017, 2021), pode-se afirmar que a atividade possui
uma estrutura geral, que se realiza mediante sua execução. Contudo, a
macroestrutura exposta por Leontiev para a atividade não está relacionada somente
à atividade externa, que é considerada atividade prática, mas também à atividade
interna denominada teórica. O que as diferenciam é a forma como são executadas.
Evidencia-se, ao longo do percurso histórico do ser humano, que foi criada
uma série de objetos com o intuito de satisfazer as necessidades humanas,
produzindo assim não os próprios objetos, mas também novas necessidades.
Tais necessidades vão ao encontro das necessidades fisiológicas (exemplos: comer,
dormir e se exercitar) e, sobretudo, às construções históricas da humanidade
(exemplos: moradia, transporte, bem como a criação de instrumentos que facilitem a
realização das necessidades fisiológicas).
Analisando-se a prática de uma atividade, compreende-se que esta se
apresenta para realização de pelo menos uma necessidade. Logo, toda necessidade
direciona-se para o alcance de um objeto, um objetivo a ser cumprido, cuja
execução está condicionada às condições de sua realização, o que culminará no
direcionamento ou não de seu êxito.
6
De acordo com a psicologia histórico-cultural, é a necessidade a responsável
por dirigir o sujeito em seu meio objetal. Todavia, a necessidade não tem capacidade
de provocar atividade definitiva. São as necessidades junto com os objetos que
direcionam a atividade do sujeito, e não as necessidades isoladas de um objeto.
Aponta-se que a atividade está relacionada diretamente ao cumprimento das
necessidades. Desse modo, para suprir os seus interesses, faz-se necessário o
desenvolvimento da atividade para o alcance do seu objetivo, que é motivado com
relação a determinado objeto. Para Leontiev, “a primeira condição de toda a
atividade é uma necessidade”
6
(Leontiev, 2004, p. 115).
Entende-se que uma necessidade será realizada e completa quando for ao
encontro de um objeto, sendo isso chamado de motivo. Assim, o que impulsiona a
atividade é na verdade o motivo, ou seja, objeto e necessidade sozinhos não geram
atividade, e esta existe se houver um motivo. Importante destacar que,
Assim, o conceito de atividade está necessariamente ligado ao
conceito de motivo. Não existe atividade sem motivo; atividade “não
motivada” não é uma atividade desprovida de motivo, mas uma
atividade com motivo subjetiva e objetivamente oculto (LEONTIEV,
2021, p. 123).
Os motivos, portanto, despertam para a realização de uma atividade. Dessa
maneira, um interesse ou recompensa, ou seja, um fator interno ou externo ao
sujeito, é elementar para que uma atividade aconteça. A personalidade do sujeito,
de acordo com Leontiev (2021), pode sugestionar a motivação, que por
consequência recai sobre suas necessidades, influenciando, assim, a realização da
atividade.
A atividade, consoante o entendimento de Leontiev, é composta também pela
ação, podendo existir operação. Para Leontiev (2021), no contexto da Teoria da
Atividade, de se distinguir os termos ação e operação, diferente do que acontece
em outros cenários em que não essa divisão. Assim, frisa-se que a ação está
presente ao passo que se relaciona diretamente com as atividades, sendo útil na
medida em que realiza a ação que possibilitará o alcance da motivação da atividade;
contudo, a ação não possui motivação direta com a atividade. a operação é
composta por ações, todavia, não conscientes, e que ocorrem em conformidade com
6
Nota-se que a necessidade não é uma característica única do ser humano, mas um instinto do ser
vivo. Portanto, assim como o ser humano possui necessidades, os animais também as possuem.
Este trabalho, no entanto, enfatiza a atividade no que tange à relação do ser humano.
7
as possibilidades do contexto, isto é, com as condições dispostas, e se relacionam
diretamente com a ação; por isso, no processo da atividade, a operação pode ser
realizada de forma automatizada.
Nesse sentido, segundo o autor (Leontiev, 2021), é importante deixar clara a
relação das operações com a formação de sistemas funcionais, visto que, a partir do
domínio dos instrumentos, que são os meios utilizados no desenvolvimento de
atividades e operações que o ser humano realiza, é que esses sistemas se
desenvolvem.
Quando as ações se tornam mais complexas, elas ultrapassam a finalidade
da atividade e entram em conflito com os motivos que as originaram, fazendo com
que gerem outro motivo e/ou atividade. Leontiev (2021) explicita essa situação
citando as crises de desenvolvimento dos períodos humanos (crise dos três anos,
dos sete anos, adolescência, maturidade), em que, pelo modelo cíclico dos
elementos da atividade humana, pela sua natureza dinâmica, uma atividade principal
pode ter seus elementos estruturais originários modificados, o que pode gerar,
inclusive, uma nova atividade.
Seguindo a abordagem sobre a estrutura da atividade, pode-se afirmar que os
componentes estruturais desta são o sujeito, a necessidade, o objeto (objetivo), o
motivo, meios/condições e o seu produto. Outrossim, ressalta-se que a ação
também é responsável e imprescindível à existência da atividade, e que, além dela,
se pode contar com o suporte da operação. Dessa maneira, conforme a atividade
relaciona-se com o motivo, a ação relaciona-se com o objetivo, que pode gerar uma
ou mais operações (Leontiev, 2021).
No quadro a seguir, resume-se a estrutura geral da atividade:
Quadro 1 - Síntese da Estrutura Geral da Atividade
Item
Definição
Atividade
“A atividade do sujeito - externa e interna - é mediada e regulada pelo
reflexo psíquico da realidade. Aquilo que no mundo objetivo aparece para o
sujeito como motivos, objetivos e condições de sua atividade deve ser, de
alguma forma, por ele percebido, apresentado, compreendido, retido e
reproduzido em sua memória; isso vale também para o processo de
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atividade em relação a si mesmo, a seus estados, características,
peculiaridades” (Leontiev, 2021, p. 145).
É um processo ativo na vida do sujeito que o direciona no mundo do objeto,
tendo a necessidade e o objeto como principais pontos condutores, que por
sua vez são direcionados por um motivo. Para a sua concretização faz-se
necessário o uso de ação(ões), e pode ocorrer com uma ou mais
operações. Embora toda atividade demande ações, nem toda ação compõe
uma atividade.
Exemplo: Pode-se classificar o ensino como uma atividade, bem como o
estudo realizado pelo aluno, considerando, nesses casos, que o ato de
ensinar e a atividade de estudo estejam relacionados diretamente com os
motivos e o objeto do ensino.
Sujeito
“Apenas a análise posterior do movimento da atividade e das formas de
reflexo psíquico por ela engendrada levou à necessidade de introduzir o
conceito de sujeito concreto, de personalidade como o aspecto interior da
atividade (Leontiev, 2021, p. 179).
É parte ativa essencial do processo da atividade, que detém a consciência e
a personalidade.
Exemplo: No contexto escolar pode-se considerar como sujeitos o professor
e o aluno.
Necessidade
“O traço principal e primeiro de toda necessidade é que esta tem um
objetivo: tem-se a necessidade de algo, de um objeto material determinado
ou de um resultado ou outro de uma atividade” (Leontiev, 2017, p. 40).
Surge no ser vivo com vistas à satisfação de algo, de um objetivo, para sua
subsistência e/ou existência. As necessidades dividem-se em naturais
(manutenção e desenvolvimento da vida) e superiores (de caráter social).
As necessidades que surgem no homem se manifestam como desejos e
tendências, sendo indispensáveis à existência de um objetivo para
realização de uma atividade, e são determinadas pelas suas condições
sociais.
Exemplo: No processo de ensino e aprendizagem, a necessidade do
professor poderá ser a de compartilhar conhecimentos, e para o aluno a de
obter conhecimentos.
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Objeto
“Assim, o homem recebe o alimento, por exemplo, como objeto de uma
atividade particular - procura, caça, preparação - e ao mesmo tempo, como
objeto que satisfaz determinadas necessidades humanas,
independentemente do fato do homem considerado sentir ou não a
necessidade imediata ou de ela ser ou não atualmente o objeto da sua
atividade própria” (Leontiev, 2004, p. 87).
Orienta a atividade, podendo ser material ou ideal, e responde aos anseios
da necessidade. É considerado como motivo efetivo.
Exemplo: Pode-se afirmar que o objeto do processo de ensino é a formação
integral do aluno.
Motivos
“Os motivos, contudo, não são separados da consciência. Mesmo quando
não se toma consciência deles, ou seja, quando a pessoa não se conta
daquilo que a leva a realizar tais ou quais ações, elas ainda assim
encontram seu reflexo psíquico, mas de uma forma especial, isto é, na
forma de colorido emocional da ação. Tal colorido (intensidade, sinal e
caracterização qualitativa) desempenha uma função específica, o que
também exige que se distinga o conceito de emoção e de sentido pessoal”
(Leontiev, 2021, p. 219).
É a esfera motivacional da consciência. Excita o agir e dirige a ação de
satisfazer uma necessidade determinada. É o componente que se relaciona
diretamente com o conceito de atividade. Sem este a atividade torna-se
inexistente. Os motivos podem ser apenas compreensíveis
(motivos-estímulo) ou realmente eficazes (geradores de sentido).
Destaca-se que a atividade humana é polimotivada, podendo existir
simultaneamente dois ou mais motivos para a sua realização.
Exemplo: No desenvolvimento de uma atividade diferentes motivos. Para
o professor, um motivo de ensinar pode ser o de compartilhar os
conhecimentos adquiridos, bem como de subsistência financeira; para o
aluno pode ser o de ter domínio dos conhecimentos compartilhados para
alcance, por exemplo, de uma profissão futura, e de estudar para cumprir
uma obrigação familiar.
Ação
“(...) Chamamos ação o processo que se subordinado a um objetivo
consciente” (Leontiev, 2021, p. 123).
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“Chamaremos ações os processos em que o objeto e o motivo não
coincidem, podemos dizer, por exemplo, que a caçada é a atividade do
batedor, e o fato de levantar a caça é a sua ação” (Leontiev, 2004, p. 82).
Imprescindível para que a atividade se realize, a ação está relacionada aos
fins almejados (objetivos conscientes) e surge nas relações de intercâmbio
da atividade. Quando uma atividade perde seu motivo originário, esta se
transforma em ação. Nesse caso, o motivo não coincide com aquilo para o
qual ele se dirige (objetivo), mas se relaciona à atividade à qual se vincula.
Exemplo: Se o aluno estuda determinado conteúdo somente com a intenção
de passar na avaliação, esse processo é considerado como ação, visto que
o seu motivo (ser aprovado) não se vincula ao objetivo do processo de
ensino (formação do aluno para a sociedade). Se o professor ministra aulas
apenas com o intuito de cumprir sua obrigação e se manter vinculado ao
emprego, também realiza ação, visto que o seu motivo (cumprir prática
burocrática) não se vincula com o objetivo do processo de ensino (formação
do aluno para a sociedade). Contudo, nesses processos, estudar para a
prova e ministrar aulas, mesmo tendo motivações divergentes, vinculam-se
a atividades do processo de ensino. Portanto, são ações, e não atividades.
Operação
“(...) Eu denomino operações os modos de realização” (Leontiev, 2021, p.
127).
“(...) É claro que a origem de certa operação é determinada pela existência
de condições, meios e modos de ação que se formam ou são assimilados
de fora; contudo, a unificação de elos elementares entre si, que forma a
composição da operação, sua ‘compreensão’ e sua transmissão para níveis
neurológicos inferiores, ocorre submetendo-se a leis fisiológicas, as quais
não podem ser ignoradas pela psicologia” (Leontiev, 2021, p. 137).
Está relacionada às condições, modos, meios e procedimentos da ação e é
o resultado da metamorfose desta, que ocorre porque ela está incluída em
outra ação e segue sua tecnização. É determinada pela tarefa, isto é, o alvo,
dado em condições que requerem certo modo de ação. Sua existência não
é obrigatória na atividade, mas sempre que surge está vinculada à ação.
Assim, quando o sujeito a realiza, possui habilidades suficientes para
realizar o ato em automático.
Exemplo: Quando um professor ministra aulas de matemática, por exemplo,
e, ao resolver determinado problema, faz de modo automático os atos de
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somar e dividir, que são conhecimentos plenamente dominados
anteriormente. Esses atos são considerados operações. no caso do
aluno, o que geralmente ocorre nesse processo de somar e dividir quando
vai solucionar questões, é algo mais manual e que demanda um
aprofundamento de estudos para tal resolução. Assim, esses atos para o
aluno podem ser ainda uma ação, que tem como objetivo resolver a
questão, que é a atividade.
Meios/
condições
“(...) Um tiro justado requer numerosas operações, cada uma respondendo
às condições determinantes da ação dada: é necessário assumir uma certa
pose, apontar, determinar corretamente a mira, encostar ao ombro, reter a
respiração e premir corretamente o gatilho” (Leontiev, 2004, p. 110).
“A preparação dos instrumentos pelo homem tem também sua história
natural. Como sabemos, certos animais têm uma atividade instrumental
rudimentar que se manifesta pela utilização de meios exteriores que lhe
permitem realizar operações (cf. o uso do pau nos símios antropóides).
Estes meios exteriores, os ‘instrumentos’ dos animais são todavia muito
diferentes, qualitativamente, dos do homem que são os instrumentos do
trabalho” (Leontiev, 2004, p. 80).
Um instrumento é um objeto que pode se tornar um meio que auxiliará no
processo de desenvolvimento da atividade, isto é, os instrumentos podem
auxiliar as operações das atividades bem como, para o desenvolvimento de
qualquer atividade, modos e condições de sua realização, ou seja, a
forma como poderá ser realizada.
Exemplo: O professor utiliza diversas ferramentas, como livros, quadros,
datashow, etc., para aprimorar o processo de aprendizagem. Esses
instrumentos são essenciais para auxiliar o professor no processo de ensino
e estão vinculados às condições em que sua atividade pode se desenvolver,
como o contexto sócio-histórico e político, bem como a fatores naturais
como o clima.
Produto
“A atividade de trabalho se imprime em seu produto” (Leontiev, p. 2021, p.
148). É o resultado objetivo alcançado pela atividade realizada.
Exemplo: Um produto alcançado no processo de ensino pode ser a
formação integral do aluno.
Fonte: Elaboração própria por Lopes.
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Em conformidade com o disposto sobre a atividade, pode-se representar a
estrutura geral desta conforme figura abaixo:
Figura 1 - Estrutura geral da atividade, conforme Leontiev
Fonte: Elaboração por Lopes.
Pelo exposto, constata-se que a atividade é gerada a partir de uma
necessidade, estimulada e dirigida pelo motivo, que é imprescindível para a sua
existência. Assim, as ações da atividade são vinculadas ao atingimento de um
objeto, que acaba por ser o seu motivo real. No caso de uma atividade contar com
operações, ela estará vinculada diretamente à ação. Ademais, para que o resultado
seja alcançado, um sujeito que realiza a atividade.
No que concerne à atividade dominante ou principal, de acordo com os
pressupostos de Leontiev (2004, 2021), entende-se como a responsável pela
formação e organização dos processos psíquicos, que envolve outras atividades,
sendo essas realizadas conscientemente. Para o autor, pode-se considerar, por
exemplo, que a atividade principal da criança, anterior ao seu período de idade
escolar, é a atividade voltada para a ludicidade.
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Concebe-se que em cada etapa da vida do indivíduo uma atividade
dominante correlata, de acordo com a motivação e a realidade apresentada, que o
direciona a agir ao mesmo tempo que age sobre o seu processo de evolução
humana, inclusive influenciando o progresso psíquico.
Ao referenciar o processo de desenvolvimento da criança, Leontiev assegura:
Do ponto de vista da consciência, essa transição para a idade da
escola secundária é marcada pelo crescimento de uma atividade
crítica em face das exigências, do comportamento e das qualidades
pessoais dos adultos, e pelo nascimento de novos interesses que
são, pela primeira vez, verdadeiramente teóricos. Surge a
necessidade no aluno da escola secundária de conhecer não apenas
a realidade que o cerca mas de saber também o que é conhecido
acerca dessa realidade (LEONTIEV, 2010, p. 62-63).
Verifica-se, dessa maneira, que no trajeto da existência humana sempre
uma atividade principal correlata. No caso da criança, por exemplo, a sua atividade
principal, antes da idade escolar, é a brincadeira. Logo, quando do ingresso na fase
de escolarização secundária, sua atividade principal se torna o estudo, por
conseguinte, quando do ingresso na adolescência e/ou fase adulta, a atividade
principal pode se tornar o trabalho.
Desse modo, visualiza-se que, a partir da evolução do homem e,
consequentemente, das atividades que ele realiza em seu percurso de vida, um
processo de mudança qualitativo pode surgir sobre seu perfil. Assim ocorre porque
tais atividades possibilitam o desenvolvimento crítico, participativo e humanizado,
mediante a consciência assumida sobre o seu papel diante da sociedade, em
conformidade com o contexto histórico-social por ele vivido, do qual emergem
contradições que, de certa forma, precisam ser superadas.
A partir da explanação da temática central deste tópico, identificam-se
elementos essenciais na sua composição: motivos, significação e sentidos, os quais
serão apresentados na sequência.
Motivos, Significação e Sentidos: unidades basilares da Teoria da Atividade
Para compreender o desenvolvimento do homem no mundo, é necessário
compreender as suas interações nas relações sociais estabelecidas. Logo, não se
pode analisar o desenvolvimento humano distinto da práxis social constituída, por
conseguinte, da atividade que ele realiza cotidianamente.
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Frisa-se que a atividade é realizada tencionando suprir uma necessidade,
biológica ou social, que se conecta a um determinado motivo. A necessidade pode
surgir para supressão de algo que venha do instinto animal de sobrevivência e não
necessariamente de algo que demande pensamento mais elaborado para alcance
de determinado fim, de um projeto a ser realizado, de um alvo projetado.
Contudo, qual a relação do motivo na atividade? O motivo é o que impulsiona
a realização da atividade, em consonância com a sua finalidade, uma vez que
“denomina-se motivo da atividade aquilo que, refletindo-se no cérebro do homem,
excita-o a agir e dirige a ação a satisfazer uma necessidade determinada” (Leontiev,
2017, p. 45). Desse modo, o motivo estimula a execução da atividade e orienta para
um determinado objeto.
Outrossim, mesmo o motivo sendo o fio condutor da concretização da
atividade, em algumas situações poderá não surtir efeitos para que a atividade se
realize. Contudo, em uma mesma atividade poderão existir diferentes motivos,
destacando-se entre eles algum que seja mais eficiente, dependendo das condições
de realização da atividade. Leontiev (2010, 2017, 2021) nomeia alguns tipos de
motivo, entre eles citamos os motivos realmente eficazes (motivos
geradores/formadores de sentido) e os motivos apenas compreensíveis
(motivos-estímulos).
Motivos realmente eficazes (motivos geradores/formadores de sentido)
incitam a efetivação da atividade trazendo um sentido pessoal a esta. O motivo
eficaz impulsiona o sujeito a realizar algo para se alcançar um determinado objetivo,
de forma consciente e racional, sendo hierarquicamente superior em relação aos
motivos-estímulos.
os motivos apenas compreensíveis (motivos-estímulos) induzem a
realização da atividade, contudo, não são suficientes para que esta se concretize
integralmente. Exercem função de estímulo com princípios negativos ou positivos,
podendo possuir características emocionais e afetivas. Esses motivos podem vir a
se transformar em motivos eficazes, dependendo das circunstâncias do sujeito que
executa a atividade, o qual pode visualizá-los como motivos mais significativos em
determinadas condições.
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Deve-se registrar que a personalidade influencia os motivos. Para Leontiev,
A distribuição das funções de formação de sentido e apenas do
estímulo entre motivos de uma mesma atividade é o que permite
compreender as relações principais que caracterizam a esfera
motivacional da personalidade, isto é, relações de hierarquia dos
motivos (LEONTIEV, 2021, p. 220).
Contudo, o que significa sentido pessoal em Leontiev? O sentido pessoal se
constitui a partir da relação estabelecida pelo sujeito e aquilo que foi assimilado em
sua consciência, o que pode ser divergente do sentido de outros devido as suas
experiências. Desse modo, o sentido é considerado pessoal dada a relação que o
sujeito possui com determinado objeto ou fenômeno.
O sentido, conforme disposto por Leontiev (2004, p. 103), “é antes de mais
nada uma relação que se cria na vida, na atividade do sujeito”. Significa dizer que a
partir do processo da atividade, o sujeito toma consciência do que o impulsiona a
agir (motivo) e o que o dirige a agir (objetivo). Assim, o motivo que o dirige ao objeto
é algo individual e esse reflexo exclusivo torna-se, pois, o sentido pessoal do sujeito.
O sentido pessoal é individual, ou seja, nasce nas particularidades do
indivíduo, diferenciando-se da significação, que é construída na coletividade.
Leontiev pronuncia que
A significação é o reflexo da realidade independentemente da
relação individual ou pessoal do homem a esta. O homem encontra
um sistema de significações pronto, elaborado historicamente, e
apropria-se dele tal como se apropria de um instrumento, esse
precursor material da significação (LEONTIEV, 2004, p. 102).
Destarte, a significação é a representação histórica, que ocorre por meio da
linguagem, das experiências e práticas instituídas na e para a sociedade. Esta
reflete a apropriação da compreensão do mundo objetivo que se institui na
consciência, a partir das convenções sociais. Por conseguinte, infere-se que a
significação possui uma relação dialética com o sentido pessoal, à medida que
aquela é construída a partir das relações sociais e este surge a partir da
significação.
Dessa forma, por meio da significação, é possível compreender a
representação de determinado objeto ou fenômeno em consonância com o que este
representa para a humanidade, e não apenas com o que ele pode representar para
um sujeito em particular, dado que “os significados refratam para o indivíduo objetos
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independentemente da relação destes com a sua vida, suas necessidades ou
motivos” (Leontiev, 2021, p. 172). Assim, o sujeito, a partir da sua individualidade,
isto é, de suas experiências e práticas no mundo, compreende a essência do objeto
ou fenômeno a partir do entendimento da coletividade, ou seja, sua significação.
Para Leontiev (2004), as relações do sentido e da significação são alguns dos
componentes basilares da consciência humana, assim como o conteúdo sensível
7
,
componentes esses que se entrelaçam. Para o autor,
(...) Na verdade, se bem que o sentido ("sentido pessoal") e a
significação pareçam, na introspecção, fundidos com a consciência,
devemos distinguir esses dois conceitos. Eles estão intrinsecamente
ligados um ao outro, mas apenas por uma relação inversa da
assinalada precedentemente, ou seja, é o sentido que se exprime
nas significações (como o motivo nos fins) e não a significação no
sentido (LEONTIEV, 2004, p. 104).
Frisa-se que a significação de determinado objeto ou fenômeno não
impossibilita que sobre ele seja despertado no sujeito o sentido pessoal, dado que a
partir da significação se reproduz o sentido pessoal. Por conseguinte, o sentido
pessoal não implica a mudança da significação. Apreende-se, portanto, que o motivo
é de suma importância para o bom desenvolvimento da atividade, corroborando a
afirmativa de Leontiev de que
(...) A atividade que não tem um motivo geral e amplo carece de
sentido para o indivíduo que a realiza. Essa atividade não somente
não se pode enriquecer e melhorar em seu conteúdo, como se torna
uma carga para o sujeito. Isso acontece, por exemplo, com tudo o
que se faz por imposição. Por isso, apesar da importância que têm
os motivos-estímulos, a tarefa pedagógica consiste em criar motivos
gerais significativos, que não somente incitem à ação, mas que
também deem um sentido determinado ao que se faz (LEONTIEV,
2017, p. 50).
Atesta-se, dessa forma, conforme disposto por Leontiev (2017), que a
Teoria da Atividade pode ser considerada no contexto educacional, dado que toda e
qualquer atividade realizada deve ter um motivo gerador de sentido para que seja
7
É o conteúdo sensível (sensações, imagens de percepção, representações) que cria a base e as
condições de toda a consciência. De certo modo, é o tecido material da consciência que cria a
riqueza e as cores do reflexo consciente do mundo. Por outro lado, este conteúdo é imediato na
consciência; ele é aquilo que cria diretamente “a transformação da energia do estímulo exterior em
fato de consciência”. Mas na medida que este “componente” é a base e a condição de toda a
consciência, ele não exprime em si toda especificidade da consciência (LEONTIEV, 2004, p. 105).
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prazerosa e melhor desenvolvida pelo sujeito, e isso se aplica para as atividades
realizadas no contexto da educação.
O sujeito necessita de auxílio no processo de aprendizado, mas isso não
significa obrigatoriamente que ele realizar o desejado; o que existe é a
possibilidade de alcance do que se projeta, e um dos fatores de sua concretização
está correlacionado ao nível de desenvolvimento em que o sujeito se situa. Nesse
sentido, o uso da Teoria da Atividade no contexto educacional pode ajudar no
processo de ensino e aprendizagem, até mesmo introduzindo os conceitos dispostos
na Teoria Histórico-Cultural, pois esta fundamenta aquela.
Nessa perspectiva, o professor, por exemplo, ao refletir que suas atividades
devem ser realizadas com foco no seu motivo gerador, desenvolvendo as melhores
estratégias para um ensino mais instigante, a fim de despertar o potencial máximo
do aluno e propiciar que ele gere seus próprios conhecimentos, estará atuando de
forma condizente com a significação do exercício do seu trabalho. Desse modo, não
exercerá, pois, uma função alienada, dado que
A “alienação” da vida do homem tem por consequência a
discordância entre o resultado objetivo da atividade humana e o seu
motivo. Dito por outras palavras, o conteúdo objetivo da atividade
não concorda agora com o seu conteúdo objetivo, isto é, com aquilo
que ela é para o próprio homem. Isto confere traços psicológicos
particulares à consciência (LEONTIEV, 2004, p. 130).
Assim, o professor ao buscar melhor conhecer o seu público, com vistas a
continuamente melhor desenvolver estratégias de ensino, colaborando, pois, para
um processo de ensino e aprendizagem mais prazeroso e eficaz, estará dando
ênfase ao seu objetivo de trabalho, ou seja, ao seu motivo gerador de sentido, que é
a aprendizagem significativa do aluno. Por conseguinte, por meio das estratégias do
professor, ao orientar o processo de despertar no aluno um sentido pessoal, um
motivo gerador de sentido, para desenvolvimento de sua atividade educacional, a
partir da reflexão dos motivos que o movem, pode fazer diferença, visto que, a partir
da consciência do que o impulsiona, é possível alterar o percurso, caso ele não
esteja indo bem. Isso lhe permite tanto entrar em uma nova linha de pensamento
quanto prosseguir no processo que se encontra, com vistas ao seu objetivo.
Portanto, compreende-se, a partir do disposto, que a Teoria da Atividade de
Leontiev pode ser utilizada no contexto educacional como forma de auxiliar no
melhor desenvolvimento de suas atividades.
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Considerações finais
Por meio deste estudo, atestou-se que a Teoria da Atividade de Leontiev está
correlacionada ao desenvolvimento do ser humano, à atividade que ele desenvolve
no mundo, que é impulsionada por um motivo, que por sua vez possui relação com
um objetivo e que para sua concretização a necessidade de um conjunto de
ações, podendo existir operações.
A atividade é realizada de forma consciente a partir do motivo que se deseja
alcançar, valendo-se de estratégias para a sua concretização, podendo existir
diferentes tipos de atividades realizadas no contexto interno ou externo, por
exemplo, que podem levar ao fim desejado, mas isso tudo levando em consideração
os aspectos histórico-culturais em que a atividade é realizada.
Infere-se que para conhecer o verdadeiro significado de uma atividade é
preciso olhar por trás de sua motivação. Nessa perspectiva, entende-se que, no
contexto educacional, para que o ensino se torne cada vez mais profícuo, é
relevante conhecer o contexto do aluno, as perspectivas do desenvolvimento das
atividades realizadas no ambiente escolar e, de forma mais organizada, impulsionar
a aprendizagem.
Assim, quando o aluno assimila o motivo que o faz realizar uma atividade,
como a atividade de estudo, e esta possui, além do seu significado de assimilação
de conhecimentos científicos, um nível de interesse pessoal que satisfaz um
determinado objetivo, pode-se afirmar que tal atividade instiga esse aluno a agir de
maneira particular. Compreende-se, portanto, que são fundamentais as discussões e
reflexões permanentes em torno do melhoramento do processo
ensino-aprendizagem, com vistas a contribuir para o desenvolvimento do aluno a
partir desse processo, partindo, pois, de uma perspectiva, e a Teoria da Atividade de
Leontiev, diante do exposto neste trabalho, pode ser uma alternativa para melhor
desenvolver o processo educacional.
Como desdobramento deste estudo, sugeriu-se que fosse realizado, em uma
proposta de intervenção, o ensino da Teoria da Atividade de Leontiev no contexto da
prática de ensino. Portanto, propôs-se uma capacitação para professores, como
forma de compartilhar conhecimentos sobre a teoria, realizando análises e reflexões
sobre a sua utilização para verificar as implicações na formação dos professores. O
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trabalho desenvolvido, bem como os resultados dessa nova pesquisa, deverá ser
divulgado posteriormente.
Referências
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