uma significativa transformação, tornando-se mais flexíveis, abandonando a
remuneração fixa, jornadas pré-determinadas, e desconsiderando a organização
sindical e os espaços laborais fixos. Um reflexo marcante dessa flexibilidade é
observado nos trabalhos intermitentes, caracterizados pela disponibilidade constante
do trabalhador para atender à demanda, sem definição prévia de dias ou horários de
trabalho, gerando uma grande contingência de trabalhadores em espera para
possíveis chamadas de trabalho.
É por isso que, nesse mundo do trabalho digital e flexível, o
dicionário empresarial não para de “inovar”, em especial no setor de
serviços. “Pejotização” em todas as profissões, com médicos,
advogados, professores, bancários, eletricistas, trabalhadoras e
trabalhadores do care (cuidado) e “frilas fixos”, freelancers que se
tornam permanentes, mas que têm seus direitos burlados e se
escondem em redações dos jornais quando as empresas sofrem as
auditorias do trabalho. Ou ainda o chamado teletrabalho e/ou home
office, que se utiliza de espaços fora da empresa, como o ambiente
doméstico, para realizar atividades laborativas. Isso pode trazer
vantagens, como economia de tempo em deslocamentos, permitindo
uma melhor divisão entre trabalho produtivo e reprodutivo, dentre
outros pontos positivos. Mas com frequência é, também, uma porta
de entrada para a eliminação dos direitos do trabalho e da
seguridade social paga pelas empresas, além de permitir a
intensificação da dupla jornada de trabalho, tanto o produtivo quanto
o reprodutivo (sobretudo no caso das mulheres). Outra consequência
negativa é a de incentivar o trabalho isolado, sem sociabilidade,
desprovido do convívio social e coletivo sem repressão sindical
(ANTUNES, 2020b, p. 39).
No contexto do capitalismo contemporâneo, as empresas se afastam dos
modelos produtivos taylorista e fordista do século passado, adotando abordagens
flexíveis e informacionais. Essas organizações buscam estabelecer um novo modelo
empresarial global, utilizando ferramentas como flexibilidade, informalidade e
intermitência. Esse movimento resulta no desmantelamento das antigas legislações
protetoras e na implementação de novas leis que facilitam práticas antigas de
exploração. Em um cenário de avanço tecnológico, uma parte dos trabalhadores
enfrenta a flexibilização e a intensificação de suas atividades, tornando-se apêndices
dos aparelhos tecnológicos que impõem um ritmo acelerado, demandando
profissionais polivalentes e sujeitos a uma gestão que pressiona psicologicamente
por maior produção. Ao mesmo tempo, a maioria da classe trabalhadora lida com
novas modalidades de vínculos e condições de trabalho marcadas pela insegurança
e vulnerabilidade.