citada pela entrevistada C2P2. Essa adaptação da escola a formas de administração
empresarial vem ao encontro dos interesses dos reformadores empresariais da
educação (Freitas, 2018).
A dificuldade enfrentada devido à falta de acesso às TICs para os alunos
participarem do ERE também foi uma questão citada, dado que os estudantes
enfrentavam diferentes obstáculos para acessar os materiais, nem todos os
protocolos da SEED eram adequados para todas as situações. Professores
destacaram a interação das professoras e professores com os alunos e alunas
como parte essencial da rotina docente, e durante o ERE a falta de acesso dificultou
ainda mais o alcance de um ensino eficaz, aumentando o trabalho dos professores
para tentar se comunicar e até gerando frustrações aos docentes por não conseguir
dialogar com os alunos.
Foram falas recorrentes à falta de rotina e à perda de divisão do horário de
trabalho e horário de descanso. A discussão sobre a interferência do trabalho nas
atividades de recreação e repouso das pessoas tem recebido atenção nos últimos
tempos, especialmente nos estudos relacionados à saúde e ao bem-estar. Essa
subordinação da esfera pessoal ao mundo profissional tem se intensificado com a
disseminação dos meios de comunicação na vida diária, “como o indivíduo pode ser
alcançado em qualquer lugar do mundo pelos meios de comunicação, a convocação
para o trabalho a qualquer momento se tornou uma rotina invasora da privacidade”
(Dal Rosso, 2010). E podemos perceber essa invasão do trabalho na vida privada na
fala da professora C1P4.
Foi muito estressante, foi muito cansativo, eu nunca trabalhei tanto. Primeiro
porque você tinha que se logar, você tinha que ficar logada, às vezes
aparecia dois, às vezes aparecia três, até por causa dos alunos aqui da
própria escola mesmo, eles não tinham computador, não tinham celular, a
maioria dos pais dos nossos alunos são todos coletores de reciclagem,
então às vezes tinha um celular família, e às vezes a mesma família todos
eles estudam aqui na escola, ao mesmo tempo que eu tava dando aula,
outra professora estava dando aula, então acho que nem sei como eles
estavam resolvendo essa questão, se era por sorteio, como que eles faziam
pra cada dia um, entendeu? [...] Aí o que que acontecia? Um ou outro que
conseguia depois o acesso, ele tava perdido porque ele conseguia acessar
e você tinha que voltar, aí você perdia alguns que estavam achando chato,
que já tinham aprendido. E muito trabalho na questão de fazer muita
atividade, as atividades impressas. Para atingir aquele aluno, você tinha que
fazer um monte de atividade remota pra mandar, aí vinha pra escola que
eles distribuíam, aí voltava aquilo pra você corrigir... (C1P4, 2022)