V.22, 48 - 2024 (maio-agosto) ISSN: 1808-799 X
AS INOVAÇÕES E SEUS DESDOBRAMENTOS PRÁTICOS: DO VIÉS
MECANICISTA ÀS ANÁLISES NÃO REDUCIONISTAS
1
Lucília Regina de Souza Machado
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Resumo
O artigo oferece uma sistematização de reflexões acerca da inovação tendo como referência diversos
autores clássicos e contemporâneos de perspectivas teóricas diferentes. As interpretações sobre
inovação e suas associações a mudanças são evocadas e assim agrupadas: a inovação na tradição
econômica; nas análises após a década de 1980 (abordagens a partir do conceito de translação, de
redes sociais, com foco nos conhecimentos tácitos e em ambientes de inovação); e referidas a
rupturas paradigmáticas. O eixo analítico toma a necessidade de superação da perspectiva linear,
mecânica, determinista e quantitativa do fenômeno da inovação considerando a importância de se ter
em vista o problema central da historicidade da realidade social e suas contradições.
Palavras-chave: Inovação; Determinismo tecnológico; Mudança social.
LAS INNOVACIONES Y SUS DESARROLLOS PRÁCTICOS: DEL SESGO MECANIZADOR A LOS
ANÁLISIS NO REDUCCIONISTAS
Resumen
El artículo ofrece una sistematización de reflexiones sobre innovación con referencia a varios autores
clásicos y contemporáneos desde diferentes perspectivas teóricas. Las interpretaciones sobre la
innovación y sus asociaciones con los cambios se evocan y agrupan de la siguiente manera:
innovación en la tradición económica; en análisis posteriores a los años 1980 (enfoques basados en
el concepto de traducción, redes sociales, centrados en el conocimiento tácito y los entornos de
innovación); y las que se refieren a rupturas paradigmáticas. El eje analítico tiene en cuenta la
necesidad de superar la perspectiva lineal, mecánica, determinista y cuantitativa del fenómeno de la
innovación, considerando la importancia de tener en cuenta el problema central de la historicidad de
la realidad social y sus contradicciones.
Palabras clave: Innovación; Determinismo tecnológico; Cambio social.
INNOVATIONS AND THEIR PRACTICAL DEVELOPMENTS: FROM THE MECHANICIST BIAS TO
NON-REDUCTIONIST ANALYZES
Abstract
The article offers a systematization of reflections on innovation with reference to several classic and
contemporary authors from different theoretical perspectives. Interpretations about innovation and its
associations with changes are evoked and grouped as follows: innovation in the economic tradition; in
analyzes after the 1980s (approaches based on the concept of translation, social networks, focusing
on tacit knowledge and innovation environments); and referred to paradigmatic ruptures. The
analytical axis takes into account the need to overcome the linear, mechanical, deterministic and
quantitative perspective of the phenomenon of innovation, considering the importance of taking into
account the central problem of the historicity of social reality and its contradictions.
Keywords: Innovation; Technological determinism; Social change.
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Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil. Professora titular
aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil.
Email: luciliamachado2014@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0275888830144512.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4215-1459.
1
Artigo recebido em 11/03/2024. Primeira avaliação em 01/04/2024. Segunda avaliação em 02/04/2024. Terceira
avaliação em 08/04/2024 Aprovado em 25/07/2024. Publicado em 07/08/2024.
DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v22i48.62257.
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Introdução
Segundo Castilhos, “[...] o debate sobre o conceito de inovação foi reacendido
nos anos 70, em decorrência das profundas transformações dos processos
produtivos verificados em escala mundial.” (1997, p. 132). Koeller et al (2020, p.8),
lembram que:
Na academia, o debate sobre tecnologia, inovação e meio ambiente
também se intensificou e se tornou mais complexo. Distintas
correntes teóricas, em particular na economia, passaram a discutir
uma gama de conceitos associados a inovações que incorporam a
dimensão ambiental e a identificar seus determinantes, assim como
suas políticas de fomento.
Roubelat (2016) menciona, igualmente, a existência de bases diferentes
quando se busca conceituar inovação: pode ser o fascínio suscitado em alguns, as
expectativas de mudanças geradas em outros ou o rumo tomado pela glorificação da
tecnologia. Entretanto, a busca pelo significado da inovação coloca, segundo esse
autor, o problema da ação humana.
Ainda que o conceito de inovação carregue ambiguidades e dissensos,
argumentações sobre a temática se desenvolvem em diversos espaços da vida
social. Comenta-se o aumento significativo da rapidez e ritmo do processo de
inovação, a mudança no uso do tempo sob a influência da velocidade dessa
dinâmica, a diminuição do intervalo para produzir os produtos e serviços graças aos
novos inventos, a redução planejada da duração dos novos produtos produzidos, a
necessidade imperiosa de acompanhamento das inovações por pessoas,
organizações e países e como se defender ou se fortalecer face à velocidade e
implicações das mudanças profetizadas ou em andamento.
Essa temática ganhou grande espaço no campo da economia e tem migrado
para outras áreas, permitindo o surgimento de debates específicos sobre inovações
sociais, educacionais, culturais, políticas etc. Um programa do Centro Nacional de
Pesquisas Científicas - CNRS, da França, patrocinou entre 1997 e 2002 estudos
sobre os desafios econômicos da inovação. Esses foram agrupados em quatro
linhas de pesquisa por Encaoua, Foray, Hatchuel e Mairesse (2004): a)
representações econômicas da inovação; b) gestão da inovação e teoria da empresa
inovadora; c) economia e sociologia da ciência; e d) políticas públicas a favor da
inovação.
2
Todavia, Andrade (2005, p. 145) pondera que “Inovação é uma daquelas
palavras carentes de definição precisa e que são defendidas por grupos sociais os
mais diversos”. Além da polissemia do termo, o autor chama a atenção para seu
caráter consensual quando vinculado a alternativas de solução de problemas
tecnológicos e de crescimento econômico. De fato, seja como fator ou como
resultado, quer na sua positividade ou negatividade, a inovação vem sendo
associada a desenvolvimento, mudanças e transformações, algumas mais
periféricas e outras mais centrais e profundas.
Neste artigo
3
, pretende-se apresentar, de forma ensaística e
problematizadora, alguns conceitos e abordagens sobre inovação, processo
inovativo e suas relações com a marcha do desenvolvimento e das transformações
sociais. Parte-se do pressuposto de que a inovação corresponde ao nível mais
elevado das capacidades humanas, pois ela requer uma visão de conjunto e de
síntese das necessidades sociais, dos meios e recursos disponíveis e das condições
e oportunidades para o emprego de conhecimentos e adaptação das respostas aos
problemas encontrados.
Entende-se, por outro lado, que embora as inovações possam ser associadas,
de alguma forma, a processos de desenvolvimento, mudanças e transformações,
essas relações precisam ser vistas como não lineares e deterministas. Entretanto e
diferentemente, para a OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, a inovação é um imperativo mundial como forma de promover a
produtividade, o crescimento e o bem-estar social (OCDE, 2016). Essa organização
entende que:
Existem muitas políticas que podem influenciar os diferentes motores
da inovação. Aquelas que visam garantir uma mão-de-obra
qualificada, capaz de conceber novas ideias e tecnologias, de as
comercializar e de se adaptar às mudanças tecnológicas em curso
na sociedade, estão entre os mais importantes instrumentos de
inovação. Pessoas qualificadas geram conhecimento que pode ser
utilizado para criar e implementar inovações, mas as competências
também são cruciais para ajudar a economia e a sociedade a
absorver inovações. As políticas de inovação centradas no capital
humano devem abordar uma vasta gama de competências e
3
O presente artigo é uma versão revista e atualizada de capítulo anteriormente publicado sob o título
“Inovações e mudanças: conceitos e abordagens” no livro organizado por Eloisa Helena de Souza
Cabral e João Clemente de Souza Neto, “Temas do desenvolvimento: reflexões críticas sobre
inovações sociais”, editado pela Expressão e Arte Editora, de São Paulo, em 2009.
3
contribuir para a criação de um ambiente que permita às pessoas
escolher e adquirir competências adequadas, bem como utilizá-las
de forma otimizada no contexto profissional. Isto exige um maior
incentivo às escolas para melhorarem a qualidade e a relevância do
seu ensino e o apoio à formação no âmbito das empresas. (OCDE,
2016, p.55).
4
A inovação na tradição econômica
Segundo Kon (1994), que se distinguir invenção de inovação. Invenção
seria a criação de uma nova ideia, processo que pode ter diferentes localizações ao
se originar tanto de conceitos científicos como de atividades práticas. Inovação, por
seu turno, remete à conversão da ideia em aplicação concreta, o que geralmente
acarreta o descarte daquilo que vinha sendo produzido ou utilizado: um produto ou
um bem, processos ou formas de proceder. A inovação de produtos pode ocorrer
sem alterar processos, mas a recíproca é menos provável.
Kon (1994) se refere também à imitação para qualificar a inovação copiada
por outros quando essa se torna segura e rotineira. Ela registra que mudanças nos
processos e nos produtos podem ocorrer como mera decorrência do fluxo de
conhecimentos e de tecnologia, mas que mudanças que são induzidas e que
ocorrem quando investimentos na intenção de realizar novas invenções.
É neste sentido, de indução dos inventos e inovações, que Marx (1972, p.
226-227), ao tratar do desenvolvimento da maquinaria pela via da apropriação do
trabalho vivo e da captura da ciência pelo capital, diz que “[...] as invenções se
convertem, então, em ramo da atividade econômica e a aplicação da ciência à
produção imediata se torna um critério que a determina e incita”. Schumpeter (1961,
p. 105) segue a pista marxiana, mas para enfatizar e alertar aos capitalistas que
querem ser bem-sucedidos que o “[...] processo de destruição criadora é básico para
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Les politiques susceptibles d’influer sur les différents moteurs de l’innovation sont nombreuses.
Celles qui visent à s’assurer d’une main-d’œuvre qualifiée, capable de concevoir des idées et des
technologies nouvelles, de les commercialiser, et de s’adapter aux changements technologiques à
l’œuvre dans la société, sont parmi les plus importants instruments en faveur de l’innovation. Les
personnes qualifiées génèrent des connaissances qui peuvent servir à créer et mettre en œuvre des
innovations, mais les compétences sont également cruciales pour aider l’économie et la société à
absorber les innovations. Les politiques de l’innovation axées sur le capital humain doivent
s’intéresser à une large palette de compétences et contribuer à créer un environnement qui permette
aux individus de choisir et d’acquérir les qualifications appropriées, ainsi que de les utiliser de façon
optimale dans le cadre professionnel. Il faut pour cela inciter davantage les établissements à améliorer
la qualité et la pertinence de leur enseignement, et soutenir la formation au niveau de l’entreprise.
(Tradução livre).
4
se entender o capitalismo” e que “[...] é dele que se constitui o capitalismo e a ele
deve se adaptar toda a empresa capitalista para sobreviver”.
Schumpeter, segundo Castilhos (1997), foi o introdutor da distinção entre
invenção e inovação e quem definiu a primeira como conhecimento ou criação, que
podem seguir sem nenhum desdobramento prático do ponto de vista econômico.
a segunda, a inovação, corresponderia ao surgimento de nova função produtiva
graças à aplicação de conhecimentos e tecnologias antes não empregados. Assim,
segundo Lemos (1999), uma inovação pode não significar algo necessariamente
inédito, nem resultar de pesquisa científica e, para Mytelka (1993), vai depender do
ponto de vista de quem a está implementando.
Segundo Andrade (2005), a abordagem do economista Joseph Schumpeter
(1961, 1982) sobre as relações entre inovações e comportamento econômico,
datada dos primórdios do século XX, foi predominante até os anos 1980. Ao insistir
na correlação positiva entre investimentos em novos produtos e processos
produtivos e retornos financeiros, Schumpeter quis ressaltar o caráter da liderança
que empresários capitalistas modernos podem exercer para além da esfera
econômica, com sua atuação no campo tecnológico.
Em face dos novos desafios decorrentes da abertura dos mercados, aumento
da competitividade internacional e das oscilações econômicas provocadas pela
globalização, Freeman (1982, 1988, 1992, 1995) considerou a necessidade de
tornar mais efetivos os nexos entre inovação e crescimento econômico mediante
maior entrosamento entre governos, empresas e áreas de pesquisa e conhecimento,
levando à atualização do pensamento de Schumpeter.
É de Freeman (1988) a clássica distinção entre inovação radical e inovação
incremental. A inovação radical ou primária corresponderia a fatos extraordinários,
que provocam mudanças profundas em e de produtos, processos ou formas de
organização e sinalizam um rompimento com paradigmas tecnológicos usuais,
levando a alterações nas formas de produção, distribuição e consumo, nos
fundamentos da produtividade, dando origem a novas oportunidades. A inovação
incremental ou marginal ou secundária se processaria ordinariamente e
representaria os aperfeiçoamentos e reajustes que são feitos em produtos,
processos ou formas de organização, que possibilitam elevar a eficiência, a
produtividade e a melhoria da qualidade, mas sem significar ruptura paradigmática.
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A abordagem de Schumpeter e neoschumpeterianos prioriza e se concentra
em dois focos básicos: a) as inovações de caráter pontual e específico com
potencial de proporcionar lucratividade para firmas, e b) os resultados econômicos
alcançados pelos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de
inovações. Esquiva-se, portanto, tratar questões sobre impactos sociais, arranjos
institucionais de suporte às inovações, relações entre ciência e tecnologia, ritmo
técnico próprio das inovações, interferências de mudanças nas práticas tecnológicas
sobre o processo inovador e condicionamentos que estas sofrem pelas modificações
no mercado.
Esta abordagem, segundo Andrade (2005), não consegue, assim, explicar
como surgem e se desenvolvem os processos inovativos e porque determinadas
inovações são bem-sucedidas e outras não. Sua insuficiência analítica estaria
relacionada, conforme esse autor, à sua perspectiva linear, mecânica, determinista e
fundamentalmente quantitativa.
A atividade de inovação na abordagem de tradição schumpeteriana passaria
por uma série de etapas. Conforme Castilhos (1997, p. 134), pela “[...] pesquisa
fundamental pesquisa aplicada desenvolvimento experimental inovação
comercialização”. Ou pela trajetória inversa. Segundo a autora, “[...] na realidade,
cada uma destas etapas possui uma autonomia relativa, sendo que suas relações
são recursivas e interativas” (Castilhos, 1997, p. 135).
Lemos (1999, p. 125-126) alerta que “[...] a ciência não pode ser considerada
como fonte absoluta de inovações, também as demandas que vêm do mercado não
devem ser tomadas como o único elemento determinante do processo de inovação
(...)”. Esta autora considera, ainda, que descontinuidades e incertezas no
processo inovativo não se podendo prever seus efeitos; que seus influxos e
interferências podem ser sentidos de diferentes formas, intensidades e momentos;
que nem todos os setores da sociedade são atingidos e que sua adoção depende de
fatores variados como, por exemplo, a experiência tecnológica acumulada.
Apoiado em Stiegler (1998), Andrade (2005, p. 153) explica que:
Para a tradição econômica, contudo, o processo inovativo não pode
ser aberto à indeterminação. Ele deve ser planejado e controlado
mediante regras rígidas de financiamento e investimentos criteriosos
em P&D. O excesso de administração e a intervenção de policy
makers e gestores industriais levam a um fechamento de suas
possibilidades, de modo que os resultados e os indicadores são mais
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importantes do que os processos e os experimentos. Os
policy-makers e gestores industriais que organizam a prática
inovativa e estabelecem metas, projeções e mecanismos de
avaliação buscam coordenar o avanço tecnológico e retirar seu
aspecto de indeterminação e imprevisibilidade. O estreitamento entre
desenvolvimento e inovação, alavancado continuamente por
governos e empresas, tende a provocar uma descaracterização
desta, na medida em que a racionalização e a modernização da
esfera produtiva impõem padrões e projeções de resultados que não
permitem uma abertura às múltiplas demandas coletivas, à
contingência dos acordos sociais e nem à margem de
indeterminação dos objetos técnicos.
A inovação nas análises após a década de 1980
A partir dos anos 1980, a abordagem tributária da tradição econômica perde
ou tem sua energia moderada pela concorrência com outros enfoques preocupados
em resgatar a inteligibilidade do processo inovativo com o concurso da história, de
outros modos de ver o mundo. Ganham crédito: a) a ideia de movimento e os
princípios da contradição e da incerteza; b) em contraposição ao determinismo
mecanicista, a compreensão de que nem tudo se define e é especificado por meio
de medições; c) o princípio da complementaridade, que reconhece a existência da
realidade formada por paradoxos, pela síntese dos opostos.
A abordagem da inovação a partir do conceito de translação
A leitura de Latour (1992, 2000) da mútua recorrência entre o social e o
técnico veio agregar novos elementos para a elucidação do fenômeno da inovação.
Para o autor, esse feito resulta de uma dinâmica rica, variada e indeterminada de
trocas incessantes de informações entre agentes diversos, das controvérsias e
conflitos daí advindos e das escolhas sociais que resultam desse embate, no qual
cada ponto de vista passaria por translações, entendidas como traduções e
deslocamentos.
A partir desse pressuposto, Latour considera que a perspectiva de sucesso
das práticas inovadoras depende, fundamentalmente, de dois fatores. O primeiro se
refere à existência de contextos e relações circunstanciais propícias às mudanças
que a adoção das novas regras técnicas e sociais requer. O segundo, corolário do
anterior, diz respeito à capacidade dos agentes inovadores de agir de modo
estratégico, buscando, por um lado, exercer sua influência e, por outro, se adaptar,
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que o contexto de inovação é partilhado com outros agentes sociais e nele se
cruzam motivações e interesses diferentes numa cadeia contínua de traduções e
deslocamentos. A inovação significa, assim, para Latour, complementaridade de
ideias, síntese de contrários (Andrade, 2005).
Portanto, para Latour, como não condições de prever os rumos do
processo inovativo, o estabelecimento de agendas coletivas definitivas sobre o
assunto seria impraticável. Tudo dependeria das estratégias e das articulações
utilizadas no palco dos confrontos (de valores, pontos de vista e identidades) e do
resultado circunstancial das disputas, dos diálogos e das negociações envolvendo
porta-vozes representantes de diferentes setores, lógicas e racionalidades sociais.
As regras do mercado e o poder das tecnologias avançadas seriam condições do
processo de inovação, dentre outras circunstâncias e fatores igualmente
importantes.
A abordagem da inovação a partir das redes sociais
Andrade (2005) no enfoque de Castells (1999, 2003) sobre redes sociais e
tecnologias de informação oportunidades de análise das novas relações que vêm
sendo estabelecidas entre economia, tecnologia e cultura.
A rede social, concebida como “[...] interconexão de nós diferenciados,
composta por agrupamentos humanos diversos” (Andrade, 2005, p. 151) abre
espaço para a criação e recriação de formas de inserção social, de participação, de
pertencimento, identificação, construção e exercício de lideranças,
compartilhamentos e práticas em formatos e circunstâncias antes inexistentes.
As possibilidades de mobilidade oferecidas pelos fluxos informacionais, as
mudanças comportamentais estimuladas pela exploração das tecnologias de
informação e comunicação e as articulações patrocinadas entre os diversos agentes
que habitam e conformam as redes sociais tornariam impraticáveis a programação e
o controle gerencial dos processos inovativos, que seguiriam caminhos
indetermináveis, anárquicos.
Assim, surgem novas questões sobre os processos de inovação e seus
rumos, que incluem políticas de inclusão informacional, parâmetros para
comportamentos individuais e coletivos nas redes, situações conflituosas entre
empresas e consumidores etc. (Andrade, 2005).
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As potencialidades e implicações das mediações das atuais tecnologias de
informação e comunicação representam para o processo inovativo um fato novo, por
ocasionar de forma oportuna a combinação de fontes e o acesso a uma gama
variada e numericamente extraordinária de informações (Lemos, 1999), o que
significa um bom combustível para alimentar o poder humano de inovar. Porém,
esse fato novo também traz uma maior exigência de capacidades de selecionar,
processar e atribuir significações às informações acessadas, que, em última
instância implica uma sólida base de conhecimentos codificados, níveis mais
elevados de escolarização.
Lemos (1999) considera, assim, que o conhecimento das características
inerentes ao processo de inovação na atualidade requer entender como estas
tecnologias são empregadas, pois elas dão suporte às ações de inúmeras pessoas e
organizações de diferentes origens, à estimulação da interação social, à circulação
de diversos tipos de conhecimentos.
Segundo essa autora, Foray e Lundvall (1996), ao analisarem as mudanças
sociais decorrentes da ampliação do uso das tecnologias de informação e
comunicação, “[...] destacam especialmente a mudança na dinâmica de formação do
conhecimento, a aceleração do processo de aprendizado interativo e a crescente
importância das redes de cooperação”. (Lemos, 1999, p. 130).
A emergência do fenômeno das redes sociais possibilitado pelo alastramento
do uso de tecnologias de informação e comunicação abre, assim, um novo capítulo
na teorização sobre inovações e seus desdobramentos práticos. Como é preciso se
manter em interação social com outros para garantir a entrada e participação na
dinâmica que envolve os processos inovativos, crescem os interesses pela
formação, participação e gestão de redes de cooperação. O problema é que essas,
necessariamente, não estão tão disponíveis e não são tão inclusivas. O
compartilhamento de códigos e de linguagens e o aprendizado interativo e contínuo
pressupõem a convergência de identidades, confiança, a capacidade de enviar
mensagens e interpretar as recebidas. O desenvolvimento dessa habilidade
pressupõe, cada vez mais, o acesso a processos formais de educação, mas também
experiência prática de utilizar informações e conhecimentos e oportunidades de
interação com uma multiplicidade de agentes. Dentre esses, “[...] fornecedores de
insumos, componentes e equipamentos, licenciadores, licenciados, clientes,
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usuários, consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, agências e
laboratórios governamentais, entre outros.” (Lemos, 1999, p. 133-134).
Segundo essa autora, a partir de meados da década de 1980, os estudos
sobre inovações vêm, portanto, dando menor atenção àquelas que são frutos de
ações individuais e específicas convergindo para os novos formatos organizacionais
e em rede dos processos inovativos: “[...] alianças estratégicas, arranjos locais de
empresas, clusters e distritos industriais” e para “[...] o ambiente onde estes se
estabelecem” (Lemos, 1999, p. 135). Segundo suas explicações, as redes se
caracterizam como a principal inovação organizacional da atualidade, pois
favorecem aos que delas participem (pessoas, organizações, territórios)
oportunidades de conhecer, monitorar e avaliar tecnologias e de participar do
processo cooperativo do desenvolvimento de novos conhecimentos. Por sua vez, os
novos recursos técnicos disponibilizados pelas tecnologias de informação e
comunicação seriam o apoio fundamental para a cooperação em rede. Desse
conjunto de meios surgiria a necessidade de criação de formas de interação e
aprendizado mais variadas e intensivas, alimentando o processo inovativo.
A abordagem da inovação com foco nos conhecimentos tácitos
Lemos (1999) também destaca outra tendência, galvanizada por Cowan e
Foray (1997), concernente à busca de codificação dos conhecimentos tácitos para
fins de sua apropriação privada ou comercialização transformando-os, portanto, em
mercadoria distintiva.
Os conhecimentos tácitos estão implícitos no agir humano, são silenciosos e
dependentes das características, vivências e experiências subjetivas. Resultam de
intuições e experimentações, de processos pessoais de apreensão da realidade
natural e social. Tais conhecimentos, fundamentais e complementares aos
codificados, imprescindíveis ao acerto e sucesso dos empreendimentos humanos,
nem sempre podem ser racionalmente formalizados e codificados.
Mas é a codificação que permite que o conhecimento seja “[...] armazenado,
memorizado, transacionado e transferido, além de poder ser reutilizado, reproduzido
e comercializado indefinidamente, a custos extremamente baixos” (Lemos, 1999, p.
131). Verificam-se, assim, o interesse crescente pela codificação dos conhecimentos
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tácitos e a expectativa de poder capturá-los nas redes sociais de interação e
cooperação.
Esses são fatos novos que têm feito abrir outras questões relacionadas à
temática da produção, distribuição e consumo de inovações e que corroboram a
hipótese da insuficiência dos conhecimentos codificados e da necessidade de sua
complementação mediante o confronto permanente com aquele advindo da
experiência.
A abordagem da inovação a partir do conceito de ambientes de inovação
Baseando-se em Maciel (1996, 1997, 2001), Andrade (2005) destaca que
essa abordagem, desenvolvida nos anos 1990, busca articular tecnologia, economia
e vida social de forma aberta, inclusiva e para além da relação entre inovação e
setor produtivo.
O conjunto das características de um lugar, seus elementos de herança
cultural e a criatividade de sua população são vistos, nesse enfoque, como
componentes da inovação. Eles seriam responsáveis pela formação de “[...] um
quadro de relações aberto no tempo e no espaço” (Andrade, 2005, p. 150); de
ambientes favoráveis a arranjos institucionais, diálogos sociais (entre empresas,
órgãos de governo, pesquisadores, trabalhadores, associações, partidos políticos
etc.) e de redes de interesses e esforços inovativos.
Portanto, a inovação social e econômica é que precederia e conduziria a
mudança tecnológica. Do ponto de vista teórico-metodológico, a construção de
modelos capazes de antever e monitorar as instabilidades do processo e da
conjuntura e as variáveis intervenientes seriam mais desafiadoras, pois precisariam
considerar fatores geográficos, fenômenos demográficos, comportamentos
empresariais inusitados, padrões alternativos de relações e de organização do
trabalho, implantação de parques tecnológicos, relacionamento com universidades,
atividades de educação continuada e de qualificação profissional, práticas de
pesquisa não convencionais, utilização original de tecnologias existentes,
otimização de investimentos tecnológicos, experimentação constante etc. (Andrade,
2005).
Lemos (1999) também considera, como uma das novas questões no debate
sobre o conceito de inovação, o caráter localizado e a distribuição espacial desigual
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da capacidade de geração e de difusão de conhecimentos. Junto com outros autores
(Lastres; Cassiolato; Lemos; Maldonado; Vargas, 1999), a autora analisa que as
atividades inovativas têm se mostrado associadas a redes locais de interação,
cooperação, troca de conhecimentos e aprendizados promovidas por quadros
institucionais de lugares específicos, tais como arranjos produtivos, clusters e
distritos industriais. Além dos fatores espaciais relacionados às proximidades
geográficas e culturais, à existência de qualificações técnicas e organizacionais e
conhecimentos tácitos acumulados localmente, os autores reputam ser a confiança o
elemento aglutinador fundamental.
Apesar de ser permanentemente vital na inovação, o conhecimento tácito, por
suas características bastante peculiares, é compartilhado por meio da interação
humana, nas relações realizadas entre indivíduos ou organizações em ambientes
com dinâmica específica, o que, em última instância, torna a inovação localizada e
restrita ao âmbito dos agentes envolvidos. A capacitação necessária para
compreender e usar os códigos locais pode se dar somente com sua inserção nas
redes de relações para participação do processo de aprendizado interativo. Assim,
O sucesso de alguns arranjos produtivos com concentração
geográfica, como os distritos industriais que apresentam forte
dinâmica, ilustra sobremaneira tal consideração. Os agentes de tais
arranjos detêm um considerável estoque de conhecimento tácito, que
circula eficazmente para a difusão de conhecimento local, com
custos extremamente baixos (LEMOS, 1999, p. 131).
Para compreender esse universo, Lemos (1999) informa que o conceito de
sistemas nacionais de inovação (Lundvall, 1992; Freeman, 1995) vem sendo
utilizado também em níveis locais e regionais. Segundo ela,
Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser
tratados, dessa forma, como uma rede de instituições dos setores
público (instituições de pesquisa e universidades, agências
governamentais de fomento e financiamento, empresas públicas e
estatais, entre outros) e privado (como empresas, associações
empresariais, sindicatos, organizações não governamentais etc.)
cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e
difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado seus
aspectos cruciais (LEMOS, 1999, p.138).
Andrade (2005) relaciona o conceito de sistemas de inovação à emergência
do fenômeno da globalização da economia e à atenção a outras variáveis e
demandas sociais, culturais e políticas envolvendo a inovação para além daquelas
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limitadas ao desenvolvimento de produtos específicos para o setor industrial.
Associa-o, também, à dinamização dos fluxos de informação e à lógica flexível de
organização das instituições, que trouxeram a perspectiva do trabalho em rede,
outros mecanismos de financiamento, outras perspectivas de atuação mediante
parcerias, prestação de serviços, intercâmbios e convênios para a atividade de
inovação. Segundo esse autor, “[...] políticas locais e setorizadas passaram a ser
imprescindíveis para a compreensão do potencial inovativo de uma nação e região,
independentemente da atividade específica de cada setor e das oscilações da
demanda” (Andrade, 2005, p. 148).
Andrade registra que o enfoque da inovação a partir do local permitiu a
ampliação da compreensão da tecnologia como uma construção social sujeita às
injunções de variáveis culturais, sociais e políticas mais amplas. Contudo, acredita
que essa abordagem não trouxe a perspectiva de ampliação do elenco dos agentes
envolvidos nas práticas da inovação, pois ainda os como o conjunto formado por
universidades, empresas e órgãos governamentais (Andrade, 2005).
A inovação nas análises sobre rupturas paradigmáticas
No período que se seguiu aos anos 1980, contudo, o viés mecanicista da
interpretação das inovações tecnológicas não conseguiu ser totalmente afastado.
Ele pode ser identificado nas tentativas de explicar a dinâmica social pela ação
autônoma da tecnologia, desligada do contexto histórico, da sua origem e
significação social.
Assim, segundo esse enfoque, as inovações tecnológicas teriam trazido um
novo modelo de produção em substituição ao fordismo-taylorismo e uma nova
sociedade, ora caracterizada como da informação, do conhecimento ou da
aprendizagem. Três revoluções estariam em curso, equiparadas em idêntica
situação, afirmadas em escala mundial e vistas quase como sinônimos: a
tecnológica, a produtiva e a observada na sociedade.
Desse panorama fariam parte rupturas paradigmáticas, transformações de
ordem qualitativa, incluindo os processos sociais. Alves (2007) afirma que, de fato, o
toyotismo se diferencia do fordismo por incorporar mudanças organizacionais,
institucionais e tecnológicas capazes de consumar um salto qualitativo no modo
como o trabalho vive a subsunção real ao capital. Ele se apóia em Fausto (1989)
13
para justificar tal conclusão e explica que essa alteração consiste na passagem da
subsunção formal-material, própria do fordismo, para a subsunção formal-intelectual
(ou espiritual), típica do toyotismo e que ambas as formas de produção concernem à
grande indústria.
É o que Ianni (1990) assevera ao esclarecer que a sociedade burguesa,
industrial, capitalista, moderna ou informática, modifica-se ao longo do tempo, mas
guarda algumas características essenciais, mostrando-se ser diferente e mesma. Ou
seja, as condições de produção, distribuição, troca e consumo teriam sofrido
mudanças em termos materiais e psíquicos em razão da revolução dos meios de
comunicação e da informática. Também, as burocracias públicas e privadas, que
teriam ampliado muito o seu raio de ação, influência e indução.
Ianni (1990) afirma, entretanto, que subsistiria e continuaria essencial, ainda
que com recriações, a natureza basilar das relações, dos processos e estruturas de
apropriação ou distribuição, de dominação ou poder. Essa seria impossível de ser
alterada pela ciência, técnica ou informática. Permaneceria, sem mudanças
qualitativas, o dilema indivíduo e sociedade, a trama das relações sociais, dos
espaços da liberdade, das condições da opressão.
O autor (1990) considera que o problema da historicidade da realidade social
tem suscitado uma boa parte da controvérsia sobre paradigmas clássicos e
contemporâneos e chama a atenção para o surgimento na Sociologia
contemporânea de propostas teóricas que simplesmente abandonam ou
empobrecem a perspectiva histórica. Para ele, não é possível na pesquisa
sociológica eliminar os movimentos e as tensões que são inerentes às relações,
processos e estruturas de dominação e apropriação. Nem tão pouco crer que as
diversidades, desigualdades e antagonismos da realidade social sejam resolvidos no
âmbito das configurações sincrônicas ou ignorar que o real está essencialmente
atravessado pela relação de negatividade. Esclarece que:
São vários os momentos lógicos da reflexão sociológica, se
pensarmos em termos de aparência e essência, parte e todo,
singular e universal, qualidade e quantidade, sincrônico e diacrônico,
histórico e lógico, passado e presente, sujeito e objeto, teoria e
prática. Mas as teorias não os mobilizam sempre nos mesmos
termos de modo similar, homogêneo. Aliás, as teorias distinguem-se,
entre outros aspectos, precisamente porque conferem ênfase diversa
aos momentos lógicos da reflexão (IANNI, 1990, s/p).
14
O conceito de Hegel de linha nodal nas relações de medida pode ser aqui
tomado como referência para essa discussão. Segundo ele, em certos pontos desta
linha as transformações quantitativas se convertem, de repente, em saltos
qualitativos:
Existe uma relação de medida, uma realidade independente, que
difere qualitativamente de outras. Um tal Ser-para-si, sendo ao
mesmo tempo essencialmente uma relação de quanta, é aberto à
exterioridade e à variação do quantum; tem uma amplitude dentro da
qual permanece indiferente a estas variações e sua qualidade não
muda. Mas um ponto, nesta variação do quantitativo, em que a
qualidade muda, e o quantum demonstra-se como especificante, de
sorte que a relação quantitativa mudada se transformou em uma
medida, e, portanto, em uma nova qualidade, em coisa nova
(HEGEL, 1969, p. 242).
O debate sobre quantidade versus qualidade e sobre a linha nodal nas
relações de medida de Hegel é importante para a discussão sobre mudanças
paradigmáticas decorrentes de inovações, sejam elas tecnológicas, organizacionais
ou sociais. A categoria qualidade indica que os objetos e fenômenos, os produtos e
os processos, possuem uma determinação categorial seja por tipo, atributo ou
gênero, o que possibilita a rica e ilimitada diversidade do mundo. Isto significa que
as coisas possuem uma forma determinada de existência que as tornam
distinguíveis, exprimem-se por meio de características de semelhança e de
diferença. São características substanciais que expressam a natureza e os traços
específicos de um elemento, ainda que não absolutamente estáveis. Isto porque o
mundo não está constituído por entes acabados; é um complexo de processos em
que esses são estáveis apenas aparentemente. A realidade está sempre assumindo
novas formas e o fim de um processo é sempre o começo de outro.
Além da determinação qualitativa, todos os objetos têm, segundo Hegel, a
determinação quantitativa: magnitude, número, volume, ritmo dos processos, grau
de desenvolvimento etc. A quantidade caracteriza o objeto sob o aspecto do grau,
da intensidade ou do nível de desenvolvimento de uma qualidade. Para Hegel (1969,
p. 157), a qualidade é a determinação primeira e imediata. A quantidade é a
determinação que se tornou indiferente ao Ser, é a própria continuidade. Com tais
compreensões, pode-se ler a distinção que Freeman (1982) faz entre inovações
radicais (de ordem qualitativa na formulação hegeliana) com seu caráter primário e
15
central e inovações incrementais (de ordem quantitativa para Hegel), também
chamadas secundárias e marginais.
Mas qualidade e quantidade revelam-se inseparáveis e mutuamente
determinadas, representando aspectos do mesmo objeto, não se confundindo numa
unidade abstrata. Para Hegel, as transformações do ser não se resumem à
passagem de uma quantidade a outra. Isso porque é preciso considerar o trânsito da
quantidade à qualidade, transformação que acarreta a substituição de um fenômeno
por outro, uma ruptura da progressividade. Sobre tal movimento, Hegel distingue
três processos: a) a variação gradual (Allmähliche Veränderung); b) a transição
(Übergang), que é o salto; e c) a superação (Aufhebung).
A variação gradual consiste na continuidade constante da qualidade. Neste
sentido, as relações diferem apenas pelo mais ou pelo menos. Trata-se de um
processo que se refere apenas ao exterior da variação, ou seja, não ao qualitativo
dela.
A transição ou salto indica que a progressão simplesmente quantitativa da
gradualidade (que de nenhuma maneira é um limite em si mesma) é interrompida,
que ocorre uma ruptura da progressividade e que surge uma nova realidade. Neste
caso, a realidade anterior e a nova realidade são postas uma defronte da outra como
completamente exteriores. É o salto no curso do desenvolvimento, salto que ocorre
na natureza e na história.
A superação pressupõe que todo o finito tem a propriedade de suprimir-se a si
mesmo. Segundo Hegel (1969), superar tem um duplo sentido: significa tanto
manter, conservar, como também fazer cessar, por termo. O suprimido é ao mesmo
tempo o conservado, que perdeu somente sua imediação, mas que nem por isso é
anulado. É a qualidade suprimida, não mais unida ao Ser, deste bem diferenciada,
um resultado que saiu de um ser, que tem a determinação da qual procede. É
simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação de algo
essencial que existe nessa realidade negada e a elevação dela a um nível superior.
Portanto, reportando-se a Ianni (1990), pode-se dizer que os vários momentos
lógicos da reflexão sociológica sobre inovação implicam mobilizar, de modo não
homogêneo e com ênfases diferenciadas conforme a mudança seja de ordem
tecnológica, produtiva ou social, os três processos referidos por Hegel: a variação
gradual; a transição ou salto; e a superação.
16
O processo inovativo, seja ele tecnológico ou social, pressupõe escalas.
Hegel denuncia o gradualismo ou a tendência de pressupor que tudo aquilo que
surge existe efetivamente e que não era notado antes por causa de sua
pequenez. Diz ele:
Invocar a gradualidade da mudança para fazer compreender um
nascer ou um perecer tem o aborrecimento próprio de toda
tautologia; supõe previamente pronto tudo o que nasce ou perece,
fazendo da transformação simples variação de uma diferença
exterior; e a explicação é de fato somente uma tautologia (HEGEL,
1969, p. 245).
O processo inovativo pressupõe, também, salto qualitativo. Para Hegel, este
diz respeito, fundamentalmente, ao ponto de ruptura de um processo em que se
abrem novas fases ou qualidades em razão de variações quantitativas sucessivas.
Segundo ele, esse processo se mediante uma luta entre esses dois lados do ser,
a qualidade e a quantidade. São lados solidários um ao outro, que se afirmam, mas
que se negam. A qualidade anterior resiste e dura até certo ponto. Enquanto resiste,
a quantidade não é mais do que uma determinação indiferente da coisa, não lhe é
essencial.
Surge, porém, um momento em que a quantidade aumenta muito ou diminui
bastante, arrastando a qualidade à mudança profunda. É que ocorre um processo
de superação. Com isto, simultaneamente desaparecimento de um ser e o
surgimento de um novo ser, momento que mostra que a quantidade também é
essencial à coisa, que também participa de sua essência.
Transpondo essa reflexão para as análises das inovações produtivas ou dos
modos flexíveis e integrados de produção, pode-se dizer que esses representam
saltos qualitativos em relação ao modelo anterior, mas que esta mudança não se
generalizou ainda a ponto de dizer que o taylorismo-fordismo está superado.
Igualmente pode-se dizer dos aspectos fenomênicos utilizados para
caracterizar a nova sociedade da informação / do conhecimento / da aprendizagem,
pois ainda não foi superada a desigualdade no acesso a esses bens e valores por
grande parte da população mundial. Como bem se expressou Ianni (1990), o
capitalismo permanece o mesmo, mas ao mesmo tempo se apresenta diferente. Ou
seja, a essência da sociedade capitalista, seu modo de produção e as relações
sociais por ele engendradas, mantêm-se inalterados ainda que seu processo de
reprodução possa encontrar dificuldades para se realizar. Frente a elas, surgem,
17
então, inovações de diferentes ordens, mas não suficientes para levar a cabo a
superação do sistema capitatista. Elas ocorrem, seja de forma gradual ou por meio
de vários saltos qualitativos, e, com isso, vêm tornando a face do capitalismo
diferente e diversa. Além disso, conforme Izerrougene (2013, p.89)
Mesmo que as inovações radicais possam potencialmente aparecer
em grande número, somente uma parte delas pode dar lugar a novas
atividades comerciais, pois a economia precisa de situações de
estabilidade social e institucional para poder estimular o surgimento
de trajetórias de crescimento sustentável, na base da exploração do
conjunto das inovações menores contidas em algumas oportunas
inovações maiores.
Assim, inovações e mudanças quantitativas não conduzem de imediato à
destruição ou à mudança essencial de um ser ou fenômeno. Somente quando chega
a um limite determinado (tecnológico, produtivo ou social) é que as mudanças
quantitativas provocam as qualitativas. É por isso que a lógica dialética também é
conhecida como a ciência dos limites.
A mudança seria, então, decorrente da luta de contrários, do desenvolvimento
por meio de contradições, da negação da negação. Esse processo, como todas as
grandes transformações, implica um novo mapa da realidade. Não se trata, segundo
Engels (1971), de uma quantidade aumentada qualquer. Uma mentira contada aos
quatro cantos do universo não faz do fato mentiroso uma verdade. Por outro lado,
não se trata de qualquer mudança. Conforme Lênin (1977, s/p),
Atualmente, a idéia do desenvolvimento, da evolução, penetrou
quase completamente na consciência social, mas por outra via que
não a da filosofia de Hegel. No entanto, esta idéia, tal como a
formularam Marx e Engels, apoiando-se em Hegel, é muito mais
vasta e rica de conteúdo do que a idéia corrente da evolução. É um
desenvolvimento que parece repetir etapas percorridas, mas sob
outra forma, numa base mais elevada (“negação da negação”); um
desenvolvimento por assim dizer em espiral, e não em linha reta; um
desenvolvimento por saltos, por catástrofes, por revoluções;
“soluções de continuidade”; transformações da quantidade em
qualidade; impulsos internos do desenvolvimento, provocados pela
contradição (...).
Portanto, o rompimento com as análises deterministas, mecânicas e lineares
sobre o processo inovativo, as inovações e suas relações com as mudanças
tecnológicas, produtivas, sociais, educacionais, culturais, políticas etc. requer a
mobilização de vários momentos lógicos da reflexão sociológica.
18
Os impulsos internos do desenvolvimento, provocados pela contradição
explicam porque uma mesma inovação pode representar um enorme aumento da
força produtiva e da produtividade do trabalho, mas também levar à destruição e
esgotamento das fontes de toda a riqueza o planeta terra e a força de trabalho -,
ao aumento das desigualdades sociais e das assimetrias regionais e locais.
As chamadas inovações radicais têm ilustrado o descompasso entre o
formidável avanço das forças produtivas, no curso do seu desenvolvimento e
incremento em quantidade, e os limites impostos pelas relações de produção
existentes. Elas, entretanto, se mantêm em estado de latência quando se trata da
superação das travas que impedem a emergência de relações sociais distintas e
capazes de abrir as perspectivas do desenvolvimento social e ético da humanidade.
O desabrochar desses potenciais de efetiva superação do sistema capitalista
depende, entretanto e fundamentalmente, da ação consciente e determinada de
inovadores sociais, homens e mulheres em luta pela transformação social.
Considerações finais
A temática da inovação, originada das preocupações de ordem econômica
sobre aumento da competitividade, respostas às pressões da demanda e pela
valorização dos investimentos, estendeu seus domínios para ocupar as agendas de
governos e setores diversos, indo ocupar também um lugar central no debate
acadêmico e social, especialmente sobre questões relacionadas a impactos da
tecnologia.
A análise crítica do enfoque tradicional oriundo da economia, a observação da
realidade e a busca da construção de novos referenciais de análise trouxeram
elementos que enriqueceram a discussão, mas mostraram a necessidade de ampliar
os estudos sobre o tema. São questões, por exemplo, sobre o aprendizado
inovativo; a interação social e a formação de redes; a diversidade dos agentes
inovativos e as especificidades locais; os conhecimentos tácitos e sua relação como
os codificados; os investimentos em capacitações; as articulações entre políticas
científicas, tecnológicas, industriais, educacionais e sociais; as inovações e
desenvolvimento; mudanças graduais, saltos qualitativos e superação.
As políticas de inovação têm se concentrado em aspectos tradicionais como
financiamento, legislação, comportamentos corporativos, propriedade intelectual,
19
formação e gestão de redes de pesquisa e de desenvolvimento, articulação e
sinergia entre governos, empresas e centros de pesquisa.
Contudo, é preciso considerar que a distribuição de conhecimento permanece
profundamente desigual e que é preciso repensar o processo inovativo em sua
amplitude, questionando organizações e instituições tendo em vista a valorização do
papel que jogam, nesta dinâmica, a multiplicidade dos agentes sociais e a
experiência coletiva de aprendizagem. É preciso, sobretudo, não se esquecer que a
inovação é um processo interativo com o qual contribuem, com seus diferentes tipos
de informações e conhecimentos, diferentes setores da sociedade.
Andrade (2005) recorre a Simondon (1969) e Stiegler (1998) para salientar a
importância da incorporação da dimensão qualitativa e não determinista pelas
análises sobre inovações. Ressalta que a imprevisibilidade, a instabilidade e a
indeterminação estão na origem das respostas dadas pela atividade inovativa às
lacunas e insuficiências dos objetos e processos técnicos usuais, conformando a
originalidade e a acolhida social das soluções desenvolvidas.
Nouroudine (2009; s/p) sugere uma nova questão ao argumentar que:
As contradições sociais em torno das normas permitem constatar e
compreender que uma norma social estabelecida e dominante não é
realmente unânime. Ela é, no máximo, a norma que corresponde ao
uso mais disseminado. Mas ela pode também referir-se ao uso de
uma minoria que dispõe de um poder (político, económico…) capaz
de lhe permitir impor uma norma particular como norma geral. Neste
caso, não é a média dos diversos usos que faz a norma, mas o poder
de imposição de um grupo social. Daí resulta que a norma como
média nos factos sociais é menos a expressão de uma média
aritmética que a do estado das relações sociais num colectivo de
vida, num dado momento da história.
As inovações são isto: exercem fascínio, tem sentido polissêmico e apelo
consensual, mas do ponto de vista sócio-histórico também podem ser lidas como o
poder de imposição de um grupo social. Essa questão, contudo, não tendo sido
abordada neste texto, constitui-se como um convite à continuidade do debate sobre
o tema.
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