
ilusões estupefacientes do atual momento. Um e outro estão
estruturalmente entrelaçados [...].
Se, nas análises de Vieira Pinto (2005, p. 54), o conjunto formado pela gama
de tecnologias digitais como processo desenvolvido pelos trabalhadores poderia vir
a desempenhar um processo de emancipação da classe trabalhadora, para Crary
(2023, p. 24), é a partir deste próprio conjunto tecnológico que o sistema capitalista
encontra sua maior expressão e capacidade de controle, a partir da manifestação de
diversas formas de poder e subjetivação, exercidas conjuntamente com antigas
estruturas hierárquicas de controle social. Neste sentido, como podemos pensar
criticamente a inserção das tecnologias da educação dentro do ambiente escolar e,
particularmente, na etapa da educação básica?
Enquanto um aspecto cultural - que rotineiramente é denominado de cultura
digital -, a tecnologia vem sendo vivenciada amplamente. No entanto, dentro dos
ambientes escolares, tem se tornado crescentes as tensões, seja no embate entre
estudantes e professores, ou estudantes e cultura escolar, visíveis a partir de
resistências que estes impõem
4
. Para Serres (2013), o embate e a falta de aceitação
das normas e condutas escolares devem ser compreendidos a partir do impacto das
próprias tecnologias no comportamento dos estudantes, uma vez que em outros
espaços estes mesmos estudantes aparecem enquanto protagonistas,
principalmente enquanto consumidores em um grande mercado global, e acabam
não se adaptando a ideia de passividade que a estrutura escolar ‘tradicional’ acaba
reproduzindo
5
.
Esta mesma questão também deve ser analisada a partir da compreensão da
tecnologia como um processo social. Vieira Pinto (2005), ao apresentar a ideia de
tecnologia não apenas como um conjunto de técnicas e ferramentas, mas um
5
Saviani (2018) caracteriza a pedagogia tradicional como um modelo de ensino que se baseia na
transmissão de conhecimento de forma autoritária e unidirecional do professor para o aluno. Nesse
modelo, o professor desempenha um papel central como detentor do conhecimento, enquanto os
alunos são considerados receptores passivos desse conhecimento. As aulas tendem a ser centradas
no professor, com ênfase na memorização e na repetição de informações. Essa caracterização não é
estática, sendo que não podemos falar em um “professor tradicional” por este seguir perspectiva
pedagógica à risca. O que buscamos destacar como “tradicional”, são algumas práticas advindas
desta caracterização, que ainda se fazem presentes em alguns espaços, gerando embates e
suscitando discussões, conforme destacou Serres (2013).
4
Segundo Mühl (2020), podemos identificar uma crise da autoridade docente, que pode ser
identificada no crescente número de conflitos, na confrontação ou na indiferença cada vez maior de
alunos diante dos professores e, em casos extremos, nas atitudes de agressão verbal ou no
surgimento de diferentes formas de violência praticadas contra docentes, gestores e funcionários da
escola.