V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
DO
RIO
DE
JUNHO
AO
CARNAVAL
DO
RIO:
JORNADAS
DE
JUNHO
DE
2013
E
A
GREVE
DOS
GARIS
DE
2014
NO
RIO
DE
JANEIRO
1
Leonardo
Vereza
de
Freitas
2
Brena
Costa
de
Almeida
3
Resumo
O
artigo
relaciona
as
Jornadas
de
Junho
de
2013
e
a
greve
dos
garis
ocorrida
durante
o
carnaval
de
2014
no
Rio
de
Janeiro.
Investiga
os
repertórios
aplicados
pelos
jovens
que
tomaram
as
ruas
em
junho
e
aqueles
dos
ativistas
sindicais
das
greves
do
segundo
semestre
de
2013
e
do
início
de
2014,
especialmente
os
funcionários
da
limpeza
urbana
da
cidade.
Analisando
os
mecanismos
de
transferência
de
performances
entre
os
grupos,
problematiza
ainda
as
fronteiras
porosas
entre
os
movimentos
sociais
e
o
movimento
sindical,
notando
como
a
greve
dos
garis
de
2014
adquiriu
feições
de
movimento
social.
Palavras-chave:
Jornadas
de
Junho
de
2013;
Movimento
sindical;
Garis.
DE
RIO
DE
JUNHO
AL
CARNAVAL
DE
RIO:
JORNADAS
DE
JUNIO
DE
2013
Y
LA
HUELGA
DE
BARRENDEROS
DE
CALLES
DE
2014
EN
RÍO
DE
JANEIRO
Resumen
El
artículo
relaciona
las
Jornadas
de
Junio
de
2013
y
la
huelga
de
barrenderos
ocurrida
en
el
carnaval
de
2014
en
Río
de
Janeiro.
Investiga
los
repertorios
de
los
jóvenes
que
salieron
a
las
calles
en
junio
y
los
de
los
activistas
sindicales
de
las
huelgas
del
segundo
semestre
de
2013
y
principios
de
2014,
en
especial
los
limpiadores
de
la
ciudad.
Analizando
los
modos
de
transferencia
de
performances
entre
grupos,
problematiza
las
fronteras
entre
los
movimientos
sociales
y
el
movimiento
sindical,
observando
cómo
la
huelga
de
los
barrenderos
de
2014
tuvo
rasgos
de
movimiento
social.
Palabras
clave:
Jornadas
de
Junio
de
2013;
Movimiento
sindical;
Barrenderos.
FROM
THE
RIO
OF
JUNE
TO
THE
CARNIVAL
OF
RIO:
JUNE
DAYS
OF
2013
AND
THE
STREET
SWEEPERS
STRIKE
OF
2014
IN
RIO
DE
JANEIRO
Abstract
The
article
relates
the
June
Days
of
2013
and
the
street
sweepers’
strike
that
occurred
in
the
2014
carnival
of
Rio
de
Janeiro.
It
investigates
the
repertoires
applied
by
the
young
who
took
the
streets
in
June
and
those
of
the
union
activists
on
strikes
of
the
second
half
of
2013
and
the
beginning
of
2014,
especially
the
city's
urban
cleaning
employees.
Analyzing
the
mechanisms
of
performances
transference
between
groups,
it
also
problematizes
the
porous
boundaries
between
social
movements
and
the
trade
union
movement
noting
how
the
2014
sweepers’
strike
acquired
features
of
a
social
movement.
Keywords
:
June
Days
of
2013;
Trade
union
movement;
Street
sweepers.
3
Pós-doutoranda
do
Programa
de
Pós-Graduação
em
Ciências
Sociais
(PPGCIS)
da
Pontifícia
Universidade
Católica
(PUC-Rio),
Rio
de
Janeiro
-
Brasil.
E-mail:
brenalmeida@gmail.com
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-5583-4059
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9549594705896848
.
2
Pós-doutorando
do
Programa
de
Pós-Graduação
em
Sociologia
e
Antropologia
(PPGSA)
da
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
(UFRJ),
Rio
de
Janeiro
-
Brasil.
E-mail:
leovereza@hotmail.com
.
ORCID:
https://orcid.org/0009-0001-3233-035X
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9882807229076682
1
Artigo
recebido
em
27/03/2024.
Primeira
Avaliação
em
13/08/2024.
Segunda
Avaliação
em
19/08/2024.
Terceira
Avaliação:
02/10/2024.
Aprovado
em
31/10/2024.
Publicado
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.62437.
1
Introdução
A
vanguarda
do
movimento
sindical
do
asseio,
na
figura
dos
garis,
é
um
segmento
de
trabalhadores
que
secularmente
resiste
a
inúmeras
formas
de
opressão
e
de
exploração.
Carregam
o
peso
da
herança
histórica
dos
tigres
4
,
galés
5
e
ex-escravizados
(libertos),
que
eram
destacados
para
os
piores
serviços
existentes
nos
tempos
da
monarquia
no
Brasil.
As
queixas
dos
garis
quanto
às
precárias
e
insalubres
condições
de
trabalho,
convertem-se
em
batalhas
do
dia
a
dia
que
por
vezes
serviram
de
catalisadores
para
a
eclosão
de
grandes
mobilizações.
O
ano
de
2024
é
a
data
em
que
se
completam
dez
anos
da
mais
explosiva
das
mobilizações
que
se
tem
notícia
no
movimento
sindical
dessa
categoria.
No
início
de
2014,
sob
o
influxo
das
Jornadas
de
Junho
de
2013,
os
trabalhadores
encarregados
da
limpeza
da
cidade
do
Rio
de
Janeiro
desafiaram
sua
direção
sindical
e
fizeram
com
as
próprias
mãos
uma
greve
em
pleno
carnaval
carioca,
por
oito
dias,
atraindo
para
si
toda
sorte
de
olhares
do
Brasil
e
do
mundo.
Este
artigo
é
resultado
de
duas
pesquisas
de
doutorado
já
concluídas,
realizadas
através
de
pesquisa
empírica,
bibliográfica,
documental
e
de
campo
6
.
A
linha
do
tempo
foi
reconstituída
mediante
informações
de
periódicos
comerciais,
onde
realizamos
busca
em
acervos
digitais
sobre
menções
a
greves
dos
funcionários
da
COMLURB
–
sistematicamente
no
acervo
do
jornal
O
Globo
de
2004
a
2014
e
complementarmente
em
publicações
de
outros
jornais
mediante
busca
no
google.
Quanto
às
informações
específicas
das
dinâmicas
dos
sujeitos,
obtivemos
por
panfletos
da
direção
sindical
e
dos
grupos
de
oposição,
bem
como
através
da
realização
de
entrevistas
semiestruturadas.
Realizamos
também
observação
participante
principalmente
no
curso
das
manifestações
de
junho
e
nas
atividades
de
greves
ocorridas
no
segundo
semestre
de
2013,
bem
como
na
greve
dos
garis
de
2014.
Ocorreram
mais
atividades
desse
tipo
junto
aos
garis
nos
anos
posteriores,
porém,
em
função
do
recorte
adotado
para
o
presente
artigo,
elas
não
serão
aqui
apresentadas.
6
Os
autores
deste
artigo
desenvolveram
suas
pesquisas
no
período
entre
2013
e
2023.
5
Galés:
pessoas
condenadas
a
trabalhos
forçados.
4
Tigres:
Alcunha
recebida
por
homens
escravizados,
nos
tempos
do
Brasil
Colônia
e
do
Império,
que
eram
encarregados
de
transportar
sobre
suas
cabeças
barris
contendo
esgotos
sanitários
para
despejo
em
terrenos
baldios
ou
no
mar.
2
Objetivamos
aqui,
portanto,
analisar
a
relação
entre
as
Jornadas
de
Junho
de
2013
e
a
greve
dos
garis
de
2014,
identificando
pontos
de
contato
entre
tais
eventos
e
dando
destaque
ao
impacto
desta
greve
sobre
o
imaginário
desses
trabalhadores,
na
forma
de
forte
referência
para
as
mobilizações
subsequentes.
O
mês
de
junho
de
2013
no
Rio
de
Janeiro
A
luta
sindical
dos
garis
nos
últimos
anos
se
desenvolve
através
de
ascensos
e
descensos,
que
provocam
mobilizações
e
greves.
Porém,
isto
possui
um
ponto
de
inflexão,
que
é
a
greve
de
2014,
onde
supera-se
um
relativo
imobilismo
dominante
por
anos.
E
isso
não
se
dá
como
um
raio
em
céu
azul,
mas
como
parte
de
um
contexto
de
intenso
ativismo
de
movimentos
sociais
na
cidade
do
Rio,
que
irrompe
com
os
acontecimentos
nacionais
conhecidos
como
as
Jornadas
de
Junho
de
2013.
Estas,
que
se
estenderam
em
mobilizações
sociais
no
Rio
até
a
Copa
da
Fifa
de
2014,
constituíram-se
como
um
ciclo
multitudinário
de
protestos,
tendo
como
estopim
o
aumento
no
valor
das
passagens
de
transporte
coletivo
e
episódios
de
violência
policial
contra
manifestantes.
Maior
mobilização
desde
o
impeachment
de
Fernando
Collor,
se
espalhou
por
mais
de
350
municípios
(Singer,
2013)
e
estima-se
que
tenha
mobilizado
cerca
de
12%
da
população
brasileira
(Ortellado,
2017)
e
contado
com
amplo
apoio
do
restante
da
mesma.
Tendo
passado
antes,
naquele
ano,
pelas
cidades
de
Natal,
Porto
Alegre
e
Goiânia
(Tavares;
Roriz,
2015),
os
protestos
contra
o
aumento
das
tarifas
de
transporte
público,
ao
chegarem
nas
cidades
de
São
Paulo
e
do
Rio
de
Janeiro,
ganharam
maiores
proporções
e
repercussão,
fazendo
alastrar
essa
pauta
de
protesto
para
diversas
cidades
do
país.
No
Rio,
foram
mobilizadas
pelo
Fórum
de
Lutas
Contra
o
Aumento
das
Passagens
(ou
somente
Fórum
de
Lutas)
e,
em
São
Paulo,
pelo
Movimento
Passe
Livre
(MPL),
organizações,
estas,
com
acúmulo
já
de
anos
de
lutas
nessa
seara
7
.
7
No
Rio
de
Janeiro,
o
Fórum
de
Lutas
Contra
o
Aumento
das
Passagens,
já
promovia
mobilizações
nos
anos
anteriores.
De
acordo
com
Almeida
(2019),
entretanto,
com
patamares
de
aderência
bem
menores.
O
Movimento
Passe
Livre,
por
sua
vez,
promovia
protestos
na
cidade
de
São
Paulo,
além
de
outras
cidades
do
país,
pela
reivindicação
da
tarifação
zero
nos
transportes
públicos,
como
demonstrado
por
Zibechi
(2013).
3
Neste
ciclo
de
protesto,
o
dia
20
de
junho
foi
marcado
como
o
ápice
daquele
mês
com
registros
em
cerca
de
100
cidades
e,
delas,
25
capitais.
Em
São
Paulo,
o
protesto
com
mais
de
100
mil
participantes
fica
marcado
por
conflitos
entre
grupos,
levando-o
à
divisão
em
dois,
que
acabam
seguindo
por
trajetos
distintos.
Em
Brasília,
são
atacadas
as
vidraças
do
Banco
Central
e
do
Palácio
do
Itamaraty.
Mas
é
no
Rio
que
ocorre
o
mais
intenso
protesto,
onde
1
milhão
de
manifestantes
tomam
a
Av.
Presidente
Vargas.
Nesse
dia,
nas
pautas
são
incluídas
uma
gama
diversa
de
demandas
por
ampliação
ou
conquista
de
direitos,
em
grande
parte
relacionadas
à
qualidade
de
vida
da
população.
Os
gastos
com
a
Copa
da
Fifa
e
com
a
Copa
das
Confederações
provocavam
polêmicas,
por
conta
dos
valores
8
que
se
relacionavam
a
esses
torneios,
que
entrava
em
grande
contraste
com
as
precárias
condições
de
serviços
públicos
como
educação,
transportes
e
saúde.
Daí
nasciam
os
slogans
de
reivindicações
por
serviços
públicos
“padrão
Fifa”.
Daí
em
diante,
os
protestos
prosseguem
em
diferentes
níveis
no
país,
mas
passam
a
ter
expressão
concentrada
no
Rio
de
Janeiro.
E
se
em
São
Paulo,
o
MPL
decide
por
se
retirar
dos
protestos,
no
Rio
o
Fórum
de
Lutas
quase
se
cinde,
no
dia
25,
ao
deliberar
em
praça
pública
sobre
o
último
dos
atos,
que
coincidiria
com
o
momento
da
final
da
Copa
das
Confederações
que
ocorria
no
Rio
de
Janeiro.
Mas
apesar
disso,
ao
fim
e
ao
cabo,
o
protesto
ocorre
até
as
franjas
do
Maracanã,
onde
jogavam
Brasil
e
Espanha.
Aquele
mês
de
junho,
no
Rio,
teimava
em
não
querer
acabar
e
as
manifestações
seguiram
em
julho:
durante
a
visita
do
Papa
Francisco
na
Jornada
Mundial
da
Juventude
e
na
nova
onda
de
protestos
decorrentes
do
desaparecimento
do
pedreiro
Amarildo
9
.
Em
agosto,
é
fundada
a
Frente
Independente
Popular
(FIP),
congregando
ex-participantes
do
Fórum
de
Lutas
e
outros
independentes,
de
diversos
matizes.
Tal
frente
assume
para
si
o
compromisso
de
continuar
as
lutas
contra
a
chamada
“farra
da
9
Ajudante
de
pedreiro
e
morador
da
favela
da
Rocinha,
desaparecido
em
julho/2013
após
abordagem
de
policiais
da
Unidade
de
Polícia
Pacificadora
da
referida
comunidade.
Para
mais
informações,
ver
https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/dez-anos-caso-amarildo/
8
Sobre
os
gastos
com
a
Copa
da
Fifa,
ver
divulgação
dos
dados
oficiais
pela
Empresa
Brasileira
de
Comunicação
(EBC)
em
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/tcu-contabiliza-r-255-bilhoes-de-gastos-com-copa-d
o-mundo
.
4
Fifa”
que
operava
na
cidade
mediante
uma
lei
de
exceção
(conhecida
como
Lei
Geral
da
Copa)
e
que
catalisava
um
processo
de
financeirização
dos
espaços
que,
como
já
destacou
Almeida
(2019),
se
realizava
mediante
obras
urbanas
de
grandes
extensão
e
duração
que,
além
de
impor
remoções
forçadas
a
populações
faveladas,
determinava
também
limitações
em
geral
à
circulação
e
acessibilidade
aos
bens
e
recursos
próprios
à
cidade.
Instala-se
no
Rio,
portanto,
nos
termos
de
Rolnik
(2015),
uma
verdadeira
“guerra
de
lugares”.
A
FIP
se
incorpora
a
diversas
mobilizações:
pelo
reaparecimento
de
Amarildo,
pela
liberdade
de
Rafael
Braga
10
,
contra
o
governador
Sérgio
Cabral
e
contra
o
grupo
midiático
Globo.
No
feriado
de
7
de
setembro,
consegue
driblar
forte
aparato
policial
e
organizar
protestos
nas
ruas
do
centro
do
Rio,
que
culminaram
na
interrupção
do
desfile
militar
da
independência
na
Av.
Presidente
Vargas
11
.
E
por
ação
da
FIP
e
de
outros
sujeitos
coletivos,
as
mobilizações
se
seguiram
na
cidade
da
segunda
metade
de
2013
até
a
realização
da
Copa
em
junho-julho
de
2014.
O
movimento
sindical,
com
dificuldades
em
aderir
rapidamente
aos
protestos
em
junho
(Cohen;
Santana,
2015)
apresenta
no
segundo
semestre
de
2013
episódios
intensos,
como
a
greve
da
educação
e
a
luta
dos
petroleiros
em
greve
nacional
e
contra
o
leilão
do
bloco
petrolífero
do
pré-sal
de
Libra.
Em
2014,
ocorre
ainda
várias
paralisações,
muitas
à
revelia
de
suas
direções
sindicais,
como
foi
o
caso
da
greve
dos
garis
em
março,
a
greve
na
construção
do
Complexo
Petroquímico
do
Rio
de
Janeiro
(Comperj)
de
fevereiro
a
março
12
e
a
greve
dos
rodoviários
em
maio
13
.
O
contexto
das
Jornadas
de
Junho
Há
que
se
compreender
a
eclosão
das
Jornadas
de
Junho
de
2013
situando-as
nos
contextos
internacional
e
nacional.
13
Ver
Silveira
(2023).
12
Ver
Almeida
et
al
(2021).
11
Para
mais
informações,
ver
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/09/130907_atualiza_protestos_independencia_jp
10
Morador
de
rua
preso
no
centro
do
Rio
em
20/06/2013,
por
ter
sido
confundido
com
manifestante.
Acusado
e
condenado
por
supostamente
portar
um
“coquetel
molotov”,
que
na
realidade
era
uma
garrafa
de
desinfetante.
Para
mais
informações,
ver
https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/12/unico-manifestante-condenado-no-rio-vai-para-prisao-d
omiciliar.html
5
Do
ponto
de
vista
internacional,
há
que
se
encontrar
o
espaço
das
Jornadas
de
Junho,
ou
seja,
elucidar
o
contexto
originário
deste
ciclo
de
protestos.
Daí,
pode-se
dizer
que
o
2013
brasileiro
eclodiu
num
cenário
em
que
ondas
de
protestos
ocorriam
por
várias
partes
do
globo,
em
reação
aos
prolongados
efeitos
da
recessão
econômica
mundial
desencadeada
pela
crise
imobiliária
dos
subprimes
nos
EUA.
Dado
o
alto
grau
de
financeirização
da
economia
mundial
desenvolvido
crescentemente
desde
a
década
de
1970
(Chesnais,
2005),
o
colapso
da
bolha
imobiliária
nos
EUA
levou
a
uma
quebradeira
de
bancos
europeus
e
estadunidenses
entre
2007
e
2008,
imediatamente
produzindo
ações
de
governos
das
principais
potências
em
socorro
e
mesmo
de
estatização
de
instituições
financeiras.
Irrompe,
portanto,
mais
um
duro
episódio
da
crise
geral
de
superprodução
relativa
do
capitalismo,
provocando
um
novo
longo
ciclo
“desvirtuoso”,
intenso
e
de
desenvolvimento
desigual,
onde
o
endividamento
profundo
da
população
aparece
como
consequência
de
suas
tentativas
frustradas
por
manter
seus
padrões
de
consumo.
Essa
crise
é
intensificada,
por
sua
vez,
quando
vários
governos
passaram
a
determinar
medidas
de
austeridade
nas
suas
economias,
provocando
a
intensificação
das
taxas
de
desemprego
e
o
aumento
da
precarização
dos
vínculos
empregatícios;
daí
à
retração
da
capacidade
geral
de
consumo
e
novas
quebradeiras
em
outros
segmentos
econômicos;
e
daí
a
retroalimentação
desse
ciclo.
O
período
que
seguiu,
de
2008
a
2016,
ficou
marcado
por
reações
populares,
na
forma
de
ciclos
de
protestos
numa
grande
extensão
de
países
e
regiões
como
Islândia,
Grécia,
norte
da
África
e
Oriente
Médio,
Portugal,
Espanha,
EUA,
Turquia,
Brasil
e
França.
Tais
mobilizações
ficaram
marcadas
pelo
uso
das
redes
sociais,
como
meio
de
discussão,
informação
e
mobilização
e
pela
ocupação
massiva
do
espaço
público,
uma
“presença
obstinada”,
como
diriam
Cohen
e
Santana
(2015).
E
do
ponto
de
vista
organizativo,
muitas
delas
tinham
como
marca
o
não
reconhecimento
de
líderes
ou
representações
para
negociar
com
os
Estados,
buscando
por
“novas
formas
de
legitimidade
democrática
e,
mais
profundamente
ainda,
uma
renovação
da
política”
(Cohen,
Santana,
2015,
p.
104).
A
disposição
desses
ciclos
caracterizou
uma
nova
onda
de
indignação
global
ou
“uma
nova
geopolítica
da
indignação
global”,
marcada
6
pelo
“rechaço
aos
sistemas
políticos,
aos
partidos
políticos
tradicionais
e
às
formas
convencionais
de
organização
política”
(Bringel,
2017,
p.34,
tradução
nossa).
Do
ponto
de
vista
nacional,
as
Jornadas
ocorriam
no
contexto
de
dez
anos
completos
do
primeiro
ciclo
de
governos
no
PT.
Era
quando
o
governo
Dilma
se
encontrava
tensionado
por
pressões
sociais
de
amplo
espectro,
à
esquerda
e
à
direita,
herdando
o
que
se
experimentou
nos
dois
mandatos
de
Lula,
de
2003
a
2010
(Alonso,
2023).
Caracteriza-se
ainda
como
um
momento
em
que
o
modelo
político-econômico
neodesenvolvimentista
dos
governos
petistas
chegava
aos
seus
limites
(Perruso;
Narvaes,
2015).
Sobre
um
suposto
peso
hegemônico
de
forças
de
extrema
direita
no
ciclo
de
protestos
de
junho
no
Brasil,
há
que
se
dialogar
com
as
teses
que
ficaram
conhecidas
como
do
“ovo
da
serpente”
ou
“ovo
do
fascismo”.
Dentre
os
materiais
empíricos
registrados
na
literatura
do
tema,
à
exceção
do
levantamento
de
Alonso
(2023)
sobre
os
protestos
de
São
Paulo
–
onde
ela
verifica
a
existência
de
forças
organizadas
à
esquerda
e
à
direita
em
junho
de
2013,
sem
perceber,
entretanto,
uma
hegemonia
dos
últimos
–
não
há
evidências
de
que
foi
a
direita
ou
extrema
direita
que
articulou
ou
dominou
os
protestos
no
país
e,
nem
mesmo
na
cidade
do
Rio,
sendo
eles
marcados
por
um
cariz
multitudinário.
A
partir
da
realização
de
longa
pesquisa,
onde
debruçamo-nos
sobre
o
tema
com
cuidados
empírico,
metodológico
e
teórico,
concluímos
que
as
teses
como
essas
dos
“ovos”,
constituem-se
numa
associação
que
visa
cercear
o
debate
político
democrático
polarizado,
ao
encaixotar
as
manifestações
no
falso
paradigma
de
que
críticas
a
um
governo
autointitulado
de
“esquerda”
não
podem
ser
mais
que
críticas
de
direita.
Nobre
(2013)
corrobora
com
este
ponto
de
vista
e
situa
essa
construção
analítica
no
cenário
político
e
eleitoral,
como
uma
tentativa
de
neutralizar
a
dissonância
das
irrupções
a
partir
de
“teorias
da
conspiração
interessadas,
assustadas
com
a
perda
de
sustentação
do
governo
e
com
as
eleições
de
2014”
(Nobre,
2013,
p.5).
E,
particularmente,
no
que
tange
às
condições
de
vida
do
povo,
que
podem
servir
para
explicar
de
onde
sai
o
ímpeto
dos
protestos,
cabe
notar,
por
um
lado,
o
processo
de
precarização
crescente
das
condições
de
trabalho
e,
por
outro,
a
deterioração
e
mercantilização
dos
serviços
públicos.
Na
vida
das
classes
trabalhadoras,
nota-se
a
7
ambivalência
da
ampliação
do
consumo
mediante
a
expansão
do
crédito,
onde,
por
um
lado,
há
relativa
ampliação
na
capacidade
de
compra
de
bens
e
serviços
e,
por
outro,
a
consequente
explosão
do
endividamento
da
população.
Além
disso,
percebem-se
os
efeitos
nocivos
da
recessão
mundial
sobre
o
Brasil,
ainda
que
naquele
momento
de
forma
mais
indireta.
Lula
chegou
a
declarar
que
o
tsunami
da
crise
nos
EUA
chegaria
no
Brasil
na
forma
de
uma
“marolinha”
14
.
Porém,
tomando-se
o
cariz
altamente
globalizado
da
economia
e,
por
consequência,
a
incessante
busca
por
“competitividade”
das
empresas,
percebe-se
na
primeira
década
do
século
XXI
do
Brasil,
a
paradoxal
convivência
de
índices
de
empregos
formais
relativamente
altos
com
uma
crescente
precarização
do
trabalho,
seja
por
conta
de
uma
tendência
geral
já
observada
ao
longo
de
décadas,
seja
pela
necessidade
dos
negócios
se
adaptarem
para
fazer
frente
à
competição
internacional.
Isso,
pois,
se
a
tendência
à
terceirização
(dentre
outras
formas
de
flexibilização
do
trabalho)
decorrente
do
ideário
da
reestruturação
produtiva
toyotista
é
aplicada
na
década
de
1970,
na
sua
modalidade
restrita,
e
na
década
de
1990,
de
modo
sistêmico
(Alves,
2000),
é
nos
anos
2000,
particularmente
a
partir
de
2005
(com
as
leis
11.196/2005
e
123/2006),
que
tal
precarização
nos
empregos
ocorre
de
forma
mais
profunda.
Apesar
de
ter
fracassado
na
iniciativa
tripartite
de
reforma
sindical
e
trabalhista
do
Fórum
Nacional
do
Trabalho
(2003-2005)
15
,
é
de
autoria
do
governo
Lula
a
lei
11.196/2005
(chamada
“Lei
do
Bem”)
que
abriu
precedente
para
a
chamada
“fraude
da
pejotização”
(Krein,
2007),
posteriormente
legitimada
na
íntegra
com
a
Reforma
Trabalhista
do
governo
Temer
em
2017
e
por
decisões
recentes
do
STF.
Essa
modalidade
de
emprego
mediante
a
contratação
terceirizada
com
quadro
reduzidíssimo
de
funcionários
representou
a
possibilidade
de
trabalhadores
antes
contratados
individualmente
serem
substituídos
ou
recontratados
como
uma
empresa,
sem
os
mais
elementares
direitos
trabalhistas.
Tal
recurso
precarizante
das
condições
de
trabalho
se
apresenta
na
figura
também
do
Microempreendedor
Individual
(MEI),
instituído
no
país
15
Para
mais
informações,
ver:
https://www3.mte.gov.br/fnt/reforma.asp
,
https://www3.mte.gov.br/fnt/Reforma_Sindical_e_Trabalhista_relatorio_final_do_CDES.pdf
https://www3.mte.gov.br/fnt/relatorio_fnt.pdf
14
Jornal
O
Globo,
04
de
outubro
de
2008.
8
através
das
leis
123/2006
e
128/2008,
constituindo
para
muitos
“empreendedores”
uma
lógica
de
“trabalhador-empresa”,
que
produz
um
autocontrole
sobre
si,
provocando
muitas
vezes
uma
“auto
exploração”
para
além
do
escopo
da
jornada
de
trabalho
regular
(Muniz,
2023).
Constituía-se
a
partir
dali
uma
“inserção
econômica
e
social
fora
dos
limites
do
assalariamento”
(Rosenfeld,
2015,
p.125).
Dari
Krein
sintetiza
o
quadro
do
mercado
de
trabalho
no
final
da
década
de
2000:
Ou
seja,
continuamos
convivendo
com
um
excedente
estrutural
de
força
de
trabalho,
expressa
no
desemprego
e
na
informalidade,
uma
forte
heterogeneidade
na
estrutura
ocupacional,
com
uma
taxa
de
rotatividade
altíssima
(mais
de
40%
ao
ano),
com
a
prevalência
de
baixos
salários
e
com
uma
desigual
distribuição
de
renda
do
trabalho.
Também
é
necessário
destacar
que
a
flexibilização
na
relação
de
emprego
continuou
avançando
em
muitos
aspectos,
tais
como
a
diversificação
nas
formas
de
contratação,
no
avanço
da
remuneração
variável
e
na
intensificação
do
ritmo
de
trabalho
e
na
sobreposição
do
tempo
econômico
sobre
o
tempo
da
vida.
[...]
E
também
há
um
processo
de
substituição
de
trabalhadores
com
maiores
salários
por
outros
com
menor
rendimento.
As
empresas
também
estão
aproveitando
a
crise
para
fazer
reestruturações
e
racionalizações
que
estavam
adiando
em
função
de
uma
situação
anterior
(KREIN,
2009).
Já
no
que
tange
às
condições
de
vida
da
população,
particularmente
no
atendimento
das
suas
necessidades
através
dos
serviços
públicos,
Dilma
precisou
lidar
com
expectativas
frustradas
que
vieram
à
tona
em
2013:
eram
os
cartazes
que
diziam
“Queremos
saúde/escolas/transportes
padrão
Fifa”
(Andres,
2023).
Os
mandatos
do
PT,
iniciados
em
2003,
geraram
expectativas
de
ganhos
sociais
entre
as
classes
populares,
e
a
perspectiva
de
estabilidade
e
grandes
ganhos
econômicos
para
as
classes
mais
abastadas.
Sendo
um
governo
de
concertação
nacional,
nos
termos
expressos
na
chamada
“Carta
ao
povo
brasileiro”
da
campanha
de
Lula
de
2002
16
ou
no
discurso
deste
na
Av.
Paulista
(São
Paulo)
em
18
de
março
de
2016
17
,
tiveram
as
classes
populares
–
imensa
parcela
de
seu
eleitorado
à
época
–
um
17
Discurso
de
Lula
em
18/03/2016
na
Avenida
Paulista,
São
Paulo,
quando
ele
afirma
que
foi
no
governo
do
PT,
que
os
banqueiros
ganharam
dinheiro
como
nunca
na
história,
e
que
um
pouco
do
que
eles
ganhavam
foi
repartido
pelo
governo
com
os
trabalhadores.
Disponível
em
https://tvefamosos.uol.com.br/videos/?id=nunca-ganharam-dinheiro-como-no-meu-mandato-diz-lula-sobre
-banqueiros-04020D183666C0C15326
.
Acesso
em
28
de
agosto
de
2023.
16
Carta
ao
Povo
Brasileiro.
Documento
de
compromisso
pluriclassista,
propondo
marcos
de
desenvolvimento
diferentes
daqueles
praticados
pelo
governo
FHC
(1995-2002).
Disponível
em
https://pt.org.br/ha-16-anos-lula-lancava-a-carta-ao-povo-brasileiro/
.
Acesso
em
28
de
agosto
de
2023.
9
conjunto
de
demandas
atendidas,
mas
tantas
outras
de
cunho
estruturante
das
condições
de
vida,
não
implementadas
pelo
PT
18
.
A
questão
urbana
e,
particularmente,
a
agenda
da
reforma
urbana,
constitutiva
da
pauta
das
lutas
sociais
e
fragilmente
experimentada
em
esferas
municipais
nos
anos
1980
e
início
dos
anos
1990,
foram
abandonadas
pelo
poder
político
dominante
do
país,
em
todas
as
esferas.
Isso
se
deu
em
prol
de
uma
coalizão
pelo
crescimento
que
articulou
estratégias
keynesianas
de
geração
de
emprego
e
aumentos
salariais
a
um
modelo
de
desenvolvimento
urbano
neoliberal,
voltado
única
e
exclusivamente
para
facilitar
a
ação
do
mercado
e
abrir
frentes
de
expansão
do
capital
financeirizado,
do
qual
o
projeto
Copa/Olimpíadas
é
a
expressão
mais
recente...
e
radical
(ROLNIK,
2013,
p.9).
Empunhando
faixas
e
cartazes
que
reivindicavam
saúde,
transportes
e
educação
“padrão
FIFA”,
manifestantes,
por
várias
partes
do
país,
questionavam
a
precarização
geral
de
serviços
públicos,
como
parte
integrante
de
uma
lógica
de
empurrar
a
população
à
contratação
de
serviços
privados.
A
condição
precária
desses
três
basilares
serviços
públicos
não
era
novidade
em
2013,
sendo
na
realidade
uma
chaga
secular,
parte
da
condição
estrutural
de
um
país
de
capitalismo
atrasado
como
é
o
caso
do
Brasil
e
das
demais
nações
da
América
Latina.
Entretanto,
completavam-se
ali
10
anos
de
um
governo
para
onde
convergiam
inúmeras
expectativas
e
esperanças.
“Mas
a
recorrente
frustração
dessas
esperanças
vai
erodindo
a
legitimidade,
ao
mesmo
tempo
que
a
resignação
vai
sendo
substituída
pela
indignação
quando
surge
o
insuportável.”
(Castells,
2018,
p.13).
Decifrar
profundamente
o
“insuportável”
em
2013
é
ainda
um
desafio
a
ser
trilhado,
mas
podemos
enunciar
que
sua
face
visível
foi,
por
um
lado,
o
contraste
dos
grandes
gastos
com
a
Copa
e
com
as
Olimpíadas
em
relação
a
qualidade
dos
serviços
públicos
e,
por
outro
lado,
a
brutal
violência
policial
contra
aqueles
que
iniciavam
o
ciclo
de
protestos.
E
daí,
a
indignação
“...fez
emergir
não
uma,
mas
uma
infinidade
de
agendas
mal
resolvidas,
contradições
e
paradoxos”
(Rolnik,
2013,
p.8).
18
“Resolução
sobre
conjuntura
de
17
de
maio
de
2016”
do
PT.
Resolução
com
autocrítica
quanto
a
diversos
erros
cometidos
pelo
PT,
que
levaram
o
mesmo
a
não
conseguir
fazer
frente
ao
processo
de
ataques
sofridos
e
que
tiveram
seu
ápice,
até
então,
com
o
impeachment
da
Dilma.
Disponível
em
http://www.ptdf.org.br/novo/2016/05/18/resolucao-sobre-conjuntura-de-17-de-maio-de-2016/
.
Acesso
em
28
de
agosto
de
2023.
10
Campos
de
ação
e
repertórios
nas
Jornadas
de
Junho
Ao
olhar
para
os
protestos,
cabe
considerar
a
formação
de
diferentes
campos
de
ação
estratégicos
(Fligstein;
McAdam,
2001),
onde
classificam-se
os
manifestantes
politicamente
pela
sua
orientação
e
ou
pelo
teor
de
suas
demandas.
O
centro
de
nossa
análise
foca
nos
protestos
do
Rio
de
Janeiro
apesar
de
que
com
variações
de
intensidade,
podem
ser
observados
campos
de
ação
de
mesma
ordem
em
grandes
capitais
como
São
Paulo,
por
exemplo.
É
necessário
compreender
ainda
que
os
campos
de
ação
não
eram
estáticos
e
variaram
ao
longo
de
junho.
Alerta-se
que
é
crucial
entender
Junho
de
2013
como
um
momento
de
abertura
societária
no
país.
Uma
vez
aberto
o
espaço
de
protesto
pelas
mobilizações
iniciais,
outros
sujeitos
se
uniram
para
fazer
suas
próprias
reivindicações,
sem
necessariamente
manter
os
laços
com
as
mobilizações
originais
e
repetir
as
formas,
a
cultura
organizacional,
as
referências
ideológicas
ou
os
repertórios
de
ação
dos
iniciadores
dessas
mobilizações
(BRINGEL;
PLEYERS,
2015).
A
partir
dos
repertórios
de
protesto
(Tilly,
1995)
aplicados
em
Junho,
delineamos
os
campos
de
ação
ou
os
“blocos”
(termo
dos
ativistas)
através
do
quais
os
manifestantes
se
unificaram,
de
forma
orgânica
ou
não,
pela
identidade
de
ideologia,
de
bandeiras
e/ou
de
práticas:
neossocialista,
autonomista
e
patriótico.
Tal
identificação
inicial
de
campos
é
de
Alonso
e
Mische
(2015),
atualizada
por
Alonso
(2023)
e
sua
caracterização
se
concentra
nos
fatos
investigados
na
cidade
de
São
Paulo.
Partimos
daí,
portanto,
para
adaptá-la
aos
acontecimentos
percebidos
por
observação
direta
e
pela
literatura
que
já
investigou
o
tema
na
cidade
do
Rio
de
Janeiro
(Freitas,
2023).
Mantendo
um
repertório
semelhante
ao
campo
“socialista”
(Alonso;
Mische,
2015)
–
a
esquerda
organizada
em
partidos
e
sindicatos
até
2002
–
os
chamados
“neossocialistas”
(Alonso,
2023)
se
diferenciam,
fundamentalmente
em
função
da
desidratação
ocorrida
nas
práticas
de
protestos
dos
primeiros,
que
vieram
a
ocupar
o
governo
de
Lula
e
Dilma,
e
passaram
a
centrar
ação
no
âmbito
institucional.
Os
neossocialistas
são
os
que
se
conformam
a
partir
de
insatisfações
e
decepções
com
os
rumos
dos
governos
do
PT,
fazendo
oposição
pela
esquerda.
Nas
ruas
de
Junho
do
Rio
de
Janeiro,
eles
eram
alguns
dos
que
integravam
o
Fórum
de
Lutas,
sendo
em
grande
11
parte
vinculados
a
partidos
derivados
do
PT,
como
PSOL
e
PSTU.
Identificamos
seu
repertório
na
cidade
do
Rio
de
Janeiro,
nas
ruas
de
2013:
Repertório
neossocialista:
exibições
públicas
de
filiação
organizacional/partidária
(faixas
vermelhas,
camisetas
com
símbolos
partidários
ou
de
movimento,
emblemas,
bandeiras
e
adesivos
partidários);
organização
centralizada
e
hierárquica;
alta
visibilidade
da
liderança
nos
fóruns
de
discussão
e
protestos
de
rua;
propensão
ao
diálogo
e
negociação
com
autoridades
políticas
e
policiais
durante
protestos
e
para
apresentação
de
pleitos.
Pautas
relacionadas
à
crítica
ao
capitalismo,
à
desigualdade,
à
exclusão
social,
às
elites
políticas
e
econômicas;
contra
o
aumento
das
passagens,
pela
melhoria
dos
serviços
públicos
e
outras
demandas
diversas
de
cunho
democrático.
Já
o
campo
dos
adeptos
ao
repertório
autonomista
era
daqueles
que
disputavam
o
terreno
crítico
ao
governo,
à
esquerda
do
PT,
sem
vinculações
aos
tradicionais
partidos
políticos
de
esquerda.
Em
sua
maioria,
eram
organizados
em
movimentos
sociais
de
amplitude
média
ou
pequena,
alguns
com
articulações
nacionais
ou
regionais,
mas
em
sua
maioria
restrita
à
atuação
local.
Muitos
organizados
em
coletivos,
alguns
de
cariz
comunista
revolucionário
e
outros
de
identificação
anarquista,
mas
também
diversos
independentes,
com
ideais
libertários
ou
marxistas.
Concretamente,
esse
é
o
campo
que
em
sua
maioria
participou
do
Fórum
de
Lutas
em
junho
e
em
agosto
passou
a
atuar
na
FIP.
Parte
destes,
entretanto,
não
teve
participação
nas
plenárias
e
reuniões
das
frentes
citadas,
restringindo
sua
atuação
ao
comparecimento
nas
manifestações
convocadas
por
essas
frentes
de
luta.
Identificamos
o
conjunto
de
suas
performances:
Repertório
autonomista:
exibições
públicas;
ocupações
periódicas
e/ou
permanentes
de
espaços
públicos;
formas
de
contestação
que
envolvem
confronto;
resistência
ativa
à
repressão
policial;
ataque
a
objetos
de
cunho
simbólico
do
Estado
e
de
grandes
grupos
econômicos;
formas
de
deliberação
horizontais,
em
espaços
públicos;
anti-exibicionismo
de
lideranças
e
de
autoridades
centralizadas;
indisposição
à
negociação
com
autoridades
políticas
e
policiais
durante
protestos
e
para
apresentação
de
pleitos.
Pautas:
crítica
ao
capitalismo,
aos
grupos
e
classes
dominantes
na
política
e
na
economia;
questionamento
ao
poder
do
Estado,
12
desmilitarização
das
polícias,
defesa
de
grupos
pauperizados,
marginalizados,
oprimidos
(remoções
de
favelas,
Amarildo,
Rafael
Braga,
Aldeia
Maracanã);
contra
a
criminalização
do
aborto
e
o
projeto
da
chamada
“cura
gay”,
além
de
outras
demandas
diversas
de
cunho
democrático.
Quanto
ao
campo
adepto
do
chamado
repertório
“patriótico”,
é
o
menos
organicamente
estruturado
nos
protestos.
Os
manifestantes
desse
campo,
tiveram
atuação
pulverizada,
com
expressão
maior
no
protesto
de
20
de
junho
de
2013
(a
chamada
passeata
do
1
milhão),
se
mobilizando
de
casa
até
às
ruas
pela
viralização
das
convocações
feitas
pelas
redes
sociais
e
pela
TV
Globo
que
propagandeou
a
manifestação
daquela
data
com
um
grande
ato
cívico,
elencando
pautas
na
tentativa
de
dar
direcionamento
político
ao
ato.
Repertório
patriótico:
utilização
de
símbolos
nacionais;
estilo
festivo
de
manifestação
com
caras
pintadas;
apologia
ao
pacifismo;
postura
de
passividade
frente
às
forças
policiais;
propensão
ao
diálogo
e
negociação
com
autoridades
políticas
e
policiais
durante
protestos
e
para
apresentação
de
pleitos.
Pautas
contra
o
aumento
das
passagens;
pela
melhoria
dos
serviços
públicos;
contra
a
criminalização
do
aborto
e
o
projeto
da
chamada
“cura
gay”;
contra
a
corrupção
e
contra
a
PEC
37/2011;
entre
outras
demandas
diversas
de
cunho
democrático.
Há
que
se
pesar
o
quadro
complexo
e
ziguezagueante
da
vida
nacional,
no
qual,
com
o
passar
de
anos,
forças
de
direita
e
de
extrema
direita
se
desenvolveram,
apropriando-se
e
adaptando,
inclusive,
algumas
das
performances
aplicadas
nas
ruas
e
publicizadas
pelos
principais
meios
de
comunicação
do
país
no
mês
de
junho
de
2013.
Mas
ressaltamos
a
importância
de
ter
atenção
com
as
performances
relacionadas
do
“campo
patriótico”
de
2013,
de
modo
a
estabelecer
o
devido
distanciamento
quanto
à
massa
de
apoiadores
do
ex-presidente
Jair
Bolsonaro
que
autodenominados
“patriotas”
promoveram
por
cerca
de
dois
meses
movimentos
golpistas
em
2022-23,
tendo
seu
ápice
no
ataque
às
sedes
dos
Três
Poderes
da
República
em
Brasília
em
08
de
janeiro
de
2023.
Isso
se
faz
necessário,
tendo
em
conta
o
cariz
violento
e
específico
do
movimento
bolsonarista,
bem
como
sua
pauta
desintegradora
da
unidade
nacional,
com
slogans
que
remetem
à
religiosidade
e
ufanismo
típicos
dos
movimentos
nazifascistas
da
primeira
metade
do
século
XX
–
performances,
estas,
portanto,
inexistentes
nos
13
segmentos
que
fizeram
grande
uso
de
símbolos
nacionais
nas
ruas
de
junho
e
que
apresentavam
pautas
de
cunho
democrático.
Fica
o
cuidado
aqui,
portanto,
em
não
incorrer
em
anacronismos.
As
lutas
sindicais
pós
junho
de
2013
Ainda
no
calor
dos
acontecimentos
de
junho,
Bringel
(2013)
chama
atenção
para
a
aplicabilidade
da
noção
de
Tarrow
(1998)
sobre
“pendularidade”
dos
ciclos
de
ações
coletivas,
ressaltando
que
mesmo
após
o
fim
daquele
mês,
estariam
em
aberto
as
possibilidades
para
a
continuidade
dos
conflitos
e
de
novos
desdobramentos
políticos.
E
isso
de
fato
ocorreu
desdobrando-se
em
sucessivos
ciclos
de
protesto
ocorridos
nos
meses
seguintes.
E
se
no
mês
de
junho
os
sindicatos
não
conseguiram
acompanhar
o
ritmo
e
a
intensidade
dos
protestos,
nos
meses
seguintes
eles
passaram
a
ser
responsáveis
por
um
número
crescente
de
greves.
Nacionalmente,
o
índice
de
greves
salta,
passando
de
876
paralizações
em
2012
para
2.046
em
2013.
Figura
1
-
Greves
no
Brasil
de
2004
a
2023
(Fonte:
SAG
Dieese)
14
A
partir
de
uma
análise
sobre
as
greves
de
maior
repercussão,
percebe-se,
por
um
lado,
uma
mudança
no
estado
de
espírito
e
nas
performances
de
uma
parcela
de
grevistas,
apesar
de
seguirem
coexistindo
práticas
tradicionais
durante
as
paralisações.
E
estas
diferentes
práticas
coincidem,
por
sua
vez,
com
diferentes
perfis
geracionais.
O
segmento
com
práticas
sindicais
mais
tradicionais
pode
ser
verificado,
por
exemplo,
em
uma
categoria
fortemente
mobilizada
em
greves
de
grande
periodicidade.
Falamos
dos
bancários,
que
entre
setembro
e
outubro
de
2013
paralisaram
suas
atividades
numa
intensa
greve
encerrada
só
após
vinte
dias,
mas
que
de
acordo
com
Perruso
e
Narvaes
(2015,
p.8)
“não
soube
mobilizar-se
nas
ruas
nem
polarizar
o
debate
político”,
concentrando-se
nos
piquetes
e
colagens
de
adesivos
nas
portas
dos
bancos.
Este
segmento
é
a
aquele
identificado
por
esses
autores
como
o
da
“geração
petista-cutista”,
que
coincide
com
a
denominação
do
chamado
antigo
“campo
socialista”
(Alonso;
Mische,
2015),
originada
nas
mobilizações
da
virada
dos
anos
1980
e
quando
se
apoiava
numa
perspectiva
de
transformação
social
de
baixo
para
cima,
via
pressão
ou
combate
ao
Estado.
Porém,
tal
como
notam
também
Perruso
e
Narvaes
(2015),
após
a
chegada
do
PT
ao
poder
em
2003,
esses
sujeitos
passam
a
tomar
o
Estado
como
lócus
de
transformação
social
pela
via
lenta
e
moderada
da
aplicação
de
políticas
públicas.
No
âmbito
da
prática
grevista,
este
segmento
tem
seu
repertório
específico,
identificado
a
seguir:
Repertório
grevista
tradicional:
interrupção
do
trabalho;
valorização
do
espaço
dos
locais
de
trabalho
como
centro
da
confrontação
com
o
capital;
piquetes
nas
portas
dos
locais
de
trabalho
com
ou
sem
carro
de
som;
atividades
de
convencimento
para
adesão
à
greve
em
ambientes
internos
do
trabalho;
panfletagens
à
população
nas
portas
dos
locais
de
trabalho
e
eventualmente
em
espaços
públicos;
colagens
de
cartazes
nas
portas
de
locais
de
trabalho
e
em
postes;
reuniões
e
assembleias
deliberativas
em
espaços
internos
dos
sindicatos
ou
outros
espaços
fechados
como
clubes
ou
afins.
Já
a
aplicação
de
práticas
grevistas
diferenciadas,
se
dá
por
aqueles
que
reproduzem
parcela
dos
repertórios
de
junho,
incrementando
parte
das
performances
aplicadas
no
repertório
autonomista
sobre
o
repertório
grevista
tradicional
.
É
o
caso
da
greve
dos
profissionais
da
educação
do
Estado
do
Rio,
ocorrida
de
agosto
a
outubro
de
15
2013,
quando
foi
percebido
uma
forte
ocupação
do
espaço
urbano,
através
de
grandes
e
frequentes
passeatas,
encerradas
muitas
vezes
por
bombas,
tiros
e
prisões,
bem
como
a
ocupação
de
prédios
públicos,
caso
da
Câmara
de
Vereadores
do
Rio,
desocupada
mediante
violenta
ação
policial.
A
greve
nacional
dos
petroleiros,
ocorrida
em
outubro
de
2013
foi
outro
caso
emblemático,
tendo
no
Rio
aplicado
um
repertório
misto
,
com
performances
tradicionais
em
alguns
momentos
e
práticas
diferenciadas
em
outros,
ao
promover
ocupações
e
acampamentos
no
centro
da
cidade
e
enfrentar
a
Força
Nacional
de
Segurança
durante
o
protesto
contra
o
primeiro
leilão
de
blocos
petrolíferos
do
pré-sal,
promovido
pela
ANP,
no
dia
21
daquele
mês.
Identificamos,
portanto,
esse
repertório
diferenciado
pós-junho,
dando
a
ele
uma
denominação
específica:
Repertório
grevista
de
rua:
interrupção
da
prática
laboral;
piquetes
nas
portas
dos
locais
de
trabalho
com
ou
sem
carro
de
som;
atividades
de
convencimento
para
adesão
à
greve
em
ambientes
internos
do
trabalho;
panfletagens
à
população
em
espaços
públicos;
manifestações
de
rua
recorrentes;
protestos
recorrentes
em
frente
aos
locais
de
trabalho
e
em
frente
a
prédios
dos
poderes
públicos;
resistência
ativa
à
repressão
policial;
reuniões
e
assembleias
deliberativas
em
espaços
internos
dos
sindicatos
ou
outros
espaços
fechados
como
clubes
ou
afins;
variação
na
disposição
ao
diálogo
e
negociação
com
autoridades
políticas
e
policiais
durante
protestos
e
para
apresentação
de
pleitos
(disposições
e
indisposições
de
acordo
com
grupos).
Tais
performances
diferenciadas
percebidas
nesse
repertório,
bem
como
durante
a
ocorrência
das
Jornadas
de
Junho
são,
portanto,
expressão
da
estreia
de
uma
nova
geração
de
ativistas
populares
que
não
partilhariam
com
a
geração
petista-cutista
(ou
antigo
campo
socialista
)
seus
atuais
valores
e
marcos
político-ideológicos
–
desgastada
no
seio
dos
movimentos
sociais
da
contemporaneidade.
Grande
parte
dos
ativistas
de
junho
de
2013,
são,
portanto,
jovens
que
desenvolveram
sua
prática
e
consciência
política
durante
a
vigência
do
primeiro
ciclo
de
governos
do
PT,
tendo
necessidades
não
atendidas:
“já
não
estavam
tão
gratos
quanto
os
pais
poderiam
estar
por
todas
as
coisas;
queriam
mais”
(Alonso,
2023,
p.27).
16
A
greve
dos
garis
no
carnaval
de
2014
A
greve
de
oito
dias
realizada
pelos
funcionários
da
COMLURB
(Companhia
Municipal
de
Limpeza
Urbana
do
Rio
de
Janeiro)
durante
o
carnaval
carioca
de
2014
configurou-se
como
um
marco
na
luta
desses
trabalhadores.
Expressou
o
rompimento
sobre
o
relativo
imobilismo
mantido
por
cerca
de
dez
anos
pela
direção
sindical
que
por
tantas
vezes
tomou
atalhos
nas
campanhas
reivindicatórias
que
no
fundamental
só
repunham
a
inflação,
sem
ganhos
significativos
para
os
trabalhadores
19
.
O
movimento
constituiu-se,
nesse
sentido,
numa
ruptura
momentânea
de
uma
parte
ativa
da
categoria
com
sua
direção
sindical
e
fixou-se
no
imaginário
simbólico
dos
trabalhadores,
pela
intensidade
da
mobilização
e
por
seu
ganho
recorde,
materializado
num
reajuste
salarial
na
ordem
de
37%,
num
período
em
que
a
inflação
medida
pelo
IPCA
foi
de
5,68%.
Tal
mobilização
impactante
tomou
manchetes
do
Brasil
e
do
mundo
e,
mesmo
após
quase
dez
anos,
segue
ainda
viva
na
memória
de
boa
parte
da
população
carioca
e,
quiçá,
de
uma
parcela
da
população
nacional.
A
exemplo
das
Jornadas
de
Junho,
a
greve
foi
oriunda
de
um
processo
de
renovação
geracional
na
categoria
e,
sob
influxo
das
mobilizações
de
2013,
foi
gestada
por
grupos
até
então
desarticulados
entre
si,
que
possuíam
atuação
atomizada
entre
as
mais
de
cem
gerências
da
empresa
espalhadas
pela
cidade.
Essa
atomização
de
militância,
por
sua
vez,
sofreu
primeiras
transformações
pelo
encurtamento
de
distâncias
promovido
pelo
advento
das
redes
sociais.
As
etapas
preparatórias
da
greve,
no
segundo
semestre
de
2013,
incluíram
a
criação
de
grupos
de
Orkut
e
páginas
de
Facebook
para
agregar
o
máximo
de
interessados
a
se
mobilizarem.
Tem
sua
primeira
iniciativa
preparatória
na
virada
de
ano
de
2013-2014,
como
mobilização
por
protesto
durante
o
serviço
de
limpeza
das
praias
em
1
o
de
janeiro,
onde
os
garis
trabalhariam
usando
narizes
de
palhaço
e
apito.
Já
ali
se
ameaçavam
paralisação
no
carnaval
do
ano
seguinte.
19
VIANNA,
Célio.
Círculo
Laranja:
Entrevista:
[mar
2014].
Entrevistadora:
Fernanda
Nogueira.
Local:
Rio
de
Janeiro.
2014.
Entrevista
concedida
para
o
Programa
ALERJ
Debate.
Vídeo
na
íntegra
disponível
em:
https://www.youtube.com/watch?v=cvPz1DcOnX8
.
Acesso
em
13
de
dezembro
de
2019.
17
Figura
2
-
Panfleto
de
ato
em
01/01/2014
(Facebook
gari
Caio)
E
eles
seguiram
mobilizados,
pressionando
a
direção
sindical
para
que
ela
encampasse
a
defesa
firme
dos
interesses
dos
trabalhadores
na
campanha
salarial
que
se
aproximava.
Só
o
que
não
pode
acontecer
é
o
que
está
acontecendo
hoje.
O
espírito
que
a
gente
tem
hoje
de
lutar,
vocês
tiveram
há
20
anos
atrás.
E
a
gente
só
está
pedindo
que
vocês
tenham
esse
espírito
de
volta.
Não
pensem
somente
no
bolso,
não
pensem
somente
em
favorecimento
de
gerente,
nem
de
porra
nenhuma,
nem
de
prefeito.
A
gente
só
está
cobrando
de
vocês
é
espírito
de
luta.
Então,
se
vocês
acham
que
não
têm
mais
espírito
de
luta,
então
abram
espaço
20
.
Eis
que
na
semana
que
antecedia
ao
carnaval,
em
25/02,
500
trabalhadores
se
reuniram
em
protesto
na
Central
do
Brasil
para
rechaçar
a
proposta
de
acordo
coletivo
de
trabalho
(ACT)
da
COMLURB:
reajuste
do
salário
em
5,65%
(inflação
IPCA-E
12
20
Fala
de
um
funcionário
da
COMLURB
não
identificado,
registrada
em
vídeo,
durante
visita
coletiva
de
trabalhadores
à
sede
do
sindicato
em
21/01/2014.
Disponível
em
https://youtu.be/jqdqZzEazOs
.
Acesso
em
17
de
dezembro
de
2019.
18
meses);
auxílio
alimentação
diário
de
R$12,00
para
R$16,00,
elevação
do
piso
salarial
de
R$803,00
para
R$874,79
(O
Dia,
2014).
E
a
greve
se
concretiza
quando
os
trabalhadores
são
surpreendidos
com
uma
notícia
do
Jornal
Meia-Hora,
em
28/02,
de
que
a
direção
sindical
teria
firmado
o
ACT
com
a
COMLURB.
A
partir
dali,
em
1
o
de
março,
numa
assembleia
na
frente
da
sede
do
sindicato
e
com
ausência
de
sua
diretoria,
os
trabalhadores
elegem
uma
comissão
de
base
e
iniciam
o
movimento
paredista.
Sem
apoios
e
sem
interlocutores
para
negociação,
os
trabalhadores
apostaram
na
ocupação
permanente
do
espaço
público
para
se
fazerem
vistos.
Coletavam
recursos
junto
ao
comércio
local
e
à
população
para
quem
prestavam
serviços
nos
tempos
de
sol
e
de
chuva.
Pintaram
seus
primeiros
cartazes
e
faixas
eles
mesmos,
com
o
que
tinham
à
mão.
Em
pouco
tempo,
conseguiram
apoios
materiais
e
militantes
de
alguns
sindicatos
e
de
movimentos
sociais
atuantes
em
2013
–
remanescentes
do
Fórum
de
Lutas
e
ativistas
da
FIP.
Para
demonstrar
seu
movimento,
para
procurar
interlocutores
para
negociação
e
para
se
reunirem
com
a
COMLURB
(que
lhes
recebiam,
mas
nada
apresentavam),
os
trabalhadores
atravessavam
várias
partes
da
cidade
em
passeatas.
No
fim
dos
dias,
se
reuniam
em
assembleia.
Então
nós
íamos
até
a
prefeitura,
da
Central
até
a
prefeitura,
marchando,
cantando
palavras
de
ordem,
coisas
desse
tipo...
fazíamos
um
atozinho
lá
na
porta
da
prefeitura,
aí
tirávamos
ali
mesmo
uma
comissão
para
tomar
a
decisão:
"que
a
gente
ia
fazer
no
dia
seguinte?"
“Amanhã
nós
vamos
vir
aqui
para
Central
ou
vamos
lá
para
a
porta
da
prefeitura?”
E
assim
era
o
nosso...
diariamente...
os
chamados
oito
dias
de
greve
que
nós
tivemos.
Aí
nós
pegávamos...:
“hoje
nós
vamos
até
a
prefeitura,
até
a
Cinelândia
caminhando...”
Para
que?
Para
chamar
atenção
da
população,
haja
vista
que
a
cidade
estava
cheia
de
turistas
em
ritmo
de
festa,
aquela
coisa...
21
E
enquanto
isso
uma
sacrossanta
aliança
se
formava
para
tentar
deter
os
garis.
A
COMLURB
e
o
prefeito
diretamente
ameaçavam
os
trabalhadores,
acabando
por
demitir
300
deles,
para
posteriormente
recuar
dessa
ação
22
.
O
poder
judiciário
22
Apesar
da
revogação
das
demissões
ainda
no
curso
da
greve
de
2014,
a
empresa
concretizou
demissões
em
2015
(após
outra
greve),
fazendo
um
verdadeiro
acerto
de
contas
com
as
principais
lideranças
de
2014/2015.
21
Entrevista
com
o
gari
Carlos,
realizada
pelo
autor
em
16
de
abril
de
2015.
19
decretava
a
greve
ilegal
e
multava
o
sindicato
(em
função
da
condição
jurídica
de
representação
daquela
base
de
trabalhadores).
A
prefeitura
mobilizava
a
polícia
e
a
guarda
municipal
para
intimidar
os
protestos
e
para
escoltar
os
“fura-greve”.
A
grande
imprensa
repercutia
a
greve,
mostrando
o
lixo
que
se
acumulava
entre
os
blocos
de
carnaval;
o
Grupo
Globo
em
particular,
através
da
sua
rede
de
TV
e
dos
seus
jornais
impressos
iam
mais
além,
ecoando
um
discurso
criminalizador
das
lideranças
do
movimento,
dos
sindicatos
e
movimentos
que
apoiavam
a
greve;
a
direção
sindical,
por
sua
vez,
tornava
pública
também
sua
oposição
à
greve.
E
até
mesmo
um
defensor
público
se
mobilizou
para
tentar
convencer
os
garis
a
voltarem
ao
trabalho
sem
qualquer
ganho.
Após,
portanto,
oito
dias
e
particularmente
após
uma
grande
chuva
que
tomou
a
cidade
no
dia
07
de
março
(entupindo
bueiros,
que
normalmente
seriam
limpos
pelos
garis),
um
impasse
se
instala
uma
vez
que
o
carnaval
já
tinha
acabado,
a
greve
seguia
a
perder
de
vista
e
a
COMLURB
não
apresentava
qualquer
proposta
de
acordo.
Nesse
momento,
apesar
de
manter
postura
hostil
contra
os
grevistas,
a
Globo
muda
seu
enfoque
e
cobra
o
prefeito
da
cidade
Eduardo
Paes
ao
vivo
na
TV
quanto
à
sua
responsabilidade
naquele
impasse.
Enfim,
então,
na
tarde
de
08
de
março,
a
COMLURB
apresenta
uma
proposta
de
reajuste
salarial
pela
inflação
do
período,
pela
elevação
do
piso
salarial
em
37%,
pelo
reajuste
do
vale
refeição
para
de
R$12,00
para
R$20,00
e
um
compromisso
por
escrito
de
não
retaliar
os
grevistas
daquele
ano.
Os
sentidos
da
greve
dos
garis
de
2014
e
o
seu
repertório
Como
pôde
ser
verificado,
o
desgaste
público
do
prefeito
da
cidade
na
TV,
jogou
peso
importante
para
o
desfecho
da
greve
dos
garis
de
2014,
demonstrando
a
força
do
poder
midiático
na
cena
política.
Porém,
isso
não
foi
outra
coisa
senão
consequência
dos
oito
intensos
dias
da
greve.
Ao
longo
desses
dias
uma
verdadeira
disputa
sobre
a
opinião
pública
se
abria
na
cidade.
Por
um
lado,
ocorriam
de
modo
permanente
ataques
direcionados
aos
trabalhadores
através
dos
grandes
meios
de
imprensa,
sobretudo
da
Globo.
Já
por
outro,
havia
os
trabalhadores
que
só
possuíam
sua
força
mobilizatória
para
obter
a
visibilidade
e
popularidade
necessária
para
ganhar
a
opinião
pública.
20
Cabe
ressaltar
que
ao
decidir
fazerem
a
greve
no
carnaval,
os
trabalhadores
geraram
a
melhor
das
condições
para
alcançar
visibilidade,
dada
a
imprescindibilidade
da
limpeza
urbana
para
aquela
data.
Escolha
pensada,
foi
feita
num
momento
em
que
a
cidade
vivia
um
estado
meio
que
permanente
de
ebulição
social,
desde
junho,
tal
como
demonstramos
ao
longo
do
texto.
Entretanto,
é
preciso
também
destacar
que
as
táticas
definidas
pelos
trabalhadores
foram
responsáveis
para
que
a
greve
fosse
mais
que
uma
paralisação
do
trabalho,
sendo
um
elemento
a
mais
na
efervescência
do
carnaval
carioca.
Os
aspectos
mais
marcantes
de
suas
táticas
residiam
na
ocupação
quase
que
permanente
do
espaço
público,
mediante
marchas,
protestos
e
assembleias
nas
ruas
e
os
métodos
horizontalistas
para
deliberação
de
suas
atividades.
Percebendo,
portanto,
performances
dos
protestos
de
junho
e
performances
relativas
à
prática
grevista,
identificamos
o
repertório
aplicado
por
esses
trabalhadores
em
março
de
2014:
Repertório
da
greve
dos
garis
de
2014
:
interrupção
do
trabalho,
piquetes
nas
portas
dos
locais
de
trabalho
com
ou
sem
carro
de
som;
atividades
de
convencimento
para
adesão
à
greve
em
ambientes
internos
do
trabalho;
panfletagens
à
população
em
espaços
públicos;
protestos
de
rua
diários
em
frente
a
locais
de
trabalho
e
a
prédios
públicos;
resistência
à
repressão
policial
(parcial,
recebendo
investidas
e
não
desmobilizando
o
protesto);
reuniões
e
assembleias
deliberativas
em
espaços
públicos;
uso
da
bandeira
nacional
por
alguns
grevistas;
estado
permanente
de
mobilização,
com
vários
passando
as
noites
nas
ruas;
pintura
de
faixas
e
cartazes
nas
ruas
e
praças;
propensão
ao
diálogo
e
negociação
com
autoridades
políticas
e
policiais
durante
protestos
e
para
apresentação
de
pleitos.
Comparando
este
repertório
com
os
demais
identificados
ao
longo
deste
artigo,
percebe-se
a
coincidência
de
sentido
de
diversas
performances.
Junho
de
2013
incidiu
sobre
o
movimento
sindical
dos
garis,
abrindo
novos
referenciais
quanto
às
formas
de
desenvolver
sua
luta
reivindicativa.
Tais
práticas
somadas
aos
resultados
da
greve
–
sua
capacidade
de
se
auto-organizar
e
o
ganho
salarial
–
fixaram-se
com
um
marco
histórico
para
os
trabalhadores,
que
nos
anos
seguintes
tentaram
repetir
aqueles
feitos
de
2014.
21
Segundo
os
trabalhadores
entrevistados,
todos
eles/elas
componentes
da
liderança
do
movimento
de
oposição
que
se
constituiu
a
partir
de
2014,
cabem
demarcações
importantes.
Sobre
o
que
se
passou
entre
2013
e
2014
(e
também
nos
anos
seguintes)
é
importante
dizer
que:
1)
Uma
parcela
dos
garis
compareceu
aos
protestos
de
junho
de
2013
com
o
intuito
de
estabelecer
redes
de
solidariedade
que
pudessem
lhes
apoiar
em
suas
lutas
e
para
tentar
destronar
pela
via
eleitoral
a
direção
do
Sindicato
do
Asseio
do
Rio
(SIEMACO-Rio);
já
outro
contingente
compareceu
àqueles
protestos,
pela
justeza
das
causas
dos
manifestantes,
bem
como
pelo
crescimento
das
manifestações
–
alguns
destes
relataram
que
o
engajamento
ali
serviu
como
sua
iniciação
na
prática
política,
lhes
impulsionando
no
ativismo
em
seu
movimento
sindical.
2)
Os
garis
que
estiveram
nos
protestos
de
junho,
estiveram
entre
aqueles
que
lideraram
a
greve
de
2014,
convocando
protestos,
conformando
a
comissão
de
base
e
participando
das
negociações;
nos
termos
teóricos
estabelecidos
por
Tilly
(2005)
quanto
às
modalidades
de
transferências
de
performances,
tais
garis
foram
os
mediadores
dos
processos
de
transferência:
compareceram
nas
manifestações,
ali
apreenderam
táticas
de
luta
e
daí
as
aplicaram,
adaptando-as
na
sua
greve.
3)
Além
de
se
estabelecer
como
um
marco
de
referências
para
suas
mobilizações
futuras,
a
greve
de
2014
cumpriu
o
papel
de
unificar
diversos
ativistas
sindicais
que
atuavam
antes
de
forma
dispersa
nos
enfrentamentos
cotidianos
em
suas
gerências
locais.
Estes,
nos
anos
que
se
seguiram,
chegaram
a
disputar
eleições
sindicais,
tentando
destronar
um
grupo
antigo
que
ocupava
a
direção
sindical.
Primeiramente
unidos,
posteriormente
complexificaram
sua
organização,
separando-se
em
grupos
de
oposição
com
visões
diferenciadas
entre
si.
Além
disso,
foram
parte
ativa
em
outras
greves
ocorridas
nos
anos
seguintes,
a
contar:
2015,
2019
e
2022.
4)
O
uso
das
redes
sociais
foi
fartamente
utilizado
pelas
lideranças
para
contraporem-se
à
cobertura
e
aos
ataques
midiáticos.
Para
tal,
entretanto,
precisaram
lidar
com
limitações
econômicas
e
geracionais,
pois
poucos
garis
já
tinham
smartphones
à
época
e
muitos
deles
não
dominavam
o
uso
da
internet
e
precisaram
ser
assessorados
didaticamente
por
colegas,
utilizando
muitas
vezes
computadores
familiares
ou
de
lan
houses
.
22
Considerações
finais
Como
brevemente
já
mencionamos,
se
retomarmos
a
sistematização
que
fizemos
ao
longo
do
presente
artigo,
podemos
identificar
na
greve
dos
garis
performances
de
todos
os
três
repertórios
de
protesto
de
junho
(
neossocialista,
autonomista,
patriótico
)
e
dos
dois
repertórios
grevista
(
tradicional
e
de
rua
)
elencados.
O
processo
de
transferência
de
performances
se
deu
de
modo
escalonado
e
através
de
determinados
mediadores.
Dizemos
que
foi
em
escala,
pois
já
percebemos
que
primeiramente
os
três
repertórios
de
protesto
transbordaram
o
mês
de
junho
e
incidiram
sobre
as
greves
ocorridas
a
partir
do
segundo
semestre
de
2013,
produzindo
práticas
diferenciadas,
nisso
que
denominamos
de
repertório
grevista
de
rua
.
Por
outro
lado,
quanto
aos
mediadores,
estes
foram
aqueles
garis
que
participaram
dos
protestos
de
junho
e
que
dotados
da
experiência
lá
obtida,
aplicaram
em
sua
greve
de
março
de
2014
performances
tidas
como
o
mais
natural
a
ser
feito,
caso
quisessem
alcançar
a
vitória.
A
experiência
direta
vivida
nos
protestos
e
a
grande
difusão
que
as
performances
de
junho
obtiveram
por
meios
de
comunicação
diversos
(imprensa
e
redes
sociais)
fizeram
os
garis
aplicarem
determinadas
performances
já
tomando-as
como
suas.
E
para
além
disso,
passamos,
por
fim,
a
verificar
os
pontos
de
contato
entre
os
repertórios,
ou
seja,
através
de
quais
performances,
os
momentos
de
março
e
de
junho
se
cruzam.
Primeiramente,
cabe
ressaltar
que
por
ser
uma
atividade
sindical,
a
incidência
de
performances
do
repertório
tradicional
de
greve
se
deu
pelo
objetivo
de
conquista
das
demandas
dos
trabalhadores,
mediante
negociações
impactadas
pelas
táticas
de
mobilização
e
protesto
do
movimento
paredista.
Mas
já
passando
pelo
que
se
viu
de
inovação
na
prática
dos
garis
nas
últimas
décadas,
cabe
destacar
a
percepção
de
uma
alta
incidência
de
performances
de
greve
de
rua
,
com
variações
de
intensidade
nas
mesmas.
Por
um
lado,
há
certa
propensão
ao
diálogo
e
negociação
(performances
tradicionais
que
coincidem
por
sua
vez
com
os
repertórios
socialista
e
patriótico
,
em
alguma
medida),
já
que
a
pauta
reivindicativa
é
bem
objetiva
e
sobre
ela
busca-se
negociar
ganhos.
Por
outro,
é
uma
greve
de
intensidade
diária
maior
mesmo
que
as
greves
de
rua
verificadas
em
2013,
haja
vista
uma
outra
dimensão
da
ocupação
do
23
espaço
público,
mediante
manifestações
de
protesto,
bem
como
assembleias
e
reuniões
nas
ruas.
Guardando
semelhança
com
performances
autonomistas
quanto
à
ocupação
do
espaço
público,
garis
literalmente
dormiam
nas
ruas
para
não
se
distanciarem
dos
seus
espaços
de
luta,
de
modo
a
garantir
presença
integral
nos
piquetes
e
manifestações,
também
diários.
O
processo
de
transferência
de
performances
dos
movimentos
sociais
de
junho
para
um
contingente
do
movimento
sindical
suscita,
por
sua
vez,
o
debate
conceitual
entre
essas
duas
categorias
teóricas.
Enxergamos,
de
nossa
parte,
a
possiblidade
de
permeabilidade
de
performances
entre
essas
duas
categorias,
a
partir
dos
aportes
de
Gagnon
(1991),
que
analisa
raízes
em
comum
entre
as
mesmas.
Isso
pois
o
movimento
sindical
nada
mais
seria
que
um
movimento
social
que
passou
por
um
processo
de
institucionalização.
Este
processo
se
dá
desde
as
formas
mais
elementares
e
antigas
de
organização
dos
trabalhadores
movidas
pelas
suas
lutas
reivindicativas,
que
vão
se
complexificando,
sendo
reconhecidas
e
legitimadas
até
alcançar
aquilo
que
Boito
Jr.
(1991)
denominou
enquanto
Sindicato
de
Estado
,
ou
seja,
uma
forma
de
organização
“juridificada”
e
que
acabaria
por
compor
aquilo
que
Althusser
(1974)
denominou
como
Aparelhos
Ideológicos
de
Estado
.
Mas
sem
perder
o
referencial
quanto
ao
que
aponta
Gagnon
(1991),
os
processos
de
institucionalização
dos
movimentos
sociais
de
trabalhadores
não
se
estabeleceriam
numa
via
de
mão
única,
havendo
aí
o
que
ela
chama
de
“dialética
instituída”.
Nesse
sentido,
entendemos
que
a
influência
das
Jornadas
de
Junho
de
2013
se
constituiu
como
a
circunstância
que
temporariamente
desinstitucionalizou
o
movimento
sindical
dos
trabalhadores
do
asseio,
naquele
mês
de
março
de
2014,
fazendo
o
movimento
transpor
os
limites
típicos
dos
ambientes
de
trabalho,
impulsionando
a
greve
a
um
intenso
patamar,
através
de
práticas
com
características
de
movimento
social.
Ademais,
cabe
ressaltar
alguns
impactos
dessa
greve.
Internamente
ela
coesionou
ativistas
antes
dispersos,
e
incidiu
sobre
a
correlação
de
forças
entre
os
campos
oposicionista
e
situacionista
no
sindicato
do
asseio
–
apesar
de
não
chegar
ao
ponto
de
destronar
a
direção
sindical
reinante
há
décadas
ali.
Já
do
ponto
de
vista
externo
à
categoria,
cabe
ressaltar
que
aquela
greve
evidenciou
os
laços
profundos
24
desses
trabalhadores
com
a
cidade,
dado
o
apoio
alcançado
junto
à
população,
assim
como
pelo
suporte
obtido
junto
a
diversos
sindicatos
e
movimentos
sociais.
Por
fim,
podemos
atestar,
mediante
nosso
estudo
de
caso,
o
poder
irradiador
das
Jornadas
de
Junho
sobre
os
movimentos
sociais
no
país
e,
particularmente,
no
Rio
de
Janeiro.
Podemos
verificar
que
o
Rio
de
Junho
promoveu
a
inclusão
ou
revigoração
de
um
conjunto
de
performances
sobre
os
costumeiros
repertórios
de
protestos,
aplicados
pelos
movimentos
sociais
em
geral
e
pelo
movimento
sindical
em
particular.
E
já
quanto
ao
destino
do
movimento
de
2014,
este
permanecerá
assim,
marcado
na
memória
oral
e
escrita
dos
garis
como
a
greve
que
fez
o
mundo
ver
o
carnaval
carioca
em
outras
cores:
as
cores
do
Rio
Laranja
,
do
Rio
de
Março
,
que
conquistando
corações,
passou
e
arrastou
multidões
para
a
luta
sindical
independente.
Referências
ALMEIDA,
B.
C.
de.
Quando
é
na
favela
e
quando
é
no
asfalto
:
controle
social
repressivo
e
mobilizações
entre
lugares
de
luta.
2019.
414f.
Tese
(Doutorado
em
Ciências
Sociais)
–
PUC,
Rio
de
Janeiro.
ALMEIDA,
H.
P.
de;
SOUZA,
K.
R.
de;
PINA,
J.
A.
Lutas
operárias
da
Construção
Civil
no
COMPERJ:
questões
para
a
ação
sindical
e
a
saúde
dos
trabalhadores.
Ciência
&
Saúde
Coletiva
,
Rio
de
Janeiro,
v.
26,
n.
12,
dez.
2021.
ALONSO,
A.
Treze
:
A
política
de
rua
de
Lula
e
Dilma.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
2023.
ALONSO,
A;
MISCHE,
A.
June
demonstrations
in
Brazil:
repertoires
of
contention
and
government’s
response
to
protest.
ESA
Research
Network
on
Social
Movements
–
Midterm
Conference
19-20
February
2015.
Madrid,
2015.
Disponível
em:
https://www.academia.edu/11309520/June_demonstrations_in_Brazil_repertoires_of_contention
_and_government_s_response_to_protest.
Acesso
em
21
de
agosto
de
2023.
ALTHUSSER,
L.
Ideologia
e
Aparelhos
Ideológicos
de
Estado
.
Lisboa:
Editorial
Presença,
1974.
ALVES,
G.
O
novo
(e
precário)
mundo
do
trabalho
:
reestruturação
produtiva
e
crise
do
sindicalismo.
São
Paulo:
Boitempo,
2000.
ANDRES,
R.
A
razão
dos
centavos
:
Crise
urbana,
vida
democrática
e
as
revoltas
de
2013.
Rio
de
Janeiro:
Zahar,
2023.
BOITO
JUNIOR,
A.
O
Sindicalismo
de
Estado
no
Brasil
:
uma
análise
crítica
da
estrutura
sindical.
Campinas:
Ed.
da
Unicamp;
São
Paulo:
HUCITEC,
1991.
25
BRINGEL,
B.
Miopias,
Sentidos
e
Tendências
do
levante
brasileiro
de
2013.
Inteligência
,
Rio
de
Janeiro/São
Paulo,
ano
XVI,
nº.
62,
jul/ago/set,
2013.
BRINGEL,
B.
Movimientos
sociales
y
la
nueva
geopolítica
de
la
indignación
global.
In
BRINGEL,
Breno;
PLEYERS,
Geoffrey
(org).
Protesta
e
indignación
global
:
Los
movimientos
sociales
en
el
nuevo
orden
mundial.
Buenos
Aires
/
Rio
de
Janeiro:
CLACSO/FAPERJ,
2017.
BRINGEL,
B.
Campos
de
ação
e
confronto
político
no
Brasil:
do
ciclo
democratizante
ao
bolsonarismo
e
vice-versa
(via
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