familiares e o Estado precisam acompanhar o jovem, observá-lo com sensibilidade e
paciência, ministrando-lhe, todavia, de forma determinada e didaticamente rica, a
indispensável cultura geral, ampla e atualizada, profissionalmente indiferenciada.
A violação do ritmo vital do adolescente na escolha do seu percurso escolar e
da profissão causará frustração, sofrimento e até desvios de personalidade. O jovem
é o amanhecer da Nação, promissor e renovador, mas também, infelizmente, poderá
ser um cidadão frustrado quando não uma trágica bomba relógio5.
O estudo é trabalho.
A linguagem de senso comum reza: ‘você estuda ou trabalha’? Ou seja: para
o senso comum, ‘estudar’ não é ‘trabalhar’: é alternativa ao trabalho ou, no máximo,
‘preparação' ao trabalho.
Entretanto, estudar é uma forma de trabalho. Assim como pedreiro,
dona-de-casa, carpinteiro, eletricista, vendedor, jornalista, administrador,
caminhoneiro, pesquisador, radialista, professor etc., são diferentes formas de
trabalho. Mais ainda: para o adolescente de 14 a 17 anos, o estudo é a principal
forma de trabalho. Estudar é trabalho disciplinado, frequentemente, duro, difícil,
porque envolve ambiente adequado, vontade, cérebro, músculos e nervos. Resumir
um pequeno texto custa mais de aprendizagem, atenção e esforço físico-mental do
5Comentário: No dia 5 de novembro de 2023, no Espaço Aberto do jornal Estado de S.Paulo, no
artigo ‘Por que enguiça a formação profissional?’, o educador/escritor Cláudio de Moura Castro
compara Países de sucesso (Suíça, Alemanha, Japão) com o Brasil. Ora, penso eu, quando o
contexto geral é tão díspar, como comparar? “A [nossa] culpa - continua ele - está na cultura que
desvaloriza o trabalho. (...) Precisa mudar os valores da sociedade” – conclui. Sim, correto, mas muito
impreciso. Da sociedade toda ou de algum setor dela? Lembro de um comentário de um empresário
italiano: “Não entendo o brasileiro: gasta horrores para adquirir a melhor máquina do mundo, mas,
para pagar o trabalhador responsável pelo funcionamento da máquina, considera suficiente um
salário-mínimo ou pouco mais. Entretanto, a máquina sem o maquinista não funciona.” Claudio de
Moura Castro citou o repetido ‘preconceito brasileiro’: - “somos um País de bacharéis!”. Ora, Cláudio
é doutor, pós-doutor e estranha e condena que a maioria dos brasileiros queira faculdade. Com efeito,
prezado Cláudio, a maioria quer faculdade porque sabe que assim ganhará mais e, ainda, porque
intui que o estudo faz bem, dilata o espírito. Intuem que a escola não ensina só um ofício, mas
também educa a ser mais: ninguém lê a Ilíada para aprender a construir cavalos de Troia, mas para
saborear poeticamente a descrição da revolta de Aquiles contra Agamemnon. Sim, o difuso desejo
popular de bacharelado é também uma oculta forma de luta de classe: “Por que - dizem os operários
mais conscientes - não ensinaram também a nós as poesias e a literatura dos clássicos?” De sobra, o
estudo ajudará a melhorar as profissões e a própria tecnologia, a inventar, fortalecendo e elevando a
qualidade do ‘trabalho’, conforme se lê no Manifesto “A utilidade do inútil” de Nuccio Ordine (Ed.
Zahar).