V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
ENTRE
A
AUTONOMIA
E
O
CONTROLE:
PERCEPÇÕES
DE
JOVENS
ENTREGADORES
CICLISTAS
SOBRE
O
TRABALHO
EM
PLATAFORMAS
DIGITAIS
1
Caíque
Diogo
de
Oliveira
2
Maria
Carla
Corrochano
3
Resumo
Partindo
da
importância
que
as
subjetividades
assumem
na
experiência
laboral,
este
artigo
analisa
as
experiências
e
percepções
de
jovens
entregadores
em
plataformas
digitais
de
delivery
que
atuam
na
modalidade
de
ciclista,
na
cidade
de
São
Paulo.
A
pesquisa,
de
caráter
qualitativo,
entrevistou
12
entregadores
entre
os
anos
de
2020
e
2023.
Os
dados
evidenciam
que
há
uma
percepção
positivada
na
possibilidade
de
organizar
o
próprio
horário
de
trabalho
e
na
ausência
de
uma
liderança
hierárquica
formal,
ao
mesmo
tempo,
há
um
reconhecimento
de
que
essa
suposta
autonomia
também
produz
precariedade.
Palavra-chave
:
Trabalho;
Plataformas
digitais;
Juventude;
Educação.
ENTRE
AUTONOMÍA
Y
CONTROL:
PERCEPCIONES
DE
LOS
CONDUCTORES
JÓVENES
DE
REPARTO
DE
BICICLETA
SOBRE
EL
TRABAJO
EN
PLATAFORMAS
DIGITALES
Resumen
Partiendo
de
la
importancia
que
asume
la
subjetividad
en
la
experiencia
laboral,
este
artículo
analiza
las
experiencias
y
percepciones
de
jóvenes
repartidores
en
plataformas
digitales
de
delivery
que
trabajan
como
ciclistas
en
la
ciudad
de
São
Paulo.
La
investigación,
de
carácter
cualitativo,
entrevistó
a
12
repartidores
entre
los
años
2020
y
2023.
Los
datos
evidencian
una
percepción
positiva
respecto
a
la
posibilidad
de
organizar
su
propio
horario
de
trabajo
y
a
la
ausencia
de
una
liderazgo
jerárquico
formal;
al
mismo
tiempo,
se
reconoce
que
esta
supuesta
autonomía
también
genera
precariedad.
Palabras
clave
:
Trabajo;
Plataformas
digitales;
Juventud;
Educación.
BETWEEN
AUTONOMY
AND
CONTROL:
YOUNG
CYCLE
DELIVERY
DRIVERS’
PERCEPTIONS
ABOUT
WORKING
ON
DIGITAL
PLATFORMS
Abstract
Building
on
the
importance
of
subjectivities
in
work
experience,
this
article
examines
the
experiences
and
perceptions
of
young
delivery
workers
on
digital
platforms
operating
as
cyclists
in
São
Paulo.
The
qualitative
research
involved
interviews
with
12
delivery
workers
conducted
between
2020
and
2023.
The
data
reveal
a
positive
perception
regarding
the
ability
to
set
their
own
work
schedules
and
the
absence
of
formal
hierarchical
leadership.
At
the
same
time,
there
is
an
acknowledgment
that
this
perceived
autonomy
also
leads
to
precarious
working
conditions.
Keywords
:
Work;
Digital
platforms;
Youth;
Education.
3
Doutora
em
Educação
pela
Universidade
de
São
Paulo.
Professora
associada
do
Departamento
de
Ciências
Humanas
e
Educação
e
dos
Programas
de
Pós-Graduação
em
Educação
e
em
Estudos
da
Condição
Humana
da
Universidade
Federal
de
São
Carlos/Campus
Sorocaba.
E-mail:
mcarla@ufscar.br
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7714353975585252
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8030-6461
.
2
Doutor
em
Educação
pela
Universidade
Federal
de
São
Carlos/Campus
Sorocaba.
Professor
assistente
na
Faculdade
de
Educação
do
Sesi-SP.
E-mail:
caique.diogo@outlook.com.br
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7143929390573792
.
ORCID:
http://orcid.org/0000-0002-6610-1299
.
1
Artigo
recebido
em
11/05/2024.
Primeira
Avaliação
em
08/08/2024.
Segunda
Avaliação
em
20/08/2024.
Aprovado
em
09/10/2024.
Publicado
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.62932
1
Introdução
A
mobilização
do
governo
federal
em
torno
da
regulamentação
do
trabalho
nas
plataformas
digitais
tem
gerado
amplos
debates
sobre
os
modos
de
conceber
e
intervir
nessa
forma
de
trabalho.
A
criação
da
figura
do
“trabalhador
autônomo
por
plataforma”
(Brasil,
2024)
possibilita
discutir
quanto
à
supressão
de
direitos
trabalhistas
historicamente
conquistados,
aos
interesses
dos
trabalhadores,
bem
como
os
caminhos
possíveis
para
a
intervenção
do
Estado
em
relação
a
essa
categoria.
De
fato,
a
emergência
do
trabalho
em
plataformas
digitais
pela
chamada
uberização
traz
consigo
um
cenário
que
contribui
para
produzir
novas
indagações
sobre
o
fazer-se
da
classe
trabalhadora
na
atualidade,
tornando
relevante
a
reflexão
a
partir
das
percepções
desses
sujeitos.
Dentre
as
questões
mais
instigantes
do
debate
acerca
da
uberização
está
aquela
que
investiga
as
contradições
entre
autonomia
e
controle
laboral
diante
da
necessidade
de
gerir
os
próprios
recursos
para
trabalhar
nas
plataformas
(Abílio,
2021;
Altermann,
2021;
Van
Dorrn,
2021;
Purcell
e
Brook,
2022).
No
intuito
de
contribuir
para
a
reflexão
sobre
a
relação
entre
autonomia
e
controle
a
partir
dos
próprios
sujeitos,
este
artigo
investiga
percepções
sobre
o
trabalho
de
jovens
ciclo-entregadores
de
plataformas
digitais
de
delivery
.
A
produção
dos
dados
deriva
de
entrevistas
realizadas
entre
2020
e
2023
com
12
jovens,
sendo
9
entregadores
e
3
entregadoras
ciclistas
que
trabalham
na
cidade
de
São
Paulo.
Além
de
classe,
o
olhar
para
outras
desigualdades
é
relevante
para
compreender
o
capitalismo
contemporâneo
(Fraser,
Jaeggi,
2020),
assim,
inicialmente
é
preciso
destacar
que
esses
trabalhadores
possuem
idade,
gênero
e
raça.
Tanto
na
amostra
coletada
para
esse
estudo,
quanto
nos
surveys
que
caracterizam
o
perfil
dos
entregadores
(Aliança
Bike,
2019;
Abílio,
2020;
Filgueiras,
Lima,
2020;
CUT,
2021),
nota-se
que
são
majoritariamente
homens,
jovens
e
negros
que
se
deslocam
da
periferia
para
o
centro
da
cidade.
Trazer
esse
aspecto
permite
dar
corpo
a
esses
sujeitos
e
refletir
sobre
a
incidência
desses
marcadores
sociais
sobre
as
experiências
laborais.
Ao
serem
interrogados
sobre
as
experiências
de
trabalho
nas
plataformas,
em
especial
sobre
o
que
mais
gostavam
nesse
tipo
de
trabalho,
foram
comuns,
entre
os
2
jovens
interlocutores
deste
estudo,
respostas
como:
“fazer
meu
próprio
horário”,
“ser
meu
próprio
chefe”
ou
“fazer
meus
próprios
ganhos”.
Ou
seja,
expressões
que
demonstravam
valorização
de
uma
certa
autonomia.
Ao
mesmo
tempo,
concordando
com
vasta
literatura
nacional
e
internacional,
verificou-se
que
essas
percepções
coabitam
com
mecanismos
de
controle
laboral
que
fazem
uso
de
ferramentas
algorítmicas
para
gestão
produtiva.
O
presente
artigo
compõe-se
de
três
partes,
para
além
desta
introdução
e
das
considerações
finais.
Em
primeiro
lugar,
realiza-se
uma
reflexão
exploratória
sobre
o
desenvolvimento
das
plataformas
digitais
no
capitalismo
do
século
XXI.
Em
seguida,
são
tecidas
considerações
sobre
o
desenvolvimento
da
pesquisa.
Na
terceira
parte,
são
analisadas
algumas
das
percepções
desses
trabalhadores
sobre
a
ocupação
nas
plataformas,
no
sentido
de
investigar
as
relações
entre
autonomia
e
controle
do
trabalho,
sustentando
o
argumento
de
que
as
experiências
desses
indivíduos
são
emblemáticas
da
condição
juvenil
frente
às
transformações
no
mundo
do
trabalho.
Capitalismo,
uberização
e
trabalho
Os
novos
arranjos
produtivos
possibilitados
pelas
tecnologias
da
informação,
desenvolvimento
da
inteligência
artificial
e
o
gerenciamento
algorítmico
combinado
a
um
cenário
mais
amplo
de
mobilidade,
financeirização
da
economia,
eliminação
ou
redefinição
dos
direitos
trabalhistas
têm
constituído
as
bases
dos
desafios
do
trabalho
no
século
XXI
(Zuboff,
2020;
Woodcook,
Graham,
2020).
Essas
transformações
no
capitalismo
da
contemporaneidade
também
parecem
modificar
os
modos
como
os
próprios
indivíduos
vivenciam
a
experiência
laboral.
Do
ponto
de
vista
interno
dos
processos
produtivos,
a
introdução
de
inovações
tecnológicas
e
organizacionais
no
processo
de
trabalho
é
uma
constante
no
capitalismo,
de
modo
que,
de
tempos
em
tempos,
os
trabalhadores
se
deparam
com
inovações
que
requerem
atualização
e
formação
para
se
integrarem
ao
processo.
Para
além
dos
espaços
da
produção,
cada
vez
mais
as
tecnologias
digitais
impactam
a
própria
busca
por
emprego
e
a
forma
como
os
indivíduos
encontram
meios
para
obter
renda
(Guimarães,
2009,
2017).
É
no
bojo
dessas
transformações
que
as
plataformas
aparecem
como
intermediárias
entre
a
oferta
comercial
dos
estabelecimentos
e
a
demanda
dos
3
consumidores
(Srnicek,
2017).
A
interpretação
dos
impactos
das
plataformas
digitais
no
âmbito
do
trabalho
produziu
a
categoria
“uberização”
(Abílio;
Amorim;
Grohmann,
2021).
Embora
o
termo
faça
referência
a
uma
das
plataformas
de
maior
destaque
no
setor
de
caronas,
o
termo
tem
alcance
e
impacto
nos
estudos
recentes
(Franco,
Ferraz,
2019;
Abílio,
2019,
2021;
Filgueiras,
Antunes,
2020).
De
fato,
uberização
aparece
como
uma
categoria
mais
adequada
para
descrever
o
vínculo
entre
os
sujeitos
desta
pesquisa
e
as
plataformas
em
que
atuam,
o
que
não
significa
ignorar
o
amplo
e
complexo
debate
em
torno
dos
conceitos
de
informalidade,
terceirização
e
marginalidade
para
abordar
a
questão.
Conforme
afirma
Silveira
(2021,
p.3)
“um
trabalho
uberizado
só
é
possível
numa
sociedade
em
que
os
controles
sobre
os
trabalhadores
transbordam
os
limites
das
paredes
da
fábrica”.
De
maneira
geral,
a
uberização
é
um
fenômeno
recente
no
qual
é
possível
encontrar
e
realizar
trabalhos
utilizando
o
próprio
smartphone.
Acessadas
pelo
toque
na
tela
do
próprio
telefone,
as
plataformas
digitais
têm
levado
milhões
de
pessoas
pelo
mundo
a
novas
experiências
laborais
(Rosemblat,
2018).
Por
mais
que
a
autonomia
seja
colocada
em
pauta
cotidianamente
para
definir
os
setores
uberizados,
o
controle
laboral
é
constituído
por
um
conjunto
de
tecnologias
de
gerenciamento
algorítmico
(Grohmann,
2020).
Logo,
o
controle
sobre
o
trabalhador
é
uma
das
questões
centrais
para
a
compreensão
da
uberização.
A
discussão
sobre
o
controle
nas
plataformas
digitais
direciona
a
reflexão
sobre
a
nova
arquitetura
do
trabalho
presente
no
capitalismo
contemporâneo.
Trabalhar
em
plataformas
digitais
ou
“fazer
aplicativo”
envolve
ocupar-se
com
uma
atividade
na
qual
as
empresas
oferecem
nada
mais
do
que
a
demanda
de
pedidos
e
a
remuneração,
ao
passo
que
os
próprios
indivíduos
precisam
prover
e
se
responsabilizar
pelas
ferramentas
de
trabalho
e
a
própria
segurança
(Antunes,
2020;
Abílio
et
al
.
2020;
Gonsales,
Moda,
Accorsi,
2020;
Braga,
Silva,
2022).
Para
se
consolidar
como
um
trabalho
que
promove
a
autonomia,
as
plataformas
estabelecem
um
modelo
funcional
que
não
possui
um
horário,
além
de
pagamento
por
produção
pré-definidos
–
tal
como
na
relação
assalariada.
O
tempo
todo
os
trabalhadores
são
colocados
diante
da
percepção
de
que
são
totalmente
responsáveis
pelo
próprio
sucesso
ou
fracasso
financeiro
(Abílio,
2021;
Altheman,
2021;
Cant,
2021).
Isto
posto,
uma
contradição
emerge
nessa
relação:
a
necessidade
das
plataformas
de
controlar
o
sistema
produtivo,
consequentemente
4
os
trabalhadores,
e
a
condição
relativamente
autônoma
experimentada
por
esses
indivíduos.
Tentando
pensar
essas
questões
com
motoristas
uberizados
na
Inglaterra,
Purcell
e
Brook
(2022)
argumentam
a
importância
de
compreender
as
percepções
positivadas
sobre
“ser
o
próprio
chefe”
como
expressões
contemporâneas
do
consentimento
–
no
sentido
gramsciano
–
no
capitalismo.
Para
o
autor,
essas
formas
contemporâneas
de
consentimento
envolvem
o
cultivo
de
uma
mentalidade
empresarial
para
cuidar
de
si
próprio
e
da
própria
inserção
no
mundo
do
trabalho.
A
aquisição
dessa
mentalidade
empresarial
é
verificada
e
criticada
por
diversas
obras
(Sennet,
2005;
Alves,
2011;
Dardot,
Laval,
2016).
A
“mentalidade
empresarial”
e
os
demais
pressupostos
neoliberais
que
terceirizam
ao
trabalhador
a
responsabilidade
pelo
processo
produtivo
tem
se
materializado
na
ascensão
de
novos
vínculos
empregatícios
no
Brasil,
sobretudo
as
formas
de
trabalho
que
emergiram
pós-reforma
trabalhista
via
Lei
nº
13.467
de
2017
(Brasil,
2017).
Ocorre
o
fomento
de
uma
lógica
de
atribuição
de
responsabilidade
para
o
próprio
indivíduo,
transferindo-lhes
os
diversos
ônus
presentes
nos
processos
produtivos.
Tais
medidas
implicam
uma
restrição
do
poder
dos
trabalhadores
planejarem
sua
vida
pessoal
e
de
sua
família,
aspecto
ainda
mais
forte
no
caso
de
ocupações
com
maior
incidência
da
precariedade
(Lima,
Oliveira,
2021).
Essa
condição
marcada
pela
precariedade
não
é
novidade
nas
relações
trabalhistas
brasileiras.
Cabe
destacar
que
o
contexto
latino-americano
revela
especificidades
que
dificultam
a
recepção
integral
da
acepção
de
um
“sujeito
neoliberal”
(Araújo,
Martucceli,
2012).
A
fraca
institucionalidade
da
proteção
social
faz
com
que
os
indivíduos
não
encontrem
segurança
e
apoio
nas
instituições
–
entre
elas
o
trabalho
-,
de
modo
que
os
suportes
devem
ser
construídos,
reforçados
e
recriados
individualmente
(Corrochano,
Tarábola,
2023).
Acrescenta-se
ainda
que
os
vínculos
de
apoio
são
perpassados
por
aspectos
que
envolvem
idade,
gênero
e
raça.
Portanto,
verifica-se
que
as
representações
desse
cenário
projetam
a
figura
de
um
novo
trabalhador,
distante
da
ideia
de
carreira
de
longo
prazo
em
um
emprego
assalariado
(Silva,
2002,
2018).
Emerge,
dessa
forma,
uma
nova
cultura
do
trabalho,
a
qual
traz
consigo
novas
subjetividades
(Sennet,
2005;
Dardot,
Laval,
2016;
Boltanski,
Chiapello,
2009).
Essa
relação
entre
labor,
sociedade
e
indivíduo
5
também
é
perpassada
pela
cultura
local,
sobretudo
aquelas
presentes
nas
sociedades
latino-americanas
(Araújo,
Martuccelli,
2012).
Um
olhar
para
as
experiências
de
jovens
entregadores
O
enfoque
analítico
sobre
a
produção
dos
dados
será
orientado
pela
noção
de
experiência
(Thompson,
1981,1987).
Tomar
a
experiência
como
premissa
analítica
permite
valorizar
o
(auto)fazer-se
dos
trabalhadores,
concebendo
o
cotidiano
não
apenas
como
um
processo
alienador,
mas
como
lócus
em
que
os
sujeitos
empenham
estratégias
individuais
e
formulam
percepções
sobre
o
próprio
trabalho.
Essa
perspectiva
que
explora
a
dimensão
subjetiva
dos
indivíduos
no
capitalismo
tem
sido
recorrente
entre
as
pesquisas.
De
um
lado,
tem
se
investigado
como
as
transformações
no
capitalismo
têm
culminado
em
uma
governamentalidade,
na
qual
os
indivíduos
percebem-se
como
“empreendedores
de
si”
e
utilizam
uma
racionalidade
econômica
pautada
em
pressupostos
de
liberdade,
ao
lado
de
um
senso
individualista
para
manter-se
no
mundo
do
trabalho
(Dardot,
Laval,
2016).
De
outro,
estudos
têm
assumido
uma
postura
compreensiva
para
enfatizar
como
a
capacidade
de
agência
dos
trabalhadores
e
trabalhadoras
também
é
relevante
para
entender
as
experiências
e
relações
dos
indivíduos
com
o
mundo
do
trabalho
(Dubet,
2014;
Alvarez,
Perelman,
2020).
A
compreensão
das
percepções
de
quem
trabalha
a
partir
de
suas
experiências
laborais
envolve
também
o
reconhecimento
de
que
as
pessoas
possuem
uma
corporeidade.
No
caso
dos
ciclistas
entregadores
de
plataformas
digitais,
trata-se
de
trabalhadores
que
são,
em
sua
maioria,
jovens,
homens,
negros
(Aliança
Bike,
2019;
Abílio
et
al
.
2020;
Filgueiras,
Lima,
2020;
CUT,
2021).
Esses
marcadores
sociais
de
idade,
gênero
e
raça
importam
na
medida
em
que
também
balizam
a
articulação
entre
percepções
individuais
e
estruturas
sociais.
No
entanto,
ao
longo
deste
artigo,
será
dada
maior
centralidade
à
categoria
juventude,
derivada
do
recorte
etário.
Os
12
jovens
interlocutores
da
pesquisa
atuaram
em
aplicativos
de
delivery
na
modalidade
para
ciclistas
na
cidade
de
São
Paulo.
O
intervalo
etário
dos
6
participantes
situa-se
entre
os
18
e
os
32
anos,
ou
seja,
a
maioria
dos
entrevistados
experimentam
o
momento
da
vida
definido
como
“jovens”
e
“jovens-adultos”.
Seguindo
o
perfil
identificado
por
pesquisas
quantitativas,
a
maior
parte
identificou-se
com
o
gênero
masculino
(9),
mas
também
alcançamos
jovens
mulheres
(3).
Do
ponto
de
vista
étnico-racial,
5
entrevistados
declararam-se
pardos,
2
pretos,
3
brancos,
1
amarela
e
1
indígena.
Em
síntese,
a
partir
de
uma
perspectiva
interseccional,
há
uma
presença
significativa
de
jovens
homens
negros,
sendo
6
de
12
entrevistados.
De
modo
geral,
apesar
dos
persistentes
desafios,
a
escolaridade
dos
jovens
acompanha
algumas
das
transformações
geracionais
ocorridas
na
educação
brasileira
derivadas
da
expansão
educacional
pós-constituição
de
1988.
Dos
12
entrevistados,
10
haviam
concluído
a
educação
básica
ao
fim
da
segunda
entrevista.
Trata-se
de
um
aspecto
relevante
considerando
os
avanços
da
educação
de
nível
médio
para
a
população
jovem
brasileira
(Sposito,
Souza,
Silva,
2018).
A
maior
parte
dos
interlocutores
declarou-se
solteiro
e
ainda
morava
com
os
pais.
Entre
os
12
jovens
entrevistados,
dois
jovens
rapazes
eram
pais,
porém
os
filhos
moravam
com
a
mãe
das
crianças,
enquanto
uma
das
jovens
interlocutora
morava
com
o
namorado,
mas
não
tinha
filhos.
Os
dados
sobre
parentalidade
identificados
pelo
estudo
corroboram
uma
tendência
geracional
de
adiamento
da
saída
da
casa
dos
pais
e
constituição
de
uma
nova
família.
Análises
apontam
que
essas
mudanças
têm
se
tornado
mais
frequentes
entre
as
novas
gerações
a
partir
das
possibilidades
abertas
pelas
transformações
sociais
e
culturais
na
contemporaneidade
(Stênico,
Adam,
2018).
Assim
como
diversas
pesquisas
realizadas
no
contexto
pandêmico,
esta
investigação
delineou
a
estratégia
de
inserção
no
campo
e
a
produção
de
dados
a
partir
de
meios
eletrônicos
(Abílio
et
al
.
2020;
Silvestre,
Neto,
Amaral,
2021;
Ferreira,
2021;
Althemann,
2021;
Liberato,
2022).
Os
meios
digitais
foram
relevantes
tanto
para
encontrar
os
trabalhadores
e
as
trabalhadoras,
quanto
para
estabelecer
as
interlocuções.
As
entrevistas
foram
realizadas
de
maneira
remota
por
meio
do
Google
Meet,
seguindo
as
orientações
do
Comitê
de
Ética
em
Pesquisa
(CEP)
e
do
Núcleo
Executivo
de
Vigilância
em
Saúde
(NEVS)
da
Universidade
Federal
de
São
Carlos,
a
qual
este
estudo
está
vinculado.
Todas
as
videochamadas
foram
antecedidas
por
contatos
via
redes
sociais.
Na
maior
parte
dos
casos,
foi
necessário
7
o
uso
de
aplicativos
de
troca
de
mensagem
instantânea,
como
o
WhatsApp,
para
a
verificação
da
disponibilidade
dos
e
das
jovens
e
da
capacidade
tecnológica
disponível
para
a
interlocução.
Cabe
acrescentar
que
a
entrevista
é
uma
ferramenta
tradicionalmente
utilizada
pelas
ciências
humanas,
sobretudo
quando
se
busca
investigar
as
percepções
e
atitudes
de
indivíduos
diante
de
um
determinado
fenômeno
(Vincent,
2011).
Segundo
Ferreira
(2017),
a
entrevista
permanece
como
uma
ferramenta
pertinente
para
investigar
jovens,
pois
a
sociedade
ainda
tem
dificuldade
para
uma
escuta
sensível
das
vozes
e
reivindicações
juvenis.
Controle
algorítmico
e
percepção
da
autonomia
Controlar
o
trabalho
sempre
foi
um
desafio
histórico
na
relação
capital-trabalho
(Braverman,
1987).
Desde
Taylor
e
Ford,
passando
pelo
modelo
da
acumulação
flexível,
a
contradição
entre
o
potencial
produtivo
da
força
de
trabalho
e
a
real
efetivação
dessa
força
produtiva
é
motriz
na
busca
pela
maximização
da
produção
de
valor
(Harvey,
2016).
No
âmbito
das
plataformas,
geralmente,
o
trabalho
não
possui
uma
orientação
pré-determinada
de
quando
se
inicia
e
se
conclui
a
jornada
laboral.
A
flexibilização
do
sistema
produtivo,
em
discussão
desde
meados
do
século
XX,
persiste
na
uberização
(Rosenblat,
2018).
Em
síntese,
a
experiência
nas
plataformas
é
marcada
pela
percepção
de
que
essa
é
uma
ocupação
que
permite
maior
autonomia
no
cotidiano,
autonomia
que,
por
vezes,
é
definida
pelos
entregadores
como
“liberdade”.
Quando
perguntado
sobre
qual
a
vantagem
em
trabalhar
em
plataformas
digitais
com
entregas,
um
dos
jovens
interlocutores
responde:
Liberdade.
É
a
palavra
certa:
liberdade.
Porque
se
você
trabalha
CLT
você
acaba
ficando
preso
dentro
de
uma
sala,
fazendo
um
serviço
que
você
não
gosta,
pra
agradar
um
patrão
que
às
vezes
não
gosta
de
você
[ANDRÉ
4
,
26
anos,
preto,
ensino
médio
incompleto].
A
suposta
autonomia
propiciada
pelos
aplicativos
é
um
dos
aspectos
mais
valorizados
pelos
entregadores.
Em
diversas
entrevistas,
seja
entre
os
jovens
mais
novos
ou
entre
os
mais
velhos,
a
valorização
da
“liberdade”
em
poder
iniciar,
pausar
4
Os
nomes
são
fictícios
como
uma
forma
de
manter
o
anonimato.
8
e
encerrar
a
jornada
de
trabalho
quando
desejar,
ou
seja,
“fazer
o
próprio
horário”,
aparece
como
algo
valorizado.
Essa
possibilidade
de
definir
em
qual
momento
ligar
e
desligar
o
aplicativo
propicia
a
realização
de
outras
demandas
da
vida
social.
André
afirma
que:
Liberdade,
na
hora
que
eu
quiser
parar
eu
paro,
na
hora
que
eu
quiser
almoçar
eu
almoço,
na
hora
que
não
quiser
ir
trabalhar
eu
não
vou,
na
hora
que
quiser
voltar
pra
casa
eu
volto,
então
isso
me
dá
bastante
liberdade
para
fazer
aquilo
que
eu
quiser
fazer.
Por
exemplo,
agora
o
meu
filho
está
de
férias
da
escola
e
no
dia
que
não
tiver
alguém
pra
ficar
com
ele
eu
fico
de
boa
sem
depender
da
vontade
de
empresa
nenhuma,
sem
precisar
dar
satisfação
pra
ninguém.
Aí
quando
a
mãe
dele
chega
do
trabalho
eu
posso
ir
trabalhar
de
boa
[ANDRÉ,
26
anos,
preto,
ensino
médio
incompleto].
De
fato,
os
trabalhadores
de
plataformas
digitais
de
entregas
podem
definir
os
horários
em
que
ligam
e
desligam
os
aplicativos,
sem
qualquer
prejuízo,
exceto
pela
sensação
de
que
quanto
menos
horas
se
trabalha,
menor
será
a
renda
obtida
com
a
jornada.
Assim,
as
diferenças
em
relação
às
empresas
que
possuem
uma
estrutura
organizacional,
e
que
exercem
um
poder
mais
perceptível
no
cotidiano
por
parte
dos
subordinados,
aparece
no
relato
de
alguns
dos
jovens
entregadores:
[...]
você
não
vai
receber
ordem
né,
que
nem
[sic],
se
eu
fizer
alguma
coisa
errada,
o
erro
vai
ser
meu,
eu
não
vou
ter
que
ficar
ouvindo
outra
pessoa,
entendeu?
Mas
mesmo
às
vezes
errando
nas
entregas
eu
me
cobro,
porque
é
ruim
né
[MAYCON,
18
anos,
pardo,
ensino
médio
completo].
Olha,
assim,
sinceramente
é
um
bom
trabalho,
pelo
menos
pra
mim.
Porque
sei
que
tem
aquele
risco
de
você
trabalhar
na
rua
e
etc
e
tal,
mas
assim,
o
sentimento
de
liberdade
de
você
estar
na
rua,
sem
precisar
ter
alguém
no
seu
pé
ali
enchendo
o
saco
falando
que
você
tem
que
fazer
isso,
isso
e
aquilo.
Você
é
o
dono
da
sua
empresa,
então
você
que
tem
que
colocar
as
suas
metas
[JEFFERSON,
27
anos,
branco,
ensino
superior
incompleto].
Portanto,
expressões
como
“você
é
dono
da
sua
empresa”
ou
a
“independência
que
o
aplicativo
dá”
trazem
elementos
significativos
para
compreender
as
experiências
desses
jovens,
bem
como
as
especificidades
e
desafios
presentes
nessas
novas
formas
de
trabalho.
Ao
atribuir
a
responsabilidade
pelo
pedido
ao
entregador,
sem
a
presença
de
um
chefe
que
realiza
uma
supervisão
pessoalizada
do
cotidiano,
a
dinâmica
dos
aplicativos
permite
que
os
trabalhadores
se
sintam
responsáveis
por
seus
erros
e
acertos.
Essa
responsabilização
individual
9
aparece
como
expressão
do
processo
de
flexibilização
laboral
e
terceirização
da
atividade
ao
indivíduo
e,
assim,
uma
expressão
da
precariedade
no
capitalismo
contemporâneo.
Reconhecer
o
controle
por
parte
das
plataformas,
bem
como
a
necessidade
de
trabalho
por
parte
dos
trabalhadores,
não
exclui
a
importância
de
compreender
as
percepções
desses
sujeitos
sobre
o
próprio
trabalho.
Conforme
identificou
Dubet
(2014)
os
trabalhadores
desejam
autonomia,
liberdade
para
fazer
escolhas,
diferenciar-se
dos
colegas
e
ter
alguma
flexibilidade
nas
regras.
Nesse
sentido,
pode-se
contextualizar
o
trabalho
nas
plataformas
frente
a
essa
demanda
por
autonomia.
[...]
o
trabalho
não
é
redutível
nem
ao
estatuto
que
oferece
nem
à
troca
de
um
esforço,
de
uma
utilidade
ou
de
uma
boa
vontade
por
um
salário.
O
trabalho
é
também
o
engajamento
da
pessoa
numa
atividade
que
lhe
traz
satisfações
intrínsecas,
prazer,
felicidade,
um
sentimento
de
crescimento
pessoal
e
liberdade;
pelo
lado
oposto,
ele
lhe
dá
o
sentimento
de
ser
alienado,
destruído,
até
mesmo
usado
quando
ganha
bem
e
ocupa
uma
posição
considerada
conveniente.
Para
julgar
esta
dimensão
do
trabalho,
o
sujeito
mobiliza
uma
norma
subjetiva
que
se
chama
correntemente
de
satisfação
no
trabalho.
No
entanto,
não
se
pode
englobar
tudo
na
noção
muito
vaga
de
satisfação,
pois
não
é
a
mesma
coisa
estar
satisfeito
com
seu
salário
e
seu
estatuto
ou
com
seu
métier,
sua
atividade
“em
si”.
Sendo
assim,
o
importante
é
levantar
os
julgamentos
apresentados
pelos
indivíduos
sobre
um
trabalho
que
os
preenche
ou
que
os
frustra
enquanto
sujeitos
desejosos
de
se
realizarem
na
atividade
profissional
(DUBET,
2014,
p.
113).
Com
uma
experiência
relativamente
longeva
em
um
setor
marcado
por
forte
presença
juvenil
e
condições
precárias
na
atividade,
Jefferson
-
que
encerrou
um
período
de
7
anos
numa
empresa
de
call
center
e
decidiu
“arriscar”
como
bike-entregador
–
destaca
a
crítica
ao
emprego
anterior
e
a
valorização
da
individualização
nas
plataformas:
Não
é
legal
porque
você
via
as
coisas
acontecerem
e
não
podia
falar
porque
você
era
só
o
peão
do
xadrez.
Lá
eu
era
só
um
número,
tanto
que
quando
eu
saí
da
empresa
já
contrataram
outro
pra
colocar
no
meu
lugar
[...]
por
exemplo,
com
relação
ao
chefe,
quando
você
tem
um
ótimo
líder
é
uma
coisa
maravilhosa,
ele
te
inspira,
ele
te
faz
crescer.
Mas
quando
você
não
tem
um
líder,
ele
não
te
motiva,
ele
não
te
faz
crescer.
Agora
nesse
momento,
o
líder
seria
eu
mesmo
[JEFFERSON,
27
anos,
branco,
ensino
superior
incompleto].
10
Há
entre
alguns
entregadores
a
percepção
de
que
são
uma
entidade
formalmente
autônoma
em
relação
aos
aplicativos.
Em
estudo
com
ciclo-entregadores
paulistanos,
Altheman
(2021,
p.102)
identificou
que
“a
ideia
de
“não
trabalhar
para
ninguém”,
mas
“fazer
aplicativo”
parecia
estar
atrelada
a
um
modelo
colaborativo
em
que
o
entregador
é
um
membro
constitutivo
de
um
sistema
mais
amplo,
que
só
funciona
a
partir
da
integração
de
suas
partes
atomizadas
e
interdependentes.
A
inexistência
de
regulamentação
do
trabalho
nessas
plataformas,
a
ausência
de
vínculo
empregatício
formal
e
essa
percepção
de
autonomia
no
trabalho
fazem
com
que
a
atuação
nas
plataformas
digitais
seja
associada
ao
empreendedorismo.
Haja
vista
o
empreendedorismo
ter
aparecido
como
definição
para
o
autogerencialismo
no
ideário
neoliberal
presente
no
capitalismo
do
século
XXI
(Leite,
Lindôso,
2021),
supõe-se
que
os
entregadores
possam
ser
concebidos
como
expressão
do
empreendedorismo.
No
entanto,
a
literatura
descarta
essa
associação,
(Althemann,
2021),
apontando
uma
“responsabilização
individual”
que
pode
ser
melhor
definida
por
“autogerenciamento
subordinado”.
Segundo
a
socióloga
brasileira
Ludmila
Abílio
(2019,
p.7)
O
autogerenciamento
do
trabalhador
envolve
a
determinação
de
metas
econômicas
para
si.
Ou
seja,
o
trabalhador
não
define
quantas
horas
vai
trabalhar,
mas
quanto
precisa
ganhar
por
dia.
Entretanto,
a
distribuição
do
trabalho
está
nas
mãos
da
empresa;
ele
não
só
não
tem
garantias
como
não
há
previsibilidade
sobre
sua
carga
de
trabalho.
A
definição
da
meta
para
si
envolverá
lidar
permanentemente
com
a
incerteza
e
estabelecer
estratégias
subordinadas
às
dinâmicas
gerenciadas
pela
empresa-aplicativo:
como
mudar
o
horário
de
trabalho,
estender
o
tempo
de
trabalho,
buscar
outros
locais
na
cidade
(ABÍLIO,
2019,
p.7).
A
noção
de
autogerenciamento
subordinado
possibilita
explicar
a
necessidade
que
esses
trabalhadores
possuem
de
gerir
os
recursos
tangíveis
e
intangíveis
do
próprio
cotidiano
laboral,
enquanto
permanecem
subordinados
à
lógica
algorítmica
aleatória
e
desconhecida
de
distribuição
de
pedidos
pelas
plataformas.
Segundo
a
referida
autora,
o
autogerenciamento
subordinado
precede
as
plataformas.
É
possível
encontrá-lo
no
cerne
dos
arranjos
toyotistas
e
das
políticas
neoliberais,
mas
ele
também
é
estruturante
de
modos
de
vida
periféricos,
tecendo
–
11
de
forma
invisibilizada
e
pouco
conhecida
–
a
formação
e
reprodução
de
mercados
de
trabalho
como
o
brasileiro.
Certamente
as
condições
materiais
e
históricas
do
capitalismo
brasileiro
do
século
XXI
são
significativas
para
entender
essa
percepção
positivada
entre
os
entregadores
sobre
“ser
o
próprio
chefe”.
Conforme
acrescenta
Abílio
(2021,
p.
944)
Para
além
do
não
esquecimento
de
que
a
própria
definição
de
emprego
já
foi
profunda
e
perversamente
alterada
pela
Reforma
Trabalhista,
a
compreensão
dos
modos
de
subjetivação
periféricos
é
fundamental
para
compreender
o
lugar
que
o
emprego
formal
ocupa
nas
trajetórias
dos
trabalhadores.
A
alta
rotatividade,
as
desigualdades
brutais,
injustiças
cotidianas
e
a
herança
escravocrata
se
perpetuam
por
dentro
da
formalidade.
Quando
o
trabalhador
diz
que
“não
quer
ter
patrão”,
é
necessário
estar
aberto
aos
sentidos
múltiplos
e
contraditórios
que
esta
afirmação
encerra.
O
caso
de
Paulo
é
ainda
mais
emblemático
acerca
da
relação
entre
o
mercado
de
trabalho
formal
e
a
informalidade
das
plataformas
digitais.
O
jovem
adulto,
negro
e
morador
da
Zona
Sul
de
São
Paulo,
trabalhava
como
entregador
em
uma
empresa
de
bike-courrier
com
vínculo
formalizado
e
deixou
esse
emprego
para
ingressar
nas
plataformas.
Conforme
relatou:
Foi
a
melhor
opção
porque,
tipo,
estava
cansado
de
trabalhar
registrado,
ficar
ganhando
salário-mínimo,
e
tipo
ficar
preso
em
um
lugar
pra
receber
salário-mínimo,
e
o
salário-mínimo
não
está
valendo
muita
coisa,
então
foi
a
melhor
saída
que
eu
achei
pra
conseguir
me
sustentar.
O
rapaz
ingressou
nas
plataformas
após
sair
de
um
trabalho
formal
como
entregador
em
uma
empresa
especializada
na
atividade
de
entregas,
ingressou
nas
plataformas
sob
a
justificativa
de
que
o
trabalho
era
longe
de
sua
residência
e
a
remuneração
não
valia
a
pena.
É
interessante
notar
que
os
jovens
interlocutores
apontaram
receber
remuneração
superior
a
um
salário-mínimo
por
mês,
se
considerarmos
que
o
salário-mínimo
em
2021,
momento
em
que
a
primeira
entrevista
foi
concedida
era
de
R$1.100,00,
e
Paulo
afirmou
receber
com
os
aplicativos
algo
entre
R$1.500
a
R$1.750.
Portanto,
do
ponto
de
vista
da
remuneração,
é
possível
entender
o
que
levou
o
jovem
a
trocar
o
trabalho
registrado
pela
plataforma.
Deve-se
registrar
como
os
salários
pagos
tanto
para
ciclo-entregadores
em
regime
formal,
quanto
em
aplicativos,
são
baixos
em
relação
às
urgências
e
12
necessidades
dos
indivíduos,
sobretudo
no
Brasil.
Dados
do
Dieese
(2024)
apontam
que
o
salário-mínimo
no
Brasil
para
o
ano
de
2021
deveria
ser
de
R$5.583,90,
isto
é,
5
vezes
maior
que
a
remuneração
obtida
pelo
jovem
no
vínculo
formal
e
3,2
vezes
maior
que
a
renda
que
Paulo
declarou
obter
com
o
aplicativo.
Além
disso,
essa
“liberdade”
tem
suas
limitações.
Conforme
afirmou
João:
“É
libertador,
mas
tem
um
custo”.
Outro
interlocutor
que
indicou
uma
valorização
da
“liberdade”
subjacente
ao
aplicativo
afirmou:
Óbvio,
que
pra
você
trabalhar
pra
si
mesmo
você
precisa
ter
uma
consciência,
você
não
vai
ter
mais
o
seguro-desemprego,
você
não
vai
ter
lá
os
impostos
da
sua
aposentadoria,
você
precisa
ter
cabeça,
pra
que?
Pra
pagar
a
manutenção
da
sua
bike,
moto,
carro,
ou
seja
lá
o
que
você
estiver
fazendo,
pagar
um
MEI
pra
que
você
possa
continuar
contribuindo
com
a
previdência
social,
se
você
quiser
se
aposentar,
um
dia
todo
mundo
vai
precisar
disso
[ANDRÉ,
26
anos,
preto,
ensino
médio
incompleto].
Valorizar
a
autonomia
em
escolher
quando
iniciar
ou
encerrar
a
jornada
laboral
não
significa,
portanto,
ignorar
as
perdas.
Apesar
das
dificuldades
no
acesso
a
direitos,
os
jovens
reconhecem
a
relevância
dos
direitos
que
promovem
proteção
social,
mesmo
entre
aqueles
que
não
estão
engajados
em
coletivos.
Nesse
caso,
os
entregadores
são
emblemáticos
daquilo
que
Castro
(2016)
observou
entre
os
trabalhadores
informais
sobre
a
necessidade
de
“emular”
os
direitos
trabalhistas
com
a
remuneração
obtida
sem
os
direitos
garantidos
no
regime
da
CLT.
A
liberdade
para
escolher
quando
começar
o
turno
laboral,
também
não
significa
necessariamente
trabalhar
menos
ou
não
perceber
a
exploração.
Ao
responder
sobre
o
significado
do
trabalho
nas
plataformas,
uma
das
interlocutoras
afirmou:
A
questão
de
eu
poder
trabalhar
assim,
a
hora
que
eu
quisesse,
vulgo
eu
poder
trabalhar
toda
hora,
que
era
o
que
eu
queria
porque
eu
tinha
que
juntar
dinheiro,
trabalhava
de
madrugada,
de
manhã
de
tarde
e
de
noite,
trabalhar
direto
[LORENA,
19
anos,
branca,
ensino
médio
incompleto].
Assim,
ao
mesmo
tempo
que
esses
jovens
entregadores
valorizam
a
possibilidade
de
“poder
trabalhar”
com
certa
independência,
a
autonomia
pode
ser
relativizada
pela
necessidade
de
realizar
longas
jornadas
nas
ruas
para
atender
as
necessidades
individuais
e
familiares.
13
A
imprevisibilidade
que
subjaz
a
“liberdade”
do
trabalho
nos
aplicativos
não
diz
respeito
somente
à
jornada
diária,
é
algo
que
passa
a
impactar
a
própria
vida
dos
jovens.
A
questão
de
não
ter
algo
garantido,
de
não
saber
quanto
vai
ter
no
mês,
não
poder
fazer
uma
prestação,
sabe?
Não
poder
tirar
nada
por
não
saber
se
você
vai
ter
dinheiro
pra
pagar
aquilo
lá,
não
ter
garantia,
isso
mudou
bastante,
não
saber
quando
você
vai
ter
aquele
dinheirinho
garantido
no
mês
[LORENA,
19
anos,
branca,
ensino
médio
incompleto].
Sendo
assim,
trabalhadores
e
trabalhadoras
submetidos
a
essa
dinâmica
ocupacional
passam
a
encontrar,
conforme
ressaltado
por
Lima
e
Oliveira
(2021),
limitações
no
poder
de
planejar
sua
vida
pessoal,
bem
como
suas
necessidades
de
consumo.
A
contradição
entre
autonomia
e
controle
também
precisa
ser
dimensionada
pela
possibilidade
de
desligamentos
involuntários
ocasionados
por
bloqueios
que
as
plataformas
estabelecem
aos
entregadores
(Liberato,
2022).
Os
chamados
“bloqueios
indevidos”
5
merecem
um
aprofundamento
no
olhar
para
o
controle
e
a
autonomia
nas
plataformas.
Na
medida
em
que
não
há
demissão
como
nas
ocupações
formais,
assim
como
nas
informais,
sofrer
um
bloqueio
pode
ser
visto
como
um
equivalente.
Diante
da
possibilidade
de
exclusão
da
plataforma,
o
medo
é
comum
aos
entregadores
(Liberato,
2022),
ainda
mais
considerando
que
o
trabalho
com
entregas
é
a
única
fonte
de
renda
para
a
maioria
deles
e
delas.
(Aliança
Bike,
2019;
Filgueiras,
Lima,
2020;
CUT,
2021).
Ser
bloqueado
sem
qualquer
justificativa
ou
injustamente
pode
significar
perder
a
única
fonte
de
renda
disponível
para
o
próprio
sustento
–
ou
ainda
o
sustento
dos
dependentes.
Visando
atender
algumas
demandas
dos
entregadores,
a
mudança
na
legislação
também
estabeleceu
normas
que
envolvem
os
bloqueios.
A
Lei
1.4297/22,
sancionada
em
janeiro
de
2022,
determina
que
a
empresa
avise
ao
entregador
sobre
o
bloqueio
com
antecedência
de
três
dias
úteis,
explicando
também
os
motivos
e
a
fundamentação
(Brasil,
2022).
A
percepção
de
que
o
trabalho
nos
aplicativos
possibilita
usufruir
de
uma
liberdade
e
que
os
entregadores
são
autônomos
e
responsáveis
por
seus
ganhos
5
Conforme
apontou
Liberatto
(2022,
p.
787):
“Os
entregadores
chamam
de
bloqueio
indevido
a
desativação
da
sua
conta
na
plataforma
de
forma
considerada
injusta,
ou
quando
o
motivo
não
é
informado”.
14
possui
outros
contrapontos.
Para
Maria
-
entregadora
e
membra
atuante
por
longo
período
do
coletivo
Entregadores
Antifascistas
-
o
trabalho
nas
plataformas
possui
sim
um
chefe:
“essa
liberdade
é
uma
ilusão”.
Como
destacou
em
sua
entrevista:
De
certa
forma
eu
tenho
um
chefe,
que
não
é
uma
pessoa,
mas
eu
tenho
um
chefe,
a
gente
sabe
que
tem.
[...]
Na
verdade
isso
não
muda
a
questão
de
que
a
gente
está
todo
mundo
submetido
a
um
mesmo
sistema.
Por
mais
que
você
trabalhe
em
uma
multinacional
e
ganhe
muito
melhor
ou
por
mais
que
você
trabalhe
fazendo
entregas
nas
ruas,
todos
nós
estamos
sendo
observados
e
vigiados
através
da
tecnologia
sobre
tudo
que
a
gente
faz.
Então
achar
que
a
gente
tem
algum
tipo
de
liberdade
em
relação
a
isso
é
um
tipo
de
ilusão.
A
gente
só
faz
parte
de
uma
engrenagem
que
vai
girar
pra
produzir
cada
vez
mais,
e
isso
se
acelera
cada
vez
mais.
Então
isso
é
uma
lenda
que
contaram,
ou
seja,
você
não
tem
um
chefe
físico,
mas
é
muito
pior
ter
um
chefe
que
é
um
robô.
E
é
muito
pior
o
fato
de
que
o
verdadeiro
chefe
se
esconde
atrás
de
um
robô.
[MARIA,
25
anos,
amarela,
ensino
superior
completo].
A
tecnologia
“por
trás”
da
plataforma
suscita
uma
discussão
sobre
sua
transparência
(Mohlmann,
Zalmanson,
2017).
A
expressão
“trabalho
para
um
robô”
é
corriqueiramente
utilizada
entre
entregadores
de
aplicativos
(Grohmann,
2020;
Cant,
2021).
Cant
(2021),
ao
descrever
o
cotidiano
da
Deliveroo
,
percebe
que
a
maior
parte
do
trabalho
de
supervisor
de
logística
é
automatizado,
em
meio
às
funções
do
aplicativo.
Esse
processo
de
automatização
experimentado
pelos
entregadores
diz
respeito
a
uma
tendência
muito
mais
ampla
que
envolve
o
trabalho
no
capitalismo.
Um
ponto
que
não
pode
ser
ignorado
na
análise
desse
ambiente
de
trabalho
é
que,
em
seu
cotidiano,
também
são
cultivadas
práticas
tipicamente
juvenis.
Em
consonância
com
as
observações
realizadas
por
Braga
e
Santos
(2022)
e
Pires
e
Perin
(2023),
verificamos
que
o
cotidiano
laboral
é
marcado
por
traços
que
indicam
a
existência
de
relações
de
sociabilidade
e
solidariedade
entre
os
jovens
no
dia
a
dia
das
entregas.
Ainda
que
o
trabalho
seja
aparentemente
disperso
e
“atomizado”,
por
acontecer
pelas
ruas
e
não
contar
com
um
teto
institucional
fixo
onde
seja
possível
ter
acesso
a
água
encanada
e
um
espaço
para
higiene
pessoal,
há
agrupamentos
em
que
são
tecidas
relações
de
sociabilidade
juvenil.
Nesses
espaços
é
comum
que
os
entregadores
estabeleçam
interações
entre
si,
além
de
compartilharem
refeições,
cigarros,
garrafas
de
água
e
dicas
a
respeito
do
cotidiano,
de
modo
a
estabelecer
uma
relação
diferente
daquela
experimentada
por
trabalhadores
em
organizações
com
vigilância
pessoalizada
constante
e
rotinas
rígidas
de
trabalho
formal.
15
Valorizar
o
fato
de
“não
receber
ordens”
é
um
aspecto
que
tem
relevância
interpretativa
do
ponto
de
vista
geracional.
Estudos
apontam
que
a
presença
de
jovens
no
trabalho
é
permeada
de
conflitos
e
violências
dos
mais
velhos
direcionada
aos
mais
novos
(Moura,
2017;
Oleto
et
al
.
2017).
Logo,
muitos
valorizam
a
possibilidade
de
trabalhar
sem
terem
que
enfrentar
constrangimentos
e
conflitos
de
ordem
geracional,
o
que
não
significa
não
haver
outros.
Nesse
sentido,
o
relato
dos
jovens
envolve
uma
crítica
à
rigidez
do
setor
formal
e
a
valorização
de
não
se
subordinar
à
autoridade
presente
nas
empresas.
Hoje
eu
não
consigo
mais
trabalhar
em
uma
empresa.
Desde
quando
eu
entrei
no
[Plataforma]
eu
não
sei
mais
o
que
é
trabalhar
para
os
outros.
Você
faz
o
seu
horário
a
hora
que
você
quer,
sai
a
hora
que
quer,
vai
pra
onde
quiser,
e
volta
se
quiser
né.
[ANDRÉ,
26
anos,
preto,
ensino
médio
incompleto].
Acho
bom
o
dinheiro
que
se
faz,
bem
mais
que
trabalhar
em
uma
firma,
esses
lugares
aí.
E
eu
gosto
de
ser
livre,
não
gosto
de
ser
mandado
[sic].
Eu
gosto
de
fazer
entrega
porque
eu
trabalho
no
aplicativo
e
eu
trabalho
só
pra
mim.
Isso
ajuda
mais
ainda,
entendeu?
[MARCOS,
24
anos,
pardo,
ensino
médio
completo].
Michael
também
foi
um
dos
jovens
interlocutores
que
ressaltou
esse
aspecto.
Deve-se
destacar,
contudo,
que
as
experiências
laborais
que
este
jovem
teve
antes
de
baixar
o
aplicativo
e
atuar
com
entregas
foram
entregar
folhetos
e
atender
no
bar
da
família.
O
jovem
relatou
que
encontra
nos
aplicativos
uma
possibilidade
de
obter
renda
para
atender
às
necessidades
imediatas
de
consumo,
pois,
conforme
relatou,
a
renda
gerada
nas
plataformas
possibilita
que
ele
possa
“comprar
as
próprias
coisas”.
Ter
uma
ocupação
que
propicie
recursos
para
“comprar
as
próprias
coisas”
possui
um
sentido
importante
para
compreender
a
própria
condição
juvenil.
Isso
vem
sendo
constatado
desde
os
clássicos
estudos
sobre
a
relação
entre
juventude
e
trabalho
conduzidos
por
Felícia
Madeira
(1986),
na
década
de
1980.
Por
mais
que
não
seja
a
única,
nem
a
principal,
na
dimensão
da
vida
juvenil,
o
consumo
tem
um
papel
nas
formas
de
expressão
da
juventude,
especialmente
em
nossa
sociedade
(Nunes,
2007).
Embora
o
trabalho
nas
plataformas
de
aplicativo
permite
que
os
jovens
se
eximam
dos
constrangimentos
típicos
do
emprego
formal,
essa
forma
de
ocupação
não
os
isenta
de
enfrentar
outras
formas
de
discriminação
na
jornada
laboral.
A
16
experiência
dos
entregadores
é
frequentemente
marcada
por
preconceitos
raciais
e
violências
de
gênero,
especialmente
para
as
mulheres
jovens
que
desempenham
essas
funções.
Em
alguns
casos
foram
constatadas
situações
de
racismo
ou
discriminações
em
shoppings
centers
sobre
entregadores
negros.
As
jovens
mulheres
também
apontaram
violências
de
gênero
e
desafios
para
circular
em
segurança
pelas
ruas
da
cidade.
A
ausência
de
regulamentação
formal
e
proteção
laboral
muitas
vezes
exacerba
essas
formas
de
discriminação.
A
complexidade
dessas
dinâmicas
evidencia
a
necessidade
de
investigar
as
experiências
e
condições
de
trabalho
no
setor
de
entregas
por
aplicativos.
Considerações
finais
Considerando
que
o
trabalho
se
constitui
como
uma
dimensão
significativa
na
experiência
juvenil
brasileira
–
em
especial
para
jovens
pobres,
negros
e
moradores
das
periferias
urbanas
–,
o
artigo
buscou
trazer
contribuições
para
aprofundar
o
diálogo
entre
os
estudos
do
trabalho,
da
educação
e
da
juventude
em
um
segmento
emblemático
das
transformações
do
capitalismo
na
contemporaneidade.
Os
dados
indicam
haver
um
contraste
entre
emprego
formal
e
o
trabalho
nas
plataformas.
A
persistência
de
baixos
salários,
inclusive
nos
empregos
formais,
e
de
uma
tradição
autoritária
e
marcada
por
inúmeras
discriminações
-
de
classe,
gênero
e
sexualidade,
cor/
raça,
dentre
outras
–
nas
relações
de
trabalho
no
Brasil,
que
incidem
especialmente
sobre
os
jovens
negros,
pode
contribuir
para
compreensão
das
percepções
de
nossos
interlocutores.
Assim,
a
escolha
em
“trabalhar
para
um
robô”
encontra
sentido
em
suas
experiências
quando
afirmam
que,
nos
aplicativos,
têm
“independência”
e
a
possibilidade
de
“ser
o
próprio
chefe”.
Sobre
atuar
em
aplicativos,
a
possibilidade
de
poder
“fazer
o
próprio
horário”
mobiliza
diversos
discursos.
Por
mais
que
a
literatura
proponha
reflexões
importantes
sobre
a
dimensão
neoliberal
na
subjetividade
dos
trabalhadores
na
atualidade,
verifica-se
que
a
possibilidade
de
“ser
o
próprio
chefe”
é
complexa.
Ao
mesmo
tempo
em
que
há
uma
valorização
da
autonomia,
os
jovens
tecem
críticas
à
qualidade
do
trabalho
nas
plataformas
e
às
possibilidades
que
essa
ocupação
oferece
dentro
e
fora
do
cotidiano
laboral.
Portanto,
valorizar
a
relativa
autonomia
ao
escolher
quando
iniciar
ou
encerrar
a
jornada
nos
aplicativos
não
significa
ignorar
as
17
perdas
e
dificuldades
que
implicam
a
ausência
de
direitos
do
trabalho
e
as
discriminações
vividas.
Torna-se
necessária
uma
escuta
sensível
destes
jovens
para
compreensão
dos
sentidos
que
atribuem
a
esse
trabalho,
inclusive
para
a
construção
de
formas
de
regulamentar
e
intervir
nesse
segmento.
O
trabalho
nas
ciclo-entregas
por
aplicativos
também
parece
sinalizar
transformações
nos
significados
que
a
juventude
contemporânea
atribui
às
experiências
de
trabalho
do
século
XXI.
Em
um
cenário
no
qual
o
trabalho
seguro
e
protegido
legalmente
não
está
disponível
para
todos
e
todas,
as
plataformas
digitais
de
delivery
aparecem
como
um
meio
marcado
pela
precariedade,
ao
passo
que
é
acessível
para
a
juventude
obter
renda.
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