V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
ENTRE
A
EXPECTATIVA
DE
MOBILIDADE
E
A
INSTABILIDADE:
A
TRAJETÓRIA
DA
FILHA
DE
UMA
TRABALHADORA
DOMÉSTICA
NO
BRASIL
1
Aline
Suelen
Pires
2
Leilyane
Souza
Leão
3
Resumo
Este
artigo
analisa
a
escolaridade
estendida
alcançada
por
jovens
das
classes
populares
nos
anos
2000/2010
e
seus
efeitos.
Discutimos
a
ampliação
do
acesso
ao
ensino
superior,
que
gerou
uma
expectativa
de
mobilidade
social
ascendente
entre
esses
jovens,
bem
como
as
dificuldades
que
vêm
enfrentando
para
uma
inserção
qualificada
no
mercado
de
trabalho.
Com
base
nas
trajetórias
de
uma
trabalhadora
doméstica
e
de
sua
filha,
buscamos
abordar
as
oportunidades
de
trabalho
e
educação
a
que
essas
mulheres
de
diferentes
gerações
tiveram
acesso
em
contextos
sociais
específicos
do
Brasil.
Palavras-chave:
trabalho;
juventude;
ensino
superior;
trajetória.
ENTRE
LA
EXPECTATIVA
DE
MOVILIDAD
E
LA
INESTABILIDAD:
LA
TRAYECTORIA
DE
LA
HIJA
DE
UNA
TRABAJADORA
DOMÉSTICA
EN
BRASIL
Resumen
Este
artículo
analiza
la
escolarización
ampliada
alcanzada
por
los
jóvenes
de
las
clases
populares
en
los
años
2000/2010
y
sus
efectos.
Hemos
abordado
la
ampliación
del
acceso
a
la
educación
superior,
que
ha
generado
una
expectativa
de
movilidad
social
ascendente
entre
estos
jóvenes,
así
como
las
dificultades
que
han
encontrado
para
acceder
cualificadamente
al
mercado
laboral.
A
partir
de
las
trayectorias
de
una
trabajadora
doméstica
y
de
su
hija,
buscamos
abordar
las
oportunidades
laborales
y
educativas
a
las
que
estas
mujeres
de
diferentes
generaciones
han
tenido
acceso
en
contextos
sociales
específicos
en
Brasil.
Palabras
clave:
trabajo;
juventud;
educación
superior;
trayectoria.
BETWEEN
THE
EXPECTATION
OF
MOBILITY
AND
INSTABILITY:
THE
TRAJECTORY
OF
A
DOMESTIC
WORKER’S
DAUGHTER
IN
BRAZIL
Abstract
This
article
analyzes
the
extended
schooling
attained
by
young
people
from
working
classes
in
the
2000s/2010s
and
its
effects.
We
discuss
the
expansion
of
access
to
higher
education,
which
has
generated
an
expectation
of
upward
social
mobility
among
these
young
people,
as
well
as
the
difficulties
they
have
been
facing
in
achieving
qualified
insertion
into
the
job
market.
Based
on
the
trajectories
of
a
domestic
worker
and
her
daughter,
we
seek
to
address
work
and
educational
opportunities
that
these
women
from
different
generations
accessed
in
specific
social
contexts
in
Brazil.
Keywords:
work;
youth;
higher
education;
trajectory.
3
Mestra
em
Sociologia
pela
Universidade
Federal
de
São
Carlos
(UFSCar).
E-mail:
leilyaneleao@hotmail.com
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7075487144200665
.
ORCID:
https://orcid.org/0009-0002-1031-7784
.
2
Doutora
em
Sociologia
pela
Universidade
Federal
de
São
Carlos
(UFSCar),
São
Paulo
-
Brasil.
Professora
do
Departamento
de
Sociologia
e
do
Programa
de
Pós-Graduação
em
Sociologia
da
Universidade
Federal
de
São
Carlos
(UFSCar).
E-mail:
alinepires@ufscar.br
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8860270341724853
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-5932-1050
.
1
Artigo
recebido
em
17/06/2024.
Primeira
Avaliação
em
06/08/2024.
Segunda
Avaliação
em
05/08/2024.
Aprovado
em
09/10/2024.
Publicado
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.63025
1
Introdução:
o
contexto
de
transformações
recentes
no
acesso
dos
jovens
à
educação
e
ao
trabalho.
O
filme
Que
horas
ela
volta?
de
2015,
escrito
e
dirigido
por
Anna
Muylaert,
gerou
intenso
debate
quando
de
seu
lançamento
e
exibição
nas
telas
de
cinema
do
país.
O
filme
era
um
retrato,
naquele
momento,
de
um
Brasil
em
transformação.
No
enredo,
a
empregada
doméstica
Val,
migrante
pernambucana
em
São
Paulo,
trabalha
na
casa
de
uma
família
de
classe
média
alta,
desenvolvendo
uma
relação
especial
de
afetividade
com
Fabinho,
o
filho
adolescente
da
família.
A
aparente
"harmonia"
das
relações
estabelecidas
na
casa
é
rompida
com
a
chegada
de
Jéssica,
filha
de
Val,
que
viaja
do
Nordeste
para
São
Paulo
para
prestar
vestibular
para
o
curso
de
Arquitetura
na
USP
(Universidade
de
São
Paulo),
a
mesma
prova
que
seria
prestada
por
Fabinho.
Ao
questionar
a
subserviência
da
mãe
e
uma
série
de
regras
veladas
estabelecidas
na
casa,
expõe
a
relação
de
desigualdade
entre
a
família
e
a
empregada
doméstica,
evidenciando
que
Val
não
é
"como
se
fosse
da
família".
Embora
o
longa-metragem
traga
à
luz
diversos
temas
importantes,
como
o
trabalho
doméstico,
a
migração,
a
desigualdade
social,
as
relações
de
gênero
e
diversas
formas
de
discriminação,
chama
a
atenção
ao
retratar
um
momento
marcado
pela
ampliação
do
acesso
ao
ensino
superior
no
Brasil.
A
partir
do
início
dos
anos
2000,
a
juventude
brasileira
passa
a
se
beneficiar
de
um
conjunto
de
políticas
públicas
e
programas
sociais
que
resultaram
na
ampliação
do
acesso
à
educação
e,
em
especial,
à
universidade.
O
FIES
–
Fundo
de
Financiamento
ao
Estudante
do
Ensino
Superior
–
foi
criado
já
em
1999,
voltado
a
financiar
a
graduação
na
educação
superior
em
instituições
privadas
(ou
não
gratuitas),
sendo
posteriormente
vinculado
ao
Prouni
–
Programa
Universidade
Para
Todos
–
em
2004.
O
Reuni
–
Programa
de
Apoio
a
Planos
de
Reestruturação
e
Expansão
das
Universidades
Federais
–
foi
criado
em
2007,
voltado
à
abertura
de
novos
cursos
e
universidades
em
todo
o
país.
Ao
longo
do
período,
também
foram
sendo
estabelecidas
modalidades
de
ações
afirmativas
–
reserva
de
vagas
ou
bonificação
para
alunos
egressos
da
escola
pública
(cotas
sociais),
negros
e
indígenas
(cotas
raciais)
–
consolidadas
com
a
criação
da
Lei
de
Cotas,
em
2013.
Vale
destacar
ainda
o
SISU
–
Sistema
de
Seleção
Unificada
–,
criado
em
2009
e
que
utiliza
as
notas
do
2
ENEM
–
Exame
Nacional
do
Ensino
Médio
–
para
ingresso
nas
instituições
de
ensino
superior
federais
(Picanço,
2016).
Todas
as
ações
e
políticas
resultaram
em
uma
significativa
ampliação
da
oferta
de
vagas,
bem
como
em
um
grande
crescimento
no
número
de
matrículas
no
ensino
superior.
As
políticas
de
ações
afirmativas,
em
particular,
propiciaram
o
acesso
de
jovens
de
classes
populares,
em
especial,
negros
e
negras,
à
universidade.
Pode-se
dizer,
portanto,
que
houve
uma
diminuição
das
desigualdades
de
oportunidades
educacionais,
marcadamente
em
função
da
expansão
educacional
que
aconteceu
nesse
período
(Ribeiro,
2012).
Além
disso,
os
anos
2000
e
início
dos
anos
2010
foram
marcados
pela
queda
expressiva
da
pobreza
e
da
extrema
pobreza,
diminuição
da
desigualdade
na
distribuição
de
renda
(Barros
et
al,
2010)
e
mobilidade
social
ascendente
de
certos
grupos,
o
que
justificou
um
debate
sobre
a
emergência
de
uma
"nova
classe
média"
(Neri,
2008).
Nesse
cenário,
muitos(as)
jovens
brasileiros(as)
puderam
vislumbrar
a
possibilidade
de
uma
mobilidade
social
ascendente,
sobretudo
por
meio
da
escolarização
estendida.
Este
foi
o
caso
da
personagem
ficcional
Jéssica
e
também
da
nossa
interlocutora
real
Betânia
(nome
fictício).
Betânia
é
filha
de
Bete,
baiana
que
migrou
para
São
Paulo
e
tornou-se
empregada
doméstica.
Bete
e
Betânia
são
interlocutoras
de
uma
pesquisa,
realizada
entre
2021
e
2023,
que
envolveu
duas
gerações
e
seus
diferentes
percursos
na
busca
por
mobilidade
social
ascendente
(Leão,
2023).
A
primeira
era
formada
por
mães
migrantes
nordestinas
que
se
tornaram
empregadas
domésticas
no
Sudeste
e
que
expressaram
o
desejo
veemente
de
que
suas
filhas
pudessem
estudar
e
ter
um
destino
laboral
distinto
do
delas.
A
segunda
era
constituída
de
suas
filhas
que,
no
contexto
apresentado,
tiveram
a
oportunidade
de
seguir
na
escolarização
formal
e
ingressar
no
ensino
superior.
A
partir
disso,
este
artigo
pretende
colocar
em
foco
a
trajetória
de
Betânia,
em
especial
sua
experiência
de
acesso
ao
ensino
superior
e
as
dificuldades
posteriormente
enfrentadas
para
a
sua
inserção
laboral,
de
modo
a
discutir
as
mudanças
sociais
ocorridas
nesse
período
e
as
experiências
de
escolarização
e
trabalho
enfrentadas
por
jovens
de
classes
populares
que
conseguiram
acessar
a
universidade
e
hoje
buscam
a
entrada
ou
afirmação
no
mercado
de
trabalho.
O
contexto
que
marcou
a
melhoria
das
condições
de
vida
e
a
ampliação
das
3
oportunidades
educacionais
nos
anos
2000
e
início
dos
anos
2010
no
país
foi
se
transformando
rapidamente.
A
partir
de
2013,
passamos
a
vivenciar
uma
crise
econômica
e
política.
O
"golpe
jurídico,
parlamentar
e
midiático”
(S,
2021,
p.
150),
que
provocou
o
impeachment
da
presidenta
eleita
Dilma
Rousseff,
inaugurou
um
cenário
adverso
para
as
políticas
públicas
para
a
juventude
brasileira.
Desde
então,
os
investimentos
em
educação
foram
reduzidos
de
forma
dramática,
houve
um
aumento
expressivo
do
desemprego
e
do
desalento,
com
destaque
para
os
jovens
4
,
e
uma
agenda
em
construção
pautada
na
ideia
de
trabalho
digno
para
a
juventude
é
deixada
de
lado
(Tommasi;
Corrochano,
2020).
A
reforma
trabalhista
de
2017
só
veio
legitimar
a
existência
de
diversas
formas
de
trabalho
precário,
atingindo,
de
modo
especial,
uma
geração
de
jovens
que
busca,
nos
últimos
anos,
adentrar
e
se
estabelecer
no
mundo
do
trabalho.
Esse
momento
mais
recente
do
país
representou,
para
muitos
daqueles
que
buscam
uma
qualificação
ampliada,
a
frustração
de
grande
parte
de
suas
expectativas.
Além
das
dificuldades
estruturais
de
acesso
ao
trabalho,
alcançar
um
posto
digno
e
correspondente
ao
nível
e
à
área
de
formação
passa
a
ser
um
grande
desafio.
Este
desafio
é
ainda
maior
para
jovens
de
famílias
pobres,
para
os
quais
a
escassez
de
recursos
–
não
apenas
financeiros
–
contribuem
para
uma
inserção
mais
precária
e
menos
satisfatória
no
mercado
de
trabalho.
Em
seguida
a
esta
contextualização
inicial,
apresentaremos,
brevemente,
algumas
notas
metodológicas
fundamentais
para
a
compreensão
das
análises,
buscando
evidenciar
a
potencialidade
do
estudo
de
trajetórias
para
abordar
mudanças
sociais.
Em
seguida,
apresentaremos
a
trajetória
de
Betânia,
passando
pela
história
de
vida
de
sua
mãe,
Bete.
A
partir
disso,
buscaremos
desenvolver
algumas
análises
que
podem
auxiliar
na
compreensão
das
recentes
mudanças
mencionadas,
com
especial
destaque
para
os
desafios
enfrentados
por
jovens
qualificados
e
de
classes
populares
para
se
inserirem
no
mercado
de
trabalho
nos
últimos
anos,
ao
que
se
seguirão
as
considerações
finais
do
artigo.
4
https://sbsociologia.com.br/o-crescimento-do-desalento-no-brasil-reflexoes-sobre-a-juventude-no-atua
l-mundo-do-trabalho/
Acesso
em
23
de
abril
de
2024.
4
Notas
metodológicas:
a
potencialidade
do
estudo
de
trajetórias
para
abordar
mudanças
sociais
A
pesquisa
empírica
que
baseia
nossas
análises
é
um
estudo
de
trajetórias
realizado
a
partir
de
entrevistas
biográficas
5
.
Partindo
de
um
enfoque
geracional,
a
pesquisa
acompanhou
os
percursos
de
duas
gerações
familiares:
mães
e
filhas.
A
primeira
geração
é
composta
por
trabalhadoras
domésticas
que
migraram
da
Bahia,
entre
o
fim
da
década
de
1960
e
meados
da
década
de
1990,
para
o
Sudeste
do
país,
a
fim
de
acessarem
melhores
condições
de
vida.
Já
a
segunda
geração
é
formada
pelas
filhas
dessas
trabalhadoras,
inseridas
no
contexto
dos
anos
2010
e
2020,
e
que
buscavam
uma
inserção
profissional
distinta
das
de
suas
mães
(Leão,
2023).
A
escolha
por
trabalhar
apenas
com
as
filhas
das
trabalhadoras
domésticas
em
detrimento
dos
filhos
do
sexo
masculino
se
deu,
sobretudo,
em
razão
da
feminização
do
trabalho
doméstico.
Diante
da
socialização
distinta
de
meninos
e
meninas,
em
que
estas
são
incentivadas
a
atividades
ligadas
ao
cuidado,
compreende-se
que
o
emprego
doméstico
acaba
sendo
o
destino
laboral
de
muitas
mulheres
empobrecidas.
Desse
modo,
foi
possível
analisar
mudanças
e
permanências,
sobretudo
em
relação
às
alternativas
de
trabalho
encontradas
por
essas
mulheres
de
gerações
distintas.
Esse
estudo
foi
um
desdobramento
de
uma
pesquisa
anterior
em
que
foram
analisadas
as
trajetórias
de
trabalhadoras
domésticas
migrantes.
Estas
mulheres
sinalizavam,
nas
entrevistas
biográficas,
o
desejo
de
que
suas
filhas
não
tivessem
o
mesmo
destino
social
e
de
trabalho
que
o
delas
(Leão,
2018).
Nesse
sentido,
é
possível
destacar
como
o
método
das
trajetórias
é
capaz
de
captar
minúcias
relacionadas
aos
interesses,
disposições
e
desejos
dos
sujeitos
que
mobilizam
suas
ações.
Como
veremos
na
trajetória
de
Bete,
há
todo
um
engajamento,
envolvendo
diversas
estratégias,
para
que
a
sua
filha
Betânia
não
reproduzisse
o
trabalho
doméstico
remunerado
em
sua
vida.
O
uso
da
história
de
vida,
das
trajetórias
e
das
narrativas
apresenta-se
como
interessante
recurso
para
uma
análise
detalhada
e
complexa
da
realidade
social.
Os
5
Essas
entrevistas
compreenderam
diversas
e
prolongadas
interações
com
as
interlocutoras,
de
modo
a
possibilitar
a
aproximação
e
o
aprofundamento
qualitativo
em
questões
relativas
às
suas
histórias
de
vida.
5
pioneiros
no
uso
das
histórias
de
vida
foram
os
estudiosos
da
Escola
de
Chicago,
na
década
de
1920,
que
mobilizaram
esse
instrumento
de
pesquisa
para
abordar
mudanças
sociais,
relacionadas,
sobretudo,
a
processos
migratórios
e
condutas
de
indivíduos
tidos
como
desviantes
ou
delinquentes
(Guérios,
2011).
Para
Howard
Becker,
as
histórias
de
vida
se
configuram
como
“um
relato
fiel
da
experiência
e
interpretação
por
parte
do
sujeito
do
mundo
no
qual
vive”
(Becker,
1993,
p.102).
Daniel
Bertaux
(1999),
como
um
importante
nome
no
debate
francês
a
respeito
dos
estudos
baseados
na
história
de
vida,
propôs
um
enfoque
de
pesquisa
pautado
na
interpretação
dos
sujeitos.
Fazendo
uso
do
termo
“relato
de
vida”,
o
autor,
na
defesa
de
uma
perspectiva
de
investigação
com
foco
na
biografia,
aborda
a
necessidade
de
considerar
a
história
de
uma
vida
do
modo
que
é
contada
pela
pessoa
que
a
viveu.
Por
outro
lado,
Bourdieu
(1996),
em
sua
conhecida
crítica
A
ilusão
biográfica
,
apontou,
nos
estudos
de
história
de
vida,
a
falta
de
uma
objetivação
dos
dados:
Tentar
compreender
uma
vida
como
uma
série
única
e
suficiente
em
si
mesma
de
eventos
sucessivos
sem
outra
ligação
que
a
associação
a
um
“sujeito”
cuja
constância
é
apenas
aquela
de
um
nome
próprio
é
quase
tão
absurdo
quanto
tentar
explicar
um
trajeto
no
metrô
sem
levar
em
conta
a
estrutura
da
rede,
ou
seja,
a
matriz
das
relações
objetivas
entre
as
diferentes
estações
(Bourdieu,
1996,
p.189-190).
Bourdieu
(1996),
portanto,
direciona
o
foco
para
questões
mais
estruturais
que
operam
na
vida
do
sujeito.
Para
ele,
faltava,
aos
estudos
biográficos
e
de
história
de
vida,
uma
noção
que
considerasse
as
posições
que
os
indivíduos
ocupam
na
sociedade,
que
incidem
diretamente
sobre
a
história
narrada.
Nesse
sentido,
o
autor
propõe
o
estudo
de
trajetórias.
A
noção
de
trajetória
refere-se,
portanto,
“à
atualização
do
habitus
através
das
conjunturas
que
o
sujeito
atravessa”
(Leite;
Lopes;
Cioccari,
p.10,
2013).
Tendo
em
vista
a
discussão
suscitada
pelos
autores
mencionados,
é
mobilizada,
em
nossas
análises,
a
própria
narrativa
da
pessoa,
de
modo
a
respeitar
a
interpretação
do
sujeito
sobre
sua
experiência
narrada.
Ou
seja,
a
visão
da
pessoa
sobre
o
fato
relatado
é
trazida
no
texto.
No
entanto,
esse
relato
é
analisado
no
interior
do
contexto
social
em
que
se
insere,
o
que
o
define
como
um
estudo
de
trajetória.
Não
se
opera,
portanto,
no
sentido
de
estabelecer
relações
de
causa
e
efeito,
o
que
levaria
a
uma
“ilusão
biográfica”
como
chamou
Bourdieu
(1996).
Há
um
6
esforço
por
situar
as
trajetórias
de
vidas
estudadas
em
condições
estruturais
objetivas.
A
riqueza
de
detalhes
que
os
relatos
biográficos
são
capazes
de
oferecer
evidenciam
as
oportunidades
disponíveis
para
as
interlocutoras
da
pesquisa
no
contexto
histórico
em
que
estavam
inseridas,
especialmente
no
caso
de
Betânia,
filha
de
Bete
(lei
de
cotas,
ampliação
do
ensino
superior,
etc.).
Por
outro
lado,
é
possível
destacar
também
as
escolhas
que
Betânia
pôde
fazer
(ou
não)
para
se
inserir
no
mercado
de
trabalho
acionando
os
recursos
de
que
dispunha.
Desse
modo,
o
estudo
de
trajetórias
dessas
mulheres
de
distintas
gerações
nos
permite
observar
qualitativamente
as
mudanças
engendradas
que
permeiam
suas
histórias.
Através
dos
relatos
dessas
mulheres,
é
possível
reunir
dados
sobre
suas
experiências
que,
por
sua
vez,
nos
informam
sobre
e
ilustram
a
conjuntura
social
do
país,
apontando
não
apenas
as
mudanças,
mas
também
as
permanências.
As
trajetórias
de
mãe
e
filha:
apresentando
Bete
e
Betânia
Nesta
seção,
apresentaremos
as
trajetórias
de
Bete
e
Betânia,
mãe
e
filha
que
ilustram
e
mobilizam
nossa
discussão
6
.
Entre
a
migração
e
o
trabalho:
a
trajetória
de
Bete
Bete
nasceu
no
ano
de
1957
em
Conceição,
comunidade
rural
pertencente
ao
município
de
Paramirim,
na
Bahia,
onde
viveu
parte
de
sua
infância.
Bete
era
a
quarta
filha
de
nove
irmãos.
Aos
oito
anos
de
idade,
era
familiarizada
com
as
atividades
domésticas,
já
sabendo
lavar
roupa,
buscar
água
e
fazer
comida,
tarefas
atribuídas
por
sua
mãe,
que
precisava
de
tempo
para
o
trabalho
na
roça.
Consultando
as
horas
diante
a
posição
do
sol,
Bete
conferia
se
já
estava
no
horário
de
iniciar
o
almoço
e
subia
em
um
banquinho
para
preparar
a
comida
para
a
sua
família.
As
tarefas
domésticas,
desde
muito
cedo,
se
estabeleceram
na
vida
de
Bete,
e,
ainda
na
infância,
converteram-se
em
uma
atividade
remunerada.
Foi
em
meio
às
brincadeiras
de
riscar
o
chão
da
estrada
de
sua
comunidade
rural
que
Bete
recebeu
o
convite
de
um
fazendeiro
conhecido
da
região
para
ir
para
6
Bete
e
Betânia
foram
selecionadas
por
serem
interlocutoras
representativas
de
outras
trajetórias
de
mães
e
filhas
que
foram
analisadas
na
pesquisa
mencionada
(Leão,
2023).
7
Salvador
“brincar
com
seus
filhos”.
Com
a
permissão
de
sua
mãe,
aos
dez
anos
de
idade,
seguiu
para
a
capital
baiana
onde
cuidava
das
crianças
e
auxiliava
nas
atividades
domésticas
da
casa.
Ali
teve
sua
primeira
experiência
de
trabalho
longe
da
família,
da
qual
sentiu
bastante
falta.
Conta
que,
com
muita
saudade,
especialmente
de
sua
mãe,
após
um
ano
e
meio
retornou
para
a
sua
terra,
onde
ficou
sabendo
que
seus
familiares
haviam
migrado
para
o
estado
de
São
Paulo,
em
busca
de
melhores
condições
de
vida,
e,
assim,
decidiu
seguir
para
o
mesmo
destino.
Com
um
conhecido
da
família,
viajou
dias
rumo
a
Jundiaí-SP,
onde
encontrou
finalmente
seus
pais
e
irmãos.
Em
seguida,
passou
a
morar
com
o
irmão
e
começou
a
ocupar-se
dos
afazeres
domésticos
e
a
preparar
as
marmitas
dele
e
de
outros
rapazes
que
moravam
na
casa.
Logo
começou
a
trabalhar
em
uma
fábrica
de
fiação
e,
em
seguida,
em
um
frigorífico,
realizando
a
limpeza
do
local.
Aos
poucos,
foi
se
estruturando
e,
a
partir
de
redes
familiares,
conseguiu
um
trabalho,
na
cidade
de
São
Paulo,
como
empregada
doméstica
em
uma
casa,
onde
permaneceu
por
quinze
anos.
A
maneira
quase
lúdica
com
que
se
estabeleceu
o
emprego
doméstico
na
trajetória
de
Bete,
a
partir
da
proposta
do
fazendeiro
de
"brincar
com
os
seus
filhos"
na
cidade
grande,
é
o
tipo
de
relato
que
ilustra
uma
cultura
ainda
muito
comum
no
Brasil.
Esse
tipo
de
situação,
em
que
meninas
pobres
vão
morar
com
famílias
de
classe
média
para
exercer
tarefas
domésticas
e
de
cuidado
e,
muitas
vezes,
sem
remuneração,
aponta
para
a
vulnerabilidade
social
em
que
se
encontram
as
mulheres
pobres
e,
em
especial,
as
mulheres
negras.
Ao
serem
designadas
a
realizar
o
trabalho
do
cuidado
desde
muito
jovens,
mulheres
empobrecidas
e
racializadas
acabam
por
reproduzir
esse
tipo
de
trabalho
que
é
invisibilizado
(Porfírio,
2021)
e
marcado
pelo
baixo
prestígio
social.
Esse
foi
o
caso
de
Bete
que,
ainda
muito
jovem,
com
pouca
escolaridade
e
diante
da
vulnerabilidade
financeira
de
sua
família,
acabou
encontrando
no
emprego
doméstico
um
meio
de
sobrevivência.
A
própria
percepção
de
infância,
quando
trazida
por
Bete
em
sua
narrativa,
mantém
uma
relação
estreita
com
o
trabalho.
Desse
modo,
embora
a
noção
moderna
de
infância,
enquanto
fase
da
vida,
considere
que
haja
uma
atenção
voltada
à
educação
das
crianças,
no
caso
de
Bete,
o
que
se
destaca
é
uma
experiência
de
infância
voltada
ao
trabalho
e
quase
nenhuma
escolaridade.
8
Além
do
trabalho
doméstico,
outro
aspecto
central
que
perpassa
a
vida
de
Bete
na
busca
por
sobrevivência
e
melhores
condições
de
vida
é
a
migração.
Se,
em
um
primeiro
momento,
sua
ida
para
Salvador
estava
orientada
para
o
trabalho,
posteriormente
seu
deslocamento
para
São
Paulo
buscava
o
aconchego
familiar,
e
foi
com
o
apoio
da
família
que
conseguiu
empregos
na
cidade.
Assim
como
apresentado
por
Durham
(1978),
a
orientação
da
família
é
fundamental
no
processo
de
saída
do
mundo
rural
para
sua
integração
no
espaço
urbano.
Nesse
sentido,
o
segundo
deslocamento
realizado
por
Bete
(para
São
Paulo)
foi
amparado
em
uma
noção
de
projeto
familiar,
uma
vez
que,
chegando
na
nova
cidade,
havia
pessoas
com
quem
contar.
Em
relação
à
experiência
como
empregada
doméstica
na
capital
paulista,
Bete
elenca
diversas
vantagens
que
identificou
no
trabalho
naquele
momento.
A
escassez
experimentada
por
ela
ao
longo
de
sua
vida,
sobretudo
na
infância,
no
que
se
referia
à
alimentação
e
às
condições
de
moradia,
levava
Bete
a
um
certo
entusiasmo
em
trabalhar
e
morar
num
local
onde
o
básico
lhe
era
garantido.
As
condições
materiais
que
eram
oferecidas
no
emprego
doméstico,
em
relação
ao
que
havia
sido
experimentado
até
então
em
sua
vida,
eram
consideradas
mais
confortáveis.
O
acesso
a
itens
básicos
de
higiene
pessoal,
à
energia
elétrica
e
à
água
encanada
era
encarado
com
muito
entusiasmo,
muito
embora
seja
conhecida
a
realidade
marcada
por
desvantagens
sociais
das
mulheres
no
emprego
doméstico,
que
não
estavam
ausentes
nas
experiências
de
Bete,
nem
passaram
despercebidas
por
ela.
Bete
também
sinaliza
um
conjunto
de
aprendizados
que
obteve
trabalhando
como
empregada
doméstica
em
São
Paulo,
tanto
em
relação
a
maneiras
de
cuidar
e
de
organizar
uma
casa,
quanto
ao
conhecimento
culinário
que
foi
aperfeiçoando,
já
que
tinha
à
sua
disposição
ingredientes
para
executar
receitas,
além
da
orientação
de
sua
patroa.
Ela
contou
que
muitos
dos
hábitos
de
limpeza,
organização,
bem
como
receitas
culinárias
que
aprendeu
nessa
residência
onde
trabalhou,
acabaram
sendo
levados
para
sua
própria
casa.
Nesse
sentido,
é
interessante
considerar
a
noção
das
empregadas
domésticas
como
"mediadoras
socioculturais"
(Velho,
2001).
Ao
se
deslocarem
de
suas
casas,
geralmente
nas
periferias
da
cidade,
para
os
bairros
de
classe
média
e
de
elite,
fazem
o
trânsito
entre
classes
e
culturas
diversas.
Assim,
a
empregada
doméstica
tem
acesso
à
intimidade
e
hábitos
de
seus
patrões,
9
bem
como
leva
seus
conhecimentos
e
costumes
para
o
interior
das
casas
onde
trabalham.
É
a
partir
da
renda
obtida
com
o
emprego
doméstico
que
Bete
conseguiu
ajudar
financeiramente
seus
familiares
na
Bahia.
Lá,
conseguiu
construir
uma
casa
nova
para
seus
pais
na
zona
rural.
Posteriormente,
conseguiu
adquirir
uma
casa
na
cidade
de
Paramirim-BA
em
conjunto
com
duas
de
suas
irmãs
(que
também
trabalhavam
como
empregadas
domésticas).
Dessa
maneira,
estar
em
São
Paulo
representava
a
possibilidade
de
uma
melhoria
de
vida
para
si
e
para
seus
familiares
que
permaneceram
na
Bahia.
Sarti
(2005),
ao
estudar
famílias
pobres,
traz
a
análise
de
que
a
noção
de
família
para
esse
grupo
social
é
definida
a
partir
de
uma
obrigação
moral
que
estrutura
as
relações.
No
caso
da
migração
de
Bete,
a
família
esteve
presente
em
diferentes
momentos,
fortalecendo
laços
entre
seus
membros
a
partir
do
estabelecimento
de
redes.
Essas
redes
estavam
presentes
tanto
no
local
de
origem
quanto
no
de
destino
e,
embora
não
se
caracterizassem
mais
pelo
vínculo
original
da
zona
rural
na
Bahia,
se
expandiram
e
se
fortaleceram
em
termos
da
obrigação
moral
da
ajuda
mútua,
ainda
que
os
familiares
estivessem
distantes
uns
dos
outros.
Nesse
sentido,
Bete,
ao
prestar
auxílio
financeiro
para
sua
mãe
na
Bahia,
garantiu
a
reprodução
daqueles
que
não
migraram,
práticas
identificadas
por
pesquisas
sobre
migração,
como
a
de
Woortmann
(1990)
sobre
sitiantes
em
Sergipe.
Embora
Bete
rememore
aspectos
positivos
de
sua
experiência
no
emprego
doméstico,
não
deixa
de
ressaltar
as
dificuldades
dessa
atividade,
sobretudo
em
relação
ao
cansaço
físico
e
às
privações
por
ter
que
morar
no
local
de
trabalho.
E
é
falando
a
respeito
dessas
dificuldades
que
Bete
lembra
de
sua
filha
Betânia,
enfatizando
que
sempre
fez
o
que
pôde
para
que
ela
não
herdasse
o
fardo
do
emprego
doméstico.
Betânia
nasceu
no
ano
de
1993,
quando
Bete
já
havia
retornado
para
Paramirim
e
se
casado.
Dois
anos
depois,
Bete
teve
seu
segundo
filho,
Antônio.
Foi
com
o
dinheiro
da
venda
da
casa
que
tinha
adquirido
com
as
irmãs
que
Bete
conseguiu
somar
um
valor
para
a
compra
de
um
imóvel
na
cidade
de
Paramirim,
a
fim
de
morar
com
a
família
que
estava
formando.
Diante
das
dificuldades
financeiras
que
sua
família
voltaria
a
enfrentar
com
o
desemprego
do
marido
e
com
o
objetivo
de
também
realizar
um
tratamento
de
saúde,
ainda
retornaria
a
São
Paulo
para
10
trabalhar
por
mais
um
período
como
empregada
doméstica,
deixando
seus
filhos
aos
cuidados
da
sogra.
Diante
da
saudade
dos
filhos
e
a
partir
de
uma
sugestão
de
sua
então
patroa,
decidiu
voltar
para
Paramirim
e
montar
uma
barraca
de
comida
na
feira
local
com
os
poucos
recursos
que
conseguiu
acumular.
Bete
narra
essa
decisão
com
muito
entusiasmo
diante
do
êxito
do
empreendimento.
Atualmente,
Bete
já
se
encontra
aposentada
e
não
tem
mais
a
barraca
de
comida,
já
que
não
pode
mais
contar
com
a
ajuda
de
seu
marido,
que
se
dedica
ao
trabalho
na
zona
rural.
Além
disso,
relata
que
também
não
pode
mais
contar
com
o
auxílio
de
seus
filhos,
que
encontram-se
vivendo
e
trabalhando
em
São
Paulo.
Declara
sentir
muita
falta
deles
e,
ao
mesmo
tempo,
se
enche
de
alegria
por
terem
conseguido
estudar.
Ambos
realizaram
o
ensino
básico
na
cidade
de
Paramirim
e
depois
migraram
para
São
Paulo,
a
fim
de
trabalhar
e
estudar.
Seu
filho
Antônio
realizou
curso
técnico
em
mecânica
e
trabalha
em
São
Paulo,
morando
com
sua
companheira
e
filha.
A
trajetória
de
sua
irmã
mais
velha,
Betânia,
é
a
que
será
retratada
a
seguir.
Betânia
e
o
projeto
de
mobilidade
através
dos
estudos
Betânia
é
uma
mulher
negra
de
pele
clara
que
contava,
na
ocasião
da
pesquisa,
com
28
anos
de
idade.
Nascida
e
criada
na
cidade
de
Paramirim-BA,
atualmente
reside
na
cidade
de
São
Paulo-SP,
onde
trabalha
como
atendente
em
uma
farmácia.
Ao
rememorar
sua
infância,
lembra
da
saudade
que
sentiu
de
sua
mãe
no
período
em
que
esta
teve
que
ir
para
São
Paulo
trabalhar,
e
conta
das
idas
ao
orelhão
7
da
cidade
aos
domingos,
na
companhia
de
seu
pai
e
de
seu
irmão,
a
fim
de
conversar
com
a
mãe,
destacando
que
era
um
momento
em
que
chorava
muito.
Em
2002,
quando
a
sua
mãe
já
havia
retornado
de
São
Paulo
e
passou
a
ter
a
barraca
de
comida
na
feira
aos
sábados,
Betânia
lembra
de
auxiliá-la
em
algumas
pequenas
tarefas.
Assim,
localizando-se
no
tempo
a
partir
de
sua
trajetória
escolar,
lembra
que,
quando
estava
na
sexta
série,
passou
a
ajudar
a
mãe
lavando
louça,
fazendo
saladas
e
cobrando
os
pratos.
Conta
que
seguiu
essa
rotina
até
o
momento
de
sua
formatura
no
ensino
médio,
quando
foi
para
São
Paulo
a
fim
de
trabalhar.
7
Telefone
de
uso
público.
11
Ao
longo
de
toda
a
educação
básica,
Betânia
permanecia
apenas
estudando,
lembrando
que
sua
mãe
sempre
a
incentivou
muito:
“Você
só
vai
estudar.
Não
precisa…
só
me
ajuda
na
feira.”
[Betânia
reproduz
fala
da
mãe.]
Eu
só
ajudava
na
feira.
Aí
nunca
trabalhei,
assim.
Eu
tinha
amigas
que
trabalhavam
de
babá,
alguma
loja,
assim,
mas
eu
nunca…
nunca
procurei
porque
minha
mãe
sempre
falava
“ah,
não
precisa
trabalhar
não,
só
estuda
e
me
ajuda
no
sábado”,
aí
ela
me
dava
um
trocadinho.
A
centralidade
dos
estudos
na
vida
de
Betânia
e
os
esforços
de
Bete
nessa
direção
são
percebidos
em
diversos
momentos.
Um
deles
é
quando
Betânia
sente
dificuldades
com
a
matemática
na
escola
e
a
mãe
lhe
paga
um
curso
de
reforço,
o
que
Betânia
reconhece
como
fundamental
para
melhorar
seu
desempenho
na
disciplina.
Com
uma
rotina
totalmente
dedicada
aos
estudos
ao
longo
do
ensino
básico
–
exceto
o
auxílio
na
barraca
da
mãe
aos
sábados
–,
possibilidade
que
não
está
disponível
para
grande
parte
dos
jovens
das
classes
populares
no
Brasil
(Corrochano,
2013),
ela
concluiu
o
ensino
médio
na
rede
pública
no
ano
de
2010.
Ainda
permaneceu
na
sua
cidade
natal
por
um
período
de
seis
meses
oferecendo
curso
de
reforço
para
crianças
e,
em
meados
de
2011,
surgiu
uma
oportunidade
de
trabalhar
no
mercadinho
de
uma
de
suas
tias
em
São
Paulo,
onde
passou
a
atuar
como
operadora
de
caixa
no
período
da
tarde
e
a
frequentar
o
cursinho
pré-vestibular
pela
manhã.
No
final
do
ano
de
2011,
prestou
o
ENEM
e
fez
as
inscrições
no
SISU
para
os
cursos
que
desejava
em
universidades
variadas.
Uma
delas
foi
a
Universidade
Federal
de
Uberlândia
(UFU),
na
qual
posteriormente
descobriu
que
havia
sido
aprovada,
mas
já
com
atraso,
o
que
a
fez
perder
a
vaga.
Conta
que,
nesse
dia,
chorou
muito,
mas
seguiu,
em
2012,
com
os
estudos
no
cursinho,
conciliando
com
o
trabalho.
Em
meados
desse
mesmo
ano,
foi
contemplada
com
uma
bolsa
pelo
Prouni
para
o
curso
de
Nutrição
em
uma
universidade
privada
na
cidade
de
São
Paulo.
Já
estava
certa
de
que
iria
se
matricular
até
a
sua
aprovação
na
Universidade
Federal
Rural
do
Rio
de
Janeiro,
a
UFRRJ.
Lembra
que,
no
cursinho,
ouvia
muitas
pessoas
mencionarem
que
as
universidades
federais
eram
melhores,
o
que
a
motivou
a
optar
por
se
matricular
na
UFRRJ,
em
Seropédica,
no
Rio
de
Janeiro.
No
ingresso
na
universidade,
Betânia
se
utilizou
das
cotas
socioeconômicas
e
aquelas
destinadas
a
alunos
de
escolas
públicas.
12
Betânia
pediu
demissão
do
emprego
e,
em
Paramirim,
aguardou
por
quase
seis
meses
pelo
início
das
aulas,
o
que
só
aconteceu
no
início
de
2013,
por
conta
da
greve
das
universidades
federais
naquele
período.
Como
não
conhecia
o
Rio
de
Janeiro,
sua
mãe
resolveu
acompanhá-la
na
viagem.
Após
o
trajeto
de
ônibus,
as
duas
estranharam
tudo
em
sua
chegada,
principalmente
por
não
terem
conhecidos
que
pudessem
orientá-las
na
cidade.
Chegando
na
universidade,
no
mesmo
dia,
resolveu
a
questão
da
moradia
e
se
acomodou
no
alojamento
universitário,
onde
já
tinha
adquirido
sua
vaga,
sendo
bem
acolhida
pelos
estudantes
que
ali
viviam.
Sua
mãe
permaneceu
com
ela
durante
sua
instalação,
por
cerca
de
quatro
dias,
até
que
Bete
foi
embora
de
ônibus
para
Paramirim.
Esse
foi
mais
um
momento
em
que
a
mãe
se
fez
presente
incentivando
os
estudos
de
Betânia.
Além
de
acompanhar
a
filha
ao
Rio
de
Janeiro,
também
seguia
auxiliando-a
financeiramente,
já
que
Betânia
estudava
em
período
integral
no
curso
de
graduação
em
Ciências
Biológicas.
Desse
modo,
Betânia
permaneceu
os
cinco
anos
do
curso
morando
no
alojamento
universitário,
contando
ainda
com
a
bolsa
alimentação,
que
a
permitia
realizar
as
refeições
gratuitamente
no
restaurante
universitário.
Contou
ainda,
por
pouco
mais
de
um
ano,
com
uma
bolsa
de
iniciação
científica
da
FAPERJ
(Fundação
de
Amparo
à
Pesquisa
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro),
período
em
que
não
precisou
do
auxílio
financeiro
dos
pais.
Sendo
a
pesquisa
uma
experiência
estimulante
e
com
a
qual
se
identificava
ao
longo
de
sua
graduação,
chegou
a
apresentar
seus
resultados
em
um
congresso
em
Águas
de
Lindóia-SP.
Após
concluir
a
graduação,
conta
que
pretendia
seguir
na
carreira
de
pesquisa,
mas,
como
não
passou
nos
primeiros
processos
seletivos
de
mestrado
de
que
participou,
acabou
ficando
desmotivada.
Finalizando
a
graduação
em
2016,
Betânia
voltou
para
Paramirim
por
não
encontrar
“nenhum
Norte”,
o
que
significava
não
ter
um
emprego
ou
uma
oportunidade
após
sua
formatura.
Relatou
ainda
a
realização
de
provas
de
concursos
antes
mesmo
do
retorno
para
cidade
natal,
nas
quais
não
obteve
êxito.
Desse
modo,
ficou
na
casa
de
seus
pais
estudando
por
um
período
de
seis
meses
até
que
uma
tia
que
trabalhava
como
diarista
em
São
Paulo
a
convidou
para
morar
em
sua
casa,
na
aposta
de
ter
mais
oportunidades
de
trabalho
na
“cidade
grande”.
No
ano
de
2018,
já
em
São
Paulo,
tenta
um
processo
seletivo
para
mestrado
no
qual
não
é
aprovada,
o
que
a
desanimou,
passando
então
a
distribuir
currículos
para
13
vagas
diversas,
embora
almejasse
um
trabalho
em
sua
área
de
formação.
No
ano
seguinte,
conseguiu
emprego
como
atendente
de
balcão
em
uma
farmácia
onde
segue
trabalhando
desde
então.
Nesse
período,
realizou
uma
pós-graduação
particular
em
Análises
Clínicas
e
tem
distribuído
currículos
na
expectativa
de
ser
chamada
para
trabalhar
em
sua
área.
Relata
o
cansaço
diante
a
rotina
de
trabalho
de
segunda
a
segunda,
com
apenas
uma
folga
na
semana,
e
segue
fazendo
cursos
on-line
a
fim
de
aperfeiçoar
sua
formação,
considerando
também
a
possibilidade
de
cursar
uma
segunda
graduação.
Do
“micro”
ao
“macro”:
a
trajetória
de
Betânia
se
encontra
com
a
de
outros
jovens
brasileiros
Betânia,
uma
jovem
mulher
negra,
das
camadas
populares
e
de
origem
nordestina,
é
uma
dentre
muitos
jovens
que
tiveram
acesso
à
formação
universitária
em
um
contexto
de
ampliação
e
diversificação
do
ensino
superior.
Com
esses
atributos,
representa
um
grupo
que,
por
sua
classe,
raça
e
região
era
tradicionalmente
ausente
da
universidade
(Corrochano,
2013),
e
cujo
acesso
a
esse
espaço
foi
possibilitado,
em
grande
parte,
pelas
políticas
de
expansão
do
sistema
universitário,
de
ingresso
via
ações
afirmativas
e
de
financiamento
estudantil.
Nossa
interlocutora,
ao
concluir
sua
graduação,
concretiza
o
projeto
da
mãe,
que
não
poupou
esforços
para
que
ela
não
seguisse
seus
passos
no
trabalho
doméstico.
Para
mãe
e
filha,
o
investimento
na
educação
foi
a
estratégia
mobilizada
para
obter
vantagens
que
levassem
a
maiores
rendimentos
e
prestígio
social.
O
diploma
adquirido
por
ela
representa
conhecimentos
socialmente
validados,
que
Bourdieu
(1998a)
classifica
como
capital
cultural
de
tipo
institucionalizado
8
.
Para
o
autor,
“o
rendimento
escolar
da
ação
escolar
depende
do
capital
cultural
previamente
investido
pela
família
e
[...]
o
rendimento
econômico
e
social
do
certificado
escolar
depende
do
capital
social
–
também
herdado
–
que
pode
ser
colocado
a
seu
serviço”
(Bourdieu,
1998a,
p.
74).
Nesse
sentido,
o
capital
cultural
institucionalizado
conquistado
por
Betânia,
quando
isolado,
parece
ser
um
recurso
frágil
a
ser
mobilizado
na
busca
por
melhores
rendimentos.
Percebemos
que
ela
8
Além
do
tipo
institucionalizado,
o
capital
cultural
também
pode
ser
incorporado
–
obtido
de
forma
inconsciente
e
hereditária
–
ou
objetivado
–
mais
relacionado
à
posse
de
bens
culturais
materiais
(Bourdieu,
1998a).
14
carece
de
um
capital
social
que
se
mostra
fundamental
na
busca
por
emprego.
Este
capital
refere-se
aos
recursos
relacionados
à
posse
de
uma
rede
durável
de
relações
(mais
ou
menos
institucionalizadas)
ou
de
pertencimento
a
grupos
que
propiciem
vínculos
permanentes
e
úteis,
que
podem
ser
mobilizados
em
situações
sociais
diversas
(Bourdieu,
1998b).
Como
aponta
Volker
Martins
(2016,
p.
331),
ao
analisar
a
relação
entre
o
ensino
superior
e
a
inserção
profissional,
conclui
que
“a
vaga
acessada
no
mercado
de
trabalho
é
influenciada
pela
classe
social
de
pertencimento
do
indivíduo,
a
qual
revelou
distribuições
distintas
de
capitais
econômicos,
sociais
e
culturais”.
Em
um
primeiro
momento,
Betânia
explica
seu
retorno
para
Paramirim
após
sua
formatura
por
“não
ter
nenhum
Norte”.
Quando
segue
para
São
Paulo,
despende
suas
energias
na
insistente
distribuição
de
currículos,
sem
qualquer
outro
intermédio
de
contatos
que
facilite
a
sua
inserção
no
mercado
de
trabalho.
Já
cansada,
passa
a
buscar
empregos
que
não
correspondiam
a
seu
nível
e
área
de
formação
e,
assim,
consegue
se
empregar
como
atendente
de
farmácia.
Embora
sua
mãe
tenha
se
empenhado
para
que
ela
obtivesse
sucesso
escolar,
nossas
interlocutoras
não
têm
a
seu
favor
uma
rede
de
relações
que
pudesse
orientar
a
jovem
a
se
inserir
no
mercado
de
trabalho
após
formada.
A
rede
de
relações
de
que
dispõe
em
São
Paulo
é
aquela
que
aproxima
Betânia
da
trajetória
de
sua
mãe:
a
tia
com
a
qual
ela
divide
um
apartamento
e
que
trabalha
como
diarista
e
outra
tia
que
trabalhou
como
empregada
doméstica
e
que
atualmente
possui
um
pequeno
mercado.
A
migração
efetuada
pela
geração
anterior
não
possibilitou
uma
rede
que
absorva
e
impulsione
uma
profissional
de
elevada
qualificação
como
Betânia.
Como
apontam
diversos
estudos
recentes
sobre
os
egressos
do
ensino
superior
(Silva,
2017;
Volkmer;
Oliveira,
2017;
Barros,
2019;
Moraes,
2019;
Andrade,
2020;
Silva
et
al,
2022),
guardadas
todas
as
especificidades
das
diferentes
áreas
de
formação,
o
curso
universitário
possibilita,
em
muitos
casos,
e
especialmente
entre
estudantes
que
se
beneficiaram
de
ações
afirmativas,
um
avanço
em
termos
de
escolarização
entre
gerações
–
como
no
caso
de
Betânia,
cuja
mãe
não
completou
nem
o
primeiro
fundamental
e
cuja
avó
não
teve
qualquer
tipo
de
escolarização
formal
–
e,
consequentemente,
o
potencial
de
acessar
empregos
que
não
estariam
disponíveis
sem
essa
formação.
No
entanto,
isso
não
significa
que
a
inserção
no
mercado
de
trabalho
é
fácil.
Muitos
demoram
a
obtê-la
e
grande
parte
desses
jovens
15
profissionais
passa
por
atividades
que
não
estão
relacionadas
à
formação
ou
são
pouco
qualificadas
e
precárias.
Ainda
menos
automática
e
garantida
é
a
relação
entre
formação
e
mobilidade
social
ascendente.
Embora
a
educação
siga
possuindo
um
importante
papel
na
mobilidade
social
dos
jovens,
“não
garante
essa
mobilidade
e
funciona
atrelada
a
outros
elementos
como
sexo,
raça,
origem
social
e
o
conjunto
de
capitais
disponíveis
para
mobilização
no
acesso
ao
ensino
superior
e,
posteriormente,
ao
mercado
de
trabalho”
(Volker,
2016,
p.
324).
Além
disso,
a
qualidade
da
inserção
no
mercado
de
trabalho
depende
do
contexto
histórico
e
econômico
em
que
esses
egressos
estão
inseridos
(Silva,
2017).
Analisando
as
trajetórias
de
alunos
cotistas
egressos
da
Faculdade
de
Serviço
Social
da
UERJ
(Universidade
de
Estado
do
Rio
de
Janeiro),
Barros
(2019)
concluiu
que
a
permanência
em
vínculos
precários
os
levou
a
jornadas
de
acúmulo
de
empregos,
muitas
vezes
combinando
trabalho
formal
–
inclusive
serviço
público
concursado
–
com
outros
tipos
de
prestação
de
serviços
sem
direitos
trabalhistas.
Nesse
caso,
ser
concursado
não
representou,
para
grande
parte
de
seus
interlocutores,
uma
situação
de
estabilidade,
em
função
da
baixa
remuneração
e
das
condições
de
trabalho,
o
que
produzia
um
sentimento
de
desmotivação
e
projetos
de
abandono
da
profissão
e
de
busca
de
empregos
fora
da
área
de
formação.
Nesse
sentido,
Moraes
(2019)
destaca,
em
seu
estudo
sobre
formados
no
curso
de
administração
no
Brasil,
que
os
egressos
pardos
e
as
mulheres
percebem,
em
geral,
que
as
vagas
oferecidas
a
graduados
compreendem
tarefas
inferiores
à
qualificação.
Analisa,
assim,
a
partir
de
Peugny
(2014),
que
a
questão
do
rebaixamento
do
diploma
(
déclassement
)
–
a
ocupação
de
vagas
inferiores
ao
nível
de
qualificação
–
é
um
fenômeno
global,
atingindo
especialmente
os
jovens
pertencentes
a
grupos
étnicos-raciais
minoritários
(ou
historicamente
discriminados)
e
as
mulheres.
O
ingresso
no
ensino
superior
passa
a
ser
um
projeto
amplamente
disseminado
na
geração
dos
jovens
dos
anos
2000/2010,
principalmente
para
aqueles
de
baixa
renda
(Abramo
et
al,
2020).
Grande
parte
desses
jovens
ingressa
no
ensino
superior
em
um
cenário
nacional
de
ampliação
dos
investimentos
na
educação
e
em
um
contexto
promissor
em
relação
ao
mercado
de
trabalho,
marcado
pelo
reduzido
desemprego
e
pela
expansão
do
trabalho
formal.
Ao
saírem
da
16
universidade
e
buscarem
uma
posição
no
mercado
de
trabalho,
o
cenário
no
país
já
é
outro,
caracterizado
por
uma
crise
econômica
e
política,
aumento
do
desemprego,
diversas
perdas
em
termos
de
direitos
trabalhistas
e
previdenciários
e
ampliação
da
informalidade
e
dos
contratos
flexíveis
e
precários.
Betânia
se
formou
em
2016.
De
2014
a
2018,
houve
uma
redução
no
investimento
em
educação
em
56%,
de
11,3
bilhões
para
4,9
bilhões
de
reais
9
.
Esse
contexto
é
marcado
também
pelo
aumento
do
desemprego
entre
os
jovens
brasileiros.
O
número
de
trabalhadores
com
até
24
anos
que
desistiram
de
procurar
emprego
passou
de
600
mil,
em
2014,
para
1,8
milhão
em
2018
no
Brasil.
A
situação
só
veio
a
se
agravar
ainda
mais
com
a
pandemia
de
Covid-19.
No
início
de
2021,
a
taxa
de
desemprego
juvenil
atingiu
23,8%
na
América
Latina
e
no
Caribe,
segundo
dados
da
OIT
10
.
De
forma
geral,
a
passagem
de
um
cenário
de
estabilidade
e
proteção
social
para
outro
de
maiores
incertezas,
flexibilidade
e
perda
de
direitos
marca
o
processo
de
reestruturação
capitalista
desde
os
anos
1970
e
é
retratado
por
Sennett
(2009)
também
por
meio
de
duas
gerações,
representadas
por
Enrico
e
Rico.
Enrico,
o
pai,
um
faxineiro,
viveu
em
um
contexto
de
segurança
e
direitos
garantidos,
cuja
previsibilidade
permitiu
a
construção
de
uma
narrativa
linear
de
sua
vida,
uma
história
para
si
mesmo.
Por
outro
lado,
seu
filho,
Rico,
situado
em
um
regime
flexível
de
trabalho,
alcançou
certa
mobilidade
ascendente,
embora
seja
marcante,
em
sua
trajetória,
a
instabilidade
nos
empregos.
Desse
modo,
Sennett
(2009)
analisa
como,
de
uma
geração
a
outra,
houve
mudanças
fundamentais
na
organização
e
na
cultura
do
trabalho,
com
reflexos
no
perfil
e
na
subjetividade
dos
trabalhadores.
No
mesmo
sentido,
Beaud
e
Pialoux
(2009)
analisam
como
as
mudanças
experimentadas
pela
classe
operária
no
modelo
de
produção
reestruturado
em
oficinas
de
montagem
da
Peugeot,
na
França,
levou
a
uma
busca,
por
parte
dos
pais,
de
uma
escolaridade
estendida
para
seus
filhos,
que
se
mostravam
mais
adaptáveis
e
flexíveis,
e
que
passam
a
recusar
o
ensino
profissionalizante
em
uma
fuga
do
trabalho
manual.
A
experiência
de
segurança
e
proteção
social
no
Brasil
foi
muito
mais
restrita
que
nos
contextos
mencionados
pelos
autores
citados,
sobretudo
para
as
classes
10
Disponível
em:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,desalento-triplica-entre-os-mais-jovens,70002773749
Acesso
em
24
de
abril
de
2021.
9
Disponível
em:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/05/02/em-4-anos-brasil-reduz-investimento-em-educacao-e
m-56.htm.
Acesso
em
29
de
janeiro
de
2023.
17
populares.
Em
nossa
posição
de
capitalismo
periférico,
estruturalmente
marcado
pelo
trabalho
flexível,
informal
e
desprotegido,
a
instabilidade
já
estava
presente
na
geração
da
mãe
de
Betânia,
Bete
11
.
Além
disso,
a
despeito
de
um
período
que
pode
ser
considerado
excepcional
na
história
de
nosso
país
nos
primeiros
anos
do
século,
com
a
melhoria
dos
índices
de
desigualdade
e
emprego,
nossa
história
revela
que
entramos,
desde
os
anos
1990,
nas
engrenagens
do
processo
de
reestruturação
capitalista
e
práticas
neoliberais,
ampliação
da
flexibilização
dos
contratos
e
desregulamentação
do
trabalho,
dimensões
que
voltaram
a
se
acirrar
nos
anos
mais
recentes.
Os
jovens
que
estão
adentrando
o
mercado
de
trabalho
no
momento
atual,
sendo
majoritários
no
desemprego
e
subemprego,
compõem
a
maior
parcela
do
chamado
“precariado”.
Ainda
que
o
conceito
de
“precariado”
não
se
restrinja
à
juventude,
possibilita
pensarmos
uma
nova
realidade
de
classe
em
articulação
com
idade/geração
(Ferreira,
2018).
Para
Standing
(2014),
o
precariado
é
um
produto
da
globalização
e
da
proposta
neoliberal,
caracterizado
pela
falta
de
garantias
de
acesso
a
emprego,
rendimentos
incertos,
trabalho
instável,
contratos
flexíveis,
poucas
chances
de
ascensão
profissional
e
de
identificação
com
a
atividade
realizada,
além
da
ausência
de
proteção
social.
No
caso
da
realidade
brasileira,
o
conceito
também
precisa
ser
relativizado
a
partir
da
inserção
sócio-ocupacional
do
proletariado
precarizado
e
de
nossa
trajetória
histórica
e
social
(Braga,
2013).
Chama
a
atenção
o
fato
de
que,
embora
haja
diferenças
em
termos
de
qualificação,
os
jovens
são
em
geral,
na
geração
atual,
mais
escolarizados
e
dispõem
de
mais
acesso
à
informação
–
via
ferramentas
tecnológicas
e
digitais,
inclusive
–
que
as
gerações
anteriores,
mas
têm
menos
perspectivas
de
acessar
um
emprego
compatível
com
sua
qualificação
e,
muitas
vezes,
obtêm
menores
rendimentos
comparando-se
aos
pais
(Braga,
2015).
Cardoso
(2008)
aponta
que
um
homem
de
25
anos
com
ao
menos
onze
anos
de
escolaridade,
em
1970,
estaria
nas
classes
médias
ou
superiores
urbanas.
Em
contrapartida,
seu
filho
de
25
anos,
em
2000,
com
a
mesma
escolaridade,
tinha
grandes
chances
de
figurar
entre
as
frações
mais
subalternizadas
da
classe
trabalhadora
e
estar
desempregado.
Assim,
transitar
da
escola/universidade
para
as
melhores
posições
no
mercado
de
trabalho
deixou
11
As
trabalhadoras
domésticas
(caso
de
Bete)
só
vieram
a
ter
seus
direitos
assegurados
no
Brasil
no
ano
de
2015,
quando
a
lei
complementar
nº
150
aplicou
a
Emenda
Constitucional
72/2013,
amplamente
conhecida
como
“PEC
das
domésticas”.
18
de
ser
uma
operação
automática.
No
entanto,
é
importante
destacar
que
parte
importante
dos
jovens,
embora,
em
muitos
casos
insatisfeitos,
questionam
a
via
do
emprego
estável
e
protegido,
em
nome
do
ideal
de
autonomia
e
liberdade
(Standing,
2014).
Essa
postura
assumida
em
muitas
situações,
no
entanto,
não
é,
em
absoluto,
incompreensível.
Em
pesquisa
realizada
junto
a
jovens
entregadores
(delivery)
por
meio
de
aplicativos,
foi
possível
perceber
que
muitos
dos
interlocutores
aderem
à
atividade
e
atribuem
sentidos
positivos
a
ela,
mesmo
considerando
toda
a
situação
de
desproteção
e
riscos
a
que
estão
expostos.
Isso
se
explica,
em
parte,
pelo
fato
de
que
as
alternativas
de
trabalho
que
se
apresentam
para
eles
e
que
experimentaram
em
suas
trajetórias
não
são
mais
gratificantes
e
promissoras.
Esses
jovens
menos
escolarizados
–
com
ensino
médio
completo,
em
geral
–
associam
o
emprego
formal
a
baixos
salários
e
forte
subordinação.
As
atividades
formais
ou
informais
que
exerceram,
foram,
em
sua
maioria,
manuais/rotinizadas,
com
baixas
remunerações
e
marcadas
pela
sobrecarga
de
trabalho,
falta
de
liberdade,
descumprimento
de
acordos,
humilhações,
falta
de
perspectivas
de
crescimento
e
de
realização
pessoal.
Nesse
sentido,
valorizam
a
liberdade
do
trabalho
“na
rua”,
a
flexibilidade
de
horários
e
melhores
remunerações
que
podem
obter.
Também
são
minoritários
aqueles,
entre
eles,
que
enxergam
o
diploma
universitário
como
possibilidade
de
ascensão
social,
sendo
seus
projetos
muito
pautados
pela
saída
individual
e
pelo
empreendedorismo
(Pires;
Perin,
2023).
Com
o
crescente
favorecimento
dos
atributos
mais
pessoais
e
subjetivos
no
trabalho,
o
valor
do
diploma
e
da
qualificação
formal
passa
a
ser
relativizado
(Boltanski;
Chiapello,
2009;
Sennet,
2006).
Em
um
contexto
anterior,
marcado
pela
proposta
da
integração
social
através
do
emprego
formal
–
ou
de
uma
promessa
nessa
direção,
como
no
caso
brasileiro
(Santos,
1979)
–
havia
uma
confiança
na
relação
direta
entre
a
escolarização
e
o
acesso
a
posições
melhores
e
mais
estáveis
no
mundo
do
trabalho.
Contudo,
“o
período
neoliberal
do
capitalismo
tende
a
mudar
o
vínculo
entre
o
diploma
e
valor
pessoal
reconhecido
socialmente,
tornando-o
mais
frouxo
e
impreciso”,
promovendo
uma
“decomposição
do
vínculo
entre
diploma
e
emprego”
(Laval,
2019,
p.
42),
uma
vez
que
a
capacidade
de
adaptar-se
às
mudanças
e
de
obter
novos
aprendizados
ganha
centralidade
diante
dos
saberes
adquiridos.
No
entanto,
os
imperativos
de
criatividade,
adaptabilidade,
inovação,
19
autonomia
e
habilidades
relacionais,
que
caracterizam
uma
representação
hegemônica
e
idealizada
de
juventude,
as
quais
são
cada
vez
mais
valorizadas
no
mundo
do
trabalho,
não
são
atributos
acessíveis
a
todas
as
juventudes
(Motta,
Pires,
2024).
Betânia,
embora
tenha
dado
um
passo
fundamental
ao
obter
o
diploma
universitário,
encontra
barreiras
estruturais
importantes
para
sua
entrada
e
permanência
no
mercado
de
trabalho,
especialmente
em
uma
posição
condizente
à
sua
formação.
Ao
não
obter
êxito
em
sua
busca,
é
lembrada
constantemente,
dentro
de
um
quadro
de
referências
neoliberais,
de
que
é
a
única
responsável
por
seu
fracasso,
que
deve
ser
“empreendedora
de
si”
e
que
“uma
virada”
nessa
condição
depende
apenas
de
seu
esforço
individual
(Dardot;
Laval,
2016).
Silva
(2017),
ao
realizar
uma
pesquisa
junto
a
egressos
do
Prouni
que
cursaram
Direito
e
Administração,
menciona
as
dificuldades
enfrentadas
por
eles
para
a
inserção
profissional,
ressaltando
o
quanto
atribuem
a
si
a
responsabilidade
por
sua
situação
no
mercado
de
trabalho
e
destacando
seus
discursos
pautados
na
“disposição”,
“autossuperação”
e
na
crença
no
“trabalho
duro”,
além
da
culpabilização
por,
talvez,
não
“terem
feito
o
suficiente”.
Ainda
é
possível
pontuar,
nesse
sentido,
que
Betânia
e
outras
jovens
que
tiveram
suas
trajetórias
analisadas
na
pesquisa
apresentavam
um
estilo
de
vida
mais
pautado
na
individualidade,
uma
narrativa
mais
voltada
para
projetos
individuais,
comparada
a
de
suas
mães.
Também
evidenciaram
que
a
busca
por
mobilidade
social
representou
importantes
mudanças
subjetivas,
nas
formas
de
se
expressar
e
se
comportar,
também
a
partir
da
identificação
com
os
modos
de
vida
no
contexto
das
grandes
cidades.
Isso
marca
uma
diferença
em
relação
às
trajetórias
da
geração
anterior,
marcadas
pelo
projeto
coletivo
de
garantir
a
melhoria
de
vida
de
seus
familiares.
Assim,
é
possível
observar
mudanças
no
comportamento
entre
gerações
que
resultam,
sobretudo,
das
oportunidades
a
que
tiveram
acesso
para
conquistar
uma
melhoria
de
vida
.
Considerações
finais
Como
Jéssica,
a
personagem
do
filme
Que
horas
ela
volta?
que
mencionamos
no
início
do
texto,
estaria
hoje?
Se
fosse
roteirizada
uma
continuação
20
do
longa-metragem,
provavelmente
encontraríamos
a
jovem
coprotagonista
da
história
tendo
concluído
o
ensino
superior,
mas,
talvez,
estivesse
enfrentando
inúmeras
dificuldades
para
afirmar-se
profissionalmente
como
arquiteta
e
enfrentando
uma
combinação
de
trabalhos
precários,
mal
remunerados
e
em
setores
diversos.
A
coprotagonista
rompe
com
a
cadeia
que
empurra
sucessivas
gerações
de
mulheres
das
classes
populares
para
o
trabalho
doméstico,
atinge
uma
escolaridade
muito
superior
à
de
sua
mãe,
mas,
possivelmente,
estaria
enfrentando
dificuldades
para
se
inserir
em
uma
atividade
de
maior
prestígio
social
e,
principalmente,
que
oferecesse
condições
dignas
e
satisfatórias
de
trabalho.
Este
poderia
ser
o
seu
enredo.
Ao
acompanhar
as
trajetórias
de
Bete
e
Betânia,
percebemos
que
mudanças
importantes
ocorreram,
ao
longo
dos
anos,
nas
vidas
dessa
família
e
na
história
recente
do
país.
Duas
mulheres
negras
e
nordestinas.
A
mãe,
com
poucos
estudos
e
no
trabalho
doméstico
desde
a
infância,
faz
a
migração
clássica
de
trabalho
para
São
Paulo
e
segue
por
toda
uma
vida,
entre
idas
e
vindas,
no
serviço
doméstico.
A
filha
também
migra,
mas
apenas
após
a
conclusão
do
ensino
médio
e
com
perspectivas
de
seguir
nos
estudos,
o
que
acontece
graças
a
um
contexto
de
expansão
do
ensino
superior
e
que
nos
pareceria
favorável
a
um
caminho
promissor
rumo
a
um
cenário
de
menores
desigualdades
e
de
melhores
oportunidades,
especialmente
para
as
classes
populares.
O
Brasil
sempre
foi
um
país
marcado
por
grandes
disparidades
sociais
e
pela
fragilidade
da
proteção
social
para
a
maior
parte
de
sua
população.
Nos
anos
1990,
passamos
a
vivenciar
com
mais
intensidade
as
consequências
do
processo
de
reestruturação
capitalista
e
do
aprofundamento
da
lógica
neoliberal.
No
entanto,
desde
o
início
dos
anos
2000
até
meados
da
década
de
2010,
a
agenda
neodesenvolvimentista
(Leite;
Salas,
2014)
dos
governos
petistas,
em
meio
a
um
cenário
político
mais
favorável
na
América
Latina
como
um
todo,
marca
um
período
de
inflexão,
com
a
melhora
de
diversos
índices
econômicos,
sociais,
e,
em
particular,
avanços
no
campo
do
trabalho
e
da
educação.
É
neste
contexto
de
otimismo
que
muitos
jovens
acessam
o
ensino
superior.
Contudo,
esse
período
de
inflexão
não
representou
uma
reversão
completa
de
processos
mais
amplos
(neoliberais)
em
curso.
Com
a
crise
econômica
e
política,
sobretudo
a
partir
de
2013,
os
ventos
mudam
de
direção,
em
articulação
com
21
mudanças
também
no
cenário
internacional,
e
a
paisagem
passa
a
ser
dominada
por
atores
que
defendem
a
adoção,
de
forma
mais
taxativa
que
nunca,
de
medidas
neoliberais.
Há
cortes
expressivos
nos
investimentos
em
educação,
são
aprovadas
reformas
nos
âmbitos
trabalhista
e
previdenciário
que
retiram
direitos
dos
trabalhadores
e
legitimam
formas
flexíveis
de
contratação,
além
do
fato
de
que
toda
uma
agenda
de
políticas
públicas
voltadas
à
juventude
é
abandonada.
Como
demonstram
diversos
estudos
sobre
inserção
profissional
de
egressos
do
ensino
superior,
jovens
qualificados
têm
encontrado
muitas
dificuldades
para
ingressarem
no
mercado
de
trabalho,
sobretudo
em
postos
que
ofereçam
algum
nível
de
segurança
e
estabilidade
e
que
sejam
compatíveis
com
o
tipo
e
o
nível
de
qualificação
adquirida.
O
valor
do
diploma
é
questionado
e
os
atributos
incentivados
no
mercado
de
trabalho
colocam
foco
na
dimensão
subjetiva
e
individual.
Nesse
sentido,
buscamos
evidenciar
que
o
olhar
qualitativo
aprofundado
propiciado
pela
análise
de
trajetórias
contribui
para
a
identificação
de
nuances
importantes
das
dinâmicas
“macro”
que
estão
em
curso,
observando
de
que
formas
elas,
de
fato,
impactam
na
vida
e
no
cotidiano
de
pessoas
“de
carne
e
osso”,
considerando
aspectos
que
passam
por
condições
de
classe,
idade/geração,
gênero,
raça,
origem.
Por
fim,
é
importante
salientar
que
as
credenciais
educacionais
obtidas
por
Betânia
representam
um
avanço
importante
em
relação
às
gerações
que
a
antecederam.
O
acesso
a
oportunidades
educacionais
possibilitou
que
a
jovem,
assim
como
as
demais
entrevistadas
na
pesquisa,
não
herdasse
o
destino
do
trabalho
doméstico
de
sua
mãe,
o
que
é
motivo
de
grande
satisfação
para
essas
famílias
e
possui
grande
relevância
em
termos
práticos
e
simbólicos
quando
olhamos
para
essas
duas
gerações.
No
entanto,
os
obstáculos
enfrentados
pelas
filhas
para
converterem
os
estudos
em
bons
empregos
e
mobilidade
social
ascendente
evidenciam
que
há
forças
operantes
que
desafiam
o
potencial
da
qualificação
formal
para
a
transformação
social
e
a
redução
das
desigualdades.
Além
disso,
são
muitos
os
desafios
enfrentados
pelos
jovens,
sobretudo
das
classes
populares,
para
uma
inserção
digna
e
satisfatória
no
mundo
do
trabalho.
Há
muitas
pautas
que
precisam
ser
retomadas
para
que
possa
haver
mudanças
significativas
nesse
campo,
como
a
agenda
de
políticas
públicas
voltadas
à
juventude,
medidas
de
incentivo
à
inserção
–
qualificada
–
dos
jovens
no
mercado
de
trabalho,
a
ampliação
dos
investimentos
no
ensino
superior,
além
de
medidas
22
que
pudessem
reverter
retrocessos
promovidos
pela
Reforma
Trabalhista
e
pela
implementação
do
Novo
Ensino
Médio.
São
entraves
que,
no
cenário
atual,
parecem
difíceis
de
serem
transpostos,
mas
cujas
soluções
devem
permanecer
no
horizonte
político
e
embalando
os
projetos
dos
jovens
estudantes
e
trabalhadores
no
Brasil.
Referências
ABRAMO,
H.
W.
VENTURI,
G.
CORROCHANO,
M.
C.
Estudar
e
trabalhar:
um
olhar
qualitativo
sobre
uma
complexa
combinação
nas
trajetórias
juvenis.
Novos
Estudos
CEBRAP
,
São
Paulo,
v.
39,
n.
3,
p.
523-542,
2020.
ANDRADE,
A.
G.
M.
Inserção
profissional
e
mobilidade
social
dos
egressos
dos
cursos
de
Pedagogia
no
Brasil
.
2020.
212f.
Dissertação
(Mestrado
em
Administração)
–
UFRGS,
Porto
Alegre,
2020.
BARROS,
C.
F.
R.
Universidade
e
mercado
de
trabalho:
a
trajetória
social
dos
alunos
cotistas
egressos
da
Faculdade
de
Serviço
Social
da
Uerj.
Em
Pauta
,
Rio
de
Janeiro,
v.
17,
n.
43,
p.
172-186,
2019.
BARROS,
R.
CARVALHO,
M.
FRANCO,
S.
MENDONÇA,
R.
Determinantes
da
Queda
na
Desigualdade
de
Renda
no
Brasil.
IPEA
.
Texto
para
discussão
nº
1460,
2010.
BEAUD,
S.;
PIALOUX,
M.
Retorno
à
condição
operária
:
investigação
em
fábricas
da
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Boitempo,
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Métodos
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Pesquisa
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su
validez
metodológica,
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Boitempo,
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DURHAM,
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as
diferenças
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escalas.
Campos
-
Revista
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Antropologia
,
v.
12,
n.
1,
p.
9-29,
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LAVAL,
C.
A
escola
não
é
uma
empresa
:
o
neoliberalismo
em
ataque
ao
ensino
público.
São
Paulo:
Boitempo,
2019.
LEÃO,
L.
S.
Trabalho
Doméstico
e
Migração
:
um
estudo
de
trajetórias
femininas
nos
deslocamentos
entre
o
sertão
da
Bahia
e
São
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2018.
78f.
Monografia
(Graduação
em
Ciências
Sociais)
–
UFRR,
Seropédica.
LEÃO,
L.
S.
Trabalhadoras
domésticas
e
suas
filhas
:
um
estudo
sobre
as
percepções
de
mobilidade
social
em
duas
gerações.
2023.
198f.
Dissertação
(Mestrado
em
Sociologia)
–
UFSCAR,
São
Carlos.
LEITE,
M.
P.;
SALAS,
C.
Trabalho
e
desigualdades
sob
um
novo
modelo
de
desenvolvimento.
Tempo
Social
,
São
Paulo,
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26,
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LEITE
LOPES,
J.
S;
CIOCCARI,
M.
Narrativas
da
Desigualdade
:
memórias,
trajetórias
e
conflitos.
Rio
de
Janeiro:
Mauad
X,
2013.
24
MORAES,
J.
P.
Inserção
profissional
e
mobilidade
social
dos
egressos
dos
cursos
de
administração
no
Brasil
.
2019.
217f.
Dissertação
(Mestrado
em
Administração)
–
UFRGS,
Porto
Alegre.
MOTTA,
L.
D.;
PIRES,
A.
S.
Experiências
juvenis
de
millennials
e
jovens
vulneráveis:
o
discurso
do
protagonismo
juvenil
e
seus
efeitos
desiguais.
Sociologias
(UFRGS)
,
Porto
Alegre,
v.
26,
2024
(no
prelo).
NERI,
M.
A
Nova
Classe
Média
.
Rio
de
Janeiro:
CPS,
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PICANÇO,
F.
Juventude
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acesso
ao
ensino
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no
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Latin
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Research
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,
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PIRES,
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PERIN,
J.
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Juventude
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PEUGNY,
C.
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vem
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Desigualdades
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SP:
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2014.
PORFÍRIO,
T.
A
cor
das
empregadas
:
a
invisibilidade
racial
no
debate
do
trabalho
doméstico
remunerado.
Belo
Horizonte:
Letramento;
Temporada,
2021.
RIBEIRO,
C.
A.
R.
Quatro
décadas
de
mobilidade
social
no
Brasil.
Dados
,
Rio
de
Janeiro,
v.
55,
n.
3,
p.
641-679,
2012.
SANTOS,
W.
G.
Cidadania
e
justiça
:
a
política
social
na
ordem
brasileira.
Rio
de
Janeiro:
Campus,
1979.
SARTI,
C.
A.
A
família
como
espelho
:
um
estudo
sobre
a
moral
dos
pobres.
São
Paulo:
Cortez,
2005.
SENNETT,
R.
A
cultura
do
novo
capitalismo
.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2006.
SENNETT,
R.
A
corrosão
do
caráter
:
consequências
pessoais
do
trabalho
no
novo
capitalismo.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2009.
SILVA,
C.
S.
Depois
do
acesso
:
a
inserção
profissional
de
jovens
egressos
do
Prouni.
Dissertação
(Mestrado
em
Administração)
–
Universidade
Federal
do
Rio
Grande
do
Sul,
Porto
Alegre,
2017.
SILVA,
T.
A.
A.
As
políticas
públicas
de
juventude
no
Brasil
pós-golpe
de
2016:
o
cenário
de
ataque
aos
direitos
sociais.
Política
&
Trabalho
,
João
Pessoa,
n.
54,
p.
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2021.
SILVA,
L.
F.
O.
A.;
FERREIRA,
A.;
TEODORO,
P.;
SILVA,
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V.
Ações
afirmativas
na
educação
superior
e
mobilidade
social:
Um
estudo
de
campo.
Actualidades
Investigativas
em
Educación
,
San
Pedro,
v.
22,
n.
2,
p.
1-29,
2022.
25
STANDING,
G.
O
precariado
:
a
nova
classe
perigosa.
Belo
Horizonte:
Autêntica,
2014.
TOMMASI,
L.;
CORROCHANO,
M.
C.
Do
qualificar
ao
empreender:
políticas
de
trabalho
para
jovens
no
Brasil.
Estudos
Avançados
,
São
Paulo,
v.
34,
n.
99,
p.
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VELHO,
G.
Biografia,
trajetória
e
mediação.
In
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VELHO,
G;
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Mediação,
cultura
e
política
.
Rio
de
janeiro:
Aeroplano,
2001.
p.
14-28.
VOLKER
MARTINS,
B.
Expansão
e
diversificação
do
ensino
superior
no
Brasil
:
a
mobilidade
social
e
a
inserção
profissional
dos
jovens
estudantes
e
egressos
de
cursos
superiores
tecnológicos
na
região
metropolitana
de
Porto
Alegre-RS.
2016.
436f.
Tese
(Doutorado
em
Administração)
–
UFRGS,
Porto
Alegre.
VOLKER
MARTINS,
B;
ROCHA-DE-OLIVEIRA,
S.
Expansão
e
diversificação
do
ensino
superior,
impactos
no
mercado
de
trabalho
e
inserção
profissional
no
Brasil:
reflexões
iniciais
e
proposta
de
agenda
de
pesquisa.
Desenvolve:
Revista
de
gestão
do
Unilasalle,
Canoas,
v.
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WOORTMANN,
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Migração,
família
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Revista
Brasileira
de
Estudos
de
População
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v.
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26