V.22, 49 - 2024 (setembro-dezembro) ISSN: 1808-799 X Memória e Documentos JUVENTUDE E DITADURA MILITAR NO ARQUIVO DE MEMÓRIA OPERÁRIA DO RIO DE JANEIRO (AMORJ) 1 Rodrigo de Vasconcellos M. Guedes Batista 2 Resumo O passado é um campo em disputa. Em vista disso, destacamos a dimensão política de arquivos e centros de documentação histórica por abrigar a memória daqueles que não se conciliaram com o poder e com o discurso hegemônico. Não é diferente com o Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro, um núcleo de pesquisa e documentação cujo acervo possui mais de 80 coleções sobre sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos. Seguindo o recorte proposto neste texto, destacamos as coleções e os documentos relacionados às temáticas “juventude” e “ditadura militar” combinadas. As lutas do presente e as esperanças no futuro não podem prescindir dessas memórias. Palavras-chave: Memória; Arquivo; Centro de documentação; Classe trabalhadora; Política. JUVENTUD Y DICTADURA MILITAR EN EL ARQUIVO DE MEMÓRIA OPERÁRIA DO RIO DE JANEIRO (AMORJ) Resumen El pasado es un campo en disputa. En vista de esto, resaltamos la dimensión política de los archivos y centros de documentación histórica que albergan a la memoria de quienes no se han reconciliado con el poder y el discurso hegemónico. No es diferente con el Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro , un centro de investigación y documentación cuyo acervo cuenta con más de 80 fondos sobre sindicatos, movimientos sociales y partidos políticos. Siguiendo el enfoque propuesto en este texto, destacamos colecciones y documentos relacionados con los temas “juventud” y “dictadura militar” combinados. Las luchas del presente y las esperanzas del futuro no pueden prescindir de estos recuerdos. Palabras clave : Memoria; Archivo; Centro de documentación; Clase trabajadora; Política. YOUTH AND MILITARY DICTATORSHIP IN THE ARQUIVO DE MEMÓRIA OPERÁRIA DO RIO DE JANEIRO (AMORJ) Abstract The past is a field in dispute. In view of this, we highlight the political dimension of archives and centers of historical documentation that both house the memory of those who have not been reconciled with power and hegemonic discourse. It is no different with the Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro , a research and documentation center whose collection contains more than 80 funds on unions, social movements and political parties. Following the proposed approach in this text, we highlight collections and documents related to the themes “youth” and “military dictatorship” combined. The struggles of the present and the hopes of the future cannot do without these memories. Keywords : Memory; Archive; Documentation center; Working class; Politics. 2 Mestre em Letras (Ciência da Literatura) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Brasil. Técnico em Assuntos Educacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: rodrigoguedes@ifcs.ufrj.br . Lattes: http://lattes.cnpq.br/7322198295993263 . ORCID: https://orcid.org/0009-0005-6729-6832 . 1 Artigo recebido em 05/07/2024. Aprovada pelos editores em 31/10/2024. Publicado em 05/12/2024. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.63563 . 1
Um enorme passado pela frente A repercussão do falecimento de Maria da Conceição Tavares foi grande. Nos últimos anos, as plataformas sociais alavancaram a imagem da economista para fora do circuito acadêmico cerrado. Sua eloquência grave tem sido prato cheio para as formas de “conteúdo” digital. Cortes e memes com montagens visuais e sonoras fizeram dela uma mescla oldschool pop um tanto extravagante. Mas o fundamental é o seu lugar de destaque nos cenários intelectual e político da vida pública nacional. Tavares dedicou a maior parte dos seus 94 anos para entender e intervir neste “continente enlouquecido que é o Brasil” 3 . Chegando aqui em 1954 4 e pelas décadas seguintes, leu e debateu muito daquilo que havia disponível no campo do pensamento social brasileiro: Caio Prado Jr, Florestan Fernandes, Celso Furtado, Sérgio Buarque e Gilberto Freyre. Estes e outros, cuja leitura fez-se indispensável. No entanto, recomenda-se cautela. “Tudo isso é preciso e nada disso é suficiente para decifrar esta esfinge” 5 . Com tanto potencial de emancipação, como o Brasil poderia insistir no “atraso”? Considerando a provocação da economista brasileira, admitiremos momentaneamente a impossibilidade de decifrar o Brasil “somente” pelos clássicos da ciência contemporânea, para em seguida cometermos uma heresia intelectual: nossa verdade tropical repousa num aforismo, a saber “o Brasil tem um enorme passado pela frente”. Recorreremos ao humor sagaz de Millôr Fernandes para evitar a voracidade da esfinge. Na contramão daquilo que se convencionou chamar de desenvolvimentismo, com prioritária ênfase no progresso e no futuro, voltemos nossas atenções ao “enorme passado” que nos constitui. Tiremos a lição de O anjo da história (2012) 6 , de Walter Benjamin 7 . Nosso encontro não é com a promessa de futuro. Nosso encontro é com o passado, fazendo com que os oprimidos de hoje rememorem os vencidos de ontem. Não se trata de retorno nostálgico ou impulso romântico. Sabemos que tanto História quanto 7 Walter Benjamin (1892-1940), crítico literário e filósofo alemão. 6 Inspirado no quadro Angeus Novus , de Paul Klee. “O anjo estaria de costas para o futuro por estar olhando para o passado e para os vencidos e derrotados pelo progresso da história”. Ver <https://aterraeredonda.com.br/o-anjo-da-historia/>. 5 Tavares, ibid. 4 Veio de Portugal para o Brasil fugindo da ditadura salazarista do Estado Novo (1933-1974). 3 Em entrevista concedida em 1997 à revista Praga, Tavares sentenciou: “não é possível entender apenas pela razão este país”. Blog BVPS, ver <https://blogbvps.com/2024/06/09/maria-da-conceicao-tavares-1930-2024/>. 2
Memória são campos em disputa, sendo fundamental tomar partido, sobretudo em momentos de crise do capitalismo, dos quais emergem os revisionismos de extrema direita e a barbárie fascista. Lembremos o impeachment de Dilma Roussef 8 , em 2016, quando um deputado, em voto favorável ao impedimento da presidenta, reivindicou a “memória do coronel Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Roussef”. Dois anos mais tarde, com o funcionamento normal das instituições, Jair Bolsonaro seria eleito presidente da república. O torturador Ustra foi frequentemente alçado por Bolsonaro à condição de herói nacional, sem maiores embaraços. Em 08 de janeiro de 2023, com apoio de setores das Forças Armadas, por muito pouco um golpe de Estado não foi consumado. Como sugere o curso das investigações, seguindo o noticiário jornalístico, o próprio Bolsonaro seria o centro de gravidade do golpe. Na juventude, Dilma Rousseff participou da resistência à ditadura militar. Em 1970, foi presa e torturada. Tinha 22 anos. Atuou na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares). Estudou economia na UFMG antes de seguir para a clandestinidade. “O Brasil é a prova mais cabal de que quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra. E ela está assombrando o Brasil como em nenhum outro país da América Latina” 9 , disse Vladimir Safatle 10 em entrevista à agência Pública. Sabemos da impossibilidade de retroagir no tempo para mudar o passado, mas os sentidos do passado são alvos de disputa. Em vista disso, destacamos a dimensão política de arquivos e centros de documentação histórica, por abrigar a memória daqueles que não se conciliaram com o poder e com o discurso dos vencedores. Um simples documento, em sua pequena escala, permite o “salto de tigre” no passado para investir em experiências de luta e de resistência. Na ausência de um horizonte nítido de superação para os impasses do capitalismo, esses acervos contêm fagulhas incendiárias que ajudam a destravar a imaginação política. Não é diferente com o Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro (AMORJ), criado em 1987, período de grande expectativa em torno do protagonismo 10 Vladimir Pinheiro Safatle, filósofo e professor da USP. 9 Entrevista concedida por Vladimir Safatle à agência Pública de jornalismo investigativo, em 2018. Ver <https://apublica.org/2018/10/quando-voce-nao-acerta-suas-contas-com-a-historia-a-historia-te-asso mbra/>. 8 Foi reeleita presidenta em 2014, superando o candidato Aécio Neves no segundo turno. 3
da classe trabalhadora. Entre fins da década de 1970 e ao longo dos anos 80, trabalhadoras e trabalhadores da cidade e do campo estavam conscientes da necessidade de ampliar o poder de negociação por melhores condições de vida ou, até mesmo, de transformação efetiva da realidade social pela via do socialismo. Não foram poucos os avanços: o movimento de abertura política e anistia; as greves e o novo sindicalismo; a fundação do PT, da CUT e do MST; o movimento pelas Diretas Já!; e mais adiante os debates na Assembleia Constituinte e as eleições presidenciais. O surgimento do AMORJ foi precedido por um grupo de pesquisadores empenhados nos estudos sobre a classe operária do Rio de Janeiro, formado por professores e alunos de Ciências Sociais da UFRJ, com sede no Largo S. Francisco de Paula. As pesquisas de campo possibilitaram maior aproximação com determinados segmentos do operariado carioca e, gradativamente, esse núcleo de pesquisa passou a ser reconhecido como um centro de documentação com ênfase nos trabalhadores e no mundo do trabalho, adquirindo coleções principalmente por instrumento de doação. Temos de fato um passado que não é pequeno pela frente. Seu tamanho é proporcional à dívida social com os trabalhadores precarizados, com os desempregados, com os assassinados pelas violências rural e urbana, com os sem-teto e os sem-terra, com os que morrem por falta de assistência médica básica, enfim, com a tragédia da vida cotidiana. O AMORJ nos faz olhar a cara feia da realidade sem consolo. Ao mesmo tempo, permite ao pesquisador testemunhar a trajetória de tantas companheiras e companheiros que “desafinaram o coro dos contentes” 11 , contagiados pelo sentimento de solidariedade e movidos pelo interesse coletivo. As esperanças e utopias no futuro não podem prescindir dessas memórias. Sob a coordenação de Elina Pessanha 12 , o AMORJ mantém uma rotina de debates e seminários em parceria com sindicatos, movimentos sociais e outros centros universitários. O AMORJ possui hoje um acervo bastante amplo, somando mais de 80 coleções, alargando em muito as ambições iniciais da geração pioneira de 1987. O AMORJ é um centro de documentação aberto ao público em geral. Sejam bem-vindos. 12 Elina Gonçalves da Fonte Pessanha, antropóloga e professora da UFRJ. Coordena o Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro (AMORJ). 11 Let's Play That , composição de Jards Macalé e Torquato Neto. “Vai bicho desafinar / o coro dos contentes”. 4
Movimento estudantil: um brevíssimo panorama Em 31 de março de 1964, a União Nacional dos Estudantes (UNE) inaugurava seu teatro no subsolo do prédio localizado na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. No novíssimo palco, com cheiro da madeira viva pelo trabalho recente da carpintaria, foi encenada A mais-valia vai acabar, seu Edgard , de Vianinha 13 , pelo Centro Popular de Cultura (CPC). Ou talvez fosse Os Azeredo mais os Benevides , do mesmo Vianinha. Uma ou outra, provavelmente, a confiar naquilo que a memória de Paulo Arantes 14 foi capaz de reter. Em depoimento ao canal Tutaméia 15 , Arantes contou aos jornalistas Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena “o que viu do golpe”. Falou do sentimento comum entre os estudantes reunidos no teatro da UNE, naquela terça-feira, quando souberam do deslocamento da guarnição do general Olímpio Mourão Filho, vinda de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. Havia um clima de tranquilidade. A coluna de Mourão não punha medo algum, armados e treinados precariamente, como um exército de Brancaleone, lembrou Arantes. O desdém daqueles estudantes não foi desarrazoado, nem fruto de desinformação. Eles acreditavam na eficácia do dispositivo militar, sob o comando do general Assis Brasil, para enquadrar o golpismo aparentemente tresloucado de Mourão. Não contavam, no entanto, com a capitulação do presidente João Goulart, que optou pelo exílio no Uruguai em vez de liderar uma resistência. Naquela noite do dia 31 de março, depois da apresentação teatral, Paulo voltou para a república estudantil em Laranjeiras na companhia dos colegas da Juventude Universitária Católica (JUC) sem desconfiar da tormenta pesada que logo viria. O golpe de 64 marcou uma inflexão decisiva nos rumos do país. Abriu caminho para um tipo novo de desenvolvimento capaz de conciliar concentração de riqueza com crescimento econômico, dinamizado pelo consumo de bens duráveis. 15 Serviço jornalístico criado por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, ambos com atuação na imprensa sindical e de resistência à ditadura militar, desde a década de 1970. Trabalharam ainda na chamada “grande imprensa”. O Tutaméia faz transmissões ao vivo de entrevistas com intelectuais, políticos, artistas e esportistas dos Brasil e do mundo. Sobre o episódio com Arantes, ver <https://www.youtube.com/live/Nru_nXlfhMI?si=h0nTPEsLg-qciX_9>. 14 Paulo Eduardo Arantes, filósofo e professor da USP. 13 Oduvaldo Vianna Filho, dramaturgo e compositor. Foi um dos principais nomes do Teatro Arena. Contra o “imperialismo cultural”, fundou o Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE e o Grupo Opinião. No movimento estudantil atuou na União da Juventude Comunista (UJC) e na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Ver <https://www.coletivovianinha.org/oduvaldo-vianna-filho> e <https://dicionariompb.com.br/artista/oduvaldo-vianna-filho/>. 5
Esse novo capítulo da modernização conservadora brasileira aparece originalmente em Além da estagnação (1972), texto de Maria da Conceição Tavares e José Serra. Enquanto frações da burguesia acumulavam riqueza e a classe média sonhava com automóveis e eletrodomésticos, arrocho salarial e carestia para a ampla maioria dos trabalhadores. Em duas décadas, o país tornou-se mais injusto e desigual, mantido por um aparelho de Estado violento e autoritário. E quanto à juventude? Em Memórias estudantis (2007), Maria Paula Araújo 16 situa-nos sobre a importância dos estudantes no contexto da resistência. Na sequência do golpe, os alvos imediatos dos aparelhos de repressão foram os trabalhadores de esquerda, os sindicatos urbanos e rurais. Estudantes, intelectuais e artistas dispuseram de comparativa liberdade até a promulgação do Ato Institucional n.5 (AI5). Tanto assim que uma das primeiras manifestações públicas de flagrante oposição ao golpe militar veio do grupo Opinião, ligado ao CPC da UNE, cuja estreia deu-se em dezembro de 1964. Foi escrito por Vianinha, Paulo Pontes e Armando Costa. No elenco, Keti, João do Vale e Nara Leão, com direção de Augusto Boal. Entre 1966 e 1968 houve significativo incremento das manifestações de rua, com passeatas e ocupação de praças pela juventude. A reação policial foi escalonando em violência até culminar com a morte do estudante secundarista Edson Luís, assassinado por policiais militares dentro do restaurante Calabouço, em março de 1968. No Rio de Janeiro, a cidade parou no dia do enterro. Para expressar seu protesto, os cinemas da Cinelândia amanheceram anunciando três filmes: “A noite dos Generais”, “À queima roupa” e “Coração de luto”. Com faixas, cartazes e palavras de ordem, a população protestava. Edson Luís foi enterrado ao som do hino nacional brasileiro, cantado pela multidão. Na manhã de 4 de abril, foi realizada a missa de sétimo dia de Edson Luís na Igreja da Candelária. Ao término da cerimônia religiosa, as pessoas que deixavam a igreja foram cercadas e atacadas pela cavalaria da polícia militar a golpes de sabre. Dezenas de pessoas ficaram feridas. 17 O aumento da violência policial e das perseguições produziu um refluxo nas manifestações públicas, direcionando parte da juventude para a luta armada. Este capítulo marcou decisivamente a memória do movimento estudantil, a exemplo das homenagens prestadas pelo DCE Fernando Santa Cruz da UFF e pelo DCE Mario 17 Sobre Edson Luís, ver <https://memoriasdaditadura.org.br/personagens/edson-luiz-lima-souto/>. 16 Maria Paula Nascimento Araujo, historiadora e professora da UFRJ. Coordena o Núcleo de História Oral e Memória do Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ. 6
Prata da UFRJ. 18 Fernando Santa Cruz, 26 anos, estudante universitário e funcionário público, atuou pela Ação Popular (AP). Em 1974, Santa Cruz “foi preso e morto por agentes do Estado brasileiro e permanece desaparecido” 19 . Mario de Souza Prata, 25 anos, estudante universitário, atuou pelo MR8. Em 1971, Prata “morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro” 20 . Somente a partir de 1974, com o início do processo de abertura política, que os estudantes retornaram às ruas, integrando-se ao conjunto de reivindicações em curso naquele momento 21 , principalmente pela anistia de exilados e presos políticos. Vale ressaltar, no entanto, que muitos estudantes e professores não retornaram às universidades, mesmo depois da lei da anistia de 1979. A retomada dos movimentos sociais de esquerda foi especialmente importante para a reintegração de intelectuais, pesquisadores e professores nas universidades, como destacou Andréa Cristina Queiroz 22 no artigo As memórias em disputa sobre a ditadura civil-militar na UFRJ (2021). Juventude e resistência no AMORJ Não é por acaso que a maior parte da documentação encontrada no AMORJ sobre movimento estudantil dá-se a partir da década de 1970 e, substancialmente, dos anos 80. Coincide com o processo de abertura política e reorganização da juventude em torno das entidades estudantis. Consequentemente, maior volume de documentos produzidos. É possível ver nos diferentes suportes periódicos, boletins informativos, 22 Andréa Cristina de Barros Queiroz é historiadora da UFRJ e diretora da Divisão de Memória Institucional do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI/UFRJ). 21 Esta é uma característica dos movimentos estudantis: seguir a reboque das lutas mais gerais. Por isso eles mudam constantemente, seguindo as conjunturas nacional e internacional. Hoje, esses movimentos são marcados por coletivos identitários de raça, de gênero e de orientação sexual. Entrevista de Maria Paula Araújo concedida ao Laboratório de Imagem, Memória, Arte e Metrópole (IMAM) da UFRJ. Ver <https://imam.historia.ufrj.br/?p=823>. 20 Sobre Mario de Souza Prata, ver <https://memoriasdaditadura.org.br/personagens/mario-de-souza-prata>. 19 Sobre Fernando Santa Cruz, ver <https://memoriasdaditadura.org.br/personagens/fernando-augusto-santa-cruz-oliveira/>. 18 Muitos outros nomes e episódios poderiam ser citados. Apenas na UFRJ, durante o governo do general Médici, 24 estudantes e 2 professores da UFRJ foram mortos ou estão desaparecidos. Cumpre destacar os trabalhos da Comissão de Memória e Verdade (CMV) da UFRJ, criada em 2013. Com efeito, a UFRJ revogou o título de Doutor Honoris Causa concedido ao Médici em 1972. A participação da CMV-UFRJ neste caso foi fundamental. Ver <https://memoria.sibi.ufrj.br/index.php/12-noticias-da-ufrj/31-ufrj-revoga-titulo-de-doutor-honoris-causa -de-emilio-medici>. 7
panfletos, cartazes, documentos datilografados, mimeografados, ou fotocopiados o espírito inquieto e antinômico da juventude. É verdade que cada segmento estudantil possui uma índole política diferente, repercutindo de certa forma as complexidades da dinâmica partidária. Apesar das novas configurações da realidade social, a pergunta de Rosa Luxemburgo (2019) é nossa contemporânea e ainda provoca dissenso: reforma ou revolução? Malgrado o método e as estratégias de ação, duas pulsões unem os jovens em luta: o modo imperativo e o sentido de urgência. Para o recorte a que nos propusemos, destacamos as coleções e os documentos relacionados às temáticas “juventude” e “ditadura militar” combinadas. Indicamos então as seguintes coleções: Movimento Estudantil; Partido Comunista Brasileiro; Cartazes; Movimento Revolucionário 8 de Outubro; Organizações de Esquerda; Coletivo Gregorio Bezerra; Hamilton Garcia; Tibor Sulik; e Fundo PCB. Com exceção da Coleção Movimento Estudantil, em todas as outras “juventude” e/ou “movimento estudantil” são assuntos transversais. Sem demora, vamos a elas. Coleção Movimento Estudantil (1970 2019) 23 Doada ao Arquivo por Bárbara Ramacciolli, que militou no movimento estudantil e foi pesquisadora do Núcleo de Memória do Movimento Estudantil na UFRJ. À coleção originalmente doada por Ramacciolli foram acrescentados novos documento ao longo dos anos. Contém documentos sobre: UNE; tendências do movimento estudantil; movimento secundarista; movimento estudantil na UFRJ; e movimentos estudantis em outras universidades. Coleção Cartazes (1979-2019) Cartazes provenientes das coleções existentes no Arquivo ou doados individualmente por militantes de diferentes organizações políticas. Destaque para as séries sobre movimento estudantil e juventude na igreja católica. Coleção Movimento Revolucionário 8 de Outubro (1977-1994) Documentação sobre o MR8 reunida por Marcelo Ayres Camurça de Lima em pesquisa para o doutorado, sendo posteriormente doada ao AMORJ. Camurça defendeu a tese “Os melhores filho do povo. Um estudo do ritual e do simbólico numa organização comunista: o caso do MR8”, em 1994, pelo Museu Nacional da UFRJ. 23 Datas-limite dos documentos contidos nas coleções. 8
Coleção Organizações de Esquerda (1962-1972) Produzida por Eduardo Navarro Stotz e posteriormente doada ao AMORJ. Stotz foi militante politico e atualmente é pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz. Contem documentos de organizações dissidentes do PCB, depois que o Partido optou pela política de “coexistência pacífica” no período da ditadura militar. Foram acrescidos novos documentos à Coleção. C oleção Coletivo Gregorio Bezerra (1966 1992) Produzida e doada por Luiz Elias Sanches, membro da direção municipal do Coletivo Gregorio Bezerra. O Coletivo foi organizado em consequência da luta interna no PCB depois da anistia e do retorno da Direção Nacional, exilada em outros países. Parte da documentação trata da atuação do CGB em diferentes movimentos sociais, incluindo o movimento estudantil. Coleção Hamilton Garcia (1968 1992) Doada por Hamilton Garcia e produzida por Hamilton Garcia, Henrique Gracia, Sergio Rui Barbosa, Flavio Elder e Eduardo Szcheinbum, militantes do PCB. Contém dossiê sobre movimento estudantil e juventude, reunindo material produzido pela UNE, UEE, UBES e pelo PCB/RJ. Coleção Tibor Sulik (1964 1994) Produzida e doada por Tibor Sulik. Foi metalúrgico e presidente nacional da Juventude Operaria Católica (JOC). Contém dossiê dos trabalhos realizados por Sulik na JOC. Fundo Partido Comunista Brasileiro (1956 1992) Produzida pelo PCB e doada ao AMORJ pelo Partido Popular Socialista (PPS). Contém séries sobre juventude comunista e movimento estudantil. Coleção Periódicos (1902 2019) Jornais e revistas doadas por entidades sindicais, partidos políticos e movimentos sociais. Na Coleção Periódicos não existe série ou dossiê sobre juventude ou movimento estudantil. Os jornais e as revistas estão organizados por ordem alfabética e não por assunto ou conjunto temático. Existe, no entanto, 9
publicações estudantis de diferentes coletivos e entidades dispersas na coleção. “Quando se pensa que uma coisa acabou, ela volta”, disse Maria da Conceição Tavares em entrevista citada. Fiquemos de olhos bem abertos. Não é por falta de arquivo. Exposição de documentos 33o Congresso da UNE “quando um muro separa, uma ponte une”, canção de Paulo César Pinheiro. Araruama, 1981 Coleção Movimento Estudantil 36o Congresso da UNE UNE declarou apoio ao candidato Tancredo Neves na eleição indireta para presidente. Congresso organizado no Maracanãzinho,Rio de Janeiro, 1984. Coleção Cartazes 10
Travessia O inverno foi deles a primavera será nossa! Informativo da chapa Travessia. Eleições na UEB e no DCE, UFBA. Salvador, 1983 Coleção Movimento Estudantil Mãos à obra Reconstruindo o DCE Cartaz do DCE Mario Prata, UFRJ. Rio de Janeiro, 1978 Coleção Cartazes 11
Mãos à obra Reconstruindo o DCE Cartaz do DCE Mario Prata, UFRJ (arte do Ziraldo). Rio de Janeiro, 1978 Coleção Cartazes Enterro simbólico do GOLPE DE 64 Panfleto do CACO, UFRJ. Rio de Janeiro, 1987. Coleção Movimento Estudantil 12
Jornal do DAHJ/UFF Lições da greve: os operários existem. Niterói, 1978, Fundo PCB DCE Fernando Santa Cruz Informativo de boas-vindas aos calouros. Mapa dos campi da UFF. Niterói, 1981 Coleção Cartazes 13
Abaixo o terror fascista! Convocação do DCE/UFF para a missa de 7o dia pelo assassinato de Lyda Monteiro, secretária da OAB. Niterói, 1980. Fundo PCB 14
Frente Periódico da juventude do PCB. Santos, 1981 Coleção PCB Alicerce Periódico da AJS. São Paulo, 1983 Coleção Periódicos 15
ALN Panfleto sobre a ALN, escrito por Iuri Xavier Pereira, estudante e militante político. Iuri morreu em 1972, “a partir de ações perpetradas por agentes do Estado brasileiro, em um contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidos pela Ditadura Militar implantada no país a partir de abril de 1964”. S/l, 1972 Coleção Organizações de Esquerda Referências ARAÚJO, M. P. Memórias Estudantis, 1937-2007: da fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007. BENJAMIN, W. O anjo da história. São Paulo: Autêntica, 2012. LOWY, M. Walter Benjamin: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de História”. São Paulo: Boitempo, 2005. LUXEMBURGO, R. Reforma ou revolução? São Paulo: Expressão Popular, 2019. QUEIROZ, A. C. As memórias em disputa sobre a ditadura civil-militar na UFRJ: lugares de memória, sujeitos e comemorações. Tempo 27, 2021. TAVARES, M. C. e SERRA, J. Além da estagnação. In: Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. 16