V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
DIGITALIZAÇÃO,
PRECARIEDADE
E
(DES)INTEGRAÇÃO
NO
MERCADO
DE
TRABALHO.
TRAJETÓRIAS
DE
JOVENS
NEET
RURAIS
EM
PORTUGAL
1
Isabel
Roque
2
Ana
Sofia
Ribeiro
3
João
Carlos
Sousa
4
Resumo
Embora
a
relação
com
o
mercado
de
trabalho
seja
central
para
as
experiências
juvenis,
a
precariedade
e
vulnerabilidade
estendem-se
para
além
do
mesmo.
Num
contexto
de
policrise
e
incertezas
quanto
ao
futuro,
este
artigo
centra-se
nas
trajetórias
de
vida
dos
jovens
NEET.
Entre
outubro
de
2022
e
janeiro
de
2024,
realizaram-se
focus
group
e
entrevistas
aprofundadas
com
stakeholders
de
centros
de
emprego
e
formação
de
jovens
NEET
em
Portugal
para
analisar
as
suas
aspirações,
condições
de
vida
e
estratégias
de
mitigação
das
dificuldades
através
de
programas
de
inclusão
no
mercado
de
trabalho.
Palavras-chave
:
Jovens
NEET;Portugal;
Precariedade.
Serviços
Públicos
de
Emprego;
Trajetórias.
DIGITALIZACIÓN,
PRECARIEDAD
Y
(DES)INTEGRACIÓN
EN
EL
MERCADO
LABORAL
DE
LOS
JÓVENES
NINIS
EN
PORTUGAL.
Resumen
Aunque
la
relación
con
el
mercado
laboral
es
central
para
enmarcar
las
experiencias
de
los
jóvenes,
la
precariedad
y
la
vulnerabilidad
van
más
allá.
En
un
contexto
de
policrisis
e
incertidumbre
sobre
el
futuro,
este
artículo
se
centra
en
las
trayectorias
vitales
de
los
jóvenes
ninis.
Entre
octubre
de
2022
y
enero
de
2024,
se
celebraron
grupos
de
discusión
y
entrevistas
en
profundidad
con
partes
interesadas
de
centros
de
empleo
y
formación
y
jóvenes
ninis
en
Portugal
para
analizar
sus
aspiraciones,
condiciones
de
vida
y
estrategias
para
mitigar
las
dificultades
a
través
de
programas
de
inclusión
en
el
mercado
laboral.
Palabras
clave:
Jóvenes
ninis;
Portugal;
Precariedad.
Servicios
Públicos
de
Empleo;
Trayectorias.
DIGITALIZATION,
PRECARIOUSNESS
AND
(DIS)INTEGRATION
IN
THE
LABOR
MARKET.
TRAJECTORIES
OF
RURAL
NEETS
IN
PORTUGAL
Abstract
Although
the
relationship
with
the
labour
market
is
central
in
framing
youth
experiences,
precariousness
and
vulnerability
extend
beyond
it.
In
a
context
of
polycrisIs
and
uncertainty
about
the
future,
this
article
focuses
on
the
life
trajectories
of
young
NEETs.
Between
October
2022
and
January
2024,
focus
groups
and
in-depth
interviews
were
held
with
stakeholders
from
employment
and
training
centres
and
young
NEETs
in
Portugal
to
analyze
their
aspirations,
living
conditions
and
strategies
for
mitigating
difficulties
through
market
inclusion
programs
of
work.
Keyword:
Young
NEET;
Portugal;
Precariousness.
Public
Employment
Services;
Trajectories
.
4
Doutor
em
Ciências
da
Comunicação
pelo
Iscte-Insituto
Universitário
de
Lisboa.
É
bolseiro
de
investigação
no
ICS-ULisboa.
E-mail:
joao.carlos.sousa@iscte-iul.pt
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-7374-0152
.
3
Doutora
em
Educação
pela
Universidade
de
Bielefeld,
Alemanha.
Investigadora
auxiliar
no
Instituto
de
Ciências
Sociais
da
Universidade
de
Lisboa
(ICS-UL).
E-mail:
sofia.ribeiro@ics.ulisboa.pt
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-6648-611X
.
2
Doutoranda
em
Sociologia
–
Relações
de
Trabalho,
Desigualdades,
Sociais
e
Sindicalismo
da
Universidade
de
Coimbra,
Portugal.
Investigadora
do
Centro
de
Estudos
Sociais,
Universidade
de
Coimbra.
E-mail:
isabelmbroque@gmail.com
e
isabelroque@ces.uc.pt
.
Lattes:
https://lattes.cnpq.br/5458101187974080
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8581-5177
.
1
Artigo
recebido
em
16/07/2024.
Primeira
Avaliação
em
11/09/2024.
Segunda
Avaliação
em
07/09/2024.
Terceira
Avaliação
em
13/10/2024.
Aprovado
em
27/11/2024.
Publicado
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.63728
.
1
Introdução
Em
2023,
cerca
de
11,2%
dos
jovens
na
União
Europeia,
com
idades
compreendidas
entre
os
15
e
os
29
anos,
encontravam-se
numa
situação
NEET
(jovens
nem-nem),
ou
seja,
sem
trabalhar,
estudar
ou
frequentar
qualquer
tipo
de
formação
(Eurostat,
2023).
Embora
o
número
de
jovens
NEET
em
Portugal,
com
idades
compreendidas
entre
os
15
e
os
29
anos,
tenha
diminuído
nos
últimos
anos,
ainda
são
necessárias
medidas
para
reduzi-lo.
As
informações
acerca
destes
jovens
resultam,
sobretudo,
de
dados
estatísticos
(Eurofound,
2012;
Silva,
2015),
ocultando
as
suas
trajetórias
de
vida,
experiências
no
mercado
de
trabalho
e
formação.
A
condição
NEET
afeta
não
apenas
aqueles
que
se
encontram
numa
situação
mais
vulnerável
e
marginal,
mas
também
aqueles
que
possuem
uma
forte
bagagem
educacional,
cultural,
social
e
monetária
superior,
e
que,
aparentemente,
apresentam
um
menor
risco
para
a
marginalização
(Eurofound,
2012,
2016;
Simões
et
al.,
2020b).
Portugal
apresenta
um
quadro
empresarial
pouco
mobilizador
em
termos
de
conhecimentos
tecnológicos
avançados
(Guerreiro,
1996),
assim
como
uma
ineficácia
na
inserção
dos
jovens
com
maiores
recursos
escolares
no
mercado
de
trabalho
(Pais,
2001).
No
entanto,
existe
uma
estreita
relação
entre
o
nível
de
qualificações
escolares,
a
condição
perante
o
trabalho
e
a
profissão,
em
que
os
jovens
que
saem
precocemente
do
sistema
escolar
encontram-se,
geralmente,
em
condições
sociais
desfavorecidas.
Existe
um
desfasamento
entre
as
aspirações
e
planos
concretos
em
termos
de
emprego
que
se
encontram
associados
a
riscos
mais
elevados
em
termos
de
depressão
e
exclusão
social.
A
opção
pela
inserção
prematura
no
mercado
de
trabalho,
com
baixas
qualificações
escolares,
coloca
o
jovem
numa
situação
de
empregabilidade
precária
(Guerreiro
e
Abrantes,
2004,
p.
74).
Esta
situação
,
resulta
da
impossibilidade
de
emancipação,
sobretudo
em
termos
de
habitação
e
constituição
de
uma
família.
Trata-se
de
um
grupo
bastante
complexo
e
afetado
pela
precariedade,
vulnerabilidade,
desocupação
e
risco
de
exclusão
social,
particularmente
por
conta
dos
fatores
de
risco
associados
com
rótulos
sociais
estigmatizantes
e
segregadores
e
que
se
agravam
com
o
género,
raça,
etnia,
incapacidade
física
e/ou
mental
e
imigração
(Eurofound,
2012,
2020).
2
Existem
vários
estudos
em
Portugal
sobre
o
conceito
de
jovem
NEET
que
referem
que
a
maior
percentagem
destes
se
encontra
nas
zonas
rurais
(Simões
et
al.,
2020b),
revelando
desigualdades
territoriais
no
acesso
a
oportunidades
de
emprego
e
educação,
sobretudo
para
aqueles
que
não
possuem
experiência
profissional
ou
qualificação
adequadas.
O
relatório
da
OCDE
(2020)
salientou
que
as
regiões
rurais
enfrentam
fortes
tendências
de
despovoamento,
reduzindo
as
economias
de
escala
necessárias
para
a
prestação
de
serviços
de
qualidade
de
uma
forma
viável.
Para
a
Comissão
Europeia
(2020a),
é
necessário
mapear
os
recursos
disponíveis
e
as
competências
necessárias
para
fornecer
serviços
sociais
e
quebrar
barreiras
à
participação
dos
NEET
rurais
(OCDE,
2010;
Korv
et
al.,
2022).
Barbosa
e
Pimentel
(2022)
analisaram
as
características
e
trajetórias
de
vida
dos
jovens
NEET
na
zona
geográfica
norte
de
Portugal.
Ao
nível
da
União
Europeia,
a
faixa
etária
NEET
foi
inicialmente
definida
pelo
Comité
de
Emprego
da
Comissão
Europeia
como
compreendendo
os
15
e
24
anos,
e
integrando
os
indicadores
da
estratégia
Europa
2020.
No
entanto,
atualmente
o
indicador
NEET
compreende
a
faixa
etária
entre
os
15
e
os
34
anos,
o
que
significa
que
não
existe
um
padrão
globalmente
aceite
nesta
matéria
(Eurostat,
2020;
Simões
et
al.,
2022).
Esta
ampla
faixa
etária
experiência
a
fragmentação
das
trajetórias
da
escola
para
o
trabalho,
que
se
tornaram
múltiplas,
longas
e
erráticas,
especialmente
entre
os
NEET,
combinando
decisões
educacionais
e
profissionais
(Walther,
2006;
Arnett
et
al.,
2011;
Simões
et
al,
2022).
A
nível
europeu,
foram
elaborados
artigos
sobre
a
orgânica,
desenvolvimento,
objetivos
e
desafios
de
implementação
do
Quadro
do
Garantia
Jovem
(Andor,
2016;
Escudero
e
Moruelo,
2015;
Comissão
Europeia,
2013,
2018,
2020;
Ferreira
et
al.,
2021;
Pantea
e
Polocnik,
2019;
Tosun
et
al.,
2021).
No
entanto,
em
Portugal
verifica-se
uma
escassez
de
literatura
acerca
das
percepções
e
experiências
vivenciadas
pelos
jovens
NEET
no
mercado
de
trabalho
e
a
afetação
da
implementação
de
programas
de
inserção.
Neste
contexto,
este
artigo
irá
preencher
essa
lacuna
e
centrar-se
nas
trajetórias
ocupacionais
dos
jovens
NEET
em
Portugal,
com
idades
entre
os
15
e
35
anos,
que
não
se
encontram
a
trabalhar,
estudar
ou
a
frequentar
qualquer
tipo
de
formação
(Eurofound,
2021).
Pretende-se
analisar
o
impacto
da
precariedade
nos
percursos
ocupacionais
dos
jovens
NEET
e
as
suas
percepções
sobre
as
instituições
de
emprego,
as
suas
condições
de
vida,
3
motivações
e
estratégias
para
a
entrada
no
mercado
de
trabalho,
estratégias
para
mitigar
as
dificuldades
através
da
frequência
de
programas
de
inclusão
no
mercado
de
trabalho.
A
análise
dos
percursos
escolares
e
profissionais
pretende
aprofundar
e
sistematizar
o
conhecimento
acerca
dos
jovens
NEET,
nacionais
e
imigrantes,
residentes
em
meios
rurais
em
Portugal.
Embora
a
relação
com
o
mundo
do
trabalho
seja
considerada
central
no
enquadramento
das
experiências
juvenis,
a
precariedade
e
vulnerabilidade
estendem-se
para
além
da
instabilidade
contratual,
abarcando
outras
esferas
do
quotidiano
(Carmo
e
Matias,
2019).
Como
tal,
pretende-se
dar
voz
não
apenas
aos
técnicos
dos
Serviços
Públicos
de
Emprego
(SPE),
mas,
sobretudo
aos
jovens
NEET
rurais
que
frequentaram
estes
programas.
Incluindo
a
introdução,
o
artigo
divide-se
em
sete
seções:
a
segunda
detalha
a
metodologia;
a
terceira
apresenta
o
cenário
de
precarização
do
mercado
de
trabalho
em
Portugal;
a
quarta
retrata
a
Garantia
Jovem;
a
quinta
detalha
os
programas
Jovem
+
Digital
e
NeetMaker;
a
sexta
descreve
as
percepções
e
experiências
dos
jovens
NEET;
e
a
sétima
apresenta
a
discussão
e
conclusões.
5
Metodologia
Entre
outubro
de
2022
e
janeiro
de
2024,
optou-se
por
uma
metodologia
qualitativa
que
consistiu
numa
revisão
bibliográfica,
entrevistas
semi-diretivas
com
vários
stakeholders
de
instituições,
como
ONG’s
e
técnicos
de
serviços
de
formação
e
de
emprego
em
Portugal
ONG’s,
vinte
entrevistas
aprofundadas
com
jovens
NEET,
e
dois
focus
group
para
obtenção
de
informações
mais
esclarecedoras
sobre
o
universo
NEET.
Para
tal,
foram
enviados
mais
de
quinhentos
emails,
com
o
apoio
do
escritório
do
Instituto
do
Emprego
e
Formação
Profissional
(IEFP)
de
Faro
e
do
mentor
do
Fablab
HIESE
-
Habitat
de
Inovação
Empresarial
nos
Sectores
Estratégico
que
também
participou
numa
sessão
de
focus
group
.
Foram
igualmente
estabelecidos
contactos
através
dos
centros
de
emprego
e
grupos
de
redes
sociais
associados
a
estes
programas.
As
entrevistas
foram
realizadas
presencialmente,
mas
também
recorrendo
a
meios
telefónicos
e
digitais,
como
o
Zoom,
seguindo
um
5
Este
artigo
foi
elaborado
no
âmbito
do
Projeto
Internacional
Track-In,
Public
employment
services
tracking
effectiveness
in
supporting
rural
NEET
(
RF-YOUTH-0031
).
Este
projeto
teve
o
apoio
do
Iceland,
Liechtenstein,
and
Norway
através
da
EEA
e
Norway
Grants
Fund
for
Youth
Employment.
4
roteiro
semiestruturado
de
35
questões.
Os
jovens
tinham
idades
compreendidas
entre
os
23
e
os
35
anos,
eram
residentes
em
Portugal
Continental
e
ilhas,
e,
na
sua
maioria,
tinham
concluído
uma
licenciatura
e
frequentado
o
Programa
Jovem
+
Digital
ou
o
Programa
NeetMaker.
Realizaram-se
dois
focus
group
,
em
abril
e
maio
de
2023
para
averiguar
quem
são
realmente
estes
jovens,
ou
seja,
para
analisar
o
seu
perfil
a
partir
do
relato
na
primeira
pessoa
acerca
da
vivência
das
dificuldades
e
expectativas
perante
o
mercado
de
trabalho.
As
sessões
de
focus
group
foram
realizadas
via
Zoom
e
contaram
com
a
participação
de
cerca
de
10
pessoas
na
primeira
sessão
e
seis
pessoas
na
segunda,
duas
investigadoras
e
um
técnico
de
formação.
Em
termos
de
análise
qualitativa
recorreu-se
ao
software
MaxQda
para
codificação
e
apresentação
dos
dados.
Durante
as
visitas
ao
Centro
de
Emprego
do
Algarve
procedeu-se
ao
registro
fotográfico,
quando
permitido,
observação
presencial
não
participante,
para
conhecer
o
funcionamento
destas
instituições,
e
conversas
informais.
A
precariedade
dos
jovens
NEET
do
mercado
de
trabalho
Portugal
tem
vindo
a
enfrentar
desafios
e
oportunidades
no
mercado
de
trabalho,
moldados
por
mudanças
tecnológicas
e
sociais,
sobretudo
através
dos
processos
de
digitalização
e
automação,
desenvolvimento
da
inteligência
artificial,
compreendendo
uma
nova
realidade
em
diversos
setores.
O
ritmo
acelerado
da
(r)evolução
tecnológica
obrigou
os
trabalhadores
a
atualizarem
as
suas
competências
para
permanecerem
atrativos
no
mercado
de
trabalho
global,
sobretudo
nas
áreas
da
indústria,
construção,
energia
e
água,
e,
maioritariamente,
serviços
6
.
Segundo
a
Organização
Internacional
do
Trabalho
(2008)
7
,
o
conceito
de
trabalho
digno
resume
as
aspirações
de
homens
e
mulheres
no
domínio
profissional,
abrangendo
oportunidades
para
realização
de
um
trabalho
produtivo
com
uma
remuneração
justa,
segurança
no
local
de
trabalho,
proteção
social,
perspetivas
de
desenvolvimento
pessoal
e
integração
social,
em
condições
de
liberdade,
equidade
e
dignidade.
A
escolha
de
uma
profissão
é
uma
etapa
importante
na
transição
da
7
Disponível
em:
https://www.ilo.org/pt-pt/resource/trabalho-digno
.
Acesso
em
10
de
julho
de
2024.
6
Disponível
em:
https://eures.europa.eu/living-and-working/labour-market-information/labour-market-information-portug
al_pt.
Acesso
em
10
de
julho
de
2024.
5
escola
para
o
trabalho,
e
uma
decisão
importante
na
vida
de
um
indivíduo.
No
entanto,
os
mercados
de
trabalho
europeus
oferecem
contratos
inseguros,
temporários,
a
tempo
parcial
ou
casuais,
conduzindo
a
trajetórias
de
vida
intermitentes,
informais
e
vulneráveis
(Carmo
et
al.,
2021).
Cada
vez
mais
os
jovens
transitam
entre
empregos
no
mercado
de
trabalho,
sendo
marcados
pela
intermitência
que
implica
a
pura
e
simples
alternância
de
trabalho
e
não
trabalho,
implicando
uma
maior
dificuldade
na
integração
no
mercado
de
trabalho
desigual.
A
maioria
dos
trabalhadores
que
aceitam
estas
formas
atípicas
de
emprego,
geralmente
associadas
a
baixos
salários,
são
frequentemente
relativamente
jovens.
Em
alguns
casos,
este
poderá
ser
o
seu
primeiro
emprego,
uma
vez
que
procuram
passar
da
educação
ou
formação
para
o
mercado
de
trabalho
(Carmo
e
Matias,
2019;
OCDE,
2016).
Para
estes
jovens,
o
impacto
da
precariedade
na
vida
pessoal
e
social
poderá
vir
a
tornar-se
num
modo
de
vida
(Alves
et
al,
2011).
A
forma
como
as
economias
negam
aos
jovens
o
acesso
à
segurança
e
à
qualidade
do
emprego,
à
estabilidade
emocional
e
ao
sentimento
de
pertença
a
uma
comunidade
de
identidade
baseada
no
trabalho,
compreende
novas
formas
de
opressão
e
sofrimento
que
levam
à
precariedade
(Kalleberg,
2009;
Sennett,
2011).
A
incerteza
quanto
ao
futuro
gera
sentimentos
de
desintegração
em
relação
ao
que
se
esperava
deles
no
mercado
de
trabalho,
promovendo
sentimentos
de
insegurança
sobre
si
próprios
e
sobre
as
suas
capacidades
e
esgotamento
emocional
e
físico
(Camo
e
Matias,
2019).
Neste
sentido,
serão
necessárias
políticas
ativas
e
específicas
para
garantir
o
acesso
a
todos.
A
longo
prazo,
poderão
existir
riscos
quer
para
o
indivíduo,
quer
para
a
sociedade,
se
os
jovens
adultos
se
encontrarem
desligados
da
educação
e
do
mercado
de
trabalho
(Eurostat,
2023).
No
entanto,
aqueles
que
se
encontram
empregados
regressam
à
educação
ou
à
formação
para
melhoria
das
suas
qualificações.
O
Fórum
Económico
Mundial
identificou
a
melhoria
de
competências
e
a
requalificação
como
dois
dos
principais
instrumentos
para
redução
do
risco
de
desemprego.
A
entrevista
realizada
com
a
Diretora
Executiva
do
Plano
Nacional
de
Implementação
do
Programa
de
Garantia
Jovem,
em
outubro
de
2022,
revelou
que
a
definição
de
Jovens
NEET
não
se
refere
apenas
aos
jovens
vulneráveis
em
contextos
pobres,
ou
com
trajetórias
de
vida
complicadas,
como
mães
adolescentes
que
tiveram
filhos
na
adolescência
e
que
não
conseguem
encontrar
emprego.
O
6
indicador
NEET
constitui
uma
ferramenta
essencial
para
uma
melhor
compreensão
da
extensão
da
vulnerabilidade
multifacetada
da
juventude
em
termos
da
sua
participação
no
mercado
de
trabalho
e
risco
de
exclusão
social.
Os
jovens
com
baixas
qualificações,
profundamente
marcados
por
situações
de
exclusão
social
e
vulnerabilidade
económica
e
de
abandono
precoce
do
sistema
educativo,
podem
cair
na
condição
NEET.
Existem
jovens
qualificados
e
não
qualificados,
com
circunstâncias
financeiras
favoráveis
que
não
sugerem
uma
situação
NEET,
mas
que,
na
verdade,
não
estudam,
não
trabalham
ou
não
estão
em
formação.
Em
suma,
podem
existir
NEET
temporários
e
regulares.
Segundo
a
Diretora
Executiva
do
Plano
Nacional
de
Implementação
do
Programa
de
Garantia
Jovem:
Temos
os
NEET
temporários
que,
dependendo
do
ciclo
econômico,
são
em
maior
número,
mas
cujo
número
diminui
rapidamente
e
depois
estabiliza
e,
por
isso,
chamamos-lhes
NEET
temporários,
e
os
jovens
mais
vulneráveis
tendem
a
ser
NEET
permanentes,
condicionando
toda
a
sua
trajetória.
De
acordo
com
os
SPE,
as
tipologias
de
jovens
que
fazem
parte
do
grupo
heterogéneo
NEET
incluem
os
desempregados
de
curta
duração
(jovens
que
procuram
emprego
até
um
ano);
os
desempregados
de
longa
duração
(jovens
que
procuram
emprego
há
mais
de
um
ano);
aqueles
que
voltaram
a
ser
NEET
(jovens
que
esperam
regressar
a
uma
situação
de
emprego,
educação
ou
formação);
inativos
por
doença
ou
invalidez;
inativos
por
responsabilidades
familiares
(por
exemplo,
cuidadores
de
familiares
idosos
ou
doentes
e
mães
jovens);
trabalhadores
desencorajados;
outras
pessoas
inativas.
Além
disso,
a
pandemia
da
COVID-19
teve
um
forte
impacto
nos
jovens.
Durante
a
pandemia
de
Covid-19,
assistiu-se
a
uma
aceleração
do
processo
de
digitalização
que
afetou
o
setor
dos
serviços,
sobretudo
os
SPE.
Tornou-se
necessário
assegurar
a
rápida
implementação
de
respostas
de
políticas
públicas
adequadas
à
formação
profissional,
promovendo
a
empregabilidade
e
ativos
de
formação
em
áreas
estratégicas,
como
as
competências
digitais.
A
taxa
de
desemprego
tem
vindo
a
aumentar
em
todas
as
faixas
etárias,
afetando,
particularmente
grupos
vulneráveis,
como
os
jovens
de
minorias
raciais
e
étnicas,
as
pessoas
com
deficiência,
que
vivem
em
zonas
rurais,
remotas
ou
urbanas
desfavorecidas,
e
as
mulheres
e
os
refugiados,
que
enfrentam
barreiras
7
adicionais
no
acesso
o
mercado
de
trabalho.
Em
2022,
a
taxa
de
desemprego
dos
jovens
NEET
em
Portugal
era
de
9,9%
para
os
jovens
entre
os
20
e
os
24
anos
e
de
12%
para
os
jovens
entre
os
25
e
29
anos.
Esta
diferença
de
género
resulta
principalmente
das
estruturas
familiares,
da
criação
dos
filhos,
do
cuidado
dos
familiares
e
de
outras
questões
étnicas.
A
elevada
taxa
de
desemprego
jovem
em
Portugal
conduziu
à
elaboração
de
iniciativas
políticas
e
apoios
financeiros
direcionados
para
o
tecido
empresarial,
com
o
intuito
de
criar
e
fomentar
a
criação
de
postos
de
trabalho.
Perante
este
cenário,
muitos
jovens
adotam
estratégias
de
resposta
imediata
às
necessidades
quotidianas;
envolvendo-se
em
ações
de
autovalorizarão
profissional
e
pessoal
(Smithson
et
al.,
1998).
Em
2018,
o
Plano
Nacional
de
Implementação
de
uma
Garantia
Jovem
procurou
desenhar
uma
estratégia
de
intervenção
através
da
colaboração
entre
várias
entidades
no
campo
do
emprego,
da
educação
e
da
formação
(Vieira
et
al.,
2018).
No
entanto,
verificaram-se
alguns
entraves
no
alcance
dos
seus
objetivos,
visto
que
uma
grande
parte
dos
jovens
não
se
encontra
nas
bases
de
dados
das
instituições,
tornando-se
extremamente
difícil
captá-los
e
recrutá-los.
Os
jovens
NEET
compreendem
o
proletariado
que
circunscreve
uma
coletividade
de
despojados,
identificados,
como
no
caso
da
Geração
à
Rasca
que
se
trata
de
uma
geração
sem
trabalho,
sem
casa,
sem
acesso
a
direitos,
ou
como
na
condição
dos
Indignados
em
Espanha.
A
precariedade
estrutural
do
mercado
de
trabalho
flexível,
instável,
e
inseguro
determina
que
este
crescente
contingente
de
jovens
trabalhadores
adultos,
sobretudo
com
elevados
níveis
de
qualificação
profissional,
construam
trajetórias
de
vida
com
identidades
fragmentadas.
Encontram-se
imersos
na
insegurança
do
presente,
vivendo
submersos
num
presente
contínuo,
no
aqui
e
no
agora,
sem
uma
relação
orgânica
com
o
passado
e
sem
quaisquer
perspectivas
de
futuro,
visto
que
o
mesmo
se
encontra
continuamente
hipotecado.
Existe
uma
impossibilidade
de
realização
de
planos
vincada
na
frustração
com
a
educação
como
via
de
inserção
no
mundo
do
trabalho
(Alves,
2012;
Carmo
et
al.,
2021).
A
condição
de
proletariedade
ou
precariedade
(Standing,
2011)
é
concebida
como
a
expressão
social
suprema
da
alienação,
desvalorizando
e
destruindo
o
desenvolvimento
da
personalidade
humana
de
inúmeros
jovens-adultos
NEET
que
se
veem
sem
rumo,
sem
perspetiva
e
sem
projeto
de
vida,
rumo
a
uma
crescente
precarização
existencial
(Alves,
2012).
8
Segundo
o
Eurostat
(2023),
Portugal
apresentava
em
2022
uma
das
percentagens
mais
baixas
(8,4%)
de
jovens
NEET
(15
e
29
anos)
a
nível
europeu,
onde
8,6%
são
mulheres
e
8,2%homens.
Quanto
aos
níveis
de
escolaridade,
9%
apresentam
níveis
de
escolaridade
mais
elevados
e
7%
níveis
mais
baixos.
As
mulheres
jovens
possuem
uma
maior
probabilidade
de
cair
na
condição
NEET
quando
comparadas
com
os
homens,
situação
que
se
encontra
relacionada,
sobretudo,
com
a
educação,
cultura
e
a
maternidade.
A
Garantia
Jovem
A
Garantia
Jovem
tem
como
objetivo
a
redução
da
percentagem
dos
jovens
NEET,
através
de
ofertas
de
emprego,
formação
profissional,
educação
contínua
ou
a
frequência
de
estágios,
num
período
de
quatro
meses
após
estes
terminarem
os
seus
estudos
ou
ficarem
desempregados
(Eurofound,
2020;
Reis
e
Nofre,
2018).
O
Programa
Jovem
+
Digital
foi
concebido
para
jovens,
entre
os
18
e
35
anos,
inscritos
nos
serviços
públicos
de
emprego,
desempregados
e
com
habilitações
literárias
secundárias
ou
académicas,
para
responder
às
necessidades
atuais
e
futuras
do
mercado
de
trabalho,
no
âmbito
das
políticas
públicas
de
formação
profissional,
visando
desenvolver
competências
em
tecnologias
e
aplicações
digitais
para
melhoria
da
empregabilidade.
De
acordo
com
a
OCDE,
entre
2020
e
2021,
a
maioria
dos
serviços
públicos
de
emprego
(SPE)
europeus
afirmaram
ter
aumentado
a
utilização
de
medidas,
em
Portugal,
especialmente
no
âmbito
da
Garantia
Jovem
e
através
de
novas
medidas
implementadas
pelos
SPE
para
os
jovens
em
resposta
à
crise
da
COVID-19.
Estes
centraram-se
no
fortalecimento
da
aprendizagem
baseada
no
trabalho
e
estágios
profissionais.
O
Plano
Nacional
de
Implementação
do
Programa
de
Garantia
Jovem,
segundo
a
sua
Diretora
Executiva,
foi
apresentado
em
dezembro
de
2013
como
uma
recomendação
do
Conselho
da
União
Europeia
8
que
surgiu
num
contexto
de
crise
internacional
de
um
elevado
número
de
jovens
NEET.
A
partir
de
março
de
2014,
os
Estados-Membros
da
União
Europeia
comprometeram-se
a
garantir
e
oferecer
um
emprego
decente
e
de
qualidade,
educação
superior,
aprendizagem,
formação
e
8
Recomendação
do
Conselho
-
2013/C
120/01
-
de
22
de
abril
de
2013.
Disponível
em:
https://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2013:120:0001:0006:PT:PDF
.
Acesso
em
10
de
julho
de
2024.
9
estágio,
a
todos
os
jovens
com
menos
de
trinta
anos,
seja
no
prazo
de
quatro
meses
após
ficarem
desempregados
ou
abandonarem
os
estudos
(Countouris
et
al.,
2023).
Desde
o
inicio
do
Garantia
Jovem
se
iniciou
que
cerca
de
1,5
milhões
de
pessoas
participaram,
tendo
a
maioria
idades
entre
os
15
e
24
anos.
No
entanto,
esta
faixa
etária
foi,
posteriormente,
alargada
incluindo
os
jovens
com
idades
entre
15
e
os
34
anos
(Simões
et
al.,
2020).
Todos
os
países
da
União
Europeia
se
comprometeram
a
implementar
a
Garantia
Reforçada
para
a
juventude
numa
Recomendação
do
Conselho
de
outubro
de
2020
que
estabelece
20
princípios
e
direitos
para
apoiar
mercados
de
trabalho
e
sistemas
de
proteção
social
justos
e
funcionais.
Trata-se
do
Pilar
Europeu
dos
Direitos
Sociais
(Comissão
Europeia,
2020a),
baseado
numa
proposta
da
Comissão,
integrando
o
pacote
de
Apoio
ao
Emprego
dos
Jovens
que
identifica
os
prazos
e
as
medidas
a
tomar
para
implementar
a
Garantia
Jovem
em
cada
Estado-Membro,
investindo
na
próxima
geração
(2020b).
Todos
os
quadros
e
planos
foram
publicados
sob
a
responsabilidade
do
Estado-Membro
correspondente
nos
websites
nacionais
da
Garantia
Jovem,
com
atualizações
regulares
e/ou
a
possibilidade
de
os
jovens
se
registarem
online.
Os
SPE
são
responsáveis
pela
gestão
do
programa
de
Garantia
Jovem
e
pela
coordenação
de
parcerias
em
todos
os
níveis
e
setores
do
país.
A
sua
implementação
envolve
ministérios,
organizações
de
juventude,
organizações
comerciais,
bem
como
organizações
de
parceiros
sociais
e
outras
instituições
relevantes
que
trabalham
na
educação,
formação
profissional
e
inclusão
social.
A
diretora
do
Garantia
Jovem
referiu
que
se
trata
de
um
quadro
nacional
continental,
estabelecido
a
nível
governamental,
neste
caso
pelo
Ministério
do
Trabalho,
que
reporta
diretamente
ao
Secretário
de
Estado
do
Trabalho.
O
coordenador
nacional
da
Garantia
Jovem
é
responsável
pela
ligação
política
com
o
gabinete
do
Secretário
de
Estado
do
Trabalho,
cujo
coordenador
é
sempre
membro
do
Conselho
de
Administração
do
IEFP,
que
é
o
instituto
que
coordena
o
quadro
nacional
da
Garantia
Jovem.
O
Diretor
Executivo
estabelece
contactos
entre
gabinetes
e
departamentos
dentro
e
fora
do
IEFP,
prestando
também
apoio
e
informação
sobre
jovens
NEET.
Sempre
que
é
necessário
formular
uma
medida
pública
dirigida
aos
jovens
NEET,
recorre-se
ao
IEFP.
As
políticas
da
Garantia
Jovem
aplicam-se
não
apenas
ao
domínio
do
trabalho,
mas
também
à
economia
e
ao
ensino
superior.
10
Os
jovens
inscritos
como
desempregados
no
SPE
e
elegíveis
para
a
Garantia
Jovem
são
sinalizados
em
conformidade,
enquanto
os
participantes
não
inscritos
no
SPE
são
contactados
pelo
IEFP,
em
parceria
com
outras
entidades.
Os
indivíduos
podem
registar-se
na
Garantia
Jovem
através
de
um
portal/website,
lançado
em
janeiro
de
2014,
que
apresenta
informações
sobre
o
programa,
serviços
e
ofertas
disponíveis.
As
organizações
podem
registar-se
igualmente
para
aderir
à
rede
de
prestadores
da
Garantia
Jovem.
O
direcionamento
para
as
pessoas
envolve
a
proximidade
dos
parceiros
sinalizadores
(instituições
de
caridade
social,
ONG,
associações
juvenis,
municípios,
etc.)
com
jovens
NEET,
sendo
este
um
fator
chave
para
recuperação
da
sua
confiança.
A
Diretora
do
programa
referiu
que
os
cursos
de
formação
foram
concebidos
para
responder
às
necessidades
de
competências
identificadas
através
da
consulta
a
empresas
e
especialistas
na
área
digital.
Os
cursos
de
formação
são
sujeitos
a
certificação
no
âmbito
do
Sistema
Nacional
de
Qualificações
e,
paralelamente,
alguns
dos
cursos
preparam
os
formandos
para
exames
e
certificações
específicas
adicionais
em
academias
de
referência
no
mundo
digital
(Microsoft,
CISCO).
O
Programa
Jovem
+
Digital
e
o
Programa
NeetMaker
O
Programa
Jovem
+
Digital
foi
criado
através
do
Despacho
governamental
250-A/2020,
de
23
de
outubro
e
incluído
no
Quadro
de
Garantia
Jovem.
O
programa
do
governo
definia
a
transição
digital
como
a
condição
fundamental
para
a
estratégia
de
desenvolvimento
de
Portugal,
tendo
como
objetivo
as
prioridades
de
investimento
da
União
Europeia
no
âmbito
do
Quadro
Financeiro
Plurianual
para
o
período
entre
2021-2027.
Neste
sentido,
num
cenário
de
recuperação
da
atividade
económica,
procurava
colocar
Portugal
na
vanguarda
dos
países
mais
bem
preparados
para
enfrentar
os
desafios
e
mudanças
inerentes
a
uma
transição
global,
garantindo
que
dela
resultasse
uma
maior
equidade
e
inclusão
dos
cidadãos,
num
aumento
da
competitividade
da
economia
e
na
criação
de
valor
pelo
tecido
empresarial
Como
consequência
da
pandemia,
tornou-se
necessário
responder
de
forma
eficaz
e
rápida
através
de
políticas
públicas
para
a
formação
profissional,
como
instrumento
de
promoção
da
empregabilidade
e
de
ativos
de
formação
em
áreas
estratégicas,
como
as
competências
digitais,
dirigidas
a
públicos
específicos
como
os
jovens
11
adultos
que
foram
os
mais
afetados
no
mercado
de
trabalho.
O
Programa
Jovem
+
Digital
destina-se
a
jovens,
desempregados
e
com
cursos
de
formação
de
nível
secundário,
tendo
a
duração
máxima
de
300
horas,
onde
cada
participante
tem
direito
a
uma
bolsa
de
formação,
subsídio
de
alimentação,
e
seguro
de
acidentes
pessoais.
Em
março
de
2023
foram
entrevistadas
duas
técnicas
do
IEFP
de
Faro
(Algarve):
uma
psicóloga,
coordenadora
do
Núcleo
de
Gestão
do
Mercado
de
Trabalho
da
IEFP
de
Vila
Real
de
Santo
António,
e
uma
socióloga,
Técnica
Superior
nas
áreas
de
formação
e
orientação
profissional
da
IEFP
de
Faro
e
interlocutora
do
Quadro
de
Garantia
Jovem.
Ambas
mencionaram
que
o
perfil
dos
candidatos
é
maioritariamente
compreendido
por
jovens
com
qualificações
mais
baixas,
completamente
desajustados,
desmotivados,
desinformados,
e
que
não
procuram
trabalho.
A
diferença
entre
os
jovens
desempregados
licenciados,
mais
informados,
com
maior
abertura
e
perspetiva,
e
os
jovens
com
o
9º
ano,
é
que
estes
últimos
são
considerados
desempregados
sazonais.
Muitas
vezes,
a
sazonalidade
passa
pela
economia
informal,
normalmente
caracterizada
pela
procura
de
rendimentos
como
meio
de
subsistência
(biscates
e/ou
bicos),
através
de
trabalho
não
declarado,
como
a
apanha
de
morangos,
mexilhões
e
mariscos,
e
realização
ocasional
de
pequenos
trabalhos
manuais
em
lavagem
de
automóveis.
E
alguns
deles
trabalham
ilegalmente,
então
não
pagam
impostos.
Têm
de
tudo,
e
em
Olhão
há
muita
gente
que
também
apanha
mexilhão
durante
todo
o
ano.
[Socióloga].
A
questão
da
segregação
social
e
da
etnicidade
foi
salientada,
afetando
especialmente
as
mulheres,
embora
o
número
total
de
homens
NEET
seja
superior.
O
Quadro
do
Garantia
Jovem
foi
criado
para
reduzir
a
taxa
de
desemprego
juvenil,
somando-se
a
algumas
das
medidas
já
implementadas
pelo
IEFP.
Portanto,
as
medidas
surgiram
naturalmente
ao
longo
do
tempo,
sendo
depois
integradas
dentro
do
Quadro
do
Garantia
Jovem.
Apenas
na
fase
de
reforço
da
Garantia
foram
criadas
medidas
específicas
para
este
enquadramento.
O
Jovem
+
Digital
foi
um
programa
implementado
em
2020,
durante
a
pandemia,
dirigido
a
jovens
com
idades
compreendidas
até
34
anos
e
ensino
secundário.
Idealizado
pelo
IEFP
de
Faro,
trata-se
de
um
dos
primeiros
programas
de
formação
online
criados,
ministrando
12
formação
online
e
presencial
nas
áreas
digitais
estratégicas,
como
a
cibersegurança
e
análise
de
dados.
Estas
técnicas
superiores
referiram
ainda
que
os
estágios
compreendem
a
melhor
oferta
do
IEFP,
conduzindo
a
uma
integração
mais
rápida
dos
jovens
NEET
no
mercado
de
trabalho,
com
a
possibilidade
de
contrato
de
trabalho.
No
caso
de
cursos
de
formação,
como
o
Jovem
+
Digital,
com
duração
de
350
horas
ao
longo
de
quatro
meses,
não
existe
qualquer
acompanhamento
e
integração,
podendo
conduzir
à
desmotivação.
Uma
pessoa
faz
uma
formação
com
dupla
certificação,
por
exemplo,
e
depois
acaba
não
tendo
experiência
profissional
nessa
área.
E
eles
voltam,
quase
ao
ponto
de
partida.”
[Socióloga].
“Acho
que
o
que
faltava
era
ter
experiência
prática
e
conseguir
ter
algum
grau
de
empregabilidade
(…)
É
só
mais
uma
forma
de
formação
para
a
pessoa
acrescentar
ao
seu
currículo
(…)
A
partir
do
momento
em
que
ingressa
na
formação,
já
não
é
NEET.
Eles
estão
pedindo
uma
pausa.
[Psicóloga].
A
inexistência
de
uma
boa
rede
de
transportes
foi
também
mencionada
como
um
fator
de
agravamento
dos
problemas
da
região,
impedindo
que
as
pessoas
possam
deslocar-se
para
o
local
de
trabalho
ou
cursos
de
formação,
a
menos
que
possuam
um
automóvel.
Este
problema
reforça
o
isolamento
das
zonas
rurais.
No
âmbito
do
programa
Jovem
+
Digital,
cujos
campos
gerais
de
aplicação
foram
previamente
definidos
pela
Agência
Nacional
para
a
Qualificação
e
Educação
Profissional,
a
Diretora
Adjunta
do
Centro
de
Emprego
e
Formação
Profissional,
responsável
por
dois
Centros
de
Formação
Qualifica,
em
Faro
e
Albufeira.
entrevistada
sugeriu
áreas
específicas
de
formação.
Segundo
o
relato
da
entrevista
realizada
em
março
de
2023.
Porque
estamos
a
falar
de
um
público
que
já
tem
licenciatura
ou
nível
secundário.
Portanto,
o
que
procuram
é
sempre
algo
mais
[…]
Começámos
a
tentar
abranger
a
área
da
cibersegurança,
da
análise
de
dados,
as
áreas
que
acreditamos,
neste
momento,
estarem
muito
mais
adequadas
ao
mercado
de
trabalho.
O
programa
foi
implementado
em
2020
e
teve
um
sucesso
razoável
durante
a
pandemia.
A
sua
divulgação
é
realizada
através
da
Internet,
redes
sociais
e
IEFP.
Segundo
a
diretora,
em
2021
o
Jovem
+
Digital
atingiu
a
saturação
de
mercado
e
o
público
em
geral
perdeu
o
interesse,
conduzindo
à
criação
de
novos
módulos
e/ou
13
cursos
dentro
do
programa.
Quando
questionada
sobre
os
jovens
NEET,
a
diretora
referiu
que
não
havia
qualquer
informação
sobre
o
público
que
frequentava
este
programa.
O
programa
não
está
exatamente
adaptado
a
este
tipo
de
público
[…]
Não
posso
dizer
com
precisão
se
temos
jovens
NEET
como
parte
dos
nossos
programas.
Isto
sempre
foi
um
problema:
identificar
quem
são
os
NEET.
[…]
Não
temos
essa
identificação
na
ficha
do
candidato
[…]
Não
estamos
propriamente
à
procura
de
NEET
para
participarem
numa
atividade
de
formação
como
esta.
Para
além
da
avaliação
de
cada
módulo,
através
do
preenchimento
de
um
formulário
pelos
formandos,
não
existe
o
tratamento
dos
dados
estatísticos
recolhidos
que
permitam
analisar
os
impactos
deste
programa.
O
programa
NeetMaker,
Formação
e
Estímulo
à
Empregabilidade
e
Inclusão
Social,
implementado
entre
2020
e
2022,
foi
um
projeto
local
voltado
para
jovens
externos
ao
mercado
de
trabalho
e
instituições
de
ensino,
procurando
desenvolver
competências
num
público-alvo
definido
socialmente
como
NEET.
Este
projeto
foi
iniciado
pelo
Município
de
Penela
e
pelo
HIESE,
tendo
o
IEFP
como
parceiro
para
fins
de
recrutamento.
O
programa
de
formação
e
estímulo
à
empregabilidade
e
inclusão
social
para
jovens
entre
os
20
e
34
anos,
organizado
pelo
HIESE,
destinou-se
ao
desenvolvimento
de
novas
aptidões
e
competências,
nomeadamente
soft
skills
,
como
networking
e
resolução
de
problemas,
ativando
algumas
competências
de
empreendedorismo
e
making
através
do
Fablab
.
Relativamente
a
este
programa,
o
feedback
foi
bastante
positivo
por
parte
dos
jovens
NEET
que
revelaram
que
a
formação
e
intervenção
deveriam
ter
continuidade,
salientando
a
aquisição
de
novos
conhecimentos;
desenvolvimento
de
competências
interpessoais
relacionadas
com
o
empreendedorismo
e
aumento
de
competências
de
empregabilidade;
reconhecimento
de
talentos/interesses
e
networking
.
Trata-se,
portanto,
de
um
facilitador
entre
os
jovens
NEET
e
as
empresas,
que
auxilia
a
sua
inserção
no
mercado
de
trabalho.
Segundo
o
gestor
e
mentor
do
FabLab,
o
paradigma
do
mercado
de
trabalho
mudou,
ou
seja,
os
licenciados
não
têm
ligação
com
o
mercado
de
trabalho,
não
sabem
“vender-se”
ou
“promover-se”
como
pessoas
empregáveis,
carecendo
ou
apresentando
competências
de
comunicação
desajustadas
de
competências
de
comunicação.
Além
disso,
não
existe
uma
ligação
14
entre
as
universidades,
ou
mesmo
os
programas
de
formação,
e
o
mercado
de
trabalho.
Como
mencionado
pelo
mesmo:
As
pessoas
têm
ensino
superior
e
não
conseguem
emprego
na
área.
Essa
foi
uma
forma
de
sacudi-los
e
perceber:
tudo
bem,
você
tem
uma
formação
aí,
mas
você
pode
fazer
outras
coisas,
pegar
sua
formação
e
trabalhar
nessas
áreas,
que
é
o
que
o
mercado
precisa.
Esse
é
o
nosso
foco
[…]
O
paradigma
mudou
e
é
preciso
fazer
com
que
as
pessoas
se
comuniquem.
Segundo
as
entrevistas
realizadas
com
os
diretores
dos
centros
de
emprego,
foi
referido
que,
num
cenário
de
digitalização,
a
abordagem
remota
dos
cursos
não
é
a
mais
adequada
para
todos
os
perfis
NEET,
principalmente
no
acompanhamento
individual
e
presencial
dos
casos
mais
complexos.
A
região
centro
de
Portugal
é
ainda
caracterizada
pelo
despovoamento
interior
e
a
consequente
dificuldade
dos
empregadores
locais
em
recrutar
recursos
humanos
com
as
qualificações
adequadas
às
suas
necessidades.
Todos
os
parceiros
envolvidos
no
projeto,
especialmente
o
Município
de
Penela
(investidor
social)
consideram
que,
apesar
das
características
da
região
e
da
pandemia
Covid-19,
o
projeto
NeetMaker
cumpriu
integralmente
os
objetivos
propostos,
os
quais
foram
superados,
considerando
eles
como
resultados
excepcionais.
Existe
a
convicção
de
que
os
jovens
NEET
que
passaram
pelos
processos
formativos
do
NeetMaker
estavam
completamente
integrados
e
motivados
para
ingressar
no
mercado
de
trabalho
ou
para
criar
o
seu
próprio
emprego.
Percepções
dos
jovens
NEET
perante
o
mercado
de
trabalho
Foram
realizadas
vinte
entrevistas
em
profundidade,
com
doze
mulheres
e
oito
homens,
tendo
idades
compreendidas
entre
os
19
e
35
anos,
residentes
em
Portugal
Continente
e
na
Região
Autónoma
da
Madeira.
A
maioria
destes
jovens
possui
formação
acadêmica,
mas
encontra-se
desempregada,
e
a
residir
com
os
pais.
A
família
surge
como
um
dos
principais
recursos
e/ou
garantia
de
apoio
financeiro,
ainda
que
a
precariedade
represente
uma
situação
de
“semiautonomia”
que
pode
perpetuar-se
ao
longo
da
vida
(Carmo
e
Matias,
2019).
Alguns
deles
têm
experiência
profissional,
trabalhando
como
empresários,
sobretudo
de
forma
remota,
ou
no
mercado
informal.
Verificaram-se
casos
de
emigração
para
fins
de
trabalho
ou
15
estudo,
ainda
que
seja
uma
experiência
transitória.
A
falta
de
formação
presencial
e
de
oportunidades
de
emprego
nas
zonas
rurais
foi
bastante
apontada
pelos
entrevistados.
Aliás,
uma
das
jovens
entrevistadas
que
tinha
um
atestado
de
deficiência,
sentiu-se
condicionada
por
esta
situação,
levando-a
a
frequentar
cursos
de
formação.
No
entanto,
tal
acabou
por
se
transformar
num
“modo
de
vida”
(Alves
et
al.,
2011)
[…]‘Mas,
como
tenho
um
grave
problema
cardíaco,
foi
difícil
envolver-me
em
alguns
trabalhos
que
eles
queriam
que
eu
fizesse.
Tal
como
fiz
o
NeetMaker,
fiz
outros
[...]
O
meu
objetivo
inicial
era
fazer
cursos
de
formação,
no
sentido
de
ingressar
neles
para
obter
um
grau
académico
superior.
[E8,
19
anos,
Coimbra].
A
maioria
dos
participantes
tomou
conhecimento
dos
programas
através
da
Internet
ou
dos
centros
de
formação,
raramente
através
do
IEFP,
do
qual
não
revelaram
ter
qualquer
grau
de
confiança
ou
crença
no
seu
papel,
sobretudo
em
termos
de
colocação
no
mercado
de
trabalho.
[…]
sinto
que
não
vale
a
pena
(…)
todas
as
entrevistas
que
fiz
na
altura
através
do
Centro
de
Emprego,
as
empresas
que
me
ligaram
eram
muito
tortuosas
[…]
acho
que
o
Linkedin
,
por
exemplo,
é
muito
melhor.
Sou
eu
que
estou
à
procura
e
ele
dá-me
todas
as
empresas
com
base
nos
meus
dados
e
é
uma
experiência
muito
melhor.
[E19,
28
anos,
Semide].
Na
altura,
tínhamos
de
recorrer
ao
Centro
de
Emprego,
obrigatoriamente
[…]
Havia
estágios,
mas
os
estágios
que
abriram
já
tinham
alguém.
[E12,
25
anos,
Pombal].
A
maioria
destes
jovens
possui
licenciatura
e
trabalha
como
freelancer
em
regime
de
teletrabalho,
sobretudo
na
área
da
informática.
A
falta
de
diversidade
nas
ofertas
de
emprego
e
a
necessidade
de
mobilidade
foram
as
principais
dificuldades
apontadas
pelos
entrevistados.
Quando
estava
à
procura
do
meu
primeiro
emprego,
as
principais
dificuldades
que
senti
na
área
foram
a
falta
de
ofertas
e
aí
quando
consegui
uma
entrevista
tive
que
viajar
muito
e
tive
de
logo
de
aceitar.
Se
eles
quiserem,
terei
que
mudar.
[E17,
28
anos,
Pombal].
Uma
das
jovens
NEET
era
imigrante
brasileira
e
referiu
que
a
sua
formação
não
era
reconhecida
em
Portugal,
impedindo-a
de
conseguir
um
emprego
mais
qualificado.
O
elevado
custo
de
vida,
sobretudo
ao
nível
da
habitação,
levou-a
a
viver
no
meio
rural
e
a
criar
o
seu
próprio
emprego.
Além
disso,
a
situação
de
16
freelancer
suscitou-lhe
diversas
questões,
pois
tinha
dúvidas,
sobretudo
quanto
à
elaboração
do
plano
de
negócios,
algo
que
sentiu
não
ter
sido
abordado
no
IEFP,
nem
durante
as
formações
que
frequentou.
A
formação
escolar
me
atrapalha
muito
porque
as
pessoas
não
validam
o
tipo
de
conhecimento
que
eu
tinha
[...]
o
facto
de
eu
não
ter
tido
formação
aqui
me
impede
muito
de
exercer
o
que
eu
sei
fazer,
porque
eu
já
fiz
estágio
no
Brasil
[...]
então
só
tem
o
obstáculo
da
formação
como
imigrante
porque
não
pode
ser
validado
[...]
então
moro
no
interior
por
questões
financeiras
[...]
tive
que
criar
o
meu
próprio
emprego
[...]
Não
tem
como
sustentar,
morar
hoje
na
cidade,
não
tem
como
viver
com
um
salário
mínimo.
Acho
isso
frustrante.
[E14,
26
anos,
Figueiró
dos
Vinhos].
Relativamente
ao
papel
do
IEFP
em
termos
da
sua
adaptação
às
necessidades
dos
jovens
utilizadores
NEET,
os
participantes
referiram
que
era
insuficiente
e
pouco
apelativo.
Foi
fortemente
destacada
a
falta
de
humanismo
e
empatia
dos
profissionais
e
a
inadequação
do
perfil
dos
candidatos
às
ofertas
de
emprego
que
não
eram
atualizadas
com
frequência
e
aquelas
que
estavam
disponíveis,
geralmente
não
correspondiam
às
expectativas
ou
áreas
de
formação
dos
jovens.
É
uma
instituição,
algo
muito
chata,
distante,
formal
e
pouco
comunicativa
[…]
sinto
que
é
automatizado,
não
é
uma
coisa
que
você
tenha
que
pensar.
[E18,
28
anos,
Coimbra].
A
minha
experiência
com
o
Centro
de
Emprego
diz-me
que
deveriam
estar
mais
atentos
à
individualidade
de
cada
um,
por
isso
não
é
como
mandar
todos
para
formação
só
porque
sim
e
estamos
todos
a
ganhar
uma
ninharia
por
dia
[…]
devem
olhar
encarar
cada
pessoa
como
um
ser
individual
que
tem
suas
próprias
habilidades
e
aspirações
e
orientá-las
nessa
direção.
[E12,
25
anos,
Pombal].
Outro
jovem
referiu
que
o
website
e
os
formulários
do
Centro
de
Emprego
não
estavam
adequados
às
mudanças
do
mercado
de
trabalho,
ou
seja,
verifica-se
um
desfasamento
nas
expectativas
e
no
acompanhamento
dos
utilizadores,
para
adequar
as
ofertas
ao
perfil
de
cada
pessoa.
Foi
também
destacada
a
falta
de
comunicação
entre
os
utilizadores
e
empresas
durante
e
após
a
colocação
num
determinado
emprego.
Acho
que
para
trabalharem
melhor
têm
de
modernizar
a
plataforma,
torná-la
mais
dinâmica,
mais
adaptável
à
dinâmica
do
próprio
mercado
de
trabalho
[…]
o
meu
chefe
não
gostou
da
experiência
de
17
trabalhar
com
eles
[…]
reclamou
de
alguns
obstáculos
e
falta
de
comunicação
com
o
Centro
de
Emprego
do
ponto
de
vista
do
empregador.
[E17,
28
anos,
Pombal].
Os
participantes
referiram
que
quando
pretendiam
transmitir
as
suas
ideias
ou
problemas
ao
IEFP
sentiam
que
não
eram
ouvidos,
nem
consultados
no
processo
de
tomada
de
decisão.
Um
dos
jovens
NEET
enfatizou
que
a
maioria
dos
cursos
de
formação
eram
desinteressantes
e
“fadados
ao
fracasso”.
Porém,
algumas
pessoas
frequentaram
os
mesmos
não
apenas
como
uma
possível
preparação
para
o
mercado
de
trabalho,
mas
como
uma
forma
de
sobrevivência.
De
certa
forma,
não
é
uma
escolha
porque
o
que
é
que
acontece?
Foi
uma
situação
em
que
recebi
um
apoio
social
de
200
euros
e
não
posso
simplesmente
pegar
no
dinheiro
e
seguir
em
frente.
Também
estou
moralmente
consciente
disso.
Eu
tenho
de
ficar
lá.
[E14,
26
anos,
Figueiró
dos
Vinhos].
Comparando
a
maior
parte
dos
cursos
de
formação
oferecidos
pelo
Centro
de
Emprego
com
o
programa
NeetMaker,
foi
mencionado
que
é
um
programa
mais
humano,
organizado
e
orientado
para
as
necessidades
dos
jovens
NEET.
As
principais
deficiências
apontadas
pelos
participantes
referem
a
questão
da
curta
duração
de
algumas
formações
do
programa,
que
lhe
confere
um
aspecto
superficial
em
determinadas
disciplinas.
A
dinamização
pessoal
através
da
aquisição
de
soft
skills
e
a
importância
do
networking
entre
contatos
também
foram
valorizadas.
Vários
participantes
mencionaram
a
questão
da
comunicação
relativamente
a
oportunidades
de
formação
ou
ofertas
de
emprego
que
não
foram
apresentadas,
nem
divulgadas
da
forma
mais
estratégica,
especialmente
nas
zonas
rurais,
embora
alguns
revelassem
a
existência
de
parcerias
com
outros
centros
de
formação.
Foi
também
destacada
a
inexistência
de
comunicação,
na
maioria
dos
casos,
entre
as
universidades
e
os
centros
de
emprego
em
que
poderia
ser
criada
uma
ponte
académica
com
os
locais
de
trabalho
e
estabelecida
uma
agenda
de
formação.
Todos
os
jovens
NEET
entrevistados
mencionaram
problemas
relacionados
com
a
inexistência
de
ofertas
de
emprego
de
qualidade,
mas
também
com
a
falta
de
resposta
das
empresas
para
as
quais
enviam
os
seus
currículos.
Estou
à
procura
de
formação
agora.
Estou
envolvida
num
programa
de
estágio
no
Centro
de
Reabilitação
Profissional
de
Gaia.
Recentemente
tive
uma
entrevista
de
emprego,
mas
aparentemente
não
tive
sucesso.
[E4,
35
anos,
Porto].
18
De
facto,
alguns
dos
participantes
mencionaram
não
apenas
a
falta
integração
no
mercado
de
trabalho,
mas
também
a
precariedade
das
suas
próprias
vidas
que
eram
constantemente
adiadas
devido
ao
estatuto
de
desempregado
e
NEET.
Nestes
casos,
a
imigração
ou
emigração
colocavam-se
como
projetos
de
vida.
As
dificuldades
financeiras
que
tenho
não
me
permitem
sair
de
casa
[...]
Queria
ir
morar
com
meu
companheiro,
mas,
infelizmente,
ainda
moro
com
meus
pais.
[E3,
25
anos,
Santarém].
A
falta
de
experiência
e
oportunidades
no
mercado
de
trabalho,
incluindo
estágios,
foram
frequentemente
salientados.
E
toda
vez
que
vou
a
entrevistas
é
sempre
tipo:
ah,
não
tem
experiência.
Então,
se
não
tenho
experiência,
quero
ter
experiência,
mas
nunca
me
dão
essa
oportunidade!
[E3,
25
anos,
Santarém].
Uma
jovem
também
salientou
o
mesmo
problema
e
referiu
que,
por
vezes,
se
sentia
rejeitada
por
ser
imigrante
de
Angola
e
não
ter
a
experiência
exigida
pelo
mercado
de
trabalho
que
alegou
não
lhe
ter
sido
concedida.
Além
disso,
quanto
às
competências,
o
facto
de
não
saber
falar
línguas
estrangeiras
limitava
as
suas
oportunidades
de
trabalho.
Estes
jovens
referiram
que
seria
necessário
criar
oportunidades
de
emprego,
sobretudo
nas
zonas
rurais,
e
que
os
cursos
de
formação
que
frequentassem
fossem
reconhecidos.
Nós,
jovens
NEET,
somos
pessoas
que
querem
trabalhar.
Estamos
aqui
para
ajudar
os
outros
e
somos
pessoas
como
todas
as
outras
que
querem
trabalhar.
Gostaria
que
criassem
oportunidades
para
nós
podermos
prosseguir
com
as
nossas
carreiras.
[E3,
25
anos,
Santarém].
Estas
situações
não
deixam
outra
alternativa
aos
jovens
NEET
senão
continuar
a
frequentar
cursos
de
formação
ou
trabalhar
através
de
vínculos
informais
e
precários.
De
facto,
como
referiu
um
entrevistado,
continuar
a
frequentar
cursos
de
formação
poderá
vir
a
tornar-se
numa
forma
de
(sobre)vivência
num
território
onde
os
empregos
são
escassos.
Foi
justamente
o
que
aconteceu
durante
a
pandemia
de
Covid-19.
Durante
o
curso
houve
pessoas
que
desistiram
[...]
foram
mais
jovens
com
25
anos
ou
menos
[...]
Acho
que
as
pessoas
são
movidas
mais
pelo
dinheiro
do
que
pela
experiência
ou
19
aprendizagem.
Desistiram
porque
viram
outras
oportunidades,
outras
ofertas.
Não
os
julgo
porque
na
altura
a
vida
também
não
era
tão
fácil
[...]
Acredito
que
se
oferecessem
um
valor
igual
ou
superior
ao
salário
mínimo,
os
jovens
teriam
ficado
[...]
Muita
gente
entrou
porque,
realmente,
não
tinha
mais
o
que
fazer,
estavam
aguardando
resposta
de
outro
emprego.
[E7,
30
anos,
Algarve].
Embora
alguns
jovens
tenham
mencionado
que
a
formação
online
do
Programa
Jovem
+
Digital
não
foi
transmitida
de
forma
envolvente
em
termos
pedagógicos,
a
falta
de
ligação
com
o
mercado
de
trabalho
e
a
comunicação
inadequada,
em
termos
de
divulgação,
foram
as
principais
fragilidades
destacadas.
No
entanto,
outros
salientaram
que
receberam
apoio
dedicado
durante
o
curso,
o
que
se
revelou
numa
experiência
positiva.
Além
disso,
uma
das
jovens
mencionou
que
quando
frequentou
o
programa
o
seu
portátil
pessoal
avariou
e
não
lhe
foi
oferecido
qualquer
apoio,
nem
obteve
sequer
o
certificado,
quando
lhe
restava
apenas
um
módulo
para
concluir
o
programa.
Esta
entrevistada
referiu
ainda
que
além
de
ter
vindo
para
Portugal
para
frequentar
um
curso
de
gestão,
foi
obrigada
a
abandoná-lo
após
o
primeiro
ano,
e
a
arranjar
um
emprego
no
sector
hoteleiro
devido
ao
elevado
custo
das
propinas
para
estudantes
internacionais.
Foi
destacada
a
falta
de
oportunidades
e
de
apoio,
sobretudo
para
os
jovens
que
pretendem
ser
empreendedores
e
iniciar
o
seu
próprio
negócio.
Os
participantes
mencionaram
que
as
ofertas
de
emprego
no
Algarve
são
sazonais
e
relacionadas,
maioritariamente
com
os
setores
do
turismo,
restauração
e
hotelaria,
que
não
oferecem
oportunidades
na
construção
de
uma
carreira.
As
pessoas
trabalham
no
verão
e
no
inverno
e
vivem
daquilo
que
ganharam.
Uma
jovem
da
zona
centro
referiu
que
as
ofertas
de
emprego
são
escassas
e
os
resultados
das
entrevistas
do
IEFP
nem
sequer
são
comunicadas
ao
candidato,
conduzindo
a
um
estado
de
desespero
e
frustração.
[...]
tenho
ido
a
entrevistas,
mas
depois
não
dizem
nada,
nem
sequer
me
pedem
para
ir
trabalhar.
Não
sei
que
obstáculos
enfrento.
Não
sei,
não
entendo.
[E3,
26
anos,
Santarém].
Em
termos
de
formação,
quer
académica,
quer
profissional,
foi
apontado
que
no
contexto
do
envio
de
uma
candidatura
a
uma
oferta
de
emprego
esta
é
secundarizada,
ou
até
negligenciada,
em
favor
da
experiência
profissional.
Um
dos
participantes
mencionou
que
não
ter
um
diploma
torna
quase
impossível
o
acesso
a
ofertas
de
emprego
mais
qualificadas.
20
Quando
vou
às
entrevistas
eles
dizem,
bom,
você
pode
ter
essa
formação
do
IEFP,
mas
a
graduação
é
aquilo
que
seria
mais
importante
para
nós.
O
diploma
ou
a
própria
experiência
profissional.
[E7,
30
anos,
Algarve].
Embora
a
utilização
do
website
seja
intuitiva,
uma
das
jovens
entrevistadas
referiu
que
tem
de
se
deslocar
ao
IEFP
para
verificar
ofertas
de
emprego
que
não
são
enviadas
ou
comunicadas.
Foi
destacada
a
falta
de
apresentação
de
um
plano
de
emprego
e
de
acompanhamento.
A
oportunidade
de
realização
de
estágios,
a
ligação
entre
a
formação
e
o
mercado
de
trabalho,
ou
seja,
a
integração
no
mercado
de
trabalho,
foram
as
principais
falhas
identificadas.
Quanto
à
instituição
IEFP,
os
entrevistados
mencionaram
que
é
basicamente
um
centro
de
formação
e
não
um
centro
de
ofertas
de
emprego.
[...]
há
muitos
cursos
de
formação
(…)
não
há
ligação
entre
este
curso
e
o
emprego
(...)
Vejo
o
IEFP
como
um
centro
perfeito
para
formação,
mas
não
para
emprego
(…)
é
80%
de
formação
e
20%
de
emprego
(…)
um
IEFP
deveria
ter
o
emprego
como
prioridade.
[E6,
26
anos,
Algarve].
Em
suma,
depois
de
frequentarem
este
tipo
de
cursos,
os
Jovens
NEET
parecem
ter
regressado
à
anterior
situação
de
precariedade,
não
tendo
encontrado
emprego
para
testar
os
seus
conhecimentos
e
novas
competências.
Conforme
destacou
um
entrevistado,
o
IEFP
poderia
estabelecer
um
plano
de
monitoria
e
construção
de
parcerias
diretas
ou
consórcios
com
empresas
nas
áreas
de
formação
oferecidas,
mesmo
com
apoio
estatal.
Seria
melhor
para
o
IEFP
formar
parcerias
diretas
com
as
empresas,
mesmo
com
apoio
do
Estado
porque
os
empregadores
não
pagam
bem
para
quem
não
tem
experiência.
Para
ter
um
emprego
é
preciso
ter
experiência
e
se
você
precisa
de
experiência,
precisa
de
um
emprego.
Muitas
empresas
não
querem
pagar
uma
pessoa
que
não
tem
experiência.
E
se
houvesse
parcerias
entre
o
IEFP
e
o
Estado,
ou
o
Estado
com
as
empresas,
o
Estado
ou
o
próprio
IEFP
poderiam
ajudar
essas
empresas.
Seria
mais
barato
para
os
empregadores
e
ao
mesmo
tempo
o
contratado
não
sairia
perdendo.
Não
seria
um
estágio
mal
remunerado,
mas
sim
o
salário
mínimo
em
que
a
empresa
só
pagaria,
digamos,
500
euros
e
o
Estado
ajudaria
com
250
euros,
ou
algo
semelhante.
[E6,
26
anos,
Algarve].
Conclusões
21
Em
cenários
de
policrise
como
a
Grande
Recessão,
a
pandemia
Covid-19,
a
crise
climática
e
a
crise
bélica,
as
transições
da
juventude
para
a
vida
adulta
complexificam-se
e
as
identidades
e
estilos
de
vida
tornam-se
fragmentados
e
incertos
(Pais,
2020).
Neste
contexto,
estes
jovens
parecem
ter
sido,
de
certa
forma,
esquecidos
pelas
estruturas
sociais,
governamentais
e
institucionais
de
regulação
social.
Através
da
análise
das
entrevistas
e
focus
group
realizados
foi
possível
perceber
que
os
centros
de
formação
profissional
oferecem
uma
vasta
gama
de
competências
digitais
e
cursos
de
formação
online
.
No
entanto,
os
jovens
NEET
que
frequentam
os
mesmos
não
conseguem
entrar
no
mercado
de
trabalho
e
ter
acesso
a
uma
carreira
profissional
e
trabalho
digno
que
permita
concretizar
a
sua
emancipação
e
satisfação
das
necessidades
físicas
e
mentais
e
qualidade
pessoal.
De
facto,
ainda
que
o
conceito
de
trabalho
permaneça
como
central
para
o
bem-estar
de
qualquer
indivíduo,
muitos
destes
jovens
percepcionam
as
suas
trajetórias
como
não
lineares,
incertas
e
intermitentes.
As
exigências
no
recrutamento
de
pessoas
qualificadas
a
custos
cada
vez
menores
(Ibid.).
A
nova
era
de
serviços
conduz
a
uma
contradição
entre
o
capital
e
trabalho,
criando
uma
ilusão
em
termos
de
igualdade
de
oportunidades
e
qualificação
dos
indivíduos,
através
da
valorização
da
educação
e
qualificação
como
projeto
contínuo
para
a
vida
(Dwyer
e
Wyn,
2001).
No
entanto,
o
mercado
de
trabalho
neoliberal
desvaloriza
as
qualificações
académicas,
conduzindo
a
novas
formas
de
dependência
e
sobre-exploração
e
empobrecimento
da
força
laboral
na
qual
recaem
os
custos
do
trabalho
(Antunes,
1999;
Lyon,
1992).
Inclusivamente,
os
programas
de
inserção
profissional,
como
o
Jovem
+
Digital
e
NeetMaker,
podem
tornar-se
num
meio
de
sobrevivência
ou
ocupação
temporária
para
aqueles
que
se
encontram
num
contexto
de
desemprego.
No
final
de
cada
programa
de
formação,
o
estado
de
precariedade
permanece,
visto
que
o
jovem
NEET
regressa
à
condição
de
vulnerabilidade
inicial,
não
conseguindo
a
integração
no
mercado
de
trabalho,
nem
a
aplicação
dos
conhecimentos
e
competências
adquiridos.
Como
indicado
por
alguns
dos
jovens
NEET
entrevistados,
trata-se,
portanto,
de
um
estado
de
transição
para
algo
melhor
que
poderá
surgir
na
vida.
Embora
a
formação
online
compreenda
uma
mais-valia
para
os
jovens
NEET
que
vivem
em
zonas
rurais,
a
falta
de
compromisso
com
os
perfis
do
mercado
de
trabalho
local
poderá
dificultar
a
obtenção
de
uma
saída
para
as
competências
22
adquiridas.
Segundo
as
entrevistas,
as
economias
rurais
dependem
fortemente
do
turismo
e
hotelaria,
resultando
em
padrões
de
trabalho
sazonais
e
informais
que
militam
contra
o
emprego
estável.
Foi
também
apontado
pelos
entrevistados
que
é
praticamente
impossível
seguir
uma
carreira
profissional
e
obter
um
salário
atrativo
em
Portugal,
levando
muitos
jovens
a
emigrar.
Seria
importante
associar
a
formação
às
oportunidades
oferecidas
pelas
empresas
a
nível
local
para
que
estas
pudessem
conduzir
a
colocações
profissionais
adequadas.
Por
último,
não
existem
dados
resultantes
da
avaliação
dos
programas
de
formação
visto
que
não
é
efetuada
uma
análise
estatística
adequada,
dificultando
a
medição
dos
reais
impactos
dos
mesmos.
Embora
as
dificuldades
na
definição
do
estatuto
dos
jovens
NEET
possam
causar
sérios
problemas
na
monitorização
das
trajetórias
destas
pessoas
(dada
a
natureza
flutuante
da
categoria),
manter
contacto
com
os
participantes
do
programa
até
um
ano
após
a
conclusão
da
formação
poderia
levar
a
uma
melhor
compreensão
do
impacto
dos
mesmos
e
melhorar
a
sua
execução.
A
mudança
dos
padrões
de
comunicação
no
sentido
de
uma
presença
mais
constante
poderia
igualmente
conduzir
a
uma
maior
atratividade
por
parte
dos
jovens
para
utilização
dos
SPE
quando
tentassem
singrar
no
mercado
de
trabalho
para
melhoria
da
sua
empregabilidade,
concebendo-os
também
como
um
apoio
útil
na
prestação
de
apoio
financeiro
durante
períodos
de
inatividade.
As
lições
aprendidas
de
recessões
e
crises
econômicas
anteriores
indicam
que
pode
ser
difícil
(re)engajar
os
jovens
na
educação
e
no
emprego
após
longos
períodos
de
inatividade
(OCDE,
2022).
Além
disso,
a
abordagem
de
digitalização
ou
da
criação
do
próprio
emprego,
vista
por
muitos
como
uma
solução
para
os
jovens
residentes
em
zonas
rurais,
não
é
adequada
para
todos
os
perfis,
uma
vez
que
muitos
carecem
de
qualificações,
competências
e
mesmo
literacia
adequados
(Ribeiro
et
al.,
2023).
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ALVES,
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do
precariado
e
a
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1,
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Reinforcing
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J.
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M-C;
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D
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SANCHEZ,
P;
INIESTA
MARTINEZ,
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PIMENTEL,
M.
H;
DUCHAME,
M.
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Jovens
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Jovens
NEET:
um
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boas
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Santa
Casa
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Misericórdia
da
Maia,
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QUINTINI,
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NOFRE,
J.
El
Programa
de
Garantía
Joven
en
Portugal:
Análisis
preliminar
y
primeras
conclusiones.
Sociologia
On
Line
,
n.º
17,
October,
2018.
RIBEIRO,
A.
S.
et
all.
Public
Employment
Services,
Responses
to
the
Pandemic
:
Examples
from
Portugal,
Bulgaria,
and
Lithuania.
Politics
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