Neste sentido, o trabalho concreto, criador de valores de uso, assume uma
forma cada vez mais abstrata e indistinta, de mero gasto de tempo e de energia. É
neste sentido que o processo de produção deixa de ser processo de trabalho, pois o
trabalho concreto se converte, na prática, em mera abstração.
Ressalto novamente que Marx não está procurando delinear casos empíricos
específicos, mas tendências históricas. Conforme se amplia o processo de
acumulação do capital, em que direção aponta a presença cada vez mais
preponderante da aplicação da técnica e da ciência? Concentração do saber-fazer
em sistemas automáticos com vistas a obter maior controle sobre o processo de
produção, com sua consequente desqualificação do trabalho.
A segunda hipótese levantada por Marx procura analisar o mesmo cenário,
mas agora sob a perspectiva do valor. Devido à busca constante pelo aumento da
produtividade do trabalho resultando na substituição de trabalho vivo por trabalho
morto, o trabalho e tempo de trabalho deixariam de ser fontes e medida da riqueza,
respectivamente. A transformação da ciência em meio de produção implicaria a
explosão dos próprios fundamentos da produção capitalista, ao tornar a exploração
do trabalho alheio como algo sem sentido. Assim, acrescenta Marx, “o capital
trabalha em favor de sua própria dissolução como forma dominante de produção” (p.
XX). [p. 221 da edição em espanhol]
E Marx conclui seu raciocínio com a passagem mais reproduzida dos
Fragmentos:
“O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o saber
social geral, conhecimento, deve ter força produtiva imediata e, em
consequência, até que ponto as próprias condições do processo vital
da sociedade ficaram sob o controle do ‘intelecto geral’ e foram
reorganizadas em conformidade com ele. Até que ponto as forças
produtivas da sociedade são produzidas, não só na forma do saber,
mas como órgãos imediatos da práxis social; do processo real da
vida” (p. XX). [p. 227-228 da edição em espanhol].
Assim, o conhecimento social como um todo teria, ele próprio, se tornado uma
força produtiva em favor do capital e submetido o conjunto das relações sociais, da
reprodução da vida em suas diversas dimensões.
Em síntese, Marx procura refletir o que significa levar ao limite a tendência
histórica de substituição do trabalho vivo por trabalho morto. Nesta jornada, o
processo de produção capitalista se converte em seu contrário: o processo de