V.22, 49 - 2024 (setembro-dezembro) ISSN: 1808-799 X TRAÇOS DO TRABALHO NA REVISTA TRABALHO NECESSÁRIO 1 Guina Araújo Ramos 2 cerca de um ano, num sapateiro, prestei um pouco mais de atenção a um “objeto” que conhecia desde a infância: a placa de couro rígida (uma delas) que, usada como base para marteladas e picotes, apresenta a superfície marcada, cicatrizes no couro, por pequenos círculos e longos riscos. E não foi difícil imaginar quantas dezenas, centenas de vezes os sapateiros usaram a placa de couro para ajeitar uma sola, furar um cinto, recortar uma camurça, sei que mais... Foi um vislumbre: percebi que eram marcas do trabalho!... Comecei então uma série fotográfica a que, ampliando o âmbito, chamei de Traços do Trabalho. Minha pretensão era, apenas, a de mostrar as circunstâncias em que ocorriam (e a forma como se apresentavam) estas “coisas” (as peças, os espaços, mas também os gestos) após ou durante uma flagrante situação de trabalho. Em consequência (e conscientemente), abandonei a preocupação com a identificação do trabalhador. Ao tomar este rumo, aliás, fiz, mas apenas por contingências, uma inversão de um velho paradigma da fotografia social. É que, a princípio, por limitações técnicas (filmes pouco sensíveis, câmeras volumosas), os fotógrafos (na rua) criaram a tradição da foto do trabalhador com o seu equipamento (vendedoras de quitutes, afiadores de facas, fabricantes de cestos etc.). Agora eu percebia que o trabalhador, aquele um, é, na verdade, a síntese de muitos outros trabalhadores, os que exercem a mesma função. Ou seja, a identificação da pessoa fotografada, no que desvia a atenção do objeto para o agente, restringe (ou desvaloriza, ou limita) a representação do trabalho, embora esta seja uma prática necessariamente humana. Este conceito me abriu, de imediato, um extenso campo de observação, e em poucos dias acumulei centenas de fotos (várias, naturalmente, de cada lance). 2 Mestre em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/IFCS/UFRJ). E-mail: guinaramos@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6021416138026952. 1 Resenha recebida em 09/08/2024. Aprovado pelos editores em 31/09/2024. Publicado em 05/12/2024. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v22i49 1
Sempre evitando identificar o trabalhador, como expliquei, mas também, agora como exercício pessoal, tratando de evitar que o trabalhador percebesse que estava sendo fotografado. O ganho existencial que me trouxe este investimento (que entendi como artístico, apesar de sua base quase antropológica) foi ainda maior: passei a perceber trabalhos, tarefas e serviços que nunca havia notado!... E isto apenas no meu entorno casual, nas vizinhanças e, algumas vezes, em viagens, sem ter ido a qualquer lugar motivado por conseguir mais uma foto qualquer para a série. Por outro lado, tentei registrar no celular (meu instrumento em mais de 95% das fotos) todas as formas de trabalho que me passavam pelos olhos, formais ou não, em empresas ou na rua, legais ou duvidosas.... Não tendo pretensão científica, acadêmica ou técnica, queria apenas publicar nas redes sociais. Mas, para isto, se tornou necessário agregar outra forma de expressão, advinda de outras pretensões pessoais: senti a necessidade de escrever sobre os “traços do trabalho”. E daí, atendendo também a uma generalizada curiosidade (“como é que você fez esta foto?”), relatar como foram, no ato, a minha experiência de, e as minhas estratégias para, fotografar estas cenas. Depois de mais de uma centena de postagens nas redes e em dois blogues, e diante de outras demandas, o meu “ímpeto editorial”, que até incluía (mas ainda inclui) a intenção de publicar um livro, arrefeceu um pouco. Com mais de duas centenas de imagens à espera de um texto, acervo que curto apreciar, tenho apenas publicado, de vez em quando, algo mais imediato, uma foto do dia ou a foto de um tema do dia. Diante da possibilidade de apresentar Traços do Trabalho neste espaço, e agradecido por isto, busquei destacar a presença da juventude na série. E fiquei surpreso ao ver que não é tão majoritária assim... Daí esta heterogênea seleção (uma síntese da séria em apenas 12 fotos & textos), para a qual, independentemente da idade do trabalhador, achei mais valioso optar pela relevância da imagem e da situação. Até porque, afinal, em qualquer tarefa, em algum momento, gente de praticamente qualquer idade poderá deixar, no lugar de outros trabalhadores ou sob outras condições de trabalho, os seus próprios traços do trabalho. Toda a série pode ser vista a partir do link: <https://tracosdotrabalho.blogspot.com/> 2
O lixo, quando envergonha Foto: Guina Araújo Ramos, São Paulo/SP, 2023 A foto foi feita em São Paulo, no início de junho de 2023, quando eu, a pedidos, estava experimentando (e opinando sobre) doces folheados em uma charmosa lanchonete, uma loja aos pés de um grande prédio comercial e residencial. Vi na esquina o rapaz trazendo sacos de lixo em uma caçamba, que ia amontoando numa espécie de depósito, à espera, naturalmente, do caminhão de lixo da prefeitura. Fiz que ia fotografar da esquina a quina do prédio, para chegar bem perto. O rapaz desconfiou dos meus interesses e, enquanto colocava o último saco, me olhava afrontosamente, como se dissesse: “quero ver se você vai me fotografar!”... Fingi absoluta indiferença, balançando a cabeça como se procurasse o melhor ângulo da quina do prédio. Este jogo de cena entre nós dois durou alguns segundos até que ele, aparentemente, achou que o perigo havia passado. Virou-se e foi fechar a caçamba, para encerrar a tarefa. Era justamente o que eu queria: uma foto da situação em que, preferencialmente, o personagem principal não pudesse ser identificado ou reconhecido. Aí, fiz a foto. 3
Percebi claramente, da parte dele, uma sensação de vergonha, pela tarefa que fazia. O que compreendo: não se ao trabalho físico o valor que merece, e o rapaz parecia alguém que almejava outro nível de reconhecimento na sociedade. Porém, é um trabalho da maior dignidade, da maior necessidade, com um valor que não é qualquer trabalho intelectual que se lhe compara. Ainda mais, diante do drama ambiental em que Humanidade cada vez mais se afunda... Pintor de paisagem Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 Talvez não haja trabalho mais prazeroso!... Bem, certamente haverá, mas não vale a pena comparar aqui... O que vale destacar é este trabalho (digo, arte) em pauta (digo, na foto), o trabalho de pintor de paisagem, se não digo a arte de retratar a paisagem. Ou será que, mais precisamente, devo dizer “a paisagem do Rio”? Tanta boniteza sempre confunde a gente... Mas, o maior prazer!... Não o de ver a pintura em sua quase completude, posta no cavalete à beira da baía da Guanabara como se uma galeria da arte tivesse sido propositalmente deslocada para o calçadão (o de Icaraí, Niterói) apenas para possibilitar uma foto completamente inusitada, ainda mais para quem acabava de parar num sinal meio trancado e não conseguia evitar o cometimento de uma infração de trânsito... E também este prazer supremo (do ponto de vista fotojornalístico) 4
de aproveitar uma oportunidade repentina e fazer uma foto, em si, muito prazerosa. E ainda ter a surpresa de ver trabalho assim realista, mas tão calcado na metalinguagem, posto que o cinza da manhã enevoada havia sido transcendida, pelo artista, no seu mergulho paisagístico nos muitos tons do azul de céu acima, o das montanhas ao longe e o do pacífico mar à frente. Segui em frente, havia mais o que fazer... E fiquei pensando se ainda veria uma outra vez a obra, esta pintura da paisagem do Rio de Janeiro centrada no Pão de Açúcar de tanta qualidade, como percebi de imediato e a fotografia confirmou. Montadora de doces folhados Foto: Guina Araújo Ramos, São Paulo/SP, 2023 A profissional exercia esta função na sofisticada confeitaria paulistana, achei incrível, especializada nesta espécie muito especial de doces!... A tarefa era de acesso público, podia ser vista através do vidro que a separava (e à mesa de mármore) dos curiosos (e/ou gulosos) clientes. Faltam-me conhecimentos técnicos (e não estava preocupado com isso), mas me parece que as folhas lhe chegam prontas e que cabe a ela, no caso, montar camadas e camadas de massa folhada e de recheio doce, até atingir a altura suficiente (atenção, alerta!: apesar da propaganda intrínseca ao nome do doce, nunca colocam mil folhas!...), e depois cortar no tamanho apropriado, se não ao interesse do comprador, a um bom formato de venda (notem as afiadas 5
lâminas redondas). Acompanhado, que eu estava, de qualificada profissional do ramo, ouvi, além de elogios ao produto, um princípio de crítica à ausência de luvas no preparo dos doces folhados, reclamação que acabou suavizada pela constatação de que realmente não deve ser fácil manusear tais ingredientes com um par de luvas no caminho e que, afinal, quem garantiria, depois de pronta cada remessa, a higiene das peças?... Assim muitos doces folhados são feitos e, que chegamos até ali, tive o prazer, no ato, de experimentar um deles: posso garantir que gostei... Entregador na vitrine Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 Estava eu tomando um cappuccino, à espera da patroa, quando reparei no rapaz atrás do carrinho de entrega diante das vitrines. Não sei se estava chegando ou saindo, mas ficou um bom tempo ali parado, dando voltas entre uma coisa e outra. Apurando bem a observação, notei que seu foco de atenção era mesmo a vitrine das jóias e dos relógios, e não a da lingerie negra, com o reforço da sugestiva foto da modelo de lábios carnudos toda em vermelho. E eu fiquei pensando o quanto e de que maneira um jovem recém adulto, com seu trabalho pesado, passou a se interessar, simplificando a questão, mais por dinheiro do que por sexo... Depois de longos minutos de enlevo, ele afinal pegou o carrinho pelos 6
chifres, trouxe-o até a horizontal, girou sobre si e saiu fora shopping, puxando atrás dele o peso das suas condições objetivas de inserção na tão atraente sociedade capitalista em que lhe coube viver... (Fiz toda a sequência, mas esta é... a foto!) Garçom de restaurante de rua Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 Jogo de futebol em noite de semana é certeza de grande freguesia nos restaurantes, ainda mais dos que têm o privilégio de espalhar as suas mesas pela calçada. Os clientes torcedores se acomodam na melhor posição possível em relação às telas de TV penduradas nos cantos do salão (ou da calçada) e, com exceção de uns chatos que não param de falar, a plateia, digo a clientela, se mantém num respeitoso silêncio, ao menos até o agito de um gol no telão... É neste contexto que os garçons têm que trabalhar. Em geral, jovens bem informais, eles circulam pelas mesas com a devida rapidez (para não atrapalhar a visão), adivinham os pedidos dos clientes (que até esquecem de chamá-los) para novas levas de bebida (cerveja ou chope?) e, mesmo vendo o jogo de soslaio, também torcem um pouquinho, disfarçadamente, pelo seu time preferido. 7
E no final, fim de jogo, conta fechada, ainda precisam ter um tanto de paciência com o mau humor dos clientes torcedores perdedores da noite... Os dois lados do balcão Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 milhares de tipos de lanchonetes, este espaço tão trivial. aquelas das grandes redes que se espalham pelo país e as dos comerciantes esforçados com seus poucos recursos para bancar uma loja. E a que não existe por si, a que não é de uma loja de rua. É parte de outro estabelecimento, por exemplo, um ambiente menor de um grande comércio de frutas (e de outros alimentos), mais um subproduto de um "hortifruti". Uma lanchonete que serve sucos saudáveis e comidas leves, e tem mesas simples, que servem não para encontros românticos ou de negócios, mas apenas para o cliente relaxar das compras. Um padrão de lanchonete válido para praticamente qualquer país ocidental, e outros. Mas, são as pessoas de um lado e de outro do balcão que marcam a presença do histórico padrão brasileiro de relações sociais, o que vale para praticamente todos os balcões do país. De um lado, a dona (de casa?) comprando seus petiscos e um suco. De outro, a garçonete de uniforme branco e touca de cabelo, que a atende. Quem compra é uma mulher branca de certa idade, que usa o seu dinheiro; quem atende é uma jovem mulher negra, que faz o seu trabalho. 8
Guardião voluntário do patrimônio Foto: Guina Araújo Ramos - Cabo Frio/RJ, 2023 Em Cabo Frio/RJ, em visita profissional, à espera de autoridades, demos um tempo no pátio do Museu de Arte Religiosa e Tradicional, instalado no antigo Convento de Nossa Senhora dos Anjos, ao lado da igreja que lhe o nome, acompanhado apenas por um estagiário de Comunicações do museu. Aí, estando aberta a porta lateral, procedemos, naturalmente, tal qual o cachorro da antiga piada: entramos na igreja. E fomos dar uma olhada nos detalhes daquela construção colonial, concluída em 1696. O destaque, para o nosso tema, foi o estagiário. Cuidou de não interferir e até nos serviu de guia, tirando várias de nossas dúvidas. Mas, afinal, admitiu, com talvez uma ponta de orgulho: estava mesmo era tomando conta do patrimônio! 9
Distribuindo carrinhos Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 Tem que organizar!... Um grande supermercado, com milhares de clientes, com várias portas de entrada, com a utilização desbragada dos carrinhos de compra tem, sim, que organizar... Ora, os funcionários não podem deixar que todos carrinhos fiquem abandonados no estacionamento do subsolo ou que fiquem, por outro lado, pelo lado de cima, amontoados na portaria principal. No que chega, o cliente chega aflito para garantir o seu carrinho de compras, precisa amontoar as suas compras no seu próprio carrinho. Pois, é que entra o organizador (ou arrumador, ou movimentador) de carrinhos de compras (ou sei que título este trabalhador tem), que o é ao menos enquanto empurra e puxa os carrinhos. Sendo o supermercado assim tão grande, há, na verdade, vários empregados dedicados à tarefa, ao menos de vez em quando. E de vez em quando entram todos em ação ao mesmo tempo. Trazem pra cá, levam pra (jogo rápido!), até que se estabelece uma distribuição razoável, equilibrada, sensata, o que é iniciativa fundamental para que o comprador não deixe de ficar satisfeito logo na entrada do estabelecimento... Afinal, coisa mais desagradável para o sempre estressado cliente, incômoda mesmo, do que ter que fazer uma grande compra segurando cestinhas?... Ou, pior, ter que brigar com uma pessoa desconhecida para garantir o seu carrinho, que passa a ser, nessa hora, um verdadeiro objeto de estimação?... 10
E para isto a rapaziada não poupa esforços: sobe e desce, vai e volta, e coloca à disposição do cliente todos os carrinhos disponíveis, que o cliente precisa ter logo um deles à mão, até porque se não carrinho para carregar nem pra dizer que se está em um verdadeiro supermercado... O ciclista no celular Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 Esta é uma foto que persegui durante toda esta série Traços do Trabalho : a imagem de um ciclista circulando pelas ruas enquanto uma olhadinha, às vezes demorada, no seu celular. Destas, havia feito outras antes, outros ciclistas atentos ao celular em pleno trabalho de circular. Mas, desta vez a chance foi das boas: consegui tirar três fotos enquanto andava em paralelo a ele, que não tinha pressa. Também vi motociclistas vendo o celular enquanto corriam na pista (e vi vários), em plena ação e com mais velocidade, mas estes são realmente difíceis de fotografar... De motociclistas, os parados no sinal ao meu lado... Fica aqui a minha curiosidade: será que tanto ciclistas quanto motociclistas, como me aconteceu, também são multados pelo "uso do celular na direção de veículo"?... 11
Capricho no atendimento Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 No posto de gasolina o trabalho não para, nem mesmo em uma manhã pós- Natal: o povo, no que pega o carro, ou vai ou racha! Quer dizer, ou melhor dizendo: quem tem carro ou viaja ou passeia, ou retorna ou cai fora... E os rapazes (e meninas, às vezes, também), a pedido dos motoristas, dão logo um capricho, nem que seja uma rápida lavada nos vidros. E ele o faz, antes de mais nada por gentileza, mas também na expectativa de que o cliente deixe uma boa gorjeta na caixinha de Natal, antes que siga adiante, que daqui a pouco, todos bem abastecidos, terão todos que viajar por mais um Ano Novo e adiante... Estoque de transportes Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 12
De repente, aqui na vizinhança abriram uma loja sem clientes. De fora, vê-se apenas uma espécie de tapume, com porta e guichê, e seus produtos são exclusivamente hambúrguer. Parece ser uma marca conhecida, prestigiada, procurada, ao menos para os apreciadores... O atendimento é diferente, considero até meio surrealista: atende por demanda externa, digo, por pedido virtual através de aplicativo, talvez por telefonema ou e-mail, sei lá… Do ponto de vista dos vizinhos, a grande mudança foi a transformação no ambiente da calçada. Agora, funciona ali praticamente o tempo todo, um estacionamento de transportadores, um estoque de transportes. O qual, ao que parece, atende tanto no varejo (via motos) quanto no atacado (via bicicletas). Ou, tentando entender melhor, suponho que a hamburgueria vende tanto para o indivíduo faminto que liga desesperado quanto para o empresário esperto que precisa atender à clientela com um investimento baixo. Bem, talvez não seja bem assim, preciso investigar, darei notícias, mas neste texto rápido o que importa é o que cabe na foto, pois representa tantos outros momentos: o plantão dos entregadores. A maioria deles num banco à entrada da loja, mas o da foto, desde montado na sua moto, certamente impaciente pela próxima entrega que fará... Gari voador Foto: Guina Araújo Ramos - Niterói, 2023 O termo “gari” vem do francês Pedro Aleixo Gary, fundador da primeira empresa de coleta de lixo do Rio de Janeiro, em 1876. “Valorizando” o 13
trabalhador, o termo gari se espalhou pelo país, substituindo a palavra “lixeiro” (e até propuseram “Operário do Meio Ambiente”). Na prática, são até “invisibilizados” pelos preconceitos sociais (como demonstrou um pesquisador da USP que, sem ser reconhecido pelos colegas, se fez de gari durante anos). Enfim, é trabalho árduo... E que se torna pior nas cidades que, restringindo os direitos do trabalhador, terceirizam a coleta de lixo (ou dos “resíduos sólidos”). Restam, para alguns, seus momentos de brilho: a admiração das crianças, ou o sucesso do gari que desfila no Carnaval do Rio, e dos que cantam e dançam enquanto trabalham etc. Então, incluo nesta relativa compensação social os momentos em que o gari é o dono do pedaço, organizando o espaço enquanto limpa a área. E, acima de tudo (supondo que alguns o façam com o maior prazer), quando desliza pela cidade, quase por cima dos carros, agarrado nos corrimãos, apoiado em apertados estribos (aliás, algo questionado na Justiça), até que se sinta, por alguns instantes, um gari voador... Niterói, 30/06/2024 Sobre o autor: Aguinaldo (Guina) Araújo Ramos é formado em Ciências Sociais (IFCS/UFRJ, 2001), pós-graduado em "Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais" (UCAM, 2002) e Mestre em História Comparada (PPGHC/IFCS/UFRJ, 2008). Trabalhou como fotojornalista (Bloch, 1976/1980, e Jornal do Brasil, 1980/1986) e como fotógrafo freelancer na imprensa (Estadão, Folha, IstoÉ, Veja, Visão) e empresas (Furnas, CSN, Shell, Esso etc.) (1986/2010). Vencedor do Concurso Literário Teixeira e Souza (Cabo Frio, RJ, 2007). Premiado no Concurso Contos do Rio (caderno Prosa & Verso, jornal O Globo, 2006). Finalista do Prêmio SESC de Literatura (2005), categoria Romance. Recebeu o Prêmio Funarte-Marc Ferrez de Fotografia 2010 (categoria Pesquisa). É coautor do livro “Apoena o homem que enxerga longe” (2007). Publica fotos & textos e crônicas fotográficas nas redes sociais e em diversos blogs de sua autoria. 14
Publicou (todos por Guina&dita) os livros "2112 ...é o fim!" (2013) e “Rio de Amores” (2014), contos; “A Outra Face das Fotos” (2014), memórias; “Personagem Cabal” (2016), fotos & textos; "O Jogo do Resta Um - romance sócio antropológico quase histórico, pouco político, meio filosófico, muito econômico" (2017), romance; "[O dos] Bonecos e [a das] Pretinhas" (2017), novela fotoilustrada. E mantém cerca de duas dezenas de blogs com temas diversos. 15