V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
A
ATUALIDADE
DE
LÊNIN
EM
“AS
TAREFAS
DA
JUVENTUDE”
1
Sandra
Luciana
Dalmagro
2
Resumo
O
texto
tem
por
objetivo
apresentar
e
discutir
o
discurso
de
Lênin
“As
tarefas
das
Uniões
da
Juventude”,
realizado
em
1920
por
ocasião
do
Congresso
da
Juventude
Comunista
da
Rússia.
Metodologicamente
assinalamos
o
contexto
russo
à
época,
apresentamos
o
texto
de
Lênin
e
articulamos
este
à
teoria
educacional
marxista
com
base
em
Marx,
Suchodolski
e
Manacorda.
Também
indicamos
que
na
fala
de
Lênin
se
encontram
princípios
fundamentais
da
Escola
Única
do
Trabalho
(Krupskaya,
Pistrak
e
Shulgin),
experiência
escolar
dos
primeiros
anos
da
Rússia
Soviética.
Concluímos
que,
mesmo
passado
um
século
deste
discurso,
ele
continua
atual
pois
as
questões
abordadas
permanecem
como
desafios
à
formação
das
novas
gerações:
a
superação
da
sociedade
de
classes,
a
necessária
articulação
teoria
e
prática
e
o
engajamento
dos
jovens
nas
lutas
sociais
e
no
domínio
do
conhecimento
elaborado.
Palavras-chave
:
Lênin;
Juventude
Comunista;
Teoria
Marxista
da
Educação;
Escola
Única
do
Trabalho.
LA
ACTUALIDAD
DE
LENIN
EN
“LAS
TAREAS
DE
LA
JUVENTUD”
Resumen
El
objetivo
de
este
artículo
es
presentar
y
discutir
el
discurso
de
Lenin
“Las
tareas
de
las
Uniones
Juveniles”,
pronunciado
en
1920
con
ocasión
del
Congreso
de
la
Juventud
Comunista
de
Rusia.
Metodológicamente
señalamos
el
contexto
ruso
de
la
época,
presentamos
el
texto
de
Lenin
y
lo
articulamos
a
la
teoría
educativa
marxista
basada
en
Marx,
Suchodolski
y
Manacorda.
También
indicamos
que
el
discurso
de
Lenin
contiene
los
principios
fundamentales
de
la
Escuela
Única
de
Trabajo
(Krupskaya,
Pistrak
y
Shulgin),
experimento
escolar
de
los
primeros
años
de
la
Rusia
Soviética.
Concluimos
que,
aunque
pasado
un
siglo
de
este
discurso,
él
continua
actual
porque
las
cuestiones
abordadas
siguen
como
desafíos
para
la
educación
de
las
nuevas
generaciones:
la
superación
de
la
sociedad
de
clases,
la
necesaria
articulación
de
teoría
y
práctica
y
el
compromiso
de
los
jóvenes
en
las
luchas
sociales
y
en
el
dominio
del
conocimiento
desarrollado.
Palabras-clave
:
Lenin;
Juventud
Comunista;
Teoría
Marxista
de
la
Educación;
Escuela
Única
de
Trabajo.
THE
CURRENTNESS
OF
LENIN
IN
“THE
TASKS
OF
YOUTH”
Abstract
The
aim
of
this
article
is
to
present
and
discuss
Lenin’s
speech
“The
tasks
of
the
Youth
Unions”,
given
in
1920
in
the
occasion
of
the
Communist
Youth
Congress
of
Russia.
Methodologically
we
point
out
the
Russian
context
at
the
time,
present
Lenin’s
text
and
link
it
to
the
Marxist
educational
theory
based
on
Marx,
Suchodolski
and
Manacorda.
We
also
indicate
that
Lenin’s
speech
contains
the
basic
principles
of
the
Single
Labor
School
(Krupskaya,
Pistrak
and
Shulgin),
a
school
experience
from
the
early
years
of
the
Soviet
Russia.
We
conclude
that,
even
though
a
century
has
passed
since
this
speech,
it
keeps
being
relevant
because
the
issues
approached
on
it
remain
as
educational
challenges
to
the
new
generations:
overcoming
class
society,
the
necessary
articulation
of
theory
and
practice
and
the
commitment
of
young
people
in
social
struggles
and
in
mastering
the
knowledge.
Key-words
:
Lenin;
Communist
Youth;
Marxist
Theory
of
Education;
Single
Labor
School
2
Doutora
em
Educação
pela
Universidade
Federal
de
Santa
Catarina.
Professora
do
Centro
de
Ciências
da
Educação
e
do
Programa
de
Pós-Graduação
em
Educação.
Núcleo
de
Estudos
sobre
as
Transformações
do
Mundo
do
Trabalho
–
TMT/CED/UFSC.
Email:
sandra.dalmagro21@gmail.com
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9400207409329063
.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-9639-7070
.
1
Artigo
recebido
em
29/09/2024.
Primeira
Avaliação
em
30/09/2024.
Segunda
Avaliação
em
09/10/2024.
Aprovado
em
30/10/2024.
Publicado
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i49.64869
1
Introdução
Realizamos
uma
apresentação
e
algumas
reflexões
sobre
o
texto
clássico
de
Lênin
“As
Tarefas
das
Uniões
da
Juventude”,
popularmente
conhecido
como
“As
Tarefas
da
Juventude”.
3
Trata-se
de
um
discurso
proferido
em
2
de
outubro
de
1920,
por
ocasião
do
III
Congresso
da
União
Comunista
da
Juventude
de
toda
a
Rússia
e
publicado
originalmente
na
Revista
Pravda,
revista
oficial
do
Partido
Comunista
da
União
Soviética.
Utilizamos
aqui
da
versão
disponível
no
site
marxista.org
,
o
qual
publica
a
partir
das
Obras
Escolhidas
de
Lênin,
Edições
Avante!,
ligada
ao
Partido
Comunista
Português.
O
texto
também
pode
ser
encontrado
em
edições
brasileiras
como
as
Obras
Escolhidas,
pela
editora
Alfa
e
Ômega
(Lênin,
1980).
O
discurso/texto
possui
cerca
de
dez
páginas.
A
União
da
Juventude
Comunista,
também
conhecida
como
Komsomol
(contração
de
Kommunisticheskiy
Soyuz
Molodiozhi)
foi
a
organização
dos
jovens
comunistas
articulados
em
diversas
células
em
todo
o
país
e
que
perdurou
ao
longo
do
período
soviético.
O
Komsomol
foi
a
mais
relevante
e
longeva
organização
juvenil,
ligada
ao
Partido
Comunista
da
União
Soviética
(PCUS),
reunindo
milhares
de
jovens
a
partir
de
14
anos
4
.
Antes
dos
14
anos
havia
uma
organização
infantil
denominada
Pioneiros.
Ambas,
no
período
fértil
dos
primeiros
anos
da
revolução,
se
pautavam
pela
auto-organização
(Pistrak,
2018;
Shulgin,
2013),
ou
autogestão,
princípio
marxista-leninista
também
exercitado
nos
soviets.
Vladimir
Ilich
Lênin
(1870-1924)
foi
o
líder
mais
destacado
da
Revolução
Russa
e
do
Partido
Bolchevique,
desempenhando
um
trabalho
teórico
e
prático
essencial.
Estudioso
do
marxismo,
em
seus
escritos
sobressaem
os
temas
do
partido,
do
Estado
e
da
filosofia
marxista.
A
questão
da
instrução
pública
como
política
estratégica
da
revolução
socialista
é
recorrente
em
sua
obra
(Bittar
e
Ferreira
Jr.,
2011).
Lênin
foi
casado
com
Nadezhda
Krupskaya,
reconhecida
revolucionária
e
pedagoga
soviética
que
atuou
junto
ao
Comissariado
do
Povo
para
a
Educação
–
NARKOMPROS,
órgão
similar
ao
Ministério
da
Educação.
4
Em
seu
discurso,
Lênin
aponta
que
a
União
da
Juventude
Comunista
tem
400
mil
membros.
3
Este
artigo
foi
escrito
para
a
sessão
Textos
Clássicos
da
Revista
Trabalho
Necessário
cujo
objetivo
é
tecer
comentários
sobre
obras
consagradas.
O
texto
de
Lênin
encontra-se
na
íntegra
nos
anexos
desta
Edição
n.
49,
cuja
temática
é
Juventude
Trabalhadora.
2
Lunatcharski,
o
Comissário
da
Educação
entre
1917
a
1929,
reconhecido
intelectual
e
militante,
considerava
Krupskaya
a
“alma
do
NARKOMPROS”
(Freitas,
2017).
Antes
de
adentrarmos
na
exposição
do
texto
vamos
localizar
brevemente
o
contexto
econômico
e
cultural
da
Rússia
quando
do
discurso
de
Lênin.
Contexto
histórico
5
Outubro
de
1917
é
a
síntese
de
um
processo
longo
de
lutas
dos
trabalhadores
russos
contra
o
poder
absoluto
do
czar.
A
aristocracia
russa
era
composta
de
pequena
classe
cheia
de
privilégios,
enquanto
grande
parte
da
população
vivia
na
pobreza
e
miséria.
Houve
tentativas
anteriores
de
acabar
com
o
czarismo.
Destaca-se
o
ano
de
1905,
denominado
“Ensaio
Geral”,
repleto
de
greves
e
insurreições
que
foram
duramente
reprimidas,
porém
o
resultado
mais
significativo
desse
momento
foi
a
criação
dos
soviets
–
conselhos
de
trabalhadores
que
funcionavam
como
um
duplo
poder,
controlando
a
partir
de
1905
os
alimentos,
as
armas,
o
debate
e
a
formação
política.
São
os
soviets
que
têm
papel
decisivo
em
1917,
como
indicava
a
consigna
“Todo
poder
aos
soviets”.
A
Rússia
era
um
país
atrasado,
com
uma
imensa
massa
de
camponeses
pobres
vivendo
em
condições
de
exploração
análogas
ao
feudalismo.
Nas
cidades,
principalmente
Moscou
e
São
Petersburgo,
a
urbanização
e
a
industrialização
se
desenvolviam,
mas
onde
milhares
de
desempregados
e
trabalhadores
viviam
em
situação
precária.
O
processo
revolucionário
emerge
das
condições
de
vida
do
povo
russo
que
foram
agravadas
pela
primeira
guerra
mundial
e
devido
a
existência
de
organizações
dos
trabalhadores
e
sua
articulação
em
um
partido
revolucionário.
As
principais
reivindicações
dos
camponeses
e
trabalhadores
foram
sintetizadas
pelo
slogan
bolchevique
que
conduziu
à
revolução
em
1917:
“Pão,
Paz
e
Terra”.
O
povo
russo
passava
fome,
estava
cansado
de
guerras
e
a
questão
da
terra
era
um
problema
secular.
Os
operários
concentrados
nas
grandes
cidades
comandam
o
processo
revolucionário,
mas
os
camponeses
constituíam
a
imensa
5
Para
esta
parte
do
texto
nos
apoiamos
em
uma
síntese
que
produzimos
por
ocasião
do
centenário
da
Revolução
Russa
(Bahniuk
e
Dalmagro,
2017).
3
maioria
da
população
russa.
A
aliança
entre
operários
e
camponeses
é
um
ponto
essencial
que
possibilitou
unir
forças
em
prol
da
revolução.
As
medidas
imediatas
após
a
tomado
do
poder
se
referem
à
paz,
à
terra
e
ao
controle
operário
da
vida
social
(Serge,
2007),
as
quais
buscam
reverter
o
contexto
da
guerra
civil,
a
fome
e
as
forças
produtivas
pouco
desenvolvidas,
em
particular
a
produção
industrial
atrelada
ao
capital
internacional,
o
qual
decretou
embargo
econômico
à
Rússia.
A
tomada
do
poder
não
encerra
as
lutas,
antes
abre
um
novo
ciclo.
Os
desafios
são
imensos:
o
enfrentamento
ao
exército
branco
contrarrevolucionário,
o
boicote
dos
países
ocidentais
à
revolução,
dispor
de
quadros
políticos
e
técnicos
aos
desafios
da
tomada
do
poder
em
um
contexto
de
pouca
escolaridade
e
a
morte
de
destacados
militantes
no
contexto
das
guerras.
No
ano
de
1920
a
Rússia
sofreu
uma
seca
de
enorme
proporção,
implicando
na
volta
da
fome,
agravada
pela
especulação
com
os
alimentos
exercida
pelos
kulaks,
camponeses
ricos
que
controlavam
as
terras
e
se
opunham
às
transformações
em
curso.
Os
primeiros
anos
da
revolução
são
chamados
de
Comunismo
de
Guerra,
assinalando
as
dificuldades
do
período
no
qual
o
principal
desafio
era
assegurar
a
vitória
da
revolução.
O
momento
que
se
abre
após
estes
difíceis
primeiros
anos
é
a
necessidade
de
desenvolver
economicamente
o
país.
A
Nova
Política
Econômica
(NEP)
tem
como
coluna
vertebral
o
desenvolvimento
industrial,
a
maquinização
e
a
coletivização
no
campo.
Para
isso
é
preciso
eletrificar
o
país
e
fomentar
a
indústria
de
base.
Os
extratos
mais
conscientes
da
revolução
têm
a
clareza
de
que
o
socialismo
é
uma
fase
transitória
ao
comunismo.
As
classes
ainda
não
estão
extintas.
Em
particular
na
Rússia
da
época,
país
feudal,
a
indústria
é
incipiente,
coube
ao
socialismo
promover
a
base
técnica
que
em
outros
países
fora
obra
do
capitalismo.
A
NEP
assume
o
modelo
taylorista,
reproduzindo
a
divisão
entre
concepção
e
execução,
além
de
realizar
diversas
concessões
à
propriedade
privada,
entendidos
pelo
comando
do
Partido
como
recuos
necessários
para
desenvolver
o
país,
retirar
a
população
da
miséria
e
ampliar
as
bases
políticas
de
apoio
à
revolução.
As
contradições
e
desafios
são
imensos
e
emergiram
críticas
no
seio
do
próprio
comunismo
quanto
aos
caminhos
que
a
revolução
traçou
(ver
por
exemplo
Aued,
1995).
4
Note-se
que
o
discurso
de
Lênin
ocorre
transcorridos
menos
de
3
anos
da
revolução
de
1917.
Momento
em
que
se
transita
do
Comunismo
de
Guerra
à
Nova
Política
Econômica.
Os
elementos
da
transição,
do
longo
processo
que
atravessa
gerações
para
construir
o
comunismo
e
os
desafios
de
edificar
os
fundamentos
econômicos
e
culturais
da
nova
sociedade
estão
explícitos
no
texto.
Em
que
pesem
as
contradições
e
mesmo
o
fim
do
“socialismo
real”,
o
processo
revolucionário
já
nos
seus
primeiros
anos
assegurou
o
direito
ao
trabalho,
a
jornada
laboral
de
8
horas,
equiparou
os
salários
de
homens
e
mulheres,
garantiu
a
assistência
médica
e
a
educação
gratuitas,
o
direito
à
habitação,
entre
outros
(Serge,
2007).
Em
relação
às
mulheres
formulou-se
uma
legislação
progressista
outorgando
à
igualdade
dos
direitos
civis
e
políticos,
o
direito
ao
divórcio,
ao
aborto
legal
e
gratuito
e
a
socialização
do
trabalho
doméstico
por
meio
de
lavanderias,
creches
e
restaurantes
públicos.
Aos
jovens
também
se
dedica
atenção
especial
na
área
educacional,
no
campo
profissional
e
na
participação
na
vida
social
e
política,
como
fica
evidente
no
discurso
aqui
em
análise.
No
campo
educacional
e
cultural
se
realiza
um
processo
de
socialização
dos
bens
culturais
como
o
acesso
a
bibliotecas,
museus,
universidades,
meios
de
comunicação
e
à
arte
em
suas
diversas
expressões.
Em
particular,
entre
1917
e
1931,
há
um
vasto
empreendimento
para
transformar
a
velha
escola
elitista,
verbalista
e
autoritária
em
uma
escola
sintonizada
aos
interesses
das
crianças
e
jovens
e
aos
desafios
sociais
mais
amplos
colocados
pela
revolução.
A
escolaridade
torna-se
obrigatória
e
o
ensino
gratuito,
contrastando
com
a
lógica
excludente
existente
na
Rússia
antes
da
revolução,
na
qual
4/5
das
crianças
e
adolescentes
não
frequentavam
a
escola
e
aproximadamente
75%
da
população
era
analfabeta.
Nas
regiões
mais
remotas
da
Rússia
o
índice
de
analfabetismo
chegava
a
90%.
As
questões
brevemente
relatadas
demonstram
o
caráter
expansivo
da
Revolução
Russa
a
qual
buscou
outras
bases
para
a
produção
da
vida,
trazendo
à
tona
questões
que
no
curto
período
da
revolução
desenvolveram-se
de
forma
prematura.
O
desenrolar
do
socialismo
russo
foi
limitado
por
diversos
fatores
como
a
segunda
guerra
mundial,
a
inexistência
de
outras
revoluções
no
ocidente,
a
instauração
do
stalinismo
e
a
concentração
do
poder
econômico
e
político
na
burocracia
estatal
e
partidária.
Mas
as
conquistas
de
outubro
se
expandiram
além
da
Rússia
(Hobsbawn,1995),
pautando
no
mundo
todo
melhores
condições
para
os
5
trabalhadores
e
à
causa
das
mulheres,
além
de
inspirar
a
luta
pelo
socialismo
por
muitas
décadas
até
a
atualidade,
estimulando
revolucionários
e
revoluções.
O
contexto
do
discurso
de
Lênin,
acima
brevemente
referido,
ganha
vida
em
sua
fala
aos
jovens
e
é
a
base
concreta
a
partir
da
qual
ele
pergunta:
afinal,
o
que
é
ser
um
comunista?
Como
se
aprende
a
ser
um
comunista?
Nossa
exposição
seguirá
a
sequência
do
seu
discurso,
o
qual
responde
às
questões
acima
referidas
de
modo
dialético
em
três
pontos:
i)
a
necessidade
de
estudar,
se
apropriar
das
conquistas
da
ciência
e
do
conhecimento
elaborados;
ii)
a
inserção
dos
jovens
nas
lutas
do
povo
russo
para
a
construção
do
socialismo
e
iii)
convocação
dos
jovens
e
de
sua
organização
na
campanha
de
alfabetização
e
combate
à
fome
do
povo
russo,
questões
prementes
à
época.
Nosso
objetivo
nestas
páginas
é
apresentar
o
texto
de
Lênin
e
tecer
alguns
comentários
que
buscam
contextualizar
e
apoiar
o
seu
entendimento.
Trazemos
algumas
contribuições
de
outros
pensadores
marxistas,
principalmente
do
campo
da
teoria
educacional
e
da
pedagogia
marxista,
uma
vez
que
o
texto
em
questão
aborda
centralmente
a
educação
das
novas
gerações.
Como
se
aprende
a
ser
comunista?
Lênin
inicia
seu
discurso
afirmando
que
cabe
precisamente
à
juventude
criar
a
sociedade
comunista,
porque
“a
geração
de
militantes
educada
na
sociedade
capitalista
pode,
no
melhor
dos
casos,
realizar
a
tarefa
de
destruir
as
bases
do
velho
modo
de
vida
capitalista
baseado
na
exploração”.
Não
se
trata
da
retórica
de
Lênin
por
estar
em
um
Congresso
Juvenil.
Está
a
destacar
que
a
construção
do
comunismo
é
tarefa
de
longo
prazo,
de
muitas
gerações
e
que
mudar
a
educação
de
forma
radical
é
um
empreendimento
que
leva
tempo
e
que
se
articula
com
as
condições
objetivas
em
que
a
educação
se
processa.
Portanto,
segue
Lênin,
as
tarefas
da
juventude
poderiam
ser
expressas
com
uma
só
palavra:
“a
tarefa
consiste
em
aprender”.
Mas,
pergunta
ele:
“que
aprender
e
como
aprender?”
Sua
resposta,
como
um
bom
materialista
dialético
começa:
“O
ensino,
a
educação
e
a
formação
da
juventude
devem
partir
do
material
que
nos
ficou
da
velha
sociedade.”
A
nova
sociedade
não
deve
se
parecer
com
a
antiga,
são
necessários
conhecimentos,
comportamentos
e
valores
novos,
mas
isso
se
constroi
com
base
e
partindo
do
que
a
velha
sociedade
nos
deixou.
Afirma
que
as
novas
6
gerações
precisam
aprender
o
que
é
o
comunismo,
mas
em
seguida
diz
que
esta
é
uma
afirmação
demasiado
genérica.
Por
certo,
aprender
o
comunismo
não
é
aprender
por
meio
de
manuais.
A
realidade
é
viva,
em
movimento
e
complexa
e
não
se
trata
de
aplicar
a
teoria
marxista
na
realidade,
como
uma
mecânica.
“Comunistas”
de
manuais,
de
frases
prontas,
são
um
perigo
ao
comunismo,
adverte-nos.
Neste
ponto,
Lenin
se
refere
ao
“divórcio”
entre
os
livros
e
a
vida,
questão
ainda
bastante
atual.
Sob
a
era
czarista,
medieval,
tal
divórcio
era
ainda
mais
gritante.
A
articulação
entre
o
livro
e
a
vida,
ou
entre
o
conhecimento
e
a
realidade
será
o
ponto
central
a
partir
da
qual
se
construirá
a
escola
soviética
(Krupskaya,
2017;
Pistrak,
2015
e
2018;
Shulgin,
2013
e
2022).
Percebamos
que
“o
livro”
é
uma
referência
ao
conhecimento
humano
sistematizado
e
validado
em
cada
época
e
que
é
atravessado
por
ideologia,
interesses
e
forças
em
luta.
Para
o
Materialismo
Histórico-dialético
o
conhecimento,
e
nele
a
ciência,
são
históricos,
expressam
os
modos
e
os
métodos
de
conhecer
de
seu
tempo
(Andery
et
al,
1999),
assim
como
o
que
é
tido
como
verdadeiro
está
atravessado
pelas
relações
sociais.
Na
resposta
à
pergunta
o
que
e
como
aprender
a
ser
comunista,
Lênin
passa
a
falar
da
escola.
Ele
sabe
que
a
escola
é
uma
instituição
de
classe,
dual,
que
forma
para
as
funções
correspondentes
às
diferenças
de
classes
no
capitalismo.
Não
por
acaso
a
escola
que
se
constroi
no
período
dos
pioneiros
soviéticos
se
chama
Escola
Única
do
Trabalho.
Única
porque
não
dual
(Cverdlov
et
al,
2017;
Lunacharski,
2017).
A
velha
escola
era
a
escola
do
estudo
livresco,
obrigava
as
pessoas
a
assimilar
uma
quantidade
de
conhecimentos
inúteis,
supérfluos,
mortos,
que
atulhavam
a
cabeça
e
transformavam
a
jovem
geração
num
exército
de
funcionários
talhados
todos
pela
mesma
medida.
Mas
se
tentásseis
tirar
a
conclusão
de
que
se
pode
ser
comunista
sem
ter
assimilado
os
conhecimentos
acumulados
pela
humanidade
cometeríeis
um
enorme
erro.
Seria
errado
pensar
que
basta
assimilar
as
palavras
de
ordem
comunistas,
as
conclusões
da
ciência
comunista,
sem
assimilar
a
soma
de
conhecimentos
de
que
o
comunismo
é
consequência.
O
marxismo
é
um
exemplo
que
mostra
como
o
comunismo
surgiu
da
soma
dos
conhecimentos
humanos
(LÊNIN,
1977,
s/p).
Atentemos
que
a
escola,
sob
o
período
czarista
era
acessível
a
menos
de
5%
da
população,
portanto,
frequentar
a
escola
era
condição
da
aristocracia
e
classes
médias
que
precisavam
das
letras
para
as
funções
que
desempenhavam.
Já
a
7
escola
que
se
tornou
acessível
às
amplas
massas
nos
países
capitalistas,
se
universaliza
a
partir
de
seu
caráter
dual,
ou
seja,
quando
frequentar
a
escola
não
é
sinônimo
de
status
ou
mobilidade
social
e,
depois,
nem
mesmo
garantia
de
estabilidade
no
trabalho.
Manacorda
(2000)
demonstra
que,
para
os
trabalhadores,
a
escola
não
tem
o
objetivo
de
ensinar
a
ciência
ou
o
pensamento
complexo,
mas
difundir
conhecimentos
rudimentares
e
moldar
comportamentos
como
a
disciplina,
hierarquia
e
submissão,
necessários
ao
trabalho
industrial.
Lênin
afirma
que
a
teoria
marxista
alcançou
importância
e
milhares
de
proletários
no
mundo
pois
está
apoiada
nos
conhecimentos
adquiridos
no
capitalismo,
se
erguendo
sob
o
acúmulo
anterior.
Uma
“cultura
proletária”,
para
nosso
autor,
somente
seria
possível
com
base
no
conhecimento
preciso
da
cultura
criada
por
todo
o
desenvolvimento
da
humanidade
e
com
a
reelaboração
desta.
Não
é
possível,
para
ele,
uma
cultura
proletária
sem
lastro,
que
emerja
do
vazio.
Nesta
passagem
Lênin
está
a
criticar
o
Proletktut,
movimento
que
propunha
uma
“cultura
proletária
autêntica”,
de
base
idealista,
e
que
teve
enorme
adesão
nos
primeiros
anos
da
Revolução
de
Outubro.
6
O
conhecimento
elaborado,
destituído
de
inverdades
e
ilusões,
precisa
ser
assimilado
pelas
novas
gerações
de
modo
crítico,
ou
seja,
em
confronto
e
diálogo
com
a
realidade
viva
e
pulsante.
Sob
camadas
de
poeira
e
ideologia,
encontram-se
pérolas,
verdades
históricas,
o
saber
que
a
humanidade
construiu
sob
gerações.
Esta
limpeza
precisa
ser
feita
e
trata-se
de
um
esforço
coletivo,
mas
caberá
também
a
cada
estudante,
jovem
e
revolucionário,
o
espírito
crítico
e
atento
para
saber
distinguir
o
conhecimento
verdadeiro
da
ideologia.
Vemos
como
Lênin
opera
com
a
contradição
e
a
dialética:
o
novo
nasce
do
velho,
como
no
poema
de
Brecht
(1987)
A
Parada
do
Velho
Novo
,
mas
à
primeira
vista
não
é
fácil
distingui-los
pois
estão
misturados.
6
O
Proletkult
emergiu
em
1917
como
movimento
autônomo
e
ganhou
muitos
adeptos
nos
primeiros
anos
da
revolução,
chegando
a
milhares
de
membros.
Lênin
e
Krupskaya,
dentre
outros,
opuseram-se
ao
Proletkult
pelo
seu
idealismo
e
espontaneísmo.
Em
Materialismo
e
Empiriocriticismo,
escrito
em
1909,
Lênin
(1946)
faz
duras
críticas
à
Bogdanov,
que
se
tornaria
o
principal
expoente
do
Proletkult.
Em
meados
dos
anos
1920
o
Proletkult
adentra
as
estruturas
do
Estado
soviético
o
que
leva
a
perda
de
vitalidade
e
à
sua
extinção.
Leher
(2017)
tece
críticas
à
posição
de
Lênin
e
Krupskaya
quanto
ao
Proletkult,
com
o
argumento
de
que
uma
força
popular
importante
é
burocratizada,
obstaculizando
a
ruptura
com
a
cosmovisão
burguesa.
Também
tem
força
o
argumento
que
a
ciência
e
a
técnica
produzidas
sob
o
capitalismo,
em
muitos
aspectos
não
servem
às
necessidades
dos
trabalhadores
pois
a
tecnologia
consubstancia
relações
sociais.
8
Só
se
pode
chegar
a
ser
comunista
depois
de
ter
enriquecido
a
memória
com
o
conhecimento
de
todas
as
riquezas
que
a
humanidade
elaborou.
Não
precisamos
da
aprendizagem
de
cor,
mas
precisamos
de
desenvolver
e
aperfeiçoar
a
memória
de
cada
estudante
com
o
conhecimento
de
factos
fundamentais,
porque
o
comunista
transformar-se-ia
numa
palavra
vazia,
transformar-se-ia
num
rótulo
fútil,
e
o
comunismo
não
seria
mais
do
que
um
simples
fanfarrão
se
não
reelaborasse
na
sua
consciência
todos
os
conhecimentos
adquiridos.
Não
só
deveis
assimilá-los,
mas
assimilá-los
com
espírito
crítico
para
não
atulhar
a
vossa
inteligência
com
trastes
inúteis,
e
enriquecê-la
com
o
conhecimento
de
todos
os
factos
sem
os
quais
não
é
possível
ser
um
homem
moderno
culto
(LÊNIN,
1977,
s/p).
São
muitos
os
ensinamentos
que
podemos
extrair
desta
passagem,
como
a
oposição
a
um
“comunismo”
baseado
apenas
em
palavras
sem
atos,
o
entusiasmo
tão
necessário,
mas
que
sem
articulação
com
a
realidade
concreta
se
desvanece.
Lênin
traz
presente
a
complexidade
de
construir
o
socialismo
e
que
para
tal,
a
vontade
é
importante,
mas
absolutamente
insuficiente.
Está
a
dizer
aos
jovens:
estudem,
estudem!!
Se
apropriem
da
ciência,
de
todas
as
áreas
do
conhecimento!
Sem
isto
não
transformamos
a
realidade.
Lembra
que
o
socialismo
não
se
viabiliza
em
um
só
país
e
que
o
capitalismo
em
escala
global
se
alia
contra
a
Rússia.
A
realidade
russa,
de
atraso
econômico
e
cultural,
precisava
ser
transformada
para
que
o
socialismo
tivesse
chances
de
se
manter
vivo.
Esta
é
a
urgência
que
Lênin
alerta.
Devemos
ocupar
a
velha
escola
capitalista
e
dela
retirar
tudo
que
servia
aos
interesses
burgueses.
Em
seu
lugar
devemos
colocar
a
disciplina
consciente,
a
capacidade
de
união
e
organização
coletiva.
Estas
questões,
como
afirmamos,
estão
desenvolvidas
pelos
pedagogos
da
primeira
década
da
revolução.
Chegamos
então
a
um
segundo
momento
do
texto,
no
qual
o
autor
fala
do
desafio
de
construir
a
sociedade
socialista.
Em
poucas
linhas
resume
as
condições
objetivas
em
que
o
processo
revolucionário
se
encontra
e
seus
principais
desafios.
Começa
pela
urgência
em
eletrificar
o
país,
o
que
era
condição
para
desenvolver
a
indústria
e
o
maquinário
agrícola.
Fala
da
necessidade
de
coletivizar
o
campo,
rompendo
não
apenas
com
a
grande
propriedade,
mas
também
com
o
isolamento
do
camponês.
Assinala
para
superar
o
analfabetismo,
questão
que
retomará
ao
final
de
seu
discurso.
Em
um
parágrafo,
Lênin
desenha
as
grandes
questões
que
a
revolução
enfrentava
nas
suas
primeiras
décadas.
9
Não
foi
difícil
desembaraçarmo-nos
do
tsar
-
bastaram
para
isso
alguns
dias.
Não
foi
muito
difícil
desembaraçarmo-nos
dos
latifundiários,
pudemos
fazê-lo
em
alguns
meses,
não
foi
muito
difícil
desembaraçarmo-nos
também
dos
capitalistas.
Mas
suprimir
as
classes
é
incomparavelmente
mais
difícil
(…)
A
luta
de
classe
continua;
apenas
mudaram
as
suas
formas.
É
a
luta
de
classe
do
proletariado
para
que
não
possam
voltar
os
velhos
exploradores,
para
unir
a
massa
dispersa
do
campesinato
ignorante
(LÊNIN,
1977,
s/p).
Como
sabemos,
a
revolução
não
se
faz
por
decreto
e
nem
acaba
com
a
tomada
de
poder.
Este
último
apenas
abre
uma
nova
etapa
na
luta
de
classes.
Estas
precisam
ser
extinguidas
na
realidade,
o
que
leva
tempo
e
acerto
nas
estratégias
de
ação.
O
contexto
deste
momento
é
que
os
grandes
proprietários
rurais
não
tinham
sido
desarticulados
e
jogavam
contra
a
revolução,
especulando
com
a
produção
de
alimentos,
numa
conjuntura
de
fome,
guerra
e
secas
que
se
seguiram
à
revolução.
Esta
não
estava
garantida.
Lênin
alerta
aos
jovens
comunistas
que
o
egoísmo,
o
desejo
de
enriquecer,
sempre
assentados
na
exploração
dos
outros
e
na
indiferença
com
o
próximo,
são
fundamentos
das
classes
dominantes.
Está
a
atentar
aos
jovens
quanto
ao
cuidado
com
seus
desejos
e
interesses
7
,
pois,
se
estes
se
voltam
para
escalar
o
poder,
ocupar
cargos
burocráticos,
então
já
não
temos
um
comunista,
mas
um
burguês
ou
um
opressor
disfarçado.
Este
tema
é
de
enorme
atualidade
pois
em
nossos
tempos
o
empreendedorismo
é
vendido
como
o
modo
para
“vencer
na
vida”
pelos
próprios
méritos,
escondendo
a
ganância
de
uns
poucos
sob
a
exploração
e
exclusão
da
maioria.
Tem
sido
difícil
combater
essa
ideologia
pois
nela
se
expressam
os
pilares
da
sociedade
burguesa:
a
propriedade
privada
e
a
ideia
de
indivíduo
destituído
do
coletivo.
Este
modo
de
produzir
e
se
educar
é
que
precisa
ser
modificado,
caminho
que
a
revolução
estava
a
trilhar.
É
preciso
criar
condições
para
que
crianças
e
jovens
se
desenvolvam
em
novas
relações
nas
quais
sua
educação
possa
emergir
voltada
à
coletividade.
7
A
Teoria
Histórico-cultural
discute
as
bases
materiais
dos
interesses
e
motivos.
Os
motivos
são
aqueles
que
mobilizam,
portanto
estão
na
base
da
atividade,
são
sínteses
da
formação
humana
no
sujeito,
expressão
da
personalidade.
Para
esta
Teoria,
de
base
marxista
e
desenvolvida
ao
longo
do
período
soviético,
os
motivos
e
interesses
precisam
ser
educados
e
desenvolvidos
na
direção
do
social,
do
coletivo
(Vigotski,
2009;
Leontiev,
1983).
Segundo
Prestes
(2017)
Vigotski
tinha
grande
contato
com
Krupskaia
e
Lunatcharski.
Podemos
ver
muitas
conexões
entre
sua
obra,
voltada
à
psicologia
educacional
e
a
dos
pioneiros
da
pedagogia
soviética
expressas
por
Krupskaya,
Pistrak
e
Shulgin.
10
Quando
nos
falam
de
ética,
dizemos:
para
um
comunista,
toda
a
ética
reside
nessa
disciplina
solidária
e
unida
e
nessa
luta
consciente
das
massas
contra
os
exploradores.
Não
acreditamos
na
ética
eterna
e
desmascaramos
a
mentira
de
todas
as
fábulas
acerca
da
ética.
A
ética
serve
para
que
a
sociedade
humana
se
eleve
mais
alto,
se
liberte
da
exploração
do
trabalho
(LÊNIN,
1977,
s/p).
Suchodolski
é
um
autor
que
aprofunda
a
teoria
educacional
do
marxismo
e,
como
Lênin,
chama
a
atenção
para
a
dimensão
da
educação
social.
Trata-se
de
tema
frequentemente
negligenciado
e
cuja
importância
está
em
proporção
à
complexidade
e
dilemas
da
vida
em
sociedade.
Ele
escreveu
nos
anos
1970,
mas
continua
atual
ao
afirmar
que
não
possuímos
sequer
um
esquema
preliminar
de
uma
moral
laica
e
social
para
uso
das
escolas
e
da
juventude
e
continuamos
a
descurar
o
papel
da
educação
dos
sentimentos
na
educação
moral.
Em
tempos
de
grave
crise
climática
e
social
como
os
que
vivemos,
armas
cada
vez
mais
destrutivas,
contradição
entre
as
colossais
forças
produtivas,
concentração
da
riqueza
e
milhares
de
famintos
e
despatriados,
a
educação
social
e
ética
se
torna
um
tema
premente.
“A
educação
moral,
justamente,
diz
respeito
à
nossa
vida
cotidiana
em
situações
concretas.
A
educação
moral
é
o
problema
do
homem
no
pleno
sentido
da
palavra”
(Suchodolski,
2002,
p.
104).
Suchodolski
nos
ajuda
a
compreender
as
palavras
de
Lênin
e
trazer
a
ética
para
o
cotidiano,
para
sua
dimensão
concreta
da
vida
humana.
Os
valores,
os
motivos
e
a
ética
são
formados
pelas
condições
objetivas
em
que
vivemos,
portanto,
colocar
os
jovens
nas
lutas
da
classe
é
profundamente
educativo.
Vejamos
uma
passagem
preciosa
do
texto
de
Lênin
acerca
de
como
se
aprender
a
ser
comunista:
Quando
os
homens
viram
como
os
seus
pais
e
mães
viveram
sob
o
jugo
dos
latifundiários
e
capitalistas,
quando
eles
próprios
participaram
nos
sofrimentos
que
se
abatiam
sobre
aqueles
que
iniciaram
a
luta
contra
os
exploradores,
quando
viram
que
sacrifícios
custou
a
continuação
dessa
luta
para
defender
aquilo
que
foi
conquistado
e
que
inimigos
furiosos
são
os
latifundiários
e
os
capitalistas,
esses
homens
educam-se
nesse
ambiente
como
comunistas.
A
base
da
ética
comunista
está
na
luta
pela
consolidação
e
realização
completa
do
comunismo.
Eis
em
que
consiste
também
a
base
da
educação,
da
formação
e
do
ensino
comunistas.
Eis
em
que
consiste
a
resposta
à
questão
de
como
se
deve
aprender
o
comunismo
(LÊNIN,
1977,
s/p).
11
Nesta
passagem,
Lênin
informa
que
a
palavra
comunista significa
comum
e
que
naquela
sociedade
“tudo
é
comum:
a
terra,
as
fábricas,
o
trabalho
de
todos
-
eis
o
que
é
o
comunismo”.
Porém,
“o
trabalho
comum
não
se
cria
de
repente”.
É
preciso
forjá-lo
e
isto
se
faz
na
luta.
Portanto,
ser
comunista
“significa
consagrar
o
seu
trabalho,
as
suas
forças,
à
causa
comum”.
Lênin
retoma
as
bases
postas
por
Marx
(1989,
1996):
é
na
luta
real
que
constroi
o
comunista.
Diferente
da
perspectiva
burguesa
de
educação,
pautada
na
palavra
divorciada
da
realidade
mais
ampla
–
assim
como
na
visão
religiosa
–
a
educação
socialista
tem
base
na
prática,
na
luta
de
classes
contra
a
exploração,
a
qual,
como
enfatizado
na
primeira
parte
do
texto
de
Lênin,
alia-se
à
teoria
de
modo
fértil.
É
conhecida
e
verdadeira
a
expressão
de
Lênin
no
livro
“Que
Fazer?”
de
1902,
segundo
a
qual
sem
teoria
revolucionária
não
há
prática
revolucionária.
Já
no
discurso
de
1920,
Lênin
nos
assinala
o
mesmo
princípio
de
articulação,
mas
de
modo
invertido:
sem
prática
revolucionária,
não
há
revolucionários;
o
que
dá
vida
à
teoria
revolucionária
são
as
lutas
concretas,
o
que
produz
o
comunista
são
as
lutas
comuns,
isto
é,
coletivas.
Suchodolski
(1976),
novamente
nos
ajuda
a
entender
a
teoria
educacional
implícita
na
teoria
marxista
acionada
por
Lênin:
é
nas
lutas
da
classe,
no
movimento
revolucionário
que
se
encontram
as
bases
para
mudar
a
consciência,
transformado
esta
em
interdependência
com
a
transformação
da
vida
social.
Conforme
Marx
(1989
e
1987),
o
ser
humano
cria-se
na
história
por
sua
própria
atividade
(não
entendida
de
modo
apenas
individual,
mas
enquanto
coletividade)
e
a
alienação
só
pode
ser
superada
mediante
a
criação
de
condições
de
vida
humanizadas.
Na
terceira
tese
Ad
Feuerbach
está
sintetizado
o
princípio
teórico-prático
da
autoprodução
e
da
autoformação
humana
em
sua
atividade
:
(...)
a
doutrina
materialista
que
pretende
que
os
homens
sejam
produto
das
circunstâncias
e
da
educação,
e
que,
consequentemente,
homens
transformados
sejam
produtos
de
outras
circunstâncias
e
de
uma
educação
modificada,
esquece
que
são
precisamente
os
homens
que
transformam
as
circunstâncias
e
que
o
próprio
educador
precisa
ser
educado.
(...)
A
coincidência
da
mudança
das
circunstâncias
e
da
atividade
humana
ou
automudança
só
pode
ser
concebida
e
entendida
racionalmente
como
práxis
revolucionária
(MARX,
1989,
p.
94).
12
O
elemento
decisivo
no
processo
de
formação
humana
é
a
atividade
socioprodutiva
do
homem
que
transforma
seu
ambiente
(Suchodolski,
1976).
O
que
produz
os
humanos
é
sua
própria
prática
social.
Através
dela
se
configura
tanto
o
ambiente
quanto
a
consciência,
já
que
os
homens
são
tão
educados
pelo
meio
quanto
o
fazem.
Portanto,
o
estudo
da
doutrina
comunista,
enfatizado
por
Lênin,
se
torna
consequente
quanto
articulado
às
lutas
pela
construção
do
socialismo,
em
condições
concretas.
Não
acreditaríamos
no
ensino,
na
educação
e
formação
se
estes
estivessem
encerrados
apenas
na
escola
e
separados
da
vida
tempestuosa.
Enquanto
os
operários
e
os
camponeses
continuarem
oprimidos
pelos
latifundiários
e
capitalistas,
enquanto
as
escolas
continuarem
nas
mãos
dos
latifundiários
e
capitalistas,
a
geração
da
juventude
permanecerá
cega
e
ignorante.
Mas
a
nossa
escola
deve
dar
à
juventude
as
bases
do
conhecimento,
a
capacidade
de
forjar
por
si
mesmos
concepções
comunistas,
deve
fazer
deles
homens
cultos.
A
escola
deve,
durante
o
tempo
que
os
homens
estudam
nela,
fazer
deles
participantes
na
luta
pela
libertação
em
relação
aos
exploradores.
A
União
Comunista
da
Juventude
só
justificará
o
seu
nome,
só
justificará
que
é
a
União
da
jovem
geração
comunista,
se
ligar
cada
passo
da
sua
instrução,
educação
e
formação
à
participação
na
luta
comum
de
todos
os
trabalhadores
contra
os
exploradores.
(…)
Deste
modo,
ser
comunista
significa
organizar
e
unir
toda
a
jovem
geração,
dar
o
exemplo
de
educação
e
de
disciplina
nesta
luta.
Então
podereis
começar
e
levar
até
ao
fim
a
construção
do
edifício
da
sociedade
comunista
(LÊNIN,
1977,
s/p).
Aí
está
mais
uma
vez
afirmada
a
necessária
articulação
da
escola
com
a
vida
fora
da
escola,
do
vínculo
entre
teoria
e
prática,
coluna
vertebral
da
Escola
Única
do
Trabalho.
A
auto-organização,
o
Trabalho
Socialmente
Necessário
e
a
atualidade
são
as
ferramentas
desenvolvidas
pelos
pioneiros
da
pedagogia
soviética
para
dar
consequência
ao
princípio
da
unidade
teórico-prática
(Pistrak,
2015
e
2018;
Shulgin
2018
e
2022).
A
União
dos
Jovens
Comunistas,
o
Komsomol,
se
estrutura
fora
da
escola
e
independente
desta,
se
articulada
com
os
trabalhadores
e
seus
coletivos
locais,
mas
também
deve
atuar
na
escola,
estimulando
a
auto-organização
dos
estudantes
e
apoiando
a
escola
na
direção
do
projeto
do
Narkompros.
Um
terceiro
e
último
momento
de
seu
discurso
Lênin
dá
consequência
ao
que
afirmou
anteriormente.
Ele
convoca
a
União
dos
Jovens
Comunistas
para
contribuírem
em
duas
frentes
na
construção
do
socialismo:
a
alfabetização
do
povo
e
a
construção
de
hortas
para
combate
à
fome.
Ele
afirma
que
a
agricultura
ainda
se
13
faz
à
maneira
antiga,
pouco
racional
e
produtiva,
e
que
os
“elementos
mais
conscientes”
devem
apoiar
a
multiplicação
de
hortas,
portanto,
pondo-se
ao
trabalho
útil,
atuando
como
organizadores
e
fomentadores
de
novas
formas
de
produção.
É
um
exemplo
simples,
mas
que
articula
o
trabalho
social
e
o
conhecimento
mais
desenvolvido
disponível
às
novas
gerações
-
ambos
estruturadores
do
discurso
de
Lênin
–
para
se
tornar
um
trabalho
social.
Nas
palavras
de
Shulgin
(2013),
um
Trabalho
Socialmente
Necessário.
Quanto
à
alfabetização,
Lênin
oferece
uma
lição
basilar:
“sabeis
que
num
país
analfabeto
é
impossível
edificar
a
sociedade
comunista”.
Com
base
nesta
convicção
o
país
desenvolvia
ampla
Campanha
de
Alfabetização,
e,
naquele
ano
de
1920,
fora
criada
a
Comissão
Extraordinária
da
Rússia
de
Combate
ao
Analfabetismo
(Bittar
e
Ferreira
Jr,
2011).
A
tarefa
era
gigante
pois,
como
indicamos,
75%
da
população
era
analfabeta
em
um
país
continental
e
com
poucos
professores.
Os
jovens
tinham
muito
a
contribuir,
tornando
esta
a
sua
causa.
Naquelas
condições
históricas,
alfabetizar
é
agir
como
comunista,
é
construir
o
socialismo,
afirma
Lênin.
É
o
trabalho
útil,
necessário,
coletivo,
que
constroi
concretamente
a
sociedade
nova.
“A
juventude
comunista
terá
o
respeito
geral
quando
contribuir
para
as
grandes
tarefas
na
construção
do
Comunismo”,
de
modo
que
alfabetizar,
produzir
comida,
cuidar
dos
idosos
e
crianças,
pautados
nas
necessidades
e
organização
coletiva,
adquire
um
sentido
especial,
revolucionário.
Eis
como
se
aprende
a
ser
comunista.
Considerações
finais
Passados
104
anos
deste
discurso
de
Lênin,
o
mundo
submergindo
ao
capitalismo
continua
com
milhares
de
analfabetos,
famintos,
crianças
e
idosos
abandonados.
Mulheres
seguem
violentadas,
as
populações
originárias
expulsas
de
suas
terras,
o
desemprego,
a
pobreza
e
as
guerras
produzem
uma
massa
de
migrantes
vagando
pelo
mundo
ser
terra
e
sem
lar.
As
guerras
imperialistas
seguem
disputando
as
partes
do
mundo,
ignorando
a
população
local.
A
produção
destrutiva
levou-nos
a
uma
pandemia
e
a
uma
catástrofe
climática
que
ameaça
a
continuidade
da
vida
humana
no
planeta.
Os
jovens
se
sentem
impotentes
e
sem
esperanças.
14
Infelizmente
o
discurso
de
Lênin
segue
profundamente
atual.
Mas
felizmente
ele
permanece
bastante
inspirador.
Nos
lembra
que
a
luta
emerge
das
contradições.
Sim,
há
resistências
em
nosso
tempo,
há
espaços
de
esperança!
E
se
ainda
são
poucos
ou
contra
hegemônicos,
precisamos
torná-los
regra.
Lênin,
Marx
e
Suchodolski
nos
lembram
que
é
apenas
na
luta
por
um
mundo
mais
humano
que
a
nova
geração
pode
se
formar,
somente
por
meio
das
lutas
é
que
se
produz
esperança
e
futuro.
A
articulação
entre
teoria
e
prática,
entre
a
escola
e
seu
meio,
portanto,
a
unidade
entre
o
conhecimento
elaborado,
a
luta
de
classes
e
a
organização
coletiva
é
caminho
inevitável
para
que
as
novas
gerações
possam
construir
o
futuro,
transformando
o
que
herdam
em
uma
sociedade
comum.
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