
A resistência ao marxismo althusseriano é uma marca do debate educacional
brasileiro. Seja reproduzindo os próprios preconceitos presentes, de maneira geral,
nas Ciências Sociais, seja por influência de teorias pedagógicas que se
conformaram no Brasil a partir da crítica superficial àquele que seria o único texto de
Louis Althusser sobre educação – Aparelhos Ideológicos de Estado, escrito em 1969
–, fato é que a obra do filósofo franco-argelino é pouco respeitada pela pedagogia
brasileira. O livro de Alessandro de Melo, Crítica da ideologia humanista em
educação: contribuições do marxismo althusseriano, cumpre o importante papel de
qualificar esse debate, evidenciando, ao mesmo tempo, as lacunas de algumas
críticas e a potência política do projeto althusseriano na leitura rigorosa da escola
capitalista.
Para isso, o livro tem a qualidade de apresentar uma das principais teses
desenvolvidas por Louis Althusser – a existência de um corte epistemológico na obra
de Marx – e, a partir dela, discutir a crítica ao humanismo teórico e seus
desdobramentos para a análise da escola e da educação. O texto é, além disso,
alicerçado em conceitos fundantes da escola althusseriana, como, por exemplo,
sobredeterminação, interpelação, ideologia e formação social. Ironicamente, nenhum
desses conceitos é objeto de análise detida ou mesmo de contraste, ainda que
superficial, pelos pedagogos anti-althusserianos. Esse fato é evidenciado por Melo
no fim do capítulo 2 do texto, resultado de um caminho que se inicia com a
exposição da tese do corte epistemológico (capítulo 1) e passa pelas relações entre
o campo da educação e o humanismo teórico (primeira parte do capítulo 2). O livro é
concluído com apontamentos sobre projeto de educação revolucionária (
capítulo 3).
Não tenho reparos ao capítulo 1 do livro, intitulado Crítica do Humanismo na
Perspectiva Althusseriana. Trata-se de uma excelente exposição sobre o
humanismo teórico, tema que ocupou boa parte da produção de Louis Althusser nos
anos 1960, sintetizada no livro Pour Marx. De início, traz uma completa nota
biográfica de Althusser, seguida da discussão sobre o significado dos Manuscritos
de 1844 de Karl Marx. Com efeito, a problemática que aprisiona os conceitos
contidos nos manuscritos tem base teórica idealista, que alicerça o pensamento de
Marx nas noções de ser genérico – essência humana –, alienação e emancipação.
Essa é a posição de Althusser a propósito do texto, que estaria sendo mobilizado, à
época, como justificativa para guinadas ao reformismo de organizações comunistas