V.22,
nº
49
-
2024
(setembro-dezembro)
ISSN:
1808-799
X
SER
UM
JOVEM
TRABALHADOR
NO
CAPITALISMO
É
SOBREVIVER
TODOS
OS
DIAS
1
Marco
Aurélio
Santana
2
Maria
Cristina
Rodrigues
3
Isabelle
Lopes
4
(Dia
do
Trabalhador
-
1
de
maio
de
2024,
acervo
de
Saulo
Benicio)
4
Graduanda
do
curso
de
Serviço
Social
da
Universidade
Federal
Fluminense
(UFF)
-
Brasil.
e
bolsista
de
Iniciação
Científica
da
Fundação
de
Amparo
à
Pesquisa
do
Rio
de
Janeiro
(Faperj)
-
Brasil.
E-mail:
isabelle_lopes@id.uff.br
.
Lattes:
htpp://lattes.cnpq/350368880377811
.
ORCID:
https://orcid.org/0009-0002-1320-7011
.
3
Doutora
em
Políticas
Públicas
e
Formação
Humana
pela
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ)
-
Brasil.
Professora
da
Escola
de
Serviço
Social
da
Universidade
Federal
Fluminense
(UFF)
-
Brasil.
E-mail:
mcristina@id.uff.br
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/0279905252377710
.
ORCID:
http://orcid.org/0000-0003-0545-2260
.
2
Doutor
em
Sociologia
e
Antropologia
pela
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
(UFRJ)
-
Brasil.
Professor
do
Departamento
de
Sociologia
e
do
Programa
de
Pós-Graduação
em
Sociologia
e
Antropologia
do
IFCS-UFRJ
-
Brasil.
E-mail:
msantana@ifcs.ufrj.br
.
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1729257049926692
.
ORCID:
http://orcid.org/0000-0002-3181-6964
.
1
Entrevista
recebida
em
24/11/2024.
Aprovada
pelos
editores
em
27/11/2024.
Publicada
em
05/12/2024.
DOI:
https://doi.org/10.22409/tn.v22i4
9.65488
.
O
título
foi
retirado
de
uma
fala
do
entrevistado.
1
Entrevista
com
o
jovem
trabalhador
Saulo
Benicio
(Aliança
dos
Entregadores
de
Aplicativo)
Saulo
Benicio
é
um
jovem
trabalhador,
morador
de
Nilópolis,
na
Baixada
Fluminense,
entregador
e
produtor
cultural.
No
dia
14
de
novembro
último,
conversamos
com
ele
sobre
o
que
pensa,
como
atua,
vive
e
trabalha.
A
seguir,
reproduzimos
suas
ideias,
partilhadas
generosamente
conosco.
A
trajetória
familiar
A
minha
trajetória...
o
meu
pai
veio
da
Bahia,
tentando
uma
oportunidade
melhor,
na
verdade,
ele
foi
trazido
criança,
a
família
dele
veio
de
lá,
para
tentar
algo
melhor
aqui
no
Sudeste,
como
é
a
realidade
de
várias
pessoas.
Começou
a
trabalhar
bem
cedo,
numa
época
que
era
permitido
ainda
criança
trabalhar
-
começou
a
trabalhar
com
12
anos.
Foi
constituindo
família,
se
estabelecendo,
sobretudo
na
Baixada
Fluminense,
até
que
ele
passou
no
primeiro
concurso
público
dele,
e,
desde
então,
ele
sempre
foi
funcionário
público
e
foi
criando
a
gente.
A
minha
mãe
tem
origem
na
Zona
Oeste,
Pedra
de
Guaratiba.
Minha
avó
era
de
lá,
minha
mãe
foi
criada
lá
também,
e
aí
eles
se
conheceram,
eles
já
haviam
tido
outra
família
e
filhos,
eles
se
conheceram,
se
juntaram,
eu
fui
o
primeiro
filho
dessa
união.
Tenho
uma
outra
irmã
e
tenho
outros
irmãos,
fruto
de
outros
relacionamentos
deles
dois,
então,
fui
criado
vendo
a
casinha
que
eles
conseguiram,
com
suor,
sendo
construída
desde
o
primeiro
andar
até
o
terraço.
Eu
lembro
muito
bem
disso:
quando
era
criança,
casa
de
pobre
era
dividida
por
móvel,
era
bem
essa
a
nossa
realidade.
Eu
nunca
cheguei
a
passar
fome
ou
outras
coisas;
venho
de
uma
origem
bem
pobre
mesmo,
sem
muito
luxo,
porém,
meu
pai
e
minha
mãe
sempre
se
esforçaram
muito
para
que
eu
tivesse
pelo
menos
acesso
à
educação,
e
o
investimento
deles
era
mais
voltado
para
isso,
naquela
época,
escolher
entre
o
melhor
produto
do
mercado
ou
pagar
uma
mensalidade
para
mim
em
uma
escolinha
de
bairro.
Eu
venho
dessa
criação,
nascido
e
criado
na
igreja
Batista.
Minha
mãe
sempre
atuou
nas
áreas
mais
sociais
da
igreja,
eu
sempre
lembro
disso
-
doação
de
sopa,
doação
de
roupa...
muitas
vezes
eu
estava
com
ela,
mas
criança,
a
gente
não
entende
muito
bem
porque
a
pessoa
está
pegando
uma
doação
de
sopa
na
rua,
mas
eu
acho
que
em
relação
à
justiça
social,
eu
absorvi
isso
muito
da
minha
mãe.
Mesmo
que
2
indiretamente,
sem
perceber,
eu
acho
que
as
coisas
se
direcionaram
para
esse
caminho
de
lutar
contra
a
desigualdade,
contra
a
fome.
Minha
mãe
sempre
foi
dona
de
casa.
Acho
que
é
muito
comum
também,
uma
realidade
de
periferia,
de
favela,
mas
não
só
de
periferia.
No
geral,
eu
acho
que
dentro
da
sociedade
[mais]
patriarcal,
o
homem
sempre
acaba
tendo
que
assumir
essa
função
de
provedor,
e
a
mulher
trabalha
de
graça
dentro
de
casa,
digamos
assim.
Isso
nunca
foi
um
problema
dentro
da
minha
família,
porque
era
o
que
dava
na
época:
um
dos
dois
tinha
que
sair
para
trabalhar,
e
um
dos
dois
tinha
que
estar
em
casa
com
as
crianças.
Minha
mãe,
quando
era
criança,
até
trabalhava,
mas
chegou
um
momento
que
ela
se
tornou
dona
de
casa,
e
ficou
nessa
tarefa
mesmo,
de
estar
no
dia
a
dia
com
os
filhos,
e
meu
pai
já
chegava
da
rua
muito
cansado
também.
Tipo
a
rotina
seis
por
um.
Chegar,
dormir,
e,
no
outro
dia,
trabalhar
de
novo.
E,
até
por
causa
disso,
eu
acredito
que
tive
muito
contato
também
com
a
rotina
da
minha
mãe,
porque
independente
disso,
ela
sempre
atuou
bastante
nessa
questão
das
políticas
sociais
que
se
perpassam
pela
igreja.
E
minha
mãe
está
para
se
aposentar,
porque
ao
longo
desses
anos
que
meu
pai
trabalhou
-
meu
pai
já
é
aposentado,
acho
que
vai
fazer
uns
10
anos
-
ele
sempre
procurou
pagar
a
previdência
da
minha
mãe,
então,
falta
pouco
tempo
para
minha
mãe
se
aposentar.
Mas
em
relação
a
essa
questão
profissional,
minha
mãe
sempre
esteve
mais
presente
nessa
questão
da
casa,
da
igreja,
acho
que
o
comum
na
periferia
e
na
favela.
De
Chapeiro,
a
fuzileiro
naval,
a
entregador
por
aplicativo
Então,
o
meu
pai
acho
que
por
essa
origem
muito
humilde
do
meu
pai
e
da
minha
mãe,
eles
sempre
procuraram
dar
uma
criação,
não
só
para
mim,
como
para
minha
irmã,
mas
eu
acho
que
eu
peguei...
Eu
sou
o
mais
velho.
Eu
não
tinha
as
melhores
roupas,
não
usava
roupas
de
marca,
não
consumia
os
melhores
produtos,
mas
sempre
fui
incentivado
a
estudar
bastante.
Até
quando
ele
já
estava
ali
numa
situação
um
pouco
melhor,
que
tem
muito
a
ver
também
com
o
governo
do
PT
ali
em
2002,
aquela
política
de
acesso
ao
consumo,
mas
também
do
pobre
poder
ter
acesso
a
coisas
que
só
a
classe
média
podia
ter.
Eu
lembro
que
eu
sempre
ia
pedir
alguma
coisa
para
o
meu
pai,
relacionada
a
dinheiro,
e
ele
sempre
era
mais
negativo
do
que
me
dava.
E
aí,
eu
sempre
tive
um
espírito
mais
independente,
nesse
sentido,
3
e
eu
sempre
ficava
perturbando
meu
pai,
minha
mãe:
“Pô,
arruma
alguma
coisa
para
eu
fazer
e
tal”.
Eu
sempre
tive
algumas
coisas
que
não
necessariamente
é
a
CLT,
digamos
assim;
acho
que
eu
chamaria
de
informalidade.
Comecei
sendo
chapeiro
em
um
traillerzinho
que
tinha
na
frente
da
minha
casa,
já
trabalhei
com
venda
de
cartão,
entregando
gás,
água,
minha
vida
no
mundo
do
trabalho
sempre
foi
por
fora
da
CLT.
Tem
uma
coisa
que
eu
sempre
procuro
reforçar,
que
é
a
nossa
juventude,
na
periferia,
favela,
mas
eu
vou
fazer
o
recorte,
na
periferia
não
tem
tantas
opções.
Eu
acho
que
no
mundo
do
trabalho,
para
além
de
tentar,
talvez,
uma
vaga
na
universidade
pública,
se
passa
muito
pelo
militarismo,
pelo
trabalho
precarizado,
pelo
trabalho
informal.
Nesse
sentido,
comigo
não
foi
diferente.
Apesar
do
meu
pai
e
da
minha
mãe
terem
conseguido
mudar
de
vida
um
pouco,
terem
conseguido
melhorar
de
vida,
meu
pai
sempre
me
incentivava
muito
a
fazer
concurso
público,
é
o
que
meu
pai
mais
amava.
Eu
acho
que,
na
verdade,
todo
pai,
se
for
pensar
em
estabilidade,
ele
vai
querer
ver
o
filho
em
um
concurso
público,
ou
então,
vai
querer
ver
o
filho
em
uma
universidade
pública.
Foi
quando
eu
fiz
prova
para
fuzileiro
naval,
em
2011.
Em
2012,
eu
faço
o
curso.
Em
2014,
eu
já
estava
de
saco
cheio
com
disciplina
e
hierarquia.
Assim,
eu
devo
muita
coisa,
eu
aprendi
muita
coisa
no
militarismo,
não
foi
de
tudo
ruim,
mas,
infelizmente,
esse
sistema
de
divisão
de
praças
e
oficiais
traz
muita
desigualdade
de
relações
ali.
Então,
assim,
um
dia
eu
cheguei
no
meu
pai,
estava
até
meio
que
em
depressão
mesmo.
Cheguei
no
meu
pai
e
falei:
“Pai,
não
estou
aguentando
mais”.
Ele
falou:
“Até
te
apoio
a
sair,
mas
tu
precisa
garantir
outra
coisa”.
A
minha
trajetória
é
muito
controversa,
sabe?
Aí
eu
fui
e
fiz
prova
para
PM,
Polícia
Militar,
em
2014,
e
passei.
Mas
era
aquela
época
lá
que
o
Brasil
estava
numa
crise
terrível,
sobretudo
o
Rio
de
Janeiro,
um
dos
estados
que
mais
devia
a
dívida
pública
do
Estado,
mas
estava
sofrendo
com
os
cortes
da
União
e
demorou
muito
para
esse
processo,
de
exames,
de
ter
que
ir
no
CEFAP,
etc.
E,
nesse
período,
eu
já
estava
meio
que
acostumado
a
ter
um
salário
fixo
todo
dia
primeiro
de
cada
mês,
que
é
assim
que
funciona
no
militarismo,
não
atrasa.
Foi
daí
que
eu
comecei
a
trabalhar
com
entregas,
porque
eu
já
tinha
uma
moto.
Comecei
a
trabalhar
com
entregas,
entrega
de
quentinha,
e
volta
e
meia
aparecia
algum
free
la
também.
Sempre
alguém
estava
mencionando.
Na
verdade,
eu
inverti
-
eu
comecei
primeiro
no
mototáxi,
e
do
mototáxi
eu
comecei
a
fazer
entrega.
Logo,
eu
entrei
no
mundo
4
dos
aplicativos,
foi
quando
eu
acho
que
começou
a
ter
um
boom
maior.
Até
no
início,
todos
os
entregadores
falam
que
era
bem
melhor
o
valor
por
cada
corrida.
Mas
é
isso,
quanto
mais
pessoas
entraram,
mais
foram
se
precarizando.
E
desde
então
a
minha
atuação
foi
nesse
horizonte,
fazer
as
entregas
por
aplicativo,
me
inserir
mais
nos
movimentos
em
relação
a
lutar
por
direitos.
Então,
assim,
essa
foi
a
minha
trajetória.
Eu
não
vivi
o
mundo
da
CLT,
digamos
assim.
Eu
sempre
estive
no
mercado
informal,
sempre
estive
ali
trabalhando,
como
dizem
por
aí,
para
mim
mesmo.
O
sonho
(e
os
percalços)
do
concurso
público
Então,
assim,
eu
acho
que
se
fizesse
essa
pergunta
hoje
para
os
brasileiros,
eu
acho
que
a
grande
maioria
iria
querer
[entrar
no
serviço
público].
Tudo
bem
que
a
questão
do
empreendedorismo,
à
la
Marçal,
tomou
conta
completamente.
Não
digo
completamente,
mas
é
algo
que
pega
muito
as
pessoas
que
vêm
de
uma
origem
mais
humilde.
Quem
não
quer
melhorar
de
vida?
Eu
acho
muito
difícil
a
pessoa
responder
que
não,
mas
eu
acho
que
não
passa
nem
por
você,
um
dia,
chegar
a
ser
rico.
Eu
acho
que
hoje
temos
tanto
o
mínimo,
que
as
pessoas
estão
tão
acostumadas
com
o
mínimo
que
pensar
uma
melhoria
mínima
pega
muito
na
periferia,
na
favela.
Então,
assim,
eu
ainda
penso.
Eu
quero,
inclusive,
fazer
concurso
público
porque
eu
tenho
duas
filhas.
Então,
eu
sempre
fico
olhando
as
páginas,
tipo,
Folha
Dirigida,
para
ver
algum
concurso
para
fazer,
porém,
é
muito
difícil
ter
tempo
para
estudar.
Eu
acho
que
a
maior
dificuldade,
hoje,
de
passar
no
concurso
é
porque
as
pessoas,
meio
que
se
profissionalizaram
em
fazer
concursos,
tanto
é
que
tem
vários
cursinhos.
Então,
é
uma
concorrência
que
também,
muitas
das
vezes,
quem
tem
uma
rotina
mais
desgastante,
tipo,
trabalha
seis
vezes
na
semana,
em
relação
às
mulheres,
é
mãe,
tem
que
estar
cuidando
de
casa,
enquanto
o
marido
está
na
rua
trabalhando,
o
cara
que
sai
para
fazer
entrega.
Então,
é
uma
realidade
muito
distante
para
muitas
pessoas,
fazendo
recortes
das
pessoas
próximas
a
mim.
Tem
pessoas
que
não
terminaram
o
ensino
médio,
não
terminaram
o
ensino
fundamental,
então
também
tem
isso,
mas
é
um
grande
sonho.
Ter
estabilidade,
acho
que
para
qualquer
um.
Então,
está
dentro
do
meu
horizonte,
sim,
passar
em
algum
concurso
público.
Eu
acho
que
é
só
tentar
mesmo,
ver
a
melhor
forma
de
estar
estudando
para
isso,
porque
hoje
em
dia
tem
concursos
que
tem
5
gente
que
tira
9.1,
que
é
o
primeiro
colocado.
Então,
é
muito
difícil
passar
para
um
concurso.
Mas
assim,
ao
longo
da
minha
vida,
eu
fiz
vários.
Passei
em
alguns,
outros
eu
passei,
mas
não
estava
dentro
do
número
de
vagas.
Eu
estou
sempre
me
aventurando,
mas
eu
confesso
que
de
uns
anos
para
cá
está
muito
difícil
estudar
para
um
concurso
público.
Sem
contar
que
é
muito
desgastante
emocionalmente
também,
mentalmente.
Mas
assim,
é
um
grande
sonho.
E
lutar
para
que
haja
mais
concursos,
tenha
mais
vagas
também.
Principalmente
para
a
galera
que
vem
de
uma
escola
pública,
que
não
teve
tanto
acesso
a
uma
educação
mais
qualificada
.
Patrão
de
si
mesmo?
Questões
em
torno
da
“autonomia”
do
trabalho
É
muito
comum
quem
tem
moto
trabalhar
com
a
sua
moto,
se
torna
algo
mais
confortável,
porque
você
acaba
conseguindo
um
pouco
fazer
a
sua
própria
rotina.
Muito
entre
aspas,
você
tem
um
pouco
mais
de
autonomia
ali,
de
regramento
do
seu
horário
de
trabalho,
e
acaba
que
é
o
que
dá
para
você
acumular
um
pouco
mais
de
grana.
Inclusive,
isso
é
o
que
tem
muito
de
discurso
entre
os
entregadores:
por
que
eles
vão
se
prender
à
CLT,
que
hoje
é
um
salário-mínimo,
que
a
escala
majoritariamente
é
seis
por
um,
se
você
pode
estar
em
cima
de
uma
moto
12
horas
por
dia?
Infelizmente,
acaba
se
tornando
uma
escolha
para
muitos,
mas
também
envolve
o
discurso
neoliberal,
que
vai
prosperar
mais
sendo
o
patrão
de
si.
Hoje
em
dia,
pelo
que
eu
percebi
nas
últimas
movimentações,
isso
mudou
bastante,
mas
mudou
numa
bolha
que
eu
estava,
que
tinham
pessoas
de
todos
os
tipos,
seja
de
direita,
de
esquerda,
anarquista,
odiadores
do
PT,
ou
odiadores
da
esquerda...
Eu
acho
que
mudou,
que
os
entregadores
se
situaram
um
pouco
de
que
ninguém
é
patrão
de
si
e
de
que
a
gente
precisa
correr
atrás
de
direitos.
Mas,
no
mercado
informal
minha
trajetória
foi
essa,
por
isso
que
eu
nunca
trabalhei
de
CLT,
eu
sempre
trabalhei
na
informalidade
mesmo,
que
foi
o
que
me
contemplou,
digamos
assim.
Conhecer
e
enfrentar
a
realidade
da
Uber
Na
época,
quando
eu
passei
para
a
PM
em
2014,
que
foi
ao
mesmo
tempo
que
eu
saí
do
quartel,
eu
percebi
que
esse
processo
de
entrar
para
a
Polícia
Militar
ia
demorar
muito
ainda,
sabe?
E
aí
eu
precisava,
por
mais
que
eu
estivesse
6
morando
na
casa
dos
meus
pais,
não
é
a
mesma
coisa
você
sair
de
uma
realidade
que
você,
todo
dia
primeiro
tem
um
salário
fixo
e
ficar
pedindo
dinheiro
para
o
seu
pai.
Aqui
em
Nilópolis,
até
diminuiu
bastante,
mas
os
pontos
de
mototáxi
sempre
tinha
muita
gente
trabalhando,
eu
tinha
vários
amigos
que
eram
mototaxistas,
tu
vê
mototáxi
toda
hora
passando.
Aí,
automaticamente
tu
pensa:
“essa
galera
aí,
que
é
mototáxi,
está
fazendo
dinheiro.
Não
é
possível!”
Até
que
vem
a
realidade
cruel.
Entro
no
mototáxi,
aquela
parada
toda,
realidade
difícil,
moto
quebrando,
gasolina
cara,
até
que...
eu
acho
que
eu
fiquei
uns
dois
anos,
quase,
aí
eu
falei:
“aqui
não
está
dando”.
Entrei
nesse
mundo
aí
das
entregas,
geralmente
entrega
diária,
mas
o
valor
que
tu
recebe
é
por
cada
entrega
que
tu
faz.
Eu
comecei
a
ir
pegando
a
visão
da
Uber,
entro,
faço
a
minha
conta
ali.
Na
Uber,
começo
a
entender
melhor
e,
assim,
é
uma
rotina
difícil,
porque
trabalho
é
direito
zero,
nenhuma
relação
trabalhista.
Inclusive,
muitas
coisas
mínimas,
mínimo
do
mínimo,
a
gente
conquistou
a
partir
de
2020
com
o
breque
dos
aplicativos,
mas,
coisas
mínimas
como
máscara,
álcool
gel,
durante
a
pandemia,
foi
por
causa
disso,
então,
algumas
coisas
foram
conquistadas,
só
que,
ainda
assim,
é
algo
mínimo.
A
dor...
Chegou
um
momento,
eu
sentia
muito,
eu
acho
que,
assim,
acaba
com
o
psicológico,
porque
são
várias
coisas
que
você
tem
que
passar
durante
o
seu
dia
de
trabalho,
sabe?
Eu,
por
ser
cria
de
periferia,
Nilópolis
é
um
local
colado
com
a
Chatuba
de
Mesquita,
que
é
uma
favela.
E
acaba
tendo
uma
integração
de
quem
mora
em
Nilópolis
com
quem
mora
na
Chatuba.
Eu
nunca
tive
problema
de
entrar
em
favela,
por
exemplo,
mas,
você
ter
essa
rotina
direto,
ver
a
arma
-
às
vezes,
tu
entra
até
no
[meio
do]
confronto.
Teve
uma
época
que
eu
trabalhei
muito,
que
eu
trabalhava
muito
de
madrugada,
até
na
periferia,
porque
a
minha
moto
não
estava
em
dia.
Tinha
um
esquema
de
bug
do
aplicativo,
que
a
gente
conseguia
botar
primeiro
como
bicicleta,
depois
passava
para
moto;
só
que
isso
daí,
os
pedidos
só
vinham
para
mim
de
madrugada.
Me
ajudou
muito
em
relação
à
conta,
sabe,
mas
também
é
muito
desgastante.
Não
tem
nenhum
entregador
que
eu
converse,
que
esteja
fazendo
entrega,
que
não
fale
isso:
“a
coluna
vai
com
Deus,
saúde
mental
vai
também,
você
não
tem
tempo
para
praticar
um
exercício,
para
se
alimentar
direito,
não
tem
ponto
de
apoio
para
você
parar,
carregar
o
celular”.
7
...
e
a
delícia
(crítica)
de
ser
quem
se
é
Então,
teve
coisas
boas,
e
eu
acho
que
as
coisas
boas
têm
mais
relação
com
as
pessoas
que
eu
conheci,
com
o
universo
que
eu
conheci,
de
entender
a
realidade.
Eu
acho
que
é
uma
coisa
que,
às
vezes,
falta
um
pouco...
Eu
já
vi
muito
discurso
como
se
o
entregador
fosse
uma
pessoa
idiota,
mas
infelizmente,
o
entregador,
ele
está
ali
dentro
de
uma
rotina
alienante,
e
eu
acho
que
serviu
muito
para
mim,
como
ser
humano,
conhecer
muitas
realidades,
muitas
visões.
Também
de
respeitar
e
eu
estou
longe
de
ser
contra
qualquer
polarização,
sabe?
Eu
acho
que
se
não
existe
polarização,
existe
ditadura
do
centro,
então,
foi
importante
para
mim
a
formação
como
pessoa,
como
militante,
como
político.
Também
serve
para
se
enxergar
como
parte
da
classe
trabalhadora,
dos
trabalhadores.
É
meio
que...
essa
experiência
teve
mais
coisas
ruins
por
causa
da
relação
com
o
aplicativo,
mas
teve
muitas
coisas
boas,
de
lideranças
que
eu
conheci,
de
realidade
que
eu
conheci,
de
perspectiva
de
luta.
Eu
acho
que
ficaria
essa
balança.
Acaba
que,
no
final
de
tudo,
essa
balança
sempre
tende
a
dar
mais
benefícios
para
os
donos
das
empresas;
para
os
empregados,
porém,
ainda
tem
muito
caldo
para
estar
lutando
por
melhores
condições,
independente
do
espectro
político
dos
empregadores.
A
militância
partidária:
“não
ser
um
comentarista
da
luta
de
classes”
(Em
campanha/2024,
acervo
de
Saulo
Benicio)
8
Então,
é
até
engraçado,
eu
começo
a
notar
mais
o
PSOL
através
do
Freixo
e
do
Jean
Wyllys.
Eu
acompanhava
de
longe,
só
que
eu
já
era
bem
subversivo,
assim,
digamos,
dentro
do
militarismo,
com
16
anos,
porque
eu
saio
da
igreja
virando
ateu.
Então,
todo
adolescente
já
é
chato
naturalmente,
imagina
abandonando
completamente
a
religião!
Mas,
no
próprio
militarismo,
eu
já
não
estava
dentro
daquele
quadrado
ali
da
mente
mais
fechada.
Me
lembro
de
ter
tido
alguns
conflitos
relacionados
à
sexualidade,
à
religião,
eu
acho
que
isso
acaba
me
aproximando
muito
mais
de
um
cara
antissistêmico,
muito
mais
do
campo
progressista
de
esquerda,
do
que
do
cara
antissistêmico
ali
de
direita.
Então,
eu
começo
a
acompanhar
mais
o
partido
do
PSOL
–
ele
já
existia
em
Nilópolis
–
porque
eu
era
mototaxista
e
lembro
que
estava
no
mototáxi
na
campanha
de
2016,
em
que
não
participei
tanto,
mas
participei
minimamente
ali.
Sempre
tive
muito
pé
atrás
com
partido,
com
política.
No
trabalho,
a
galera
foi
me
convencendo
porque
acabou
sendo
algo
que,
pra
mim,
fazia
sentido,
pela
educação
popular,
atuar
ali
ao
lado
dos
trabalhadores;
e
também
a
própria
atuação
específica
na
minha
cidade,
pela
contravenção
e
o
jogo
do
bicho,
aqui,
para
esquerda,
tem
pouco
espaço.
Então,
eu
comecei
a
me
aproximar
mais
em
2016:
com
muito
pé
atrás,
comecei
a
acompanhar
alguns
espaços,
debates,
até
que,
em
algum
momento,
eu
me
convenci
de
que
eu
não
podia
ser
um
comentarista
da
luta
de
classes.
Se
eu
de
fato
queria
mudanças
concretas,
efetivas,
eu
acho
que
eu
tinha
que
dar
meu
corpo
à
luta,
o
que
não
é
uma
tarefa
fácil.
Em
2018,
estava
tendo
uma
reorganização
dos
movimentos,
das
ferramentas
do
partido,
não
do
partido
aqui,
mas
quem
construiu
o
partido,
eu
tive
o
convite
em
2020
para
começar
uma
preparação
de
dois
anos
para
me
tornar
figura
pública,
candidato.
Eu
comecei
isso
tudo
muito
cru,
era
muito
ruinzinho,
e
fui
melhorando
mesmo
na
prática,
participando
de
espaços,
de
mesas
de
debates,
como
até
hoje.
Batendo
quase
10
anos
já,
foi
assim
que
foi
minha
participação,
lembrando
aqui
que
a
minha
pauta
principal,
digamos
assim,
acabou
sendo
o
trabalho
por
aplicativo.
E,
assim,
hoje
eu
diria
que
as
pautas
principais
que
eu
estou
construindo
é
a
questão
do
movimento
hip
hop,
que
dialoga
com
a
cultura
popular,
a
educação
popular,
e
a
questão
do
mundo
do
trabalho.
Então,
a
minha
militância,
naturalmente,
foi
ao
encontro,
por
exemplo,
do
breque
dos
aplicativos,
das
lideranças
que
ali
nasceram.
9
Breque
dos
Apps
e
a
formação
de
lideranças
(Breque
dos
App/2020,
acervo
de
Saulo
Benício)
Muitas
lideranças,
de
fato,
foram
se
formando
mesmo
de
2020
para
cá,
porque
ainda
não
era
um
debate
que
estava
quente
antes
de
2020.
Então,
assim,
eu
fui
conhecendo
as
pessoas,
Galo,
Ralf,
e
aí
tinha
toda
essa
parada
do
breque
dos
aplicativos
e
tal,
só
que
ainda
levou
um
tempinho
depois
do
breque
para
isso
começar
a
se
tornar
organizações
mais
orgânicas,
digamos
assim:
crescimento
de
associação,
de
sindicato,
de
movimentos,
que
também
é
o
meu
caso.
Então,
eu
faço
parte
da
Aliança
Nacional
dos
Entregadores
de
Aplicativo
,
que
é
um
movimento
que
surgiu
em
2022,
a
partir
daquele
período
de
2020
e
que
conta
com
lideranças
do
Brasil
todo.
Tem
representantes
do
sindicato,
representantes
de
associação,
representantes
de
movimento,
e
eu
acho
que
essa
articulação
institucional,
digamos
assim,
ela
se
ampliou
a
partir
disso.
Agora,
as
outras
articulações
se
passavam
muito
pela
política
partidária,
porque
os
parlamentares
estão
ali
para
servir
o
povo,
mas
também
eles
estão
ali
para
se
reeleger,
então,
eles
apostam
nos
perfis
que
têm
a
ver
com
o
tipo
de
trabalho
que
eles
querem
priorizar.
10
(Em
Brasília,
acervo
de
Saulo
Benicio,
julho
de
2024)
De
dois
anos
para
cá,
eu
consegui
crescer
muito
no
sentido
de
estar
conhecendo
pessoas,
de
estar
mapeando
pessoas
a
partir
desse
movimento
que
se
desdobrou
do
breque
dos
aplicativos
e
é
a
partir
disso,
que
eu
também
estava
na
mesa
de
negociação
[com
o
governo
Lula,
para
regulamentação
do
trabalho
de
entrega
por
aplicativo]
que
não
avançou
em
nada,
mas
a
articulação
se
deu
dessa
forma.
E
também
para
fora
de
quem
não
constrói
partido,
quem
não
constrói
movimento,
se
dá
muito
através
das
redes
sociais,
de
fazer
atividades
com
esse
debate,
de
estar
pautando
isso
mesmo.
Então,
acho
que
tem
toda
a
articulação
para
dentro
e
a
articulação
para
fora,
como
uma
figura
pública.
Ser
figura
pública
me
ajudou
muito
a
alcançar
outras
pessoas
que
não
necessariamente
estão
dentro
da
política,
dentro
do
partido,
do
movimento,
do
sindicato,
das
associações,
da
academia
e
outras.
Ser
um
jovem
trabalhador
Cara,
ser
um
jovem
trabalhador
na
perspectiva
do
sistema
capitalista
é
você
literalmente
ser
um
batalhador,
porque
as
coisas
acontecem
muito
mais
para
te
desanimar
desse
processo
que
você
está
vivendo
dentro
desse
regime,
seja
agora
nesse
debate
da
escala
6x1,
seja
no
trabalho
por
aplicativo,
que
é
uma
escala
7x0,
11
sem
uma
folga
certa.
Por
mais
que
as
empresas
insistam
em
dizer
que
muita
gente
está
trabalhando
por
aplicativo
como
renda
extra,
isso
não
exclui
o
fato
que,
independente
disso,
essas
pessoas
estão
acumulando
dois
ou
três
trabalhos
para
poder
chegar
no
final
do
mês,
poder
pagar
as
contas
e
encher
sua
geladeira.
Então,
acho
que
tem
que
ser
muito
batalhador
para
sustentar
essa
rotina.
E,
muitas
das
vezes,
ser
batalhador
envolve
não
ter
saídas,
não
ter
perspectivas
de
melhora
-
muitas
coisas
que
acontecem
são
humilhantes.
Nos
últimos
períodos,
a
gente
estava
vendo
todo
dia
um
caso
de
um
trabalhador
sendo
agredido,
sendo
humilhado,
um
caso
de
racismo.
Então,
todas
as
opressões
que
têm
dentro
do
sistema
capitalista,
que
a
gente
sabe
que
tem,
elas
parecem
e
se
multiplicam
quando
você
está
em
cima
de
uma
moto
com
uma
bag
nas
costas,
porque
esse
conflito
é
acentuado
por
uma
falta
de
controle
sobre
os
usuários
dos
aplicativos.
Sendo
específico:
os
conflitos
só
aumentam
mais
porque
o
entregador
não
tem
algo
que
blinde
ele
de
que
ele
não
pode
subir
no
apartamento.
Por
outro
lado,
o
cara
que
está
no
apartamento,
por
N
motivos,
ele
vai
ficar
puto
que
o
entregador
não
subiu.
Então,
isso
acaba
virando
um
conflito
que
é
por
falta
de
uma
regulamentação,
algo
concreto
que
possa
blindar
os
entregadores,
às
vezes
os
usuários
também.
E
assim,
ser
um
jovem
trabalhador
no
capitalismo
é
sobreviver
todos
os
dias
mesmo.
É
uma
questão
de
sobrevivência,
você
passar
por
um
regime
exaustivo
de
trabalho,
você
ter
poucos
direitos,
você
ter
pouca
folga,
pouco
tempo
para
a
família,
para
se
cuidar,
não
ter
acesso
a
cuidar
da
sua
saúde
mental.
Então,
é
muito
difícil.
A
minha
perspectiva,
e
pelo
que
eu
luto,
é
que
os
trabalhadores
tenham,
de
fato,
direitos
plenos.
Agora
a
gente
está,
graças
a
Deus,
nesse
debate;
graças
a
Erika
Hilton,
a
gente
está
nesse
debate
da
escala
seis
por
um,
e
para
mim
isso
é
animador,
por
mais
que
eu
ainda
tenha
muito
ceticismo.
Não
devido
a
gente,
que
está
lutando
por
essa
melhoria,
mas
devido
aos
empresários,
ao
mercado,
à
mídia
hegemônica,
à
própria
direita.
Mas
o
que
eu
acredito,
pelo
que
eu
estou
na
luta,
é
para
ver
melhorias.
Eu
sempre
falo
muito
isso,
que
se
fosse
para
melhorar
individualmente
eu
nem
estaria,
provavelmente,
nem
estaria,
porque
tudo
que,
por
exemplo,
a
direita
ou
o
mercado
quer,
a
gente
solta
que
pode
ser
liderança
para
botar
essa
pessoa
ali,
para
divulgar
o
mercado
financeiro,
divulgar
a
financeirização,
se
promover
através
das
pautas
de
identidade.
Então,
eu
penso
muito
que
a
vitória
coletiva,
que
eu
prefiro,
está
acima
da
vitória
individual.
Sim,
eu
quero
ter
uma
boa
vida,
dar
boa
vida
para
as
minhas
filhas,
12
mas
eu
não
quero
isso
só
para
mim
ou
para
as
minhas
filhas,
eu
tenho
a
ambição
de
que
isso
torne
algo
universal.
Então,
a
perspectiva,
hoje,
do
jovem
que
está
em
cima
de
uma
moto
se
passa
única
e
exclusivamente,
por
chegar
em
casa
e
ter
algo
para
alimentar
a
sua
família
e
pagar
conta.
Mas
eu
acho
que
a
gente
pode
muito
mais,
e
os
movimentos
dos
últimos
anos,
que
se
reacenderam
com
o
breque
dos
aplicativos,
mostram
sim
que
tem
espaço
para
a
esquerda
institucional
voltar
a
priorizar,
pautar
o
que,
de
fato,
a
população
está
falando
que
quer
como
prioridade.
Pelo
que
eu
percebi
nas
últimas
eleições,
o
que
a
população
quer,
como
prioridade,
é
ter
emprego
com
direitos,
ter
acesso
à
saúde,
a
uma
educação
-
pode
parecer
clichê,
mas
é
o
que
a
galera
está
pedindo.
Então,
eu
acho
que,
a
não
ser
que
sejam
os
casos
das
emergências
climáticas,
que
não
tem
direito
se
não
tiver
planeta,
a
não
ser
que
sejam
coisas
urgentes
do
agora,
que
põem
em
risco
a
sobrevivência
humana,
a
esquerda
tem
que
ter
humildade
de
inverter
as
prioridades.
E
inverter
as
prioridades,
o
que
o
Mano
Brown
já
falou
lá
atrás
-
eu
sempre
gosto
de
citar
o
Mano
Brown
porque
eu
construo
um
movimento
hip-hop,
eu
tenho
uma
roda
cultural
e
eu
vejo
de
perto
a
solidariedade
que
existe
entre
essas
pessoas.
Por
óbvio,
não
é
perfeito,
mas
é
algo
muito
voltado
e
pensando
na
comunidade.
(Roda
Cultural,
acervo
de
Saulo
Benício)
13
Então,
inverter
as
prioridades,
ouvir
a
população
primeiramente;
não
só
ouvir,
como
ter
um
contato
mais
direto
com
a
população.
Então,
eu
acho
que,
finalizando
a
questão
da
perspectiva,
o
que
o
trabalhador
que
hoje
não
está
inserido
nos
grandes
debates
da
política
nacional,
estadual,
da
academia,
quer
é
se
sentir
ouvido
e
também
perceber
que
as
suas
prioridades
estão
sendo,
de
fato,
as
nossas
prioridades
(de
quem
estamos
num
campo
mais
progressista).
E
dialogar
mesmo,
não
tem
pra
onde
correr.
Eu
acho
que
polarização
é
importante,
mas
a
depender
de
como
ela
é
feita,
ela
não
funciona
para
a
população
média
que
não
está
inserida
nos
grandes
debates,
e
nos
debates
também
que
envolvem
clima,
sexualidade,
gênero,
linguagem.
E
eu
não
estou
falando
isso
aqui
como
se
não
fosse
algo
importante;
é
porque,
de
fato,
a
população
média
está
muito
mais
preocupada
com
a
questão
do
trabalho
do
que
com
a
eleição
do
Trump
agora.
Então,
eu
acho
que
se
a
gente...
não
estou
dizendo
para
abandonar
pautas,
mas
se
a
gente
não
inverter
as
prioridades,
a
gente
vai
cada
vez
mais
perder
gente
dentro
dos
trabalhadores,
que
não
estão
se
sentindo
contemplados
pelos
debates,
que
muitas
vezes
até
fazem
parte
de
uma
bolha
específica,
mas
que
acaba
que
é
o
que
a
direita
usa
para
bater
na
gente.
Então,
minha
perspectiva
é
a
gente
voltar
a
pautar
o
mundo
do
trabalho
como
uma
prioridade,
de
forma
mais
humilde,
digamos
assim.
E
ouvindo
mais
os
trabalhadores,
não
necessariamente
o
que
esteja
dentro
das
nossas
utopias
e
convicções.
A
gente
tem
que
pensar
alguma
forma
de
ter
um
consenso
ali,
por
exemplo,
escala
seis
por
um:
a
gente
está
apoiando
agora
a
escala
quatro
por
três,
que
já
é
algo
muito
avançado
em
vários
países
capitalistas;
se
a
gente
tiver
que
recuar
para
uma
escala
cinco
por
dois,
já
é
uma
pequena
vitória,
sabe?
Eu
acho
que
a
gente
tem
que
apostar
mais
nas
pequenas
vitórias
e
aproveitar
dessas
pequenas
vitórias
para
estar
ganhando
mais
gente,
não
necessariamente
para
o
partido,
os
sindicatos,
os
movimentos,
mas,
independente
disso,
ganhar
as
pessoas.
Mesmo
no
discurso,
por
exemplo:
“Eu
odeio
a
esquerda,
mas
isso
daqui
faz
muito
sentido.”
Para
a
gente
chegar
num
cenário
em
que
as
pessoas
não
sejam
contra
as
coisas
só
porque
existe
PT
no
meio,
PSOL
no
meio,
a
esquerda.
Então,
assim,
a
perspectiva
é
de
sempre
estar
na
luta
enquanto
puder.
A
juventude
também
está
lutando
muito,
está
batalhando
e
eu
acho
que
se
for
mais
envolvida
nesses
debates,
a
partir
de
uma
reorientação
de
prioridades,
a
gente
tem
muita
coisa
para
conquistar.
E,
por
fim,
tem
que
acabar
a
escala
seis
por
um!
E,
aproveitando
que
vocês
estão
na
academia,
tem
que
acabar
o
vestibular!
Todo
mundo
tem
que
ter
acesso
à
14
universidade
pública,
sem
fazer
vestibular.
Seria
ótimo
mesmo.
Vamos
ver
um
dia!
Um
passo
de
cada
vez.
Eu
acho
que
amanhã
é
dia
de
estar
lá
na
Cinelândia
[no
ato
contra
a
escala
6x1],
aproveitar,
porque
furou
a
bolha,
e
eu
acho
que
é
uma
oportunidade
muito
boa.
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