V.23, nº 50 - 2025 (janeiro-abril) ISSN: 1808-799 X
CRITÉRIOS, MOTIVAÇÕES E IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PARA JOVENS
NEGROS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE SÃO JOÃO DE MERITI/RJ1
Cintia Lopes de Melo Rodrigues2
Carlos Soares Barbosa3
Resumo
O objetivo deste texto é identificar a importância do trabalho, os critérios e motivações que os jovens
negros, concluintes do Ensino Médio da escola pública, estabelecem para sua inserção laboral.
Trata-se de pesquisa empírica em andamento, de abordagem qualitativa, fundamentada no método
do materialismo histórico-dialético, com uso de entrevistas semiestruturadas. Os resultados indicam
que independência financeira e necessidade de ajudar a família são as principais motivações,
enquanto a carga horária reduzida e remuneração justa são critérios fundamentais para a escolha do
trabalho.
Palavra-chave: Jovens negros; Trabalho; Raça e classe.
CRITERIOS, MOTIVACIONES E IMPORTANCIA DEL TRABAJO PARA LOS JÓVENES NEGROS
ESTUDIANTES DE ENSEÑANZA MEDIA EN SÃO JOÃO DE MERITI/RJ
Resumen
El objetivo de este texto es identificar la importancia del trabajo y los criterios y motivaciones que los
jóvenes negros egresados de escuelas públicas tienen para ingresar al mercado laboral. Se trata de
una investigación empírica en curso con enfoque cualitativo, basada en el método del materialismo
histórico-dialéctico, utilizando entrevistas semiestructuradas. Los resultados indican que la
independencia económica y la necesidad de ayudar a la familia son las principales motivaciones,
mientras que la reducción de la jornada laboral y una remuneración justa son criterios fundamentales
para elegir trabajo.
Palabra clave: Jóvenes negros; Trabajo; Raza y clase.
CRITERIA, MOTIVATIONS AND IMPORTANCE OF WORK FOR YOUNG BLACK HIGH SCHOOL
STUDENTS IN SÃO JOÃO DE MERITI/RJ
Abstract
The aim of this text is to identify the importance of work and the criteria and motivations that young
black people, graduating from public high schools, establish for entering the workplace. This is
empirical research in progress, with a qualitative approach, based on the method of
historical-dialectical materialism, using semi-structured interviews. The results indicate that financial
independence and the need to help the family are the main motivations, while reduced working hours
and fair pay are fundamental criteria for choosing work.
Keyword: Black youth; Work; Race and class.
3Pós-doutor em Educação (Universidade de Lisboa) e Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ). Professor Associado da Faculdade de Educação e do
PPGEdu/UERJ e do PPFH na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Rio de Janeiro - Brasil.
E-mail: profcarlossoares@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2894699059794517.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4519-5174.
2Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação: Processos Formativos e
Desigualdades Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP-UERJ) - Brasil.
E-mail: cintialdmr@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0440148840889509.
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-4959-0046.
1Artigo recebido em 11/12/2024. Primeira Avaliação em 22/01/2025. Segunda Avaliação em 29/02/2025.
Aprovado em 13/03/2025. Publicado em 09/04/2025. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v23i50.65704
1
Introdução
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho no contexto do capitalismo
digital, aqui compreendido como forma de acumulação de capital no âmbito da
globalização associada à informatização e a utilização de tecnologias digitais
avançadas, têm sido problematizadas por uma vasta literatura atrelada ao
pensamento histórico-crítico. Em geral, os estudos demarcam os efeitos do avanço
das políticas neoliberais e da nova base produtiva nas condições objetivas e
subjetivas das frações da classe trabalhadora, bem como as alterações provocadas
pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) na forma como as
pessoas se relacionam, aprendem, constroem e partilham experiências (Abílio,
2017, 2019; Alves, 2009; Antunes, 2000, 2020).
As juventudes são quem mais sentem de forma imediata as implicações
culturais e sociais do “novo” (velho) capitalismo (Boltanski; Chiapello, 2009), como a
intensificação do individualismo e das incertezas somada ao aumento do
desemprego e da informalidade. Sobretudo as juventudes negras4, conforme
demonstram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNAD-C) do segundo trimestre de 2024, no qual apontam que dos 7,6 milhões de
desocupados no Brasil, a população preta representa 8,5% e a parda 7,8%,
percentuais acima da média nacional em comparação à taxa de desocupação da
população autodeclarada branca, que é de 5,5%.
Em se tratando das juventudes, a publicação do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2023) ressalta que entre os jovens de 15 a 29 anos
do país, 10,9 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022, o
equivalente a 22,3%, dos quais 4,7 milhões (43,3%) eram mulheres negras e 2,7
milhões (24,3%) eram homens negros. Além de os jovens negros serem o grupo
majoritário entre os que não estudavam e nem trabalhavam, eram também, em sua
maioria, os que se encontravam em situação de pobreza ou de extrema pobreza
(IBGE, 2023).
Embora as condições de precariedade não se restrinjam ao segmento juvenil,
os dados apresentados mostram a necessidade de refletir sobre as diversas
4 Juventudes negras no plural por compreender que apesar de pertencerem ao mesmo grupo
étnico-racial, ainda assim possuem diversidades em termos de classe, localidade, deficiências,
gênero, sexualidade, entre outros.
2
configurações do trabalho, tal qual a fragmentação e complexificação da classe
trabalhadora em tempos de capitalismo digital. Entendemos que esta reflexão deve
ser feita com uso da interseccionalidade como ferramenta analítica, a partir dos
marcadores de raça, classe, gênero, idade, entre outras. Para Patrícia Hill Collins
(2020), a interseccionalidade como ferramenta de análise propicia a compreensão
dos impactos de um mesmo fenômeno em grupos distintos. “[…] grupos
considerados inferiores nunca desfrutaram dos benefícios da cidadania plena e,
consequentemente, têm menos a perder e mais a ganhar.” (Collins, 2020, p. 40). A
autora parte do pressuposto de que “alguns grupos são especialmente vulneráveis
às mudanças na economia global, enquanto outros se beneficiam
desproporcionalmente delas” (Collins, 2020 p. 35).
Por essa perspectiva, além do aspecto etário e biológico, as intersecções de
classe, gênero e raça produzem diferentes modos de experienciar a juventude por
razões históricas, sociais e culturais; daí a impossibilidade de retratá-la como um
conceito unívoco, jogando por terra o mito da juventude homogênea (Margulis;
Urresti, 1996), o qual identifica todos os jovens a partir de um modelo único e como
se houvesse na sociedade uma distribuição igual de oportunidades que permitisse a
todos os jovens desfrutar a condição juvenil da mesma forma. Em relação
especificamente às juventudes negras periféricas brasileiras, as violências
psicológicas, sociais e físicas as quais estão mais expostas geram sequelas que
impactam de forma negativa o processo de escolarização e reforçam,
consequentemente, os desafios enfrentados no mundo do trabalho. Cabe lembrar
que os jovens negros estão mais suscetíveis à violência letal que os jovens brancos,
de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2019). O medo da morte
prematura é um sentimento que assombra o segmento juvenil, principalmente os
jovens negros e periféricos.
Ademais, racismo e pobreza contribuem para a restrição do campo de
possibilidades do projeto de vida de jovens das camadas mais empobrecidas, que é
agravada em tempos de tamanha incerteza e indeterminação na atual “sociedade da
descartabilidade” (Harvey, 1994). Gerada pelo novo padrão flexível de produção
que resultou em relações de trabalho e contratos flexibilizados na “sociedade da
descartabilidade” não são apenas as mercadorias que são facilmente descartáveis,
mas também os próprios trabalhadores. Ou melhor, “mais do que jogar os bens
3
produzidos, significa também ser capaz de atirar fora valores, estilo de vida,
relacionamentos estáveis, apego a coisas, lugares, pessoas, modos adquiridos de
agir e ser” (Harvey, 1994, p.258). Como assinala o autor, nessa nova ordem
societária, as pessoas apresentam maiores dificuldades de realizar planos a longos
prazos e de manterem o sentido firme de continuidade/permanência.
Desemprego e aprofundamento da precarização do trabalho geram
significativas consequências, tanto na qualidade de vida quanto na subjetividade dos
jovens, que o discurso neoliberal transfere aos indivíduos a responsabilidade
exclusiva do sucesso/fracasso no mercado. Diante do exposto, a questão que
orienta a escrita deste texto é: quais os critérios e as motivações que os jovens
negros concluintes do Ensino Médio de uma escola da rede estadual de São João
de Meriti estabelecem para suas escolhas no mundo do trabalho?
O presente estudo prioriza os jovens negros do gênero masculino. Isto não
significa deixar de reconhecer que as mulheres negras enfrentam dificuldades de
múltiplas ordens, inclusive em relação à inserção no trabalho, que são vítimas de
diversas formas de violência e que estão em posição de desvantagem social e
econômica em muitos aspectos, conforme evidenciam os dados sobre a situação de
desocupação e escolarização. O recorte no gênero masculino se justifica, sobretudo,
por serem alvos preferenciais da violência letal. De acordo com o Atlas da Violência,
publicado em 2023 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os jovens
negros correspondem a 77% das vítimas de violência e possuem 2,9 vezes mais
chances de serem assassinados que os jovens brancos. Além de terem a maior
probabilidade de perderem suas vidas, eles também são os que compõem 65% do
sistema prisional brasileiro, segundo os dados publicados no relatório do Sistema
Nacional de Informações Penais em 2024 (SENAPPEN, 2024).
A letalidade, portanto, é um dos elementos centrais para a compreensão do
modo de ser/estar/viver dos jovens negros, pois são eles que convivem
cotidianamente com a possibilidade de terem a vida interrompida, alimentada pelos
estereótipos forjados no processo histórico que os associa a imagem de bandido,
delinquente e contraventor.
A escolha de realizar um estudo com jovens moradores do município de São
João de Meriti também não é aleatória. Localizado na Região da Baixada
Fluminense do Rio de Janeiro, o município possui 12.521,64 habitantes por
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quilômetro quadrado e é conhecido popularmente como “cidade dormitório” pelo fato
de a maioria dos habitantes necessitar se deslocar para a capital em busca de
trabalho. Em 2022, o salário médio mensal era de 1,7 salários-mínimos e a
proporção da população ocupada era de 14,86% (IBGE, 2022). Afora isso, os jovens
meritienses precisam lidar com as consequências da segregação socioespacial,
visto que a distribuição de renda e a estrutura de emprego possui relativa relação
com a distribuição regional de brancos e não brancos no Brasil (Gonzalez;
Hasenbalg, 1982).
Os indicadores estatísticos possibilitam conhecer em dimensão ampliada o
quão desafiador é a inserção dos jovens negros no mundo do trabalho e o tipo de
trabalho que lhes é priorizado. Apesar da importância dos dados de natureza macro,
faz-se necessário avançar para uma análise mais aproximada dos jovens a fim de
perceber suas experiências e percepções sobre a inserção laboral, com atenção aos
pontos de convergência e de não convergência que entre eles. Embora sejam
muitos os estudos que tratam da inserção dos jovens no mundo do trabalho, são
poucos os que estabelecem o recorte racial e no gênero masculino. Mais reduzido
ainda é o conjunto de pesquisas que aborda a interseção entre raça, juventude e
classe social tendo o materialismo histórico-dialético como fundamentação
teórico-metodológica.
A reflexão aqui tecida é um fragmento da pesquisa empírica, em andamento,
de abordagem qualitativa, fundamentada no método do materialismo
histórico-dialético, iniciada em 2022 no Curso de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Educação: processos formativos e desigualdades sociais, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e aprovada pelo Comitê de Ética
e Pesquisa da referida instituição com parecer emitido na Plataforma Brasil sob o nº
7.026.708.
Quanto à produção de dados, o estudo fez uso de entrevistas
semiestruturadas realizadas com 16 estudantes de uma escola da rede estadual,
localizada no município de São João de Meriti. As entrevistas buscaram identificar
as motivações dos jovens negros para inserção laboral, os critérios utilizados e suas
perspectivas sobre o trabalho. A seleção dos voluntários contou com os seguintes
critérios: ser estudante do ano do Ensino Médio regular, ser negro, ser do gênero
masculino, ter mais de 18 anos de idade e participar de forma voluntária à pesquisa
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mediante à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram
compreendidos como jovens negros aqueles que se autodeclararam pretos ou
pardos, acompanhando a definição utilizada pelo IBGE. As narrativas dos
jovens-estudantes são identificadas através de nomes fictícios de modo a garantir o
anonimato dos participantes.
A escolha do método do materialismo histórico-dialético se deu por considerar
que as pesquisas baseadas no método buscam captar a lógica interna de
funcionamento do objeto investigado, identificando as múltiplas mediações que o
determinam e suas contradições, de modo a ultrapassar a sua aparência, isto é, a
forma fenomênica de como se mostra à primeira vista. Afinal, como afirmara Marx
(2004), se a aparência das coisas se confundisse com sua essência, toda ciência
seria supérflua. Nessa perspectiva, os participantes da pesquisa são aqui
compreendidos como sujeitos históricos, pois são constituídos pelo conjunto de
relações estabelecido no movimento histórico.
Afora as categorias próprias do método (contradição, mediação, totalidade e
historicidade), raça é igualmente uma importante categoria de análise. Raça aqui
compreendida não como um termo estático, mas que assume diversos significados
ao longo da história e que é reforçada no processo de expansão da mercantilização
e do capitalismo (Almeida, 2019). Por essa perspectiva, entendemos o racismo
como uma ideologia política construída para justificar o controle e a dominação;
utilizado como arma para manutenção dos privilégios da elite dominante branca
(Moura, 1994).
Sendo assim, convém também refletir como no capitalismo as posições de
inferioridade social dos jovens negros são reforçadas no mundo do trabalho.
Considerando que as questões de raça e classe no Brasil são produtos do processo
histórico e elementos estruturantes da formação social brasileira, entendemos que
eles devem ser tratados de forma interseccional.
À luz dessas considerações iniciais, este texto se estrutura em duas partes. A
primeira, discorre sobre os contextos de trabalho e violência por entender o trabalho
enquanto dimensão ontológica, elemento central da transformação humana e
aspecto essencial na construção do ser. Em seguida apresenta os índices de
violência, por reconhecer que a vida é um direito fundamental, constitucional e
inviolável. A segunda parte, analisa os dados da pesquisa, identificando a
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importância do trabalho e os critérios e motivações que os jovens negros
estabelecem para sua inserção laboral.
As múltiplas determinações do ser jovem negro
Lélia Gonzalez (1982), ao tratar do lugar do negro na sociedade brasileira,
sinaliza o espaço de subalternidade que este grupo étnico ocupa desde os tempos
da colonização. Os resquícios de mais de 300 anos de escravização e
desumanização ainda se fazem presentes no cotidiano social. Da Colônia à
República, a elite econômica e política brasileira sempre encontrou meios para
concretizar seu caráter desigual e racista.
Nascimento (2016) enfatiza o “paradigma da ausência” na historiografia que
trata dos trabalhadores pobres, em que o componente raça/cor é invisibilizado na
maioria das pesquisas, o que dificulta saber com profundidade a participação dos
negros no processo de transformações sociais e econômicas do país, embora
décadas de escravização. Nas reflexões sobre o mundo do trabalho, a contribuição
dos negros trabalhadores é apagada e esta lacuna reforça a “ideia da incapacidade
das pessoas escravizadas, que não lhes conferia o direito de serem chamadas de
operárias, rótulo que até as crianças livres empregadas nas fábricas recebiam”
(Nascimento, 2016, p. 607).
Apesar de ser pequena a participação dos trabalhadores negros nos setores
industriais, o apagamento da presença dos negros na construção de classe
trabalhadora é uma reverberação das políticas racistas estatais do último quartel do
século XIX, com o objetivo de “europeizar” o Brasil. Por este motivo, a transição do
trabalho escravizado para o trabalho livre assalariado não reverteu a maneira que o
trabalhador negro era identificado; continuava a ser visto pela marca da escravidão
(ex-escravizado), isto é, sem prestígio social e considerado desqualificado para as
funções das atividades industriais sob o argumento e estereótipos de “insuficiência e
baixo conhecimento técnico, indisciplina, ausência de espírito de poupança etc.”
(Silva, 2013, p. 95).
Ainda na contemporaneidade, a elite brasileira, de origem escravista e
patriarcal, tem mobilizado os mais variados mecanismos de ordem jurídica e
econômica com o propósito de manter o exército de reserva de mão-de-obra barata
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e conservar os vínculos precários de trabalho da população negra. As estratégias
usadas para demarcar o lugar destinado à população negra vão desde em dificultar
o acesso aos recursos essenciais para a garantia da existência até ao genocídio.
“Pressionado pela polícia, de um lado, e pelas péssimas condições de vida, do
outro, o negro oferece a sua força de trabalho por qualquer preço no mercado de
trabalho” (Gonzalez; Hasenbalg, 1982, p. 16). Há, porém, outras estratégias mais
sofisticadas e sutis. Vejamos.
A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) de 2023 (referente ao ano de 2022)
indica que a população negra liderou o percentual de pessoas ocupadas no país
(54,2%), ao passo que o índice da população autodeclarada branca era de 44,7%.
No entanto, a segmentação das ocupações revela a estrutura de discriminação no
mundo do trabalho, pois embora tenham sido os mais ocupados, pretos e pardos
possuíam os menores rendimentos salariais. Em contrapartida, era maior o
percentual da população branca em atividades em que os níveis de renda são mais
altos (IBGE, 2023). Segundo o Dieese (2024), o rendimento médio dos negros é
40% inferior ao dos não negros (DIEESE, 2024). Isto porque
Os negros estão mais concentrados em ocupações com baixos
rendimentos e estão mais suscetíveis à informalidade. A
discriminação que sofrem dificulta a ascensão profissional desses
trabalhadores e faz com que as diferenças de rendimento cresçam
ao longo da vida das pessoas. Esses fatores, combinados, fazem
com que os negros deixem de ganhar quase um milhão de reais ao
longo da vida de trabalho, quando comparados com os não negros.
(DIEESE, 2014, p. 11).
Com efeito, a ocupação de negros concentrados em determinados
segmentos, como nos serviços domésticos (66,4%), construção civil (65,1%) e
agropecuária (62%) (IBGE, 2023), mantém a conservação da divisão do trabalho do
Brasil colonial escravocrata e a desvalorização histórica das atividades manuais. Os
dados mostram que a segregação no mundo do trabalho não é um fato restrito ao
tempo presente, mas adquire nova dinâmica com o avanço das políticas neoliberais,
a complexificação do trabalho e da classe trabalhadora (Antunes, 2000).
As consequências produzidas pelo avanço global do neoliberalismo e da
reestruturação produtiva têm sido bastante retratadas pela literatura do campo da
Sociologia do Trabalho nos últimos 30 anos, entre as quais se destacam: ataque aos
direitos, aumento do desemprego, superexploração e expropriação do trabalho,
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redução dos postos de trabalhos formais, crescimento da informalidade, processos
de trabalhos descentralizados e contratos flexibilizados, a exemplo da terceirização,
do trabalho intermitente e dos trabalhos mediados por plataformas digitais, como é
caso do teletrabalho e do fenômeno denominado uberização, que como afirma
Ludmila Abílio (2017), não se trata da empresa Uber em si, mas de um novo modo
de controle e gerenciamento do trabalho, onde a própria empresa serve de símbolo
devido a sua enorme atuação no mundo. Nas palavras da autora, “a uberização
refere-se a um novo estágio da exploração do trabalho, que traz mudanças
qualitativas ao estatuto do trabalhador, à configuração das empresas, assim como
às formas de controle, gerenciamento e expropriação do trabalho” (Abílio, 2017,
s/p.), pois retira do trabalhador as garantias mínimas e mantém sua subordinação.
No movimento de exploração e precarização do trabalho empreendido pelo
capital, a uberização se configura em um novo passo nas terceirizações, que os
riscos e custos não são mais transferidos para as empresas contratadas, mas sim
para uma multidão de trabalhadores autônomos, engajados e disponíveis para o
trabalho. Um modelo de trabalho, como bem chama atenção a autora, que fazendo
uso do trabalho de seus “colaboradores just-in-time”, pode ocorrer por meio do
trabalho plataformizado bem como em diversos ramos e setores da economia, como
salão de beleza, hospitais, escolas, universidades, empresas, entre outros. Isto tudo
fortalecido pela ideologia do empreendedorismo, o que leva o trabalhador a não
mais se perceber como um trabalhador e sim como um empresário de si, sob a
crença de ter maior liberdade, autonomia e autogerenciamento do seu trabalho.
No Brasil, os jovens são os que sentem de forma mais incisiva a atrofia do
trabalho regularizado. Desde a década de 1990, com a implementação da agenda
neoliberal, os jovens enfrentam enormes dificuldades para a inserção no mercado de
trabalho formal, principalmente os de baixa escolaridade, o que acaba os
empurrando para as ocupações por conta própria. Algo que pouco se alterou nas
primeiras décadas do novo milênio e que se agravou após a crise sanitária da
Covid-19, quando se verificou que dos 12,8 milhões de brasileiros desempregados
no segundo trimestre de 2020, 7,3% eram jovens de 18 a 24 anos (IBGE, 2020). A
taxa de informalidade também aumentou entre os jovens de 15 a 29 anos, de 43,2%
no primeiro semestre de 2012 para 48% no primeiro trimestre de 2019. Dos que
trabalhavam sem contribuir com o sistema previdenciário, a taxa subiu de 42% para
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45% no mesmo período analisado (Olinto, 2020). Como ressaltam Antunes e Druck
(2015, p.21) “a informalidade deixa de ser a exceção para tendencialmente tornar-se
a regra, e a precarização passa a ser o centro da dinâmica do capitalismo flexível”.
As dificuldades de inserção profissional associadas a precariedade e
degradação das condições de existência tornam uma parcela das juventudes da
classe trabalhadora receptiva ao discurso de autonomia e liberdade apregoado pela
ideologia empreendedora. Frente a essas condições materiais, os jovens se
submetem a atividades laborais precarizadas como possibilidade de garantir
condições básicas para viver. Costa (2024) ressalta que, em muitos casos, a saída
do desemprego encontrada por um grupo de jovens tem sido o trabalho
plataformizado, principalmente os trabalhos de entrega (delivery) por aplicativos,
sem garantias mínimas de segurança e de direitos trabalhistas. O contexto da crise
sanitária em 2020 serviu de janela de oportunidade para a plataformização do
trabalho e, em 2022, motoristas e entregadores de aplicativos correspondiam a 1,7
milhão da população brasileira, dos quais 97% eram homens e 60% se
autodeclararam como pretos ou pardos. Em relação à faixa etária, 39% dos
entregadores e 18% dos motoristas tinham entre 20 e 29 anos de idade (Cebrap,
2023). Além da autorresposabilização do trabalhador em arcar com os meios
necessários para a realização da atividade laboral, a exploração neste contexto
torna-se mais sutil devido à dificuldade de mensuração das reais horas de trabalho a
que esses indivíduos estão submetidos no uso das plataformas digitais (Antunes,
2020).
A não bastar a condição de precariedade em que se encontra boa parte dos
jovens negros, cabe lembrar que a população negra, sobretudo os homens, são as
principais vítimas de homicídio no país (IBGE, 2022). Essa triste realidade é
resultado de um longo processo histórico, que desde o período colonial trata os
corpos negros como mercadorias e submetidos as mais diversas formas de
opressão e violência. Neste sentido, o quantitativo expressivo de jovens negros
vítimas de violência no país está diretamente relacionado ao valor “descartável” da
vida desses indivíduos na ordem social capitalista. O Estado, ao atuar para a
manutenção do status quo de grupos hegemônicos, estabelece políticas que
definem (mesmo que de forma implícita) “quem pode viver e quem deve morrer”
10
(Mbembe, 2018, p. 5) e, não por acaso, os escolhidos para “deixar morrer” são
aqueles que de alguma forma ameaçam a conservação desta lógica social.
Todavia, apesar dos desafios apresentados neste texto, temos por
pressuposto a possibilidade de escolhas por parte dos jovens, ainda que limitadas e
determinadas por mediações de múltiplas naturezas. Sendo assim, quais as
perspectivas dos jovens negros, concluintes do Ensino Médio, acerca da importância
do trabalho? Quais os critérios e motivações estabelecidos para suas inserções
laborais?
Motivações dos jovens negros para inserção laboral e suas perspectivas
acerca da importância do trabalho
Os 16 jovens participantes da pesquisa tinham idade entre 18 a 20 anos; dez
trabalhavam enquanto cursavam o Ensino Médio e um havia trabalhado
anteriormente. Todos os dez tiveram sua primeira experiência laboral antes dos 18
anos de idade; nove estiveram inseridos em trabalhos informais que demandavam
grande esforço físico e somente um não teve experiência laboral nos chamados
trabalhos manuais e sim em uma clínica médica, na qualidade de Jovem Aprendiz.
No momento da realização da entrevista, nove conciliavam trabalho e escola, cujas
atividades exercidas eram: “preparador de entrega com a Delivery”,
“recepcionista de restaurante”, “panfletagem”, “vendedor porta a porta”, “entregador
de quentinha”, “ajudante de costura”, “batedor de açaí em uma lanchonete” e dois
atuavam como Jovem Aprendiz. As experiências laborais pregressas dos estudantes
perpassam também por atividades como “ajudante de marcenaria”, “ajudante de
mecânico”, “ajudante de obra” e “entregador no IFood”.
As narrativas dos jovens expõem que o trabalho informal e plataformizado tem
sido a forma de inserção laboral encontrada pelos jovens periféricos,
independentemente de seu nível de escolaridade, o que confirma os dados
apresentados pelo Dieese (2024) de que 46% das mulheres negras e 45% dos
homens negros estavam inseridos em trabalhos informais e desprotegidos das leis
trabalhistas.
A maioria dos jovens (94%) informou que pretendia trabalhar após a
conclusão do Ensino Médio. Apenas um estudante respondeu não ser esta a sua
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intenção, pois está “querendo fazer uma faculdade para depois arranjar um
emprego" (Iago, 2024). Para 60% dos jovens, a maior motivação para o início no
trabalho é a conquista da “Independência financeira”, como se observa nos excertos
abaixo.
Eu vou querer comprar uma roupa, vou querer sair e o meu pai e a
minha mãe não vão poder ficar toda hora bancando. Entende? Eu
tenho esse senso, eu tenho essa noção de que eu tenho que
conseguir ter um meu, pelo menos (Bruno, 2024).
Pra ter minhas coisas, né? Pra poder conquistar as coisas que eu
quero. Não pra manter, porque tem a ajuda da minha família, por
enquanto, né? Mas também não quero depender deles pra sempre,
certo? (Caio, 2024).
Ser sincero, eu trabalho hoje em dia mais pra comprar minhas
coisinhas, comprar minhas roupinhas... Comprei meu telefone agora
e pagando meu telefone. Mas, tipo assim, tirar o negócio de tudo
ter que pedir minha mãe e meu pai. tava chato eu com 18 anos
em casa pedir dinheiro da minha mãe pra cortar cabelo. É chato!
Então, hoje em dia, eu falo que eu trabalhando pra comprar
minhas coisas. Começando a comprar minhas coisas (Elias, 2024).
Eu não gosto de ficar pedindo dinheiro pra minha mãe, né? Eu não
gosto de ficar pedindo dinheiro pra minha mãe. Eu gosto de ter meu
dinheiro pra minhas coisas, pra ficar não ficar dependendo dos
outros, da boa vontade dos outros (Fábio, 2024).
[...] desde criança eu nunca gostei de depender das pessoas, por
mais que fosse minha mãe e meu pai, eu não gosto de ter que ficar
ali pedindo. Pô, eu quero comprar um tênis, quero comprar alguma
roupa, quero comprar alguma coisa, vou ter que ir pedir,
entendeu? Então, tipo assim, eu sempre gostei de correr atrás do
meu, ver o meu dinheiro, sabe? Esse dinheiro aqui é meu, eu posso
fazer o que eu quiser. Eu posso guardar ele, eu posso gastar. Então
tipo assim, o meu foco pra começar a trabalhar foi isso, entendeu?
Comprar minhas coisas, guardar meu dinheiro, entendeu? (Jonas,
2024)
Nota-se que a motivação em trabalhar é justificada por não ter que depender
da família e demonstra que um dos significados atribuídos ao trabalho pelos jovens
é a busca por “autonomia”. Em se tratando de jovens negros, há ainda o estigma da
“masculinidade” desenvolvida pela cultura patriarcal, em que a responsabilidade pelo
suprimento de necessidades materiais advém prioritariamente da figura masculina
(Hooks, 2022).
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Por outro lado, a “independência financeira” desejada está muito associada à
capacidade de consumo. Embora as “coisas/coisinhas” que os jovens manifestam
em suas narrativas não sejam necessariamente itens básicos de sobrevivência,
simbolicamente conferem a eles um certo status social na atual sociedade
neoliberal, onde o ter é mais importante que o ser. Barbosa (2018) destaca que os
jovens
são alvos fáceis da onda imagética e consumista, por sentirem em
seu cotidiano a predominância do ter em detrimento do ser, a
prevalência de que as pessoas valem pelos bens materiais que
possuem (ou que ostentam ter) e não pelos seres humanos que são.
Sobretudo, no acelerado ritmo da vida urbana, em que as pessoas
estão sempre ocupadas e a forma prática de conhecer e identificar
umas às outras é a mais rápida e direta: pela maneira como se
vestem, pelos objetos simbólicos que exibem, pelo modo e tom com
que falam e pelo seu jeito que se comportam (Barbosa, 2018, p.
289).
A aquisição de bens materiais funciona como um marcador da passagem de
“dependência” para a “independência” dos jovens negros periféricos, que “sua
visibilidade social e seu poder de sedução são diretamente proporcionais ao seu
poder de compra” (Sevcenko, 2001, p. 64), daí o apelo ao consumo de determinados
símbolos (marcas de roupas, calçados, eletrônicos, ornamentos etc.) ser algo muito
forte entre os jovens pesquisados, visto que se constitui em uma estratégia para que
se sintam pertencentes, aceitos e incluídos num mundo de exclusões em que
convivem sob os olhares de desconfiança dos quais são alvos.
“Ajudar a família” é outra motivação para o trabalho. A entrada precoce dos
jovens das classes trabalhadoras no mercado de trabalho, sobretudo informal,
decorre de outro comportamento comum entre os que se encontram em situação de
pobreza: a necessidade de compartilhar as despesas familiares, principalmente
depois que os jovens se tornam genitores. Como expõe um dos participantes da
pesquisa, o que o levou a trabalhar antes de concluir a educação básica foi a
necessidade de “ajudar minha família. Porque eu tenho um filho também [...] pra
sustentar meu filho e suprir as necessidades que ele tem” (Kauan, 2024).
Para um grupo menor de jovens (13,4%), adquirir “experiência” é o principal
motivo para trabalhar após a conclusão do Ensino Médio. Argumentam a
importância de “cumprir os requisitos impostos pelo mercado de trabalho”, que exige
13
“qualificação” até mesmo daqueles que ainda não tiveram a experiência do primeiro
emprego. Um discurso que tende a se tornar anacrônico diante das possibilidades
de inserção laboral que se abrem aos jovens periféricos no tempo presente o
autoemprego baseado no trabalho manual, romantizado pela ideologia do
empreendedorismo.
Ao serem questionados sobre a importância do trabalho, as respostas podem
ser sintetizadas nas seguintes categorias: “Dinheiro”, “Desenvolvimento Pessoal” e
“Ocupar a Mente”. É majoritária a associação entre trabalho e dinheiro e é possível
perceber o significado que o trabalho adquire no modo de produção capitalista.
Ninguém gosta de trabalhar hoje em dia, né? Porque o trabalho é
meio ruim, né? Meio não, bastante. A gente sempre tem que tentar a
maior maneira de não trabalhar tanto. Cada vez trabalhar menos, até
não trabalhar mais (Caio, 2024)
Eu acho que o trabalho é castigo. A gente trabalha porque a gente
precisa de dinheiro, e sem dinheiro você não vive porque a gente
vive num mundo capitalista pra cacete. Então, acho que trabalho é
literalmente castigo (Paulo, 2024).
A relação trabalho-castigo literalmente exposta na narrativa de um dos jovens
recupera o significado conferido ao trabalho alienado, forma que o trabalho adquire
no modo de produção capitalista. Marx destaca que, como o trabalho alienado não
representa a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer
as necessidades de outrem, o trabalhador “tão logo deixe de existir uma coação
física ou de qualquer natureza, ele foge do trabalho como de uma peste. O trabalho
externo, o trabalho em que o homem se aliena é um trabalho de auto sacrifício, de
mortificação” (Marx, 2004, p.83). Este é o significado expresso no depoimento de um
dos jovens, ao afirmar que “a gente sempre tem que tentar a maior maneira de não
trabalhar tanto. Cada vez trabalhar menos, até não trabalhar mais” (Caio, 2024),
além de indicar, consciente ou inconscientemente, a recusa da alienação por parte
do trabalhador.
As reflexões acerca do trabalho-castigo manifestam também as condições de
trabalho na atualidade. Tendo em vista que os jovens negros periféricos estão mais
expostos ao contato com atividades laborais precarizadas, é compreensível que as
narrativas expressem a insatisfação decorrente da alienação de maneira mais
14
intensa, pois vivenciam de forma mais direta a superexploração e a ausência de
direitos. Ricardo Antunes e Giovanni Alves (2004, p. 348) salientam que
A alienação/estranhamento é ainda mais intensa nos estratos
precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as
condições mais desprovidas de direitos e em condições de
instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário e
precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento
assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada,
pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade.
Nos estratos mais penalizados pela precarização/exclusão do
trabalho, o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente
mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência
(Antunes; Alves, 2004, p. 348).
Desta forma, a conotação negativa que o trabalho adquire nas narrativas de
alguns jovens demonstra o modo como eles sentem/percebem/vivenciam/resistem a
precarização do trabalho aos quais estão mais expostos e que se materializa nas
longas jornadas de trabalho, na baixa remuneração, no salário não condizente com
a função ocupada ou com as horas trabalhadas, na falta de segurança do/no
trabalho, na impossibilidade de fazer planos a longo prazo, entre outras formas.
Por outro lado, alguns jovens entendem a importância do trabalho como meio
de promover o “Desenvolvimento Pessoal”, resgatando a possibilidade de conceber
o trabalho em uma dimensão transformadora, inclusive de si.
Eu acho que o trabalho edifica a pessoa, né? O trabalho vai te
edificar como pessoa. Te edifica como pessoa, sabe? Você pode ter
tudo, mas eu acho que o trabalho ele vai te tornar uma pessoa
diferente, sabe? Você vai ver o valor do teu dinheiro, vai ver o valor
do teu aprendizado que você aprendeu ali, a convivência com as
pessoas, então na minha opinião, foi o trabalho que me tirou de ser
um menino pra virar um homem agora, entendeu? Porque não é a
mesma coisa você viver na vida de trabalho e a vida de estudante.
Eu vi as coisas mudarem muito rápido, entendeu, na minha vida
desde dos meus 14 (Jonas, 2024).
Eu acho que é importante porque eu não dava valor a muita coisa
que minha mãe dava valor. Eu fui começar a dar valor depois que
eu vi que trabalhar, você ter seu dinheiro suado é muito difícil. [...] Eu
falo que não dei valor a muita coisa que minha mãe falava pra mim e
comecei a dar valor agora. Então eu acho que sim, todo mundo
deveria ter o mínimo de trabalho (Bruno, 2024).
O depoimento de Jonas (2024) revela a importância pessoal e social do
trabalho para a classe trabalhadora e o quanto ele é utilizado por jovens negros
15
como meio de se proteger das violências cotidianas, principalmente do aparato
policial-repressivo do Estado. Apresentar a Carteira de Trabalho e se identificar
como trabalhador são mecanismos acionados pelos jovens para que a polícia não os
trate como criminosos. Jovens negros são considerados “elementos suspeitos” e
alvos constantes de abordagens policiais, que em alguns casos são efetuadas com
uso da violência física e podem culminar na morte dos jovens abordados.
O estudo realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania
(CESeC), em 2022, revela que as pessoas negras são as mais abordadas pela
Polícia Militar do Rio de Janeiro, sendo a maioria homem e moradores das regiões
periféricas da cidade (Ramos et al., 2022a). Em 2021, 87,3% das pessoas mortas
pela polícia do Rio de Janeiro eram negras (Ramos et al., 2022b).
A narrativa do jovem expõe ainda a naturalização do desrespeito ao direito da
criança e do adolescente através da inserção precoce no mundo do trabalho. A
transição de “menino” para “homem” pela via do trabalho continua a ser a realidade
de muitos meninos negros no Brasil. Não se pode esquecer que 63,8% da
população de 5 a 17 anos que estão em situação de trabalho infantil são do gênero
masculino e que 65,2% são negros (IBGE, 2024). Os meninos negros representam o
maior contingente de trabalhadores infantis que realizam as Piores Formas de
Trabalho Infantil, segundo a Lista TIP, organizada pela Convenção da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) (IBGE, 2024).
Em um outro ângulo, a importância do trabalho também consiste em “Ocupar
a Mente”, como demonstrado no depoimento de um dos participantes da pesquisa,
O jovem, ainda mais hoje em dia do jeito que as coisas estão sendo
na redondeza, acho muito importante o jovem da minha idade de 18,
19 anos tá trabalhando porque acaba ocupando a mente. Tipo assim,
acaba ocupando a mente e ao invés de estar na rua, fazendo
besteira, essas coisas, trabalhando. Você com a mente focada
ali, então acaba prendendo um pouco do jovem, né? Então acho que
o trabalho é importante’ (Elias, 2024).
Como se verifica, ainda é forte entre os jovens a compreensão do trabalho
como meio corretivo e como forma de afastá-los de comportamentos considerados
“desviantes”. Ademais, a fala mostra que a reprodução estigmatizada dos jovens
negros criada e reforçada pela branquitude que “precisa sempre projetar ‘para
fora’, em grupos considerados ‘minoritários’ e periféricos, a raiva e o ressentimento
16
sociais” (Bento, 2022, p. 33) ainda é utilizada como um instrumento para legitimar
a violência sofrida por eles. Não é por acaso que o jovem Elias (2024) considera o
trabalho como uma espécie de solução para aqueles que estão “na rua, fazendo
besteiras”.
Frantz Fanon (2008) retrata como o “complexo de inferioridade” afeta
subjetividades das pessoas negras. Ainda que se dedique a fazer uma análise
psicológica sobre os efeitos da colonização nos comportamentos dos negros
martinicanos, o autor ressalta que os processos que desenvolvem o sentimento de
inferioridade desses sujeitos não são apenas aspectos individuais, mas sim
construídos no âmbito econômico e social. Segundo Fanon (2008, p. 28), “só
complexo de inferioridade após um duplo processo: inicialmente econômico; em
seguida pela interiorização, ou melhor, pela epidermização dessa inferioridade”. Ou
seja, uma afetação de fora para dentro.
Neste sentido, a internalização da inferioridade nos jovens negros como
consequência do estigma reproduzido socialmente provoca, em muitos casos, a
aceitação e a conformação frente as oportunidades de trabalhos precarizados
oferecidas, que, para fugir do estereótipo de “marginal”, se submetem a condições
de trabalhos fragilizadas que impactam sua integridade física e mental.
Jovens negros e os critérios utilizados para escolhas no mundo do trabalho
A pesquisa buscou perceber os critérios que os jovens elegem para a escolha
de um trabalho. Em síntese, indicam ser a “Carga Horária Reduzida”, “Remuneração
Justa” e a “Distância”, com prevalência do primeiro critério, como se observa nas
narrativas a seguir.
Um salário justo, óbvio, e um trabalho que não seja muito exaustivo,
por exemplo. Que eu preferia até trabalhar com um salário mais
razoável que ter que me matar a semana toda pra pegar aquele
salário e quando eu for ver eu tô com aquele dinheiro, mas eu não tô
nem gastando porque não tenho nem tempo pra gastar, não tenho
nem tempo pra fazer nada, entendeu? (Jonas, 2024).
Pela carga horária e pela remuneração. Perto da minha casa tinha
uma padaria que ela dava, acho que era R$ 1.200,00, um negócio
assim, todo final do mês. que assim, o horário era absurdo. Era
como se fosse uma coisa explorativa pra pouco dinheiro. Tipo assim,
tu pegava, vamos supor, de 13h da tarde e saía às 22h, 23h da
17
noite. Então, tipo, não eram 8 horas de trabalho certo, era muito mais
para pouco dinheiro na sua diária. Eu parei, vi direitinho, vi quanto ia
sair, então pra mim não ia valer a pena, porque eu ia me matar muito
pra literalmente ganhar pouco (Luís, 2024).
As narrativas dos jovens expressam a superexploração típica da
especificidade histórica brasileira de capitalismo dependente e que leva o
trabalhador a exaustão. Todavia, a reação discursiva ao trabalho alienado se faz
mais uma vez presente, que na concepção dos jovens a carga horária de trabalho
não pode colidir com o seu bem-estar, traduzido como “se matar” de trabalhar. Não é
esta, porém, a configuração de mercado de trabalho que os espera, dado o avanço
da flexibilização, da terceirização e a redução dos direitos trabalhistas após a
reforma trabalhista no país (Lei n. 13.467/2017).
“Carga Horária Reduzida” e “Remuneração Justa” podem ser traduzidas como
reivindicações por direitos trabalhistas que se estendem à reivindicação de outros
direitos, como passagem (transporte), horário de almoço (alimentação) e folga
(descanso, lazer). Estes são outros critérios estabelecidos por um dos participantes
da pesquisa para a escolha do trabalho, ou seja, “que paga a passagem, que é o
principal, que tenha horário de almoço e folga boa” (Otávio, 2024).
A “Distância” é igualmente apontada como um critério importante para escolha
de trabalho e indica que as questões próprias das áreas urbanas, a exemplo da
mobilidade, são percebidas e sentidas pelos jovens.
Um emprego, não longe de casa, né? Porque quando tu consegue
um emprego, tem sempre que pegar metrô, ônibus, essas coisas
todas, né? Aí acaba ficando cansativo pra mim (Caio, 2024).
Eu sempre observo a localidade, acho que também a parte
financeira, né? E o horário, porque eu moro num lugar considerado
área de risco, então o horário é muito importante, principalmente o
horário (Mário, 2024).
A “Distância” como critério também expõe as implicações da desigualdade
socioespacial e da segregação urbana no desgaste físico e mental da classe
trabalhadora, seja em razão do tempo dispensado para o deslocamento entre casa e
trabalho, seja em decorrência dos problemas gerados pela precária segurança
pública, determinando, em certa medida, onde e em que turno os jovens periféricos
e moradores de favelas podem trabalhar.
18
Outro aspecto a ser destacado é a escolha por um “Trabalho Isolado”, sem
contato social. Embora tenha sido mencionado apenas por dois participantes, revela
a dificuldade das relações sociais em um contexto em que o individualismo é um
valor superdimensionado. Para um dos jovens, o critério de escolha é um trabalho
que
Não envolve ter que lidar com outras pessoas. É muito estressante,
às vezes, as pessoas parecem que não sabem se controlar, ou se
deixam levar… Sei lá, eu me importo muito com o tratamento do
próximo comigo. Aí, tipo, acho que essa parada me atrapalharia
muito, se fosse pra viver assim, tipo, o resto da minha vida (Kauan,
2024).
Apesar da menção ao “trabalho isolado” aparecer como uma questão de
característica pessoal, não se pode deixar de registrar que, por conta do racismo,
para os jovens negros muitas vezes o ambiente social pode ser hostil. A escolha por
um trabalho que “não envolve ter que lidar com outras pessoas” pode ser
interpretada como uma tentativa de se preservar de julgamentos sociais. Por outro
lado, pode estar atrelada à cultura do individualismo exacerbado que na nova
racionalidade neoliberal em muitos casos tem incidido em doenças psicológicas
e na dificuldade de os jovens se relacionarem com os seus demais.
Considerações finais
As narrativas dos jovens suscitam importantes reflexões sobre o sentido e o
significado do trabalho para uma parcela das juventudes brasileiras. Todavia, a
amostra restrita a 16 participantes demarca as limitações do presente estudo e
impede grandes generalizações em relação aos jovens negros no Brasil. Afirmar
isso não significa negar o caráter científico das pesquisas no campo das Ciência
Humanas, mas reconhecer o caráter aproximativo e provisório de todo o
conhecimento científico, bem como a impossibilidade de uma pretensa
universalidade.
Se na concepção dos jovens participantes da pesquisa a busca por
independência financeira e a necessidade de ajudar a família são as principais
motivações para inserção no trabalho, a carga horária reduzida e a remuneração
justa são critérios considerados fundamentais para a escolha de um trabalho. As
19
narrativas dos jovens revelam que o trabalho formal ainda é reivindicado pela classe
trabalhadora, negando a ideologia neoliberal e empreendedora, contrapondo-se ao
que vem se configurando como resposta ao desemprego juvenil – a informalidade e
o autoemprego ambos sob a alcunha de empreendedorismo, onde o indivíduo é
visto como uma empresa, “empreendedores de si” (Dardot; Laval, 2016). Implícita ou
explicitamente, os jovens não tecem críticas às condições precarizadas de
trabalhos decorrentes da reestruturação produtiva e do avanço do neoliberalismo,
como também expõem o quanto a violência cotidiana e a segregação socioespacial
constituem-se em barreiras significativas para a inserção dos jovens negros no
trabalho.
Contudo, é preciso avançar em estudos que mostrem como as influências das
particularidades regionais do país podem afetar nas escolhas e motivações dos
jovens negros brasileiros. O levantamento e a discussão apresentados neste texto
são apenas um indicativo para ampliação do debate acadêmico sobre raça,
juventudes e sua inserção no mundo do trabalho; algo essencial para construção de
políticas públicas e para o fortalecimento dos movimentos que lutam contra
desigualdade social e o racismo que produz a morte prematura da população negra.
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