
intensa, pois vivenciam de forma mais direta a superexploração e a ausência de
direitos. Ricardo Antunes e Giovanni Alves (2004, p. 348) salientam que
A alienação/estranhamento é ainda mais intensa nos estratos
precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as
condições mais desprovidas de direitos e em condições de
instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário e
precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento
assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada,
pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade.
Nos estratos mais penalizados pela precarização/exclusão do
trabalho, o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente
mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência
(Antunes; Alves, 2004, p. 348).
Desta forma, a conotação negativa que o trabalho adquire nas narrativas de
alguns jovens demonstra o modo como eles sentem/percebem/vivenciam/resistem a
precarização do trabalho aos quais estão mais expostos e que se materializa nas
longas jornadas de trabalho, na baixa remuneração, no salário não condizente com
a função ocupada ou com as horas trabalhadas, na falta de segurança do/no
trabalho, na impossibilidade de fazer planos a longo prazo, entre outras formas.
Por outro lado, alguns jovens entendem a importância do trabalho como meio
de promover o “Desenvolvimento Pessoal”, resgatando a possibilidade de conceber
o trabalho em uma dimensão transformadora, inclusive de si.
Eu acho que o trabalho edifica a pessoa, né? O trabalho vai te
edificar como pessoa. Te edifica como pessoa, sabe? Você pode ter
tudo, mas eu acho que o trabalho ele vai te tornar uma pessoa
diferente, sabe? Você vai ver o valor do teu dinheiro, vai ver o valor
do teu aprendizado que você aprendeu ali, a convivência com as
pessoas, então na minha opinião, foi o trabalho que me tirou de ser
um menino pra virar um homem agora, entendeu? Porque não é a
mesma coisa você viver na vida de trabalho e a vida de estudante.
Eu vi as coisas mudarem muito rápido, entendeu, na minha vida
desde dos meus 14 (Jonas, 2024).
Eu acho que é importante porque eu não dava valor a muita coisa
que minha mãe dava valor. Eu só fui começar a dar valor depois que
eu vi que trabalhar, você ter seu dinheiro suado é muito difícil. [...] Eu
falo que não dei valor a muita coisa que minha mãe falava pra mim e
comecei a dar valor agora. Então eu acho que sim, todo mundo
deveria ter o mínimo de trabalho (Bruno, 2024).
O depoimento de Jonas (2024) revela a importância pessoal e social do
trabalho para a classe trabalhadora e o quanto ele é utilizado por jovens negros