
dos movimentos sociais que interrogam espaços sistematizados de educação,
universidades (Arroyo, 2006) e “escolas escrituradas” segundo Bispo (2023).
Educação Quilombola que estremece as estruturas das escolas do campo e
da cidade ao questionar suas bases, seus princípios, suas matrizes curriculares, sua
organização pedagógica, sua alimentação, seu tipo de transporte, enfim, põe em
evidência “outras escolas” do quilombo, onde, de acordo com a professora
quilombola da Vila Vizânia (Roda de conversa 2, jul.2023) “há pessoas que não
conhecem”, professores/as que não são do chão das comunidades quilombolas,
mas estão em sala de aula de escolas quilombolas. A nossa interlocutora destaca,
ao reforçar a necessidade da Educação Quilombola estar na Escola Quilombola,
“[...] o professor que não é quilombola, não se cria aqui. Quem não conhece a nossa
realidade aqui, não buia”.
São essas percepções, baseadas na experiência vivida de professoras e
professores quilombolas, assim como na de lideranças, crianças e jovens
quilombolas, que permeiam esta seção na qual apresentamos achados evidenciados
em conteúdo de falas, tais como: “no movimento da educação, principalmente, a
gente se redescobriu. Temos direito!”, como nos disse a coordenadora pedagógica
quilombola da Vila Vizânia (Roda de conversa 2, jul.2023). Essa redescoberta nas
palavras da mesma é uma das evidências do acontecer dos processos de formação
econômico-cultural em curso do ser social com identidades de classe, gênero e
quilombola em Mocajuba/PA.
Assim, professor que “não buia10”, para a professora quilombola da Vila
Vizânia (34 em roda de conversa 2, jul.2023) significa ser aquele que não emerge
por não sentir o pertencimento do ser quilombola, não sente a energia ancestral,
conforme Krenak (2022). Energia que vem de dentro de si. “Ela vem de dentro, de
dentro ela vem, toda energia que o quilombo tem”, nos ensina o Movimento Social
Quilombola que forma o povo e abala as estruturas da escola sistematizada11,
11 Compreende-se a escola sistematizada como aquela operada, organizada e gerida pelo sistema
formal de ensino, seja local, estadual ou federal. Assim, a Escola Sistematizada operada a reproduzir
a ideologia do sistema hegemônico vigente, tende a também reproduzir a educação ocidentalizada e
em geral reproduz a perspectiva cultural de educação para o capitalismo, pautada em valores
meritocráticos, individualista, focada na competição e no consumismo. Nesses termos, a escola
sistematizada torna-se um aparelho reprodutor de um sistema operado, segundo Abdias Nascimento
(1978), para “abater” no campo simbólico, subjetivo o povo negro no Brasil. Ampliando, nesse
sentido, o lugar da escola sistematizada é um dos lugares onde o racismo se manifesta com
10 Trata-se de regionalismo amazônico e significa boiar, flutuar, manter-se à tona d’água (Anotação de
campo, jul.2023).