
vezes na instituição só há uma pessoa negra nessas posições e a ausência de
pares pode gerar sentimento de solidão, de impotência e o pior, perceber que sua
presença naquela posição é utilizada para a construção da imagem antirracista.
A depender da função que a pessoa negra ocupe, da sua compreensão sobre
as raízes sociais e econômicas, logo, estruturais do racismo e do seu compromisso
com a luta verdadeiramente antirracista, seus posicionamentos podem causar
tensionamento e desconforto no ambiente institucional, mas também, esse ambiente
pode ser absurdamente violento para ela.
Ademais, caso os processos de educação permanente/letramento racial não
sejam realizados com bastante atenção e cuidado, corre-se o risco de revitimizar
pessoas negras, quer seja numa espécie de "mentoria reversa” (Carvalho & Moraes,
2023, p. 30), onde pode-se estimular excessivamente essas pessoas, para que elas
exponham situações de racismo vividas anteriormente, como forma de ensinar e
sensibilizar as pessoas brancas, quer seja pela reação de pessoas brancas durante
essas atividades. Essas reações podem ser diversas, desde a negação da
existência do racismo, passando pela surpresa com a sua "descoberta", entre outros
absurdos.
E não para por aí, como durante essas atividades, geralmente, há um
estímulo para que pessoas negras exponham seus desconfortos, posteriormente,
podem ocorrer questionamentos e perseguições decorrentes desses relatos.
A situação se agrava quando somamos a suscetibilidade de pessoas
negras em ambientes de trabalho serem vítimas de racismo e a
pressão causada pelo aumento do desemprego no segmento. [...]
Se considerarmos as altas taxas de desemprego, é possível
compreender que muitas das vítimas de assédio em ambiente de
trabalho silenciam por medo de perder o emprego. É uma equação
que mantém os praticantes de violência seguros de que não serão
expostos ou denunciados. Essa tem sido uma realidade frequente no
Brasil, e as consequências são diversas, desde sofrimento mental
até o agravamento das condições de saúde física, muitas vezes
levando a quadros de ansiedade, depressão e outras doenças
relacionadas ao ambiente laboral hostil. Além disso, o silêncio
imposto pelo medo de retaliações perpetua a cultura de impunidade
para os agressores e o desamparo para as vítimas (Oliveira, 2023).
Dessa forma, afirmação pelo respeito às diferenças, não significa,
necessariamente, a valorização das diferenças, mas sim, a necessidade dos
dirigentes institucionais de dissimular seus reais interesses, para aparentar estarem
em acordo com as demandas sociais e garantir sua hegemonia.