
direita, agora a pessoa de pele escura ser de extrema direita. Então, ela pode ter a
pele escura o quanto ela quiser, se ela não tiver a consciência de que o lugar social
que ela ocupa, que as discriminações que ela sofre é por conta da sua pele e que
sua pele tem uma história, ela não é negra. Enfim, temos enormes desafios, o
primeiro eu já disse, os demais eu acho que passa pela questão do letramento
racial, a tarefa dos negros (as) acadêmicos com consciência é barrar o epistemicídio
nas universidades brasileiras, temos muitos e muitos desafios.
Jane B. Almeida - Na sua leitura como dirigente do movimento,
quais as principais tarefas de um movimento que combate o racismo
hoje?
Regina Lúcia - Entendo que as políticas neoliberais são políticas que na
verdade impactam a vida da população negra de forma a inviabilizá-la. Portanto, é
papel do movimento negro também o combate às políticas neoliberais porque eu
digo o seguinte, enquanto a gente não faz a revolução, a gente tem que se manter
vivo para fazer a revolução lá na frente. Apesar de eu querer acabar com
capitalismo, eu tenho que deter as políticas neoliberais para manter o povo negro
vivo e por isso um enfrentamento, e a necessidade, por exemplo, da participação
negra nos parlamentos, levando as nossas pautas. Não adianta só ter um pretinho lá
eleito como o Fernando Holiday (PL), tem que ter negros eleitos como vários no
Brasil que conheçam nossa pauta e que lutam por dignidade de vida da população
negra, Para encerrar essa questão, as tarefas são muitas, eu digo que para
combater o racismo, a luta passa por diversas frentes: questão ambiental, racismo
climático, por uma educação de qualidade, laica, acesso à saúde pública de
qualidade, por emprego, moradia, cultura, lazer e etc. Então, são muitos os desafios,
precisamos estar atentos a todas as armadilhas que racismo, por conta da sua
complexidade, nos coloca no nosso caminhar. Uma luta constante para que essas
armadilhas sejam desmontadas, expondo as mazelas que racismo coloca para a
sociedade brasileira. Eu estou me restringindo a falar do Brasil, mas guardadas as
devidas proporções e especificidades, isso vale para os Estados Unidos, para a
Europa, para o combate ao racismo no mundo.
Jane B. Almeida - Qual sua avaliação sobre o enfrentamento do
racismo nos anos 80 e atualmente? Em 2023 o MNU fez 45 anos,