V.23, nº 50 - 2025 (janeiro-abril) ISSN: 1808-799 X
CINEMA E EDUCAÇÃO: M8, O RACISMO E AS FORMAS DE VIOLÊNCIA
NA SOCIEDADE BRASILEIRA1
Jeferson Diogo de Andrade Garcia2
Roger Domenech Colacios3
Resumo
O objetivo deste artigo é debater a possibilidade do filme “M8: quando a morte socorre a vida”, do
diretor Jeferson De, enquanto cinema de modo popular, isto é, o uso do audiovisual, dos filmes, fora
das salas de exibição tradicionais, em espaços populares, culturais, bairros, ruas, praças,
comunidades, no processo de formação humana, política e de educação formal e informal. Para isso,
utilizou-se da categoria de “violência” com base em Slavo Zizek e Mauro Iasi – como fio que tece o
debate e as categorias de “realismo”, “tipicidade” e típico” em György Lukács para a compreensão do
filme enquanto arte. O filme permite um amplo debate sobre a condição do racismo brasileiro, pelos
mais diretos temas que aborda, como religiosidade, cotas na universidade, relações interraciais e
genocídio do povo negro.
Palavras-chave: cinema; racismo brasileiro; violência.
CINE Y EDUCACIÓN: M8, EL RACISMO Y LOS TIPOS DE VIOLENCIA EN LA SOCIEDAD
BRASILEÑA
Resumen
El objetivo de este ensayo es debatir la posibilidad del cine en el proceso de formación y educación,
formal e informal, a partir principalmente de la película “M8: cuando la muerte ayuda a la vida”, de
Jeferson De. Para ello utilizamos la categoría. de la “violencia” –basada en Slavo Zizek y Mauro Iasi–
como hilo conductor que teje el debate y las categorías de “realismo”, “tipicidad” y típica” en György
Lukács para entender el cine como arte. La película permite un amplio debate sobre la condición del
racismo brasileño, a través de los temas más directos que aborda, como la religiosidad, las cuotas en
las universidades, las relaciones interraciales y el genocidio de los negros.
Palabras clave: cine; racismo brasileño; violencia
CINEMA AND EDUCATION: M8 THE RACISM AND THE FORMS OF VIOLENCE IN BRAZILIAN
SOCIETY
Abstract
The objective of this essay is to debate the possibility of cinema in the process of training and
education, formal and informal, based mainly on the film “M8: when death helps a life”, by Jeferson
De. For this, we used the category of “violence” – based on Slavo Zizek and Mauro Iasi – as a thread
that weaves the debate and the categories of “realism”, “typicality” and typical” in György Lukács for
understanding film as art. The film allows for a broad debate about the condition of Brazilian racism,
through the most direct themes it addresses, such as religiosity, quotas at universities, interracial
relationships and the genocide of black people.
Keywords: cinema; Brazilian racism; violence.
3Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Docente da Universidade Estadual de
Maringá (UEM), E-mail: rdcolacios@uem.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0041482937454960.
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2261-3695
2Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (PPE/UEM),Paraná - Brasil. Professor da
Rede Municipal de Educação (SEDUC/MGA). E-mail: jefersondiogogarcia@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0957587051450040. Orcid: https://orcid.org/0009-0006-1340-5228.
1Artigo recebido em 30/01/2025. Primeira Avaliação em 20/02/2025. Segunda Avaliação em 13/03/2025.
Aprovado em 23/03/2025. Publicado em 09/04/2025. DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v23i50.66404
1
Introdução
“Você não acha estranho que só exista eu aqui de negro? Tenho
mais a ver com os corpos da aula de anatomia do que com meus
colegas”
(Maurício, em M8: quando a morte socorre a vida)
“O filme é uma obra de ficção, baseado na ficção, mas algumas
cenas que filmei, da forma que filmei, dialogam com o que a gente
viu, por exemplo, no Carrefour e em outros tantos casos de violência
policial contra os jovens negros”
“Embora o roteiro tenha ficado pronto há mais de dois anos, a
maneira como filmei retrata de maneira muito parecida, muito similar,
a violência que rolou com o George Floyd, com o Beto e com tantos
outros”
(Jeferson De – Diretor4)
O objetivo deste artigo é debater a possibilidade do filme “M8: quando a morte
socorre a vida5, do diretor Jeferson De6, enquanto cinema de modo popular, isto é, o
uso do audiovisual, dos filmes, fora das salas de exibição tradicionais, em espaços
populares, culturais, bairros, ruas, praças, comunidades, no processo de formação
humana, política e de educação formal e informal. Para isso, utilizou-se da categoria
de “violência” com base em Slavo Zizek e Mauro Iasi7 como fio que tece o
debate, uma vez que concordamos com Ynaê Lopes dos Santos quando a autora
afirma que o racismo “é um sistema de poder que estrutura as sociedades
modernas, organizando as violências que acometem as populações
discriminadas” (Santos, 2022, p.14, grifo nosso). Além disso, foram utilizadas as
categorias de “realismo”, “tipicidade” e “tipico” em György Lukács para a
compreensão do filme enquanto arte.
O filme foi lançado entre a pandemia da COVID-19, a morte de George Floyd
nos EUA, o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, morto após ser espancado
7 Sobre isso ver o debate do livro “Violência” de Slavo Zizek, feito por Mauro Iasi em 2014:
https://www.youtube.com/watch?v=7WSOA_KZClU.
6 Jeferson De dirigiu Doutor Gama (2021), uma cinebiografia do abolicionista Luiz Gama, além dos
filmes Correndo Atrás (2016), O Amuleto (2015) e Bróder (2010).
5 Ganhou o prêmio do público de Melhor Filme de Ficção no Festival do Rio em 2019. M8 foi indicado
no Grande Prêmio Brasileiro de Cinema de 2021 em cinco categorias: Melhor Diretor, Melhor Atriz
Coadjuvante (Zezé Motta), Melhor Roteiro adaptado (Jeferson De e Felipe Sholl), Melhor Maquiagem
(Sonia Penna), e Melhores Efeitos Visuais (Bernardo Neder). O filme faturou tanto o prêmio de
direção como o de roteiro adaptado. O roteiro também foi indicado ao Troféu Guarani 2021. no
Festival Sesc Melhores Filmes de 2021 recebeu os prêmios de melhor ator (Juan Paiva) e melhor
diretor. Também ganhou, nas mesmas duas categorias, o Prêmio APCA de Cinema.
4 GALVÃO, Pedro. M8 - Quando a morte socorre a vida' aborda o racismo brasileiro. Disponível em:
https://www.uai.com.br/app/noticia/cinema/2020/12/03/noticias-cinema,265585/m8-quando-a-morte-so
corre-a-vida-aborda-o-racismo-brasileiro.shtml. Acesso em 07 de agosto de 2024.
2
em uma unidade do Carrefour no bairro Passo D'Areia, o assassinato de Moïse
Kabagambe, o congolês morto no Rio de Janeiro, dentre outras crianças
assassinadas no país criando maiores expectativas ao redor do longa, que se
soma a outros filmes que tentam abarcar a vida das pessoas negras no Brasil.
Em particular, interessa aqui pensar o filme como instrumento pedagógico e
formativo, na relação entre cinema e educação – em sentido amplo, uma vez que os
filmes, a partir de sua linguagem própria, podem ser importantes instrumentos para a
compreensão e desvelamento da realidade brasileira e, no caso do filme aqui
tratado, do racismo brasileiro e seus instrumentos de dominação e opressão.
O cinema, desde sua origem, tem sido uma nova forma de contar histórias,
modificando a relação das pessoas com o conhecimento e, também com as formas
de ver e compreender o mundo, pois, conforme Fabris (2008, p.118):
[…] os filmes são produções em que a imagem em movimento,
aliada às múltiplas técnicas de filmagem e montagem e ao próprio
processo de produção e ao elenco selecionado, cria um sistema de
significações. São histórias que nos interpelam de um modo
avassalador porque não dispensam o prazer, o sonho e a
imaginação. Elas mexem com nosso inconsciente, embaralham as
fronteiras do que entendemos por realidade e ficção.
Além disso, podemos entender que as produções cinematográficas
contemporâneas são representativas de um modo de vida, de uma ideologia, e
podem ou não apresentar certo nível de crítica social e a própria realidade vivida e
sentida. De fato, se trata de perceber que o cinema tem a capacidade de ou aderir
ao status quo social hegemônico, reproduzindo suas estruturas ou então pode
procurar discutir a hegemonia, a partir de obras que coloquem em evidência as
contradições do sistema social, do capitalismo e de suas consequências, entre elas
o racismo, a desigualdade e a violência, especialmente nos países periféricos.
Tendo isso em vista, esse texto busca analisar a possibilidade do cinema e
em especial do filme citado, para suscitar o debate da questão racial brasileira, dos
dramas cotidianos e violências cometidas contra a população negra, das mais
diferentes maneiras e formas. É, portanto, sobre essa relação entre cinema e
educação tomando por base a educação enquanto esse aspecto de transmissão
da cultura historicamente acumulada e que não se prende, única e exclusivamente,
à escola, sendo ela formal e não formal que esse texto se estabelece, na
possibilidade e singularidade do cinema, como expõe Freitas e Coutinho (2013), em
3
produzir um choque no pensamento e, assim, fazer pensar e sentir o mundo como
ele é, mas também aquilo que ele não é e poderia ser, ultrapassando, portanto, a
normalidade e mediocridade do cotidiano.
Parte-se da ideia de que o cinema, portanto, não deve ser visto apenas como
entretenimento, mas como uma fonte de conhecimento que reproduz a realidade,
uma forma de expressão artística com potencial pedagógico e político decisivo,
sendo tarefa da educação e do educador analisar as produções audiovisuais,
reconhecendo sua capacidade de construir e transmitir conhecimento, de
desenvolver a sensibilidade e o senso crítico para interpretar e avaliar as produções
cinematográficas, bem como, compreender o mundo que nos cerca.
O cinema popular, gênero fílmico conhecido do público desde meados do
século XX, atua na busca de trazer para as telas temáticas que são de interesse
geral, com a intenção de discutir a partir dos enredos e roteiros as dinâmicas sociais.
São produções próximas das características hollywoodianas, mas, ao mesmo
tempo, distintas delas (Dyer; Vincendeau, 1992). A distinção vem a partir das
narrativas diferentes, mais adequadas à conjuntura cultural e política de cada país.
Assim, apesar de utilizar das formas propostas por Hollywood, se distancia pelos
conteúdos, intenções e na caracterização de outra realidade, servindo, portanto, de
crítica social, ainda que adotando as diretrizes estéticas da indústria cultural
estadunidense. Tal como os filmes de comédia nacionais, que trazem temáticas
típicas da cultura nacional, mas utilizam os tempos das piadas e cenas cômicas
advindas dos EUA.
A arte cinematográfica, neste sentido, é vista como uma ferramenta para
questionar a realidade social, o senso comum e o imediatismo da vida cotidiana.
Desse modo, pode ser usada para ir além da mera reprodução das formas
dominantes de cultura Hollywoodiana, que, em regra, distribui um pensamento
uniforme sobre o estilo de vida estadunidense, com apologias claras ao mundo
capitalista e, em outro polo, distribuindo preconceitos sobre o terceiro mundo,
principalmente o mundo árabe – reproduzindo assim formas culturais opressivas que
auxiliam culturalmente a dominação imperialista8.
8 Vale mencionar, como apresentam Freitas e Coutinho (2003), que o cinema foi um dos mais
importantes e mais utilizados recursos didáticos, propagandísticos e doutrinadores, para pregar a
moral nazista, demonstrando assim o seu papel de disseminação das ideias dominantes e
opressivas.
4
Cinema e Educação
Na atualidade, existe uma produção de filmes em larga escala, com várias
empresas de audiovisual, distribuidoras como Warner, Sony, Disney, ligadas ao
setor. Em 2023, na comparação com 2022, houve um aumento de 19,7% no público
total das salas de cinema (114,1 milhões) e de 17,5% na renda total (R$2,2 bilhões),
demonstrando como o cinema consegue atingir um grande público nacional. No
caso brasileiro, a maioria dos filmes assistidos são estadunidenses, como revela o
Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro de 2023, publicado pela ANCINE – Agência
Nacional do Cinema e pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual
OCA. Neste período, foram lançados 161 longas-metragens nacionais e 254
estrangeiros, contabilizando 415 lançamentos.
Imagem 1: distribuidoras que alcançaram
maior público em 2023, segundo o anuário
estatístico da ANCINE referente ao ano de
2023.
Apesar de serem utilizados pela indústria do entretenimento como uma
mercadoria de lazer para o tempo livre e, dessa maneira, ter historicamente
reproduzido a ideologia de sua época, o pensamento dominante e os ditames da
indústria cultural, sendo um instrumento de disseminação de ideias, a utilização do
cinema (do audiovisual, dos filmes), segundo Fraga (2012), tem contribuído também
para a compreensão da realidade social e é, por isso, uma ferramenta fundamental
no processo de formação humana, em âmbito escolar.
Podemos acrescentar o seu uso como ferramenta de educação popular, como
demonstram a utilização de filmes latino-americanos e terceiro mundistas, que se
5
contrapõem a visão dominante, da representação do mundo nas telas, o que
torna-se um, inclusive, grande incentivo à desmercadorização da vida, na tentativa
de apresentar os filmes de forma gratuita em espaços públicos. Apesar da
dependência ontológica dos diretores com a grande indústria, uma autonomia
relativa que permite que filmes fora do eixo ideológico dominante possam ser
desenvolvidos9, como os recentes Marighella, de Vagner Moura e Judas e o Messias
negro, do diretor Shaka King.
Além desse aspecto, o cinema tem sido utilizado para processos formativos
que estão para além dos muros da escola, demonstrando sua contribuição, também,
com a educação não formal e a lato sensu. Ou seja, o trabalho com filmes pode ser
realizado em diversos âmbitos, com a preocupação pedagógico formativa nos anos
iniciais, no ensino fundamental I e II, na Educação de Jovens e Adultos,
universitária, mas também na educação popular, isto é, no cinema que vai às ruas,
praças, ocupações e todos os espaços em que se tenta usar da linguagem
cinematográfica para discussão e formação política e social. Todavia, o grande
problema é que ele ainda é visto como um recurso educacional e formativo
secundário.
M8: quando a morte socorre a vida
Uma das principais características de países como o Brasil, uma nação que é
historicamente fundada em escravidão, colonialismo e dependência, é a marca do
racismo. Nesse processo, o debate acerca dos problemas basilares deste país, das
diversas formas de opressão e dominação podem ter como recurso o uso do
cinema, dos filmes. É aqui que entra a possibilidade e alternativa de filmes como
“M8 - Quando a Morte Socorre a Vida”, dirigido por Jeferson De e realizado por
Migdal Filmes e Paris Filmes/Downtown.
O diretor de M8, Jeferson De, formado em cinema pela USP, vem
desenvolvendo vários trabalhos, em forma de curta ou longa-metragem, onde
aborda a temática negra. O diretor aponta, em entrevistas e nos roteiros que dirige,
a necessidade da sociedade brasileira, especialmente a população negra, conhecer
9 Não podemos perder de vista que até os filmes politicamente direcionados se tornam mercadorias,
vendem e trazem lucros importantes para as empresas. Esse é o principal ponto que define a
abertura dessas mercadorias que possuem um teor crítico à sociedade, mas que acabam fazendo
parte da própria relação de produção e reprodução da lógica do valor.
6
a própria história: “A gente sabe tudo sobre Martin Luther King, sobre Malcolm X, e a
gente não sabe nada sobre Luiz Gama. Nada sobre Ferreira de Menezes, que era
um brother do Luiz. É um pouco desse lugar que meus filmes tentam transitar”
(Ramos, 2021). A preocupação racial em seus filmes é a marca principal dos
trabalhos de Jeferson De, procurando trazer a tona a discussão do lugar do negro na
sociedade brasileira, a violência e o racismo sofridos, é assim em Doutor Gama
(2021), Correndo Atrás (2019), Bróder (2011) e M8, que tratamos neste artigo.
Jeferson De produz filmes condizentes com a conjuntura do cinema brasileiro
dos anos 2000 pra cá, das temáticas de crítica social aprofundada, e que denota as
contradições que são a historicamente enraizadas no Brasil, mas que trazem uma
estética contemporânea, variando suas produções entre a comédia e o drama. É
certo que o cinema do diretor contribui na modificação do cenário da
estereotipificação do negro nos filmes, marca histórica da filmografia nacional. Em
“O negro brasileiro e o cinema”, João Carlos Rodrigues revisita uma afirmação de
David Neves de 1968, na qual escrevia que: “o filme de autor negro é um fenômeno
desconhecido no panorama cinematográfico brasileiro, o que não acontece
absolutamente com o filme de assunto negro que, na verdade, é quase sempre uma
constante, quando não um vício ou uma saída inevitável” (Neves, 1968 apud
Rodrigues, 2011). A este vício na temática negra, mas não em uma produção
cinematográfica, vem os processos de caracterização absoluta dos personagens
negros: o preto velho, a mãe preta, o mártir, o preto de alma branca, o nobre
selvagem, o negro revoltado, o negão, o malandro, o favelado, a mulata boazuda
etc. Uma série de estereótipos e caricaturas, que traziam uma carga de preconceito
e chacota que marcavam os personagens negros e que evidentemente criavam ou
aprofundavam uma certa visão racial para toda a sociedade brasileira.
Esse imaginário também vinha através das temáticas dos filmes, quando por
exemplo, diz Rodrigues, uma certa compreensão do período escravocrata era
transmitida nas telas do cinema, onde objetificava o escravizado, “Os filmes, as
telenovelas e os especiais televisivos ambientados no tempo da escravidão reúnem
vários ingredientes de empatia com o público contemporâneo. Nudez ou seminudez,
torturas sádicas, possibilidades de atitudes heróicas, exotismo, bela cenografia e
personagens bem delineados no inconsciente coletivo” (Rodrigues, 2011, p. 52).
Além de outras caracterizações fílmicas que ficaram marcadas no cinema nacional,
como os musicais protagonizados por Grande Otelo ou do bom malandro como nos
7
filmes e documentários sobre o samba carioca, também na abordagem feita sobre
as religiões de matriz africana ou nos roteiros que mostrariam possíveis formas de
relações inter-raciais, onde o personagem negro, pobre e vagabundo, se apaixona
pela filha do branco classe média (Rodrigues, 2011).
Contra essa imagem fílmica e cultural do negro nas telas do cinema que
Jeferson De e uma geração de cineastas negros/as vem apresentando roteiros e
enredos alternativos. Em seu manifesto sobre o cinema negro “Dogma Feijoada e o
Cinema Negro Brasileiro” de 2005 De aponta que entre as diretrizes para o cinema
negro brasileiro está o fato que: deve ter um diretor negro, abordar temáticas da
cultura negra brasileira, o roteiro deve privilegiar o negro comum brasileiro e o filme
não pode trazer personagens estereotipados (De, 2005). Estas características
apontam para uma tentativa, a partir dos filmes, em modificar esse panorama, até
então observado na história do cinema nacional, e trazer narrativas que levem o
público a refletir sobre as contradições presentes na sociedade brasileira. O filme M8
é representativo desta estirpe de produção cinematográfica.
M8 é baseado no livro homônimo de Salomão Polakiewicz, e conta a história
de Maurício, interpretado por Juan Paiva, um jovem que acabou de ingressar no
curso de Medicina. Logo no começo, em sua primeira aula de anatomia, ele se
depara com o cadáver M8 (Raphael Logam) que servirá de estudo para ele e seus
colegas de sala e que será o desencadeador das questões centrais que farão o arco
de Maurício se desenvolver. Este cadáver coloca Maurício diante da realidade
brasileira, onde o lugar do negro seria como objeto de estudos, deitado na mesa de
autópsia, sem identidade, sem lugar.
Outro fator determinante para o enredo, é o encontro, através da janela de um
ônibus, com um grupo de mães, todas mulheres pretas, que fazem atos em locais
públicos, com cartazes e fotos de seus filhos desaparecidos, o que leva Maurício a
se questionar se M8 não seria um desses jovens desaparecidos. Assim, com a ajuda
de Domingos10 (Bruno Peixoto), ele tenta descobrir a origem e identidade daquele
corpo, principalmente após ter visões do cadáver, como se ele estivesse buscando
se comunicar, revelar algo.
10 O privilégio branco, a partir da diferença de tratamento que pessoas brancas e negras recebem, é
demonstrado em uma cena com Domingos, na qual Maurício é ignorado por uma funcionária do
hospital, mas que atende Domingos, o menino branco. O estudante negro tem negadas suas
solicitações, o que não acontece com o colega branco.
8
O filme se passa no Rio de Janeiro contemporâneo. A cidade é marcada
pelas contradições, pela desigualdade, pelo confronto indireto entre seus moradores,
entre as classes. Maurício mora na periferia da cidade, local caracterizado pela
arquitetura típica deste tipo de região, pelos vizinhos e pelo policiamento ostensivo,
no caso, a presença de veículos militares, denotando a ocupação das Forças
Armadas, uma constante na cidade nos últimos anos. Esse aspecto contrasta com
os demais cenários de M8, a universidade, possivelmente pública, que embora em
condições precárias de funcionamento, está localizada numa região nobre da
cidade, e afastada do bairro de Maurício, e das residências dos outros personagens,
brancos e classe média alta, que interagem com Maurício ao longo do filme.
A produção também traz a mãe de Maurício, a personagem Cida, vivida pela
atriz Mariana Nunes, uma técnica de enfermagem, mãe solo como cerca de 11
milhões de mulheres que criam os filhos sozinhas no Brasil, o que corresponde a
metade das mães brasileiras, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 202211. Ela reproduz no filme a característica
da mulher negra que cuida, a mãe do filho e a enfermeira do velho rico (doutor
Salomão), mas sem o desenvolvimento de sua narrativa. A história dos dois é ligada
diretamente aos trabalhadores do setor da saúde e a população negra brasileira, o
clássico exemplo de “família brasileira dois contra o mundo/ mãe solteira de um
promissor vagabundo”, como diria a música “Negro drama” dos Racionais Mc´s. O
filme tenta retratar a situação de um jovem negro que ingressa em uma universidade
pública, em um curso concorrido como medicina, onde ele é o único negro na sala,
além, é claro, dos corpos usados nas aulas de anatomia, que são, em regra, corpos
negros, e dos funcionários.
Importante destacar que a dinâmica do filme não é de revelar para Maurício o
racismo presente na sociedade brasileira, isso ele conhece bem. Mas coloca em
evidência as contradições marcantes da sociedade brasileira, definidas pela luta
constante do personagem pelo seu lugar no mundo. É o processo de
conscientização da sua identidade como negro, ao lidar com as desigualdades
colocadas diante de si, desde o cadáver na mesa de autopsia até seu
relacionamento amoroso com uma das personagens. O filme traz questões sobre
racismo em suas várias vertentes, que iremos discutir nos próximos tópicos.
11 Esses dados podem ser vistos na reportagem de Pessôa (2014).
9
O racismo sem raças
O racismo assume diversas formas, desde manifestações explícitas até sutis.
Todas envolvem violência, seja física ou simbólica. A grande questão é que algumas
delas são consideradas passíveis de empatia, outras nem tanto. O filme tem a
capacidade de tratar esse tema sem necessariamente trazer os elementos racistas
mais fáceis de serem percebidos, como a nítida ideia de superioridade de raça nas
falas dos personagens, ou na violência mais direta pela ofensa, por xingamentos
comuns na boca dos racistas.
Geralmente, o racismo é entendido como a crença na supremacia de uma
raça sobre outra. No entanto, muitos racistas – comentadores, jornalistas, políticos –
argumentam que, como não defendem explicitamente que diferenças biológicas
significativas entre raças, o racismo não existe. Em vez disso, atribuem preconceitos
raciais a fatores culturais, morais e educacionais. Essa perspectiva reduz o racismo
a um problema individual e subjetivo, uma patologia. Por isso, enxergam que se
racismo, ele é fruto de um problema cultural e moral, de uma educação12. Um
problema pontual. Contudo, o racismo vai além da crença na superioridade racial ou
da discriminação direta. Ele permeia estruturas sociais, econômicas e políticas,
perpetuando desigualdades sistêmicas. Mesmo sem crença explícita na
superioridade racial, o racismo persiste em formas sutis e institucionais.
Assim, quando se pensa no racismo, logo (e exclusivamente) visualiza-se
uma violência direta conjuntural uma ofensa, uma discriminação quando se
impede alguém de frequentar um local. Porém, o problema é que o racismo é bem
mais do que a crença na superioridade das raças ou a violência direta em forma de
discriminação. Pois, acreditando ou não na superioridade de uma raça sobre a outra,
o racismo continua existindo.
Por exemplo, é o racismo que faz com que um dos personagens do filme,
Gustavo (Fábio Beltrão) aluno de medicina, identifique Maurício como um
funcionário, perguntando a ele: “Onde posso guardar os meus instrumentos?”.
12 Para resolvermos isso não basta simplesmente mudar tais ideias, trata-se de mudar o mundo que
criou essas ideias, um ato de ruptura. Uma sociedade racista continuará formando humanos racistas.
O racismo não é um problema moral ou de educação, ele é próprio da sociedade. Como diz Balibar
(2021, p.33) “não se pode acabar com essas categorizações relacionadas a hierarquias,
discriminação e opressão mudando o modo como as pessoas pensam. Existem condições objetivas”.
Não educação que acabe com o racismo se não mudarmos de sociedade, até mesmo porque é
impossível modificar estruturalmente a educação sem modificar os pilares da sociedade. O problema
racial não é de tal modo pela falta de educação, mas também, devido à atuação dela.
10
Personagem esse que, depois, se demonstraria ressentido com o lugar ocupado por
Maurício entre seus amigos e pelas notas nas provas. Lógico, o único negro na sala
deveria ser trabalhador e não aluno. Essa cena do filme é o sintoma, o que de
mais real no cotidiano das pessoas, é a aparência que apresenta a ponta do iceberg.
Mas a ponta faz parte do todo. E por mais que o racismo seja esse grande oceano,
ele também se apresenta nas pequenas violências mais diárias, pequenos blocos de
gelo em forma de preconceito e estereotipização. É um equívoco, ao enfrentarmos o
racismo, buscarmos apenas suas determinações mais profundas, no âmbito do
discurso, descartando as formas como ele se expressa no cotidiano, nas relações de
trabalho, amorosas, nos ambientes e instituições na vida. No filme, nem Gustavo
ou outro personagem acabam sendo apontados como culpados por racismo, seja na
ligação anônima para a polícia seja em outros atos, mostrando como o racismo
brasileiro é, como diz Santos (2022), um crime perfeito, que no máximo possui
vítimas, mas nunca culpados.
A violência, velha parteira
A violência simbólica, por meio da estereotipização das pessoas negras, de
suas vestimentas, formato de rosto, lábios, cabelo, cor da pele, não é menos
decisiva por ser simbólica e nem pode esperar para ser combatida. Até porque ela
cumpre uma função importante: disseminando a inferioridade dos negros, ela torna
possível a violência cotidiana sobre os mesmos. Essa função tem tamanho
conteúdo, que torna essa violência quase que invisível. Ninguém violência em
ridicularizar um grupo social pela forma como os racistas veem esse grupo. As
determinações do racismo são naturalizadas.
Perante tamanha violência, muitos dos que sofrem esses ataques acabam
sabendo o que acontece, mas se recusam por sobrevivência a assumir as
consequências e agem como se não soubessem o que se passa: sofrem em silêncio
tentando fingir-se bem. É uma forma de defesa, justificável. Há várias formas de ficar
doente, uma delas é negando os problemas. Outra é enfrentando e perdendo
emprego o que causa outras doenças em uma sociedade doente. É um beco sem
saída. No caso do personagem Maurício, representa-se uma fração da população
negra que é aquela que consegue lutar contra a opressão cotidiana. Ele buscou
combater a violência que visava silenciar, esconder e ocultar a realidade, violência
11
essa que, quando não é o suficiente, pode matar não só a crítica, mas até esconder
o corpo de quem a faz. O que importa é manter a ordem.
Identidade e violência
A valorização da negritude tem que ter como objetivo o questionamento da
desigualdade social em que a população negra está inserida, que tem como um de
seus elementos fundamentais a opressão racial isto é, o racismo. O racismo
coloca parte da humanidade sob um grau a mais de exploração, dominação,
discriminação e opressão. Além disso, ele serve de instrumento de legitimação das
barreiras sociais.
A suposta inferioridade do negro e a crença na supremacia branca, que
surgem com o intuito de justificar a escravidão negra e o colonialismo –,
resultaram historicamente na construção de uma imagem desumanizada do negro e
na desconstrução de sua identidade. Ou seja, os negros nem ao menos se afirmam
enquanto tal, uma vez que o ser negro é algo ruim.
Ocorre assim uma violência simbólica, isto é, a construção da inferioridade do
negro a partir de seus símbolos e imaginário social. É esta violência que antecede (e
permite) a violência física, quando negros morrem nas mãos da polícia militar. É a
violência na qual a mídia trata esses jovens e seus territórios, que permitem a
brutalidade com a qual são tratados pela sociedade, que naturaliza o genocídio dos
jovens negros e os abusos das mulheres negras. Historicamente, a identidade do
negro foi destruída pela estratégia colonialista, como bem explica Frantz Fanon, o
opressor ataca a cultura do oprimido, destrói seus valores, sua linguagem, seu
vestuário, suas técnicas. Como consequência, os valores negros são ridicularizados,
esmagados e esvaziados de sentido e valor histórico. Esses elementos comprovam
a afirmação de Schwarcz (2012, p.19) de que “a questão racial se vincula de forma
imediata ao tema da identidade”.
A conclusão disto é a da importância política da recuperação da identidade e
da consciência negra, algo que aparece de forma decisiva no filme, uma vez que a
própria procura acerca da identidade do cadáver M8 acaba sendo também o arco de
Maurício em busca da própria identidade. A entrada na faculdade de medicina é
vista como uma forma de ascensão social, como o fato de estar matriculado no
curso seria suficiente para colocar o sujeito numa condição diferente, em termos
12
de classe e de raça, O que o personagem vai demonstrando ao longo das primeiras
cenas é que o suposto status da classe médica não é inerente ao curso ou ao
formado em medicina, mas tem suas raízes na estrutura de classes da sociedade
brasileira, e sua condição historicamente construída o coloca fora dos lugares no
topo da escala social., independente do diploma que vai obter. Tal fato demonstra
como que, a princípio, é preciso que o negro tome consciência de sua negritude
para, então, assumir sua luta diária contra as mais variadas opressões. É impossível
um negro se organizar contra o racismo se ele nem ao menos se identifica como
negro. E o caso de Maurício é mais um dos tantos casos em que a sua tomada de
consciência está diretamente ligada as religiões de matriz africana, como
historicamente ocorreu nesse país, conforme nos apresenta Clóvis Moura:
Durante a escravidão, no entanto, o negro transformou não apenas
as suas religiões mas todos os padrões de suas culturas em uma
cultura de resistência social. Essa cultura de resistência, que parece
amalgamar-se no seio da cultura dominante, no entanto
desempenhou durante a escravidão (como desempenha até hoje) um
papel de resistência social o que muitas vezes escapa aos seus
próprios agentes, uma função de resguardo contra a cultura e
estrutura de dominação social dos opressores (Moura, 2021, p. 236).
Aparentemente, o personagem de Juan Paiva cresceu com esta cultura em
sua casa, mas ultimamente andava distante desse espaço. Mas, por essa tradição,
uma vez que em nível nacional uma das principais formas de organização e de luta
contra as opressões foram os grupos religiosos negros brasileiros, os terreiros e
demais espaços, pode-se ficar mais fácil de entender o porquê do personagem ter
tido as posições insubmissas que teve na busca sobre a história do M8.
O caso brasileiro é exemplar nesse aspecto, uma vez que, aqueles que se
organizam ao redor das religiões afro-brasileiras acabam tendo maiores condições
de confronto ao racismo, pois as culturas africanas dominadas foram reelaboradas
como uma cultura afro-brasileira de resistência. Resistiram, de todas as maneiras”
(Moura, 2021, p. 209). Todavia, esse é um processo conturbado no país, no que se
trata de afirmação da identidade étnico racial. Usando o exemplo mais cabal e
histórico, que é o censo de 2000, pode-se notar que em Salvador, a cidade mais
negra do Brasil, apenas 13,3% da população se declarou negra. Tal fato torna até
mesmo “empírica” a falta de “consciência negra”, apesar destes dados estarem
mudando com o tempo. Se, como diz Terry Eagleton, o opressor mais eficiente é
13
aquele que persuade seus subalternos a amar, desejar e identificar-se com seu
poder, é fundamental identificar que qualquer prática de libertação envolve
libertar-nos de nós mesmos.
Entre o filme e o cotidiano do racismo brasileiro
A religiosidade afro-brasileira (negra-brasileira), é um dos elementos que
aparecem no filme, a partir da personagem Cida, frequentadora da Umbanda e,
também, pela imagem constante da guia que Maurício carrega no pescoço – apesar
de estar afastado, possivelmente pelas contradições em que o novo mundo
universitário o colocou. Em geral, os tambores do terreiro, as roupas brancas e
outros elementos marcam traços dessa espiritualidade de matriz africana.
Em um contexto de aumento da intolerância religiosa e racismo religioso, o
filme apresenta esse cenário, em contraposição ao retrato original do livro, no qual o
filme se baseia, em que a religião é católica. Nos últimos anos, vários casos de
racismo religioso vieram à tona e ficaram conhecidos. Por exemplo, a mãe de uma
criança de um colégio de Salvador escreveu diversos ataques às religiões
afro-brasileiras num exemplar do livro infantil Amoras, do rapper Emicida. Nas
páginas que tratam dos orixás, ela acusou o autor de disseminar “blasfêmia” e
“ideologia” de “religiões anticristãs”.
É importante pontuar que para justificar a escravização além da força se
usou do consenso – foi necessário, do ponto de vista da classe dominante, criar uma
hierarquia e naturalização das formas de dominação e opressão. Assim,
organizou-se o processo de desumanização e coisificação de pessoas negras
escravizadas. Como parte desse processo, também as crenças foram
hierarquizadas. Por isso, as cenas do filme são ainda mais importantes.
Além dessa forma de violência, algo muito nítido no filme é o poder da
violência policial contra a população negra. Conforme o “Relatório Pele Alvo: a bala
não erra o negro” revela-se o racismo nas políticas de segurança, uma vez que a
cada 100 mortos pela polícia em 2022, 65 eram negros. A proporção é de 87%, se
for considerada apenas aqueles com cor informada. Na pesquisa, os dados foram
obtidos junto às secretarias estaduais de segurança pública da Bahia, Ceará,
Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Na realidade, os
14
números devem ser ainda piores, uma vez que das 4.219 ocorrências, uma em cada
quatro não tinha a declaração sobre cor. A subnotificação é um instrumento de
mascaramento do racismo nas abordagens policiais. No filme, após uma denúncia
anônima (foi efetuada por um dos colegas de medicina do personagem) Maurício
recebe uma abordagem da polícia militar. A cena se passa depois que ele inicia, em
uma festa, num bairro nobre do RJ, um relacionamento com uma colega de
faculdade, Suzana (Giulia Gayoso), situação que causa inveja e ciúmes em outros
colegas. A abordagem acontece enquanto ele saia do prédio da festa, a pé, e
começava a retornar para sua casa, nisso uma viatura da polícia freia bruscamente
e os policiais iniciam uma abordagem truculenta em Maurício. A cena tenta
representar, sem naturalidade, a comum “abordagem de rotina”, pois o negro na rua
é sempre suspeito, em uma eterna leitura da lei da vadiagem. Conforme Santos
(2022, p. 252):
A ideologia da vadiagem continuou sendo um argumento utilizado
pela polícia para realizar uma série de prisões arbitrárias da
população negra, apontando que o Estado ainda se valia de uma
perspectiva próxima à eugenia para guiar suas ações. Homens
negros eram vistos como criminosos em potencial, situação que era
agravada se fossem pobres, e que poderia representar dias ou
semanas na cadeia se estivessem sem os documentos.
A particularidade da cena é a participação de um policial negro, que acaba
cumprindo o papel de um oprimido funcionário da opressão. Ao final, a abordagem é
finalizada a partir da intervenção dos colegas de Maurício, todos brancos, que
informam aos policiais quem ele era e sua relação de amizade. Um dos policiais,
após agredir Maurício com socos, solta a frase comum “só estamos fazendo o nosso
trabalho”. Lembramos que cenário é o Rio de Janeiro, que junto a Bahia e
Pernambuco, é um dos estados com maior índice de letalidade policial contra negros
em 2022.
Amor, mobilidade e racismo
Maurício acaba tendo uma relação amorosa com Suzana, uma colega de
curso, branca e rica, que em uma cena marcante se assusta com crianças e jovens
negros correndo perto de seu carro. Os dilemas do relacionamento inter-racial
aparecem, de forma até clichê, sem muita naturalidade. Carlota (Malu Valle), a mãe
15
da personagem, é um dos pontos dessa questão, evidenciando seus preconceitos
com a relação dos dois, nos questionamentos que faz a Maurício e, também, à sua
filha. Além disso, as distinções de mobilidade, nas cenas em que mostram Maurício
gastando parte de seu tempo caminhando e pegando ônibus, enquanto cortam para
Suzana indo de carro (modelo Jeep) para a universidade, ajudam a entender que a
mobilidade urbana é um aspecto marcado decisivamente pela questão racial. Essas
cenas trazem apenas às telas uma realidade da população negra brasileira, que é
minoria entre proprietários de automóveis, possui menos carros e, também, usufrui
menos, dados os crescentes custos de manutenção e combustíveis. Como a
população negra é minoria entre os trabalhadores concursados (e/ou que dispõem
de CLT), são também, por consequência, os que têm maior dificuldade de acesso
aos vales-transportes como forma estável para deslocar-se ao trabalho. Levando em
conta que ela é, em regra, a que mora mais distante dos centros das cidades, é
aquela que sofre ainda mais com os constantes aumentos de tarifas. Essa lógica é
tradicional e Maurício é a representação de uma juventude negra que consegue
ingressar na Universidade por meio das cotas e que possuem dificuldade para se
adaptar ao novo espaço, que está dominado por pessoas brancas e ricas, mas
controlado também pelos valores culturais imperialistas e pela ideologia racista de
maneira mais ampla. Hoje, existem políticas de ingresso, mas pouco se tem feito
pela permanência.
A população negra, após a abolição da escravidão, adentrou a sociedade
capitalista de forma subalterna. Não havia condições de acesso a empregos, terra,
moradia, saúde. Não houve políticas que possibilitaram sua entrada naquilo que
Florestan Fernandes chamava de “sociedade competitiva”, em uma alusão a ideia
de mercado. O acesso à terra foi limitado, ou praticamente impossibilitado, para dar
garantia a manutenção do sistema escravagista e, posteriormente a abolição,
criando condições para que os negros se mantivessem a margem da economia,
política e da sociedade em geral. Isso gerou o déficit de moradias em áreas urbanas
e a luta pela terra na zona rural, ambos em franco processo de exclusão dos pobres
e negros da possibilidade de obtenção de um espaço para a sobrevivência
A falta de moradias, ou então a existência de moradias inadequadas,
é uma das contradições da formação social brasileira, a qual
demonstra como a lógica do capital é um impedimento à vida digna
para todos, uma vez que é submetida à lógica da valorização do
capital e, assim, à mercantilização da vida. A cidade de São Paulo,
16
por exemplo, possui mais casas vazias do que moradores de rua
(Garcia; Colacios, 2024, p. 126).
Neste processo de marginalização o negro ficou sem moradia, sem terras e
sem empregos, retirando completamente sua possibilidade de adentrar, no
pós-abolição, à sociedade competitiva, tal como apontado por Florestan Fernandes.
Coube ao negro os trabalhos mais precarizados, sem condições mínimas, direitos
garantidos ou uma jornada de trabalho comum aos demais trabalhadores. Todo esse
processo se reproduziu e é mantido até os dias atuais, sendo a população negra a
que ainda se mantém nos piores postos de trabalho no que se refere a condições,
salário, jornada e escolaridade. A ideologia da democracia racial, dentre seus vários
objetivos, justificou a não necessidade de uma atuação política e pública, uma vez
que se todos são iguais e se não racismo no país, não necessidade de
intervenção político-social. Por toda essa lógica que se mantém é que se defende,
hoje, as cotas raciais como um instrumento de combate a esse atraso em que a
população negra se insere na ordem burguesa. Ela é uma medida paliativa que visa
melhorar a condição dessa fração da classe trabalhadora e, assim, garantir vida
melhor a população que sofre com o racismo. É uma tarefa democrática. Adotar a
política de ações afirmativas, tendo claro os limites dessa política social (que
certamente não resolve os problemas sociais mais profundos) não é, de tal modo e a
priori, uma adoção cega a ideologia burguesa.
M8 como metáfora do genocídio
O corpo negro na mesa para autópsia na aula de anatomia, dissecado com
ajuda de um bisturi, lembra uma metáfora de Clóvis Moura sobre o negro na
universidade, sendo visto apenas como objeto de estudo e não como sujeito de sua
história. Isso se pela longa tradição de “mecanismos de barragem étnica”, que
sempre tiveram como objetivo reproduzir estratégias de seleção e hierarquização
racial, impedir o acesso dos negros a locais e patamares ocupados historicamente
por brancos (Moura, 1988, p. 8)13. A história de M8 é a história do genocídio da
população negra brasileira, dos jovens negros deste país, que são os que mais
13 O autor usa não o termo “mecanismos de barragens étnicas”, como também, “bloqueios
estratégicos” pela família, educação primária, média e universidade, mercado de trabalho, salário,
casamentos, etc (Moura, 1988, p.8). Todos esses são espaços estratégicos de bloqueio da entrada
dos negros.
17
morrem nas mãos da polícia. Não à toa, a cada 23 minutos um jovem negro é
assassinado no Brasil e muitos deles continuam desaparecidos, processo que se dá
desde o período colonial, que ganhou novos contornos com a ditadura
empresarial-militar e tem continuidade e atualizações na contemporaneidade.
Maurício, ao buscar identificar a história do corpo, se depara com um grupo
de mães que perderam seus filhos, todos negros, desaparecidos, provavelmente
pelas mãos do Estado, na rotina do policiamento racista que é parte do cotidiano das
cidades brasileiras. Uma cena que lembra o papel das “Mães de Maio” e as diversas
mães negras que lutam pela memória e justiça de seus filhos. Neste caso, Tatiana
Tibúrcio vida a personagem Manu, que é a representação dessas mães negras
que lutam pela verdade e memória.
A violência policial em nosso país é a continuidade histórica de tradição
escravocrata. O primeiro agrupamento policial brasileiro possuía um objetivo
específico, que era resguardar os nobres e seus bens. O perigo, a ameaça interna à
paz e à ordem, era o negro. Maurício, caminhando na zona sul carioca, é a
representação atual do perigo de outrora. Em 2019, a população negra e parda,
segundo pesquisa do Atlas da Violência divulgada pelo IPEA, representava 77% das
vítimas de homicídios. No ano de 2021, a taxa de violência letal contra pessoas
negras foi 162% maior do que entre as pessoas não negras. As mulheres negras,
ainda segundo a pesquisa, representaram 66% do total das mulheres assassinadas
no Brasil.
Mas isso não é à toa. A Polícia é uma instituição que surge para controlar
grupos sociais e defender a propriedade privada dos meios de produção da vida. Por
aqui, o negro foi esse grupo, que teve sua capoeira criminalizada, bem como suas
demais expressões culturais e religiosas. Além disso, a tentativa de controle da
população negra se dava também pelo medo de uma revolta, uma outra revolução
haitiana. Por outro lado, parte da justificativa ideológica de desumanização dos
negros, pelos mitos de serem violentos, deram a base ideológica a essa postura.
Como diz Clóvis Moura (1988, p. 23) “[…] o aparelho ideológico de dominação da
sociedade escravagista gerou um pensamento que perdura até hoje”. A vizinhança
de Maurício, região pobre do Rio de Janeiro, está tomada pelas forças armadas
brasileiras. Os blindados ocupam os espaços públicos, denotando a presença do
Estado, numa tentativa de garantir a segurança, não exatamente dos moradores do
local, pois provavelmente estes são vistos como os elementos perigosos, mas das
18
partes nobres da cidade. A inserção militar nestes bairros e comunidades cariocas
foi uma forma de controlar o acesso e a saída de pessoas, “pacificando” locais que
seriam dominados por facções criminosas.
Nas últimas décadas, o processo de militarização da segurança pública no
Brasil, que têm na invasão do Haiti um momento determinante, e nas UPPs,
demonstram a trajetória de organização da violência legitimada pelo Estado
brasileiro. Exemplo disso é o que acontece com a comunidade (favela), vista como
um local onde habitam muitos negros e, não diferente da lógica geral, precisa de
militarização, assim como os cortiços no início do século. É nesse contexto que se
insere o exemplo da atuação da polícia no filme, pois são vários os casos – recentes
de violência em operações policiais, nas quais se percebe nitidamente um padrão
racista de atuação das instituições de segurança pública, que se concretizam nas
chacinas e são, em regra, de pessoas negras, jovens negros de periferia. O filme
não faz a representação da guerra às drogas, todavia ela é usada historicamente
para legitimar ações do Estado, que tem interesses que muitas vezes não têm nem
a ver com as drogas em si, mas cumprir seu papel na especulação imobiliária,
ocupação territorial, controle dos segmentos pobres e negros da população, etc,
como as ações na Cracolândia, como ataques as ocupações urbanas e rurais, ou
em Quilombos.
O típico e a tipicidade na obra
Quando o artista contempla o mundo com os olhos da autêntica individualidade, que
engloba uma profunda e enérgica intenção voltada para a generidade para si, para o homem
e seu mundo, pode surgir uma mera existência, na mimese artística, um mundo que
combate o estranhamento e um mundo libertado dele, de modo totalmente independente
das concepções subjetivo-particulares do próprio artista.
(Lukács)
Certamente, os maiores problemas do filme são pontos técnicos, de roteiro.
Uma questão geral importantíssima para a arte é a sua capacidade de apresentar
sujeitos, locais, personagens, diálogos típicos, isto é, da forma que ocorrem na
realidade e não montagens que não fazem sentido, personagens perfeitos que não
existem, locais e cenários que cabem no cinema. Por isso, a veracidade de um
diálogo é tão importante na literatura e no cinema. Esse aspecto traz o debate sobre
o que é a realidade refletida pela arte (Lukács, 2013).
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No caso de M8, algumas cenas acabam fugindo do típico, pela necessidade
do filme em demonstrar o racismo em algumas situações, ou na tentativa de
desenvolver uma ideia mais pela fala dos personagens do que ao mostrar isso com
cenas e interpretações convincentes aos telespectadores. Por isso, o filme acaba
sendo corrido em alguns momentos e mostra pouco o que quer dizer. Por exemplo,
quando o personagem Maurício fala: “Você não acha estranho que só exista eu aqui
de negro? Tenho mais a ver com os corpos da aula de anatomia do que com meus
colegas”, estamos vendo uma fala que talvez seja pouco comum, meio montada
demais e haveria outras formas de se entender isso, se é que o filme não tinha
deixado claro essa mensagem. Outro momento é quando a personagem Cida, sua
mãe, precisa gritar com ele pedindo respeito por ser uma mulher preta: “Cala a sua
boca que eu sou uma mulher preta falando, não me interrompa”. Colocar essa fala
na boca da personagem deixou a cena muito montada, fazendo com que o
telespectador tenha que confiar no que está dito e não necessariamente no que está
vendo, ou seja, isso ocorre assim mesmo na vida cotidiana? As mães falam assim
com seus filhos? É uma frase comum? Ou foi algo necessário para dar peso à cena
e à personagem? Ou seja, em alguns momentos o filme perde esse caráter de
tipicidade, dos personagens em falas típicas, situações típicas. Na tentativa de filmar
o racismo silencioso, que não é dito, como disse o diretor em entrevista para a Casa
do cinema brasileiro14, o filme, em certos momentos, disse mais do que era
necessário.
O racismo age como um poder misterioso, tal como a teoria do fetichismo da
mercadoria em Marx, quando ele demonstra o caráter invertido no qual os
fenômenos se manifestam na sociedade. As pessoas olham, enxergam as
discriminações como automáticas e naturais, como se houvesse um feitiço que
dominasse as relações sociais. Os alunos não são negros, os trabalhadores e os
corpo mortos sim. Perde-se de vista o caráter humano dessa desumanização.
O filme, nesse sentido, busca desmistificar essa realidade e demonstra isso
principalmente nos diálogos dos personagens. A arte, segundo Lukács (2014), tem
esse desafio de refletir a realidade, na contradição entre essência e aparência, o que
a possibilidade da arte entrar em contradição com o fetichismo e com o racismo,
expondo uma condição humana, a partir de situações típicas, com uma firme postura
14 A “M-8 | Entrevista com o diretor JEFERSON DE” está disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=IpEK2tXfM14.
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realista (Lukács, 2013). E, dessa maneira a obra de arte “possui um direcionamento
permanente, imanente contra o estranhamento” (Lukács, 2013, p. 615).
Considerações finais
Conforme apontou Clóvis Moura “O racismo brasileiro, como vemos, na sua
estratégia e nas suas táticas, age sem demonstrar a sua rigidez, não aparece à luz,
é ambíguo, meloso, pegajoso, mas altamente eficiente nos seus objetivos” (2021, p.
215) O racismo velado no Brasil consegue emergir claramente através de
instrumentos culturais que possam ser difundidos por toda a população, neste caso,
a literatura, nas novelas mais recentes, que trazem protagonistas negras e que
buscam o fim da estereotipificação racial, no teatro e, também, no cinema brasileiro
contemporâneo.
Neste sentido, o filme é um instrumento para a formação e debate acerca da
realidade nacional, principalmente pelas suas características, que permitem um
acesso mais simples e fácil a grande parte da população e, assim, permite o debate
sobre as características do racismo brasileiro e o cotidiano da população negra, ao
menos de uma parcela, que conseguiu acesso às políticas de cotas nos últimos 20
anos.
O uso dos filmes, de maneira geral, possibilita, conforme Silva (2014) situar os
fatos na época em que ocorreram, bem como compreender o mundo atual, a relação
entre o passado como parte do presente e, nesse ínterim, cabe o papel de educar o
olhar do leitor para uma formação competente na leitura dessa linguagem
audiovisual, visando também ampliar a experiência cultural e estética daqueles que
se deparam com o filme. Neste sentido, o cinema pode e deve ser explorado como
forma de arte que contribui para a construção de significados sociais.
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