
anticoloniais, sobretudo do continente africano, além da luta por direitos-civis e
latino-americana.
Embora a presente tese não apresente um ineditismo com relação a temática,
é preciso evidenciar que poucas são as interpretações que partem de uma
perspe
ctiva orientada pela teoria social crítica, ou estabeleçam algumas
aproximações, e não
caiam em um reducionismo ou até mesmo antimarxismo, que
buscam ocultar e/ou negar o acervo e contribuição desta perspectiva sem deixar as
polêmicas e contradições de fora desta análise. Essas são algumas tendências
atuais, algumas delas utilizadas como referências na tese, que procurou estabelecer
mediações e absorções sobre as suas contribuições ao objeto de estudo. É possível
afirmar que, no bojo do ciclo ditatorial, inúmeros foram os vetores de caráter
universal e particular que contribuíram na formação e florescimento de uma cultura
predominantemente de esquerda a partir dos anos 1960, que, em meio a derrotas e
ascensos, protagonizaram a luta de classes e fizeram girar a roda da história.
Enquanto os países de hegemonia capitalista transitavam entre a expansão e
a crise do capitalismo tardio (MANDEL, 1982) – resultando numa “explosão
contestatória” nas diferentes vertentes da vida cultural, política e acadêmica, que
levou ao protagonismo da juventude universitária, e, posteriormente das camadas de
trabalhadoras/es, mulheres, LGBTQIAP+, negras/os, imigrantes e afins –, a América
Latina se inspirava na revolução continental a partir da tática do foquismo
revolucionário
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. E como observou Paulo Netto (2014): “Como o mundo, a América
Latina se movia, e nela, também o Brasil” (p. 113). Nessa conjuntura, o antirracismo
adquiriu capilaridade, motivado pelo ideário da negritude francófona e sua
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Da revolução cultural Chinesa emergia uma aspiração sobre a potência revolucionária do
campesinato, compreendendo-o como uma força à guerra popular que derrubaria as muralhas das
cidades, vistas como a sede do opressor. E foi com as elaborações teóricas de Ernesto Che Guevara
e Régis Debray que o Brasil toma conhecimento sobre a teoria do foco, sobretudo pela experiência da
Revolução Cubana. De acordo com Gorender (1987), essa teoria apontava para a existência de
condições objetivas para a revolução nos países latino-americanos. E, por ser uma revolução
continental, Guevara compreendia que a revolução latino-americana deveria estar acima das
diferenças nacionais secundárias e em linha reta, socialista. No caso das condições subjetivas, ou
seja, a condição das forças sociais para se fazer a revolução, estas deveriam ocorrer pela ação de
um foco guerrilheiro. Com tática e treinamento de guerrilha, o foco se caracterizava por homens que
atuavam entre os camponeses em regiões que tinham possibilidades naturais de defesa contra os
ataques do Exército. Posteriormente as colunas guerrilheiras se deslocavam para outras regiões e se
juntavam ao exército rebelde para derrotar o inimigo. Assim, numa crítica ao burocratismo e a
corrupção, misturada a ideia prioritária do fator militar sobre o político, o foco guerrilheiro tinha a
iniciativa de instituir a luta, ficando o processo revolucionário em torno desta iniciativa e subordinado à
dinâmica da guerrilha rural, ou seja, “desde a luta de massas nas cidades à formação do novo partido
revolucionário” (GORENDER, 1987, p. 81).