
Ensaios se apresentam como seu trabalho mais sistemático. Como salienta André
Kaysel (2012), é possível observar, justamente pela ordem que os textos aparecem,
uma estrutura interna que muito provavelmente foi previamente concebida. O
revolucionário peruano começa a obra com uma breve história econômica do Peru,
seguindo com a questão do índio; a questão agrária; a educação; a religião; o
problema regional e por último, a literatura. Desta forma, “esse caminho é bastante
coerente com o método do materialismo histórico, o qual parte das contradições na
infraestrutura e segue para os domínios da superestrutura nos quais essas
contradições se expressam e se complexificam” (Kaysel, 2012, p. 145).
Analisando o desenvolvimento desigual e combinado do Peru, Mariátegui
(2004) afirma que a formação social de seus país era um amálgama de três
“economias” (ou “modos de produção”): o socialismo ou comunismo primitivo, o
feudalismo e o capitalismo (este último em fase de desenvolvimento). O socialismo
ou comunismo primitivo sobrevivia nas comunidades rurais dos indígenas (o ayllú)
do altiplano andino que havia sobrevivido à conquista e à colonização espanholas.
Por outro lado, Mariátegui (2004) destaca que, legado pela colônia, o
latifúndio feudal permaneceu e também se fortaleceu após o processo de
independência a partir do seu entrelaçamento com a nascente economia capitalista.
Esta, originada na costa, apoiava-se na exportação de produtos primários (minerais
e agrícolas) e era dominada por capitais estrangeiros (britânicos em um primeiro
momento e, posteriormente, norte-americanos).
Mariátegui (2004) demonstra que, mesmo com o desenvolvimento capitalista
mais complexo do período imperialista – que envolve, sobretudo, a mineração e uma
incipiente industrialização – ,o regime burguês derivado da Revolução de
independência peruana, por sua associação umbilical com o latifúndio, é incapaz de
alterar as relações sociais que excluem o índio. Nesse sentido, tendo em vista que o
capitalismo é um sistema mundial, “a independência sul-americana apresenta-se
ditada pelas necessidades do desenvolvimento da civilização ocidental ou, mais
exatamente, capitalista” (Mariátegui, 2004, p. 6).
Portanto, para o nosso autor, a economia peruana de então mantinha um
caráter colonial: isto é, seus dinamismos eram ditados “de fora”, pelos interesses do
capital financeiro internacional. O capitalismo, consolidado pela penetração do
capital monopolista anglo-saxão, se integrou e fortaleceu as relações “arcaicas” de
produção, em vez de dissolvê-las. O legado colonial permanece como algo vivo e