
As imagens presentes na mostra em apreço, tem como escopo, retratar
algumas facetas da vida cotidiana das crianças, privilegiando uma narrativa visual,
que possa expressar, com o apoio de versos, a vida cotidiana das crianças e suas
representações sobre os conflitos e encruzilhadas identitárias, no que se refere ao
fato de já não serem mais africanas e nem serem consideradas cidadãs
portuguesas, ainda que lusófonas de fato e de direito; além de todos esses dilemas,
o racismo , a falta de oportunidades de trabalho para os adultos e jovens. Em suma,
as fotos pretendem recuperar as memórias desse projeto realizado de 2007/2008
em Lisboa, com vistas a denunciar o racismo contra a comunidade cem por cento
negra da Cova da Moura, situada nos arredores da cidade de Lisboa e, neste
sentido, fortalecer as lutas antirracistas das famílias, suas crianças e jovens, adultos
e velhos/velhas – que vivem as agruras de viverem numa sociedade branca e, que,
de algum modo, ainda pensa a sociedade portuguesa a partir de uma visão ainda
colonialista. Por outro lado, vale ressaltar, que busquei, com minha câmera, clicar
apenas as positividades das práticas cotidianas ou a “grandeza e riqueza da vida
cotidiana”
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: brincadeiras, festas, olhares, sorrisos, cultura popular africana entre
outros aspectos.
Passados aproximadamente 17 anos, o intuito é recuperar nesse ensaio
fotográfico, as narrativas documentais da vida cotidiana da comunidade Cova da
Moura. Além disso, essa mostra combina narrativas visuais com o apoio da
linguagem do rap da comunidade intitulado “Lisboa Não Sejas Racista - Fado Bicha”
de Tiago Lila Fadista e João Caçador, além das ideias de Edurne Juan e Donizete
Rodrigues.
Vale destacar que essa produção visual, poderá contribuir para a reflexão das
pesquisas e produções iconográficas sobre a situação das comunidades
quilombolas e populações ribeirinhas no Brasil, em especial, das crianças e jovens e
suas famílias, imersas na eterna desigualdade social que se traduz na miséria
material e violência do racismo estrutural e policial, que ronda as periferias das
cidades brasileiras.
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LEFEBVRE, Henri: A vida cotidiana e o mundo moderno. São Paulo: Ática, 1991, 42.